Em 15/08/2020, estreou (no formato online) a 6ª edição doevento Dark Cabaret.
Dark Cabaret é um espaço voltado para a performance ritual, encabeçado por Bianca Brochier, Hölle Carogne e Patricia Nardelli (ambas de Porto Alegre/RS). Nasce para tratar de temas emocional e socialmente considerados difíceis. Pretende fazer isso através da expressão corporal, sem compromisso com o formato final dos seus trabalhos. Por performance ritual compreende-se o resultado de uma pesquisa que busca na própria psique os símbolos e estados corporais mobilizados por cada tema de investigação e os expõe diante de pessoas que observam, aqui compreendidas enquanto testemunhas de um processo de expurgo.
Em seu terceiro ano de existência o projeto resolveu compartilhar suas práticas e saberes através de um laboratório online e os alunos foram convidados a experimentar essa proposta de criação. Para esta edição do evento, escolheu-se o tema da Casa 12.
A Casa 12 na astrologia é uma casa considerada maléfica, ou difícil, dado que não faz aspecto com o ascendente, e trata de temas tais como os cárceres, os tormentos e maus espíritos, internações e isolamentos.
Participaram do evento Patricia Nardelli, Danieli Spörl, Countess Lefay, Victor Prôa, Viih Alves, Amanda D'Arc, Julia Webber, João Vitor Dutra, Luana Ducerchi, Deleite, Joana Engel, Monique Xavier Simas, Camila Soufer e Hölle Carogne.
É necessário fazer login (confirmando a maioridade) para assistir ao vídeo, por motivos de nudez e gatilhos.
Aqui você testemunha esse trabalho que permanece tão vivo quanto antes:
Hölle Carogne (Porto Alegre-RS) é a alma por detrás do humano, do rígido. É curiosa, entusiasta e selvagem. Uma admiradora da arte, da dança, da literatura e da música.O "esquisito" a seduz. Seus poemas e seus movimentos estão impregnados de ideologias, de crenças. Compassos pouco convencionais, cheios de misticismo, de oposição, de agressividade.Ocultismo, caos e luxúria sendo mesclados às suas criações e retratados de forma crua, orgânica, uterina.
Não sei vocês, mas eu estava
com saudades desta série.
Seguimos nossos estudos com o
Arcano V: O Papa.
É sempre muito difícil criar
uma postagem decente, sem muito material.
Então, sigo focando no próprio
Tarot, visto que as danças que são inspiradas por ele ainda são escassas.
Quem sabe este esforço de minha
parte não te instigue a criar, né?
Pintura de São Leão I Magno
O arcano V, “O Papa” também é
conhecido como O Pontífice, O Hierofante e O Sumo Sacerdote.
Nos baralhos da Suíça e sul da
França, esta figura é substituída por Zeus ou Júpiter.
Também existem referências que
vinculam a figura do Papa com o culto egípcio do boi Ápis e com a lenda de
Pasífae.
Foi somente a partir de Court
de Gébelin, que os escritores começaram a utilizar o termo “Hierofante”,
referindo-se ao grão-sacerdote dos mistérios eleusinos.
O Hierofante é o revelador da
Luz, o Instrutor. O grande mestre dos testes da vida. Ele clama pela mais alta
Sabedoria dos Antigos, para que possa dominá-la em sua totalidade. Comunica o
Conhecimento dos Sacerdotes como se fosse um touro, através da sua
inteligência, sua força e de sua sagacidade. Por ser o detentor de algum
conhecimento, ele manipula em seu próprio interesse. É o grande Buscador da
Sabedoria Divina, para deter a Sabedoria da Esfinge - saber, ousar, querer e
calar.
O Papa ensina (enquanto a
Papisa estuda). Ele mostra o caminho para a compreensão sobre a ligação do
homem com o Universo. É uma ponte. O mediador. Ele tem empatia.
Gringonneur
Correspondências:
Caminho da Árvore da Vida: De
Chokmah a Chesed.
Letra Hebraica: Vau (Prego).
Valor: 6.
Tattwa: Fogo e Terra.
