Entrevista #48: Rossana Mirabal

 por Aerith

Nossa entrevistada do mês de outubro é a bailarina venezuelana Rossana Mirabal, que atualmente mora em Curitiba-PR. Rossana nos conta sobre sua trajetória na dança, sua formação no Sombras Tribal, sua vinda ao Brasil , mostrando sua dança com muito dinamismo, força e energia com uma pegada underground bem ousada para fusões da dança do ventre. Vamos conhecer? Boa leitura!


BLOG: Conte-nos sobre sua trajetória na dança do ventre/tribal. Como tudo começou para você? 

Começou quando eu deixei de procurar um estilo de dança que me apaixonasse. Eu sempre gostei de dançar, participei de cias infantis de dança quando era criança; e quando comecei a identificar os meus gostos musicais favoritos, o meu modo de ser e afinidades, começou uma briga entre a dança e essa identificação. Comecei a procurar um estilo que realmente tivesse a ver com a música que eu curtia, mas nenhum me convencia; sempre tive vontade de dançar, mas nada era suficientemente bom para eu me dedicar por completo. Durante vários anos parei de procurar e me dediquei completamente à faculdade e, quase chegando a minha formatura, conheci a SOMBRAS TRIBAL e a Akzara Martini. E acho que o tribal me encontrou.

Eu conheci o Tribal em um evento de dança em Caracas (Venezuela). Na verdade não era só de Tribal, o evento envolvia muitos estilos de dança e entre eles o tribal fusion. Conheci o tribal fusion antes que o ATS. Imediatamente fiquei apaixonada,  pesquisei e comecei fazer aulas com Akzara.

 

BLOG: Quais foram as professoras que mais marcaram no seu aprendizado e por quê? 

As professoras que mais marcaram no meu aprendizado foram várias, e não é difícil lembrar ou pensar quais são porque as levo sempre comigo.



A primeira é Akzara Martini, por ter me inspirado desde o meu primeiro encontro com o tribal fusion, por ter me ensinado mais que técnicas. Ela para mim representa a paixão, a disciplina, a constância e a coragem para pegar as metas com as duas mãos até conseguir os objetivos. 



Outra professora é a Andrea Felce (ou Ishtar Layali), quem sempre teve as palavras corretas no momento exato que me ajudaram a manter a força quando mais precisei.



Hoje me inspiram outros profissionais que realmente tem expandido meu repertorio, minha perspectiva na dança e tem me reforçado demais o significado de trabalho em equipe, Uma dupla de profissionais maravilhosos que super agradeço de ter na minha vida, o André Laaf e a Ray Farias.

 

BLOG: Além da dança tribal você já fez ou faz mais algum tipo de dança? Há quanto tempo?   

Sim, além do tribal fusion, pratiquei balletbellyfunk e um pouco de dança do ventre; hip hop que até hoje estou fazendo, jazz e dança contemporânea. Essa ultima comecei há dois anos e estou adorando. 


BLOG: Quais foram suas primeiras inspirações? Quais suas atuais inspirações?

As minhas primeiras inspirações e acredito que todo mundo teve alguma vez as mesmas, foram Rachel Brice e a April Rose. Elas, embora não estejam fazendo dark ou urban fusion, para mim são incríveis porque eu sou apaixonada pelo máximo controle corporal e acho que elas conseguem sempre superar as minhas expectativas. São incríveis e sempre vou admirar os formatos delas. 

 

BLOG: O que a dança acrescentou em sua vida?

vários anos atrás eu não teria uma resposta clara para essa pergunta, mas hoje acredito com toda firmeza  que a dança acrescentou o que eu realmente sou e quero ser. Ampliou o meu modo de ver a vida, o jeito de interagir com as pessoas e me ensinou a respeitar a personalidade de cada ser humano. A dança hoje para mim é tudo, um estilo de viver. E ultimamente tenho pensado muito sobre como ela é um reflexo da vida mesma, de como os processos e as experiências vão te transformando, te construindo e te modificando. 


 

BLOG: O quê você mais aprecia nesta arte?

Sem nenhuma dúvida estar rodeada de pessoas que amam, respeitam e acreditam nos mesmos princípios que eu. Pessoas que colocaram o seu valor espiritual por acima do valor material e se respeitam tais como eles são.

 

BLOG: Você já sofreu preconceitos na dança do ventre ou no tribal? Como foi isso?

Eu não poderia fazer uma denúncia sobre os preconceitos até agora, porque sempre que tenho chegado a qualquer espaço de dança as pessoas tem mantido uma conduta bastante simpática comigo. Talvez algumas miradas com desconhecimento, mas nada grave nem pessoal.

 

BLOG: Houve alguma indignação ou frustração durante seu percurso na dança?

Até agora, a minha única frustração foi quando tive que deixar Sombras Tribal, eu acho que não estava pronta para deixar uma escola que virou a minha família, foi difícil, mas acho que nunca teria estado pronta. Agradeço que ainda eles estão me acompanhando em cada passo que eu dou na dança e na vida.


BLOG: O quê prejudica a dança do ventre e como melhorar essa situação? Você acha que o tribal está livre disso?

É uma pergunta com muito compromisso. Primeiro gostaria deixar claro que eu não me dedico à Dança do Ventre ou Dança Árabe, mas tenho compartilhado muito com bailarinas desse mundo, e também tenho conhecido de perto situações que até hoje prejudicam de certa forma a cena da Dança Árabe.  Fazendo uma leve comparação com o tribal, vejo dois destaques que fazem diferente à comunidade da Dança do Ventre da comunidade do tribal. A primeira diferença é o tamanho da cena. Acho um ponto muito a favor da Dança do Ventre contar com uma comunidade tão grande, mas, a diferença com a pequena comunidade tribal é a união. Originalmente o Tribal foi pensado e criado como uma tribo e traz com ele um pacote de princípios e éticas que acho que valem muito mais que qualquer quantidade de membros: o respeito, o apoio, o intercâmbio e a conexão das bailarinas de tribal, que geram uma energia que mantém limpa e equilibrada a comunidade. O ambiente no tribal está longe da competição, dos preconceitos, do individualismo e do protagonismo. Então, acho que se for possível aplicar essa filosofia baseada na união de tribo na dança do ventre ( na verdade, em qualquer outro estilo de dança), qualquer diferença ou situação que possa existir pode mudar notavelmente. E enquanto o Tribal manter as bases bem focadas e fortalecidas na irmandade, nenhum estilo ou grêmio pode afetar a cena, é um trabalho de todos os membros da cena, da nossa grande tribo. 

 

BLOG: E conquistas? Fale um pouco sobre elas. 

Bom, para mim, poder fazer cada dia o que a gente ama, já  é uma conquista, mas poderia fazer alguns destaques e dizer que subir ao palco do lado da Akzara tem significado várias conquistas para mim. Também, ser membro da FB Dance Company aqui em Curitiba (companhia de dança urbana e contemporâneo), e claro que também  contar com a minha própria turma de tribal fusion no Estúdio Flor de Lótus onde dou aulas atualmente, ser membro de uma Cia de dark fusion e fusões com Aerith Asgard, é uma honra e um grande prazer e mais uma conquista, sem dúvida. 

