Sob uma óptica não tão obscura

Ariellah - criadora do dark fusion

Estamos acostumados com regras, nomenclaturas e fórmulas para as coisas.Talvez tudo isso seja um reflexo do mundo em que vivemos, onde tudo já vem da forma mais simples possível para facilitar a nossa vida. Mas nem sempre as coisas são assim, principalmente no tribal fusion, que é tão diversificado.

Hoje quero apontar o dark fusion, termo criado por Ariellah para designar seu estilo. Um estilo muito voltado ao gótico,mas não somente este. O dark fusion abrange vários estilos undergrounds, envolvendo uma maior carga expressiva, com uma dança mais teatral e uma óptica obscura. E talvez esteja ai o grande diferencial entre dark fusion e gothic fusion:saber transformar algo normal, que não é gótico, em algo obscuro; saber distorcer para uma visão mais sombria; saber transformar o sublime em uma estética mais alternativa e bizarra,não deixando de ser belo;o dark fusion  é uma poesia em forma de dança ,porém, apenas para olhos que os vêem.

Zoe Jakes - bailarina de tribal fusion
E fora do dark fusion? Não podemos enxergar características “darks”? O tribal fusion com certeza já possui uma característica bem underground e, talvez, "agressiva", com relação ao que estamos acostumados na dança. É algo que choca conceitos por seu visual forte com tantos elementos da cena alternativa, como dreads,piercings ,tatuagens e cabelos coloridos, e uma dança muitas vezes densa, sinuosa e hipnotizante. Talvez por isso muitos leigos considerem a dança gótica. Mas será que eles estão tão errados assim? A dança realmente não pode ser lida como sendo  mais obscura? Acho que sim.A expressão é mais forte,impactante,misteriosa e dramática, com maquiagem pesada e olhar mais fechado; com movimentos lentos, mas também muito ágeis , flexíveis e técnicos; possui um visual mais alternativo e livre do que a dança do ventre atual.E por isso nasceu a necessidade de expansão dessas características natas do tribal fusion. O dark fusion apenas manchou totalmente de preto a dança tribal; onde havia apenas uma pitada de alternativo foi totalmente "corrompido" pela escuridão de Ariellah e adeptas. Bailarinas de tribal fusion que não são do estilo gótico também são bem góticas mesmo não querendo ser e mesmo não sendo. Mas se você  olhar com olhos interpretando para a "cena dark",você consegue visualizar. Quantas bailarinas de dark fusion não se inspiram  na dança, ou na expresão, ou até mesmo em elementos de figurino de Zoe Jakes, por exemplo?

Apsara - grupo de Tribal Nouveau e Ritualístico
E no dark fusion tem que ser sempre no preto? Sempre “carão”? Sempre correntes, caveiras e rebites? Acho que não. Nossas bailarinas vêm mostrando que o branco/creme também é uma cor que pode ser utilizado pelas bailarinas do estilo; além de purpurina e muito brilho, basta você saber interpretar.  Sorrisos e outras expressões também são muito bem vindas, e estilos se misturam com o gótico no dark fusion, como o vintage,burlesco, cabaret,art nouveau,etc. Você apenas tem que ter olhos para esse tipo de expressão.

Além disso, somos livres para nos expressarmos. Não precisamos ser 365 dias trevudas from hell! O tribal é livre para você se expressar da forma que quiser e como quiser! Então, se você gosta de ATS , vintage, balkan,afro-brasileiro...DANCE! Não se ligue a parâmetros, ou o que a cena vai pensar! Você não vai deixar de ser o que é e gostar do que gosta se você dançar outras coisas que você também se identifica. Estamos no tribal apenas para nos expressarmos da forma que nos sentimos mais a vontade naquele momento; expressarmos o que nossos corações clamam. Porém, há bailarinas que são apenas inseridas na cena do gothic bellydance, e isso também não tem problema algum! Ela nãoé poser por ser 24h “dark”, pois ser gótico vai além de um momento e também além do visual, e sim pelos conceitos por detrás da estética;pela filosofia; pelos gostos e estilo de lidar com a vida.

Tempest - bailarina de gothic fusion bellydance, com um visual bem mais "tribal"

Não existe fórmula,não existe “kit dark fusion”  para comprar pronto. Existe sim, ter uma boa base de tribal fusion,independente do estilo(Dark, ATS, Gypsy, Fusão Brasil,Balkan,etc). Você dançará dark fusion a partir da sua essência, do seu estilo, dos seus gostos  e da sua capacidade em transformar trevas em luz ou luz em trevas em Arte.

