por Esther Haddasa
Para a Coluna desta rodada,
trago um evento que falou sobre o próprio Coletivo Tribal.
Na semana dedicada ao Tribal
Fusion no Instagram do Éden Estúdio de Danças, nossa anfitriã e idealizadora do
Blog Aerith Tribal Fusion, cedeu uma entrevista incrível que hoje ficará registrada em seu
próprio lar!
Antes de ser conhecido por
Coletivo Tribal, o "Blog da Aerith" já tinha alcançado o status de maior blog
sobre tribal fusion da América Latina, reunindo para a crescente comunidade e
curiosos desta dança material de pesquisa seguro, entrevistas e links de
apresentações. Hoje conta com 28 profissionais que se revezam na produção de
conteúdo como artigos e resenhas.
1- Como surgiu essa
iniciativa de catalogar a cena tribal fusion ?
O blog surgiu em
2010 de maneira despretensiosa e informal, inspirado pelas discussões das
comunidades do Orkut e Tribe.net, dos blogs da Aline Muhana (RJ) e Mariana
Quadros (SP) e alguns Multiply da época.
Acho que foi só em
2012 que eu comecei a ter uma visão mais centrada do blog e menos de
hobby. Eu observava um universo amplo das bellydancers no mundo virtual e
o Tribal tinha pouca coisa. Eu queria conhecer mais as pessoas que faziam
a nossa cena crescer, conhecer suas trajetórias, suas histórias, suas motivações
para seguir esse caminho da dança, suas perspectivas sobre o que era essa
dança, o que acontecia em cada canto do país, pois parecia tudo tão distante! Eu
queria que a gente se aproximasse de alguma forma.
Nessa época, eu decidi criar a série de "entrevistas", pois percebi que
tinha poucas entrevistas de tribalistas nacionais e latino-americanas
disponíveis na internet. Logo depois, veio o "Destaques
Tribais", que foi resultado de 3 ideias:
- Eu já tinha uma seção
pequena no blog com esse nome, em que eu a trazia um vídeo de alguém,
cuja performance eu tinha gostado muito para compartilhar no blog;
- Eu também já
fazia o "Retrospectiva Tribal", que era um post de final de ano,
através de uma retrospectiva dos principais acontecimentos que eu tinha acesso.
- E a última foi inspirada numa enquete que tinha no blog Amar El Binaz. Eu
decidi unir isso tudo para criar o "Destaques Tribais, cujo intuito
principal sempre foi de divulgar e conhecer essa dança.
Por isso, a ideia
da enquete era que o público indicasse os trabalhos do ano, pois como a cena
cresce muito rapidamente, eu não tinha ciência de tudo que acontecia; além disso, seria
muito injusto esses trabalhos não aparecerem por falta de conhecimento da
existência deles. A segunda motivação da enquete era homenagear, de forma
singela, os artistas que faziam nossa comunidade se movimentar com o
apoio do público. O objetivo nunca foi competição, e sim divulgação, criar
espaço e fomentar a cena.
À medida que o blog
crescia, outras categorias foram criadas por necessidades que me eram
apresentadas pelo público do blog. Então, criei seções para divulgar as aulas e
eventos também com esse intuito do blog ser uma plataforma para dar suporte à
nossa comunidade que se desenvolvia pelo Brasil à fora.
2 - Como foi
registrar o Tribal Fusion acontecendo no Brasil?
Muita coisa mudou
em 10 anos. A cena mudou e eu mudei nesse processo também. hahaha Mas é muito
saudosista rever o que aconteceu na época que eu comecei na dança (e logo
depois com o blog) e acompanhar esse crescimento de perto.
Cada grupo
procurava ganhar espaço e respeito em suas cidades/estados como forma de dança
e arte. Eu vejo que esse início não foi nada fácil, ainda mais para as
cidades que estavam longes do eixo Rio-São Paulo.
3 - Quando e como você entendeu que o Blog extrapolou o registro pessoal e
ganhou uma dimensão documental ?
Muito antes de
conhecer o Tribal, eu já tinha blog e fotolog. Então, sempre gostei
de escrever e compartilhar minha ideias, sentimentos e impressões ( e
antes da internet ser algo comum na nossa vida, sempre gostei de escrever e
trocar cartas com meus amigos).
Em 2010, inspirada
por vários blogs de Tribal e dança do ventre da época, decidi criar um para
falar sobre o Tribal, mas também sobre outras coisas que eu gostava naquele
momento. "Panda-chan" era meu apelido naquela época e eu
utilizava esse nickname no Orkut, então decidi chamar o blog de Panda no
Sekai ( "O mundo de Panda", em japonês).
