[Estilo Tribal de Ser] Khomeissa (Hamsa ou Mão de Fátima)

por Annamaria Marques


Olá pessoal! 

Estamos de volta com mais um informativo sobre a joalheria tribal.

Quem nunca se perguntou o que são e de onde vem todos aqueles enfeites e se neles há algum simbolismo?

Como nesta sessão estamos desvendando os segredos do figurino de Tribal, este adereço não poderia faltar:






Notaram o colar da Carolena Nericcio-Bolman e da Kristine Adams?

Este símbolo é uma Khomeissa, ele é uma variação Tuareg da Hamsá.

A hamsá (árabe: خمسة, chamsa – literalmente “cinco”, referindo-se aos cinco dedos da mão) é um objeto com a aparência da palma da mão com cinco dedos estendidos, usado não só como um amuleto contra o mau olhado, mas também para afastar as energias negativas e trazer felicidade, sorte e fertilidade.

Também conhecido como “mão de Deus”, “chamsá”, “mão de Fátima” ou “mão de Hameshh”, o Hamsá é considerado um amuleto contra o mau-olhado para os adeptos do judaísmo e do islamismo.

A “mão de Hamsá” é caracterizada por representar o desenho de uma mão direita simétrica (dedos com as mesmas proporções), e com um olho ou outros símbolos no meio da palma da mão, como estrelas de Davi, peixes ou pombos.




Estes símbolos ajudam a fortalecer a ideia de proteção da mão de Hamsá, que pode ter inúmeras representações.Por  exemplo, quando representado com os dedos juntos, o amuleto serve para trazer boa sorte; caso esteja com os dedos separados, significa que deve ser usado para afastar as energias negativas, de acordo com a tradição popular.

O hamsá está presente em várias doutrinas orientais, como o judaísmo, no islã e no budismo, possuindo as suas especificações próprias de acordo com cada religião. No budismo, por exemplo, o hamsá é conhecido por Abhaya Mundra e é utilizado para afastar a sensação de medo.



Atualmente, a símbolo hamsá está presente em todo o mundo, seja em estampas de roupas, pingentes ou tatuagens. As pessoas que decidem tatuar uma “mão de Hamsá”, normalmente, buscam pelo significado simbólico que o amuleto carrega, além da beleza estética. 

Entre outras interpretações atribuídas à "mão de Hamsá" está o poder da fertilidade ("mão de Fátima") e da proteção contra o medo.

O hamsá berbere (Khomeissa) é feito na maioria das vezes em metal, mas pode ser encontrado em outros materiais e é uma versão estilizada da Mão de Fátima/Míriam, desenhado em formato geométrico e podendo conter inscrições de bom augúrio na escrita típica deste povo:






Esther Demoneah (RO) - Resenhando

Coordenação Região Norte:


Esther Demoneah,  maranhense nascida em  São Luis. Mora desde muito pequena em Porto Velho no Estado de Rondônia. Esther foi apresentada ao mundo da dança ainda criança. Começou a tocar piano dos 6 aos 15 anos; além de ser integrante de uma banda de Black Metal. Estudou balé clássico, Jazz, sapateado e encantou-se com a dança do ventre na adolescência, porém, sabia que esta ainda não era a sua grande paixão e  algo lhe faltava.

Por causa de problemas familiares, Esther se viu obrigada a guardar na gaveta o sonho de dançar, mas, as coisas foram mudando . Começou a fazer aulas de Zouk, Bolero e Bachata,  mas, apesar de amar estes três estilos tão distintos, ainda sentia que faltava alguma coisa. E foi durante um workshop de Tribal Fusion que descobriu que esta seria sua grande paixão. Apesar de já ter assistido e lido bastante sobre este estilo, não existem professores do estilo em sua cidade. Depois de participar do workshop de Tribal Fusion ministrado pela bailarina Janis Goldbard, começou a estudar mais a fundo tudo o que podia sobre o assunto e a cada estudo, a cada ensaio pode perceber o quanto o Tribal Fusion completava-lhe tratando de estilo musical e  dança.

