[Tribal Brasil] Brasil, estereótipos e preconceitos

 por Kilma Farias



Não tem como se negar a carga cultural pesada do colonialismo europeu sobre o Brasil. Séculos de submissão, racismo e exploração sexual são traduzidas em coreografias e discursos em torno do Tribal Brasil e Fusões com danças populares e afro-brasileiras.

O silêncio que se estabelece diante de coreografias que reduzem o Brasil a samba, banana, floresta, índio e mulatas desnudas é preocupante por dois motivos. O primeiro é que haja uma conformidade mórbida e histórica de que gringo nos vê assim mesmo e tá tudo bem. O segundo é que não se perceba (ou até perceba) e ainda se aplauda, reforçando ainda mais essa cultura do oprimido e explorado. Isso é percebido quando observamos os incomparáveis valores dos workshops internacionais com os nossos e como o público lota as salas de aula quando recebemos esses profissionais aqui no Brasil.

Assim, um paradigma vai se perpetuando sem ser questionado, dizendo que “bom é o que vem e fora”, ao ponto de se fazer considerável público enxergar a falta de respeito com tão rica cultura como algo ingênuo, engraçado, leve. Dizer que arte e política não andam juntos é desconhecer toda importância da arte no mundo e desconhecer as construções sociais que nomeiam épocas como por exemplo, o Renascimento, Iluminismo, Expressionismo, Modernismo, etc.


Portanto, aos que se aventuram a uma boa fusão brasileira, deixo aqui uma contribuição em 3 passos.

Primeiro, busque informações de fontes seguras sobre a comunidade ou manifestação popular que deseja fusionar. Faça uma pesquisa de campo, visite o lugar. Se você não puder conviver com essas pessoas nem por um final de semana que seja, assista documentários, suas danças, do que vivem, qual religião predominante. Uma dança é feita de pessoas e pessoas têm vida, costumes, ocupações, crenças, lutas.

Segundo, anote todas as suas descobertas num diário de bordo – um caderno que você possa consultar quando for desenvolver uma fusão com essa tal manifestação cultural pesquisada.

Terceiro, estude as danças e movimentos dessa manifestação cultural. Como o corpo se coloca no espaço, como os pés se organizam no chão, como o quadril se comporta, se os movimentos simbolizam algum gesto do cotidiano, em que época acontece, etc. E reproduza esses movimentos. Dance! Imite o mais próximo que sua corporeidade possa chegar. Repita, repita, repita. E só depois, busque pontos de intercessão e diferenças com as estéticas e poéticas do nosso Tribal. Assim, você terá condições responsáveis de traduzir uma dança popular ou afro-brasileira para nosso Tribal, ou Fusion Bellydance, como muitos têm atualmente nomeado.

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Tribal Brasil - Identidade no Corpo


Kilma Farias (João Pessoa-PB) é bailarina, professora, coreógrafa, produtora e pesquisadora na área da dança. É formada em Licenciatura em Dança e Jornalismo pela Universidade Federal da Paraíba. Mestra em Ciências das Religiões pela UFPB, desenvolveu dissertação voltada para a relação entre presença cênica e espiritualidade na Dança Tribal.  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Resenhando-CE] A dança ancestral dos ventres - Espetáculo Banat

 por Sarah Raquel

 Foto: Shaya Shandoval 

Em janeiro de 2020, aconteceu o Espetáculo Banat.

O Espaço Rayzel é composto por uma equipe de mulheres, que mergulharam profundamente na cultura árabe afim de encontrar facetas na mulher oriental e suas variadas expressões na dança. Arquétipos que se repetem em várias culturas, são estudados pelo viés da cultura árabe e o espetáculo tem a proposta de desvelar mistérios e alegorias que se construíram acerca da mulher do oriente.

Foto: Shaya Shandoval

Tive a oportunidade de participar neste espetáculo tão profundo e ao mesmo tempo simples, mergulhando no tempo e espaço, entre 6 histórias em ambientações e contextos diferentes, mas que compartilham em comum o protagonismo feminino. O elenco foi composto por dançarinas profissionais e amadoras com idades e biotipos diversificados.

A diretora e organizadora do espetáculo, Mel Rayzel (CE), sempre carrega ao palco muito além do estético com uma riqueza em cada detalhe, do figurino até a troca de iluminação no palco, trazendo uma sensibilidade no olhar ao representar cada arquétipo com muito cuidado.

Para quem gosta de conhecer mais sobre os processos, chamei à Mel Rayzel para contarmos um pouco sobre a montagem do espetáculo e seus desafios.

1- Porque “Banat” e qual a história da escolha do nome?

