[Venenum Saltationes] Chifres - O uso como acessório no Tribal Fusion

por Aerith Asgard & Hölle Carogne

Zoe Jakes (EUA)

Talvez muitas pessoas não saibam, mas, apesar de morfologicamente parecidos, chifres e cornos são estruturas diferentes. Apesar disso, tais "apêndices cranianos"  possuem funções semelhantes, como  defesa contra predadores, reconhecimento social, apresentação sexual e disputa entre os machos por fêmeas e território.



Os chifres são estruturas revestidas por uma camada de pele altamente vascularizada, chamada "veludo" . Estes se ramificam, caem e crescem anualmente. 

A troca do chifre acontece quando este torna-se “maduro”, havendo a interrupção da circulação no veludo. Dessa forma, tal estrutura "morre", cujo "veludo" se desprende dos chifres, deixando o osso exposto. Então, o chifre cai e outro nasce no lugar, sendo acompanhado por uma nova deposição de camada de veludo. A cada troca, aparece um ramo adicional, até chegar à galhada típica do adulto.  

E F G H I- desenvolvimento dos chifres em cervídeos

Apesar dos chifres serem encontrados na maioria dos machos dos cervídeos, estes também estão presentes nas fêmeas de renas e de alguns caribus.

Ex: cervídeos. 


Enquanto que os cornos são estruturas cônicas e pontiagudas, ocas, queratinizadas e permanentes encontradas, geralmente, em ambos os sexos (pode variar em algumas raças) de  ungulados artiodáctilos (ordem de mamíferos biungulados com um número par de dedos nas patas). Estes se formam e se projetam ao redor dos "processos cornuais", localizados no seio frontal do osso frontal e crescem continuadamente, não são trocados ao longo da vidamudando de tamanho, forma e curvatura, de acordo com a idade, sexo, raça e espécie de ruminante. Dentro dos cornos há três tipos de tecidos: conjuntivo fibroso, adiposo e cartilaginoso. 


Existem diversos tipos : grossos, largos, enrolados, em espiral, entre outros. A morfologia dos cornos podem ser circular ou oval, no caso dos bovinos. Os ovinos possuem um formato triangular; e caprinos possuem uma forma oval. 



Além disso, em cabras e bodes, há outro anexo cutâneo, conhecido por "glândulas sebáceas dos cornos", que se encontram caudomediais à base, cuja função é de atração sexual, sendo o odor mais forte nos machos.

Glândulas sebáceas dos cornos em caprinos


Ex: bovinos, caprinos, ovinos, veados, antílopes, cobras, girafas (coberto por pele - ossicones),  rinocerontes ( completamente queratinizado),  são alguns dos animais que possuem chifres.





Exceções:

Algumas estruturas de chifres e cornos são exceções aos padrões  de tais apêndices, como no caso das girafas e rinocerontes

Apesar de serem mais parecidos visualmente com os chifres, a estrutura no topo da cabeça das girafas são cornos, conhecidos pelo nome de "ossicones", que apresentam uma formação e constituição diferenciada dos demais cornos. Ossicones estão presentes no nascimento, mas não estão presas ao crânio para evitar lesões no nascimento.  O desenvolvimento dessas estruturas não ocorre a partir do osso frontal, e sim de um osso à parte, através de suturas entre os ossos frontais e parietaisque se fundem ao frontal durante o desenvolvimento e, depois disso, acontece o depósito de pele e pêlos,  e não de queratina como acontece com a maioria dos casos.

Outro tipo diferente de corno é o do rinoceronte, que não é pareado, e sim, único, cuja composição é apenas de queratina. Além disso, não se desenvolverem no topo da cabeça como a maioria desses animais, mas na linha média da região do nariz. 



