[Resenhando-RS] Conexões - 2019 & 2020

 por Anath Nagendra

Saudações gauchescas, galera! 

Por conta do hiato que o blog teve em 2019 e da pandemia que ainda assola 2020, minhas primeiras matérias serão focadas em resumir um pouco do que rolou nestes dois anos. E aproveitando que estou pegando o canudo da querida Karine Neves aqui na coluna, resolvi abrir os trabalhos justamente com os eventos dela! Vamos lá! ;)

Em dezembro de 2019 rolou a mostra Conexões, idealizada pelo Espaço de Danças Karine Neves, e em 2020 houve a segunda edição, desta vez on-line e não-restrita ao Rio Grande do Sul! Tive o imenso prazer de ser convidada a participar de ambos, com meu grupo em 2019 e como solista em 2020. Nos dois casos, Karine demonstrou maestria na organização e direção, além da presença e atenção às convidadas e alunas.

Do espetáculo presencial, pude assistir quase todas as performances, da coxia ou da plateia. Teve solos, teve grupos, teve performances políticas, dark fusion, tribal brasil, ritualístico... ou seja, um pouquinho de todas as faces que as fusões podem nos oferecer!

Já a versão on-line, mesmo com as restrições impostas pela pandemia, não deixou a desejar. Expandindo a mostra para além do RS, tivemos a presença de vários artistas de peso do país, ainda que houvesse uma ênfase aos artistas do Sul - como Aline Pires, também colunista daqui do blog, com o Resenhando-SC, que inclusive mencionou o Conexões em seu último post!

Abaixo segue uma mini-entrevista* com Karine, pois creio ser interessante sabermos mais sobre o background dos eventos, principalmente nestes tempos de adaptação ao universo on-line. ;)

[RESENHANDO-RS] Como foi a experiência de produzir o Conexões em 2019, e qual a diferença para a edição on-line de 2020 (fora o óbvio)?

[KARINE NEVES] Conexões, em 2019, foi o primeiro show da escola, então tinha que ser muito especial. E foi, em cada detalhe! Acho que todo mundo tem noção do quanto é difícil fazer uma produção independente, e sabe que acabamos assumindo múltiplos papéis pra fazer tudo acontecer. Eu não tinha experiência com produção, mas tive o privilégio de contar com pessoas muito talentosas ajudando e apoiando o evento. Por exemplo, todos os bailarinos participantes receberam mimos produzidos pela aluna Larissa, da Tríplice Store e Danieli, da Miss D, que providenciaram um sorteio de brindes. Tivemos Nando Espinosa na arte gráfica, na fotografia e co-produção, Luhcas Registros Audiovisuais na cobertura do evento, Jayro Dance no backstage, Michele Bastos na recepção. Só gente boa! 

[KN] A ideia para este ano de 2020 era ampliar este projeto, realizando uma edição do Conexões que unisse todas as professoras de tribal da cidade e arredores, incluindo show e workshops, a exemplo do que já acontece em outras regiões. Como sabem, a pandemia adiou este plano. Decidi, então, realizar a segunda edição na forma de Show Online. E foi incrível! Tivemos o primeiro show reunindo profissionais do tribal da nossa região, contando também com a participação de convidados especialíssimos de outros estados (Kilma Farias, Marcelo Justino, Rose Monteiro e Aline Pires), levando a arte pra dentro da casa das pessoas, num momento tão delicado, em que ela mais do que nunca se fez necessária. 

Legenda: a edição on-line contou também com uma breve apresentação de cada bailarina antes da respectiva performance. ;)

 

[KN] Essa foi uma experiência totalmente diferente da anterior, mas muito gratificante também! O Nando Espinosa Fotografia mais uma vez arrasou na edição, e a estreia aconteceu sem problemas. E, por mais que já tivéssemos assistido todo o vídeo, o friozinho na barriga foi semelhante ao de uma apresentação no teatro. Além disso, foi muito legal estarmos todos comentando em tempo real as apresentações e apreciando o talento dos colegas! Tivemos uma boa contribuição do público com a nossa Vakinha virtual, que foi dividida entre os artistas. O que me chateou foi que, apesar de todos os cuidados e testes com músicas, infelizmente, passado aproximadamente um mês, o vídeo [do espetáculo inteiro] foi bloqueado pelo YouTube pelos direitos autorais. 

 

[RESENHANDO-RS] O que te motivou a se aventurar na produção de eventos?

[KN] Quanto à iniciativa de fazer um evento, foi algo que aconteceu naturalmente. O nosso espaço de danças vinha crescendo, e quando me dei conta, estava com um grupo lindo de alunas, desenvolvendo trabalhos consistentes, com personalidade. Um grupo de pessoas bastante diferentes, mas ao mesmo tempo com afinidades ideológicas, políticas, filosóficas. Senti a necessidade de reunir em um evento todos os trabalhos que vínhamos construindo. Ao mesmo tempo, decidi convidar alguns colegas especiais para abrilhantar mais ainda o nosso espetáculo. Há muito tempo tenho o sonho de ver a nossa cena da dança mais unida. Acredito que há espaço para todos, e que nos fortalecemos quando nos unimos. Desde que despertei para isso, tenho me esforçado pra contribuir, de alguma forma, para a criação da realidade que eu desejo.