Em Porto Velho, há carência de profissionais que trabalham exclusivamente com Tribal Fusion. Por conta disso, Esther disponibilizou-se para dar aulas e, desta forma, ela acredita que poderá ensinar e aprender mais, além de ajudar a divulgar o estilo e contribuir para o crescimento do Tribal Fusion na Região Norte, conhecendo novas adeptas que também estejam dispostas a espalhar essa semente, crescendo como bailarinas e como futuras professoras.

Seu grande sonho é que haja união entre as bailarinas de todas as vertentes, de todos os estilos e de todas as academias e que haja muitos grupos de Tribalistas dispostas a compartilhar  o amor por esta arte e colocar nossa região no mapa  como uma região com bons profissionais que se destacam em seus trabalhos.


Vida com Yoga


Vida com Yoga

Sobre a Coluna:


Textos, informações, curiosidades e novidades sobre Yoga.

Yoga é uma Ciência, Arte e Filosofia que busca a integração dos três planos da existência humana (físico, mental e espiritual) entre si e com o Universo, e tem como objetivo a plenitude do ser.



Colunistas convidadas anteriores:


Alana Reis (RN):


Alana Reis, 28 anos, é paulistana, bailarina clássica por formação. Instrutora de Yoga reconhecida pela Liga Internacional de Pakua e professora de Tribal Fusion desde 2013 dos estúdios da Companhia Shaman Tribal em São Paulo e Natal, desde 2014. Além do ballet clássico, se aventurou pelo Jazz e sapateado ainda jovem, aos 12 anos. 
Aos 14 anos conheceu a dança do ventre, em Teresina/PI e a partir daí se dedicou ao estudo da dança árabe e participou de diversos workshops com Ju Marconatto, Samya Jú, Lulu Sabongi, Esmeralda, entre outras bailarinas.

Em meados de 2005 conheceu as danças populares brasileiras, através da Unesp – Rio Claro/SP, onde fez parte do grupo “Oro Ari”, se apresentando em diversos eventos em todo Estado.

Junto às danças populares, continuou seus estudos na dança do ventre e em 2010 conheceu o Tribal Fusion e se tornou aluna regular de Paula Braz – Shaman Tribal Co.. Apaixonada pelo estilo começou a fazer aulas e workshops com bailarinas nacionais e internacionais, como Cibelle Souza (com quem atualmente é aluna regular), Kilma Farias, Karina Leiro, Gabriela Miranda, Mariana Quadros, Rebeca Piñeiro, Guigo Alves,Rachel Brice, Samantha Emanuel, Tjarda Von Straten, Heather Stants, Ariellah, April Rose, Lady Fred, entre outras.



Os workshops na dança tribal foram realizados em diversos estados do Brasil, em Festivais Internacionais, que inclusive, fez parte da organização, como por exemplo, os Shaman’s Fests de 2011, 2012, 2013 e 2014.Já se apresentou em palcos de diversos festivais e desde 2014 é integrante do corpo de baile da Companhia Shaman Tribal. Integrada e apaixonada pela dança étnica contemporânea,de onde nunca mais saiu, Alana morou em Austin/TX, em 2013 e 2014, para fazer aulas de fusão com dança indiana com a bailarina internacional, April Rose.

Desde abril de 2014 resideem Natal/RN, onde ministra aula e faz parte do corpo de baile da Companhia Shaman Tribal.



Nayane Teixeira (SP):



Prof.ª Ramaní (Nayane Teixeira Spigoti) -Yoga Teacher em Yoga Integral, certificada pela Sociedade Brasileira de Yoga Integral, no Sri Aurobindo Ashram Brasil com o Sarva Swami Mahesh Charu.  Atua  ministrando aulas  de  Yoga em espaços especializados, academias e aulas personalizadas.



O Yoga Integral (Purna Yoga) é fundamentado nas raízes dos antigos tratados, mas com uma abordagem nova e evolutiva para a humanidade.  Trabalhando a mente, o corpo energético e o corpo físico, e ir além, criando mecanismos concretos de transformação não apenas individual, mas coletiva. Está ao alcance de todos por estudar toda a potencialidade do corpo físico oferecendo práticas para todos os níveis de preparo físico. O praticante é convidado a se observar e se conhecer melhor através das práticas e levar tudo o que aprendeu na aula para seu dia a dia, pois a sua própria vida deve tornar-se uma prática de Yoga contínua, pois a vida toda é Yoga.



