[Venenum Saltationes] Binamorph

 por Hölle Carogne 

Fotografia: Dani Berwanger

93!

"Tejida mariposa, vestidura

colgada de los árboles,

ahogada en cielo, derivada

entre rachas y lluvias, sola, sola, compacta,

con ropa y cabellera hecha jirones

y centros corroídos por el aire." 

(Pablo Neruda)

Fotografia: Dani Berwanger

Buenas, queridos leitores da Venenum... 
Hoje compartilho com vocês um pouco sobre a história da BINAMORPH.

Binamorph, além de outras coisas, é um projeto artístico que envolve três tipos de Dark Art: pintura (Yuri Seima), fotografia (Dani Berwanger) e performance (Hölle Carogne). Entretanto, é importante dizer que em quase três anos de projeto, tivemos diversos “padrinhos”, digamos assim... Artistas que acabaram, também, contribuindo para o fazer da obra como um todo. Dentre eles: Martha Buzin, Alessandro Roos, Júnior Larethian e Carolina Disegna. 


Fotografia: Martha Buzin

Bom, vamos lá. Primeiramente, gostaria de dizer que não sou o tipo de pessoa que acha que a arte deve ser explicada. Bem pelo contrário. Creio que a arte (desde o momento que nasce) deixa de ser a concretização da ideia do artista. Ela pode até ser criada por um objetivo, mas existe por si só, depois de finalizada. Ela transcende a ideia e o artista. Ela ganha vida própria e se conecta com cada espectador de forma diferente. Da forma necessária. Em contrapartida, eu gosto de escrever. Sou uma contadora de histórias. Escrevo a minha vida no papel e no palco, com letra de niño (como disse a Saba) e com a carne do corpo. Desta forma, me afirmo cheia de contradições. Cada dia mais. Por isso, compartilho aqui a história desse projeto e conto um pouco do processo de criação em relação à minha parte. Os detalhes que envolvem a parte magicka ficarão em off, assim como os significados mais pessoais. Assim estarei respeitando a identidade das obras e cada um seguirá encontrando a sua própria interpretação e se conectando com o que for preciso.
 

 

Fotografia: Carolina Disegna | Em ordem de aparição: Hölle Carogne, Dani Berwanger e Yuri Seima

Então...

Em meados de dezembro de 2016, o artista curitibano Yuri Seima convidou-me para fazer parte de um projeto. A ideia era que eu fizesse algumas fotos que ele usaria como ponto de partida para as pinturas. Eu aceitei, com muito prazer. Mas confesso que não havia muita empolgação ou excitação, porque eu estava bem cansada e envolvida com um milhão de outros projetos. A inspiração não vinha, não vinha... Só o cansaço, a rotina, a inadequação e uns pequenos detalhes líquidos da vida no submundo...

Conversamos sobre isso e combinamos que quando fosse a hora, isso se realizaria. 

Ainda em dezembro aconteceu uma situação interessante, que mais tarde se encaixaria na história. Vou contá-la aqui para respeitar a ordem cronológica. 

...Um dia eu entrei em uma loja, quase instintivamente. Eu quase nunca entro em lojas, principalmente nessas de departamento. Mas entrei. Caminhei dois metros e vi um vestido branco, meio rendado, caríssimo. Pensei: "Nossa, ficaria lindo em uma performance!" Dei as costas e saí da loja. 

Passaram-se alguns meses e em março ou abril de 2017 eu tive um sonho: Sonhei que tinha sido convidada para dançar e pensava na música: "Eu vou dançar a Zutzig do Wim Mertens.” Eu ouvia a música no sonho. Aí eu pensava: "Ficaria lindo usar aquele vestido que vi uma vez." E, no sonho, eu ia até a loja e não achava o vestido. Ficava meio perdida, desesperada e o sonho acabava.

Ao mesmo tempo, durante dias seguidos, eu pensava muito na Binamorph (obra do Yuri que já existia e que eu me identifiquei bastante). Lembro que fiz uma confusão com outra palavra que envolvia "moth" e fiquei pensando muito no conceito das mariposas e o que elas carregam consigo e isso se encaixava perfeitamente no momento atual da minha vida. Alguns dias depois, recebi um convite do Espaço Cultural Crisálidas, para dançar no Sarau que ele estava promovendo. (Sim! "Crisálidas!"). Na hora pensei na coreografia do sonho.

Entrei em contato com o Yuri, perguntando o que era a Binamorph. Queria tentar entender a confusão que eu estava fazendo na minha cabeça. Ele me explicou algumas coisas sobre esta força e sim, chegamos a conclusão que, de alguma forma, havia relação com a ideia das mariposas. Então, ele me autorizou a levar esse "conceito" para o palco e damos início ao projeto que recebeu o mesmo nome da “entidade” Binamorph.

  

Binamorph I ~ Arte de Yuri Seima 

A minha ideia, para a performance, era trabalhar o conceito da simbologia das mariposas, porém, com a força da Binamorph (vamos pensar em um arquétipo) direcionando tudo. Não era a Diedri, nem a Hölle. Através do meu corpo, Binamorph se manifestou e pude sentí-la, viva, em mim. Mariposas são seres noturnos, que como as borboletas, passam pela metamorfose. Simbolizam a morte, porém, a morte transformadora! A ideia da morte como transmutação da lagarta para o ser alado. Elas são atraídas pela luz (fototaxia), mas ao se aproximarem dela, morrem. A luz simboliza várias coisas, dentre elas o amor ou o divino. Eu queria trabalhar tudo isso... Eu queria gritar! 

Decidi que passaria na tal loja, a procura do tal vestido. Encontrei. Peça única, do meu tamanho, baratíssima. Coincidência ou não, era a roupa da mariposa!


O tule que envolve a cabeça da Binamorph simboliza o casulo.


O pano que sai da boca simboliza as asas da mariposa. A luz do candelabro simboliza o que a atrai. O pano preto que cobre seu corpo simboliza a morte.
 

Havia a luz. Havia a atração. Havia a luta contra essa atração. Havia a morte! 

Nada foi coreografado. Como na maioria das vezes, criei o conceito, alguns detalhes de enredo, a simbologia e a forma que ela se apresentaria para as pessoas, mas a movimentação foi instintiva e fluiu na hora. 

Aqui você confere as primeiras aparições da Binamorph, no espaço Crisálidas, no palco do Dark Cabaret e dentro de um casulo, no teatro Renascença:

 

  

Vocês podem perceber que são cenas muito diferentes, em tempo, edição de música, espaço. Entretanto todas vividas com carne e sangue. E todas infinitamente potentes no quesito possessão. 

Bom, voltemos ao projeto...

Eu convidei a Daniela Berwanger para fazer as fotos. Tanto as do palco, quanto as que viriam depois.

Além das apresentações, fizemos dois ensaios fotográficos, com o intuito de ter material para o Yuri poder trabalhar. 

Dani foi a pessoa que a Binamorph escolheu. Não foi escolha minha. Eu confesso que pensei que seria difícil, porque não nos conhecíamos tão bem no início do projeto. Entretanto, foi a conexão mais interessante que já tive em termos de fotografia. Em alguns momentos foi nítida a presença dela (Da Binamorph). Graças à Binamorph, eu ganhei uma amiga e parceira para o resto da vida (me arrepio). 