 

BLOG: Como é o cenário da dança tribal na Venezuela? Pontos positivos, negativos, apoio das cidades, repercussão por parte do público bem como pela comunidade de dança do ventre/tribal? 

Na Venezuela, hoje a dança tribal é uma irmandade. Depois de anos de compartilhar palcos, escolas, aulas, conteúdos, workshops, hoje existe a COMUNIDADE TRIBAL DA VENEZUELA, que é uma organização que procura acrescentar a cena tribal, apoiando o artista e aos novos talentos. Antigamente a cena era bastante heterogênea, tinha vários núcleos e cada um trabalhava separado um do outro, mas com o tempo surgiram situações negativas que colocaram a cena em um ponto crítico que trouxe problemas para a  cena, tanto econômicos como profissionais e afetou diretamente as produções das companhias e os investimentos para as escolas. Com um pouco de sorte e muita organização a cena conseguiu se juntar para trabalhar pelo bem de todo mundo e agora está dando ótimos resultados para eles. Além da crise que atravessa hoje o nosso país, a cena tem conseguido manter as aulas cheias, igual aos eventos, workshops, espetáculos e outras produções.

BLOG: Na Venezuela, você era membro da companhia Sombras Tribal, dirigida pela bailarina  venezuelana Akzara Martini. Conte-nos um pouco sobre sua experiência e aprendizados com o grupo (aulas, ensaios, eventos/produções, performances). 


 
Poderia escrever mil linhas contando boas experiências com a minha escola de origem. Honestamente, cada momento que eu estive nessa escola foi perfeito.


Quando comecei fazer aulas com a Akzara, eu nunca tinha dançado nenhum estilo que tivesse  a ver com dança do ventre; e o que me apaixonou do estilo SOMBRAS foi essa fusão poderosa e sutil que envolve o seu estilo: a dança urbana, a dança do ventre e o tribal. É realmente uma fusão perfeita! O estilo Sombras é um estilo único no mundo inteiro e muito fácil de identificar.


 

Eu fui parte da quinta tribo que entrou na escola, mas a escola inteira sempre foi (e ainda é) uma tribo gigante! Naquele momento em que eu fazia parte, tinha umas 80 bailarinas e elas não demoraram em me fazer sentir parte da família Sombras.

Akzara Martini, além de uma grande artista, é uma professora muito responsável, pontual, paciente, comprometida e justa. Ela é um exemplo de formação de qualidade e uma apaixonada pelos estudos. Até hoje ela estuda constantemente muito, assistindo até as aulas que são ministradas por outros professores na própria escola dela.


 

As produções do Sombras Tribal são parte das maiores produções de dança do país, recebendo cerca de mil pessoas cada ano para assistir e prestigiar a escola. A equipe de produção é muito completa.  Akzara é quem dirige os espetáculos, mas tem coordenadores em distintas áreas da produção e que tornam realidade as ideias dela e sempre acabam superando o nível de expectativa do público. Todas as produções da escola tem sido um sucesso na cena tribal venezuelana.

 

Eu tive a oportunidade de participar como elenco nos convites especiais que teve Sombras Tribal em shows de música, premiações de bandas de rock, aniversários de produtoras musicais e encontros de danças urbanas, árabes e fusões. Cada experiência com Sombras Tribal foi maravilhosa e acho muito importante destacar que devo  a minha base e formação à Akzara Martini e à Escola Sombras Tribal. Espero sempre poder dançar novamente com a minha mestra e com as minhas irmãs da tribo. Sempre levarei com orgulho e muito agradecida o "Selo de Sombras" na minha dança e na minha vida. 


 

BLOG: Conte-nos um pouco sobre suas principais performances. O quê a inspirou para a formulação da parte conceitual e técnica das mesmas, assim como seus processos de elaboração dos figurinos e maquiagens. Como essas coreografias repercutiram na cena tribal? 


 

Um dos meus performances favoritos até hoje tem sido a interpretação e tributo à deusa Kali. Acho que em nenhum momento faltou inspiração, pelo contrário, durante a construção das ideias tive até que fazer descarte de algumas ideias. Escolhi essa performance como favorita pelo valor emocional que representa para mim, essa foi a minha primeira apresentação com as minhas próprias alunas no Brasil e o modo em que elas conseguiram entender, apoiar cada ideia e concordar com tudo foi quase mágica. Além disso, foi um grande desafio para todas, pois era a minha primeira turma, elas estavam começando um nível iniciante de tribal e o evento aconteceria em 3 meses. Depois de semanas de trabalho duro, um pouco antes do evento eu desliguei as luzes da sala e fiquei sentada só olhando elas fazerem a coreografia e fiquei arrepiada, literalmente, pelas mulheres que eu estava conhecendo naquele momento. E no dia do evento a conexão entre elas e eu foi incrível. Uma experiência única.



A inspiração para os figurinos foi uma construção de imagens e de interpretações da Deusa, mas decidi fazer uma base para todas e deixar que os detalhes surgissem de cada uma delas. Eu adoro fazer os meus próprios figurinos, conservo eles como se fossem meus filhos.

 

Até hoje não sei como essa performance repercutiu na cena tribal brasileira, mas nesse dia tive bons comentários e muitas boas críticas de pessoas que eu admiro como bailarinas e profissionais. 


 

Tenho varias performances favoritas, depois de começar a colaboração com Asgard Tribal.Co, tudo foi criação atrás criação e cada uma superava a anterior, os temas, as coreografias, o grupo, as pesquisas tras cada maquiagem, figurino, conceito sempre foram bem pensadas e executadas, eu fico super orgulhosa de estar com elas.

 

BLOG: Atualmente, aqui no Brasil, você também é membro do Asgard Tribal Co., dirigido por Aerith Asgard e professora na escola de dança de Curitiba “Flor de Lótus”. Como surgiu a oportunidade de participar desses grupos? Conte-nos sobre suas experiências em participar desses grupo, o estilo de cada um, como você conseguiu adequar seu estilo e como são desenvolvidas as coreografias em conjunto? 

 

Acho que essa é a minha pergunta favorita!

 

Em ordem cronológica,  em 2017 quando cheguei ao Brasil a primeira coisa que eu fiz foi procurar escolas de tribal na cidade. Não foi fácil, porque não tem escolas só de tribal, então tive que começar uma pesquisa das bailarinas e através delas encontrei aulas com várias professoras.


Asgard Tribal Co.

No dark fusion achei rapidamente o Underworld Fusion Fest e automaticamente à Aerith Asgard que é a diretora da companhia Asgard Tribal. Eu entrei em contato com ela e comecei visitar as suas aulas e as confraternizações da companhia. Não demorou em nascer uma amizade com ela e depois de um pouco de dança e muita comunicação ela me convidou para formar parte da companhia que até hoje tem sido uma experiência muito gratificante e estamos conseguindo combinar e misturar ideias e estilos com facilidade; ela é uma grande organizadora e amiga.