Mel Rayzel: Queríamos um nome dentro do idioma árabe, que tivesse um significado que dialogasse com o espetáculo envolvendo ancestralidade e heranças. Pesquisamos e fizemos uma lista de diversos nomes orientais, dentro deles estava Banat, que significa FILHAS. Foi unânime a escolha pois além de ser esteticamente bonito ele traz esse resgate ancestral.

Curiosidade sobre: o nome "banat" é bem presente na cultura Ghawazze. "Banat Mazin" é o nome de uma trupe de dançarinas ghawazzes, esse nome é bem presente na cultura.

2- Conta um pouco da sua fonte de estudos para montagem do Banat.

Mel Rayzel: O Banat é fruto de uma pesquisa de uma vida, surgiu de vários incômodos sobre como a imagem da dança do ventre é vinculada nas mídias e sobre essa tal "feminilidade" que tanto se associa a prática da dança do ventre. Desses incômodos surgiu a vontade de pesquisar outras histórias, pouco contadas, mas que são fundamentais para construção desse universo da dança do ventre/tribal que conhecemos hoje e adentrar em outras experiências corporais dentro do universo das danças orientais. Buscamos referência na história, na literatura, nas pesquisas acadêmicas, nos símbolos e espiritualidade, nas imagens (fotos, pinturas, desenhos) e nas nossas mestras (dançarinas que temos como guia e referência no estudo da dança e cultura oriental).

 

Foto: Shaya Shandoval

3- Por último, mas não menos importante: qual foi o maior desafio durante o processo do espetáculo?

Mel Rayzel: Tive três grandes desafios, que são bem comuns para quem organiza espetáculos:

A questão financeira.

Geralmente as pessoas que organizam eventos acabam arcando a maior parte dos custos, por não conseguir editais ou patrocínio. Acaba sendo necessário esse planejamento tanto da organização como das alunas envolvidas.

Sempre é um desafio, pois sempre queremos investir no melhor: em figurinos mais elaborados, equipamentos de projeções, iluminação melhores e entre outros. Mas trabalhamos no que dá dentro do nosso teto.

Pessoas na produção do espetáculo.

Por não termos patrocínio, trabalhamos dentro do que podemos dentro do nosso limite com nossas professoras do Espaço Rayzel, de forma mais equilibrada o possível. Acaba que além de dirigir, preciso coreografar e cuidar da montagem do palco. Mas ainda estamos aprendendo ao longo do caminho e quem sabe nos próximos, possamos otimizar nossos processos e até mesmo contratar pessoas para cada função.

 

Trabalhar um elenco grande de dançarinas de diversos níveis, de amadoras à profissionais.

É sempre um desafio ter o cuidado de elaborar coreografias e administrar os horários de ensaios do espetáculo diante da rotina das alunas. A proposta do espetáculo desde o começo foi trazer a diversidade de mulheres, corpos, idades e vivências diferentes, trazendo “um tempero à mais” ao espetáculo.

 

Para quem ficou mais interessado(a), um pouco do que aconteceu no Espetáculo Banat:

|Instagram do Espaço Rayzel| 


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Resenhando-CE


Sarah Raquel (Fortaleza-CE) iniciou os estudos em danças orientais com a dança do ventre em 2015 e logo se redescobriu na vertente dark fusion, para melhor se expressar dentro desse estilo buscou estudar tribal fusion e o dark fusion. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Entrando na Roda] ATS® ou FCBD® Style? Uma experiência pessoal.

 por Natália Espinosa

Quando foi anunciada a mudança de nome do nosso estilo de improvisação coordenada, muitas pessoas (eu, inclusive) foram contra. É realmente muito complicado para nós, que estamos tentando viver do estilo, sustentar uma cena ainda muito recente, mostrar para nossas alunas e colegas novas o quanto vale a pena mergulhar nessa forma de dança, viver ao sabor das decisões da comunidade estadunidense, que funciona sob outras dinâmicas. Por ser uma dança vinda dos EUA, nossa comunidade brasileira, respeitosa, humilde e ainda insegura, sente que é preciso acatar tudo o que vem de lá, questionando apenas timidamente.

A verdade é que muitas de nós não recebemos essa notícia como algo positivo, seja por razões de mercado, seja por razões mais íntimas. De minha parte, eu me manifestei contrária à mudança por entender que o nome “tribal” é muito importante para entendermos as origens de nossa dança e o que estamos fazendo. A resposta de Carolena foi: “se a mudança ainda não funciona no seu contexto, você pode continuar usando o nome ATS e fazer a mudança no seu tempo”. Dessa forma, assim como algumas colegas, eu insisti no nome ATS. Mas uma conversa com minha professora Mariana Quadros me fez repensar esse nome por outra luz.