Kilma Farias - bailarina de Tribal Brasil,
mas que também faz fusões deste com o dark fusion


Abaixo alguns vídeos para ilustrar o post acima:

Ariellah:


 Dark fusion em figurino branco e delicado, com muitas rendas, porém as botas pretas e com salto alto e fino, com a expressão forte e "agressiva" de Ariellah ajudam a contrapor o conceito de sublime, delicado,submisso e belo.

Apsara:


Grupo Apsara, dirigido por NagaSita. Apesar de estarem de branco elas adaptam bem à sua dança ritualística a uma imagem mais sombria e misteriosa, aliados a imagem da mulher em comunidade.



Sashi:



Sashi é um dos ícones de bailarinas dentro do gothic fusion. Aqui ela não está dançando o estilo,mas uma dança  tribal bem mais ligada ao ATS, com direito a música ao vivo! E só por estar dançando algo diferente do comum, ela não vai deixar de ser da cena gótica. Somos livres para nos expressarmos da forma que quisermos, a hora que quisermos e como quisermos, pois sentimos a vontade para isso naquele momento.



Kilma Farias:


Aqui temos o contrário do exemplo acima: Kilma Farias, grande ícone do estilo Tribal Brasil, dançando dark fusion! Tão leve,solta, mas marcante e expressiva, com toque de suas fusões afro-brasileiras na dança obscura. E não pode? Claro que sim! Basta você ter o olhar transformador,lembra?



Mardi Love:



Mardi Love não é uma bailarina gótica, porém, nesta apresentação a música é tão parada e misteriosa, que cria uma sensação de assombro,como se estivesse vendo um fantasma dançando ao som da neblina densa e do vento sussurrante ,como um lamento e atormentação. O figurino claro , a expressão compenetrada, aliados com movimentos sinuosos,lentos e minuciosos e a própria música, cria toda essa atmosferização.


Zoe Jakes:

Zoe é uma das bailarinas mais famosas de tribal fusion, mas sua dança inspira muitos adeptos do dark fusion. Neste vídeo a música ajuda a bailarina a criar uma expressão forte e marcante, tanto nos passos quanto no olhar. Seus movimentos são também sinuosos e inesperados. Zoe lembra uma cobra dançando que a qualquer momento pode dar o bote em sua presa hipnotizada; ou uma vampira que está "seduzindo" para fincar seus dentes em sua presa. O visual é bem pesado para um simples tribal fusion, com penas pretas, lembrando de corvo, ao redor do pescoço, sutiã vinho com vários rebites e correntes, e calça com listras em preto e cinza.

Esta música do Beats Antique dá várias idéias para a cena dark, pois ela tem um toque delicado, como uma caixinha de música,mas tem uma força densa por trás.A música também começa a dar uma acelerada, dando uma sensação de desespero, ansiedade,etc. A dança em si é menos sinuosa que acima, porém o figurino de Zoe é bem adequado ao dark fusion, com esse tecido vinho,correntes do sutiã de pedraria preta, além de algumas rendas pretas.


Rachel Brice:


 Aqui Rachel Brice está em uma apresentação bem mais performática que o costume. Representando a Morte com uma foice. Uma maquiagem de caveira, suas belas flores vermelhas corrompidas pela escuridão, assim como seu figurino.Uma figura que lembra também as Catrinas do Dia dos Mortos, do México. Tudo a ver com  o tribal, tudo a ver com a dança sinuosa e expressão mais fechada da Rachel, como a do flamenco; e tudo a ver como uma adaptação para o dark fusion.

Entrevista#8: Rhada Naschpitz


Esse mês teremos a entrevista de Rhada Naschpitz, bailarina  do Rio de Janeiro com dança tribal bem inserida na cena underground, cujas fusões mesclam com dança cigana, gothic fusion, rock fusion unidos a dramaticidade e expresão da dança-teatro. Boa leitura! =)

BLOG: Conte-nos sobre sua trajetória na dança do ventre/tribal;como tudo começou para você?     
Sou profissional de Educação Física, formada pela Univesidade Gama Filho-RJ.Comecei meu envolvimento com danças orientais em 1996. Iniciei meus estudos com a dança do ventre, descobrindo maior afinidade pelo estilo Ghawazee e acabei me direcionando para a Dança Cigana estudando as danças que a influenciam, como o Flamenco, a Dança Russa, Cocek, Karsilama,etc.Especializei-me em Dança Cigana, em 1998, em seus estilos: Ghawazee, Sulecule/Cocek, Kalbelia, Romanê, Gitano e Zambra. Comecei a  ministrar aulas e fazer shows,já como profissional, em 2002.