 

Flor de Lótus representa várias coisas para mim. Naquela pesquisa de escolas de tribal que eu empreendi no ano que cheguei, apareceu nas minhas primeiras opções o estúdio Flor de Lótus como uma das escolas expoentes das danças orientais na cidade. Eu imediatamente escrevi uma mensagem para eles pedindo informação sobre as aulas de tribal, mas justamente nesse momento não estavam abertas as aulas de tribal na escola. A minha vontade era de fazer aulas com a Sara Félix ou com a Lua Arasaki que foram professoras de tribal no estúdio, mas no momento elas não estavam disponíveis.



Pouco tempo depois surgiu a oportunidade para eu dar uma aula experimental na escola, o que representou um grande desafio para mim: dar uma aula para a 
Suzi Ribeiro, quanta responsabilidade! Mas nesse mesmo dia foi oferecido um horário e uma sala para mim e até hoje continuam as minhas aulas regulares no estúdio. Esse foi só o começo de uma amizade com a família do Flor de Lótus e de grandes oportunidades. O estúdio é um universo artístico em cada centímetro do espaço e em todos os sentidos, adoro ser parte dessa equipe e agradeço sempre ao destino por ter me colocado nesse caminho com eles.


BLOG: Em 2018, você participou da audição para integrar o FB Dance Company, grupo de dança de Curitiba. Conte-nos um pouco sobre o estilo e direção do grupo. Compartilhe com a gente um pouco sobre suas experiências sobre o processo seletivo. Quais expectativas em se apresentar com essa Cia?


 

Quem me conhece sabe o muito que eu sou apaixonada pelas danças urbanas e as fusões. Eu conheci a FBDC assistindo no instagram vídeos dos melhores bailarinos do Brasil, fazendo ênfase nos bailarinos curitibanos. Fiquei acompanhando o trabalho da companhia e até fiz uma  aula de jazz com a Ray no final do 2017 para conhecer o trabalho dela.

 

Em julho de 2018, a companhia fez uma chamada para audições e eu fiquei meio em choque com aquilo porque, na verdade, era como um sonho pensar em formar parte dessa companhia. Chegou o dia e eu fiz a minha inscrição.


 

Durante as audições conheci participantes muito bons em distintos estilos, jazz, contemporâneo, hip hop, breaking, krump, ballet, mas eu era a única pessoa formada principalmente em danças orientais. Me senti realmente insegura, mas tentei manter a confiança nas minhas habilidades com a dança urbana... A audição teve várias etapas, umas mais técnicas e outras mais livres. O que eu mais amei da audição foi que eles pediram para todos os participantes simplesmente serem eles mesmos. Ao final da audição fiquei muito feliz com o resultado: fui aceita na companhia e até agora estou vivendo um sonho com eles. 


Depois de varias experiências com eles posso dizer que os admiro muito e cada dia mais. Somos (me incluo) pessoas que treinamos muito e que deixamos o coração na dança.

 

BLOG: Como você encara a fusão entre metal/rock e dança do ventre/tribal?

Para mim é uma fusão perfeita porque não existe nada melhor que dançar a música que a gente gosta. Eu sempre tive o rock/metal como preferência musical e dançar ela é deixar o corpo fluir. Eu acredito que para dançar, mais que só técnica, deve existir uma ligação sentimental ou espiritual com a música e o rock representa muito o que eu gosto de expressar quando danço: força, segurança, poder e muita energia.


 

BLOG: Você já se apresentou junto com algumas bandas? Qual a sintonia entre banda (música), bailarina (dança) e público? Como o público underground encara o tribal fusion? Existe alguma banda nacional ou internacional que você gostaria de ter tal parceria? 

Eu ainda não tive a oportunidade de dançar com bandas ao vivo, mas tenho uma ideia bastante boa ao respeito.

 

Sombras Tribal costuma fazer esse tipo de colaborações com bandas e já tem um repertório com bandas nacionais em eventos de metal/rock. Eu sempre acompanhei os eventos nos que participaram e sempre achei uma boa aceitação por parte do público e das produtoras desse tipo de eventos. Com o tempo os produtores procuraram acrescentar as colaborações entre dança e eventos musicais. Até teve, um espetáculo de dança organizado por Sombras Tribal completamente com música ao vivo, feita por uma banda exponencial venezuelana que faz covers de clássicos do rock/ metal.

 

Aqui em Curitiba participei num show de bandas femininas LVNA FEST, no começo de 2020, a vibe é muito diferente á de um palco ou um evento só de dança, é o mais perto que estive de me apresentar com uma banda.

 

Gostaria muito de dançar com algumas bandas; sendo fã de algumas, eu adoraria colaborar com elas num show. E também seria interessante participar em eventos de música eletrônica, é uma ideia que tenho em mente e espero algum dia ter essa oportunidade.

 


BLOG: Qual a sua relação com o gothic/dark fusion? Como você encara  a cena gótica inserida na dança do ventre/tribal? Sob sua óptica, o quê é dark fusion? 
 

O dark fusion, desde a minha perspectiva, é a fusão do desconhecido. A escuridão, a ausência, são agentes desconhecidos para os olhos, mas dentro de cada pessoa existem esses territórios não explorados, muitas vezes pelo medo de si mesmos, e outras vezes pelos preconceitos e a falta de introspectiva. Sendo explorados ou não, existem. 


Acho que o dark fusion sendo parte do tribal, da dança e da arte, é liberdade de expressão; a expressão das pessoas que decidiram mostrar essa outra cara deles ao mundo e transformar essa escuridão no que eles decidiram, como força, medo, energia, poder, melancolia, fúria, tristeza e até sentimentos positivos. O dark fusion é parte do equilíbrio e eu respeito muito essas pessoas que largaram os preconceitos, os medos e os auto julgamentos para tirar aquilo de dentro deles e fazer disso arte.

 


BLOG: Atualmente, muitas bailarinas do tribal fusion estão saindo um pouco do rótulo e fazendo várias experimentações. Como você encara as fusões experimentais? Quais fusões você tem mais interesse em desenvolver em sua dança? Qual a principal diferença entre esse tipo de dança e o tribal / dark fusion? Qual principal cuidado que o estudante de tribal deve ter ao querer apresentar esse tipo de performance? 



Eu estou completamente a favor das fusões, acho maravilhosa a liberdade de expressão; ainda mais no tribal, a arte é liberdade. Sei que o tribal e todas as danças têm formatos, algumas regras e muitas técnicas, mas a mistura delas é bastante interessante. E eu acho que fala muito do que um bailarino tem em mente, das suas visões e capacidades. O poder para misturar técnicas, respeitando cada estilo e ampliar as possibilidades, não é um trabalho fácil, ele precisa de um estudo dos estilos e de muita responsabilidade, conexão e compromisso com os objetivos, mas principalmente a exploração e a intenção de criar. Na minha opinião  é realmente o artístico na dança.

 

Eu como dançarina e apaixonada por alguns estilos de dança, gosto sempre de misturar técnicas e movimentos que praticamente o corpo e a música me pedem, parte da dança urbana, do jazz e do tribal, principalmente, são os estilos principais que sempre vou estar trabalhando nas fusões.