Basicamente, eu (inspirada pela obra original do Yuri), performava. A Dani fotografava a performance (no palco ou no formato ensaio fotográfico). E, finalmente, o Yuri pintava novas forças binamorphicas, através do resultado corpóreo manifestado.

Inspirei-me na arte do Yuri. E fusionando-a com alguns sentimentos que insistiam em me sufocar, trouxe a Binamorph para a carne do corpo, e ela, de certa forma, ganhou vida entre nós, humanos.

Coisa de louco, né?

Este é o primeiro resultado da alquimia entre artistas:

 

 Binamorph II
Fotografia: Dani Berwanger | Pintura: Yuri Seima

A serpente, a forma como a textura do corpo nada tem de humano, o vácuo ao qual ela pertence, o corpo se esvaindo, como se fumaça ou líquido indo de encontro à algo, cada detalhe, cada sensação ao olhar essa pintura me faz estremecer... É tudo tão real.

E seguiu-se a alquimia... 


Binamorph III
Fotografia: Dani Berwanger | Pintura: Yuri Seima

 


Binamorph IV
Fotografia: Dani Berwanger | Pintura: Yuri Seima

Quando vi essa arte, tive uma sensação tão peculiar... Não era boa. Não era ruim. Era real. Tudo que essa obra expressa eu sinto na pele, nos nervos, nas articulações, nos tendões. Dá vontade de rasgar a carne à unha, para libertar esta prisioneira. Eu sou casulo, sou vácuo, sou raiz, sou galhos, sou mariposas e borboletas tanto quanto sou lagarta. Sou o vento que existe entre cada asinha que bate. Sendo vida, sou morte. Sendo morte, sou vida. Sou BINAMORPH!

Binamorph V
Pintura: Yuri Seima

 

Binamorph VI
Fotografia: Dani Berwanger | Pintura: Yuri Seima

Em 05/11/2017, Yuri escreveu: “De longe é o projeto mais intenso em que eu já trabalhei até hoje. A minha autocrítica sempre foi muito severa desde a infância, quando eu rasgava meus desenhos por não atingir os resultados que eu esperava, mas do final do ano passado pra cá tenho me entregado para esse processo da Binamorph, literalmente de corpo e alma, onde tenho exercitado minha paciência, disciplina, amor/vontade e pela primeira vez estou satisfeito com os resultados, sentindo que estou no caminho certo e tocando coisas reais! Não tenho palavras para descrever a maior parte do que nós artistas envolvidos estamos vivenciando, pois o ponto principal do trabalho é espiritual e muito íntimo. Obrigado, Hölle e Dani, tenho aprendido muito sobre a minha própria arte através de vocês.” 


Binamorph VII
Pintura: Yuri Seima

 


Binamorph VIII
Pintura: Yuri Seima

 

O final da primeira performance era uma cena onde cubro meu corpo com um pano preto. Eu findo.

 

Fotografia: Dani Berwanger
 

E eu senti como se estivesse embaixo daquele pano. Eu senti como se a minha existência não pertencesse à alguma superfície. Eu estava à margem. Eu estava encaixotada. Afogada. Enterrada. Aninhada em alguma raiz de árvore.

Eu estava embaixo daquele pano. E Binamorph rondava. Ela queria ensinar algo.

Foi quando eu senti inspiração para criar a segunda performance: Binamorph ~ Morituri. O que havia embaixo do pano? Como enxergar na escuridão? O que tem depois da morte?

Eu não sonhei com a performance em si, desta vez. Mas lembro de ter sonhado que eu morria; um amigo tentava me ajudar, mas não era possível, eu estava morrendo mesmo e eu ficava sussurrando repetidamente: "...Atravessou a fechadura com o que pôde... Atravessou a fechadura com o que pôde... Atravessou a fechadura com o que pôde..."  Essa era uma frase do Glaucus Noia, de um texto sobre uma mariposa, que de tanto eu ter lido, deve ter ficado alojada na minha cabeça.

A questão é que esse sonho aconteceu muito tempo antes da inspiração e só depois eu fiz a conexão, pois eu estava habitando a Morte, vestida com chaves e fechaduras.

A magia é diáfana... (me arrepio).

Eu sabia exatamente o que fazer para atravessar a porta...

Foi no palco do Dark Cabaret que Binamorph ~ Morituri se manifestou:

Aqui você confere o vídeo:

E aqui a pintura do Yuri que, desta vez, utilizou-se de um registro da Carolina Disegna (dona do local onde ocorreu a performance): 

Binamorph IX
Fotografia: Carolina Disegna | Pintura: Yuri Seima

 

Em 01/07/2019, Yuri escreveu: “Binamorph IX - Nona e última pintura que completa o conjunto de obras que vai para o evento, em Porto Alegre. Foi a obra que mais demorei e tive trabalho para fazer. Durante o processo tirei uma carta de Tarot, para entender a essência da obra, que para mim ainda não era nada claro... Saiu o 9 de copas (tarot de Thoth) que, coincidência ou não, a carta nove fez relação com a pintura número nove, e para quem conhece o baralho também sabe que a carta tem as mesmas cores que essa pintura (que não foram de minha escolha, reproduzi as cores da foto de referência, registro da performance da Hölle Carogne). Relacionando as obras com as Sephiroth da Kabbalah, essa representa Yesod (lua), que mais uma vez, coincidentemente ou não, tem as cores correspondentes da obra. O eclipse representa a lua de Yesod sendo iluminada pela beleza de Typheret, as duas sephiroth alinhadas ao meio da árvore da vida. A exposição das obras juntamente com a última performance e registros irão representar Malkulth que é a manifestação física de todo o processo e quando o ciclo se encerra. XIII, 93,93/93!”

Fotografia: Martha Buzin

É estranho, mas parece que ela nos direcionou a criar tudo isso, exatamente da forma que foi criado.

 O tempo passou e estávamos esquecidos dela, quando ela, novamente, apareceu nos meus sonhos, contando o que eu deveria fazer. Eu sabia tudo sobre como seria o figurino, qual a música que eu deveria escolher. Ela pintou cada detalhe sobre uma terceira e última performance: Binamorph ~ Magenta. Lembro que no sonho eu refletia: “Mas é óbvio! Como posso ter trabalhado albedo e nigredo e não trabalhar rubedo?” Hahahahaha. A magia é diáfana!

 

Fotografia: Martha Buzin
 

"Quando já não havia outra tinta no mundo

o poeta usou do seu próprio sangue.

Não dispondo de papel, ele escreveu no próprio corpo.

Assim, nasceu a voz, o rio em si mesmo ancorado.

Como o sangue: sem voz nem nascente." 

(Mia Couto)


Bom, lá estávamos nós, organizando uma exposição para ela. Evento esse que seria também uma despedida. Estávamos todos muito ansiosos e felizes por contemplar um grande desfecho para este projeto que tanto nos nutriu e fortaleceu.

Na exposição, tivemos fotografias da Dani e todas as 9 pinturas do Yuri ao acesso do público e eu... Bom, eu pude uma última vez, encarnar esta, que ainda me acompanha e para quem direciono todas as minhas preces. 