O nome American Tribal Style foi criado pela dançarina Morocco e descrevia essa nova forma de fazer dança do ventre que estava surgindo nos EUA. Antes do formato de Carolena se estabelecer e vir a ser a primeira forma de dança oficialmente chamada de Tribal, grupos que foram influenciados pelo Bal Anat de Jamila Salimpour se descreviam como “tribal”, “California tribal” ou “American tribal”. Não havia ainda a característica altiva e os braços fortes emprestados do flamenco ou a presença da influência das danças indianas no corpo das dançarinas, mas a estética dos figurinos e da disposição e desenhos de palco eram distintas do “cabaret belly dance”.

Ao final dos anos 80 e no início dos anos 90, as trupes de ex-alunas de Carolena e de pessoas influenciadas pelo FCBD também chamavam seu estilo de ATS, embora o formato de improvisação específico de cada grupo pudesse diferir do formato do FCBD. Como exemplos, podemos citar o BlackSheep Bellydance (antigo United We Dance) de Kajira Djoumahna e o Gypsy Caravan, de Paulette Rees-Denis. Foi apenas mais tarde, por volta dos anos 2000, que Carolena passou a expressar com mais intensidade seu desejo de que o nome ATS se referisse apenas ao seu formato, o que se consolidou com o registro do nome, e todas as trupes que dançavam um formato diferente do FCBD precisaram encontrar outro termo para definir seus trabalhos. O termo que acabou sendo abraçado pela comunidade foi ITS.


Levando esses pontos em consideração, tirando o protagonismo da polêmica em torno do nome “tribal”, realmente faz mais sentido nomear o formato do FCBD como “estilo FCBD®”. Porque é isso o que o formato é, e é esse estilo que é o mais disseminado no Brasil. Quase não conhecemos quem faça improvisação coordenada em grupo fora dos moldes do FCBD aqui em nosso país.

Entendo que o estilo feito pelo FCBD é parte do ATS, mas que nem todo ATS seria esse estilo, historicamente. Por isso resolvi adotar a mudança, embora ainda use a palavra “tribal” para definir a estilização de dança do ventre que pratico.

E você, aderiu à mudança ou não? Compartilhe suas ideias com a comunidade, é muito importante estabelecermos uma comunicação eficiente para que a cena brasileira cresça!

Beijinhos e até mês que vem!

 

*foi minha escolha não usar o ® em todas as vezes que os nomes ATS e FCBD apareceram.


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Entrando na Roda

Natália Espinosa (Campinas-SP) é dançarina e professora de Estilo Tribal de Dança do Ventre e ATS®.Tornou-se Sister Studio FCBD® em 2013 e está cursando o programa The 8 Elements™ de Rachel Brice. Natália orienta o Amora ATS ® e participa do TiNTí, grupo profissional de ATS® composto por sua professora Mariana Quadros e por Anna Pereira. Sua grande paixão é ensinar e seu palco é a sala de aula.  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 


[Resenhando-SP] Tribal e ATS na quarentena

 por Irene Rachel Patelli

Quarentena vigorando em São Paulo desde março e como fazer com os eventos, aulas, oficinas, etc?

Pois é. A pandemia trouxe uma realidade que é avessa ao que aprendemos no ATS sobre estarmos juntas, unidas, dançando em grupos, ela veio e chacoalhou a todos. Mas com essa nova realidade também vieram novas alternativas e a galera se recriando e reinventando. E assim, embora o baque, o povo voltou com tudo em aulas, shows, oficinas tudo online e muito se tem feito. Um exemplo é a participação de grupos de ATS, cada uma na sua casa dançando juntas, houve também uma porção de coreografias que foram postadas como desafios para afastar o fantasma da tristeza de estar longe das salas de aula e palcos que tanto amamos.


Coreografias passadas pela professora Dayeah Khalil de Santos (SP)

Abaixo o Ptah Dance Group que tirou o primeiro lugar na mostra AADC (Amigos dos Animais Dançam e Cantam) pela causa animal.

  

Estúdios como o Symbios Tribal, o Estúdio Fairuza e muitos outros, e várias/os professoras/es se adaptaram para aulas on-line, cursos, oficinas entre outras várias atividades que andam acontecendo, tudo pela internet. 

Professora Fairuza e algumas de suas alunas a todo vapor nas aulas on-line.

(Com os sorrisos mais lindos porque dançar é vida, saúde e felicidade. ❤ )

Curso com certificado pela professora Dayeah Khalil de Santos (SP) com aulas gravadas.