 

Eu penso que sem importar a raiz nem a semelhança entre as danças, o interessante é precisamente a conexão delas, acho que nesse ponto é onde começa o trabalho da fusão. Então é importante conhecer cada estilo, a princípio, separadamente; e quando o corpo e a mente tenham compreendido e assimilado os movimentos, pode começar a exploração das fusões livremente.

 

BLOG: Recentemente, o intercâmbio entre as bailarinas sul-americanas vem se intensificado. O quê você acha sobre essa troca de culturas, experiências e relações entre as tribal dancers? O que podemos aprender umas com as outras? O quê você acha que podemos melhorar nessa relação e como alcançar tal objetivo? O quê mais chama a sua atenção na cena tribal brasileira? 



Eu acredito que todo mundo tem algo para ensinar e algo para aprender. E em relação ao tribal fusion, muito mais, pois sendo um estilo que  abraça outros estilos e além da visão introspectiva de cada bailarina, a troca de conhecimentos é praticamente infinita, ainda quando é a mesma fusão, sempre existem as visões que cada bailarino aborda nos temas. Quando a troca cultural e social vem junto, acaba sendo muito mais interessante. América  Latina é um continente muito colorido culturalmente, pois cada país tem uma história particular e por mais que sejamos países-irmãos, somos todos completamente diferentes. Se os nossos países trabalhassem sempre unidos, a cena ficaria enriquecida e fortalecida, sempre que dependesse de mim eu apoiaria o intercâmbio latino-americano e mundial.

 

Enquanto a cena tribal brasileira, eu tinha um conceito positivo: os brasileiros dançam muito bem! E quando eu cheguei no Brasil, só confirmei essa ideia! Agora tenho certeza! Acho que além do domínio de técnicas, os brasileiros tem uma essência para dançar que vai além do treino, conseguem se apropriar da música e da sua dança com muita naturalidade, e acho que isso é parte da cultura, mais do que simples estudos de dança. Então repetirei: sempre que dependesse de mim, eu apoiaria o intercâmbio cultural.

 

BLOG: Em relação aos eventos, quais as principais diferenças marcantes na cena tribal brasileira e venezuelana? Se você pudesse importar alguma(s) característica(s) desses eventos do Brasil para Venezuela e da Venezuela para o Brasil, quais seriam? 

 

Acho que tem duas diferenças importantes ou mais destacadas. Uma delas é o tamanho da cena que, sem dúvida, a brasileira é maior, tem uma grande variedade de fusões, estilos, formatos, eventos, encontros, intercâmbio, é realmente muito grande em comparação com a cena tribal venezuelana. 

 

A outra diferença seria o alcance, sendo que esse não depende só da cena, pois a situação política e econômica na Venezuela tem prejudicado bastante a arte em geral. A Venezuela, por essas causas, têm ficado fora de muitas colaborações, intercâmbios, experiências e participações com outros países de latino-americanos e até dentro do mesmo país. Os eventos e escolas tem sofrido consequências econômicas e paralisação por falta de recursos. Ainda assim, procura-se resgatar a cena e proteger os artistas integrantes. Na Venezuela surgiu uma organização incrível onde absolutamente todos os exponentes do tribal (ATS® e tribal fusion) tem participação; é uma irmandade que apoia as escolas, eventos e o intercâmbio. Além disso, há o cuidado em valorizar o artista como profissional, até hoje é assim e os bailarinos venezuelanos conseguem manter a cena viva e organizada.

 

Se tivesse que escolher pontos positivos da cena brasileira e levar para Venezuela, seria a quantidade de fusões e o intercâmbio que tem no Brasil; além dos recursos maravilhosos dos que dispõem para as produções de eventos.

 

E se tivesse que escolher uns pontos positivos da cena venezuelana e trazer para o Brasil, sem dúvida, seria a organização grandiosa que surgiu da comunidade tribal venezuelana.

 

BLOG: Em sua opinião, o quê é tribal fusion? 

Fora do conceito original e técnico que conhecemos do tribal fusion, acho que o tribal fusion é um estilo que estourou os limites! Ele misturou culturas, tradições, sociedade, história e infinitos estilos de dança. O tribal fusion é um dos estilos com maior liberdade para criar e sendo um estilo cheio de muitos estilos, ele acaba abrindo milhões de possibilidades no mundo da dança. A mistura das bases técnicas do tribal com outros estilos formaram uma chave incrível para o controle corporal, muscular até mental. E indo além: acho o estilo perfeito para o autoconhecimento das habilidades físicas e espirituais de quem o dançam.

 

BLOG: O quê você mais gosta no tribal fusion?

Sem dúvida, as milhões de possibilidades para criar. A sutileza com a que ele encaixa com quase qualquer estilo de dança e a possibilidades de participar como um estilo alternativo dentro de outros tipos de dança. E fora das técnicas e conceitos, a irmandade! Acho um aspecto que faz do tribal fusion um estilo único.

 

BLOG: Como você descreveria seu estilo?

Mais que um estilo, eu falaria da minha proposta, ela não tem uma direção única. Na verdade, eu me considero uma pessoa muito curiosa, gosto de muitos estilos e sempre estou procurando estilos diferentes, e sempre que puder, vou fazer testes de todos eles com o tribal! É algo que me apaixona e me dá liberdade, não fecho as possibilidades que o tribal oferece; mas tenho estilos favoritos com os que costumo trabalhar, como o street dance, o jazz e o contemporâneo. Pratico eles por separado e misturo eles na construção das minhas coreografias e no freestyle. 

BLOG: Como você se expressa na dança?

Se tivesse que generalizar, penso que eu me expresso de muitos modos, mas na minha dança sempre vão encontrar liberdade, força e energia. Gosto de trabalhar sempre sobre essas expressões, mas também depende dos conceitos que esteja trabalhando no momento, pois cada performance tem uma vibe que a caracteriza. Porém, esses três aspectos que mencionei descrevem bastante o modo com que eu me expresso na dança.

  

BLOG: Sobre sua carreira, qual/quais seu momento tribal favorito ou inesquecível?

Tenho vários, para não dizer que todos os meus momentos no tribal são favoritos, mas tem um destaque nesses, e foi a minha primeira  participação no palco com Sombras Tribal. Esse dia entendi que a dança é para quem está dançando e não para quem está olhando, foi maravilhoso compartilhar o palco com pessoas que eu admiro muito, e ter a honra de representar pela primeira vez  a escola onde eu iniciei a minha formação.

 

BLOG: Quais seus projetos atuais? E mais futuramente?

Até hoje tive mais projetos na realidade que na minha cabeça! A realidade tem superado todas as minhas expectativas com a dança, a dança para mim começou como um passatempo e tem me pegado de surpresa com todas a experiências e desafios que já vivi e continuo vivendo.

O meu projeto com a dança não tem uma linha clara, eu só sei que preciso dela para viver e se isso significa, dar aulas, ver aulas, estudar, ensinar, trocar, competir, então eu vou.


BLOG: Improvisar ou coreografar? E por quê?