Nome Místico: Mago do Eterno.
Signo: Touro.
Símbolos:
Menina: Exaltação do aspecto
venusiano, Sacerdotisa, aspecto lunar.
Lua Crescente: Fertilidade.
Rosetão: Feminilidade.
Cone: Símbolo fálico.
Letra Shin: realização do seu
desejo.
Serpente & Pomba: Os dois
caminhos.
Os nove pregos: Representa a
letra Vau.
A Chave: Sabedoria dos Três
Aeóns (Ísis, Osiris e Hórus - verde, amarelo e vermelho).
Elefante: Exacerbação da
Sabedoria.
A Criança: Ideia ou Ideal.
O Homem: Saber.
Águia: Calar.
Leão: Ousar.
Boi: Querer.
A Estrela invertida: Baphomet
(aquele que se supera).
Pentagrama & Hexagrama: a
união do micro com o macrocosmo.
Representação:
Tarot de Marselha
Marselha:
Um pontífice, de cabelos e
barbas brancas, está sentado em uma cadeira/trono com duas colunas ao fundo. Sua
mão direita está levantada e faz o sinal do esoterismo e em sua mão esquerda
tem a tríplice cruz do papado. Sua cabeça está coroada por uma tríplice coroa.
Tem veste azul, capa vermelha ornada de amarelo. Sua mão esquerda está fechada
e, na maior parte dos tarôs clássicos, coberta por luva que tem impressa uma
cruz dos templários.
Os outros dois personagens que estão de costas mostram a
tonsura (corte de cabelo cerimonial usado pelos bispos). Mostram-se como fiéis.
O da esquerda aponta sua mão direita para o solo, com os dedos separados. O
homem da direita aponta para o alto com sua mão esquerda, com os dedos juntos.
Rider-Waite
Rider-Waite:
Parece ter feições mais jovens e sua
vestimenta é vermelha. Está sentado entre duas colunas, mas não são as do
Templo que é guardado pela AltaSacerdotisa (o
Templo de Salomão). Está entronado e abençoa, com a mão direita
erguida, os dois monges ajoelhados. Com a mão esquerda empunha a cruz tríplice
e tem aos pés as chaves de São Pedro.
Thoth Tarot
Thoth:
Esta carta se refere a letra Vau, que significa Prego,
sendo que nove pregos aparecem no alto da carta, os quais servem para fixar o
oriel atrás da principal figura da carta.
A carta é referida a Touro, de sorte que o Trono do Hierofante é
circundado por elefantes, que participam da natureza de Touro, estando o Hierofante realmente sentado sobre um touro. Ao redor
dele estão as quatro bestas ou Kerubs (visão de Ezequiel), uma em cada canto da carta, visto que estes são os
guardiões de todo santuário. Mas a principal referência é ao arcano particular
que constitui o negócio maior, o essencial, de todo trabalho mágicko: a união
do microcosmo ao macrocosmo. Consequentemente, o oriel é diáfano, diante do
Manifestador do Mistério há um hexagrama representando o macrocosmo. E no
centro deste um pentagrama, contendo e representando uma criança do sexo
masculino dançando. Isto simboliza a lei do Novo Aeon da Criança Hórus, o qual
suplantou o Aeon do "Deus que Morre", que governou o mundo por dois
mil anos. Também diante do Hierofante está a mulher com a espada à cintura, que
representa a Mulher Escarlate na hierarquia do novo Aeon. Este simbolismo é
adicionalmente efetivado no oriel, onde, por trás da cobertura fálica de
cabeça, a rosa de cinco pétalas desabrocha.
O simbolismo da serpente e da pomba faz alusão a este
versículo de O livro da Lei cap.I, V.57: "...pois existe amor e amor.
Existe a pomba e existe a serpente."
O fundo da carta toda é o azul escuro da noite
estrelada de Nuit, de cujo útero nascem todos os fenômenos. Touro, o signo do
Zodíaco representado por esta carta, é ele mesmo o Kerub-Touro, ou seja, a
Terra sob sua forma mais forte e mais equilibrada.