Artigos

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[Feminino Tribal] Juntas somos fortes, irmãs!

por Alana Reis



Foi dada a largada. Agora temos mais um espaço pra chamar de nosso e falar sobre o feminino, sororidade, irmandade, amor e força entre nós <3. De dois em dois meses abriremos nossos corações para tratar de assuntos que nos agradam - ou não – dentro desse nosso universo tribal.

Para abrir nossas conversas bimestrais, vamos debulhar sororidade: facilmente encontrada numa busca rápida do google como a união e aliança entre mulheres baseado na empatia e companheirismo, em busca de alcançar objetivos em comum. Pra nada ficar pra trás, vamos então destrinchar empatia, significado importante para colocar a sororidade em prática.

Não nos enganemos! Empatia é diferente de simpatia, e por mais que a linha pareça tênue entre as duas, a diferença é grande e é o que nos faz conectar com nossas irmãs. Ter empatia por alguém é criar conexão com esta pessoa, é entender a perspectiva do outro como verdade, sem julgamentos. É sentir como o outro se sente para então poder dizer “amiga, eu te entendo, obrigada por compartilhar comigo”. Esse vídeo expressa, pra mim, exatamente o que a empatia significa: 



Eu não quero com esse espaço definir certo e errado, então, deixo muito mais a minha ideia sobre o tema do que uma discussão pautada em politica e/ou ética, mesmo sabendo que a sororidade existe como um dos mais fortes pilares do feminismo, promovendo o sentimento de irmandade entre mulheres em prol da união contra as imposições sociais.

Entendo sororidade como um movimento importante para nós, mulheres, irmãs e guerreiras, que buscam seu espaço e desenvolvimento dentro de nossas relações, já que fomos, em boa parte, criadas num universo de competitividade entre nós mesmas, por isso o valor da empatia, da paciência e do não julgamento com o próximo.

Vejo no mundo tribal essa tentativa e a valorizo. Costumo, desde muito nova, dizer que juntas somos mais fortes, porque somos, porque é muito mais lógico e proveitoso pensar assim. A competição nos afasta, enquanto que a empatia nos conecta, fazer por você o que faria por mim é primordial. A ideia de te ver no palco brilhando é de sincero orgulho e amor, poder aprender com vocês, frequentar os diferentes espaços e vertentes que o tribal proporciona; conhecer novas ideias, novas perspectivas, isso me motiva, nos motiva e é assim que merecemos que seja.


Uma das coisas mais bonitas da nossa dança é essa força que apresentamos unidas, o nome já indica tudo: somos tribo e trabalhamos em conjunto e isso sim tem significado e faz diferença. Que assim seja, que assim se mantenha; que sejamos de coração puro umas com as outras, que respeitemos as diferenças e consideremos as outras perspectivas, afinal, até moeda tem dois lados, quiçá a vida e as relações!



[Flamenco] Glossário de termos do Flamenco – Parte 1

por Karina Leiro




Como qualquer atividade humana, o flamenco tem sua linguagem própria e, atendendo a pedidos, iniciei uma pesquisa dos termos relacionados ao flamenco. Termos esses que podem parecer óbvios e naturais aos que estão inseridos nesse universo, mas que soam estranhos a quem está de fora ou iniciando na arte flamenca.

  • AFICONADO/A: Pessoa entusiasta da arte flamenca. Também se chama assim ao intérprete do flamenco (toque, canto ou dança) que não o exerce como profissional;
  • A PALO SECO: Canto interpretado sem acompanhamento de guitarra, à capela;
  • BAILAOR/A: Artista que dança flamenco;
  • CANTAOR/A: Artista que canta flamenco;
Foto de Horst Lambert
  • CANTE: Termo usado como abreviatura de cante (canto) flamenco, denomina o conjunto de composições musicais em diferentes estilos, que surgiram entre o último terço do século XVIII e a primeira metade do século XIX, pela justaposição de estilos musicais e folclóricos existentes em Andaluzia, região ao sul da Espanha onde nasceu o flamenco;
  • CANTE DE ADELANTE/CANTE DE ATRÁS: Tem a ver com a situação de protagonismo do cantaor. Se ele canta em primeiro plano com o guitarrista acompanhando, se diz que está cantando “adelante”. É um canto para ser escutado, sem dança. Por outro lado, se ele canta em segundo plano, acompanhando a dança se diz que está cantando atrás. É um canto para ser   dançado;
  • COMPÁS: Compasso. A divisão regular do tempo entre diferentes acentos e pulsos. Cada compasso se divide em períodos de igual duração chamados tempos;
  • CUADRO FLAMENCO: Um conjunto de intérpretes de baile, canto e toque flamencos;