Improvisar. Para mim tudo tem a ver com sentir, o improviso é uma tradução instantânea do que os sentidos percebem e transforam em movimento. Quando meu corpo atua acima da música é quando surgem as melhores ideias. Às vezes até lamento não filmar os meus improvisos, esqueço tudo quando acaba a música; porque realmente só escuto e deixo o corpo fluir, até para coreografar, eu sempre começo com improviso, o meu corpo responde à música e começa a criação.

 

BLOG:  Você trabalha somente com dança?

Não, além de bailarina sou arquiteta, mas em ordem de prioridades espirituais é o contrário: sou arquiteta além de bailarina. Adoro o design, transformar ideias em possibilidades e possibilidades em realidade. A arquitetura também é arte e técnica; e as metodologias dos processos criativos que eu aplico nessa profissão, encaixa perfeitamente na minha metodologia de ensino e de aprendizado na dança.

 

BLOG: Deixe um recado para os leitores do blog.

Na vida não adianta só sonhar, trabalhemos por fazer os sonhos realidade. As oportunidades e as mudanças existem só para quem as procura. Comece hoje.



Contato:

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| Entrevista originalmente publicada no site do Underworld Fusion Fest em 2018, sendo republicada com atualizações realizadas pela bailarina convidada.




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Editora

Aerith (Curitiba-PR) ( pronuncia-se 'Aéris' e não Aeriti ❤) é carioca, blogueira desde 2010, idealizadora e produtora do Underworld Fusion Fest e dos Encontros Folks PR, e diretora do Asgard Tribal Co. Adora o universo da dança tribal, principalmente as fusões mais undergrounds. Atualmente, reside em Curitiba-PR, em que está desenvolvendo novos projetos e parcerias envolvendo o estilo 'Tribal'Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Resenhando-RS] Conexões - 2019 & 2020

 por Anath Nagendra

Saudações gauchescas, galera! 

Por conta do hiato que o blog teve em 2019 e da pandemia que ainda assola 2020, minhas primeiras matérias serão focadas em resumir um pouco do que rolou nestes dois anos. E aproveitando que estou pegando o canudo da querida Karine Neves aqui na coluna, resolvi abrir os trabalhos justamente com os eventos dela! Vamos lá! ;)

Em dezembro de 2019 rolou a mostra Conexões, idealizada pelo Espaço de Danças Karine Neves, e em 2020 houve a segunda edição, desta vez on-line e não-restrita ao Rio Grande do Sul! Tive o imenso prazer de ser convidada a participar de ambos, com meu grupo em 2019 e como solista em 2020. Nos dois casos, Karine demonstrou maestria na organização e direção, além da presença e atenção às convidadas e alunas.

Do espetáculo presencial, pude assistir quase todas as performances, da coxia ou da plateia. Teve solos, teve grupos, teve performances políticas, dark fusion, tribal brasil, ritualístico... ou seja, um pouquinho de todas as faces que as fusões podem nos oferecer!

Já a versão on-line, mesmo com as restrições impostas pela pandemia, não deixou a desejar. Expandindo a mostra para além do RS, tivemos a presença de vários artistas de peso do país, ainda que houvesse uma ênfase aos artistas do Sul - como Aline Pires, também colunista daqui do blog, com o Resenhando-SC, que inclusive mencionou o Conexões em seu último post!

Abaixo segue uma mini-entrevista* com Karine, pois creio ser interessante sabermos mais sobre o background dos eventos, principalmente nestes tempos de adaptação ao universo on-line. ;)

[RESENHANDO-RS] Como foi a experiência de produzir o Conexões em 2019, e qual a diferença para a edição on-line de 2020 (fora o óbvio)?

[KARINE NEVES] Conexões, em 2019, foi o primeiro show da escola, então tinha que ser muito especial. E foi, em cada detalhe! Acho que todo mundo tem noção do quanto é difícil fazer uma produção independente, e sabe que acabamos assumindo múltiplos papéis pra fazer tudo acontecer. Eu não tinha experiência com produção, mas tive o privilégio de contar com pessoas muito talentosas ajudando e apoiando o evento. Por exemplo, todos os bailarinos participantes receberam mimos produzidos pela aluna Larissa, da Tríplice Store e Danieli, da Miss D, que providenciaram um sorteio de brindes. Tivemos Nando Espinosa na arte gráfica, na fotografia e co-produção, Luhcas Registros Audiovisuais na cobertura do evento, Jayro Dance no backstage, Michele Bastos na recepção. Só gente boa! 

[KN] A ideia para este ano de 2020 era ampliar este projeto, realizando uma edição do Conexões que unisse todas as professoras de tribal da cidade e arredores, incluindo show e workshops, a exemplo do que já acontece em outras regiões. Como sabem, a pandemia adiou este plano. Decidi, então, realizar a segunda edição na forma de Show Online. E foi incrível! Tivemos o primeiro show reunindo profissionais do tribal da nossa região, contando também com a participação de convidados especialíssimos de outros estados (Kilma Farias, Marcelo Justino, Rose Monteiro e Aline Pires), levando a arte pra dentro da casa das pessoas, num momento tão delicado, em que ela mais do que nunca se fez necessária. 

Legenda: a edição on-line contou também com uma breve apresentação de cada bailarina antes da respectiva performance. ;)

 

[KN] Essa foi uma experiência totalmente diferente da anterior, mas muito gratificante também! O Nando Espinosa Fotografia mais uma vez arrasou na edição, e a estreia aconteceu sem problemas. E, por mais que já tivéssemos assistido todo o vídeo, o friozinho na barriga foi semelhante ao de uma apresentação no teatro. Além disso, foi muito legal estarmos todos comentando em tempo real as apresentações e apreciando o talento dos colegas! Tivemos uma boa contribuição do público com a nossa Vakinha virtual, que foi dividida entre os artistas. O que me chateou foi que, apesar de todos os cuidados e testes com músicas, infelizmente, passado aproximadamente um mês, o vídeo [do espetáculo inteiro] foi bloqueado pelo YouTube pelos direitos autorais. 

 

[RESENHANDO-RS] O que te motivou a se aventurar na produção de eventos?

[KN] Quanto à iniciativa de fazer um evento, foi algo que aconteceu naturalmente. O nosso espaço de danças vinha crescendo, e quando me dei conta, estava com um grupo lindo de alunas, desenvolvendo trabalhos consistentes, com personalidade. Um grupo de pessoas bastante diferentes, mas ao mesmo tempo com afinidades ideológicas, políticas, filosóficas. Senti a necessidade de reunir em um evento todos os trabalhos que vínhamos construindo. Ao mesmo tempo, decidi convidar alguns colegas especiais para abrilhantar mais ainda o nosso espetáculo. Há muito tempo tenho o sonho de ver a nossa cena da dança mais unida. Acredito que há espaço para todos, e que nos fortalecemos quando nos unimos. Desde que despertei para isso, tenho me esforçado pra contribuir, de alguma forma, para a criação da realidade que eu desejo.

 

[RESENHANDO-RS] Com a pandemia ainda sem uma perspectiva clara de controle, quais são os planos pra 2021?

