Entrevista #34: April Rose | PARTE 1 (Double Version)

by Stereo Vision Photography

Este mês temos  a entrevista com a bailarina internacional April Rose (EUA) como convidada especial do blog. April estará vindo este ano pela primeira vez ao país  no evento Gothla Brasil.  Nesta entrevista iremos conhecer mais sobre sua trajetória com a dança tribal. Vamos conferir?


BLOG: Conte-nos sobre sua trajetória na dança do ventre/tribal;como tudo começou para você? | Tell us about your career in belly dance / tribal and how it all started for you?
Comecei a estudar o estilo dança do ventre de American Cabaret em 1999 quando eu tinha 11 anos, em Sacramento, Califórnia, com meu primeiro professor Daleela Morad. Numa idade jovem, eu estava inspirada para começar as aulas com a minha mãe e irmã depois que vi a companhia de Suhaila Salimpour se apresentar no Renaissance Festival. Em 2004, quando eu tinha 16 anos, comecei a dançar estilo de fusão e ITS com Amy Sigil de UNMATA em Sacramento, depois que eu vi sua dança em um show local.

Quando eu tinha 18 anos, me mudei para Los Angeles para cursar a Universidade da Califórnia em Los Angeles, onde eu ganhei minha pós em Dança, da qual o foco principal era a dança clássica indiana, ballet, moderno e hip hop. Fora da escola, eu ensinava dança do ventre à noite e dançei internacionalmente com UNMATA.  Enquanto ainda completava a minha educação na UCLA fui contratada pela Bellydance Superstars e começei a excursionar com eles por 2 anos. Depois que meus passeios com Bellydance Superstars terminaram, voltei a UCLA para ganhar meu mestrado em Cultura, Performance e Dança. Durante esse tempo eu tive o prazer de viajar para ensinar e aprender com muitos excelentes professores em vários estilos de dança do ventre em todo o mundo.

Depois de ganhar o meu mestrado em 2012, me mudei para Austin, Texas onde eu vivo atualmente e tenho uma escola de dança: Rose Movement Studio. Tenho sido uma dançarina de dança do ventre por um total de 16 anos sem quebras significativas. Comecei a dançar profissionalmente em restaurantes e para festas privadas quando eu tinha 15 anos; comecei a excursionar para ensinar e dançar em festivais aos 18 anos; ingressei no Bellydance Superstars aos 21 anos; e aos 25, eu abri minha própria escola de dança. Agora eu tenho 27 anos e minha vida é totalmente dedicada a dança do ventre.

by CedarBough Saeji
I began studying American cabaret bellydance in 1999 when I was 11 years old in Sacramento, California with my first teacher Daleela Morad. At a young age I had been inspired to start taking classes with my mom and sister after we saw Suhaila’s dance company perform at the Renaissance Festival.  In 2004 when I was 16 years old, I began dancing fusion style and ITS with Amy Sigil of UNMATA in Sacramento, after being inspired by one of her solo local performances. 

At 18 years old I moved to Los Angeles to attend University of California Los Angeles, where I earned a bachelor’s degree in Dance, studying mainly classical Indian dance, ballet, modern, and hip hop. Outside of school I taught bellydance in the evenings and performed internationally with UNMATA. While I attended college at UCLA I was hired by Bellydance Superstars and began touring with them for 2 years.  After my tours with Bellydance Superstars ended I returned to UCLA to earn my master’s Degree in Culture, Performance, and Dance. During that time I had the pleasure of traveling to teach and learn from many excellent teachers in various styles of bellydance all over the world.

After earning my MA degree in 2012 I moved to Austin, Texas where I presently live and run a dance school: Rose Movement Studio.  Altogether I have been bellydancing for 16 years with no significant breaks. I began dancing professionally in restaurants and for private parties when I was 15, started touring to teach and perform at festivals when I was 18, joined Bellydance Superstars when I was 21, and at 25 I opened my own dance school.  Now I am 27 and my life is arranged entirely around bellydance. 

BLOG: Quais foram as professoras que mais marcaram no seu aprendizado e por quê? | Who were the teachers that made the greatest impact on you and why?
Tive a honra de ter aulas com muitas das melhores instrutoras de dança do ventre do mundo e todas elas tiveram um impacto em minha dança e compreensão da forma. As duas pessoas mais influentes para mim são Amy Sigil e Farida Fahmy. Amy me ensinou sobre a tomada de riscos criativos, cultivando grupos fortes, ensinando no formato "work - craft - drill" , e dizendo palavras de inspiração para as pessoas ao meu redor. Ela é minha principal mentora. Farida Fahmy, com quem eu tive o prazer de estudar na Itália, me ensinou sobre a beleza da simplicidade, dando atenção a postura, levando o corpo sem esforço, e me deu introspecção na dinâmica mais tipicamente egípcia por trás da técnica de dança do ventre.

I have had the honor to take classes with many of the world’s top bellydance instructors and they have all made an impression on my dancing and understanding of the form.  The two most influential people for me are Amy Sigil and Farida Fahmy. Amy taught me about taking creative risks, cultivating strong groups, teaching in the work-craft-drill format, and saying inspiring words to the people around me.  She is my main mentor.  Farida Fahmy, who I had the pleasure of studying with in Italy, taught me about the beauty of simplicity, arriving late to a posture, carrying my body with effortlessness, and gave me insight into the more typically Egyptian dynamic behind bellydance technique. 

BLOG: Além da dança tribal você já fez ou faz mais algum tipo de dança? Há quanto tempo? | Aside from Tribal, what other forms of dance have you trained in or experimented with and for how long?
Estudei Bharata Natyam, Odissi e Kathak na universidade e vivi na Índia por algum tempo. Também estudei ballet, moderno e hip hop na universidade. Eu estudei essas formas de dança adicionais (fora da dança do ventre) por aproximadamente 5 anos. Eu também tive o prazer de estudar em uma capacidade mais limitada: Oeste Africano, house (tipo de dança relacionada com música eletrônica), dança clássica japonesa, contato improvisação, butoh, técnicas de liberação, Rajasthani e dança folclórica Punjabi. Tenho praticado yoga desde a infância, minha mãe é professora de yoga e diretora de um estúdio de yoga.

