[Papo Gipsy] Musicalidade Cigana: A Cultura Escrita de uma Etnia

 por Sayonara Linhares


Como prometido, foi dada a largada para um pequeno semestre de estudo sobre a musicalidade cigana, onde vamos começar por um tema muito vasto e ainda no mundo da dança cigana pouco explorado. 

A história real da Roma (o termo preferido para as pessoas comumente referido como "Gypsy") é uma saga longa, complexa e dolorosa de uma cultura rica e variada, que foi transmitido principalmente através da tradição oral. Esta história é repleta de mal-entendidos e preconceitos.

Ian Hancock, Romani erudito e representante da Organização das Nações Unidas para a União Internacional Romani, explica:

"A compreensão da identidade cigana entre os não-ciganos é vaga, o que geralmente resulta em prejuízo. Há muitas razões para isso: a associação dos ciganos com a aquisição Islâmica das partes do mundo cristão; preconceito de cor, especificamente a associação das trevas com o pecado; a natureza excludente da cultura cigana, o que não incentiva a intimidade com não-ciganos e cria suspeita por parte dos excluídos; adivinhação, que inspirava medo, mas teve de ser invocado como um meio de subsistência, em resposta à legislação restringindo o movimento Romani e escolha da profissão."

O início da história da Roma é clara. Acredita-se, porém, que o grupo original, que pode ter contados 12.000 ou mais, viajou para a Pérsia do norte da Índia no século décimo. Mesmo neste momento no início de sua história, eles foram identificados como músicos. É espantoso que este grupo tem mostrado a força para sobreviver e manter sua cultura diante da terrível opressão. Em uma cultura com pouco legado escrito, a música tem servido a importante função de reforçar e transmitir a tradição.

A música é uma vertente fundamental no tecido da vida, marcando não só importantes celebrações e festas, mas na vida cigana que servem para expressar séculos de experiência amarga. Na Hungria, onde mudanças nas condições sociais têm ameaçado as formas musicais tradicionais que haviam sido transmitidas através de muitas gerações, os ciganos têm, em sua determinação de preservar os principais elementos de seu modo de vida, também conseguiu ajudar a preservar um patrimônio que tem estaria em perigo de extinção. E, ironicamente, dada a história dolorosa dos Ciganos o número destas tradições entre os elementos mais reconhecíveis não só da arte, mas da cultura cigana húngara também. E assim, em face de séculos de esforços para oprimir e até mesmo erradicar os "estranhos familiares" em um mundo inteiro diáspora-a população que formam hoje a maior minoria na Europa (estimado entre seis e doze milhões de pessoas) -os Roma triunfaram através da força de sua cultura. É esta cultura que ajudou a alimentar as inúmeras obras brilhantes e apaixonados que ajudaram a tornar a música húngara conhecida em todo o mundo e também eternamente entrelaçados com suas inspirações Roma.




______________________________________________________________________________

Papo Gipsy


Sayonara Linhares (Florianópolis-SC) é proprietária da Casa Z – Cultura e Dança Cigana de Santa Catarina e professora de dança, pesquisadora incansável desta rica cultura, onde tem como objetivo propagá-la de forma fiel, respeitando seus costumes e tradições. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Vida com Yoga] O recomeço e o medo do tempo

 por Natane Circe

É dito que para se realizar algum objetivo é necessário prayatna (esforço) e kala (tempo). Que é preciso dedicação para conseguir o que deseja, já é conhecimento de todos, porém, nosso relacionamento com o tempo muitas vezes atrapalha a ação do empenho, fazendo com que nossos objetivos sejam muitas vezes deixados de lado. Por deixarmos nossos objetivos em segundo plano, o medo do tempo nos volta a assombrar. Quanto tempo foi perdido na tentativa de realização do objetivo? E se recomeçarmos? Quanto tempo a mais iremos perder? E o tempo que se passa entre questionamentos e aflições? 