Para alguns, tanto professores quanto alunos, houve o problema da adaptação e foram testados muitos programas de conferência, alguns optaram por aulas gravadas, outros on-line. Houve alunos que adoraram poder fazer aulas em casa, outros que preferem estar junto à turma na sala de aula porque em casa sozinho é bem diferente da baguncinha da sala de aula, professores que curtiram poder acessar pessoas que não podiam fazer aulas por morar muito longe, outros que não se adaptaram por toda uma questão técnica como por exemplo as correções e a preocupação com o aluno fazer algo que possa prejudicar ou machucar alguma parte do corpo e por aí vai um monte de prós e contras. Mas não existe certo e errado, o que existe é a palavra do momento
“adaptar-se”.

Infelizmente, há o porém de quem não tem internet ou possui uma internet muito ruim, já que muitas pessoas tem trabalhando “home” ou usando mais a internet de casa por não  poder sair e, por consequência, causando grande instabilidade nas redes de bairros residenciais;há também o problema da falta de espaço que é bem complicado. Mas vamos aos poucos adaptando nossa realidade atual, nos protegendo como podemos, quem pode ficar em casa fica, quem tem que trabalhar “alkingél”, máscara e todo cuidado, assim seguimos com muita esperança que a vacina logo saia e possamos logo abraçar a todas as pessoas que nos são queridas. Enquanto isso muita videoconferência pra fofocar, rsrs.

Que venha a vacina e depois muita dança!!!

Ansiosa por poder logo mais falar sobre os eventos ao vivo e reencontros emocionantes.

Beijinhos e abracinhos virtuais, 

Irene Patelli

 

#fiquemseguras  #saiforacovid


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Resenhando-SP


Irene Rachel Patelli (São Paulo-SP) é técnica em dança formada pela Etec de Artes/SP, coreógrafa, bailarina/dançarina, performer, professora de tribal fusion, dark fusion e ATS. Formação em yôga, pesquisadora de ghawazee e zaar. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>

[Estilo Tribal de Ser] Kokoshnik

 por Annamaria Marques

Saudações pessoas dançantes!

Estamos de volta cheios de entusiasmo para compartilhar cada vez mais conteúdo de qualidade com vocês!

Hoje a coluna “Estilo tribal de ser” traz um pouco sobre as coroas que vem sendo usadas nas apresentações de Tribal e fusion bellydance. 

Um dos estilos de coroa que consegui identificar foi o das tiaras russas chamadas Kokoshnik.

 

Tiana Frolkina


Segundo o site do El país, a tiara era confeccionada com materiais nobres e pedraria, este caro acessório era parte do dote das noivas. 

A palavra kokóshnik foi detectada pela primeira vez em documentos do século XVII e vem do termo Kokosh, que significa "broche de galinha". Essa diadema, faz parte da vestimenta tradicional russa (junto ao traje chamado sarafan) e geralmente feita por mestres artesãos com materiais finos e pedras preciosas, foi inicialmente usado por mulheres casadas, como um caro acessório das roupas de festa e fazia parte do dote das noivas.

Mulheres ainda solteiras usavam uma versão um pouco mais simples do kokoshnik, chamada povyazka.

Em sua ânsia de modernidade, o czar Pedro I proibiu o kokóshniki, assim como outras vestimentas tradicionais russas. Nos tempos de Yekaterina II, eles foram resgatados como um acessório para os trajes da corte e, com Nicolás I, no século 19, eles voltaram para o guarda-roupa das mulheres. Seu momento de estrela chegou em 1903, no baile de fantasias dedicado ao 290º aniversário da dinastia Romanov, realizada no Palácio de Inverno em São Petersburgo. 

 

Os estilos do acessório podem variar no formato, mas existem um consenso de que o formato esperado seja o de uma tiara alta, podendo ter um formato como de flor ou nuvem e amarrado atrás da nuca com um laço de fita. 

 

 A parte frontal pode ser pesadamente decorada, bordada com pedrarias e fios de ouro ou ter um aplique simples de bodado floral. E a parte que cobre a testa é costumeiramente decorada com uma rede de pérolas. 


Versões estilizadas e ainda mais rebuscadas são vistas com frequência em dançarinas do leste europeu. Citando apenas algumas como Kira Lebedeva (que usa o acessório como assinatura), Tiana Frolkina (mostrada no começo do artigo) e Veszna Zorman (Ambrosia Art in Motion). 

Kira Lebedeva e grupo 

Kira Lebedeva


Grupo Art in Motion

 

Que tal se inspirar e criar seu próprio acessório? 
É possível utilizar a base desta maravilha como inspiração para coroas e fulgores.
O que acham?

