Ariellah - criadora do dark fusion |
Estamos acostumados com regras, nomenclaturas e fórmulas para as coisas.Talvez tudo isso seja um reflexo do mundo em que vivemos, onde tudo já vem da forma mais simples possível para facilitar a nossa vida. Mas nem sempre as coisas são assim, principalmente no tribal fusion, que é tão diversificado.
Hoje quero apontar o dark fusion, termo criado por Ariellah para designar seu estilo. Um estilo muito voltado ao gótico,mas não somente este. O dark fusion abrange vários estilos undergrounds, envolvendo uma maior carga expressiva, com uma dança mais teatral e uma óptica obscura. E talvez esteja ai o grande diferencial entre dark fusion e gothic fusion:saber transformar algo normal, que não é gótico, em algo obscuro; saber distorcer para uma visão mais sombria; saber transformar o sublime em uma estética mais alternativa e bizarra,não deixando de ser belo;o dark fusion é uma poesia em forma de dança ,porém, apenas para olhos que os vêem.
Zoe Jakes - bailarina de tribal fusion |
E fora do dark fusion? Não podemos enxergar características “darks”? O tribal fusion com certeza já possui uma característica bem underground e, talvez, "agressiva", com relação ao que estamos acostumados na dança. É algo que choca conceitos por seu visual forte com tantos elementos da cena alternativa, como dreads,piercings ,tatuagens e cabelos coloridos, e uma dança muitas vezes densa, sinuosa e hipnotizante. Talvez por isso muitos leigos considerem a dança gótica. Mas será que eles estão tão errados assim? A dança realmente não pode ser lida como sendo mais obscura? Acho que sim.A expressão é mais forte,impactante,misteriosa e dramática, com maquiagem pesada e olhar mais fechado; com movimentos lentos, mas também muito ágeis , flexíveis e técnicos; possui um visual mais alternativo e livre do que a dança do ventre atual.E por isso nasceu a necessidade de expansão dessas características natas do tribal fusion. O dark fusion apenas manchou totalmente de preto a dança tribal; onde havia apenas uma pitada de alternativo foi totalmente "corrompido" pela escuridão de Ariellah e adeptas. Bailarinas de tribal fusion que não são do estilo gótico também são bem góticas mesmo não querendo ser e mesmo não sendo. Mas se você olhar com olhos interpretando para a "cena dark",você consegue visualizar. Quantas bailarinas de dark fusion não se inspiram na dança, ou na expresão, ou até mesmo em elementos de figurino de Zoe Jakes, por exemplo?
Apsara - grupo de Tribal Nouveau e Ritualístico |
E no dark fusion tem que ser sempre no preto? Sempre “carão”? Sempre correntes, caveiras e rebites? Acho que não. Nossas bailarinas vêm mostrando que o branco/creme também é uma cor que pode ser utilizado pelas bailarinas do estilo; além de purpurina e muito brilho, basta você saber interpretar. Sorrisos e outras expressões também são muito bem vindas, e estilos se misturam com o gótico no dark fusion, como o vintage,burlesco, cabaret,art nouveau,etc. Você apenas tem que ter olhos para esse tipo de expressão.
Além disso, somos livres para nos expressarmos. Não precisamos ser 365 dias trevudas from hell! O tribal é livre para você se expressar da forma que quiser e como quiser! Então, se você gosta de ATS , vintage, balkan,afro-brasileiro...DANCE! Não se ligue a parâmetros, ou o que a cena vai pensar! Você não vai deixar de ser o que é e gostar do que gosta se você dançar outras coisas que você também se identifica. Estamos no tribal apenas para nos expressarmos da forma que nos sentimos mais a vontade naquele momento; expressarmos o que nossos corações clamam. Porém, há bailarinas que são apenas inseridas na cena do gothic bellydance, e isso também não tem problema algum! Ela nãoé poser por ser 24h “dark”, pois ser gótico vai além de um momento e também além do visual, e sim pelos conceitos por detrás da estética;pela filosofia; pelos gostos e estilo de lidar com a vida.