De acordo com o Yoga o tempo está sempre em movimento, e ele é eterno. Sempre estamos a olhar o passado com nostalgia, por mais difícil que ele tenha sido, e passamos a olhar o futuro com ansiedade. Sempre, desejando mais tempo, entendemos que ele passa, apenas passa. É como se olhássemos kala como algo que não nos pertencesse. 

É interessante tentar mudar nossa relação com o tempo. Se kala está em movimento, ele permite a mudança, ele auxilia no crescimento. O tempo é o ventre onde tudo acontece. Onde tudo nasce, morre e renasce. Não existe vergonha ou medo em recomeços. Tudo que foi feito e que vai acontecer são frutos de Kala (ou Kali, devido sua forma feminina). Nada foi em vão, a experiência do tempo nos permite o fortalecimento de estruturas mantendo-nos em pé para o, enfim, cumprimento dos nossos objetivos. E esses objetivos requerem prayatna (esforço) e kala (tempo).


Kali, a Deusa do Tempo



______________________________________________________________________________

Vida com Yoga

Natane Circe (São José do Rio Preto-SP) é bailarina e professora de Tribal Fusion, atuando também como instrutora de Hatha Vinyasa Yoga, na qual é formada desde 2013 no curso reconhecido pela Aliança do Yoga. Também é praticante de Ashtanga Vinyasa Yoga e estudante da filosofia védica, entre outras vertentes do yoga.  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 



[Resenhando-SC] Atividades e eventos online durante a pandemia

 por Aline Pires

Muitos devem ter visto o meme “Que saudade de ir ao teatro, né minha filha?”. Sem ir ao teatro tanto para assistir ou para realizar espetáculos, e sem poder organizar haflas e apresentações informais em seus estúdios, os profissionais buscam nas atividades online uma forma de suprir a necessidade do contato do público com a arte, integrando as alunas e colegas bailarinas em lives, challenges, e shows gravados que são postados no youtube.  Por conta da pandemia, não estamos realizando eventos com a mesma frequência, colocando-os mais para o fim do ano, porém aqui nesse Resenhando irei mostrar o que anda acontecendo na forma online, e nos próximos, irei focar também em eventos passados dentro deste período que o blog ficou fora do ar, então tudo será relembrado aqui! Lembrando que temos uma variedade de mostras online e lives pelo país, e altamente recomendo assistirem os trabalhos dos seus profissionais favoritos nas redes sociais. Confira aqui dois acontecimentos online em Santa Catarina:


Tribal ATS® Live Duet Show por Cintia Vilanova, com alunas do estúdio Raqs Florianópolis

A professora Cintia Vilanova e alunas integrantes do Sangha FCBD® Style se apresentaram em um live show no instagram no início da pandemia. São elas: Lívia Gomes, Elenira Santos, Carol Araújo e Ana Terra de Leon. Segundo Cintia Vilanova, “Cada uma dançou uma música comigo de repertório lento aplicando o sistema de improviso do estilo em duplas, dentro da possibilidade de lives compartilhadas do instagram. Foi uma experiência incrível, e mesmo com tantos ajustes necessários, a gente conseguiu realizar as trocas de liderança, colocar movimentos que amamos e sentir o poder desse estilo na sua essência: o improviso coordenado em grupo, no caso, em duplas.” Aqui vai mais uma idéia para professoras colocarem em prática os aprendizados das alunas de forma online, motivando assim a turma a usar figurino durante a pandemia (todas com saudade!) e testar seus conhecimentos com o acompanhamento da professora.







Fusion challenge por Aline Pires, com alunas do La Lune Noire Estúdio de Dança

Resolvi montar um desafio online para minhas alunas no instagram, colocando-as em evidência e dando aquela motivada nos estudos. Este aqui foi um deles, a idéia era que cada uma continuasse a dança de onde a última pessoa parou, com a música "Sage" de Beats Antique. Tem várias ideias de challenge que as professoras podem realizar com as alunas; além de possivelmente atrair novos praticantes, os challenges tornam a rotina das aulas mais divertida e integram as alunas com suas colegas, além de aumentar o engajamento das redes sociais da professora.