 


 

 

Referências:

https://en.wikipedia.org/wiki/Kokoshnik


Créditos das imagens:

https://www.instagram.com/p/BiMiA20FE4n/?utm_source=ig_share_sheet&igshid=1gngichxnp296

https://vanda-rakitska.livejournal.com/45058.html

https://www.deviantart.com/pencil-stencil/art/My-kokoshnik-collection-414562171

https://www.flickr.com/photos/22155693@N04/27477888534

https://marilda-mm.tumblr.com/post/185624753625

https://www.livemaster.com/item/20240939-russian-style-excusively-hand-made-old-russia-style-headdress

 https://www.facebook.com/Bellydance-Power-183278455208609/

 https://www.instagram.com/p/BhtmBCWBb75/

 https://i.pinimg.com/originals/78/05/f1/7805f14ff1b150e49a6b6241740c1153.jpg

 https://www.deviantart.com/seawaterwitch/art/How-to-make-kokoshnik-360137930

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Estilo Tribal de Ser


Annamaria Marques (Belo Horizonte-MG)
é bailarina, professora, produtora do festival Tribal Core, dona do atelier InFusion e diretora da Trupe Andurá de ATS® e da Tribo Dannan de Tribal Fusion de Minas Gerais.Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Sankofa] 3º Fórum Orienta – Diversidade

por Monni Ferreira

Na semana de 06 a 10 de julho de 2020 aconteceu a terceira edição do Fórum Orienta - Diversidade promovido pela Revista Shimmie desta vem numa versão online no perfil da revista no Instagram. A proposta consistia em realizar um ciclo de lives para debater sobre racismo e preconceitos dentro do segmento da dança do ventre bem como as suas consequências tanto para aqueles que praticam quanto para o próprio mercado.

O projeto foi idealizado e elaborado pela bailarina e professora Angela Cheirosa, pioneira nos debates sobre a questão racial dentro da dança do ventre. Durante uma semana, Cheirosa assumiu o comando do perfil da Revista Shimmie para conduzir as lives com participação das também bailarinas Joice Amaral, Eliza Fari, Monni Ferreira, Shirlei Cunha e Jessie Ra’idah.

Já na primeira noite foi possível perceber a potência deste evento. Angela Cheirosa abriu a semana falando sobre racismo estrutural e contextualizando o legado deixado pela escravidão na construção da sociedade brasileira. Foi uma noite de muita emoção, lágrimas e revelações. De forma cronológica e didática, Cheirosa demonstrou como o racismo se apresenta na nossa sociedade e como os danos e as mazelas oriundas da escravidão no Brasil são colhidos até hoje.

Ela falou sobre a história do Brasil e da colonização a partir da perspectiva de uma mulher negra e que esta não é a história contada nos livros didáticos, uma vez que estes livros contam a história pelo viés de quem escravizou.

O racismo estrutural é a formalização e a normalização dos costumes racistas que são continuamente representados dentro da sociedade e que pautam as nossas relações, uma vez que estamos inseridos neste sistema e muitas vezes nem percebemos que praticamos estes costumes. Não adianta afirmar que racismo não existe ou que todos somos iguais ou ainda se posicionar afirmando que não enxerga cor quando na prática somos indivíduos completamente diferentes uns dos outros e somos julgados por isso. É preciso entender que estruturalmente somos racistas uma vez que estamos inseridos numa sociedade que normaliza atitudes racistas e que o racismo está inteiramente relacionado a perdas, a desvantagens, a tudo que tira direitos, espaços e até a vida.

É possível afirmar que esta live foi, na realidade, uma verdadeira aula super necessária para contextualizar tudo que ainda seria levantado nos próximos dias. Além de bailarina e professora, Cheirosa é também coreógrafa, produtora cultural e mantenedora do projeto social Flor de Lótus em Camaçari (BA), que há oito anos empodera mulheres através da arte da dança. Sua luta pela democratização da dança já dura muitos anos e neste momento de explosão da luta antirracista se faz necessário ressignificar tanto a história da Revista Shimmie, quanto a própria dança do ventre. Durante toda live ela frisou que este debate seria para aquelas pessoas que se importam e querem fazer parte da solução deste problema e ainda enfatizou que todas as reflexões abordadas durante a semana não representariam em totalidade todas as pessoas negras, pois, acima de tudo, existe o respeito pela individualidade. Cheirosa também destacou como marco histórico da ressignificação da dança do ventre no Brasil: a edição da Revista Shimmie em que ela foi capa no ano de 2017.

A segunda noite de debates teve como tema as estratégias de combate ao racismo na dança e contou com a participação de Monni Ferreira e mediação de Angela Cheirosa. Para iniciar fez-se necessário pontuar que o racismo não ocorre apenas quando há violência física uma vez que existe todo um sistema social que corrobora para a normalização de práticas racistas que passa pela falta de legitimidade das religiões de matriz africana até a marginalização do indivíduo pela cor da sua pele. Dito isso, é possível entender que o racismo estrutural valida a ausência de corpos negro em situação de protagonismo e que tanto a falta de pertencimento quanto a falta de representatividade promovem a invisibilidade destes corpos de geração em geração.