[KN] Infelizmente, fica mais difícil fazer planos. Mas a intenção de realizar um evento maior, promovendo o tribal na nossa região, permanece. Enquanto isso estou aproveitando para estudar produção cultural e me qualificando melhor pra poder reunir presencialmente toda essa galera linda em breve, em grande estilo!

 

* A entrevista foi levemente editada para fins de clareza e compressão.

Segue mais alguns vídeos de ambos os eventos para vocês curtirem uma amostra! ;)


Até a próxima!


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Resenhando-RS



Anath Nagendra (Esteio-RS)
 é bailarina, professora, coreógrafa e pesquisadora de Danças Árabes, Raja Yoga e, em especial, Tribal Fusion e suas vertentes. Hibridiza sua arte e percepção com grandes doses de psicologia, espiritualidade e ocultismo. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>

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Resenhando-RS por Anath Nagendra

 Coordenação Região Sul - Núcleo RS:

Anath Nagendra
é bailarina, professora, coreógrafa e pesquisadora de Danças Árabes, Raja Yoga e, em especial, Tribal Fusion e suas vertentes. Hibridiza sua arte e percepção com grandes doses de psicologia, espiritualidade e ocultismo. Saiba mais em anath.com.br

















Colunistas convidadas anteriores:


Carine Würch - Moon Mother, Focalizadora de Danças Circulares Meditativas e Círculos Femininos, Professora de Hatha Yoga e de Dança Tribal & Fusões.

Iniciou seus estudos Dança Tribal em 2010, aos 31 anos, com Daiane Ribeiro. Teve oportunidade de fazer vários workshops de diferentes linhas dentro do Tribal: Bruna Gomes (RS), Fernanda Zahira Razi (RS), Joline Andrade (BA), Karina Leiro (PE), Krishna Sharana Devi Dasi (RS), Rebeca Piñeiro (SP) e Paula Braz (SP). E no ATS com Kristine Adams (EUA), Lilian Kawatoko (SP) e Gabriela Miranda (RS).  

Blogueira, artesã, pesquisadora do Tribal. 

"Quando conhecemos as raízes, criamos asas." (CW)

Blogs
Nossa Tribo & Nossa Dança 
http://nossatribo-fusoes.blogspot.com.br/



Karine Neves é médica veterinária formada pela UFRGS em 2007 e, desde 2008, dedica-se à profissão em sua clínica em Porto Alegre/RS. Mas o amor aos animais divide espaço em seu coração com a dança, que chegou bem antes que a veterinária na sua vida, aos 6 anos de idade, quando iniciou sua formação em ballet clássico. Em 2006 começou a estudar dança do ventre com Egnes Gawasy. Mas foi em 2008 que seus olhos brilharam ao conhecer a dança tribal, seguindo os passos da mestra Daiane Ribeiro e posteriormente Karina Iman. Em 2010 fez o 1º Curso Extensivo de Dança Tribal com o Grupo Masala, composto por Fernanda Zahira Razi, Daiane Ribeiro Bruna Gomes. Em 2011 começou a dar aulas de dança do ventre/fusão no Studio Al-Málgama, onde também fazia aulas regulares com Daiane Ribeiro e Bruna Gomes, e onde permaneceu como aluna e professora até 2013. Nesse ano inaugurou o próprio espaço de danças, onde até o momento ministra aulas de dança do ventre e Tribal. Karine apresenta um forte estilo ritualístico, e por ser filha e neta de bailarinas de dança cigana, também deixa transparecer essa influência em seus trabalhos. Sua grande paixão atualmente é o Tribal Brasil, o qual pesquisa a fundo desde 2014, e do qual é precursora na região Sul. Em 2015 foi convidada a palestrar sobre o tema no 1º Encontro VentrePoa. Para agregar e ajudar a construir uma dança com consistência, Karine também fez aulas de dança indiana, zambra, flamenco, sapateado, yoga, pilates e dança moderna.

Atualmente é integrante da 1ª turma do Curso de Formação em Tribal Brasil, por Kilma Farias (PB), criadora do estilo.

Para Karine a dança tribal é acima de tudo uma forma de autoconhecimento, de sentir-se conectada, seja com a sua “tribo”, seja com a natureza, com o que chamar de Deus ou consigo mesma.


Artigos
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[Resenhando-PR] Paraná Mostra Online de 2020

 por Esther Haddasa

Para estrear essa coluna resolvi fazer uma resenha diferente, não sobre um evento, mas sobre o Mix de Lives e atividades que envolveram o Tribal Fusion do Paraná nesse conturbado momento restritivo a palcos e aglomerações.

Criatividade não faltou e o engajamento para manter viva a cena  trouxe a oportunidade de Mostrar, e amostrar, muitos trabalhos, debates e performances no que ficou registrado como o grande fenômeno das mídias, ainda no mês de maio, comecinho da quarentena oficial, com a até então ferramenta menos utilizada do Instagram a : LIVE, estendendo sua exponencial busca também para o Youtube.

Organizei esses eventos do Instagram em duas categorias:

  •  Mostras – Lives Completas que irei abordar nessa edição.
  •  Amostras – Coreografias ou trechos de coreografias, estudos, e falas postados no Feed ou IGTV – Aguardem!

A Primeira Mostra, Live Show, que assisti (até porque participei como representante do Tribal Fusion com a coreografia "Queima minha pele" do Bacu Exu do Blues) foi no dia 09/05/2020 pelo Instagram da bailarina e idealizadora do Festival Arabic, Dayane Leme - Londrina, PR com o título: Amigas Belly Dance. Desenvolta, a anfitriã apresentava cada convidada que após dançar lia os comentários e interagia com quem estivesse nas mensagens.

A Live contou com a presença da bailarina Hayal, residente na França, descrevendo brevemente a situação da pandemia no país daquele momento. Outra representante do Tribal Fusion que esteve na Live foi Janaina Nicolau de Maringá-PR, que naquela ocasião apresentou um solo de Dança do ventre estilo cabaré.

No dia 22/08, Dayane Leme, trouxe novamente o Tribal Fusion para suas Lives, tendo como representantes e fazendo sua estréia como solistas as bailarinas Flávia Araújo com um Tribal Fusion Tango e Miriam Borges com um Tribal Brasil, ao som de Johnny Hooker.

 

Infelizmente estas Lives não estão mais disponíveis, o que as tornaram eventos únicos. 

Ana Paula Fávaro, de Curitiba-PR, entre Julho e Setembro, organizou semanalmente sob os títulos Live Cultural e Live Show, apresentações que eram divididas entre três momentos

- Entrevista da convidada- onde ela contava um pouco de sua trajetória;

-  Apresetação de Dança;

-  Finalizava com uma pequena explicação sobre o estilo com dicas de passos .


Os destaques do Tribal foram:


 Mariana Tachibana (27/07):

| Link para assistir a apresentação |

 

Myma Fávaro e a estreante Andressa Falkovski (21/08):

| Link para assistir as apresentações |

 

 Yasmin Zayn (25/08):


O Solo Rock bellyfusion com espada da Yasmin:

| Link para assistir a apresentação |

No dia 28/08, Ana Paula Medeiros, deslumbrante e versátil, fez uma dupla apresentação começando com "Tombei" de Carol Conka e fechando com "Moongate" de Samel.

| Link para assistir a apresentação |

 A anfitriã Ana Paula Fávaro apresentou-se no dia 02/09.

| Link para assistir a apresentação |

 

Para finalizar, Aerith Asgard promoveu Lives entrevistas.