Um ano depois,
acabei percebendo que o meu amor pelo Tribal ofuscava todos os outros assuntos
e decidi focar nisso: em ser um blog voltado para a cena Tribal
brasileira. Então, a partir daí troquei o nome para "Aerith Tribal
Fusion", que passou a ser o nome artístico que eu decidi utilizar.
O blog começou a
ficar sério em 2012, quando eu criei categorias para conhecermos melhor a cena,
entender o que se passava em cada canto desse Brasil, como nossa comunidade se
desenvolvia.
Eu percebi que
tinham muitos assuntos para dialogar e compartilhar com a comunidade e que
muitos deles eu não tinha propriedade e/ou conhecimento para falar. Então
decidi convidar pessoas que eu já acompanhava o trabalho pelas redes sociais e
sabia que elas iam desenvolver com amor, carinho e profissionalismo. A
partir de 2014, eu abri o blog para colunistas e cada um trabalhava com um tema
específico. Nessa mesma época também surgiram colunistas para representar
suas localidades através das resenhas de eventos, proporcionando essa ponte,
essa aproximação do que estava sendo realizado na cena Tribal de suas cidades.
Em 2017, eu percebi
que o blog precisava de um novo nome que representasse o que ele tinha se
tornado, pois eu sentia (e sabia) que não era mais o "blog da Aerith"
e sim uma força de expressão da nossa cena brasileira, principalmente. Foi
apenas em 2020, por conta da quarentena, que passei por um processo de
reflexão, esclarecimento e coerência em todas as áreas do meu trabalho e
o blog foi um deles. Nesse tempo, minhas amigas e colunistas do blog me
mostraram a importância de voltar com esse projeto e chegamos em um nome que
agora parece óbvio, mas não foi assim quando estive procurando. hehehe Então,
desde agosto de 2020, passamos a nos chamar "Coletivo Tribal" (clique aqui para lr sobre a mudança do nome).
4- Como você vê o
amadurecimento da cena tribal e toda esta produção de artigos e resenhas que
endossam o conteúdo do Blog?
Eu acho fascinante
e empolgante!
Quando eu entrei no
Tribal o conhecimento era muito escasso e de difícil acesso. Não existiam
versões em pdf para download dos artigos, livros e revistas como temos hoje.
Então, as pessoas precisavam encomendar ou ir até os EUA para adquirir o seu
exemplar do Tribal Bible, por exemplo. Quem não tinha condições financeiras
para isso, ficava caçando conhecimento nas redes sociais da época ,
como comunidades brasileiras de Tribal no Orkut, nas comunidades sobre
essa dança na plataforma estrangeira Tribe.net, no Multiply e Myspace para
entender um pouco sobre a dança. Existiam alguns poucos blogs dos EUA que
traziam conhecimentos e reflexões sobre a cena, como o blog Bellydance
Palladin da bailarina Asharah (que hoje utiliza seu nome
original, Abigail Keyes), além dos blogs brasileiros estarem começando a
fazer esse movimento em prol de compartilhar conhecimentos, impressões,
reflexões, etc, como o "Divagações Tribais e afins" da Mariana Quadros
(SP), o "ATS/ITS" da Aline Muhana (RJ), outros blogs que vieram
posteriormente e que ajudaram a fomentar a pesquisa foram: "Tribal
Mind" da Ana Harff ( brasileira que era da Shaman Tribal e se mudou para a
Argentina), "Nossa Tribo & Nossa Dança" da Carine Würch (RS),
"Tribalices" da Natália Espinosa (SP) , "Tribal Archive" da
Melissa Souza (SP) , "Pilares do Tribal" da Maria Badulaques (SP),
entre outros.
Eu amo ler, estudar
e pesquisar. Ter os colunistas do blog nesse movimento em prol da comunidade
brasileira de compartilhar seus saberes, facilitar o acesso, estimular o estudo
teórico, pra mim, é cativante. Fazemos esse trabalho com muito carinho para
ajudar a nossa comunidade a ter uma base, estimulando a curiosidade, vontade
de estudar e buscar por mais conhecimentos!
Sinto que esse
amadurecimento bateu na porta da consciência com dois fatores que nos obrigou a
dar atenção à necessidade do estudo teórico. Vou deixar para desenvolver na
próxima questão.
5 - Quais suas
perspectivas e avaliação da comunidade Tribal nacional?