De forma pratica, o que observamos ao longo dos anos dentro do cenário da dança é o apagamento de corpos negros naturalizando, por exemplo, o embranquecimento da dança do ventre e dos deuses egípcios mesmo o Egito sendo um país do continente africano. Com isso é possível entender as reflexões colocadas quanto a existência do racismo na dança:


Tal provocação surgiu de um incomodo antigo quanto a falta de representatividade e consequentemente de protagonismo negro na dança. Quando paramos para contestar estes questionamentos é necessário pensar que esta não é uma questão individual, mas sim a reprodução de toda uma estrutura que considera natural a ausência desses indivíduos. Por isso é tão importante romper com este padrão estrutural para enfim mudar o cenário atual.

Para isso foram apresentadas diferentes formas de possibilitar esta mudança, como, por exemplo, consumindo, contratando e divulgando o trabalho de profissionais negros, com o intuito de dar oportunidade para estes artistas. Outras ações pontuadas foram:

  1. Produtores de eventos e escolas de dança: assumir a missão de ter diversidade em seus eventos, escolas, workshops, concursos e etc. Questionar a ausência de estudantes negros (as) em suas salas de aula. Tornar acessível a entrada destes indivíduos através de políticas de acessibilidade. Abolir regras racistas como padrões de beleza em suas avaliações;

  2. Bailarinos (as), alunos (as) e consumidores (as) não negros (as): questionar os eventos e escolas sobre a falta de profissionais negros e se posicionar quanto a ausência destes indivíduos. Não consumir o que não tem diversidade;

  3. Bailarinos (as), alunos (as) e consumidores (as) negros (as): consumir e conhecer o trabalho dos seus comuns. Não consumir o que não te representa ou aquilo em que você não se enxerga.


Na terceira noite do fórum contamos com a presença de Eliza Fari e Joice Amaral contando um pouco da trajetória delas na dança do ventre enquanto bailarinas negras e também falando sobre concursos e carreira. Como uma das primeiras bailarinas negras de dança do ventre no Brasil, Eliza traz em sua bagagem uma história de muita determinação e superação. Após sofrer um acidente de carro onde fraturou as duas pernas e os dois braços , ela precisou passar por um longo e doloroso processo de recuperação para continuar dançando. Anos depois do acidente, já como bailarina profissional e professora de dança, Eliza percebeu que existia um padrão no mercado ao qual ela não se encaixava, então não bastava conhecer os ritmos árabes, dominar o estilo clássico, estudar muito e fazer inúmeros workshops, ela precisava se enquadrar no perfil exigido pelo tal mercado da dança. Por conta disso, Eliza passou a alisar e parou de cortar o cabelo, começou a tomar remédio para emagrecer e parou de pegar sol na praia para não escurecer mais a pele. Em toda sua trajetória, Eliza viu muitas colegas também bailarinas desistindo dos seus sonhos e carreira na dança por conta deste padrão estético e para ela é preciso ter muita maturidade para perceber o quão violento é este sistema dentro e fora dos palcos.

Já como bailarina padrão casa de chá, em viagem ao Egito, Eliza chegou a ser comparada a Mona El Said pela banda de Soraia Zaied exatamente por ter um quadril tipicamente egípcio. Após conquistar o 1º lugar na categoria solo profissional de dança oriental no festival internacional Ahla Wa Sahlan, realizado no Cairo em 2018, Eliza voltou para o Egito um ano depois, agora como uma das mestras deste mesmo festival para ministrar uma aula de construção coreográfica para o quadril. Apesar de tantas conquistas, ao voltar para o Brasil, Eliza percebeu que havia um certo boicote e apagamento com relação a sua ascensão como bailarina profissional internacional, o que nos faz questionar: Será que esta baixa repercussão aconteceria se Eliza estivesse dentro do padrão estético aqui exigido?

A segunda hora desta live contou com a participação de Joice Amaral que relatou como é ser bailarina de dança do ventre em Salvador (BA), onde inúmeras oportunidades de trabalho lhe foram negadas por parte de contratantes que chegavam a questionar se não haveria uma bailarina com mais cara de dança do ventre para o seu evento. Ela ainda contou que a maioria das oportunidades recebidas para apresentar o seu trabalho vinham de convites de amigos e que a sua maior motivação para entrar em competições foi justamente ser notada e ter o seu trabalho reconhecido. A busca pelo selo padrão de qualidade Khan el Khalili nada mais era do que a oportunidade de se tornar uma bailarina conhecida no mercado da dança, mas ela ainda alertou que para atingir este objetivo muitas vezes se faz necessário ser aquilo que você não é apenas para se enquadrar num padrão exigido.