A primeira aconteceu em 11/05 com Hölle Carogne (RS) onde abordaram e tiraram dúvidas sobre o Dark Fusion de forma muito leve e objetiva.

Essa Live ainda tem trechos disponíveis nos Stories da Aerith:

| Link para acessar |

 A outra Live aconteceu em 14/07 com o tema: "Desenvolvimento de Personagens na Dança", com Keila Fernandes. As anfitriãs deliciaram os participantes com uma retórica / debate assertivos e embasados sobre consistência de pesquisa / referências e performances no Tribal Fusion , seguem links das duas partes:

| Parte 1 | Parte 2 |


Adaptar conteúdo prático e teórico em eventos virtuais foi e está sendo uma alternativa corajosa ante todo o desânimo que poderia se instalar, afinal, esses eventos demandam energia, trabalho e dedicação tanto quanto os presenciais, e a garantia de uma audiência mínima, assim como eventos presenciais, não existem. Mesmo não tendo despesas percebidas (como alugueis , cachês , deslocamentos, etc)  não quer dizer que esses eventos virtuais não custem caro só porque são gratuitos, já que eles são a gentileza disponibilizada de todo o investimento  de anos de estudo, experiência e tempo entregues a nós, pelo único propósito da manutenção e motivação à dança.

Portanto, concluo com o pedido: Assistam as Lives !

Inté!

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Resenhando-PR


Esther Haddasa (Londrina-PR) é mineira de Conselheiro Lafaiete, graduada em Moda pela Universidade Estadual de Londrina, membro fundadora da cia Caravana Lua do Oriente, formada em danças árabes pelo método da Escola Rhamza Alli – Londrina ,PR.  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>
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Resenhando-PR por Esther Haiddasa

Coordenação Região Sul - Núcleo PR:

Nascida em Conselheiro Lafaiete - MG começou seus estudos em danças árabes em 1999 com a Professora Kênia Najma.

Chegou no Paraná em 2001 em Cianorte onde começou a dar aulas de dança do ventre para iniciantes na Escola Corpus.

 2002 mudou-se para Londrina e já em 2003 passa a integrar o grupo de professores de dança do Projeto Cultural CEPIAC (Centro de Produção Independente de Artes e Cultura) dirigido por Darlene Kopinski então coordenadora geral do FILO (Festival Internacional de Londrina). Durante sua permanência no projeto Esther teve a oportunidade de conhecer danças afro com o bailarino Carlos Afro-MG, dança maracatu e cavalo marinho com Pedro Salustiano-PE, além de participar da produção dos espaços de grupos como: Grupo XIX de Teatro, CIA Azul Celeste, Pepê Nuñes, Cacá Carvalho entre outros.

Em 2008 volta a estudar regularmente as danças árabes folclóricas, clássicas, ATS e Tribal Fusion na CIA Rhamza Alli, o qual permaneceu até 2017 concluindo formação nessa escola.

2017 participa da criação da CIA de Danças Caravana Lua do Oriente – atual

Ingressa no pole dance em 2017.

2019 Volta a dar aulas de dança com enfoque no Tribal Fusion e fusões a convite de Neyva de Oliveira na escola A2 e na escola de Danças Árabes Dayane Leme – atual.

 Em constante busca por aprimoramento e novas perspectivas de olhares para a dança Esther já fez Workshops com: Houssan Ramzy e Serena Dance, Hayal Danse, Lu. Hassany, Igor Kischka, Alessandra Al Faied, Marcia Nuriah, Alla Kushnir, Shalimar Mattar, Andrea Gaia, Rebeca Pinheiro, Mariana Quadros, Jill Parker, Hölle Carogne e Gilmara Cruz.


Artigos

 

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[Sankofa] A leitura embranquecida de corpos negros na Dança

Por Samara Makal  (Rio de Janeiro-RJ)
Colaboração especial para coluna Sankofa
Coordenação: Monni Ferreira

Desde a primeira apresentação feita no Brasil por Zuleika Pinho em 1954, passando pelo trabalho de Shahrazad Shahid nos anos 70 e tendo seu auge nos anos 2000 com a transmissão da novela O Clone, a Dança do Ventre percorreu um longo caminho dentro da cultura artística brasileira, sendo influenciado pelos corpos, ritmos e leituras locais. De Sambuka (solo percussivo de Artem Uzunov) até as recentes performances fusionadas com músicas afro-brasileiras; a leitura ensinada às bailarinas que adentram a Dança do Ventre permanece sofrendo enorme influência de outros estilos embranquecidos como o Balé e o Jazz. Sendo assim, o que essas influências geram de diferença na leitura dos movimentos em corpos pretos e brancos?

Se você é uma bailarina preta ou bailarino preto já deve ter sido instruído a “segurar” seus movimentos para que sua leitura fosse mais suavizada e fluida de forma análoga aos movimentos de bailarinas clássicas. Pés em En dedan e En dehor criam o costume da base onde seu corpo irá reverberar movimentos milimetricamente calculados para a leitura musical Belly Dance, principalmente das conhecidas Rotinas Orientais (já não tão orientais assim).

Imagem ilustrativa da posição básica dos pés aplicada nas danças clássicas

Contudo, as diferenças que envolvem nossos corpos perpassam pelo primeiro estranhamento da estrutura física do corpo árabe para o brasileiro. No Brasil, corpos pretos, não-brancos e brancos possuem diferenças que vão além do fenótipo e que podem pôr fim vir a trazer os debates que ocorrem de forma recorrente sobre bancas de concursos, didáticas de ensino, entre outros.

De acordo com os estudos realizados por Bejan, Jones e Charles (2010) em “The evolution of speed in athletics: why the fastest runners are black and swimmers white” (A evolução da velocidade em atletas: porque os corredores mais rápidos são pretos e os nadadores brancos), até mesmo em atividades de atletismo existem diferenças antropométricas (parte da antropologia que trata da mensuração do corpo humano ou de suas partes) entre pretos e brancos devido a uma diferença de 3% na posição do centro de gravidade. Com isso indica-se que pessoas pretas tenham um centro de gravidade acima, o que proporciona maior desenvolvimento na realização de atividades que exijam maior desempenho da parte inferior do corpo (no estudo é demonstrado pelo atletismo) enquanto que pessoas brancas possuem um maior desenvolvimento na realização de atividades com a parte superior do corpo (no estudo, demonstrado através da natação).

E cá estamos... nesse momento nos questionando sobre o porquê de uma dança de berço africano, e que tem como essência uma leitura musical que mais se aproxima dos nossos corpos, é ensinada no Brasil, onde pretos e não-brancos são maioria, através de uma base embranquecida que ao invés de nos estimular ao uso de movimentos que nosso corpo conhece através de uma ancestralidade inerente, somos instruídas a segurar nossos intensos quadris e nos adaptar a uma leitura mais clássica, mais “Belly”, tendo como referência maioritariamente pessoas com centros de gravidade mais baixos e consequentemente ocupando um maior espaço de notoriedade. Não faria mais sentido que nós ocupássemos esse espaço de visibilidade?