A partir de 2005,  me dediquei só a shows e desenvolvimento do Gypsy Fusion, como professora e sócia,  no Espaço de Danças Rhada e Lucia, devido a  meu compromisso com minha outra profissão de designer de jóias. Nessa etapa, por não parar meus estudos na dança, devido ao desenvolvimento do estilo Gypsy Fusion, apaixonei-me pelo Tribal, e comecei estudo e pesquisa intensos dentro dessa vertente. A experiência em dança cigana, que é fusion na essência e em suas influências, contribuiu para meu ingresso definitivo no tribal fusion, com o estilo Gypsy Fusion,  que foi acrescido da influência Dark /Rock,outro lado marcante de minha personalidade e peculiar de minha dança. Estreando com a fusão Rock &Roll, em outubro de 2007, dançando no show da Banda Matilha, no Néctar. Assim, tornou-se a precursora do estilo Rock Fusion, no Rio de Janeiro, com a estréia oficial no Tribes Brasil 2009.


Hoje meu trabalho na dança pode ser definido como Dark Arts, que engloba os estilos  Dark Fusion Bellydance,Tribal Teatral, Gothic Gypsy e Rock Fusion. Este estilo de dança é uma das varidas possibilidades do Tribal Fusion - Dança Étnica Contemporânea, caracterizada por enfatizar uma estética "obscura" e expressionista, com forte teatralidade e certa carga dramática, inspirada nas várias cenas da cultura dark/gothic(rock,noir,industrial,burlesque,medieval,vitoriano...) e urbanas, como o rock `n`roll  e o hip hop. Mesclando todo o universo alternativo, contemporâneo e até  do folclore do Brasil, com as danças orientais e étnicas. Fusão  cuja expressão de palco,interpretação musical, energia e essência são postas em movimentos fortes que exprimem uma certa tensão, mesclados com movimentos fluidos e sinuosos, criando uma linguagem peculiar e hipnotizante. “ Um estilo que tem capacidade de incomodar e ao mesmo tempo fascinar,explorando o tenso e obscuro e sendo fluido e belo”.


No caso do Gothic Gipsy, é a fusão do dark/gothic com estilos e influências das danças ciganas de diversas partes do mundo. União que se dá de forma espontânea pela expressividade,teatralidade,magia,mistério, que tanto a cultura Rom (gypsy) quanto a dark/gothic carregam.
Atualmente, ministro aulas e workshops pela Escola de Artes Orientais Asmahan- RJ; além de ser bailarina profissional da mesma, e também co-produtora e diretora artística do Espetáculo Gothla Brasil.

Também, juntamente com o músico Ives Pierini,desenvolvo o projeto Duabus Artibus – Music and Dance Duet, onde danço com músicas próprias, cuja estréia desta parceria aconteceu no Gotlha Argentina 2012, com a música “Dreams”.


BLOG: Quais foram as professoras que mais marcaram no seu aprendizado e por quê?
Na dança cigana foi a Márcia do Gaia,sendo que carrego isso de família também; está no sangue.
No Flamenco,Denise Tenório, Flávia Gomes e Rodrigo Garcia.
No hip hop foi Pedro Drope.
No tribal inúmeros workshops: Isabel de Lorenzo (ATS), Sharon Khiara, Mardi Love.Mas os que de fato aproveitei foram os da Ariellah, a qual hoje tenho laços estreitos, sendo privilegiada de seus constantes ensinamentos.


BLOG: Além da dança tribal você já fez ou faz mais algum tipo de dança? Há quanto tempo?
Como já mencionei, dei aula bastante tempo de dança cigana, fiz várias vezes aulas de dança do ventre, flamenco e hip hop, entre outras.

BLOG: Quais foram suas primeiras inspirações? Quais suas atuais inspirações?
Sempre foi Ariellah, mas admiro também a Zoe Jakes,e Asharah. Mas a Ariellah é de fato minha referência no tribal. E Pina Bausch na dança-teatro.