I studied Bharata Natyam, Odissi, & Kathak in college and lived in India for some time.  I also studied ballet, modern, and hip hop in college.  I studied these non-bellydance forms for about 5 years.  I have also had the pleasure to study in a more limited sense: West African, house, Javanese classical dance, contact improv, butoh, release techniques, and Rajasthani and Punjabi folk dance.  I have practiced yoga since childhood, my mother is a yoga teacher and yoga studio director.
  
BLOG: Quais foram suas primeiras inspirações? Quais suas atuais inspirações? |   What were your early inspirations? What are your current inspirations?
Eu estava muito inspirada pela dança clássica indiana quando eu tinha 18-22 anos de idade. Desde então, tenho mergulhado mais profundamente na história e técnica da dança do ventre voltando ao meu amor pela dança do ventre, especialmente as repetições egípcias sem esforço. Eu sou inspirada pela história de nossa forma de arte e pela idéia de fazer danças significativas usando dança do ventre.

I was very inspired by classical Indian dance when I was 18-22 years old.  Since then I have delved deeper into bellydance history and technique and have returned to my love for bellydance, especially it’s effortless Egyptian iterations.  I am inspired by the history of our form and by the idea of making meaningful dances using bellydance technique.

BLOG: O quê a dança acrescentou em sua vida? | In which, aspects would you say dance has added to your life?
A dança me conectou ao meu corpo, me deu um canal expressivo e me abençoou com muitas amigas próximas.

Dance has connected me to my body, given me an expressive outlet, and blessed me with many close female relationships.

by Michael Kozlov
BLOG: O quê você mais aprecia nesta arte? | What do you appreciate most about this art form?
Eu aprecio a comunidade que circunda dança do ventre e a livre sensação de empoderamento que nos dá para dançar a dança do ventre. Eu aprecio que esta dança tem evoluído, inovando continuamente e aguentando apesar dos mal-entendidos que a sociedade tem sobre essa forma de dança.

I appreciate the community that gathers around bellydance and the empowered, free feeling it gives many of us to dance bellydance technique. I appreciate that this dance has evolved, innovated, and endured despite society’s misunderstandings about it.

BLOG: O quê prejudica a dança do ventre e como melhorar essa situação? Você acha que o tribal está livre disso? |  What prejudices or influences do you feel are (or have been) affecting belly dance as a whole and what do you feel could be done to remedy or improve the situation? Do you feel the Tribal community has been affected by similar influences and/or prejudices or has it remained unaffected?
Praticantes de dança do ventre de todos os gêneros têm frequentemente uma falta de compreensão histórica da forma e têm uma tendência a aderir a uma narrativa orientalista falsa sobre as origens da evolução da dança do ventre.  As palavras que usamos para descrever diferentes estilos de dança do ventre, como o "Oriental" e "Tribal", são problemáticas e, portanto, não são respeitadas pela comunidade acadêmica de dança.

Além disso, frequentemente, os dançarinos que vêm da dança do ventre através da fusão não se preocupam com a aprendizagem dos ritmos árabes e instrumentação que são essenciais para a forma. Acho que devemos educar-nos na história e na música que acompanha a dança do ventre e todos estaríamos mais informados para fazer escolhas criativas interessantes.

Bellydance practitioners of all genres often lack a historical understanding of the form and often subscribe to a false Orientalist narrative about the dance’s origins and evolution.  The words we use to describe different bellydance styles, like “Oriental” and “Tribal,” are problematic and therefore not respected by the academic dance community.  In addition, dancers who come to bellydance through fusion often do not concern themselves with learning the Arabic rhythms and instrumentation that are essential to the form.  I think we should educate ourselves in the history and music that accompanies bellydance and we would all be more informed to make interesting creative choices.

by Nei Mad Photographies
BLOG: Você já sofreu preconceitos na dança do ventre ou no tribal ? Como foi isso? | Have you suffered any preconceptions in belly dance or tribal? If so, what were they are how did you deal with it?
Algumas pessoas assumem que a dança do ventre tem um identificável ponto de origem: que isso é uma prática antiga relacionada com o nascimento da criança e sociedades dominadas pelo sexo feminino pré-islâmico-cristãs.  Algumas pessoas assumem que a dança do ventre é praticada hoje só por mulheres brancas de classe média, imitando a idéia de uma exótica personagem feminina oriental. Outros supõem que a dança do ventre é uma dança cortesã, executada por prostitutas para patronos.  Muitas audiências têm noções preconcebidas sobre dança do ventre e, infelizmente, praticantes freqüentemente abusam e sublinham estes pressupostos com suas apresentações. Nossa arma mais eficaz contra esses mal interpretados tipos de simplificação de nossa dança é educar-nos, os dançarinos, sobre as histórias complexas de nossa forma de arte.

Some people assume that bellydance has an identifiable point of origin: that it is an ancient practice related to childbirth and pre-Islamo-Christian female-dominated societies. Some people assume that bellydance is only practiced today by middle-class white women, imitating their idea of an Eastern exotic female character. Others assume that bellydance is a courtesan dance, performed by female prostitutes for male patrons.

Many audiences have preconceived notions about bellydance, and unfortunately practitioners often exploit and underscore these assumptions with their performances.  Our greatest weapon against these oversimplifications of our dance is to educate ourselves, the dancers, about the complex histories of our form. 

by Clint Marien
BLOG: Como você encara  a cena alternativa inserida no tribal e suas fusões? Na sua opinião, por quê pessoas com um estilo de vida alternativo têm se identificado pela dança tribal? | What do you think of the alternative scene in Tribal and it’s various forms of Fusion? In your opinion, why do those who are perceived to have an alternative lifestyle tend to identify with or gravitate towards tribal dance?
Piercings e tatuagens não são mais consideradas como transgressivas, eles são vistos como símbolos da moda, o mesmo que bolsas de grife ou cabelos coloridos. Tudo é uma declaração de moda. Algumas pessoas são atraídas para a moda "alternativa" mais do que de moda convencional, mas tudo é uma estética que se alinha com uma certa seita da sociedade em que vivemos. Muitas dançarinas do ventre tendem a ser pagãs, bruxas, iogues, xamãs da nova era , budista, vegetarianos, etc. Eu acho que os humanos na sociedade moderna se sentem desconectados, isolados, deprimidos, oprimidos, irritados, vazios, e estamos buscando significado em nossas vidas. Dança do ventre, estética "alternativos", sistemas espirituais da nova era e estilos de vida não-convencionais tendem a elogiar um ao outro, porque eles são todos um sistema com a agenda para a criação de significado que nos trazem paz momentânea na nossa angústia existencial