Irei mencionar aqui também de forma resumida minha participação no show Conexões Tribal Online Show (organização de Karine Neves). Como faz parte do Resenhando do RS, não farei a resenha deste show, mas aguardem que ele deve aparecer na coluna do Rio Grande do Sul!

 

Não deixe de acompanhar bailarinos que estão realizando suas mostras online! Principalmente porque em shows não presenciais a questão do ingresso é bastante diferente da forma presencial. Então, caso tenha condições de colaborar com as vaquinhas dos artistas, pense nisso como um ingresso da mesma forma que seria se você fosse ao teatro para assistí-los. Além de assistir shows, estamos tendo a oportunidade de estudar com diversas pessoas do país e do mundo através da videoconferência, portanto continue seus estudos com um profissional caso tenha essa possibilidade, sua dança agradece!

 

Obrigada e até o próximo!


_____________________________________________________________________________

Resenhando-SC


Aline Pires (Florianópolis-SC) é bailarina e professora de dança oriental árabe e fusion bellydance/tribal fusion natural de Florianópolis, Santa Catarina e proprietária do La Lune Noire Estúdio de Dança. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Índia em Dia] Interculturalismo

 por Raphael Lopes

 Kathak repaginado sob a influencia da estética ocidental

Olá queridos leitores.

É com muita alegria que reergo minha pena para escrever um pouco sobre aquilo que fazemos e produzimos no palco, compartilhando idéias e pesquisas para fomentar sempre um dançar cada vez mais consciente e produtivo. O período conturbado em que nos encontramos no cenário atual de uma pandemia impactou profundamente nossa experiência como "fazedores de dança" - seja como professores (uma vez que tenhamos migrado para plataformas online) ou como performers (sem eventos para participar).

Muitos se viram sufocados pela falta de saídas, mas outros fizeram suas próprias saídas e encontraram nesse cenário novas possibilidades de se produzir arte. Pude particularmente atender alunos que antes não se animavam para aulas onlines, pois essa nem de longe era uma realidade. E agora, não apenas mantivemos os alunos nessas novas plataformas, como pudemos agregar quem antes estava mais distante.

Pude coreografar em parceira com bailarinas de outros estados, e oferecer cursos com lotação máxima, e o mais interessante de tudo, pude participar da iniciativa do Fórum Online de Danças Indianas, que gerou muitas discussões pertinentes ao cenário da dança, e das fusões em geral. Assinalo especificamente a questão abordada logo no nosso primeiro encontro, onde abordamos o Interculturalismo e Apropriação Cultural. Reproduzo aqui parte de minha fala introdutória ao tema, convidando todos a reflexão e lançando uma semente de boas novas para essa nova fase:

O Interculturalismo sendo discutido pelo viés da ética e da estética pode nos convidar a observar a história de como as danças clássicas indianas chegaram até a nós no Ocidente, especificamente aqui no Brasil nos pouco mais de três décadas de sua ocorrência em nosso país. Muito provavelmente a grande maioria do público teve seu primeiro contato com essas danças pelo contato indireto, por meio de produções culturais (como filmes ou documentários, quase sempre nos trazendo um pouco do exotismo das culturas asiáticas, como de costume nas produções estadunidenses e europeias). Ou ainda oriundos de outras práticas corporais como o Yoga ou a Ayurveda, ou atraídos pelas diferentes correntes filosóficas que ganharam grande atenção (comercial, inclusive) do Ocidente sobre a vasta cultura indiana.

A estética tradicional indiana influencia a dança e as artes em todo o mundo
Por qualquer via como tenhamos nos aproximado da cultura indiana temos que ter em mente que somos produtos de nossa própria memória cultural, e quase sempre a lente que usamos para observar uma nova cultura nos permite uma visão intercultural, pois partimos de nossas próprias réguas para mensurar o contato e impacto entre duas culturas.