Falando especificamente sobre avaliações em bancas para obter selos de qualidade e conquistar colocações em concursos, ela comentou que geralmente existe um critério de avaliação chamado aparência que deveria ser questionado e abolido pelo mercado da dança. Afinal, o que exatamente configura uma boa ou uma má aparência na dança do ventre? Joice também levantou o questionamento quanto a presença de profissionais racistas que se aproveitam deste tipo de critério para avaliar mal bailarinas em premiações por conta do cabelo afro, dos traços negroides, do quadril largo e etc. Quantas oportunidades e quantos talentos não foram perdidos por conta deste padrão?

Joice contou que para iniciar os estudos na dança do ventre ela precisou do apoio financeiro de toda família, pois aulas de dança não seriam prioridades naquele momento. Um dos seus sonhos realizados foi estudar com Fernanda Guerreiro, que é sua maior inspiração na dança, tendo todo suporte necessário ao longo dos anos para desenvolver sua carreira na dança. Já como bailarina profissional, e atualmente consagrada bicampeã do Festival Shimmie São Paulo, Joice relatou o quão solitário e pesado é ser a única negra ou uma das poucas negras no camarim dos eventos. Esta solidão sentida não é confortável, é necessário haver companhia e dividir o peso de representar tantas outras bailarinas pretas que se enxergam nela, que se sentem representadas por ela, por isso para ela errar não é uma opção.


A mestra e doutoranda em educação Shirlei Cunha trouxe para a quarta noite deste ciclo de lives o enfrentamento ao racismo através da educação. Formada em Letras, pós-graduada em psicopedagogia e mestra em educação para formação de professores, Shirlei pontuou o quão importante é a educação no combate as práticas racistas existentes até hoje. Para ela, o racismo é aprendido ainda dentro de casa através dos exemplos disponíveis no âmbito familiar. Já na escola muitos destes exemplos seguem sendo reproduzidos fazendo com que este ambiente infelizmente seja um grande propagador do racismo na sociedade. Ela ainda comenta que qualquer pessoa que se propõe a dar aula tem que ter o compromisso com a pedagogia e não apenas em passar o conteúdo, é importante se preocupar com a didática em sala de aula e suas implicações na vida dos indivíduos.

Ainda na infância já é possível perceber um tratamento diferenciado entre crianças negras e não negras por parte dos educadores que tratam episódios racistas como brincadeira de criança. O que era pra ser um ambiente seguro torna-se cenário de ridicularização do ser negro que, por exemplo, precisa “arrumar” o cabelo para não chegar na escola com ele “bagunçado”. É neste ambiente que crianças negras experienciam pela primeira vez o prejulgamento e a rejeição, aprendendo erroneamente que se você não falar do racismo ele não vai existir e que é preciso ser forte e não se abater com certas “brincadeiras”.

Shirlei também comentou que o que possibilita acabar com o racismo hoje é a educação. Por isso é tão necessário se policiar para não reproduzir discursos e atitudes racistas em salas de aula e em nossas vidas. Quanto maior o conhecimento, maior será a percepção e atuação frente a situações discriminatórias em ambientes pautado no mito da democracia racial. O questionamento é a primeira ferramenta crítica da educação e sendo a nossa educação ainda tão racista precisamos agora, a partir de todo aprendizado adquirido, pautar nossas ações dentro de uma educação antirracista.


Pra fechar o ciclo de lives com chave de ouro, tivemos a contribuição de Jessie Ra’idah falando sobre o mercado da dança do ventre e o racismo. Para iniciar o debate foi pontuado que só existe mercado quando há uma relação de troca onde tem alguém remunerando e alguém sendo remunerado. Como artista profissional da dança e do teatro também formada em design gráfico, atuando como produtora de evento e há 12 anos trabalhando profissionalmente com dança, Jessie avalia a necessidade de pensar no mercado de dança do ventre de forma abrangente, incluindo outros estilos como o próprio folclore árabe, o Tribal Fusion, as danças étnicas como as danças ciganas, entre outros. Ainda é possível pensar e subdividir este mercado em dois: um com remuneração financeira e outro onde a remuneração ocorre em forma de prestigio. Pensando no mercado de remuneração financeira é possível destacar serviços como aulas, shows, festivais, ateliês de figurinos, palestras, eventos privados, fotografia e etc, enquanto que no mercado de remuneração por prestígio o valor recebido é em visibilidade e autoridade.

Jessie também propôs uma reflexão a partir de alguns questionamentos:

·         Pra quem é esse mercado? Podemos contar com ele?

·         Existe qualificação suficiente?

·         Existe oportunidade real de trabalho e remuneração equivalente?