 

[RESENHANDO-RS] Com a pandemia ainda sem uma perspectiva clara de controle, quais são os planos pra 2021?

[KN] Infelizmente, fica mais difícil fazer planos. Mas a intenção de realizar um evento maior, promovendo o tribal na nossa região, permanece. Enquanto isso estou aproveitando para estudar produção cultural e me qualificando melhor pra poder reunir presencialmente toda essa galera linda em breve, em grande estilo!

 

* A entrevista foi levemente editada para fins de clareza e compressão.

Segue mais alguns vídeos de ambos os eventos para vocês curtirem uma amostra! ;)


Até a próxima!


 ______________________________________________________________________________

Resenhando-RS



Anath Nagendra (Esteio-RS)
 é bailarina, professora, coreógrafa e pesquisadora de Danças Árabes, Raja Yoga e, em especial, Tribal Fusion e suas vertentes. Hibridiza sua arte e percepção com grandes doses de psicologia, espiritualidade e ocultismo. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>

>

Resenhando-RS por Anath Nagendra

 Coordenação Região Sul - Núcleo RS:

Anath Nagendra
é bailarina, professora, coreógrafa e pesquisadora de Danças Árabes, Raja Yoga e, em especial, Tribal Fusion e suas vertentes. Hibridiza sua arte e percepção com grandes doses de psicologia, espiritualidade e ocultismo. Saiba mais em anath.com.br

















Colunistas convidadas anteriores:


Carine Würch - Moon Mother, Focalizadora de Danças Circulares Meditativas e Círculos Femininos, Professora de Hatha Yoga e de Dança Tribal & Fusões.

Iniciou seus estudos Dança Tribal em 2010, aos 31 anos, com Daiane Ribeiro. Teve oportunidade de fazer vários workshops de diferentes linhas dentro do Tribal: Bruna Gomes (RS), Fernanda Zahira Razi (RS), Joline Andrade (BA), Karina Leiro (PE), Krishna Sharana Devi Dasi (RS), Rebeca Piñeiro (SP) e Paula Braz (SP). E no ATS com Kristine Adams (EUA), Lilian Kawatoko (SP) e Gabriela Miranda (RS).  

Blogueira, artesã, pesquisadora do Tribal. 

"Quando conhecemos as raízes, criamos asas." (CW)

Blogs
Nossa Tribo & Nossa Dança 
http://nossatribo-fusoes.blogspot.com.br/



Karine Neves é médica veterinária formada pela UFRGS em 2007 e, desde 2008, dedica-se à profissão em sua clínica em Porto Alegre/RS. Mas o amor aos animais divide espaço em seu coração com a dança, que chegou bem antes que a veterinária na sua vida, aos 6 anos de idade, quando iniciou sua formação em ballet clássico. Em 2006 começou a estudar dança do ventre com Egnes Gawasy. Mas foi em 2008 que seus olhos brilharam ao conhecer a dança tribal, seguindo os passos da mestra Daiane Ribeiro e posteriormente Karina Iman. Em 2010 fez o 1º Curso Extensivo de Dança Tribal com o Grupo Masala, composto por Fernanda Zahira Razi, Daiane Ribeiro Bruna Gomes. Em 2011 começou a dar aulas de dança do ventre/fusão no Studio Al-Málgama, onde também fazia aulas regulares com Daiane Ribeiro e Bruna Gomes, e onde permaneceu como aluna e professora até 2013. Nesse ano inaugurou o próprio espaço de danças, onde até o momento ministra aulas de dança do ventre e Tribal. Karine apresenta um forte estilo ritualístico, e por ser filha e neta de bailarinas de dança cigana, também deixa transparecer essa influência em seus trabalhos. Sua grande paixão atualmente é o Tribal Brasil, o qual pesquisa a fundo desde 2014, e do qual é precursora na região Sul. Em 2015 foi convidada a palestrar sobre o tema no 1º Encontro VentrePoa. Para agregar e ajudar a construir uma dança com consistência, Karine também fez aulas de dança indiana, zambra, flamenco, sapateado, yoga, pilates e dança moderna.

Atualmente é integrante da 1ª turma do Curso de Formação em Tribal Brasil, por Kilma Farias (PB), criadora do estilo.

Para Karine a dança tribal é acima de tudo uma forma de autoconhecimento, de sentir-se conectada, seja com a sua “tribo”, seja com a natureza, com o que chamar de Deus ou consigo mesma.


Artigos
Clique no link desejado do menu acima para acessar os posts!

[Resenhando-PR] Paraná Mostra Online de 2020

 por Esther Haddasa

Para estrear essa coluna resolvi fazer uma resenha diferente, não sobre um evento, mas sobre o Mix de Lives e atividades que envolveram o Tribal Fusion do Paraná nesse conturbado momento restritivo a palcos e aglomerações.

Criatividade não faltou e o engajamento para manter viva a cena  trouxe a oportunidade de Mostrar, e amostrar, muitos trabalhos, debates e performances no que ficou registrado como o grande fenômeno das mídias, ainda no mês de maio, comecinho da quarentena oficial, com a até então ferramenta menos utilizada do Instagram a : LIVE, estendendo sua exponencial busca também para o Youtube.