O regente deste signo é Vênus, que é representado pela
mulher em pé diante do Hierofante.
No capítulo III de O livro da Lei, versículo XI, lê-se: "Que a mulher seja cinjida com uma espada
diante de mim". Esta mulher
representa Vênus como ela agora está neste novo Aeon, não mais mero veículo de
seu correlativo masculino, mas armada e militante.
Neste signo a Lua é exaltada; sua influência é
representada não só pela mulher como também pelos nove pregos.
É impossível na atualidade explicar esta carta na sua
inteireza pois somente o curso dos eventos poderá mostrar como a nova corrente
de iniciação funcionará.
É o Aeon de Hórus, da Criança. Embora o rosto do
Hierofante pareça benigno e sorridente e a própria criança pareça alegre com
desregrada inocência, é difícil negar que na expressão do iniciador há algo
misterioso, mesmo sinistro. Ele parece estar gozando uma piada muito secreta as
custas de alguém. Há um aspecto distintamente sádico nesta carta, e
naturalmente, considerando-se que ela provém da lenda de Pasífae, o protótipo de todas as lendas dos Deuses-Touros.
Estas lendas ainda persistem em religiões como o Saivismo e (depois de múltiplas degradações) no próprio Cristianismo.
O simbolismo do Bastão é
peculiar; os três anéis entrelaçados que o encimam podem ser tomados como
representativos dos três Aeons: de Ísis, Osíris e Hórus com suas fórmulas
mágickas que se entrosam. O anel superior está marcado de escarlate para Hórus,
os dois inferiores de verde para Ísis e amarelo pálido para Osíris,
respectivamente. Todos estes estão baseados no azul escuro, a cor de Saturno, o
Senhor do Tempo, pois o ritmo do Hierofante é tal que ele se move apenas a
intervalos de dois mil anos.
Pasiphae sits on a throne, Gaziantep Museum
Estrutura Mística:
É o arcano da bênção, da
iniciação, da demonstração, do ensino. Dever. Moral. Consciência. Santidade. Lei,
simbolismo, filosofia, religião. Evoca os níveis mais altos de consciência.
Posição
normal: Piedade, clemência, religião, família, inspiração, tradição.
Posição
invertida: Rancor, intolerância, falta de confiança em si mesmo e nos
outros, atos vulgares e instintivos.
Busca
de sentido, revelação, hora da verdade, confiança, indicações do caminho da
salvação.
Mental: O
Pontífice representa a forma ativa da inteligência humana, que traz
principalmente as soluções lógicas. Significa também os pensamentos inspirados
por um nível mais alto de consciência.
Emocional:
Sentimentos poderosos, afetos sólidos, solicitude, sem cair em
sentimentalismos. O Pontífice indica os sentimentos normais, tal como devem ser
manifestados na vida, de acordo com as circunstâncias.
Físico:
Equilíbrio, segurança na situação e na saúde. Segredo revelado. Vocação
religiosa ou científica. Especialista em sua área.
Desafios
e sombra: Indica um ser desconectado de sua razão e seus instintos,
na obscuridade, carente de apoio espiritual. Projeto retardado. Chefe
sentencioso, moralista, rígido, prisioneiro das formalidades, metafísico
dogmático, professor autoritário, teórico limitado, pregador da “boca pra
fora”. Conselheiro desprovido de sentido prático. Problemas com saúde,
indecisão, negligência.
Plataforma de caixão pintada com a imagem do touro Ápis
Trabalhos relacionados à dança:
Trabalho das bailarinas Irina Miridzhanyan, Kristina Eliseeva, Ekaterina Mednikova, Daria Alimova e Ilona Gorlova do Divon & Tarot Noir (Rússia):
Na descrição do vídeo diz:
“Somos cartas de tarô. Cada um de nós tem seu próprio significado e prevemos o
destino.”
A coreografia é nomeada com a
letra V, o que possivelmente faz alusão ao arcano O Papa. Mas o trabalho não
possui elementos simbólicos para que eu possa tecer algum tipo de comentário
sobre ele. É lindo. Então, apreciem.