Piercings and tattoos are not transgressive anymore, they are trendy signifiers just like a designer handbags or highlighted permed hair.  It’s all a fashion statement.  Some people are drawn to “alternative” fashion more than conventional fashion but it is all an aesthetic that aligns you with a certain sect of the society that we live in.  Many bellydancers tend to be pagan, witches, yogis, new-age shamans, Buddhist, vegetarians, etc.  I think humans in modern society feel disconnected, isolated, depressed, overwhelmed, angry, empty, and we are searching for meaning in our lives.  Bellydance, “alternative” aesthetics, new-age spiritual systems, and non-mainstream lifestyles tend to go together because they are all meaning-making systems that bring us momentary peace in our existential angst.
  
BLOG: Qual importância da prática do Yoga para a dança? | How important do you think the practice of Yoga is to one's dance regimen?
Yoga asana é muito útil na formação e integração do corpo, mente e espírito. A dança é yoga: a meditação é o controle da mente, asana e dança são o controle do corpo. Existem muitas outras maneiras de treinar o corpo que são úteis: balé, pilates, pólo-fitness, jogging. Não ha um único sistema de treinamento que é melhor para cada dançarino. Mas yoga definitivamente não prejudicará seu progresso de dança!

Yoga asana is very helpful in training and integrating the body, mind, and spirit.  Dance is yoga: meditation is control of the mind, asana and dance are control of the body.  There are many other ways to train the body that are helpful: ballet, pilates, pole-fitness, jogging.  No one training system is best for every dancer.  But yoga will definitely not harm your dance progress!

by Stevie Mckinley
BLOG: Você escreveu algumas matérias para revistas conceituadas da comunidade de dança do ventre americana, como Shimmy e Yallah.  Quais foram os temas que você já escreveu e como foi a experiência de desenvolver suas matérias para essas revistas? Há diferença de público entre elas? Caso ocorra isso, sua linguagem, temas a serem abordados, enfoques e objetivos dos artigos mudam de um veículo de informação para outro?|You've written several articles for a few magazines popular within the American Belly Dance community, such as Shimmy and Yallah. What were some of the topics you've chosen to write about? How did you go about developing your material for these magazines? Have you noticed any difference of public opinion between subjects? In light of this, have you ever had to adjust phrasing, avoid certain topics, adjust your approach or structure of the article or exclude certain bits of information depending upon the medium in order to avoid potentially offending a select few within the circulation's demographic?
Quando sou entrevistada, eu respondo as perguntas que eu sou perguntada. Eu realmente não determino o conteúdo. Sempre que possível, eu tento não fazer declarações generalizadas que envolvem "sempre" e "nunca". Tento me lembrar que há exceções para cada tabu e que nenhum julgamento pode ser derivado sem o contexto para cada caso individual. Eu tento não ofender ou isolar as pessoas com as minhas opiniões, mas eu também tento incentivar dançarinas do ventre para desenvolver mais nossa sistema de ética com respeito à apropriação cultural, a concorrência, etc.

When I am interviewed I answer the questions I’m asked, I don’t really determine the content.  As much as possible I try not to make blanket statements that involve “always” and “never”. I try to remember that there are exceptions to every taboo and that no judgments can be made without the context for each individual case.  I try not to offend or isolate people with my opinions but I also try to encourage bellydancers to further develop our system of ethics around cultural appropriation, competition, etc.

BLOG: Em 2010, você tornou-se novo membro do Bellydance Superstars (BDSS). Como surgiu a oportunidade de fazer parte do BDSS? Como foi sua contribuição para a companhia como bailarina do corpo principal e como foi a experiência de conhecer diferentes partes do mundo através da linguagem da dança do ventre? Em quais espetáculos podemos encontrar suas performances? Algum momento especial ou curiosidade? |
In 2010, you became a new member of the BDSS. How did that opportunity come your way?  What was it like to contribute your work as a principal dancer to the company and what was your experience like getting to know different parts of the world through the language of belly dance? In which BDSS shows can we see your performances? Was there a moment in particular that is special to you?
Uma das dançarinas de BDSS, Stefanya, me viu praticando com a minha companhia de dança em Los Angeles em 2009. Ela disse a Miles Copeland que ela conheceu uma dançarina talentosa de Tribal Fusion com uma estética de dança indiana que vive em Los Angeles (estávamos trabalhando em um dança de Bollywood Fusion naquele tempo). Miles me chamou para uma entrevista e audição e me pediu para se afiliar a companhia.  Eles precisavam de dançarinas com treinamento em dança clássica indiana, com disponibilidade imediata para partir para uma turnê de um ano.

Eu levei algum tempo fora da escola e viajei para dois shows diferentes com BDSS: Bombay Bellywood (que está no DVD) e The Magic of Dance. Eu não contribui coreograficamente ou criativamente para o show. Eu era estritamente uma dançarina. Dancei coreografias que foram criadas e ensinadas a mim por Kami Liddle, Moria Chappell e Sabrina Fox.  Eu amei ser "apenas uma dançarina" sem responsabilidades de direção ou organização. Eu era simplesmente a menina nova fazendo o que me foi dito e isso foi muito libertador e maravilhoso. Fiz amizades genuínas e aprendi muito sobre o profissionalismo no figurino, maquiagem e iluminação.

Uma vez nós visitamos as Cataratas do Niágara e todos ficamos sob um arco-íris duplo lindo. Uma outra vez  alugamos um quarto de karaoke em Tóquio e cantamos com toda força. Essas são boas lembranças.