Significados Ocultos / Simbologia:
Símbolo fálico que representa força, poder, fecundidade, elevação, prestígio e glória. No Egito simbolizava “abrir caminhos”. No altar israelita, significa a onipotência de deus. Para os gnósticos é símbolo de maturidade e a perfeição de todas as coisas. Para os chineses, simboliza prosperidade. Na psicanálise, é símbolo de equilíbrio e maturidade psíquica. 
Nas regiões sírio-fenícias e na mesopotâmia antiga a coroa de cornos era atributo dos deuses. No Avesta é narrado que nos cornos do antigo deus persa da vitória (Verethragna) se manifestava a força divina. Soberanos helenísticos (Alexandre Magno, Seleuco) mandavam cunhar sua efígie em moedas, ostentando cornos na fronte. 
Também no velho testamento o chifre aparece como símbolo do poder (Sl 148,14; Jr 48,25; Sl 17,3). Por vezes designa os braços transversais da cruz cristã e colocados em altares são intermediários entre deus e o homem (Ex 3,10).
Também a simbologia lunar está presente, sendo que ambos os chifres podiam transformar-se no símbolo da lua crescente e minguante. No Rigveda (7,55,7) a lua é designada como “touro de mil cornos”. Por outro lado os chifres de touro, búfalo, carneiro são o local mítico de nascimento do sol (pinturas em rochas no norte da África); um mito egípcio narra como Hátor (a deusa-vaca) transportou a criança-sol em seus cornos para o céu. O significado apotropaico de soprar a corneta (como em Heimdall) está relacionado com a luz que vence as trevas. O chifre pode também remeter à abundância da colheita (cornucópia) e à fertilidade animal, tendo sentido fálico possivelmente já no relevo em rocha pré-histórico da chamada Vênus de Laussel.
Cornucópia: Um chifre cheio de flores ou frutos, pertencente originalmente à Cabra Amaltéia. Símbolo da fertilidade e da abundância na Antiguidade, atributo das divindades da terra (Gaia), da paz (Irene), da riqueza (Pluto) e do destino (Tique). Desde a Renascença, a cornucópia é um conhecido símbolo de sorte. Na representação das estações, é atribuída ao outono.
Maria Bonaparte chama a atenção para o fato de que, em hebraico, “queren” quer dizer, ao mesmo tempo, chifre, poder, força. O mesmo acontece com o sânscrito “linga” e com o latim “cornu”. O chifre não sugere apenas a potência, pela sua forma; pela sua função natural, é a própria imagem da arma poderosa, potente (em gíria italiana, o pênis se diz “corno”).
Segundo uma lenda peul, a envergadura dos chifres nodosos do bode mede a sua virilidade (HAMK, 17).
Na tradição celta, por duas ou três vezes, os textos mitológicos ou épicos mencionam um personagem, Conganchnes, “o de pele de chifre”, totalmente invulnerável, salvo na planta dos pés (OGAC, 10, 375-376). O chifre simbolizaria neste exemplo, por sua dureza, uma força defensiva, como o escudo.
Os cornos, na análise contemporânea, são considerados também como uma imagem de divergência, podendo, como o forcado, simbolizar a ambivalência e, no mesmo contexto, forças regressivas: o diabo é representado de chifres e com cascos fendidos. Mas por outro lado os chifres podem ser também um símbolo de a bertura e de iniciação, como no mito do carneiro de tosão de ouro, por exemplo. 
C. G. Jung percebe outra ambivalência no simbolismo dos chifres: eles representam um princípio ativo e masculino pela sua força de penetração; e um princípio passivo e feminino, por sua abertura em forma de lira e de receptáculo. Reunindo esses dois princípios na formação de sua personalidade, o ser humano assumindo-se integralmente, atinge a maturidade, o equilíbrio, a harmonia interior, o que não deixa de ter relação com a ambivalência solar-lunar.
O chifre (ou lua crescente) era o símbolo mais comum da deusa Astarte de acordo com o pesquisador de assuntos religiosos Jeffrey Burton Russell.
O Unicórnio, o Fauno, o Sátiro, Pan, Leshie, Minotauro, Cernunnos, Deus Khnum, Deus Cornífero e o Diabo são alguns dos seres mitológicos que ostentam chifres em suas frontes.