Organizei esses eventos do Instagram em duas categorias:

  •  Mostras – Lives Completas que irei abordar nessa edição.
  •  Amostras – Coreografias ou trechos de coreografias, estudos, e falas postados no Feed ou IGTV – Aguardem!

A Primeira Mostra, Live Show, que assisti (até porque participei como representante do Tribal Fusion com a coreografia "Queima minha pele" do Bacu Exu do Blues) foi no dia 09/05/2020 pelo Instagram da bailarina e idealizadora do Festival Arabic, Dayane Leme - Londrina, PR com o título: Amigas Belly Dance. Desenvolta, a anfitriã apresentava cada convidada que após dançar lia os comentários e interagia com quem estivesse nas mensagens.

A Live contou com a presença da bailarina Hayal, residente na França, descrevendo brevemente a situação da pandemia no país daquele momento. Outra representante do Tribal Fusion que esteve na Live foi Janaina Nicolau de Maringá-PR, que naquela ocasião apresentou um solo de Dança do ventre estilo cabaré.

No dia 22/08, Dayane Leme, trouxe novamente o Tribal Fusion para suas Lives, tendo como representantes e fazendo sua estréia como solistas as bailarinas Flávia Araújo com um Tribal Fusion Tango e Miriam Borges com um Tribal Brasil, ao som de Johnny Hooker.

 

Infelizmente estas Lives não estão mais disponíveis, o que as tornaram eventos únicos. 

Ana Paula Fávaro, de Curitiba-PR, entre Julho e Setembro, organizou semanalmente sob os títulos Live Cultural e Live Show, apresentações que eram divididas entre três momentos

- Entrevista da convidada- onde ela contava um pouco de sua trajetória;

-  Apresetação de Dança;

-  Finalizava com uma pequena explicação sobre o estilo com dicas de passos .


Os destaques do Tribal foram:


 Mariana Tachibana (27/07):

| Link para assistir a apresentação |

 

Myma Fávaro e a estreante Andressa Falkovski (21/08):

| Link para assistir as apresentações |

 

 Yasmin Zayn (25/08):


O Solo Rock bellyfusion com espada da Yasmin:

| Link para assistir a apresentação |

No dia 28/08, Ana Paula Medeiros, deslumbrante e versátil, fez uma dupla apresentação começando com "Tombei" de Carol Conka e fechando com "Moongate" de Samel.

| Link para assistir a apresentação |

 A anfitriã Ana Paula Fávaro apresentou-se no dia 02/09.

| Link para assistir a apresentação |

 

Para finalizar, Aerith Asgard promoveu Lives entrevistas.

A primeira aconteceu em 11/05 com Hölle Carogne (RS) onde abordaram e tiraram dúvidas sobre o Dark Fusion de forma muito leve e objetiva.

Essa Live ainda tem trechos disponíveis nos Stories da Aerith:

| Link para acessar |

 A outra Live aconteceu em 14/07 com o tema: "Desenvolvimento de Personagens na Dança", com Keila Fernandes. As anfitriãs deliciaram os participantes com uma retórica / debate assertivos e embasados sobre consistência de pesquisa / referências e performances no Tribal Fusion , seguem links das duas partes:

| Parte 1 | Parte 2 |


Adaptar conteúdo prático e teórico em eventos virtuais foi e está sendo uma alternativa corajosa ante todo o desânimo que poderia se instalar, afinal, esses eventos demandam energia, trabalho e dedicação tanto quanto os presenciais, e a garantia de uma audiência mínima, assim como eventos presenciais, não existem. Mesmo não tendo despesas percebidas (como alugueis , cachês , deslocamentos, etc)  não quer dizer que esses eventos virtuais não custem caro só porque são gratuitos, já que eles são a gentileza disponibilizada de todo o investimento  de anos de estudo, experiência e tempo entregues a nós, pelo único propósito da manutenção e motivação à dança.

Portanto, concluo com o pedido: Assistam as Lives !

Inté!

______________________________________________________________________________

Resenhando-PR


Esther Haddasa (Londrina-PR) é mineira de Conselheiro Lafaiete, graduada em Moda pela Universidade Estadual de Londrina, membro fundadora da cia Caravana Lua do Oriente, formada em danças árabes pelo método da Escola Rhamza Alli – Londrina ,PR.  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>
>

Resenhando-PR por Esther Haiddasa

Coordenação Região Sul - Núcleo PR:

Nascida em Conselheiro Lafaiete - MG começou seus estudos em danças árabes em 1999 com a Professora Kênia Najma.

Chegou no Paraná em 2001 em Cianorte onde começou a dar aulas de dança do ventre para iniciantes na Escola Corpus.

 2002 mudou-se para Londrina e já em 2003 passa a integrar o grupo de professores de dança do Projeto Cultural CEPIAC (Centro de Produção Independente de Artes e Cultura) dirigido por Darlene Kopinski então coordenadora geral do FILO (Festival Internacional de Londrina). Durante sua permanência no projeto Esther teve a oportunidade de conhecer danças afro com o bailarino Carlos Afro-MG, dança maracatu e cavalo marinho com Pedro Salustiano-PE, além de participar da produção dos espaços de grupos como: Grupo XIX de Teatro, CIA Azul Celeste, Pepê Nuñes, Cacá Carvalho entre outros.