One of the BDSS dancers, Stefanya, saw me rehearsing with my dance company in LA in 2009.  She told Miles Copeland that she had met a talented tribal fusion dancer with an Indian dance aesthetic who lives in LA (we were working on a Bollywood fusion dance at that time).  Miles called me in for an interview and audition and asked me to join the company.  They were in need of dancers who had been trained in Indian classical dance, who could pick up and leave for a year-long tour.  I took some time off school and toured 2 different shows with BDSS: Bombay Bellywood (which is on DVD) and The Magic of Dance.  I did not contribute choreographically or creatively to the show.  I was a dancer only. I performed dances that Kami Liddle, Moria Chappell, and Sabrina Fox had made and taught me.  I loved getting to “just be a dancer” with no directorial or organizational responsibilities. I was simply the new girl doing as I was told and it was very freeing and wonderful.  I made good friends and learned a lot about professionalism in costuming, make-up, and lighting.  One time we stopped at Niagara Falls and we all stood under a beautiful double rainbow. Another time we rented a karaoke room in Tokyo and sang our silly little hearts out.  Those are good memories.

BLOG: Como surgiu The Nautch Project? Conte-nos um pouco mais sobre este projeto. | How did you become part of The Nautch Project? Tell us a bit more about this project.

The Nautch Project | by Weather Vane Images


The Nautch Project foi a primeira companhia de dança sob minha direção, feito de meus alunos em Los Angeles 2008-2010. Nós executamos minhas coreografias e ITS em festivais de dança locais e shows baseados em Los Angeles. Éramos todos muito bons amigos e eu continuo a refletir sobre aqueles momentos com carinho. Eu ainda vejo as dançarinas às vezes e juntas fizemos algumas adoráveis memórias. O projeto se desfez quando eu mudei de Los Angeles para Austin, Texas.

The Nautch Project was the first dance company under my direction, made of my students in Los Angeles from 2008-2010.  We performed my choreographies and ITS at local dance festivals and LA-based shows. We were all very good friends and I still think fondly on them often.  I see the dancers out and about still and we have made some lovely memories together.  The project disbanded when I moved from LA to Austin, TX.

BLOG: Conte-nos como surgiu seu grupo Rose Movement, a etimologia da palavra, seus integrantes, qual estilo marcante do mesmo e se ele sofreu alguma mudança estrutural ou de estilo desde quando foi criado até agora. |
How did the Rose Movement come about? The etymology of the word, the studio, the group members, the signature style and if it (the ITS style you teach) underwent any structural or stylistic changes since it's creation until now.

Rose Movement Studio | by   Vance Strickland
Rose Movement Studio é o meu estúdio de dança em Austin, Texas. É onde eu dou aulas semanais e programas intensivos. No Rose  eu ensino os níveis de dança do ventre 1-3 (clássico e estilo fusion) e formato UNMATA Estilo Tribal Improvisacional níveis 1 - 4.  No estúdio eu dirijo uma companhia de dança aprendiz chamado "Wild Vine" e uma companhia semi-profissional chamado "Perennial Dance Company ".  As duas desempenham as minhas coreografias e ITS em Austin. Nós nos divertimos muito juntos! 

Às vezes, quando estou dirigindo um grupo de dança com outros dançarinas profissionais, chamo o conjunto "Rose Movement", mas que é um nome baseado em projeto, não uma companhia de dança com os membros fixos. Eu escolhi o nome "Rose Movement Studio" porque tem uma origem de plantas e lembra as pessoas do meu nome, April Rose. Eu escolhi "Movimento" em vez de "Dance", porque oferecemos também aulas de yoga, qigong, e outros movimentos de artes não-dança. Além disso, o nome não foi tomado ainda, que é muito surpreendente.   Você pode ver mais informações em www.rosemovement.com

Rose Movement Studio is my dance studio in Austin, Texas.  It is where I teach weekly classes and intensive programs.  At the Rose I teach Bellydance levels 1-3 (classic and fusion styling) and UNMATA format Improvisational Tribal Style levels 1-4.  At the studio I direct an apprentice company called “Wild Vine” and a semi-professional company called “Perennial Bellydance Company.”  They both perform my choreographies and ITS in Austin.  We have a ton of fun together!

Sometimes when I am directing group dances with other professional dancers I will call the ensemble “Rose Movement” but that is a project-based name, not a dance company with fixed members.  I chose the name Rose Movement Studio because it is plant-based and reminds people of my name, April Rose.  I chose “Movement” instead of “Dance” because we also offer classes in yoga, qigong, and other non-dance movement arts. Also the name wasn’t taken yet, which is very surprising.

You can see more info at www.rosemovement.com

BLOG: Em 2012, você participou  de uma web-série, com o curta “Another Good Morning”. Conte-nos um pouco sobre esse projeto.
In 2012, you participated in a web-series, with the short "Another Good Morning". Tell us a bit about this project.
"Another Good Morning " é um projeto de dança-para-a-câmera que eu fiz com o meu marido, Reed Burnam, que também filmou e escreveu a partitura. Nós fizemos isso para um projeto que um estudante de graduação da UCLA e meu colega começou a chamada "Dances Made to Order", que é uma série mensal de dança baseado na web de onde o público decide o que os artistas vão criar.  Itens conceituais que tivemos que incluir em nossa submissão foram: "Esconder / Revelar" "Uma canção na repetição" e "Um mapa (de um lugar real ou imaginario)".


Vocês podem ver o filme aqui: 



“Another Good Morning” is a dance-for-the-camera project that I did with my husband, Reed Burnam, who scored and shot the film.  We did it for a project that a UCLA graduate student cohort of mine started called “Dances Made to Order” --a monthly, web-based dance series where the audience decides what the artists will create.

Conceptual items we had to include in our submission were:  "Hide/Reveal" "A song on repeat" and "A map (of a real or imagined place). "


Continua na Parte 2 (em breve) 
Continued in Part 2 (soon)

Tradução/ Tanslation: Raphaella Peting

[Estilo Tribal de Ser] Tassel

por Surrendra



Provavelmente você não conhece o tassel pelo nome, mas com certeza já o viu por aí. Aqui no Brasil ele é conhecido como barbicacho ou borla, enfeite comum de cortinas; é mais famoso na moda por ser usado em mocassins, slippers e bolsas. Feito de couro, seda ou correntinhas, é um detalhe que está ficando cada vez mais importante e aparecido nos vestidos, lenços, blusas, saias, brincos e outros acessórios.



Parece que o tal ornamento já foi citado até na Bíblia (Números 15:37-41)! Seu nome vem do latim (tassau, que tem um significado parecido com fecho) e na Renascença era usado de maneira simples nos objetos decorativos, enquanto no Império eram mais longos, mas seu auge foi na Era Vitoriana, quando ficaram grandes e elaborados. 