Mulher Núbia

Da mesma forma não podemos generalizar a mulher preta brasileira como um molde onde sempre teremos quadris e bundas avantajadas, até porque não é isso que faz uma bailarina ter uma dança de qualidade. O colorismo trouxe para os corpos pretos uma grande diversidade fenotípica e genética que é amplamente debatida dentro e fora do movimento negro, porém não estamos aqui para estabelecer um ‘negrômetro’ ou dizer quem é preto e quem não é e sim para dizer que corpos pretos possuem sim essa predisposição ao ritmo percussivo. Caso haja interesse, recomendo a leitura do artigo: “Preto, pardo, negro, branco, indígena: quem é o que no Brasil?” de Simone Freire (2019). 

E mesmo se focarmos especificamente em nossos corpos brasileiros, excluindo por um segundo os movimentos que aprendemos na dança do ventre; danças como o Samba, Carimbó e Jongo tem como raíz uma percussão  trazida por nossos ancestrais africanos e que nos é passada desde a infância, pois são danças que por muito tempo foram tidas como “coisa de preto” e mais comumente tidas nos subúrbios e periferias. Logo, nossos corpos (que podem vir a manifestar leituras de diversas intensidades) já possuem em sua memória muscular a naturalidade da leitura percussiva.

Mas a realidade é que essa origem da dança não nos é apresentada quando iniciamos nossa jornada na dança do ventre e suas fusões. Através de um fetiche “Jadiânico”, cria-se a imagem que uma bailarina deve ter cabelos longos, lisos ou ondulados, barriga chapada, busto e quadril modestos, figurinos luxuosos, mas principalmente... branca. Esse estereótipo reforçado por cartazes de shows de gala, casas de chás e concursos são na verdade um grande balde de água fria para nós que entramos na dança seduzidas por uma proposta de sororidade e sagrado feminino, mas que somos invisibilizadas pelo Mercado a ponto de não ter como referência para nossa dança uma maioria de bailarinas pretas.

Personagem Jade da novela 'O Clone'

Agora vamos propor um exercício de reflexão: Olhem para a foto abaixo, alguma professora já fez questão de mostrá-la para você? Quantas vezes você foi apresentada a imagens de mulheres árabes que não fossem as da Golden Age – que já em seu tempo possuíam o privilégio de uma pele mais clara que abriu o caminho para que elas tivessem a oportunidade de provocar as mudanças na dança que estudamos hoje – ou que não fossem mulheres brancas? Uma vez uma amiga me disse “Quem escreve primeiro é o dono da caneta”, então se quem escreve o material que lemos e estudamos são pessoas brancas, logo não é interessante pra essas pessoas que nós tenhamos consciência da real origem do que dançamos porque nos faria questionar o material teórico e prático que nos cedem e pior, questionar o espaço de visibilidade que essas pessoas ocupam em função do nosso preterimento.

Mulher Egípcia

Agora vamos pensar na nossa estrada como bailarina. Pense em todas as suas vivências dentro da dança e responda as perguntas abaixo:

  • Quantas vezes você já pensou em alisar seu cabelo (ou pediram para você alisar) para se encaixar no padrão existente em concursos ou coreografias de grupo?

  • Você já se viu constantemente ocupando posições de fundo ou canto de palco nas coreografias de grupo?

  • Já recebeu avaliações em concurso que mencionavam seu cabelo, seu corpo ou qualquer coisa da sua aparência mesmo que indiretamente para justificar desconto de pontos?

  • Quantas vezes você já se viu como a única pessoa preta dentro de um espaço de dança?

  • Qual posição você aparece na maioria das fotos de grupo: Fundo, canto ou em destaque no centro?

Tais questionamentos não têm como objetivo criar uma indisposição entre você e o seu local de estudo da dança, porém tem como objetivo muito direto cultivar um pensamento crítico para que não nos deixemos colocar em uma posição de submissão perante o Mercado, pois também é o nosso dinheiro que alimenta essas posições, então nós temos o direito de reivindicar que ele nos contemple como artistas e consumidoras da arte de outras profissionais.

Felizmente, desde 2018, nos juntamos em uma tomada de consciência simbolizada pelo Movimento Bellyblack. Através dele construímos espaços de poder e visibilidade preta para contrapor diretamente a prática de “Dividir e conquistar” utilizada pela branquitude e que nos separa e oprime, fazendo com que haja uma sensação de não pertencimento em uma dança que surgiu junto a nossa ancestralidade. O que faz crescer uma corrente de acolhimento e incentivo para a leitura que nosso corpo genuinamente se propõe a construir, além da aceitação da nossa diversidade estética, fenotípica e de pensamentos que fazem nascer novos debates que só tendem a nos empoderar e enriquecer.

Página da Revista Shimmie com artigo sobre Movimento Bellyblack

Faz parte da descoberta e construção do nosso corpo negro enquanto diáspora entender que vem da nossa ancestralidade a força que constitui nossa essência e que a ciência estuda e comprova que nosso centro de gravidade, ou seja, o que nos equilibra na vida, se aproxima do nosso coração e consequentemente do nosso sentimental. O que nos equilibra enquanto artistas é o sentimento vivo que emanamos em nossa dança, é o axé que reverbera em nossos quadris e a força da nossa raiz que evocamos a cada passo, giro e expressão que fazemos. Nossa estética expõe sem pudor o orgulho que temos de ser pretas e de nos posicionar com firmeza enquanto comentários, antes tão normalizados sobre nossa leitura de dança e aparência, se enfraquecem diante do reconhecimento inegável da nossa presença nesse espaço. Porque já fizemos entender que estamos aqui, somos muitas e temos uma dança de exímia qualidade que carrega em cada movimento a essência de nossos ancestrais.

Não podemos deixar que o embranquecimento da Dança do Ventre e de suas fusões apague o que temos de mais único e coletivo. A presença de corpos negros mostra a força da nossa comunidade e a influência que teremos para outras bailarinas e bailarinos que entrarem para a modalidade. Seremos nós a referência e motivação. Bellyblacks, avante!

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Sankofa 


Samara Makal (Rio de Janeiro-RJ) é bailarina, coreógrafa e professora de dança, iniciando sua trajetória na Dança do Ventre em 2015, possuindo aprimoramentos diversos em folclore e danças populares, além performances e afrofusões. Samara também é bailarina de Dança Cigana e Comunicadora Social com experiência em consultoria de marketing e produção audiovisual para dança.

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Monni Ferreira (São Paulo-SP) entrou para o mundo da dança com 10 anos de idade e durante toda a sua trajetória nesta arte teve a oportunidade de vivenciar diferentes estilos de dança, como: árabes, contemporâneo, afro, moderna, street dance, brasileiras, flamenco, indiana, ballet, entre outras.Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>

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