Muito embora se compreenda que o aprendiz interessado em um novo estilo possa vir a obter uma compreensão sobre sua arte em tese e performance, muitas vezes vemos um movimento de aproximação entre fazeres artísticos distintos, dialogando artes performáticas, quase sempre gerando um novo produto, já distinto de suas fontes matriz.

Nos últimos anos vemos no Brasil um forte interesse pelas danças étnicas fusionadas, fortemente influenciados pela estética do estilo conhecido como Tribal Fusion oriundo das bailarinas norte americanas, que vieram nas últimas décadas mesclando estilos folclóricos diversos sob a denominação como danças do ventre, adereços indianos, posturas e floreios flamencos, numa formatação arrojada e claramente intercultural. Como professor e estudioso das danças clássicas indianas, tomei como parte de minha iniciativa profissional, um posicionamento próximo e presente a comunidade Tribal: fornecendo aulas técnicas e teóricas, proporcionando debates para inferirmos o que de fato foi fusionado, e quais critérios deveríamos tomar para além do puramente estético.

Seja como for, as danças surgidas dessa iniciativa podem ser entendidas como frutos de um interstício cultural, que podem - sem a devida discussão - criar um distanciamento cada vez mais silencioso entre duas danças e culturas distintas. E isso nos leva para um novo questionamento muito recorrente aos nossos tempos correntes: a problemática da apropriação cultural. O fazer arte envolve quase sempre a liberdade criativa, e a possibilidade de se criar novas narrativas a partir de símbolos já existentes de alguma forma. Até pouco tempo atrás não víamos discussões sobre “fantasiar-se” de outras personagens que geralmente em vida, fora do palco, possuem seus lugares de fala suprimido. E isso é algo que vemos surgir como fruto de uma nova consciência, mas mais ainda como uma nova urgência, se não reparativa, ao menos tentando trazer a reflexão e reduzir a reprodução dos clichês de outrora.

Até a próxima pessoal!


______________________________________________________________________________

Índia Em - Dia


Raphael Lopes (São Paulo-SP) é bailarino de dança clássica indiana Odissi e tem levado à dança aos cenários dos Festivais e Encontros nacionais defendendo seu caráter sagrado, conscientizando as novas gerações a buscar um aprofundamento tradicional evitando a macula à essa refinada e sofisticada forma de arte. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Flamenco - das origens à fusão] Vivendo a dança e dançando a vida

 por Karina Leiro


Quando fui chamada para voltar a escrever para o blog fiquei me perguntando que rumo daria a esta publicação, se seguiria do ponto onde parei, e inicialmente decidi que seria assim. No entanto, este momento de pandemia com todas as transformações, medos e dores que causou, fez com que minha escrita tomasse outro rumo.

Ao preparar uma oficina de movimento e expressão que ministrei no mês de agosto, entre outros materiais, voltei a ler Corpo Poético, O movimento expressivo em C. G. Jung e R. Laban e as coisas relidas vieram com outra carga de significado, devido ao momento que atravessamos. Nas minhas aulas online, adaptadas ao novo contexto, também foi ficando cada vez mais evidente a importância do contato com o nosso corpo. As aulas de dança, que naturalmente já traziam essa conexão e essas descobertas de si mesmo, ganharam uma importância ainda maior na vida das pessoas quando o isolamento as empurrou a ficarem sós, consigo mesmas. Também neste período, outras pessoas entraram num turbilhão de afazeres devido à mudança da rotina e ao acúmulo de funções, inclusive muitas afirmando que estavam trabalhando muito mais. O momento de dançar passou a ser, então, o único momento para si: momento de liberar as tensões, de fluir e respirar. 