Antigamente nas Universidades de Oxford e Cambridge, os estudantes que usavam o tassel de ouro tinham mais prestígio, já que eles pagavam para poder usar (hoje só o chanceler de Oxford tem permissão), enquanto os dos outros eram pretos.



No Oriente Médio, tassel foram usados como talismãs. No Egito, Mesopotâmia, e ao longo do mundo árabe o tassel foi usado por crianças em capuzes ou bonés para protegê-los de espíritos malévolos e afastar os demônios.  Você também pode lembrar daquelas cordinhas que amarram os obis dos japoneses ou nos mocassins dos índios americanos.

No mundo tribal ele também está muito presente. Principalmente nos cintos, xales e adornos de cabelo. O importante é manter a criatividade em alta para incorporar este adorno em seus figurinos e até no seu guarda-roupa do dia a dia.


Para alegria das tribalistas, o étnico está na moda e o tassel pode ser encontrado facilmente em qualquer loja de bijuteria. Não será difícil dar asas a imaginação e compor figurinos e looks com este lindo adorno.






 



[TCB] Episódio #5: Blogs, Blogueiras e Bloguices

Clique na imagem acima para ouvir o podcast
Nosso segundo episódio de 2015 já está no ar!

Nesse episódio o tema é sobre blogs dentro do universo da dança tribal! Nada melhor do que conversar sobre o tema com as blogueiras  Carine Würch (RS), Maria Badulaques (SP) e Natália Espinosa (SP).

 Junte-se a nós nesse bate-papo descontraído!

Mais informações:

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[Folclore em Foco] Temperos e Temperamento

por Melinda James

Ao estudar um povo devemos estar atentos às coisas que eles fazem diariamente. Ações simples e vitais são as que fornecem as informações mais preciosas para nossos estudos.

Como fruto de minhas experiências locais passei a estabelecer um padrão para o estudo de forma a obter maior absorção, tentarei descrever para vocês. 

Se alimentar pode ser um bom exemplo de uma ação simples e vital, então, dentro deste exemplo, vamos abrir nossos horizontes...


Observe as comidas mais típicas, vá aos restaurantes populares, se for convidada para comer em casa de família seria melhor, mas na falta de um convite, vá aos restaurantes e estude o cardápio. Alguns pontos merecem atenção:



Especiarias
A quantidade de pimenta usada: os povos mais quentes e fortes consomem muita pimenta; no passado, a pimenta servia também como antisséptico e estimulante.  Imagine um estado brasileiro que consome bastante pimenta... Bahia?  Como você define o temperamento local? Eles são quentes, dançantes, animados, gingados, totalmente temperados.

No Egito é marcante a presença do cominho, tudo tem gosto de cominho e sentir o aroma do cominho me transporta para o Oriente. O cominho era usado no Egito antigo também para embalsamar os faraós além de reinar na culinária Greco romana (eis mais um sinal de intercâmbio cultural).

Consumo excessivo de carboidrato e gordura trans
No Egito existe uma fartura no consumo de carboidrato. Em alguns pratos bem típicos o carboidrato chega a substituir a proteína e é misturado a outros carboidratos. Quantos pratos achamos que são recheados de carne e, na verdade, são recheados de pão temperado e banhado com molho de tomate. O tradicional 'Cochari' consiste em macarrões de vários tipos com arroz e Lentilha. O motivo deriva também do baixo poder aquisitivo,pois pratos com carne são bem mais caros do que os com carboidratos somente. Devido a isso o Egito tem uma incidência altíssima de diabetes.

Não existe uma  tentativa de equilíbrio alimentar ainda, se consome muita gordura trans, os óleos são sempre reaproveitados. O resultado desse tipo de alimentação no corpo é visto como saúde, como no Brasil há alguns anos atrás. A alimentação influencia muito na estética local, as mulheres mais "cheinhas" são tidas como mais "vistosas".

Nos lugares mais afastados você não encontra nada Diet ou Light, em verdade só se encontra em hotéis e restaurantes 5 estrelas e você pode notar um ar de espanto ou até desprezo ao pedir adoçante ou uma coca zero.



O que se encontra naturalmente em cada região?
Quais as frutas de cada região? Elas trazem toda uma cultura de agricultura, muitas regiões de oásis tem um forte cultivo de azeitona, tâmaras e tantas informações culturais giram em torno destas fazendas.

Outras regiões são ricas na produção do algodão, o grande algodão Egípcio, conhecido mundialmente por sua colheita  ter inspirado muitos passos de dança núbia. 

Outro orgulho do povo egípcio é o suco de manga, pois é o melhor do mundo; e o bom e velho Karkadê, que seria nada mais nada menos do que o chá do Hibisco.


Carne
Locais muito longe das cidades possuem a melhor comida da região, tudo é fresco. A temperatura é muito alta e poucos lugares tem geladeira, como resultado, temos as carnes mais gostosas e frescas do Egito.

No Egito muitas casas tem aviário onde se cria pombo, que faz parte do cardápio local; e não existem pombos nas ruas.Este animal inspirou muitas movimentações de danças folclóricas, assim como o carneiro que é consumido em grande escala;  já o porco, por motivos religiosos, não é consumido por nenhum Muçulmano.

Tem muito gato no Egito e, embora haja muita miséria, não se come gato. Eles amam os gatos, animal que foi venerado no Egito antigo representando a Deusa Bastet, hoje após milênios, o povo não tem mais este costume politeísta, mas continua gostando e alimentando os gatos das ruas.



Os subprodutos retirados destes pratos.
O couro do carneiro é muito bem aproveitado no Egito, na confecção de bolsas, roupas, instrumentos de percussão locais; e os ossos de diversos animais também são usados em bijuterias.

O ritual 
A forma como eles comem, a aura que envolve todos neste momento é outro fato inspirador. 

No Egito  comer é o mais importante fator de união da família, eles alimentam as pessoas que amam.Alimentam-se uns aos outros, com pratos  comunitários, algumas colheres e o uso das mãos, inicia-se quase um ritual. Como gesto de amor os familiares separam a carne do osso e colocam na boca uns dos outros, de forma natural, conversando e rindo, enquanto se alimentam, confraternizam, cuidam uns dos outros,  uma verdadeira comunhão entre os entes queridos.Comer junto, sem pressa, partilhando com todos os familiares, e comer muito, isso é um fator de sucesso para o dono da casa. 