    Foto de Lane Hans

  • DUENDE: A energia que permeia o flamenco, sua magia intrínseca. Um poder misterioso que todos sentem, mas que ninguém explica. No imaginário flamenco, o duende vai além da técnica e da inspiração. Quando um artista flamenco experimenta a chegada desse misterioso encanto, se diz que ele “tem duende” ou que canta, dança ou toca “com duende”;
  • GUITARRA: Instrumento principal do flamenco, violão flamenco;
  • JALEAR: Expressar entusiasmo ou animar/incitar aos interpretes do flamenco com palmas, falas, exclamações. Pode ser feito pelo público ou pelos próprios artistas envolvidos na cena. Algumas dessas expressões são: Ole!, Agua!, Toma!
  • PALO: Cada uma das estruturas musicais que existem no flamenco;
  • TABLAO: Palco específico para o flamenco e também o local, o espaço especializado em oferecer espetáculos de flamenco. Inspirados nos antigos Cafés Cantantes, vieram a substituí-los. Se fizeram importantes a partir dos anos 50, promovidos pelo auge do turismo;
  • TOCAOR: Guitarrista flamenco, artista que toca o violão flamenco;
  • ZAPATEAR: Realizar percussão rítmica com os pés. Se utilizam para isso as diferentes partes do pé como a “planta” (metatarso), o “golpe” (o pé inteiro), a “puntera” ou “punta” (a ponta do sapato), o “tacón” (o salto do sapato).


REFERÊNCIAS:

[Venenum Saltationes] O Duende

por Hölle Carogne



A primeira vez que ouvi falar do “Duende” foi na Palestra da Lucy Linck, no “I Encontro Ventre Poa/RS”. Achei tão interessante que resolvi dar uma pesquisada no assunto e agora compartilho com vocês do Aerith Tribal Fusion Blog! Espero que gostem!

"Tero Duende" é uma expressão bastante conhecida no universo do Flamenco. O conceito foi utilizado pela primeira vez em 1922, por Federico Garcia Lorca, no texto “Juego y Teoríadel Duende”. Esta expressão, originalmente, fazia referência apenas à arte andaluza. Hoje, porém, ela já caracteriza outras formas de arte.

“O Duende”seria um“espírito de evocação”,um estado elevado de emoção, expressão e autenticidade. Ter o duende é semelhante a ter alma.


O duende vem de dentro como uma resposta física/emocional do artista. É o que causa calafrios, aquilo que faz sorrir ou chorar como uma reação corporal para uma performance artística que é particularmente expressiva. O duende é um “fazer arrebatar”, é a alma e a essência da arte.

O poeta alemão, Johann Wolfgang Von Goethe definiu o duende como um poder misterioso que todos sentem e nenhum filósofo explica.

O duende é um dom, essência pura que brota da alma do artista. Você não pode domesticá-lo ou controla-lo. O duende nasce sozinho. Você tem ou não tem.



Para Nick Cave, Lorca tenta lançar alguma luz sobre a tristeza estranha e inexplicável que vive no coração de certas obras de arte ("Tudo o que tem de som escuro tem duende") Para Nick, BobDylan, Leonard Cohen, Van Morrison, Tom Waits e Neil Young podem invocar o duende. De acordo com o músico, o duende é demasiado frágil para sobreviver à brutalidade da tecnologia e da crescente aceleração da indústria da música. Para ele talvez não haja dinheiro na tristeza; não existem dólares no duende. “A Melancolia odeia a pressa e flutua em silêncio.”

Todas as canções de amor devem conter duende. Para criar uma canção de amor é necessário não estar realmente feliz. Em primeiro lugar, é necessário abraçar o potencial da dor. A canção de amor deve entrar em ressonância com o sussurro de tristeza e luto.
O escritor que se recusa a explorar as regiões mais escuras do coração nunca vai ser capaz de escrever de forma convincente sobre a maravilha, a magia e a alegria do amor, pois dentro do tecido da canção de amor, dentro de sua melodia, de sua letra, deve-se perceber um reconhecimento da sua capacidade de sofrimento.