BLOG: O quê a dança acrescentou em sua vida?
É minha vida simplesmente. Dançar traz equilíbrio,condicionamento físico, saúde,alegria e extravasa qualquer problema.É minha Arte, simplesmente.
 
BLOG: O quê você mais aprecia nesta arte?
No caso do tribal, a liberdade de expressão e estética de cada bailarina e o universo de possibilidades de fusão.

BLOG:O quê prejudica a dança do ventre e como melhorar essa situação?Você acha que o tribal está livre disso?
Nunca estive muito inserida no meio da dança do ventre,como já mencionei, minha formação vem das danças ciganas.É claro que em alguns momentos estudei a dança do ventre,principalmente o estilo Ghawazee. O que me chamou a atenção foi a questão de confundir sensualidade com sexualidade. A tendência da mídia desinformada ou até mesmo com intuito de distorção acaba muitas vezes vulgarizando essa arte. Fora que também existem “pseudo dançarinas” que levam para esse lado, mais preocupadas com o palco do que com a arte em si. O tribal em sua história e surgimento já buscava justamente desassociar essa imagem distorcida; é mais difícil essa abordagem,mas nada impede que falta de ética e de  comprometimento sério com esse estilo, leve a aparecer as ditas distorções.

BLOG: Você já sofreu preconceitos no tribal? Como foi isso?
Preconceito não, mas quando comecei a dançar com Heavy Metal, marcha fúnebre, a princípio não fui muito bem aceita, chocava um pouco a plateia ainda não muito acostumada com o conceito de Dark Arts, onde também está inserido o Rock Fusion.

BLOG: Como é ter um estilo alternativo dentro da dança.Conte-nos um pouco sobre isso.
Vejo de forma natural, não fui eu que me adaptei ao Dark Arts, foi o Dark Arts que caiu como luvas na minha maneira de ser. Grande parte dos acessórios e roupas que uso em meu figurino, já faziam parte do meu armário e do meu modo de vestir, sempre andei de preto. As músicas que danço, na maioria, são de bandas que sempre escutei, como Dio , ACDC , Ramnstein,etc. Como disse nossa Deusa do Dark Fusion, Ariellah:

 – “Não se ensina ninguém a ser dark, isso é um estado de espírito, energia interior, expressão  artística, personalidade...”

BLOG: Houve alguma indignação ou frustração durante seu percurso na dança?
No início,quando aqui no Brasil ainda se tinha só como referência máxima a Rachel Brice e Carolena Nericcio, eu  já acompanhava o trabalho de bailarinas mais “obscuras” como Ariellah, por já fazer parte da cena alternativa.  Quando comecei a já me apresentar dentro desse conceito de estética, muitas vezes fui criticada como não sendo tribal fusion. Só depois que a Ariellah esteve no Brasil que este estilo começou a ser reconhecido e começaram a entender minha proposta. Infelizmente aqui no Brasil só se dá valor quando vem de fora. Brasileiro dificilmente dá valor à “prata da casa”; precisou vir uma dançarina de Dark Fusion de fora para esse estilo ser reconhecido. Mas estou super feliz de estar vendo gente em nosso país fazendo trabalho sério nessa vertente. É muito bom ver nossa “Tribo” aumentando e influenciando.

BLOG: E conquistas?Fale um pouco sobre elas.
Sempre superar a mim mesma. Conquistas vêm como consequência disso. Importante pra mim é sempre estar vivenciando e transmitindo Arte.

O aprimoramento da técnica sempre é uma eterna conquista, é um estudo sem fim ,exige dedicação. Não se atinge a qualidade sem esforço e disciplina. Não digo difícil de aprender e sim de manter essa disciplina, visto que grande parte de nós dançarinas, aqui no Brasil, não vivemos só da dança. Nem sempre temos disponibilidade para essa disciplina, e às vezes nem condições financeiras para investir mais em nosso aprimoramento. Difícil mesmo. E com todas as dificuldades da sobrevivência, continuar investindo, estudando, treinando e não desistir... Acho que é o amor a essa Arte o grande segredo.

BLOG: Como  e quando você descobriu o tribal fusion e porquê se identificou com esse estilo?Quando começou a praticar o tribal fusion? 
Está na primeira resposta.