Neste ponto entendemos a  estratégia cultural de venda Egípcia, um bom vendedor sempre te oferece algo para comer ou beber para te mostrar que você é bem vindo, eis a boa e velha  'Lei da reciprocidade', você come e bebe e tem vergonha de sair sem comprar nada. Mas coma e beba mesmo se quiser enfim uma negociação amistosa, isto é importante para eles e no Egito comer junto aproxima as pessoas.

Agora se pergunte por quê? Questione o povo local. Faça perguntas simples e você terá respostas simples, que cruzadas nos levam a uma trança complexa que representam a essência cultural latente. Esta  é a parte mais rica do nosso estudo de folclore, aquela que tanto buscamos aprender em workshops infinitos, a qual nos motiva e nos leva a criação de danças para o palco.

Onde isso te levará? Como estas informações te farão dançar?  Acredite, farão! Talvez não na hora que você vivencia isso, mas todas estas informações clareiam a mente do artista sobre a identidade do povo que será representado e cada informação vivida se manifesta artisticamente depois de um tempo.Eu penso que esta experiência pode se estender as pessoas que não tem a oportunidade de viajar, é só um pouco mais difícil e acaba exigindo maior disciplina.





[Tribal Brasil] O Tribal Brasil e um lugar chamado Terra

por Kilma Farias


Cia Lunay em Amálgama | Foto de Milena Medeiros
Andei lendo dois livros. Um é Arte: corpo, mundo e terra de Manoel Antonio de Castro e o outro é Espaço e Lugar de Katia Canton. E o que eles têm a ver com o Tribal Brasil?

Os dois falam muito a respeito de arte, inclusive trazendo possíveis conceitos e dialogando com eles. Vamos conversar um pouco com alguns desses pensamentos.

Bailarina Alinne Madelon | Foto de Italo Rodrigo

Em Arte: corpo, mundo e terra fala-se do “humano do homem” para definir arte. A Terra é pré-requisito para a condição existencial do homem, visto que a divisão que a modernidade impôs entre natureza e cultura não mais se sustenta. Fala-se que para um Ocidente metafísico-epistemológico também há um Ocidente poético-ontológico. Sendo assim, as poéticas das obras de arte são memórias do real, são linguagem, mundo, verdade, sentido, tempo e história. O livro nos fala ainda que somos corpo, mundo e terra e que, quando uma criança nasce, o mundo torna a começar, numa grande teia interconectada que nos transformam em “seres-do-ente” num eterno ciclo. Diz o autor, “se quisermos saber o que é terra e corpo teremos que saber o que é mulher enquanto lua, terra, vida, mãe-fonte, menino.” (Castro, 2009, p.18). E o que pode ser mais Tribal Brasil do que uma mulher enquanto Lua? Uma mulher enquanto vida? Enquanto fonte, mãe geradora? Enquanto Terra? O quanto de nós, na dança, pode auscultar nossos corpos plenos de poética e memórias do real? O quanto de nós se faz mundo enquanto o movimento se faz e desfaz no espaço e no lugar da dança?

E que espaço e que lugar são esses de quem dança? Qual o espaço e o lugar do Tribal Brasil? Qual o lugar da arte?


Aquarius Cia de Dança-PE, espetáculo Nordestinados

O livro Espaço e Lugar traz uma definição de Mario Pedrosa, dos anos 60, que diz que a “arte é o exercício experimental da liberdade”. E penso, existe mesmo uma liberdade em arte? Se existe, qual o papel das tendências? Quem as dita? No Tribal, os grandes festivais como, por exemplo, o Tribal Fest. As grandes bailarinas internacionais do estilo. Todos os praticantes do Tribal, admiradores, alunos, professores, bailarinos, pesquisadores estão o tempo todo buscando vídeos novos no youtube e em DVD para conferir o novo trabalho da Zoe Jakes, os novos grupos que despontam nos festivais, as músicas mais utilizadas, tendências de figurino, maquiagem, conceito.

O Tribal Brasil é uma questão. É uma proposição que não busca tendências, mas busca relações entre corpo-memória-movimento. Relações cheias de Mundo, plenas de Terra. Repletas de contaminações e diálogos entre identidades de todo o mundo, entre intimidades e entre mundos. Contamos histórias com nossos corpos, com nossa poética.

Hellen Labrinos Vlattas desenvolve o Tribal Brasil na Grécia | Foto de Nina Franco

Katia Canton organiza as utilidades da arte dizendo que “[...] ela provoca, instiga e estimula nossos sentidos, descondicionando-os, isto é, retirando-os de uma ordem preestabelecida e sugerindo ampliadas possibilidades de viver e de se organizar no mundo. [...] ensina justamente a desaprender os princípios das obviedades [...] pede um olhar curioso, livre de pré-conceitos, mas repleto de atenção [...] constituída de conhecimento objetivo envolvendo a história da arte e da vida, para que com esse material seja possível estabelecer um grande número de relações. [...] a arte precisa ser repleta de verdade. Precisa conter o espírito do tempo, refletir visão, pensamento, sentimento de pessoas, tempos e espaços”. (Canton, 2009, p. 12 e 13).

O Tribal Brasil que vivo contém o “espírito do tempo”, livre de tendências e temporalidades, no espaço e no lugar que seja minha verdade, que seja minha Terra. Longe das obviedades e das tendências, não tente entender o Tribal Brasil. Tente primeiro se sentir humano, se sentir uma mulher plena de Lua, de Sol, de Estrelas e de múltiplos caminhos a serem dançados nessa e em outras terras.


[Venenum Saltationes] Desvendando Erínia!

por Hölle Carogne 


Na postagem deste mês a coluna Venenum Saltationes dá início a um novo projeto: a série Desvendando.

Neste projeto, algumas coreografias com conceitos místicos serão desvendadas, através da entrega da (o) bailarina (o) ao revelar os significados ocultos por trás destes trabalhos coreográficos.

No primeiro capítulo desta série, a bailarina Patricia Nardelli fala sobre seu solo Erínia!

Espero que gostem!



Venenum Saltationes: Quando e como surgiu a vontade de criar Erínia?