Tribal Secrets Tarot Deck, de Anandha Ray:
Tribal Secrets Tarot Deck
Belo trabalho de fotografia e
edição, que traz a própria Anandha Ray como o Hierofante. Nota-se o manto
vermelho, a lua (que aparece tanto na edição da foto, quanto nos acessórios
utilizados pela bailarina) e duas gárgulas com cabeça de leão, que podem
referir-se tanto às colunas do Templo quanto à um dos Kerubs da visão de
Ezequiel.
Anandha faz uso de postura e
mudras das Danças Indianas, e somente graças ao auxílio da Mestra Krishna
Sharana, pude obter informações importantes quanto aos seus significados.
De acordo com a professora
Krishna, o mudra feito em direção ao chão é o “Varada Mudra” e simboliza
bênção, benevolência, o dar, o alcançar. O mudra feito na direção de cima
chama-se “Abhaya Mudra” e simboliza “não tenha medo”. Significados estes que se
alinham perfeitamente ao arcano V e são atributos do arquétipo do Hierofante.
Uma curiosidade interessante e
importante é que, geralmente, o “Varada Mudra” é executado com a mão esquerda e
o “Abhaya Mudra” com a direita, o que nos faz supor que possa haver alteração
dos lados por conta da própria fotografia.
Nota-se que a grafia do nome da
carta mostra-se diferente. Lê-se “Heirophant” ao invés de “Hierophant”,
deixando a dúvida de se foi, ou não, proposital...
Datura Tarot, de Rachel Brice:
Datura Tarot
Rachel, sempre impecável, traz
no seu trabalho de colagem uma figura central como O Hierofante e duas figuras
em segundo plano, representando os dois monges dos baralhos tradicionais. O
Hierofante parece estar sentado sobre uma pedra bruta que flutua sobre a água.
Interessante perceber que ela traz figuras de outra religiosidade, entretanto,
sem alterar em nada o sentido da carta. A simbologia das colunas do Templo e da
coroa foram mantidas e é interessante perceber a semelhança da coroa utilizada
por ela e a do baralho de Thoth. Mais interessante ainda é especular sobre
aqueles três círculos que estão em volta da coroa. Com muita imaginação dá para
associar à Sabedoria dos Três Aeóns, em virtude da semelhança das cores verde,
amarelo e vermelho. Será?
O ponto alto, na minha opinião,
é o selo/brasão/moeda de Calixtus III (1455-58), considerado o segundo dos
papas da Renascença. Objeto este que contém as chaves de São Pedro, a coroa
tríplice do papado e o touro, símbolos essenciais ao entendimento deste arcano.
Rachel é tão incrível, que
sempre penso que algo vai me escapar nas obras dela. É bem provável que
aconteça.
Analisem aí e troquemos
figurinhas!
Gratidão à todos que leram até
aqui e à Mestra Krishna Sharana, pela ajuda!
Hölle Carogne (Porto Alegre-RS) é a alma por detrás do humano, do rígido. É curiosa, entusiasta e selvagem. Uma admiradora da arte, da dança, da literatura e da música.O "esquisito" a seduz. Seus poemas e seus movimentos estão impregnados de ideologias, de crenças. Compassos pouco convencionais, cheios de misticismo, de oposição, de agressividade.Ocultismo, caos e luxúria sendo mesclados às suas criações e retratados de forma crua, orgânica, uterina.
Hoje conheceremos e
exaltaremos artistas que lutam por um mundo sem a figura cristã de deus, sem os
dogmas da instituição igreja e sem as imposições do cristianismo.
Entre nós, neste 25 de
dezembro, artistas que acreditam na potência dos corpos em oposição.
NÃO SERVIREMOS!!!
~ Começaremos com o
relato da bailarina Keila Fernandes, de Curitiba/PR. Ela nos conta um pouco
sobre uma de suas coreografias e sobre sua visão anticristã. Infelizmente, não
há registro em vídeo desta performance.
Carla Lorentz Fotografia
“Criei a coreografia ‘A
Queda de Lúcifer’ para o evento Underworld Fusion Fest de 2018, mas já pensava
nela há algum tempo.