Selecionei alguns trechos do texto “Teoria e Prática do Duende” de García Lorca, mas sugiro à todos que leiam todo o material se tiverem interesse no assunto, pois é maravilhoso.



“Em toda Andaluzia, as pessoas falam constantemente do duende e o descobrem naquilo que sai com instinto eficaz.Manuel Torres, disse, esta esplêndida frase: ‘Tudo o que tem sons negros tem duende’. E não há nada mais verdadeiro.

Esses sons negros são o mistério, as raízes que penetram no limo que todos conhecemos, que todos ignoramos, mas de onde nos chega o que é substancial em arte.  Sons negros, disse o homem popular da Espanha, e coincidiu com Goethe, que define o duende ao falar de Paganini, dizendo: ‘Poder misterioso que todos sentem e nenhum filósofo explica’.

Assim, pois, o duende é um poder e não um obrar, é um lutar e não um pensar.  Eu ouvi um velho violonista dizer: ‘O duende não está na garganta; o duende sobe por dentro a partir da planta dos pés.’  Ou seja, não é uma questão de faculdade, mas de verdadeiro estilo vivo; ou seja, de sangue; ou seja, de velhíssima cultura, de criação em ato.


O duende de que falo, obscuro e estremecido, é descendente daquele alegríssimo demônio de Sócrates, mármore e sal que o arranhou indignado no dia em que tomou a cicuta, e do outro melancólico demoniozinho de Descartes, pequeno como amêndoa verde, que, farto de círculos e de linhas, saiu pelos canais para ouvir cantarem os marinheiros bêbados.

Todo homem, todo artista, dirá Nietzsche, cada degrau que sobe na torre de sua perfeição é às custas da luta que trava com um duende, não com um anjo, como se diz, nem com sua musa.  É preciso fazer essa distinção fundamental para a raiz da obra.

O anjo guia e presenteia, defende e evita, previne.

O anjo deslumbra, mas voa sobre a cabeça do homem, está acima, derrama sua graça, e o homem, sem nenhum esforço, realiza sua obra, ou sua simpatia, ou sua dança. 

A musa dita, e, em algumas ocasiões, sopra.  Pode relativamente pouco, porque já está distante e tão cansada (eu a vi duas vezes) que teve que colocar meio coração de mármore.  Os poetas de musa ouvem vozes e não sabem de onde elas vêm; são da musa que os alenta e às vezes os merenda.  A musa desperta a inteligência, traz paisagem de colunas e falso sabor de lauréis, e a inteligência é muitas vezes a inimiga da poesia, porque imita demasiadamente, porque eleva o poeta a um trono de agudas arestas e o faz esquecer que logo podem comê-lo as formigas ou pode cair-lhe na cabeça uma grande lagosta de arsênico, contra a qual nada podem as musas que há nos monóculos ou na rosa de tíbia laca do pequeno salão.


Anjo e musa vêm de fora; o anjo dá luzes e a musa dá formas (Hesíodo aprendeu com elas).  Pão de ouro ou prega de túnicas, o poeta recebe normas no bosquezinho de lauréis. 

Ao contrário, o duende tem que ser despertado nas últimas moradas do sangue.
A verdadeira luta é com o duende.

Para buscar o duende não há mapa nem exercício.  Só se sabe que ele queima o sangue como uma beberagem de vidros, que esgota, que rechaça toda a doce geometria aprendida, que rompe os estilos, que faz com que Goya, mestre nos cinzas, nos pratas e nos rosas da melhor pintura inglesa, pinte com os joelhos e com os punhos com horríveis negros de betume; ou que desnuda Mosén Cinto Verdaguer com o frio dos Pirineus, ou leva Jorge Manrique a esperar a morte no páramo de Ocaña, ou veste com uma roupa verde de saltimbanco o corpo delicado de Rimbaud, ou põe olhos de peixe morto no conde Lautréamont na madrugada do Boulevard.

A chegada do duende pressupõe sempre uma transformação radical em todas as formas sobre velhos planos, dá sensações de frescor totalmente inéditas, com uma qualidade de rosa recém criada, de milagre, que chega a produzir um entusiasmo quase religioso.