BLOG: Antes de você se envolver com o tribal fusion, você se dedicava às danças ciganas e do ventre. Compartilhe conosco esse sentimento em comum entre as três danças e o que lhe fez seguir o rumo ao dark fusion e como essas danças se “comunicam” entre si na sua forma de expressão nesta arte.
Confesso que não me dediquei a dança do ventre, apenas estudei o que era de interesse para a minha dança. A dança cigana já é fusion em sua essência, devido as diversas influência que esse povo nômade sofreu, então eu já tinha um arsenal muito vasto de possibilidades de fusão nas minhas mãos. Com o estudo do ATS, só fiz de fato fusionar tudo e unir ao meu estilo rock,dark...Se assim posso dizer.Acho muito difícil traçar limites onde essas danças se comunicam, a fusão dá liberdade ao artista de onde fazer as interseções, é o conhecimento técnico unido ao talento e expressão própria que vão trazer o reconhecimento de um estilo. 

BLOG: Como você encara a fusão entre metal/rock e dança do ventre/tribal?
Deve haver uma certa coerência para não ser ridículo. Já vi muito vídeo no Youtube com dançarinas apenas preocupadas em colocar figurino preto, e às vezes nem isso, e dançarem rock pesado com movimentos de belly dance estilo clássico, por exemplo. Totalmente fora da essência nata do rock. Eu como faço parte da cena desde meus 15 anos, acho particularmente que dançar rock requer uma energia menos “odalisca”; acho que o tribal dark arts veio justamente para acertar isso.

BLOG: Qual a sua relação com o gothic fusion? Como você encara  a cena gótica inserida na dança do ventre/tribal?
Para usarmos a palavra gothic temos que conhecer a cena. Para fazermos fusão flamenca precisamos conhecer o flamenco puro; para fazermos fusão indiana precisamos conhecer  a dança indiana pura...E por aí vai. Acho que deve ser a mesma coisa com a fusão gothic.Fusão feita com conhecimento sempre trás bom resultado.Escrevi um artigo sobre isso no meu Blog.


BLOG: Qual importância você encara a dança-teatro e como esta se desenvolve em suas performances?
É uma das metodologias e técnicas que mais estudo. Pina Bausch é uma das minhas maiores influências e tem sido uma das minhas referências de pesquisa para o estilo de performance, que faço dentro do Dark Arts. Pois é como dança-teatro que muitas vezes se caracteriza a dança de fusão obscura no tribal fusion. Não porque se assemelhe a qualquer iniciativa já encontrada nessa categoria, mas vai de encontro a este conceito por sua própria natureza expressiva. Mas apesar desse potencial o Tribal Fusion Dark Arts precisa cada vez mais amadurecer sua linguagem para que ganhe a amplitude expressiva da dança-teatro. Só agora, com o já chamado  Dark Fusion Theatre,essa situação está se concretizando. Com certeza tentativas de fusão de outras linguagens da dança e da ação teatral estão gerando possibilidades mais híbridas para a dança obscura, como também estão colaborando no amadurecimento da própria linguagem de movimento específica desta. A expressão estética e artística da cultura Dark já é teatral em sua essência, já havendo um elo de coerência de linguagem nato. Eu como bailarina de Dark Arts estou trazendo para meu estilo e forma de dançar e ensinar, conceitos, métodos e experiências desenvolvidos principalmente por Pina Bausch, considerada a grande dama da dança contemporânea alemã, já que tinha um estilo expressionista único que, no início de sua carreira, provocou grandes polêmicas, antes de ser reconhecido mundialmente. A dança-teatro, como a maioria denomina, foi a principal contribuição dela.

 BLOG:Você  é proprietária do atelier Dark Dancer Design, destinado a acessórios para dark fusion. Como surgiu a ideia ou necessidade de formá-lo? Como é o processo criativo e suas inspirações para a composição das peças? Há alguma curiosidade a respeito do nome do ateliê?
Sou formada em desenho industrial e comunicação visual pela PUC-RJ. Criar e trabalhar com design já faz parte dessa minha profissão. Comecei fazendo meus próprios figurinos adaptando minhas roupas para a dança; minha experiência em jóias e acessórios tornou tudo mais fácil. A moda alternativa sempre me atraiu como designer,como sempre estive inserida nessa cena, então só uni o útil ao agradável. O nome é a união das minhas duas profissões. 