A figura de Satã sempre
me fascinou, principalmente por se tratar de uma figura opositora, que se
posiciona não apenas contra o Deus cristão, mas contra toda a estrutura de
opressão desenvolvida e alimentada pela igreja ao longo dos séculos.
Carla Lorentz Fotografia
Minha interpretação de Lúcifer, nessa coreografia, teve muitas
inspirações diferentes, tais como Satã de John Milton e o do satanismo ateísta.
Além da minha perspectiva pessoal.
No espetáculo, Lúcifer apareceu inicialmente como O Portador
da Luz, que após se rebelar contra Deus, foi expulso do Paraíso e, como forma
de vingança, entregou ao ser humano a Luz do conhecimento, tornando-se Satã, O
Adversário.
Carla Lorentz Fotografia
Minha abordagem, traz Lúcifer como inimigo de Deus, mas não
da humanidade a quem ele deu a capacidade de questionar, duvidar e escolher.
Então quis interpretá-lo mesclando elementos mais obscuros, como os chifres e
os olhos, com elementos angelicais, que remetiam à luz, que por sua vez, a meu
ver, representa o conhecimento e a liberdade.
Carla Lorentz Fotografia
Release da coreografia
Recusei-me a aceitar uma
existência de obediência e servidão.
Recusei-me a negar o
brilho de minha luz, minha real natureza.
Rebelei-me. Caí.
Tornei-me inimigo de um
Deus que rejeita a natureza de suas criaturas, transformando seus anseios e
desejos em pecados que merecem a punição.
Sou Lúcifer, o anjo.
Hoje chamam-me o Dragão Vermelho.
Aquele que deu à
humanidade a Luz do conhecimento.
~ Na sequência, a bailarina Gilmara Cruz, de SP, compartilha
conosco suas vivências centradas na filosofia anticristã:
“Minha filosofia de vida é pautada no Anticristianismo desde a minha adolescência. Antes disso, eu
frequentava a igreja por imposição da minha família, mas nos primeiros anos da
puberdade, comecei a ter reflexões próprias e experiências que me levaram ao
total afastamento. Passei a ter muito repúdio pela imposição violenta e
invasiva que o Cristianismo, em geral, exerce na vida de todo o Ocidente. Temos
como resultado dessa imposição o massacre de várias culturas e o silenciamento
de diversos tipos de religiosidades, sem falar nos inúmeros assassinatos feitos
em nome de Deus. E eu nem preciso escrever textão para demonstrar isso. Na
universidade venho estudando as Práticas de Magia e Feitiçaria perseguidas pela
Inquisição e pela igreja aqui no Brasil. Foi tema de minha pesquisa na
Graduação, no Mestrado e agora no Doutorado, ambos em História. Sempre
problematizando a imposição cristã sobre as práticas de magia. Minha posição na
Dança não é diferente. No meu trabalho com essa arte, tenho lidado com temas
ritualísticos, pagãos, ocultistas e obscuros e isso ficou mais presente e
evidente nos últimos anos.
O primeiro grupo de Dança do Ventre que formei (2006)
chamava-se “Amon-Ra”, fazendo
reverência ao Deus pagão Egípcio. O segundo grupo que formei foi o “Ventre de Ísis” (2013), numa
perspectiva pagã e ritualística. Apresentamos uma coreografia em que fazíamos
uma evocação a Deusa Ísis.
“Ó grande deusa Ísis
Deusa da fertilidade
Venha até nós com teu fogo
Que contém força
Dê-nos a água da vida
Deusa dos 10.000 nomes
Invocamos tua graça
Prestaremos esta homenagem a ti
NEHES NEHES NEHES!!
NEBIT ASSET !!!”
A minha primeira coreografia de Tribal Fusion abordou o Deus
do Mar, transitando nas nuances das ondas e evocando sua força e poder, numa
perspectiva totalmente pagã. Para mim, o paganismo sempre foi um lugar de
oposição ao Cristianismo, uma vez que, tudo que não era cristão, era perseguido
e demonizado sob a alcunha de “pagão”. Ser pagã é uma resistência!