Mais uma vez, ao buscar a luz, morri:


Mais uma vez, ao morrer, encontrei a luz que tanto procurava:


E, finalmente, comecei a entender o que era iluminação:


Aqui você confere o vídeo completo com todos os momentos da exposição, pelos olhos do Júnior Larethian:

 

 

Algumas curiosidades: 

  1. Uns dias depois da expo, fomos, Yuri e eu, em um evento xamânico, e além de comemorarmos o aniversário dele, nós queimamos as máscaras usadas nas performances. Foi triste e belo.

  2. Binamorph também inspirou Yuri a compor músicas, juntamente com sua banda Hokmoth (olha a mariposa aí, minha gente). A banda é formada por Tati Klingel (vocal), Yuri Seima (guitarra), Mario Kmiecik (bateria) e Lucas Rafalski (baixo).

 

Aqui você confere a música “Binamorph Part I ~ Albedo”

 

E aqui a “Binamorph Part II ~ Eros and Violence”

Arte do EP Neophytvs, por Yuri Seima

 

 

BINAMORPH pt-II - Eros and Violence

 In fear

my guts, flesh.. feelings

devoure me as you spread these wings

 

pure.. naked.. worm.. immaculate

touch me.. teach me.. kill me!

 

angel! i know that your bless is destruction

force me to die ... let me breathe!

 

who am i?!.. what am i?!.. as a storm

i see you, mother.. give me back!

illusions, restrictions, redemption..

Binamorph.. my transformation!

 

Fotografia: Martha Buzin


Bom, chegamos ao fim desta história...

Binamorph ensinou. Mas sua mão é pesada. Mão de mãe. Seus ensinamentos são dolorosos. Ela veio para devastar. Varrer tudo... Carne, músculos, vísceras, sentimentos, água. Vai roer até os ossos e então, algo novo surgirá.

Sua lição é como a de Saturno... Lição de maléficos, cuja artimanha está em segurar o grande espelho da vida. Eu não sei exatamente o que é a Binamorph, ou o que ela quer. Mas eu a sinto. Eu a vejo. Ela está em mim. Eu espero poder ressurgir do fundo do mundo, me reerguer de debaixo do pano. Eu estou no processo da larva, agora. E eu espero renascer, amanhã. Transformada. Transmutada em vida, em movimento, em vôos e bater de asas. Eu espero voar viva, eufórica. E se houver uma luz, morrer de novo. Transformar-me sempre. Trocar de pele quantas vezes forem necessárias. Estar viva, para poder morrer. Estar morta, para poder viver.

 Escrevendo isso, lembrei da Cecília, quando diz:

"Renova-te.

Renasce em ti mesmo.

Multiplica os teus olhos para verem mais.

Multiplica-se os teus braços para semeares tudo.

Destrói os olhos que tiverem visto. Cria outros, para as visões novas.

Destrói os braços que tiverem semeado para se esquecerem de colher.

Sê sempre o mesmo. Sempre outro. Mas sempre alto. Sempre longe. E dentro de tudo."

 

Obrigada, Yuri! Obrigada, Dani!

Obrigada à todos que, direta ou indiretamente, fizeram parte deste processo!

Parte inferior do forPor fim, obrigada Binamorph, quem quer que você seja, por me mostrar uma face de mim mesma que talvez não conhecesse: mais forte, mais corajosa, mais compreensiva com a vida cíclica e um pouco mais apaixonada pela morte! 

Obrigada a todos que leram até aqui!

Até a próxima!

93,93/93

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Venenum Saltationes

Hölle Carogne (Porto Alegre-RS) é  a alma por detrás do humano, do rígido. É curiosa, entusiasta e selvagem. Uma admiradora da arte, da dança, da literatura e da música.O "esquisito" a seduz. Seus poemas e seus movimentos estão impregnados de ideologias, de crenças. Compassos pouco convencionais, cheios de misticismo, de oposição, de agressividade.Ocultismo, caos e luxúria sendo mesclados às suas criações e retratados de forma crua, orgânica, uterina.

[Corpo & Dança] Eu respeito o meu corpo dançante?

 por Jossani Fernandes

Após uma breve introdução a respeito da consciência corporal, agora eu lhes pergunto, você realmente conhece o seu corpo? Conhece seus limites? Tem respeitado os avisos que seu corpo tem lhe dado? O que tem feito por você ultimamente?

Uma pessoa muito querida e talentosa uma vez me questionou se o fato de sermos bailarinos nos condenará o resto da vida a sentir dores. Essa pergunta me fez pensar e questionar minha abordagem profissional como profissional de educação física e massoterapeuta, por isso busquei estudar mais ainda para entender o motivo de tanta dor.

 

Afinal, o que é dor?

 

É uma resposta que alerta para a ocorrência de alterações na integridade ou na funcionalidade do organismo, permitindo que mecanismos de defesa ou de fuga sejam acionados. Em 1986, a International Association for Study of Pain (IASP) propôs a seguinte definição para dor: “É uma experiência sensorial e emocional desagradável que associamos com lesão tecidual ou descrevemos em termos de tal lesão”.

 

A partir disso, assim como os profissionais do esporte, bailarinos (não me refiro apenas à modalidade ballet clássico), seja profissional ou não, apresentam dores e limiar de tolerância à dor elevados e é comum encontrarmos bailarinos com diversas lesões decorrentes do esforço excessivo.


Vários são os fatores que estão relacionados com o aparecimento e a frequência das lesões na dança ou atividade física própria da dança. Porém, a fadiga muscular provocada pelo excesso de atividade, em especial na época em que se aproximavam os espetáculos, as competições, somadas às aulas aos ensaios e toda uma vida que temos fora deste ambiente, visto que muitos não vivem disso, pode ser um dos principais fatores desencadeantes e, muitas vezes, o que torna a lesão ainda mais incapacitante do ponto de vista funcional.





As dores possuem classificações:

Além disso existe uma relação direta entre hormônios e a dor. O tão falado cortisol que em grandes quantidades causa malefícios no nosso interior e exterior, pode aumentar quando estamos em situações de estresse, seja emocional, seja físico (excesso de treinos, exercício físico) e privação de sono, mas poucos sabem que a dor crônica também está relacionada a disfunção na produção desse hormônio, podendo até mesmo estar associado a problemas como diabetes, obesidade, hipertensão e por ai vai...

Nós mulheres temos o limiar aumentado para dor (afinal gerar uma vida não é tão romântico assim como nos filmes néh rsrs) e quem pratica exercício físico, vulgo nós da dança, também possuem essa característica. Embora possamos nos orgulhar disso, precisamos ter cuidado, pois muitas vezes seguimos dançando, competindo e exercitando com aquela “dorzinha” ou até mesmo com uma lesão que julgamos ser “boba”.

Estou aqui para desmistificar algo que acreditamos fazer parte de nós, A DOR.

- Não, nós não precisamos viver em função das dores.

- Não, não é normal sentir Dor 24h por dia.

- Dançar não é ter o joelho, a coluna e o ombro “bichado”.

- Dor é sinônimo de alerta, é preciso investigar!