BLOG: Como uma das organizadoras do evento Gothla Brasil, conte-nos como surgiu a idéia e composição do evento. Como foi a experiência de realizar o mesmo? Quais as repercussões do mesmo no Brasil?
Podemos dizer que foi no Rio de Janeiro que de fato começou a surgir a vertente Dark Arts no Brasil. Antes de Ariellah vir ao Brasil e influenciar a propagação do mesmo, tanto eu como Jhade Sharif do Asmahan, já estávamos fazendo performances e ministrando aulas regulares e workshops, dentro desse estilo.Comecei com o Rock Fusion, em 2007, dançando com a Banda Matilha; e estreei oficialmente no Tribes Brasil 2009, um espetáculo de peso.



Hoje, fazendo parte da Equipe Asmahan, eu e Jhade só unimos forças e identificação com o Dark Arts. Assim, outros profissionas e alunos da Escola acabaram também se identificando com a proposta e com isso criou-se uma tribo forte dentro desse conceito. Com o Carpe Noctem, em 2011, de fato consolidamos nossa identificação com o estilo. Então, em uma conversa informal, onde pensávamos no próximo Carpe Noctem, uma pessoa muito especial de nossa equipe, sugeriu o nome. Daí então entramos em contato com os primeiros organizadores, o Gothla UK, para podermos ser a representação do Gothla no Brasil. A parceria foi feita e então surgiu o Gothla Brasil. Era a primeira vez que de fato eu entrava como co-produtora de um evento de peso. Foi maravilhoso! O espetáculo repercutiu super bem e foi de grande alegria ver a quantidade de bons profissionais inseridos nessa proposta. Houve também o apoio e identificação de nossa Rainha  Ariellah, que cada vez mais faz parte do Asmahan Family.E virão outros!!!!


 BLOG: Sob sua óptica, o quê é dark fusion?
É uma das vertentes do tribal fusion, dança étnica contemporânea, onde a teatralização é unida a dança com manifestações artísticas de temática e estética que estão vinculadas ao universo alternativo ,underground, dark, gótico. Onde explora o dramático, onírico, fantástico, misterioso, o expressionismo, o surrealismo, o romântico, circense, sombrio, vitoriano, o humor-negro... As inúmeras possibilidades inseridas dentro desse contexto de influência das Dark Arts.

 BLOG: O quê você mais gosta no tribal fusion?
Pergunta 4 já respondida.

BLOG: O quê você acha que falta à comunidade tribal?
Reconhecimento de um público que não faça parte do nosso metiê de dança. O Dark Arts aqui no Rio, aos poucos,já está consenguindo chamar a atenção do público alternativo. Nossa parceria com a Goth Box, festa já realizada a 7 anos, tem nos ajudado bastante na divulgação. Não temos que ficar dançando só para outros profissionais de tribal,amigos,pais, namorados. Fazemos Arte, temos capacidade de reconhecimento, precisamos nos focar nisso.
  
BLOG: Como você descreveria seu estilo? 
Tribal Fusion Dark Arts

BLOG: Como você se expressa na dança?
Vem de dentro, com a alma e essência, e de acordo com a energia e emoção do momento. A música é que me move, é como se eu entrasse dentro dela, em um mundo a parte.

BLOG: Quais seus projetos para 2012? E mais futuramente?
Continuar estudando e me aprimorando sempre, e explorar cada vez mais as infinitas possibilidades que o tribal fusion oferece. Toda técnica exige dedicação, não se atinge a qualidade sem esforço e disciplina. Não digo difícil de aprender e sim de manter essa disciplina, visto que grande parte de nós dançarinas, aqui no Brasil, não vivemos só da dança. Nem sempre temos disponibilidade para essa disciplina, e às vezes nem condições financeiras para investir mais em nosso aprimoramento.Difícil mesmo. E com todas as dificuldades da sobrevivência, continuar  investindo, estudando, treinando e  não desistir...Acho que é o amor a essa Arte o grande ”segredo.”

Também poder passar todo meu conhecimento para minhas alunas, adoro ver o Dark Arts tomando impulso e criando novos talentos.

BLOG: Improvisar ou coreografar?E por quê? 
Depende. Em grupo é claro que coreografar. Mas eu particularmente em minhas performances dou maior espaço ao improviso. O que faço é conhecer bem a música, tempo e harmonia. E saber o que posso fazer em cada trecho, se vou usar quadril ou movimentos sinuosos...  Geralmente “coreografo” uma entrada, um trecho importante que tenha muitas marcações e um final. Como utilizo muito a expressão teatral, o improviso me deixa mais livre para sentir e deixar fluir o que vem de dentro.
  
BLOG:  Você trabalha somente com dança?
Não, sou designer de jóias também; nasci artista, então é a lei da sobrevivência unida ao prazer de fazer arte.