No livro citado acima, Vera Lucia Paes de Almeida fala do Movimento Expressivo e se fundamenta, principalmente, na psicologia analítica de Carl Gustav Jung e nas teorias de Rudolf Laban. Jung defende que a criatividade, que o ser humano muitas vezes vai perdendo na medida em que cresce, não é privilégio dos artistas, mas é própria do humano e necessária à saúde psíquica de todos, provendo, inclusive, ferramentas para lidar melhor com as questões da vida. Sob a perspectiva Junguiana a arte em geral e consequentemente a dança, é vista sob o ponto de vista psicológico, criativo. Através do movimento, resgatamos o potencial poético, aquela capacidade que temos de nos surpreender e nos encantar perante a vida. Dessa forma, o trabalho de conscientização corporal possibilita o acesso à imaginação criadora e nessa perspectiva, a consciência envolve, além do pensamento, a sensação, o sentimento e a intuição.

Em Laban predominam os aspectos pedagógicos e artísticos do movimento, mas ele também afirma que, com o advento da formação da sociedade industrial e a mecanização da vida, nossa civilização perdeu o contato com a qualidade poética do movimento ao se preocupar apenas com suas funções práticas. Diz ainda que os desequilíbrios físicos e psíquicos decorrentes desse distanciamento da poética do corpo, podem ser recuperados pela prática de exercícios compensadores e da consciência do movimento, criando estados mentais poderosos.

Ao propor nas oficinas e nas minhas aulas regulares, atividades que contemplem essa abordagem, pude perceber o potencial para o desenvolvimento de jogos lúdicos surpreendentes e a ativação da energia criativa que resultou num colorido na performance dos alunos ou profissionais que participaram dessas práticas. Ao mesmo tempo, isso acaba por repercutir na vida, quando a força criativa ativada, leva a enxergar novas possibilidades. O contato com o corpo e a exploração das suas possibilidades nos leva a questões como: Porque nos movemos, sempre da mesma maneira nos mesmos planos, velocidades e intensidades? Então, na pesquisa de novas possibilidades no corpo, ele, o corpo, nos mostra que existem novas maneiras de se mover na vida e que a vida, sobretudo nos momentos de crise como agora, nos pede isso.

______________________________________________________________________________

Flamenco - das origens à fusão



Karina Leiro (Salvador-BA) é bailarina, professora e coreógrafa de Fusion Belly Dance e dança flamenca e certificada em FCBD® Style. Atualmente mora em Salvador onde atua na área da dança.  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Dançando Narrativas] Desenvolvimento de personagens para a dança: Mitologia e pesquisa

 por Keila Fernandes

Gina Lollobrigida como a Rainha de Sabá (1959).

A interpretação de personagens, especialmente as mitológicas, em coreografias é muito comum entre quem dança Tribal Fusion. No entanto, ainda vemos muitas representações equivocadas, rasas e caricatas.

Tais representações acabam ocorrendo por falta de um estudo mais aprofundado sobre o objeto a ser trabalhado, ou até mesmo como resultado do olhar ocidental sobre a cultura e a história de outras civilizações.

Por isso é importante conhecer os bem os aspectos com os quais queremos trabalhar em nossa dança.

E o que é importante saber antes de dançar um personagem?

A primeira coisa que temos de ter em mente é: Mitologia não é fantasia, nem sinônimo de mentira.

Mito é uma palavra grega que significa narrar, contar uma história para alguém que reconhece no contador autoridade sobre o assunto.

Essas histórias são narrativas sagradas usadas para explicar a realidade: a natureza, as instituições, costumes sociais, origem da vida e outras características do mundo humano.

E a mitologia é o conjunto e o estudo desses mitos. 

Os mitos foram e são partes importantes na formação de muitas civilizações, pois eles carregam muito mais que relatos fantásticos, eles carregam a história, a cultura e a identidade de um povo. 

O que chamamos de mito, constituiu (e constitui) a realidade para diversas culturas. Permeando seu cotidiano, e integrando outras esferas da vida.