Em 2013 realizei a 1º edição do Solstício das Deusas. O
próprio nome do evento já faz referência ao paganismo e os temas de cada edição
sempre faziam alusão ao mundo pagão, místico ou obscuro. O evento, atualmente
(2020), já está em sua 10º edição e já contou com edições que abordaram temas
como: Thelema, Paganismo, Submundo e afins.
Em 2014, apresentei um improviso ritualístico em homenagem à
Deusa Hecate, a deusa das bruxas. A apresentação partiu de um ponto de vista
evocativo através da dança:
Grande mãe da noite, Tríplice, bela e
divina!
Venha até a mim nessa noite
Com suas tochas traga luz a meu ser
Com sua chave abra novas e belas
portas.
Hoje dançarei a ti!
As velas e os incensos serão acesos!
Tu que reside em minha morada
Será sempre lembrada e celebrada!!
Salve ó Εκάτη !!!
Particularmente, a Deusa Hecate faz parte do meu mundo
pessoal intensamente. Presente em meu submundo, de forma sombria e dolorosa,
motivando-me a lidar com meus demônios interiores e minhas sombras. Suas tochas
me guiam e suas chaves já me ajudaram a abrir diversas portas. Para ela já fiz
diversas apresentações e performances com Dança.
O mundo obscuro me apetece, equilibra-me e alimenta meu ser,
e é outro ponto de oposição, visto que a nossa sociedade ocidental, muito
influenciada pelo cristianismo, renega o lado escuro do ser humano. Entrar em
contato com os aspectos sombrios nos proporciona poder, força e
autoconhecimento. E isso é fundamental na busca pela evolução pessoal, coisa
que o cristianismo limita, diga-se de passagem.
Em 2015, juntamente com minha amiga de dança a Mary
Figueirêdo (Trupe Mandhala), lançamos um vídeodança, abordando temas sombrios e
místicos, intitulado “Evocações Ancestrais”:
Em meio a mãe natureza
duas almas adentram a caverna da sabedoria e mesmo na escuridão sedutora dos
profundos mistérios, a essência ancestral feminina é evocada! Que esta colheita
seja farta e prudente! Que os ventos tragam o frescor da liberdade e da vontade
e que sobre nosso solo raízes fortes, seguras e nutridas brotem! Mergulhamos no
abismo mais profundo da terra e da natureza para encontrar-nos com a nossa
verdade e assim nos permitimos dançar com o movimento cósmico!
Em 2016 apresentei, pela primeira vez, a coreografia “Lilith,
a Lua Negra”, que, através de um ritual obscuro, busquei trazer uma atmosfera
sombria e poderosa, exaltando a rebeldia de Lilith em renegar a submissão, o
patriarcado e o cristianismo.
Em 2017, organizei, juntamente com minhas alunas, o espetáculo
“A descida de Inanna ao mundo inferior”, que abordava de uma forma pagã e
sombria a ida de Inanna ao inferno encontrar a sua irmã Ereshkigal. Nesse
espetáculo eu dancei Ereshkigal, a rainha do inferno e foi uma das coreografias
mais marcantes em minha evolução pessoal. No mesmo ano apresentei a coreografia
intitulada “A estrela da manhã”, que abordava um ritual a Lúcifer, em busca de
entrar em contato com aspectos de luz e sapiência.
Muitos trabalhos foram feitos em parceria com outras
professoras, e, também, com minhas alunas. A maioria com foco no lado sombrio e
místico, como: “As bruxas de Salém”, “As divindades da natureza”, “Mãe terra”,
“Deusa Morrighan”, “Evocação”, “Sol Negro”, “Odes a Pan”, “Yuki Onna”,
“Summoning the Gods”, entre muitas outras.
No momento caótico da pandemia, produzi alguns vídeos de
dança, dentre eles duas performances valem destaque aqui: Jurupari e Alucarda.