Patricia Nardelli: A vontade de criar Erínia veio em 2012, talvez não muito com esse nome, mas já com essa ideia. Eu tinha acabado de me mudar para Porto Alegre e tinha decidido que queria voltar a dançar a sério. Eu tenho uma história bem instável com a dança do ventre, que pratico desde os 16 anos, passava alguns anos fazendo aula e parava por outros, depois voltava. Acho que faltava alguma coisa na dança do ventre que me fisgasse de vez. Antes de me mudar eu tinha começado a fazer aulas de tribal fusion em Brasília e tinha me apaixonado, então quando vim para Porto Alegre comecei a procurar aulas. Eu estava num relacionamento bastante disfuncional e o término dele me deu um gás para criar uma coreografia de tribal pela primeira vez. Na época minha maior referência de dança era o ATS® e eu tinha bem pouco estudo de técnica. Foi uma decisão muito marcante. Dois anos depois eu decidi retomar a Erínia para o evento “Noite Tribal na Taberna”, um pouco na ideia de aprofundar meu comprometimento com a dança.


Versão da coreografia Erínia para o evento Noite Tribal na Taberna:





Eu via bailarinas que admirava, como a Bruna Gomes e a Joline Andrade (que sou muito grata por ter como professoras), e elas pareciam ter um ou dois trabalhos principais ao longo do ano. Me dei conta de que essa dedicação poderia me fazer evoluir muito em técnica e em concepção coreográfica e escolhi minha primeira coreografia para começar a trilhar esse caminho. Trabalhei na Erínia durante todo o ano de 2014, com a ajuda da Bruna Gomes, e ela finalmente ganhou a cara e a forma que me agradou. Foi um processo muito precioso que quero seguir tendo, acho importante nesse meu momento valorizar a conexão profunda com alguns poucos trabalhos, ao invés de criar montes de coreografias que acabam não comunicando seu propósito da melhor maneira que poderiam.


Versão da coreografia Erínia no ano de 2014. Vídeo do evento Brasil Vem Dançar:



Venenum Saltationes: Do que se trata este trabalho? Qual o assunto abordado?

Patricia Nardelli: Como eu mencionei acima, Erínia surge bastante por conta de um relacionamento disfuncional que eu estava vivendo. Foi um término bastante ruim. Na mitologia, as Erínias são ligadas à vingança, são entidades que vingam os crimes dos homens e os perseguem inclusive após a vida, são persistentes e possuem uma fúria que não pode ser aplacada. Pensando nessa história dá pra ver que elas estão bastante ligadas ao sentimento de culpa interno também, é a culpa que faz com que fiquemos revivendo nossos pecados e erros. Esses são os dois grandes temas da coreografia, a vingança e a culpa.


Quando eu comecei a criá-la, lá em 2012, ainda sem saber que esse seria seu nome, eu queria trabalhar a minha vontade de vingança, por assim dizer, e também a culpa que eu sentia com relação à outra pessoa. Ela surge de um processo bastante pessoal. Então Erínia é sobre querer se vingar por se sentir injustiçada e sobre se culpar por estar em uma situação ruim, mas é também sobre o início da minha trajetória de entender a dança enquanto um processo terapêutico, capaz de me fazer lidar com temas e momentos difíceis através do movimento corporal. Eu realmente acredito que colocar o corpo em movimento resolve vários 'nós' internos sem a gente se dar conta. Para uma pessoa que lida com transtornos psiquiátricos pode ser uma ferramenta importante. E foi a Erínia quem me ajudou a descobrir isso, porque depois dela eu nunca mais consegui parar de dançar e me enveredei por caminhos além da dança tribal. Eu mergulhei um pouco nessa figura mitológica e comecei a trabalhar pensando nos movimentos que ela teria, na sua configuração corporal e nos seus motivos para existir. Foi um processo interessante de criação de personagem que eu nunca tinha feito.


Venenum Saltationes: Existe alguma linguagem oculta por trás de Erínia?

Patricia Nardelli: No início existia uma mensagem para uma pessoa, mas isso acabou ficando para trás à medida que o tempo passou e que a coreografia e a dança tomaram outra dimensão na minha vida. Acho interessante pensar como podemos partir de experiências estritamente pessoais e transformá-las em algo que gere conexão e comunicação entre as pessoas. Acho que é a habilidade mais interessante da arte: essa capacidade de transformar algo interno e tão individual em algo maior e mais abrangente, sem que a gente precise estar entendendo aquele trabalho da mesma forma. A gente nunca sabe quais significados nosso trabalho vai ter depois de solto no mundo, e eu acho isso bastante mágico. Se existe uma linguagem oculta por trás de Erínia, e de todos os meus trabalhos, é essa.




Claro que existe também um fascínio pelas figuras mitológicas e eu não vou fugir do óbvio de dizer que elas nos são tão caras justamente porque falam sobre aspectos humanos presentes em todos nós. Eu acho muito poderoso entrar em contato com esses arquétipos e descobrir de que forma eles existem e se desenvolvem em nós mesmos. Então existe essa linguagem oculta que fala um bocado sobre conexões universalizadas entre os seres humanos, sobre inconsciente coletivo, que é um pouco próxima da ideia que faço sobre o sagrado e o divino (e, consequentemente, sobre o profano, porque essas coisas sempre andam juntas). Erínia é uma forma de honrar tudo isso, mas ela surgiu com muita naturalidade, todas essas percepções foram se desenrolando ao longo do processo.
  

  
Venenum Saltationes: Com quem Erínia tenta se comunicar? E o que ela quer dizer?

Patricia Nardelli: Erínia tenta se comunicar com todos nós, justamente porque fala de um aspecto humano que todos temos. Eu tenho uma certa ressalva em contar o que o trabalho quer dizer, porque gosto de praticar o desapego sobre os significados e também porque acredito fortemente que o significado de um trabalho não pertence a sua criadora, mas sim às pessoas que recebem a obra. Mas pensando para responder essa pergunta, acho que eu diria que Erínia quer falar sobre como nossos sentimentos podem nos transformar. Na minha última apresentação eu comecei a enxergá-la como uma jornada. É sobre ser uma pessoa que, a partir de um evento específico, começa a se tornar outra porque imersa em sentimentos negativos, de vingança e de culpa. E essa outra pessoa é monstruosa porque tem a ver com encarar nossos lados menos nobres. Eu não quero de modo algum dizer que é moralmente errado que a gente os sinta e os viva, não acredito que seja possível não ter em nós aspectos monstruosos e assustadores, que tentamos reprimir. Acho que o conhecimento sobre nossas sombras é essencial para nosso crescimento pessoal e enquanto humanidade. Quando conhecemos algo, podemos encontrar estratégias para lidar com aquilo de formas menos destrutivas. Erínia é sobre isso, sobre abraçar esses sentimentos e angústias, sobre abraçar a raiva e a culpa. Eu acredito muito no poder de tudo que nos angustia. Mas me interessa muito mais saber o que Erínia disse para cada um que a viu do que dizer o que eu quis falar com ela.  






