[Flamenco - das origens à fusão] Vivendo a dança e dançando a vida

 por Karina Leiro


Quando fui chamada para voltar a escrever para o blog fiquei me perguntando que rumo daria a esta publicação, se seguiria do ponto onde parei, e inicialmente decidi que seria assim. No entanto, este momento de pandemia com todas as transformações, medos e dores que causou, fez com que minha escrita tomasse outro rumo.

Ao preparar uma oficina de movimento e expressão que ministrei no mês de agosto, entre outros materiais, voltei a ler Corpo Poético, O movimento expressivo em C. G. Jung e R. Laban e as coisas relidas vieram com outra carga de significado, devido ao momento que atravessamos. Nas minhas aulas online, adaptadas ao novo contexto, também foi ficando cada vez mais evidente a importância do contato com o nosso corpo. As aulas de dança, que naturalmente já traziam essa conexão e essas descobertas de si mesmo, ganharam uma importância ainda maior na vida das pessoas quando o isolamento as empurrou a ficarem sós, consigo mesmas. Também neste período, outras pessoas entraram num turbilhão de afazeres devido à mudança da rotina e ao acúmulo de funções, inclusive muitas afirmando que estavam trabalhando muito mais. O momento de dançar passou a ser, então, o único momento para si: momento de liberar as tensões, de fluir e respirar. 

No livro citado acima, Vera Lucia Paes de Almeida fala do Movimento Expressivo e se fundamenta, principalmente, na psicologia analítica de Carl Gustav Jung e nas teorias de Rudolf Laban. Jung defende que a criatividade, que o ser humano muitas vezes vai perdendo na medida em que cresce, não é privilégio dos artistas, mas é própria do humano e necessária à saúde psíquica de todos, provendo, inclusive, ferramentas para lidar melhor com as questões da vida. Sob a perspectiva Junguiana a arte em geral e consequentemente a dança, é vista sob o ponto de vista psicológico, criativo. Através do movimento, resgatamos o potencial poético, aquela capacidade que temos de nos surpreender e nos encantar perante a vida. Dessa forma, o trabalho de conscientização corporal possibilita o acesso à imaginação criadora e nessa perspectiva, a consciência envolve, além do pensamento, a sensação, o sentimento e a intuição.

Em Laban predominam os aspectos pedagógicos e artísticos do movimento, mas ele também afirma que, com o advento da formação da sociedade industrial e a mecanização da vida, nossa civilização perdeu o contato com a qualidade poética do movimento ao se preocupar apenas com suas funções práticas. Diz ainda que os desequilíbrios físicos e psíquicos decorrentes desse distanciamento da poética do corpo, podem ser recuperados pela prática de exercícios compensadores e da consciência do movimento, criando estados mentais poderosos.

Ao propor nas oficinas e nas minhas aulas regulares, atividades que contemplem essa abordagem, pude perceber o potencial para o desenvolvimento de jogos lúdicos surpreendentes e a ativação da energia criativa que resultou num colorido na performance dos alunos ou profissionais que participaram dessas práticas. Ao mesmo tempo, isso acaba por repercutir na vida, quando a força criativa ativada, leva a enxergar novas possibilidades. O contato com o corpo e a exploração das suas possibilidades nos leva a questões como: Porque nos movemos, sempre da mesma maneira nos mesmos planos, velocidades e intensidades? Então, na pesquisa de novas possibilidades no corpo, ele, o corpo, nos mostra que existem novas maneiras de se mover na vida e que a vida, sobretudo nos momentos de crise como agora, nos pede isso.

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Flamenco - das origens à fusão



Karina Leiro (Salvador-BA) é bailarina, professora e coreógrafa de Fusion Belly Dance e dança flamenca e certificada em FCBD® Style. Atualmente mora em Salvador onde atua na área da dança.  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

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