Para os povos originários brasileiros e os praticantes de religiões de matriz africana, por exemplo, o mito integra suas realidades, não apenas na esfera espiritual, mas também como parte de sua identidade e de sua história.

 

Monni Ferreira como Exu. Coreografia: "O Guardião", apresentada no Underworld Fusion Fest (2018)

Outra coisa importante é ter sempre em mente que deuses e outros personagens mitológicos são representações de forças da natureza e características humanas, por isso são diversos e não devemos generalizá-los ou tentar encaixá-los nas nossas expectativas. É necessário conhecer tais aspectos e escolher quais serão representados na dança a fim de evitar caracterizações rasas e caricatas, pois isso esvazia e desvaloriza a dança.

As características escolhidas não devem ficar apenas na parte visual da apresentação. E quando usadas no figurino e maquiagem, devemos ter cuidado e compreender cada símbolo, e não utilizá-los de maneira aleatória.

Para uma coreografia não se tornar caricata é importante trazer o que se quer mostrar também para os movimentos, afinal, estamos falando de dança. A personagem deve se comunicar por meio da movimentação, da expressividade. E para isso é preciso também escolher uma música coerente com os aspectos da figura a ser interpretada. Então, atenção à letra e aos elementos presentes na música.

Tudo isso é importante para que sua dança seja capaz de contar uma história e interagir com o público. E para isso acontecer,  é necessário pesquisar de verdade. E pesquisar não é só procurar uma palavra chave no Google, ou ver vídeos no YouTube. Estamos falando de uma pesquisa mesmo, na qual se tem contato com materiais diversos, além do audiovisual. É buscar referências em artigos de especialistas no assunto, perguntar para pessoas que conhecem e entendem daquilo, ver documentários e filmes, ler livros, ouvir músicas. Enfim, buscar todo material necessário para te dar bases seguras de onde você pode começar a criar.

 

Ethel Anima interpretando um gárgula. International Tribal Festival "Neverending Story 2.0 - 2018

Trabalhar com mitologia pode não parecer, mas é complexo. E não deve ser diferente, pois estamos falando de outras culturas, outras maneiras de se ver o mundo. Isso nunca deve ser tratado de maneira leviana.

Sendo assim, o respeito, o bom senso e a pesquisa devem  ser as principais ferramentas para a construção de uma coreografia coerente e ética.


______________________________________________________________________________

Dançando Narrativas


Keila Fernandes (Curitiba-PR) é escritora, professora de história e  historiadora, especialista na área de Religiões e Religiosidades e História Antiga e Medieval. É aluna da bailarina e professora Aerith Asgard e co-diretora do Asgard Tribal Co. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 
>

Dançando Narrativas por Keila Fernandes


Dançando Narrativas

 Keila Fernandes, Curitiba-PR, Brasil

Sobre a coluna:

Interpretar um personagem na dança é muito mais que caracterizá-lo por meio de figurino, maquiagem e acessórios.

É necessário um conhecimento aprofundado sobre as características do mesmo, de modo a nos conectarmos melhor com os conceitos que queremos expressar e assim construir nossa apresentação.

Deusas, deuses, criaturas mitológicas, personagens históricas e até mesmo animais, são escolhas muito comuns feitas pelas bailarinas e bailarinos do Tribal Fusion e outras danças. Contudo, por muitas vezes, nos deparamos com representações equivocadas, baseadas apenas em estereótipos e conhecimento superficial do personagem em questão.

Na coluna Dançando Narrativas discutiremos sobre importância da pesquisa para o desenvolvimento de um personagem, com foco na mitologia.

Também trarei algumas análises de personagens mitológicos e as possibilidades de usá-los na dança.

Sobre Keila:

Keila é escritora, professora de história e  historiadora, especialista na área de Religiões e Religiosidades e História Antiga e Medieval. É aluna da bailarina e professora Aerith Asgard e co-diretora do Asgard Tribal Co.









Artigos

 Clique no título do menu acima para ser redirecionado ao artigo desejado. Boa leitura!

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...