- Dor nem sempre é sinônimo de lesão, as vezes o que estão errado é mais profundo...

 

Por fim, deixarei aqui algumas dicas para vocês dançarem por bem e por mais tempo e fiquem ligados nas proximas colunas, pois abordarei o que poderemos fazer para melhorar nossa dança!


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1º) Conheça o seu corpo!

Cada pessoa possui um corpo diferente, nossa estrutura óssea pode mudar e, por isso, o movimento que seu colega faz pode encaixar no seu corpo de outra maneira e tudo bem ser diferente, essa é a riqueza da nossa dança.

2º) Aqueça seu corpo

Nunca comece um treino, aula, apresentação ou espetáculo com o corpo frio, seus musculos e articulações precisam ser avisados sobre toda a carga que está por vir. Dê uns pulinho, faça uns polichinelos, use a criatividade mas se aqueça de 2 a 3 minutos pelo menos.

3º) Fortalecimento

Músculos fortes e bem cuidados evitam que ocorram compensações e principalmente lesões.

4º) Alongamento

Assim como precisamos fortalecer, precisamos alongar para equilibrar, executar movimentos completos reduzem a possibilidade de compensar.

5º) Descanso

As vezes menos é mais. Um treino curto pode ser mais produtivo que um treino longo e desgastante. Além disso, separe um tempo para um sono de qualidade, os hormonios mais importante que temos são produzidos durante o sono profundo e uma noite de sono é fundamental para a recuperação muscular.

6º) Nutrição e hidratação

O auto cuidado não é mesmo gente! Manter uma alimentação equilibrada, pode comer seu hamburguer, seu açai, mas façam boas escolhas também e bebam água! Pelo menos 2 litros por dia, nosso corpo precisa de combustivel para viver bem e sem dores.



Até breve... 

Atenciosamente,

Jossani Fernandes


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Corpo & Dança: Um olhar sob nosso Palácio Industrial

Jossani Fernandes (Belo Horizonte-MG) é professora e bailarina de danças orientais, profissional de educação física, atua na área como personal trainer e pesquisadora da área da flexibilidade, é apaixonada por anatomia e por tudo que diz respeito ao corpo humano e toda a sua complexidade.  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Organizando a Tribo] Ferramentas Criativas | Painel de Inspirações

 por Sarah Raquel

Você já ouviu falar de moodboard? É nada mais que um painel de inspirações que vai te ajudar a criar visualmente uma identidade para o seu projeto. Ele é composto por imagens, vídeos e até mesmo textos que trazem a essência de forma prática, com elementos visuais, a expectativa e sensações do projeto (sendo dançante ou não).

Sabemos que o processo criativo é individual e único, que pode vir a surgir de diversos caminhos psicológicos e o moodboard tem a proposta objetiva de alimentar sua atmosfera criativa. Quantas vezes nos encontramos frustrados por não conseguir expor e desenvolver algum projeto, o moodboard é uma grande ferramenta para te auxiliar nesse momento inicial, pré-maturo.

Moodboard vai facilitar a desenvolver um projeto de forma singular. Ele é composto por cores, sensações, elementos gráficos que vão desenvolver um valor ainda maior para o projeto com um conceito criativo palpável.

Como isso ajuda na dança?

Antes, é importante entender que a criatividade é como um músculo. Sabemos que um dia indo a academia não nos torna definidos, mas indo periodicamente com paciência, desenvolvera os músculos certos. A criatividade é da mesma forma.

Sendo formada em Designer Gráfico e trabalhando na área por em torno de dez anos, descobri que era possível aplicar meus modelos mentais dentro da dança, me vi criando com muita facilidade utilizando ferramentas criativas nos quais uso dentro da minha profissão.

Moodboard se tornou uma grande aliada para desenvolver sem perder o propósito do que será apresentado, seguindo uma narrativa.

Para tornar ainda mais prático, segue o passo a passo com um exemplo fictício:


1- Definição

Ao estudar sobre e definir que a minha dança, por exemplo, será sobre o tema “Natureza”, defino em palavras-chaves. Essas palavras serão fundamentais para criar a essência para o projeto. Não há limite para as palavras, podem ser escritas no papel, bloco de notas, onde for mais confortável.

Palavras-chaves: força, integridade, vibração e energia.

2- Referências

Esse é a parte mais divertida! É o momento de pesquisar na internet imagens, vídeos e qualquer elemento visual que esteja interligado com as palavras-chaves, assim você poderá desenvolver uma identidade de forma palpável, visível, para deixar o projeto ainda mais bem claro e definido.

Exemplos: Pinterest, Google, Instagram, Youtube, etc.



3- Montagem

A montagem do painel é livre, segue algumas sugestões de como podem ser feitas:

- Photoshop ou programas similares, a partir da união de todas as referências visuais (imagens que foram selecionadas a partir da pesquisa);

- Imprimir todas as imagens e juntá-las em uma cartolina, caderno, painel ou colá-las na parede de sua casa, estúdio, etc.

- Nas redes sociais em uma pasta no Pinterest, Facebook ou deixar as imagens salvas dentro de algum álbum no seu celular ou computador.


 

Ao finalizar o moodboard e visualizando o painel de inspirações como um todo, dentro do seu processo de pesquisa e criação, será possível ter uma clareza maior do conceito e analisar alinhando com a narrativa. É nesse momento que você poderá criar uma identidade do que será necessário para dar o pontapé inicial ao projeto.

Espero que essa ferramenta seja de grande ajuda. Até a próxima!

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Organizando a Tribo
(Participação especial)

Sarah Raquel (Fortaleza-CE) iniciou os estudos em danças orientais com a dança do ventre em 2015 e logo se redescobriu na vertente dark fusion, para melhor se expressar dentro desse estilo buscou estudar tribal fusion e o dark fusion. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

Entrevista #48: Rossana Mirabal

 por Aerith

Nossa entrevistada do mês de outubro é a bailarina venezuelana Rossana Mirabal, que atualmente mora em Curitiba-PR. Rossana nos conta sobre sua trajetória na dança, sua formação no Sombras Tribal, sua vinda ao Brasil , mostrando sua dança com muito dinamismo, força e energia com uma pegada underground bem ousada para fusões da dança do ventre. Vamos conhecer? Boa leitura!


BLOG: Conte-nos sobre sua trajetória na dança do ventre/tribal. Como tudo começou para você? 

Começou quando eu deixei de procurar um estilo de dança que me apaixonasse. Eu sempre gostei de dançar, participei de cias infantis de dança quando era criança; e quando comecei a identificar os meus gostos musicais favoritos, o meu modo de ser e afinidades, começou uma briga entre a dança e essa identificação. Comecei a procurar um estilo que realmente tivesse a ver com a música que eu curtia, mas nenhum me convencia; sempre tive vontade de dançar, mas nada era suficientemente bom para eu me dedicar por completo. Durante vários anos parei de procurar e me dediquei completamente à faculdade e, quase chegando a minha formatura, conheci a SOMBRAS TRIBAL e a Akzara Martini. E acho que o tribal me encontrou.