Jurupari é um espírito/deus do povo indígena,
filho do sol, muito cultuado por nossos ancestrais em terras brasileiras
(região norte e nordeste, mais frequente no Alto do Rio Negro). Ele costumava
avisar, através da magia onírica, quando estava por vir um mau presságio, e,
também, era considerado o criador das flautas. Mas com a chegada dos
portugueses, essa entidade passou a ser demonizada e associada ao mal, ao Diabo
cristão. Os jesuítas deram a ele a característica de demônio. Nesta
performance, busquei ritualizar a essa entidade em pleno Solstício de Inverno,
baseado na atuação da natureza, no qual as noites são mais longas que os dias,
e, consequentemente, a escuridão é maior durante esse período. Busquei o
encontro com essa entidade sombria do submundo indígena, através de um ritual
com características "pagãs", baseado na religiosidade
indígena/brasileira (como uso de flauta, maracás e tambores), em um processo de
descida ao meu mundo inferior. Além do caráter religioso/cultural e espiritual,
trouxe também o político na tentativa de decolonização, ou seja, dissolução das
estruturas de dominação configuradas pela colonização e desmantelamento dos
principais dispositivos, que nesta ideia é o Cristianismo imposto em nossas
terras. A apresentação visa defender a liberdade religiosa e tenta desconstruir
a demonização atribuída às práticas antigas, escuras e nativas do nosso país.
Alucarda, a filha das trevas, é um filme
mexicano e trata de terror sobrenatural, blasfêmia e profanação. Dirigido por
Juan López Moctezuma, conta a história de Alucarda, uma jovem amaldiçoada em
seu nascimento, que residia em um convento religioso até que despertou forças
demoníacas, agindo de forma profana, libertina e blasfema... Nesta
performance, faço uma homenagem ao filme e à personagem Alucarda.
Minha posição Anticristã na arte da Dança não é uma imposição
religiosa e intolerante, pelo contrário, é uma posição em defesa da arte laica,
livre e que tenha como princípio o respeito ao diferente.
Algumas dessas apresentações estão postadas em meus canais:
~ A bailarina Carol Freitas, de Brasília/DF, interpretou
Lúcifer e compartilhou outros dois trabalhos, que ela considera “renegados”:
~ A bailarina Patricia Nardelli, de Porto Alegre/RS,
incorporou o próprio Diabo nas performances Ayin (sem vídeo) e XV. Aprecie:
Ayin – Fotografia de Carolina Disegna
~ Bianca Brochier (Porto Alegre/RS) profanando as imagens
cristãs e ensinando o que é a verdadeira santidade:
~ Finalizamos esta celebração com performances diversas, cuja
temática envolve as várias faces do adversário.
É importante salientar que não tenho
acesso às ideologias destas bailarinas.
Os vídeos foram escolhidos por serem
representações do Próprio: o Lúcifer, o Satã, o Mefistófeles, o Capeta, o Coxo,
o Nosferato, o Ronca e Tussa, o Sem nome, o Tinhoso, o Dois Chifres, o “Demonho”,
Aquele que não se nomina, o Sete Cruzes, o Chifrudo!
Divirtam-se!
Ego Umbra (EUA):
Elizabeth Zohar (Israel):
Hölle Carogne (Porto Alegre-RS):
Irkutsk (Rússia):
La Catalina (Rússia):
Long Nu (Argentina):
Luna Atra (Ucrânia):
Maureen (EUA):
Hölle Carogne e Michelle Loeffler (Porto Alegre-RS)
Raven Ebner (EUA):
Zkauba (Rússia):
Hölle Carogne (Porto Alegre-RS):
Obrigada à todos que dividiram seus trabalhos com a Venenum e
também aos que estão dispostos a conhecer outras formas de pensar!
Hölle Carogne (Porto Alegre-RS) é a alma por detrás do humano, do rígido. É curiosa, entusiasta e selvagem. Uma admiradora da arte, da dança, da literatura e da música.O "esquisito" a seduz. Seus poemas e seus movimentos estão impregnados de ideologias, de crenças. Compassos pouco convencionais, cheios de misticismo, de oposição, de agressividade.Ocultismo, caos e luxúria sendo mesclados às suas criações e retratados de forma crua, orgânica, uterina.