 Unicórnio - Arte de Anne Bachelier

Fauno - Arte de Carlos Schwabe 
Diabo - Pintura Medieval - Autoria Desconhecida



Estatueta de Astarte com uma touca com chifres, Museu do Louvre


O uso do acessório no Tribal Fusion :
Urban Tribal Dance Co., dirigido por Heather Stants, em 2001

Origem:
desconhecida.
Atualidade: A partir de 2011, com Zoe Jakes, o acessório se popularizou no Tribal Fusion, mas seu uso já foi identificado antes por outras companhias de dança.
A banalização de um símbolo em virtude da moda: Acontece, muitas vezes, de um determinado acessório ou objeto de cena ganhar repercussão entre a comunidade e acabar sendo usado apenas com intuito estético, o que não é errado, mas banaliza algo que poderia ser melhor investigado e trazer riqueza de enredo e conteúdo para a performance.
A importância da intenção ao se utilizar um objeto imbuído de valor simbólico: Um trabalho artístico ganha em intensidade e força quando o performer se dispõe a estudar e conhecer historicamente as origens dos apetrechos escolhidos para fazer parte da cena. Se conseguirmos responder a nós mesmos o porquê de usarmos tal acessório, conseguimos dar intenção ao trabalho, trazemos à tona as mensagens ocultas que aquele conteúdo simbólico nos provoca, e direcionamos energia psíquica para um fim além-dança. O acessório torna-se, então, ferramenta ritualística. 
Fotos:
Mariana Maia (SP)
Mariana Quadros e alunas (SP) - 2015
Long Naja (Argentina) - 2016

Al Málgama (RS) - 2016

Asgard Tribal Co. (PR) - 2018


Rossana Mirabal ( Venezuela/ Curitiba-PR) - 2019

Cia Ônix Tribal (PB) - 2020

Vídeos de performances com chifres:
INTERNACIONAIS:

- Zoe Jakes - EUA (2011):




- Anasma - EUA (2011):




- Kami Liddle no clipe "Cat Skillz" do Beats Antique - EUA (2012):




- Zoe Jakes - EUA (2013):




- Akzara - Venezuela (2014):




- Ambrosia - Eslovênia (2014):




- Ambrosia - Eslovênia (2014):




- Elizabeth Zohar Ensamble - Israel (2016):




- Ethel - Rússia (2016):



- Ethel & AnimA - Rússia (2016): 




- Saba Khandroma - Argentina (2016):



- Tash - Ucrânia (2016):




- Tribal Beat Dance Company (2016):




- La Catalina - Rússia (2017):




- Nefru Merit - Rússia (2017):




  - Tribal Pro. Triada.Almaty by Amina Rahman - Cazaquistão (2017):  




- Tribal Pro. Astana by Olga Meos - Cazaquistão (2017):




- Tribal Pro. Karaganda  by Elena Parfilova - Cazaquistão (2017): 




- Ethel - Rússia (2018): 



- Maureen - EUA (2018):




- Zoe Jakes- EUA (2019):




- Anima - Rússia (2019):



- Ethel (Rússia) & Moria Chappell (EUA) (2019):



- Ethel & AnimA - Rússia (2019):


- Triptych: BLOOD (The Battle) - EUA (2020):




NACIONAIS:


- Hölle Carogne - RS (2014):




- Bety Damballah - PR (2015):




- Mariana Quadros e Turma de Tribal Fusion - SP (2016):




- Izadora Ferreira - RS (2016):




- Camila Middea - RJ (2016):



- Irene Rachel Patelli - SP (2016):



- Mariáh Voltaire - PR (2016):




- Gilmara Cruz - SP (2017):



- Carol Freitas - DF (2017):




- Mariana Maia - SP (2018):



- Bia Vasconcelos - BA (2018):



- Marcelo Justino - SP (2019):




- Patrícia Nardelli - RS (2019):




- Cia Ônix Tribal - PB (2020):

Onde comprar:
Como fazer:


Bibliografia:
- Dicionário de Símbolos, O Alfabeto da Linguagem Interior – Maria Cecília Amaral de Rosa.
- Dicionário de Simbologia – Manfred Lurker.
- Dicionário de Símbolos – Jean Chevalier Alain Gheerbrant. 
- Urroz, Carlos. (S.f.). Elementos de anatomía y fisiología animal. 
http://sagradofeminino.saberes.org.br/







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