Eu conheci o Tribal em um evento de dança em Caracas (Venezuela). Na verdade não era só de Tribal, o evento envolvia muitos estilos de dança e entre eles o tribal fusion. Conheci o tribal fusion antes que o ATS. Imediatamente fiquei apaixonada,  pesquisei e comecei fazer aulas com Akzara.

 

BLOG: Quais foram as professoras que mais marcaram no seu aprendizado e por quê? 

As professoras que mais marcaram no meu aprendizado foram várias, e não é difícil lembrar ou pensar quais são porque as levo sempre comigo.



A primeira é Akzara Martini, por ter me inspirado desde o meu primeiro encontro com o tribal fusion, por ter me ensinado mais que técnicas. Ela para mim representa a paixão, a disciplina, a constância e a coragem para pegar as metas com as duas mãos até conseguir os objetivos. 



Outra professora é a Andrea Felce (ou Ishtar Layali), quem sempre teve as palavras corretas no momento exato que me ajudaram a manter a força quando mais precisei.



Hoje me inspiram outros profissionais que realmente tem expandido meu repertorio, minha perspectiva na dança e tem me reforçado demais o significado de trabalho em equipe, Uma dupla de profissionais maravilhosos que super agradeço de ter na minha vida, o André Laaf e a Ray Farias.

 

BLOG: Além da dança tribal você já fez ou faz mais algum tipo de dança? Há quanto tempo?   

Sim, além do tribal fusion, pratiquei balletbellyfunk e um pouco de dança do ventre; hip hop que até hoje estou fazendo, jazz e dança contemporânea. Essa ultima comecei há dois anos e estou adorando. 


BLOG: Quais foram suas primeiras inspirações? Quais suas atuais inspirações?

As minhas primeiras inspirações e acredito que todo mundo teve alguma vez as mesmas, foram Rachel Brice e a April Rose. Elas, embora não estejam fazendo dark ou urban fusion, para mim são incríveis porque eu sou apaixonada pelo máximo controle corporal e acho que elas conseguem sempre superar as minhas expectativas. São incríveis e sempre vou admirar os formatos delas. 

 

BLOG: O que a dança acrescentou em sua vida?

vários anos atrás eu não teria uma resposta clara para essa pergunta, mas hoje acredito com toda firmeza  que a dança acrescentou o que eu realmente sou e quero ser. Ampliou o meu modo de ver a vida, o jeito de interagir com as pessoas e me ensinou a respeitar a personalidade de cada ser humano. A dança hoje para mim é tudo, um estilo de viver. E ultimamente tenho pensado muito sobre como ela é um reflexo da vida mesma, de como os processos e as experiências vão te transformando, te construindo e te modificando. 


 

BLOG: O quê você mais aprecia nesta arte?

Sem nenhuma dúvida estar rodeada de pessoas que amam, respeitam e acreditam nos mesmos princípios que eu. Pessoas que colocaram o seu valor espiritual por acima do valor material e se respeitam tais como eles são.

 

BLOG: Você já sofreu preconceitos na dança do ventre ou no tribal? Como foi isso?

Eu não poderia fazer uma denúncia sobre os preconceitos até agora, porque sempre que tenho chegado a qualquer espaço de dança as pessoas tem mantido uma conduta bastante simpática comigo. Talvez algumas miradas com desconhecimento, mas nada grave nem pessoal.

 

BLOG: Houve alguma indignação ou frustração durante seu percurso na dança?

Até agora, a minha única frustração foi quando tive que deixar Sombras Tribal, eu acho que não estava pronta para deixar uma escola que virou a minha família, foi difícil, mas acho que nunca teria estado pronta. Agradeço que ainda eles estão me acompanhando em cada passo que eu dou na dança e na vida.


BLOG: O quê prejudica a dança do ventre e como melhorar essa situação? Você acha que o tribal está livre disso?

É uma pergunta com muito compromisso. Primeiro gostaria deixar claro que eu não me dedico à Dança do Ventre ou Dança Árabe, mas tenho compartilhado muito com bailarinas desse mundo, e também tenho conhecido de perto situações que até hoje prejudicam de certa forma a cena da Dança Árabe.  Fazendo uma leve comparação com o tribal, vejo dois destaques que fazem diferente à comunidade da Dança do Ventre da comunidade do tribal. A primeira diferença é o tamanho da cena. Acho um ponto muito a favor da Dança do Ventre contar com uma comunidade tão grande, mas, a diferença com a pequena comunidade tribal é a união. Originalmente o Tribal foi pensado e criado como uma tribo e traz com ele um pacote de princípios e éticas que acho que valem muito mais que qualquer quantidade de membros: o respeito, o apoio, o intercâmbio e a conexão das bailarinas de tribal, que geram uma energia que mantém limpa e equilibrada a comunidade. O ambiente no tribal está longe da competição, dos preconceitos, do individualismo e do protagonismo. Então, acho que se for possível aplicar essa filosofia baseada na união de tribo na dança do ventre ( na verdade, em qualquer outro estilo de dança), qualquer diferença ou situação que possa existir pode mudar notavelmente. E enquanto o Tribal manter as bases bem focadas e fortalecidas na irmandade, nenhum estilo ou grêmio pode afetar a cena, é um trabalho de todos os membros da cena, da nossa grande tribo. 

 

BLOG: E conquistas? Fale um pouco sobre elas. 

Bom, para mim, poder fazer cada dia o que a gente ama, já  é uma conquista, mas poderia fazer alguns destaques e dizer que subir ao palco do lado da Akzara tem significado várias conquistas para mim. Também, ser membro da FB Dance Company aqui em Curitiba (companhia de dança urbana e contemporâneo), e claro que também  contar com a minha própria turma de tribal fusion no Estúdio Flor de Lótus onde dou aulas atualmente, ser membro de uma Cia de dark fusion e fusões com Aerith Asgard, é uma honra e um grande prazer e mais uma conquista, sem dúvida. 

 

BLOG: Como é o cenário da dança tribal na Venezuela? Pontos positivos, negativos, apoio das cidades, repercussão por parte do público bem como pela comunidade de dança do ventre/tribal? 

Na Venezuela, hoje a dança tribal é uma irmandade. Depois de anos de compartilhar palcos, escolas, aulas, conteúdos, workshops, hoje existe a COMUNIDADE TRIBAL DA VENEZUELA, que é uma organização que procura acrescentar a cena tribal, apoiando o artista e aos novos talentos. Antigamente a cena era bastante heterogênea, tinha vários núcleos e cada um trabalhava separado um do outro, mas com o tempo surgiram situações negativas que colocaram a cena em um ponto crítico que trouxe problemas para a  cena, tanto econômicos como profissionais e afetou diretamente as produções das companhias e os investimentos para as escolas. Com um pouco de sorte e muita organização a cena conseguiu se juntar para trabalhar pelo bem de todo mundo e agora está dando ótimos resultados para eles. Além da crise que atravessa hoje o nosso país, a cena tem conseguido manter as aulas cheias, igual aos eventos, workshops, espetáculos e outras produções.

BLOG: Na Venezuela, você era membro da companhia Sombras Tribal, dirigida pela bailarina  venezuelana Akzara Martini. Conte-nos um pouco sobre sua experiência e aprendizados com o grupo (aulas, ensaios, eventos/produções, performances). 