BLOG: Deixe um recado para os leitores do blog.
Não devemos nunca nos acomodar, achando que aprendemos tudo e que já sabemos tudo.Devemos estar sempre nos reciclando, estudando sempre. Também devemos sempre unir a técnica à expressão própria, sentir, dançar com o corpo e alma.


Contato
Tel/cel: (21) 8299-0861









Para conhecer mais o trabalho desta bailarina, acesse seu canal no Youtube!

(ATS) Fusion

Meu intuito deste texto foi colocar algumas impressões minha sobre o assunto e uma forma de complemento dos textos mais complexos que estão disponíveis na internet pelas bailarinas profissionais, com o objetivo de tornar mais didático o estudo do tribal para bailarinas iniciantes.

Além disso, esse texto servirá de subsídios para textos meus com co-relações ao tema.


(ATS) Fusion


ATS® é a sigla para “American Tribal Style”,criado pela diretora do grupo FatChance BellyDance(FCBD), Carolena Nericcio.

(ATS) Fusion é o título que criei para essa postagem. Uma forma de lembrarmos que o “Tribal” do estilo tribal fusion se originou desta sigla ou nomenclatura.Além do próprio ATS® ter sua base,inicialmente, criada através de uma fusão com outras danças, com uma gênese em comum. Porém, isso não significa que ela não seja uma dança autônoma,pelo contrário.


Jamila Salimpour e Bal Anat

O ATS® foi a consagração de uma necessidade que as bailarinas estavam demonstrando ter.Uma necessidade de retornar às raízes, a uma dança mais ligada a terra,ao contato com as natureza, à ancestralidade, à feminilidade e ritualismo.Tudo isso pode ser encontradas em danças provenientes de tribos,muitas vezes nômades ou ciganas.Talvez, quem tenha se colocado a frente na época e unido várias ideias fora Jamila Salimpour. Ela começou a levar suas alunas à festival medieval  Renaissance Faire, a qual  é propícia a toda essa fantasia interior na dança. Lá, ainda era uma tentativa de representação de cada cultura. Masha Archer começou a dar força e expressão nos passos, vetimentas e intenções naquilo que sua professora Jamila começou. Logo mais, Carolena Nericcio seria a responsável por dar continuidade ao legado das duas mestras e formatar todo o conhecimento até aqui acumulado em uma dança singular.


Masha Archer
Acredito que o ATS® não foi intencional, mas sim uma necessidade daquelas bailarinas em expressar algo intrínseco aos seus anseios,sonhos, gostos,etc , que foi criando forma e cor, até começar a ter vontade própria. Carolena veio de uma época em que o estilo alternativo crescia bastante nos EUA, mas ainda era muito marginalizado, principalmente na dança do ventre. Assim, mulheres com características em comuns foram se reunindo, de forma informal, como uma comunidade, para aprender a dançar. Carolena começou a ensinar aquilo que aprendeu de Masha Archer, porém, em suas aulas fora muito indagada sobre a origem daquilo tudo.Daí nasceu a necessidade de pesquisar e estudar mais afundo, sobre toda uma cultura passada e suas influências naquela dança que começava a se delinear. Assim, uma completava a outra,como em uma tribo. Cada aluna trazia um tempero, uma especiaria para colocar naquele caldeirão borbulhante de idéias. Cada uma trazia acessórios ou vestimentas que viam e gostavam e acrescentavam à dança, como em uma irmandade. Por tentativas,erros e acertos, o figurino foi se modificando até chegar ao “uniforme”  mais aceito pelos membros, tanto por sua beleza, quanto funcionalidade na execução dos passos e movimentos.Talvez daí começou a surgir o “espírito de tribo” da dança tribal. Assim também foram nascendo os passos , e todo uma necessidade de diálogo e comunicação improvisada para os palcos e, para tal, era preciso formações de palco que pudessem permitir essa comunicação visual.


O ATS® não pode ser considerado uma dança folclórica ou étnica, apesar da grande similaridade ou confusão com tais termos,já que ela é uma releitura das mesmas, uma fusão de influências. O ATS® desconstruiu danças para construir uma dança forte em seus passos, vestimentas,músicas,etc; contudo, era uma forma americanizada de interpretar aquelas danças tribais, não sendo original, no sentido de não ser verdadeiramente étnico, e sim criado, ou reformulado para uma época atual, com toda uma filosofia adaptada às necessidades do mundo urbanizado.