Em 2008 volta a estudar regularmente as danças árabes folclóricas, clássicas, ATS e Tribal Fusion na CIA Rhamza Alli, o qual permaneceu até 2017 concluindo formação nessa escola.

2017 participa da criação da CIA de Danças Caravana Lua do Oriente – atual

Ingressa no pole dance em 2017.

2019 Volta a dar aulas de dança com enfoque no Tribal Fusion e fusões a convite de Neyva de Oliveira na escola A2 e na escola de Danças Árabes Dayane Leme – atual.

 Em constante busca por aprimoramento e novas perspectivas de olhares para a dança Esther já fez Workshops com: Houssan Ramzy e Serena Dance, Hayal Danse, Lu. Hassany, Igor Kischka, Alessandra Al Faied, Marcia Nuriah, Alla Kushnir, Shalimar Mattar, Andrea Gaia, Rebeca Pinheiro, Mariana Quadros, Jill Parker, Hölle Carogne e Gilmara Cruz.


Artigos

 

  •  

Clique no link desejado do menu acima para acessar os posts!

[Sankofa] A leitura embranquecida de corpos negros na Dança

Por Samara Makal  (Rio de Janeiro-RJ)
Colaboração especial para coluna Sankofa
Coordenação: Monni Ferreira

Desde a primeira apresentação feita no Brasil por Zuleika Pinho em 1954, passando pelo trabalho de Shahrazad Shahid nos anos 70 e tendo seu auge nos anos 2000 com a transmissão da novela O Clone, a Dança do Ventre percorreu um longo caminho dentro da cultura artística brasileira, sendo influenciado pelos corpos, ritmos e leituras locais. De Sambuka (solo percussivo de Artem Uzunov) até as recentes performances fusionadas com músicas afro-brasileiras; a leitura ensinada às bailarinas que adentram a Dança do Ventre permanece sofrendo enorme influência de outros estilos embranquecidos como o Balé e o Jazz. Sendo assim, o que essas influências geram de diferença na leitura dos movimentos em corpos pretos e brancos?

Se você é uma bailarina preta ou bailarino preto já deve ter sido instruído a “segurar” seus movimentos para que sua leitura fosse mais suavizada e fluida de forma análoga aos movimentos de bailarinas clássicas. Pés em En dedan e En dehor criam o costume da base onde seu corpo irá reverberar movimentos milimetricamente calculados para a leitura musical Belly Dance, principalmente das conhecidas Rotinas Orientais (já não tão orientais assim).

Imagem ilustrativa da posição básica dos pés aplicada nas danças clássicas

Contudo, as diferenças que envolvem nossos corpos perpassam pelo primeiro estranhamento da estrutura física do corpo árabe para o brasileiro. No Brasil, corpos pretos, não-brancos e brancos possuem diferenças que vão além do fenótipo e que podem pôr fim vir a trazer os debates que ocorrem de forma recorrente sobre bancas de concursos, didáticas de ensino, entre outros.

De acordo com os estudos realizados por Bejan, Jones e Charles (2010) em “The evolution of speed in athletics: why the fastest runners are black and swimmers white” (A evolução da velocidade em atletas: porque os corredores mais rápidos são pretos e os nadadores brancos), até mesmo em atividades de atletismo existem diferenças antropométricas (parte da antropologia que trata da mensuração do corpo humano ou de suas partes) entre pretos e brancos devido a uma diferença de 3% na posição do centro de gravidade. Com isso indica-se que pessoas pretas tenham um centro de gravidade acima, o que proporciona maior desenvolvimento na realização de atividades que exijam maior desempenho da parte inferior do corpo (no estudo é demonstrado pelo atletismo) enquanto que pessoas brancas possuem um maior desenvolvimento na realização de atividades com a parte superior do corpo (no estudo, demonstrado através da natação).

E cá estamos... nesse momento nos questionando sobre o porquê de uma dança de berço africano, e que tem como essência uma leitura musical que mais se aproxima dos nossos corpos, é ensinada no Brasil, onde pretos e não-brancos são maioria, através de uma base embranquecida que ao invés de nos estimular ao uso de movimentos que nosso corpo conhece através de uma ancestralidade inerente, somos instruídas a segurar nossos intensos quadris e nos adaptar a uma leitura mais clássica, mais “Belly”, tendo como referência maioritariamente pessoas com centros de gravidade mais baixos e consequentemente ocupando um maior espaço de notoriedade. Não faria mais sentido que nós ocupássemos esse espaço de visibilidade?

Mulher Núbia

Da mesma forma não podemos generalizar a mulher preta brasileira como um molde onde sempre teremos quadris e bundas avantajadas, até porque não é isso que faz uma bailarina ter uma dança de qualidade. O colorismo trouxe para os corpos pretos uma grande diversidade fenotípica e genética que é amplamente debatida dentro e fora do movimento negro, porém não estamos aqui para estabelecer um ‘negrômetro’ ou dizer quem é preto e quem não é e sim para dizer que corpos pretos possuem sim essa predisposição ao ritmo percussivo. Caso haja interesse, recomendo a leitura do artigo: “Preto, pardo, negro, branco, indígena: quem é o que no Brasil?” de Simone Freire (2019). 