 
Poderia escrever mil linhas contando boas experiências com a minha escola de origem. Honestamente, cada momento que eu estive nessa escola foi perfeito.


Quando comecei fazer aulas com a Akzara, eu nunca tinha dançado nenhum estilo que tivesse  a ver com dança do ventre; e o que me apaixonou do estilo SOMBRAS foi essa fusão poderosa e sutil que envolve o seu estilo: a dança urbana, a dança do ventre e o tribal. É realmente uma fusão perfeita! O estilo Sombras é um estilo único no mundo inteiro e muito fácil de identificar.


 

Eu fui parte da quinta tribo que entrou na escola, mas a escola inteira sempre foi (e ainda é) uma tribo gigante! Naquele momento em que eu fazia parte, tinha umas 80 bailarinas e elas não demoraram em me fazer sentir parte da família Sombras.

Akzara Martini, além de uma grande artista, é uma professora muito responsável, pontual, paciente, comprometida e justa. Ela é um exemplo de formação de qualidade e uma apaixonada pelos estudos. Até hoje ela estuda constantemente muito, assistindo até as aulas que são ministradas por outros professores na própria escola dela.


 

As produções do Sombras Tribal são parte das maiores produções de dança do país, recebendo cerca de mil pessoas cada ano para assistir e prestigiar a escola. A equipe de produção é muito completa.  Akzara é quem dirige os espetáculos, mas tem coordenadores em distintas áreas da produção e que tornam realidade as ideias dela e sempre acabam superando o nível de expectativa do público. Todas as produções da escola tem sido um sucesso na cena tribal venezuelana.

 

Eu tive a oportunidade de participar como elenco nos convites especiais que teve Sombras Tribal em shows de música, premiações de bandas de rock, aniversários de produtoras musicais e encontros de danças urbanas, árabes e fusões. Cada experiência com Sombras Tribal foi maravilhosa e acho muito importante destacar que devo  a minha base e formação à Akzara Martini e à Escola Sombras Tribal. Espero sempre poder dançar novamente com a minha mestra e com as minhas irmãs da tribo. Sempre levarei com orgulho e muito agradecida o "Selo de Sombras" na minha dança e na minha vida. 


 

BLOG: Conte-nos um pouco sobre suas principais performances. O quê a inspirou para a formulação da parte conceitual e técnica das mesmas, assim como seus processos de elaboração dos figurinos e maquiagens. Como essas coreografias repercutiram na cena tribal? 


 

Um dos meus performances favoritos até hoje tem sido a interpretação e tributo à deusa Kali. Acho que em nenhum momento faltou inspiração, pelo contrário, durante a construção das ideias tive até que fazer descarte de algumas ideias. Escolhi essa performance como favorita pelo valor emocional que representa para mim, essa foi a minha primeira apresentação com as minhas próprias alunas no Brasil e o modo em que elas conseguiram entender, apoiar cada ideia e concordar com tudo foi quase mágica. Além disso, foi um grande desafio para todas, pois era a minha primeira turma, elas estavam começando um nível iniciante de tribal e o evento aconteceria em 3 meses. Depois de semanas de trabalho duro, um pouco antes do evento eu desliguei as luzes da sala e fiquei sentada só olhando elas fazerem a coreografia e fiquei arrepiada, literalmente, pelas mulheres que eu estava conhecendo naquele momento. E no dia do evento a conexão entre elas e eu foi incrível. Uma experiência única.



A inspiração para os figurinos foi uma construção de imagens e de interpretações da Deusa, mas decidi fazer uma base para todas e deixar que os detalhes surgissem de cada uma delas. Eu adoro fazer os meus próprios figurinos, conservo eles como se fossem meus filhos.

 

Até hoje não sei como essa performance repercutiu na cena tribal brasileira, mas nesse dia tive bons comentários e muitas boas críticas de pessoas que eu admiro como bailarinas e profissionais. 


 

Tenho varias performances favoritas, depois de começar a colaboração com Asgard Tribal.Co, tudo foi criação atrás criação e cada uma superava a anterior, os temas, as coreografias, o grupo, as pesquisas tras cada maquiagem, figurino, conceito sempre foram bem pensadas e executadas, eu fico super orgulhosa de estar com elas.

 

BLOG: Atualmente, aqui no Brasil, você também é membro do Asgard Tribal Co., dirigido por Aerith Asgard e professora na escola de dança de Curitiba “Flor de Lótus”. Como surgiu a oportunidade de participar desses grupos? Conte-nos sobre suas experiências em participar desses grupo, o estilo de cada um, como você conseguiu adequar seu estilo e como são desenvolvidas as coreografias em conjunto? 

 

Acho que essa é a minha pergunta favorita!

 

Em ordem cronológica,  em 2017 quando cheguei ao Brasil a primeira coisa que eu fiz foi procurar escolas de tribal na cidade. Não foi fácil, porque não tem escolas só de tribal, então tive que começar uma pesquisa das bailarinas e através delas encontrei aulas com várias professoras.


Asgard Tribal Co.

No dark fusion achei rapidamente o Underworld Fusion Fest e automaticamente à Aerith Asgard que é a diretora da companhia Asgard Tribal. Eu entrei em contato com ela e comecei visitar as suas aulas e as confraternizações da companhia. Não demorou em nascer uma amizade com ela e depois de um pouco de dança e muita comunicação ela me convidou para formar parte da companhia que até hoje tem sido uma experiência muito gratificante e estamos conseguindo combinar e misturar ideias e estilos com facilidade; ela é uma grande organizadora e amiga.

 

Flor de Lótus representa várias coisas para mim. Naquela pesquisa de escolas de tribal que eu empreendi no ano que cheguei, apareceu nas minhas primeiras opções o estúdio Flor de Lótus como uma das escolas expoentes das danças orientais na cidade. Eu imediatamente escrevi uma mensagem para eles pedindo informação sobre as aulas de tribal, mas justamente nesse momento não estavam abertas as aulas de tribal na escola. A minha vontade era de fazer aulas com a Sara Félix ou com a Lua Arasaki que foram professoras de tribal no estúdio, mas no momento elas não estavam disponíveis.



Pouco tempo depois surgiu a oportunidade para eu dar uma aula experimental na escola, o que representou um grande desafio para mim: dar uma aula para a 
Suzi Ribeiro, quanta responsabilidade! Mas nesse mesmo dia foi oferecido um horário e uma sala para mim e até hoje continuam as minhas aulas regulares no estúdio. Esse foi só o começo de uma amizade com a família do Flor de Lótus e de grandes oportunidades. O estúdio é um universo artístico em cada centímetro do espaço e em todos os sentidos, adoro ser parte dessa equipe e agradeço sempre ao destino por ter me colocado nesse caminho com eles.


BLOG: Em 2018, você participou da audição para integrar o FB Dance Company, grupo de dança de Curitiba. Conte-nos um pouco sobre o estilo e direção do grupo. Compartilhe com a gente um pouco sobre suas experiências sobre o processo seletivo. Quais expectativas em se apresentar com essa Cia?