Tempest - bailarina de gothic fusion bellydance, com um visual bem mais "tribal" |
Não existe fórmula,não existe “kit dark fusion” para comprar pronto. Existe sim, ter uma boa base de tribal fusion,independente do estilo(Dark, ATS, Gypsy, Fusão Brasil,Balkan,etc). Você dançará dark fusion a partir da sua essência, do seu estilo, dos seus gostos e da sua capacidade em transformar trevas em luz ou luz em trevas em Arte.
Kilma Farias - bailarina de Tribal Brasil, mas que também faz fusões deste com o dark fusion |
Abaixo alguns vídeos para ilustrar o post acima:
Ariellah:
Dark fusion em figurino branco e delicado, com muitas rendas, porém as botas pretas e com salto alto e fino, com a expressão forte e "agressiva" de Ariellah ajudam a contrapor o conceito de sublime, delicado,submisso e belo.
Apsara:
Grupo Apsara, dirigido por NagaSita. Apesar de estarem de branco elas adaptam bem à sua dança ritualística a uma imagem mais sombria e misteriosa, aliados a imagem da mulher em comunidade.
Sashi:
Sashi é um dos ícones de bailarinas dentro do gothic fusion. Aqui ela não está dançando o estilo,mas uma dança tribal bem mais ligada ao ATS, com direito a música ao vivo! E só por estar dançando algo diferente do comum, ela não vai deixar de ser da cena gótica. Somos livres para nos expressarmos da forma que quisermos, a hora que quisermos e como quisermos, pois sentimos a vontade para isso naquele momento.
Kilma Farias:
Aqui temos o contrário do exemplo acima: Kilma Farias, grande ícone do estilo Tribal Brasil, dançando dark fusion! Tão leve,solta, mas marcante e expressiva, com toque de suas fusões afro-brasileiras na dança obscura. E não pode? Claro que sim! Basta você ter o olhar transformador,lembra?
Mardi Love:
Mardi Love não é uma bailarina gótica, porém, nesta apresentação a música é tão parada e misteriosa, que cria uma sensação de assombro,como se estivesse vendo um fantasma dançando ao som da neblina densa e do vento sussurrante ,como um lamento e atormentação. O figurino claro , a expressão compenetrada, aliados com movimentos sinuosos,lentos e minuciosos e a própria música, cria toda essa atmosferização.
Zoe Jakes:
Zoe é uma das bailarinas mais famosas de tribal fusion, mas sua dança inspira muitos adeptos do dark fusion. Neste vídeo a música ajuda a bailarina a criar uma expressão forte e marcante, tanto nos passos quanto no olhar. Seus movimentos são também sinuosos e inesperados. Zoe lembra uma cobra dançando que a qualquer momento pode dar o bote em sua presa hipnotizada; ou uma vampira que está "seduzindo" para fincar seus dentes em sua presa. O visual é bem pesado para um simples tribal fusion, com penas pretas, lembrando de corvo, ao redor do pescoço, sutiã vinho com vários rebites e correntes, e calça com listras em preto e cinza.
Esta música do Beats Antique dá várias idéias para a cena dark, pois ela tem um toque delicado, como uma caixinha de música,mas tem uma força densa por trás.A música também começa a dar uma acelerada, dando uma sensação de desespero, ansiedade,etc. A dança em si é menos sinuosa que acima, porém o figurino de Zoe é bem adequado ao dark fusion, com esse tecido vinho,correntes do sutiã de pedraria preta, além de algumas rendas pretas.
Rachel Brice:
Aqui Rachel Brice está em uma apresentação bem mais performática que o costume. Representando a Morte com uma foice. Uma maquiagem de caveira, suas belas flores vermelhas corrompidas pela escuridão, assim como seu figurino.Uma figura que lembra também as Catrinas do Dia dos Mortos, do México. Tudo a ver com o tribal, tudo a ver com a dança sinuosa e expressão mais fechada da Rachel, como a do flamenco; e tudo a ver como uma adaptação para o dark fusion.