E mesmo se focarmos especificamente em nossos corpos brasileiros, excluindo por um segundo os movimentos que aprendemos na dança do ventre; danças como o Samba, Carimbó e Jongo tem como raíz uma percussão  trazida por nossos ancestrais africanos e que nos é passada desde a infância, pois são danças que por muito tempo foram tidas como “coisa de preto” e mais comumente tidas nos subúrbios e periferias. Logo, nossos corpos (que podem vir a manifestar leituras de diversas intensidades) já possuem em sua memória muscular a naturalidade da leitura percussiva.

Mas a realidade é que essa origem da dança não nos é apresentada quando iniciamos nossa jornada na dança do ventre e suas fusões. Através de um fetiche “Jadiânico”, cria-se a imagem que uma bailarina deve ter cabelos longos, lisos ou ondulados, barriga chapada, busto e quadril modestos, figurinos luxuosos, mas principalmente... branca. Esse estereótipo reforçado por cartazes de shows de gala, casas de chás e concursos são na verdade um grande balde de água fria para nós que entramos na dança seduzidas por uma proposta de sororidade e sagrado feminino, mas que somos invisibilizadas pelo Mercado a ponto de não ter como referência para nossa dança uma maioria de bailarinas pretas.

Personagem Jade da novela 'O Clone'

Agora vamos propor um exercício de reflexão: Olhem para a foto abaixo, alguma professora já fez questão de mostrá-la para você? Quantas vezes você foi apresentada a imagens de mulheres árabes que não fossem as da Golden Age – que já em seu tempo possuíam o privilégio de uma pele mais clara que abriu o caminho para que elas tivessem a oportunidade de provocar as mudanças na dança que estudamos hoje – ou que não fossem mulheres brancas? Uma vez uma amiga me disse “Quem escreve primeiro é o dono da caneta”, então se quem escreve o material que lemos e estudamos são pessoas brancas, logo não é interessante pra essas pessoas que nós tenhamos consciência da real origem do que dançamos porque nos faria questionar o material teórico e prático que nos cedem e pior, questionar o espaço de visibilidade que essas pessoas ocupam em função do nosso preterimento.

Mulher Egípcia

Agora vamos pensar na nossa estrada como bailarina. Pense em todas as suas vivências dentro da dança e responda as perguntas abaixo:

  • Quantas vezes você já pensou em alisar seu cabelo (ou pediram para você alisar) para se encaixar no padrão existente em concursos ou coreografias de grupo?

  • Você já se viu constantemente ocupando posições de fundo ou canto de palco nas coreografias de grupo?

  • Já recebeu avaliações em concurso que mencionavam seu cabelo, seu corpo ou qualquer coisa da sua aparência mesmo que indiretamente para justificar desconto de pontos?

  • Quantas vezes você já se viu como a única pessoa preta dentro de um espaço de dança?

  • Qual posição você aparece na maioria das fotos de grupo: Fundo, canto ou em destaque no centro?

Tais questionamentos não têm como objetivo criar uma indisposição entre você e o seu local de estudo da dança, porém tem como objetivo muito direto cultivar um pensamento crítico para que não nos deixemos colocar em uma posição de submissão perante o Mercado, pois também é o nosso dinheiro que alimenta essas posições, então nós temos o direito de reivindicar que ele nos contemple como artistas e consumidoras da arte de outras profissionais.

Felizmente, desde 2018, nos juntamos em uma tomada de consciência simbolizada pelo Movimento Bellyblack. Através dele construímos espaços de poder e visibilidade preta para contrapor diretamente a prática de “Dividir e conquistar” utilizada pela branquitude e que nos separa e oprime, fazendo com que haja uma sensação de não pertencimento em uma dança que surgiu junto a nossa ancestralidade. O que faz crescer uma corrente de acolhimento e incentivo para a leitura que nosso corpo genuinamente se propõe a construir, além da aceitação da nossa diversidade estética, fenotípica e de pensamentos que fazem nascer novos debates que só tendem a nos empoderar e enriquecer.

Página da Revista Shimmie com artigo sobre Movimento Bellyblack

Faz parte da descoberta e construção do nosso corpo negro enquanto diáspora entender que vem da nossa ancestralidade a força que constitui nossa essência e que a ciência estuda e comprova que nosso centro de gravidade, ou seja, o que nos equilibra na vida, se aproxima do nosso coração e consequentemente do nosso sentimental. O que nos equilibra enquanto artistas é o sentimento vivo que emanamos em nossa dança, é o axé que reverbera em nossos quadris e a força da nossa raiz que evocamos a cada passo, giro e expressão que fazemos. Nossa estética expõe sem pudor o orgulho que temos de ser pretas e de nos posicionar com firmeza enquanto comentários, antes tão normalizados sobre nossa leitura de dança e aparência, se enfraquecem diante do reconhecimento inegável da nossa presença nesse espaço. Porque já fizemos entender que estamos aqui, somos muitas e temos uma dança de exímia qualidade que carrega em cada movimento a essência de nossos ancestrais.

Não podemos deixar que o embranquecimento da Dança do Ventre e de suas fusões apague o que temos de mais único e coletivo. A presença de corpos negros mostra a força da nossa comunidade e a influência que teremos para outras bailarinas e bailarinos que entrarem para a modalidade. Seremos nós a referência e motivação. Bellyblacks, avante!