Agora vamos a um ponto em que eu queria chegar. E talvez seja a forma ou exemplo mais simples para entender essa história toda que eu consegui enxergar.E daí vou ter que usar exemplos do meu curso de veterinária, que pode ser meio tosco, mas acho que todos vão entender minha intenção.

Então,vamos as analogias...

Imaginemos todas as danças do mundo como as raças de cães. Pastor Alemão, Poodle, Collie, Dálmata,Braco Alemão, Bulldogue Inglês,Akita Inu,etc. Cada raça dessas tem um padrão oficial, onde está descrito, a cada uma, os aprumos, porte, peso,altura,pelagens,inserção  e tipos de caudas,orelhas,etc, peculiares a cada raça. O conjunto de todas essas características é que determinam uma raça específica como tal. Assim é na dança. Cada dança tem suas regras. Tem seus passos e figurino característicos que a  fazem ser identificadas como aquela dança em questão.

Ok,mas  e o  ATS®? Seria  uma espécie de “vira-lata”? Uma fusão de várias danças mescladas à dança do ventre? Acho que não.

O tribal é bem identificado,principalmente em sua postura altiva,braços posicionados  na altura dos ombros,força de expressão e repertório de passos característicos(mesmo sendo provenientes de outras danças ou modificados das mesmas).


Porém, assim como nas raças caninas, vários cães, com características em comum formam um grupo, assim podemos notar na dança. Por exemplo, raças de cães como, Cocker Spaniel Inglês, Cocker  Spaniel Americano, Clumber Spaniel, Springer Spaniel Inglês,etc, tem várias semelhanças! Devido a tais semelhanças eles compõem o grupo 8:  de Retrivers,  Levantadores e Cães D’água, seção 2: Levantadores,tipo Spaniel. Outros cães parecidos com estes cães são os do grupo 7,”Cães Apontadores”, como o Setter Irlandês, Setter Inglês, Setter  Gordon, Spaniel Francês,etc. Todos os dois grupos são sub-seções da categoria “ Cães de Caça” (função para qual a raça fora desenvolvida).Uns mais próximos outros talvez um pouco diferentes na sua morfologia e/ou função. Na dança do  ventre acho que não é diferente. A dança do ventre não é só a que vemos no palco,como o estilo egípcio,libanês,argentino,americano,etc.Ou  modalidades como tradicional, clássica e moderna. Mas e todas as danças que compõem o folclore árabe...também não são semelhantes às do  palco,em algum quesito, em alguma origem, em algum elo perdido? Estas também não são danças “do ventre”? Acho que podemos classificar tudo isso e o tribal,inclusive, como o grupo de danças “do ventre”, assim como no caso dos cães.

Urban Gypsy  - Tribal Style Dance Troupe

Dentro desses grupos de cães, há aquelas raças que são recentes, criadas há pouco tempo, pela mistura de outras raças existentes, porém, elas tomaram características diferentes e portanto, não podendo ser considerada nem uma raça nem outra(s) que foram utilizadas para a sua formação. Assim, necessita-se de tratá-la como uma nova raça, a qual também deve ser respeitada os padrões elaborados por seus criadores. Exemplo disso são o Boxer, Dogo Argentino, Fila Brasileiro,etc. O Dogo Argentino, por exemplo, contou com algumas outras raças para sua formação, como Boxer, Bulldoge Inglês, Dogue Alemão, Bull Terrier, Mastin dos Pirineus,etc


 O ATS® não seria algo assim? Na minha opinião, sim. Digo isso,pois, da mesma forma que aconteceram com estas raças, o ATS® veio da fusão de outras danças, que compuseram sua base, como a flamenca, indiana e a dança do ventre. Mas não podemos nos esquecer que até essas danças sofreram, em algum lugar da história, a fusão com outras danças e culturas, até mesmo nossa querida dança do ventre, a qual sofreu muita influência do ballet clássico, da ghawazees(ciganas egípcias que, antes de se misturarem à cultura do Egito, vieram,provavelmente,da Índia),etc; flamenco teve sua base de danças ciganas, com todos aqueles floreios, giros,etc.Além disso, a dança contemporânea que, apesar de muita semelhança ao ballet clássico, recebeu uma nomenclatura diferenciada, pois houve necessidade de se criar uma. Não muito diferente, tudo isso aconteceu com o ATS®,pois o mundo gira e está em constante transformação.

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