Venenum Saltationes: Comente sobre os processos de criação de Erínia.

Patricia Nardelli: A primeira Erínia saiu um pouco no susto, sem pensar muito sobre. Quando decidi retomá-la em 2014 quis usá-la como uma oportunidade de trabalhar mais na minha técnica e em dar um formato que fizesse mais sentido estético para mim. A primeira Erínia era muito sobre usar o repertório que eu tinha e ver se era possível criar algo com aquilo. Em 2014 ela se tornou mais madura e eu comecei a dar um formato que era mais a minha cara. Houve muito trabalho de movimento envolvido, acho que às vezes o trabalho com uma temática mais dark carece de trabalho de corpo e eu não queria que esse fosse o meu caso. Então trabalhei bastante em cada um dos movimentos que decidi utilizar. Nesse processo, a supervisão da Bruna foi essencial, ela fez com que eu arriscasse movimentos que achava que não era capaz de fazer e me ajudou a trabalhar a técnica e o corpo. Tivemos muitas conversas sobre a concepção também e isso me fez enxergar a coreografia por muitos ângulos.



Acho que o entendimento do personagem foi o processo criativo mais importante nisso tudo, porque foi através dele que os movimentos foram pensados. Eu parti, desde o início, de elementos visuais associados às figuras das Erínias, como ter serpentes nos cabelos e asas. Com o tempo os elementos comportamentais dessas figuras ganharam importância também, em especial o fato de gritarem os pecados dos homens em seus ouvidos. Mas por muito tempo minha Erínia ainda era muito sã e eu sentia falta de algo mais atormentado nela, acho que fiquei bastante tempo presa em uma estética que não me satisfazia. Quando eu comecei a entender que Erínia não era uma personagem fora de mim que eu precisava emular, mas sim um aspecto de mim mesma, tudo mudou. 


Foi quando consegui introduzir elementos que causassem mais estranheza e também percebi que a Erínia em mim era muito mais doce do que eu pensava a princípio. Foi aí que ela virou uma jornada sobre tornar-se monstro. As referências foram fundamentais, já quase no final do processo eu me reencontrei com o arco 'entes queridos' da história em quadrinhos Sandman, do Neil Gaiman. Eu não me lembrava que a história girava em torno de uma personagem que se tornava uma Erínia e relê-la foi muito importante para a construção da minha personagem.

Então acho que em resumo o processo envolve buscar referências que nos ajudem a ver o trabalho por ângulos diferentes, trabalhar o corpo para receber as necessidades que a coreografia vai requerer, e entender que o personagem não está fora de nós, mas é um aspecto da nossa própria subjetividade. 





Priscila Sodré - Resenhando Região Nordeste

Priscila Sodré (BA):



DRT n° 4012 e n° 0298.

Dançarina e produtora. Graduanda do curso de Comunicação Social com Habilitação em Produção Cultural pela Universidade Federal da Bahia - UFBA e aluna do Curso de Educação Profissional em Dança da Fundação Cultural do Estado da Bahia – FUNCEB, atua no cenário artístico desde 2007.

É professora de dança tribal no Studio Dakinis em Salvador, produtora e dançarina dos espetáculos Cabaré do Riso e O Palhaço e a Bailarina, direção Demian Reis. Experimenta interfaces entre o tribal fusion e malabarismo com leques de fogo.

Sua formação e experiências como artista se desenham de maneira híbrida, passando por cursos e apresentações em espetáculos de teatro, circo, performance e dança.  

No universo da dança do ventre e tribal, teve aulas com dançarinas do Brasil e de fora, entre elas Sharon Kihara (EUA), Sundari (Croácia), Hilde Cannoodt (UK), Kilma Farias (PB), Rebeca Piñeiro (SP), Bela Saffe, Gal Sarkis, Joline Andrade (BA), por meio de aulas regulares, workshops e cursos de formação de nível intermediário.

Dançou em eventos como Dramofone 2° e 3° edições, Tribal In Nature 2014, EtnoTribes Festival (Pocket Show e Show de Gala), IV Festival Campo das Tribos (SP), Tribal Remix 2015, Mostra Casa Aberta do Festival Vivadança 2014 e 2015, shows da Banda Desrroche (BA), Solstício das Deusas (SE), Festival Bailares, 10° Festival Viva teatro, viva o circo! – SESC-BA, 11° Festival Internacional de Artistas de Rua da Bahia, Temporada Verão Cênico 2014 – FUNCEB, 1° Festival Pólo Teatral, 10° Festival Anjos do Picadeiro (RJ). Também no espetáculo Dragões de Xangô e no picadeiro dos circos Spacial (SP), Dallas, Barcelona, Picolino e do Capão (BA).

Como produtora, trabalhou por 04 anos na administração do Teatro Gamboa Nova, realizou a produção executiva dos projetos EtnoTribes Festival 2014, IX ENECULT, circulação nacional dos espetáculos "Casa de Ferro" e "Redemoinho" do Grupo Estado Dramático. Captou recursos para a realização de lançamentos pelo Brasil do livro Caçadores de Risos – o maravilhoso mundo da palhaçaria, autor Demian Reis, também para os espetáculos Cabaré do Riso e O Palhaço e a Bailarina.

Dando continuidade à sua formação no estilo Tribal, no presente momento está em Buenos Aires - Argentina, onde participará do Opa!Fest 2015, dançando no Open Stage Hafla e estudando com professoras do Brasil, Argentina, Espanha e com Ashley Lopez, dos Estados Unidos.

Blog: www.priscilassodre.blogspot.com.br



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