 

Quem me conhece sabe o muito que eu sou apaixonada pelas danças urbanas e as fusões. Eu conheci a FBDC assistindo no instagram vídeos dos melhores bailarinos do Brasil, fazendo ênfase nos bailarinos curitibanos. Fiquei acompanhando o trabalho da companhia e até fiz uma  aula de jazz com a Ray no final do 2017 para conhecer o trabalho dela.

 

Em julho de 2018, a companhia fez uma chamada para audições e eu fiquei meio em choque com aquilo porque, na verdade, era como um sonho pensar em formar parte dessa companhia. Chegou o dia e eu fiz a minha inscrição.


 

Durante as audições conheci participantes muito bons em distintos estilos, jazz, contemporâneo, hip hop, breaking, krump, ballet, mas eu era a única pessoa formada principalmente em danças orientais. Me senti realmente insegura, mas tentei manter a confiança nas minhas habilidades com a dança urbana... A audição teve várias etapas, umas mais técnicas e outras mais livres. O que eu mais amei da audição foi que eles pediram para todos os participantes simplesmente serem eles mesmos. Ao final da audição fiquei muito feliz com o resultado: fui aceita na companhia e até agora estou vivendo um sonho com eles. 


Depois de varias experiências com eles posso dizer que os admiro muito e cada dia mais. Somos (me incluo) pessoas que treinamos muito e que deixamos o coração na dança.

 

BLOG: Como você encara a fusão entre metal/rock e dança do ventre/tribal?

Para mim é uma fusão perfeita porque não existe nada melhor que dançar a música que a gente gosta. Eu sempre tive o rock/metal como preferência musical e dançar ela é deixar o corpo fluir. Eu acredito que para dançar, mais que só técnica, deve existir uma ligação sentimental ou espiritual com a música e o rock representa muito o que eu gosto de expressar quando danço: força, segurança, poder e muita energia.


 

BLOG: Você já se apresentou junto com algumas bandas? Qual a sintonia entre banda (música), bailarina (dança) e público? Como o público underground encara o tribal fusion? Existe alguma banda nacional ou internacional que você gostaria de ter tal parceria? 

Eu ainda não tive a oportunidade de dançar com bandas ao vivo, mas tenho uma ideia bastante boa ao respeito.

 

Sombras Tribal costuma fazer esse tipo de colaborações com bandas e já tem um repertório com bandas nacionais em eventos de metal/rock. Eu sempre acompanhei os eventos nos que participaram e sempre achei uma boa aceitação por parte do público e das produtoras desse tipo de eventos. Com o tempo os produtores procuraram acrescentar as colaborações entre dança e eventos musicais. Até teve, um espetáculo de dança organizado por Sombras Tribal completamente com música ao vivo, feita por uma banda exponencial venezuelana que faz covers de clássicos do rock/ metal.

 

Aqui em Curitiba participei num show de bandas femininas LVNA FEST, no começo de 2020, a vibe é muito diferente á de um palco ou um evento só de dança, é o mais perto que estive de me apresentar com uma banda.

 

Gostaria muito de dançar com algumas bandas; sendo fã de algumas, eu adoraria colaborar com elas num show. E também seria interessante participar em eventos de música eletrônica, é uma ideia que tenho em mente e espero algum dia ter essa oportunidade.

 


BLOG: Qual a sua relação com o gothic/dark fusion? Como você encara  a cena gótica inserida na dança do ventre/tribal? Sob sua óptica, o quê é dark fusion? 
 

O dark fusion, desde a minha perspectiva, é a fusão do desconhecido. A escuridão, a ausência, são agentes desconhecidos para os olhos, mas dentro de cada pessoa existem esses territórios não explorados, muitas vezes pelo medo de si mesmos, e outras vezes pelos preconceitos e a falta de introspectiva. Sendo explorados ou não, existem. 


Acho que o dark fusion sendo parte do tribal, da dança e da arte, é liberdade de expressão; a expressão das pessoas que decidiram mostrar essa outra cara deles ao mundo e transformar essa escuridão no que eles decidiram, como força, medo, energia, poder, melancolia, fúria, tristeza e até sentimentos positivos. O dark fusion é parte do equilíbrio e eu respeito muito essas pessoas que largaram os preconceitos, os medos e os auto julgamentos para tirar aquilo de dentro deles e fazer disso arte.

 


BLOG: Atualmente, muitas bailarinas do tribal fusion estão saindo um pouco do rótulo e fazendo várias experimentações. Como você encara as fusões experimentais? Quais fusões você tem mais interesse em desenvolver em sua dança? Qual a principal diferença entre esse tipo de dança e o tribal / dark fusion? Qual principal cuidado que o estudante de tribal deve ter ao querer apresentar esse tipo de performance? 



Eu estou completamente a favor das fusões, acho maravilhosa a liberdade de expressão; ainda mais no tribal, a arte é liberdade. Sei que o tribal e todas as danças têm formatos, algumas regras e muitas técnicas, mas a mistura delas é bastante interessante. E eu acho que fala muito do que um bailarino tem em mente, das suas visões e capacidades. O poder para misturar técnicas, respeitando cada estilo e ampliar as possibilidades, não é um trabalho fácil, ele precisa de um estudo dos estilos e de muita responsabilidade, conexão e compromisso com os objetivos, mas principalmente a exploração e a intenção de criar. Na minha opinião  é realmente o artístico na dança.

 

Eu como dançarina e apaixonada por alguns estilos de dança, gosto sempre de misturar técnicas e movimentos que praticamente o corpo e a música me pedem, parte da dança urbana, do jazz e do tribal, principalmente, são os estilos principais que sempre vou estar trabalhando nas fusões.

 

Eu penso que sem importar a raiz nem a semelhança entre as danças, o interessante é precisamente a conexão delas, acho que nesse ponto é onde começa o trabalho da fusão. Então é importante conhecer cada estilo, a princípio, separadamente; e quando o corpo e a mente tenham compreendido e assimilado os movimentos, pode começar a exploração das fusões livremente.

 

BLOG: Recentemente, o intercâmbio entre as bailarinas sul-americanas vem se intensificado. O quê você acha sobre essa troca de culturas, experiências e relações entre as tribal dancers? O que podemos aprender umas com as outras? O quê você acha que podemos melhorar nessa relação e como alcançar tal objetivo? O quê mais chama a sua atenção na cena tribal brasileira? 



Eu acredito que todo mundo tem algo para ensinar e algo para aprender. E em relação ao tribal fusion, muito mais, pois sendo um estilo que  abraça outros estilos e além da visão introspectiva de cada bailarina, a troca de conhecimentos é praticamente infinita, ainda quando é a mesma fusão, sempre existem as visões que cada bailarino aborda nos temas. Quando a troca cultural e social vem junto, acaba sendo muito mais interessante. América  Latina é um continente muito colorido culturalmente, pois cada país tem uma história particular e por mais que sejamos países-irmãos, somos todos completamente diferentes. Se os nossos países trabalhassem sempre unidos, a cena ficaria enriquecida e fortalecida, sempre que dependesse de mim eu apoiaria o intercâmbio latino-americano e mundial.