______________________________________________________________________________

Sankofa 


Samara Makal (Rio de Janeiro-RJ) é bailarina, coreógrafa e professora de dança, iniciando sua trajetória na Dança do Ventre em 2015, possuindo aprimoramentos diversos em folclore e danças populares, além performances e afrofusões. Samara também é bailarina de Dança Cigana e Comunicadora Social com experiência em consultoria de marketing e produção audiovisual para dança.

______________________________________________________________________


Monni Ferreira (São Paulo-SP) entrou para o mundo da dança com 10 anos de idade e durante toda a sua trajetória nesta arte teve a oportunidade de vivenciar diferentes estilos de dança, como: árabes, contemporâneo, afro, moderna, street dance, brasileiras, flamenco, indiana, ballet, entre outras.Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>

[Tribal Brasil] As Iabás no Tribal Brasil através do método Laban

 por Kilma Farias

 

Dentro do Tribal Brasil, a inspiração vem também de arquétipos ligados às danças afro-brasileiras. Através das Iabás[1] Iemanjá, Iansã, Oxum e Obá essa construção pode ser mais bem observada, no sentido das intenções de movimento, subjetividades e atitudes geradas por cada orixá em diálogo com a individualidade da bailarina de Tribal e articuladas com outras hibridações de movimentos.

            Sobre a dança das Iabás no Xirê[2], Denise Mancebo Zenicola afirma que


O Estudo da Performance empresta insights importantes e abre campo para o entendimento intercultural, oferecendo questionamento crítico das práticas culturais nesse ritual, associadas aos aspectos da vida cotidiana. (ZENICOLA, 2014, p. 21)

             Ao pensar aspectos da vida cotidiana, podemos trazer o que Rudolf Laban chamou de Ações Básicas de Esforço. Estas foram estruturadas em oito ações com base na combinação dos Fatores de Movimento – Tempo, Espaço, Peso e Fluência (ou Fluxo).


As ações estão presentes em danças de qualquer tipo, folclórica, clássica ou contemporânea. Um salto provém da ação de saltar ou pular. As ações corporais são fáceis de serem compreendidas e a composição delas é excelente forma de introduzir as pessoas à dança. (MOMMENSOHN; PETRELLA, 2006, p. 128).

             Tendo em vista esse fácil acesso à compreensão da utilização das Ações Básicas em seu método, optei por esse sistema de análise dentro do Tribal Brasil. Mas para compreendê-lo, faz-se necessária uma breve explicação sobre Espaço, Peso e Tempo dentro da teoria de Laban.

            Laban nos diz que o Espaço de um movimento pode acontecer de modo direto ou indireto, também chamado de flexível. Quando há uma intenção clara, objetiva em mover, o movimento se caracteriza como direto. Quando não há uma orientação clara e o movimento se esboça como algo difuso, multifocal, o movimento é caracterizado com flexível ou indireto.

            No que diz respeito ao Peso, o movimento pode se desenvolver de modo suave ou firme, e todas as nuances entre os estados de tônus necessários para a ação. Quanto maior contração muscular, mais firme; quanto mais relaxamento, mais suave.

            O Tempo de um movimento em Laban pode ser súbito ou sustentado, e toda a gama de variações entre essas duas proposições. Caracterizando-se como súbito o movimento que ocorre num curto espaço de tempo; e sustentado, o movimento que ocorre num tempo longo, dilatado.

            Assim, apresento as Ações Básicas em Laban e suas implicações com os Fatores de Movimento Espaço, Peso e Tempo.

 

AÇÃO

ESPAÇO

PESO

TEMPO

Socar

Direto

Firme

Súbito

Pontuar

Direto

Suave

Súbito

Flutuar

Flexível/Indireto

Suave

Sustentado

Torcer

Flexível/Indireto

Firme

Sustentado

Talhar / Chicotear

Flexível/Indireto

Firme

Súbito

Pressionar

Direto/Indireto

Firme

Sustentado

Deslizar

Direto

Suave

Sustentado

Sacudir

Flexível/Indireto

Suave

Súbito

           

            Laban nos diz que:

Deuses que flutuam acima das águas demonstram no ritual, ou representação pictórica, uma atitude complacente em relação aos fatores de Tempo, Peso e Espaço no movimento. Flutuar é um movimento leve e flexível que espelha um estado de espírito de semelhante conteúdo. (LABAN, 1978, p. 44).

           

Iemanjá

                     Zenicola (2014, p. 107) nos fala da dança de Iemanjá na qual identifico a ação de Flutuar como a tônica do mover desse orixá, embora tenhamos a compreensão das várias faces de Iemanjá, assim como as várias personificações trazidas ao mundo, influenciadas pela subjetividade no corpo de quem a recebe. Essa correlação oferece subsídios para que a bailarina de Tribal Brasil se oriente pela ação de Flutuar em sua construção e seus possíveis desdobramentos, buscando pontuar a dança com pequenos contrastes de ação. 

            Pode-se ainda buscar em outras culturas representatividades que possuam simbologias semelhantes, como, por exemplo, lendas de sereias, deidades celtas das águas, e articular com o que é semelhante, complementar ou contrastante. A bailarina também busca em si o que flutua. Traz de seu mundo particular, da sua subjetividade para propor diálogos entre suas flutuações e a ação de Flutuar presente na dança de Iemanjá.