Pegando o
raciocínio da questão anterior, minha perspectiva como pesquisadora e
observadora da nossa cena é que, apesar de haver pessoas interessadas em criar
espaços para compartilhar conhecimentos, sejam eles de formas informais (blogs,
podcasts, vídeos, etc) ou formais, através do desenvolvimentos de artigos do
âmbito acadêmico e ações em universidades, tudo isso ainda era muito devagar e
isolado no contexto do estado/região em que aquele "divulgador" se
encontrava.
Mas sinto que 2020
foi um marco nesse sentido, pois foi um ano que veio como uma lanterna no meio do
escuro, direcionando o caminho e mostrando que estávamos perdidos, cada qual no
seu canto e que, agora, mais do que nunca, precisávamos nos unir de alguma
forma. Dois fatores impactaram drasticamente nossa comunidade de forma difícil
de lidar e que pela indignação, se tornaram em várias ações positivas.
O primeiro, em
janeiro de 2020, quando Carolena Nericcio (EUA) decidiu retirar o termo
"Tribal" do nome dessa dança. Isso gerou todo um conflito interno em
cada indivíduo que se identificava com o nome 'Tribal' ; e externo
pelas discussões mundiais acerca do assunto pelo modo em que isso foi anunciado
e "resolvido", sem se preocupar com as consequências para o resto do
mundo.
Alguns meses depois
(final de março de 2020), o mundo todo entrou em quarentena por conta da
pandemia do Covid-19. Todos fomos obrigados a migrar seus trabalhos,
estudos, práticas de lazer, ou seja, boa parte da nossa vida social para o
universo virtual, às pressas, sem adaptações, de forma abrupta. Portanto,
a quarentena fez com que buscássemos esse SABER, que está sendo a forma de
manter nossa mente saudável frente a tantas calamidades acontecendo.
O lado positivo
disso tudo foi que o modo online permitiu com que nos aproximássemos quanto
comunidade. Acho que esses fatores proporcionaram uma fase de maior
introspecção da nossa cena que começou a se voltar mais para si, quanto cena
brasileira e a se indagar mais intensamente quais são os nossos problemas
e necessidades sociais, econômicos e mercadológicos? Como solucionar essas
questões?
Além disso, houve a
necessidade de estudar e pesquisar; concomitantemente, cresceu a vontade
de divulgar, instruir, esclarecer, desmitificar, politizar, enfim, criaram-se
várias ações nesse ano turbulento para que as pessoas compreendessem
melhor vários aspectos importantes da nossa dança que estavam em colapso.
Vários grupos se mobilizaram em se reunir, discutir e buscar possíveis caminhos
para os problemas apresentados. Cada um com seu enfoque, seja ele
histórico, social, mercadológico, etc. Dessa maneira, surgiram o Hunna Coletivo,
Simpósio Praksis, Coletivo Guia, Fórum Tribal, Coletivo Drusa, entre
outros.
Acredito que esse
movimento nacional, em busca de conhecimento para aproximar os membros de cada
localidade desse país continental e fortalecer a cena, é importante. Eu espero
que esse ambiente online que criamos como ferramenta de comunicação, estudo,
pesquisa, fomentando rodas de conversas, eventos, palestras, etc continue a
existir mesmo após a pandemia. Esse lugar que criamos não é mais opcional, ele
é necessário! Espero que essa força e determinação brasileira
continue ainda mais enraizados e o olhar para as questões e necessidades do
nosso povo e da nossa cultura não se percam. Não é tempo de retrocesso (apesar
de estarmos em confinamento e nos sentirmos dessa forma por causas das
incertezas que nosso país enfrenta)! Nunca se produziu tanto de forma conjunta
como agora! Portanto, é tempo de continuarmos esse movimento, em prol de uma comunidade
mais forte, unida e saudável para quando voltarmos ao presencial, o primeiro
passo seja cheio de sentidos.
--
Aerith também é idealizadora e diretora do
festival Underworld FusionFest, carioca, hoje residindo e dando suas aulas em Curitiba.
Teve sua iniciação na dança
em 2008 com a professora Kristinne Folly.
Para concluir fica a
afirmação: Vida Longa ao Coletivo.
Esse espaço de construção e fundamentação para
nossas danças.
Aerith, em nome de todas que
fazem parte desse projeto incrível posso dizer:
Obrigado! Continue!
| Montagem das imagens por
Paula Marumo para Éden Estúdio de Dança.
Inté!
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Resenhando-PR
Esther Haddasa (Londrina-PR) é mineira de Conselheiro Lafaiete, graduada em Moda pela Universidade Estadual de Londrina, membro fundadora da cia Caravana Lua do Oriente, formada em danças árabes pelo método da Escola Rhamza Alli – Londrina ,PR. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>