Como a dança é uma arte de alto investimento, ela ainda pontuou a importância de se ter um propósito muito bem definido e alinhado com o caminho que cada um deseja trilhar dentro da dança para que não haja frustração. Pensando no mercado de dança do ventre é possível encontrar aulas que visam o entretenimento e aulas com objetivo de formação profissional, por exemplo. A falta de direcionamento e propósito alinhada a falta de regulamentação acaba gerando profissionais despreparados e prejudicando o profissionalismo dentro da dança o que favorece a desvalorização da arte dentro dela mesma.

Pra fechar a noite, Jessie e Cheirosa ainda explicaram que não adianta tratar a dança do ventre como um passatempo e exigir resultados de profissão, pois não haverá resultado sem investimento de vida. É necessário pensar no propósito, no caminho e no investimento disponibilizado pra fazer acontecer. Elas ainda reiteraram a importância de proporcionar um ambiente seguro para bailarinas negras em sala de aula, concursos, eventos e etc, pois são elas que mais sofrem com o padrão estético imposto por este mercado. A luta antirracista deve ser de todos, mas é imprescindível respeitar e reconhecer a voz de quem fala, de quem sente a dor pelo não pertencimento. Ao olhar para uma tendência mundial atual o mercado de dança do ventre precisa entender que se não houver diversidade não haverá consumo, afinal vamos consumir aquilo que nos representa.


O 3º Fórum Orienta – Diversidade foi sem dúvida um evento de grande aprendizagem e conscientização para todos que participaram. O momento atual pede mudanças em diferentes âmbitos da nossa sociedade e não podemos mais fechar os olhos para os efeitos do racismo dentro do mercado da dança. Se omitir apenas legitima a normalidade quanto a ausência de corpos negros dançantes, mas esta não é mais uma opção. O que conta agora é entender o que ainda está errado e fazer parte da solução do problema. Seja atento e vigilante as suas falas, as suas práticas, ao seu trabalho, para o que você consome e o que não consome. Você está a serviço do racismo quando você não se importa, quando você naturaliza, não questiona e não reconhece os seus privilégios. Uma vez adquirida a consciência não há mais espaço para omissão, é preciso agir.

Quer conferir tudo o que rolou no 3º Fórum Orienta – Diversidade? Então acesse o perfil da Revista Shimmie no Instagram e aproveite para maratonar todas as lives desta semana de muito conhecimento, troca e emoção.

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Sankofa

 
Monni Ferreira (São Paulo-SP) entrou para o mundo da dança com 10 anos de idade e durante toda a sua trajetória nesta arte teve a oportunidade de vivenciar diferentes estilos de dança, como: árabes, contemporâneo, afro, moderna, street dance, brasileiras, flamenco, indiana, ballet, entre outras.Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>

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Sankofa por Monni Ferreira

Sankofa

Monni Ferreira - Salvador-Ba <--> São Paulo-SP, Brasil


Sobre a Coluna:

Esta coluna tem como objetivo resgatar muito da nossa herança ancestral ao olhar para o nosso passado. Vamos falar sobre culturas africanas e afro-americanas, identidade coletiva, ancestralidade e a influência dos povos africanos no Estilo Tribal, além de debater sobre diversidade na dança e estratégias para fazer desta uma arte mais inclusiva. Vamos aprender com o passado, entender o presente e transformar o futuro.

Sanko = retornar, voltar.

fa = buscar, procurar, trazer.


Sobre a Autora:

Nascida e criada em Salvador-BA, Monni Ferreira, também conhecida como Moniquinha da Bahia ou #ADeusaDoAgito, entrou para o mundo da dança com 10 anos de idade e durante toda a sua trajetória nesta arte teve a oportunidade de vivenciar diferentes estilos de dança, como: árabes, contemporâneo, afro, moderna, street dance, brasileiras, flamenco, indiana, ballet, entre outras. Em 2011, já morando em São Paulo-SP, iniciou os estudos nos então conhecidos estilos Tribal Fusion e ATS® (American Tribal Style) passando a se dedicar ao aprofundamento técnico destas danças através de práticas e pesquisas. Formada no Curso Técnico em Dança pelo Shiva Nataraj (SP), Monni hoje atua como bailarina, professora e coreógrafa de Dança do Ventre e Tribal Fusion. Como pesquisadora passou também a estudar a cultura Dancehall e realizou um projeto focado na leitura musical do DUB, estilo que surgiu na Jamaica em meados da década de 60 e que é caracterizado pelas marcações de baixo e bateria. Desde 2017, Monni vem desenvolvendo um trabalho de resgate a ancestralidade
 com as danças afro-brasileira dentro do Tribal Fusion, através dos arquitetos dos Orixás.



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