Na dança de Iemanjá não existem movimentos grandes, ampliados ou mesmo em alta velocidade, possivelmente como reflexo das características do orixá; o gestual das mãos lembra carícias na água, elemento do qual faz parte, empurrando-a para trás do corpo. Seu deslocamento é suave, ligeiramente contido, como se flutuasse ou caminhasse dentro da água [...] (ZENICOLA, 2014, p. 107).

            Laban nos diz que desde tempos remotos que o homem atribui sua ação de mover a impulsos divinos. Ele nos fala que “[...] os deuses eram os iniciadores e também os incitadores do esforço em todas as suas configurações. E, além disso, eram os símbolos das várias ações de esforço.” (LABAN, 1978, p. 45).

Havia deuses que talhavam, que lutavam contra o tempo e contra o peso com ligeireza e poderosa resistência e, não obstante, eram flexíveis no espaço, ou seja, facilmente se adaptavam às mudanças de forma. (LABAN, 1978, p.45.).  

Iansã
         

              A ação básica de Talhar aproxima-se da tônica dos movimentos de Iansã. A mudança faz parte do repertório de intenções desse orixá, assim como a ligeireza. Iansã é a senhora dos ventos e tempestades, e como tal sopra aonde quer e com a intensidade que quer. Ela chicoteia o ar dispersando energias negativas. Sobre aquele que corporifica Iansã, Zenicola diz que

Dança em impulsos e muda rapidamente de um a outro extremo, de humor e de desempenho corporal, num piscar de olhos, alternando movimento retos com curvos, breves corridas, giros em plano médio e alto, gritos. Sua dança assume constantes gradações de mudança na qualidade de peso, que varia fortemente, caracterizada pela mudança de força do movimento. (ZENICOLA, 2014, p. 103).


            A tônica em Iansã é a mudança. Daí a necessidade de buscar no Tribal Brasil movimentos mais ágeis para sua interpretação, mudanças de temperamento e intenção de movimento que produzem estados de presença variados. Um bom exemplo são os giros, pois tanto geram deslocamentos com trajetória em espiral, simbolizando o próprio furacão, como literalmente produzem vento no palco.

            Como já falamos, o Tribal propõe fusionar, hibridizar, traduzir; e esse processo se constrói a partir do atrito entre diversas expressões culturais. Por esse motivo, para a construção de uma Iansã no Tribal Brasil, pode-se buscar semelhança, por exemplo, nos povos berberes que vivem em constante movimento sendo nômades e também desenvolvem a dança com sabres, ou na tempestade de areia do deserto, o sirocco. Ao mesmo tempo, a bailarina deve estar sensível para perceber suas inquietações e inconstâncias, suas mudanças de humor e fazê-las dialogar na construção da sua Iansã pessoal pra o palco.

Obá

            Já para pensar a possível construção de uma Obá no Tribal Brasil, pode-se recorrer à ação de Sacudir. Vejamos o que diz Laban sobre essa ação:

As resplandecentes divindades da alegria e da surpresa são frequentemente caracterizadas, nas danças, por movimentos de sacudir e fremir. Aqui a sensação de leveza se casa a uma indulgência com espaço, que é evidenciada na flexibilidade e na plasticidade dos movimentos. Aparições e desaparições súbitas conferem aos movimentos de sacudir e fremir a sua luminosidade (LABAN, 1978, p. 45).

            O Sacudir é uma ação que envolve movimentos de Tempo súbito, Peso leve e deslocamentos indiretos, flexível. A “alegria e a surpresa” destacadas por Laban podem identificar-se com a virilidade guerreira de Obá e com a surpresa ao perceber a reação repulsiva de Xangô ao vê-la oferecendo-lhe a própria orelha cortada. Construção mitológica que sustenta a rivalidade entre Obá e Oxum, visto que esta última havia influenciado Obá a cometer tal ato.

 

Obá é considerada um orixá feminino muito enérgico [...] essa dança, assim como o orixá, revela uma alternância característica, através da corporalidade, que ora curva-se enganada por uma insinuação da sua rival, ora empunha uma arma à frente do seu corpo, pronta a guerrear. (ZENICOLA, 2014, p. 110).

 

            Ao construir uma Obá no Tribal Brasil, pode-se, por exemplo, associá-la a Neith, deidade egípcia que é mostrada como uma mulher atlética e ágil, também com forte ligação com o universo da caça. No processo de exteriorização, pode-se buscar a relação consigo mesmo, com o amor próprio, a força dentro do feminino, o “caçar-se” a si mesmo. 

Oxum

            Para abordar Oxum, destaco a ação de Deslizar. Assim como a água que desliza entre si mesma e o lodo nas profundezas dos rios. Laban nos diz que Deslizar é um:

[...] movimento sustentado e direto com toque leve. Ao deslizarem, o homem e sua divindade envolvem-se na experiência da infinitude do tempo e da cessação do peso da gravidade, embora estejam ambos atentos para a clareza dimensional de seus movimentos. (LABAN, 1978, p. 44).