 

Enquanto a cena tribal brasileira, eu tinha um conceito positivo: os brasileiros dançam muito bem! E quando eu cheguei no Brasil, só confirmei essa ideia! Agora tenho certeza! Acho que além do domínio de técnicas, os brasileiros tem uma essência para dançar que vai além do treino, conseguem se apropriar da música e da sua dança com muita naturalidade, e acho que isso é parte da cultura, mais do que simples estudos de dança. Então repetirei: sempre que dependesse de mim, eu apoiaria o intercâmbio cultural.

 

BLOG: Em relação aos eventos, quais as principais diferenças marcantes na cena tribal brasileira e venezuelana? Se você pudesse importar alguma(s) característica(s) desses eventos do Brasil para Venezuela e da Venezuela para o Brasil, quais seriam? 

 

Acho que tem duas diferenças importantes ou mais destacadas. Uma delas é o tamanho da cena que, sem dúvida, a brasileira é maior, tem uma grande variedade de fusões, estilos, formatos, eventos, encontros, intercâmbio, é realmente muito grande em comparação com a cena tribal venezuelana. 

 

A outra diferença seria o alcance, sendo que esse não depende só da cena, pois a situação política e econômica na Venezuela tem prejudicado bastante a arte em geral. A Venezuela, por essas causas, têm ficado fora de muitas colaborações, intercâmbios, experiências e participações com outros países de latino-americanos e até dentro do mesmo país. Os eventos e escolas tem sofrido consequências econômicas e paralisação por falta de recursos. Ainda assim, procura-se resgatar a cena e proteger os artistas integrantes. Na Venezuela surgiu uma organização incrível onde absolutamente todos os exponentes do tribal (ATS® e tribal fusion) tem participação; é uma irmandade que apoia as escolas, eventos e o intercâmbio. Além disso, há o cuidado em valorizar o artista como profissional, até hoje é assim e os bailarinos venezuelanos conseguem manter a cena viva e organizada.

 

Se tivesse que escolher pontos positivos da cena brasileira e levar para Venezuela, seria a quantidade de fusões e o intercâmbio que tem no Brasil; além dos recursos maravilhosos dos que dispõem para as produções de eventos.

 

E se tivesse que escolher uns pontos positivos da cena venezuelana e trazer para o Brasil, sem dúvida, seria a organização grandiosa que surgiu da comunidade tribal venezuelana.

 

BLOG: Em sua opinião, o quê é tribal fusion? 

Fora do conceito original e técnico que conhecemos do tribal fusion, acho que o tribal fusion é um estilo que estourou os limites! Ele misturou culturas, tradições, sociedade, história e infinitos estilos de dança. O tribal fusion é um dos estilos com maior liberdade para criar e sendo um estilo cheio de muitos estilos, ele acaba abrindo milhões de possibilidades no mundo da dança. A mistura das bases técnicas do tribal com outros estilos formaram uma chave incrível para o controle corporal, muscular até mental. E indo além: acho o estilo perfeito para o autoconhecimento das habilidades físicas e espirituais de quem o dançam.

 

BLOG: O quê você mais gosta no tribal fusion?

Sem dúvida, as milhões de possibilidades para criar. A sutileza com a que ele encaixa com quase qualquer estilo de dança e a possibilidades de participar como um estilo alternativo dentro de outros tipos de dança. E fora das técnicas e conceitos, a irmandade! Acho um aspecto que faz do tribal fusion um estilo único.

 

BLOG: Como você descreveria seu estilo?

Mais que um estilo, eu falaria da minha proposta, ela não tem uma direção única. Na verdade, eu me considero uma pessoa muito curiosa, gosto de muitos estilos e sempre estou procurando estilos diferentes, e sempre que puder, vou fazer testes de todos eles com o tribal! É algo que me apaixona e me dá liberdade, não fecho as possibilidades que o tribal oferece; mas tenho estilos favoritos com os que costumo trabalhar, como o street dance, o jazz e o contemporâneo. Pratico eles por separado e misturo eles na construção das minhas coreografias e no freestyle. 

BLOG: Como você se expressa na dança?

Se tivesse que generalizar, penso que eu me expresso de muitos modos, mas na minha dança sempre vão encontrar liberdade, força e energia. Gosto de trabalhar sempre sobre essas expressões, mas também depende dos conceitos que esteja trabalhando no momento, pois cada performance tem uma vibe que a caracteriza. Porém, esses três aspectos que mencionei descrevem bastante o modo com que eu me expresso na dança.

  

BLOG: Sobre sua carreira, qual/quais seu momento tribal favorito ou inesquecível?

Tenho vários, para não dizer que todos os meus momentos no tribal são favoritos, mas tem um destaque nesses, e foi a minha primeira  participação no palco com Sombras Tribal. Esse dia entendi que a dança é para quem está dançando e não para quem está olhando, foi maravilhoso compartilhar o palco com pessoas que eu admiro muito, e ter a honra de representar pela primeira vez  a escola onde eu iniciei a minha formação.

 

BLOG: Quais seus projetos atuais? E mais futuramente?

Até hoje tive mais projetos na realidade que na minha cabeça! A realidade tem superado todas as minhas expectativas com a dança, a dança para mim começou como um passatempo e tem me pegado de surpresa com todas a experiências e desafios que já vivi e continuo vivendo.

O meu projeto com a dança não tem uma linha clara, eu só sei que preciso dela para viver e se isso significa, dar aulas, ver aulas, estudar, ensinar, trocar, competir, então eu vou.


BLOG: Improvisar ou coreografar? E por quê?

Improvisar. Para mim tudo tem a ver com sentir, o improviso é uma tradução instantânea do que os sentidos percebem e transforam em movimento. Quando meu corpo atua acima da música é quando surgem as melhores ideias. Às vezes até lamento não filmar os meus improvisos, esqueço tudo quando acaba a música; porque realmente só escuto e deixo o corpo fluir, até para coreografar, eu sempre começo com improviso, o meu corpo responde à música e começa a criação.

 

BLOG:  Você trabalha somente com dança?

Não, além de bailarina sou arquiteta, mas em ordem de prioridades espirituais é o contrário: sou arquiteta além de bailarina. Adoro o design, transformar ideias em possibilidades e possibilidades em realidade. A arquitetura também é arte e técnica; e as metodologias dos processos criativos que eu aplico nessa profissão, encaixa perfeitamente na minha metodologia de ensino e de aprendizado na dança.

 

BLOG: Deixe um recado para os leitores do blog.

Na vida não adianta só sonhar, trabalhemos por fazer os sonhos realidade. As oportunidades e as mudanças existem só para quem as procura. Comece hoje.



Contato:

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| Entrevista originalmente publicada no site do Underworld Fusion Fest em 2018, sendo republicada com atualizações realizadas pela bailarina convidada.




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Editora

Aerith (Curitiba-PR) ( pronuncia-se 'Aéris' e não Aeriti ❤) é carioca, blogueira desde 2010, idealizadora e produtora do Underworld Fusion Fest e dos Encontros Folks PR, e diretora do Asgard Tribal Co. Adora o universo da dança tribal, principalmente as fusões mais undergrounds. Atualmente, reside em Curitiba-PR, em que está desenvolvendo novos projetos e parcerias envolvendo o estilo 'Tribal'Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

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