            Ser claro e direto nos movimentos, buscando ausência de peso através de trajetórias contínuas de linhas bem definidas de braço, por exemplo. Gerar experiência da cessação do tempo é possível através da utilização de uma música sem muitas variações, onde a brincadeira do variar acontece no movimento do corpo do bailarino, causando a sensação de que o tempo parou, de que o corpo dançou há bastante tempo, mas a música ainda está lá da mesma forma, suspensa no espaço.

            Esse recurso musical é utilizado nos rituais religiosos de matrizes afro-brasileiras que envolvem dança. Os toques dos orixás, alguns pontos de candomblé, assim como cânticos indígenas, buscam suspender o tempo, manter os participantes na sensação de infinitude, a sensação do tempo eterno que se faz contínuo, que se faz unidade com o ser que dança.

A expressividade de sua dança é composta por um fluxo livre de movimentos, leveza, um tempo desacelerado e contínuo. O fraseado coreográfico contém um balanço específico, que inclui o aumento gradual da intensidade expressiva. Oxum se move em harmonia espacial, usando movimentos de alcance médio, ou seja, seus movimentos não são tão expansivos ao projetar-se para fora do seu eixo corporal. (ZENICOLA, 2014, p. 106).

           Esse Deslizar pela música e pelo espaço pode ser um ponto de partida para se trabalhar a construção de Oxum no Tribal Brasil. O bailarino também pode buscar pontos semelhantes, complementares ou contrastantes com outras personalidades míticas das águas doces como a Iara ou Mãe D’água, Ondinas e Nereidas.

Zenicola (2014, p. 110) propõe uma tabela de atitudes e intenções de movimentos para as Iabás, não como um modo reducionista de abordar a dança desses orixás. Mas como um ponto de partida para o entendimento das tônicas em cada corporeidade.

 

 

Ação

Ação Básica

Ação secundária

Peso

Tempo

Espaço

Fluência

Iansã

Talhar

Forte

Flexível Expandida e/ou Recolhida

Bater Ativar Chicotear

Firme ou suave Enérgica

Súbita Curta duração

Direta Imediata Flexível e linear

Livre

Oxum

Deslizar

Leve Flexível Recolhida ou Expandida

Alisar Borrar

Suave Relaxada

Sustentada Prolongada

Expansão Flexível

Livre

Iemanjá

Flutuar

Leve Densa Recolhida

Mexer Remar

Suave

Sustentada Prolongada

Direta Flexível

Progressão Densa

Obá

Sacudir

Forte Recolhida

Roçar Agitar em trancos

Firme Enérgica

Sustentada Prolongada

Direta Imediata Linear

Progressão Controlada

Fonte: ZENICOLA, D. Performance e Ritual: a dança das Iabás no Xirê, Maud X: Faperj, 2014, p. 110

           

            Abordar corporeidades afro-brasileiras no Tribal Brasil é antes de mover externamente, mover o interno, a subjetividade. E essa interioridade vem atrelada há um legado histórico de bailarinas que retratam deusas que dançam. Podemos falar de uma possível memória coletiva dançada, tendo no corpo a centralidade dessa experiência.

            Recordar ancestralidades e dar corpo a essas deusas é dar corpo há um processo sociocultural de luta pelo empoderamento da mulher. É levar diversas formas de pensar o feminino e sua sensibilidade para um lugar de visibilidade que é o palco. Questionar o social através da arte é, para o bailarino de Tribal Brasil, uma forma de ser no mundo e com o mundo.

            Ao tomar conhecimento das Iabás, abre-se a oportunidade de conhecer uma tradição com toda a sua complexidade simbólica e espiritualidades atreladas. Assim, o respeito nutre o processo investigativo dentro da pesquisa performativa. Conhecendo, vivenciando e articulando reelaborações com o corpo, o bailarino desenvolve uma espiritualidade através do ultrapassamento do humano ao reconhecer-se na alteridade e ao tomar contato com visões de mundo diversas. Desse modo, a dança colabora para a formação do sujeito pela prática de si mesmo e pela consequente flexibilização de conceitos, através da articulação de culturas e consequentemente de visões de mundo, compreensões de corpo e de subjetividades.

  


[1] “Orixás femininos do candomblé de origem iorubá, as Iabás, conhecidas no Brasil pelos nomes Iansã, Oxum, Iemanjá e Obá.” (ZENICOLA, 2014, p. 17).

[2] “Festa pública dos terreiros de candomblé e, no momento que acontecem, intermediam a comunicação com os orixás”. (ZENICOLA, 2014, p. 17).


Referências Bibliográficas 

LABAN, Rudolf. Domínio do movimento. São Paulo: Summus, 1978.

MOMMENSOHN, M; PETRELLA, P. Reflexões sobre Laban, o mestre do movimento. São Paulo: Summus, 2006.

ZENICOLA, D. M. Performance e ritual: a dança das Iabás no Xirê. Rio de Janeiro: Mauad X: Faperj, 2014.

_____________________________________________________________________________

Tribal Brasil - Identidade no Corpo


Kilma Farias (João Pessoa-PB) é bailarina, professora, coreógrafa, produtora e pesquisadora na área da dança. É formada em Licenciatura em Dança e Jornalismo pela Universidade Federal da Paraíba. Mestra em Ciências das Religiões pela UFPB, desenvolveu dissertação voltada para a relação entre presença cênica e espiritualidade na Dança Tribal.  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 


LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...