Há anos, em um concurso de baile de Jerez de La Frontera, quem ganhou o prêmio foi uma velha de oitenta anos, contra formosas mulheres e meninas com a cintura de água, pelo simples fato de levantar os braços, erguer a cabeça e dar um golpe com o pé sobre o tablado; mas na reunião de musas e de anjos que havia ali, belezas de forma e belezas de sorriso, tinha que ganhar e ganhou aquele duende moribundo que arrastava pelo chão suas asas de facas oxidadas.


Todas as artes são capazes de duende, mas onde ele encontra maior campo, como é natural, é na música, na dança e na poesia falada, já que elas necessitam de um corpo vivo que interprete, porque são formas que nascem e morrem de modo perpétuo e alçam seus contornos sobre um presente exato.

Todas as artes, e também os países, têm capacidade de duende, de anjo e de musa; e assim como a Alemanha tem, com exceções, musa, e a Itália tem permanentemente anjo, a Espanha é em todos os tempos movida pelo duende, como país de música e dança milenares, onde o duende espreme limões de madrugada, e como país de morte, como país aberto à morte.

O duende não chega se não vê possibilidade de morte, se não sabe que ela há de rondar sua casa, se não tem segurança de que há de balançar esses ramos que todos carregamos e que não têm, que não terão consolo.

Com ideia, com som ou com gesto, o duende gosta das bordas do poço em franca luta com o criador.  Anjo e musa escapam com violino ou compasso, e o duende fere, e na cura dessa ferida, que não se fecha nunca, está o insólito, o inventado da obra de um homem.

Dissemos que o duende ama a orla, o limite, a ferida, e se aproxima dos lugares onde as formas se fundem em um anelo superior a suas expressões visíveis.



O duende opera sobre o corpo da bailarina como o vento sobre a areia.  Transforma com mágico poder uma garota em paralítica da lua, ou enche de rubores adolescentes um velho roto que pede esmola pelas tendas de vinho, dá aos cabelos um cheiro de porto noturno, e em todo momento opera sobre os braços com expressões que são mães da dança de todos os tempos.

E é impossível que ele se repita, isso é muito interessante de sublinhar.  O duende não se repete, como não se repetem as formas do mar na tempestade.

Cada arte tem, como é natural, um duende de modo e forma distintos, mas todas unem suas raízes em um ponto de onde manam os sons negros de Manuel Torres, matéria última e fundo comum incontrolável e estremecido de lenho, som, tela e vocábulo.

Sons negros por trás dos quais estão já em terna intimidade os vulcões, as formigas, os zéfiros e a grande noite apertando a cintura com a Via Láctea.

Senhoras e senhores; ergui três arcos e com mão torpe coloquei neles a musa, o anjo e o duende.



A musa permanece quieta; pode ter a túnica de pequenas pregas ou os olhos de vaca que miram em Pompéia o narizinho de quatro caras com que seu grande amigo Picasso a pintou.  O anjo pode agitar cabelos de Antonello de Mesina, túnica de Lippi e violino de Massolino ou de Rousseau.

O duende...  Onde está o duende?  Pelo arco vazio entra um ar mental que sopra com insistências sobre as cabeças dos mortos, em busca de novas paisagens e acentos ignorados; um ar com cheiro de saliva de menino, de erva pisada e véu de medusa que anuncia o constante batismo das coisas recém criadas.”

In Federico García Lorca.  Obras Completas.  Ed. Aguillar.  Tradução: Roberto Mallet.




Feminino Tribal por Alana Reis



















Feminino Tribal
Alana Reis, Natal - RN, Brasil

Sobre a Coluna:

Vamos falar de sororidade! 

A ideia desta coluna é caminhar pelo tema que nos une: nossa irmandade. Entender e discutir saudavelmente como funciona essa união entre mulheres e como ela se faz presente no mundo Tribal.


Sobre a Autora:
Alana Reis, 28 anos, é paulistana, bailarina clássica por formação. Instrutora de Yoga reconhecida pela Liga Internacional de Pakua e professora de Tribal Fusion desde 2013 dos estúdios da Companhia Shaman Tribal em São Paulo e Natal, desde 2014. Além do ballet clássico, se aventurou pelo Jazz e sapateado ainda jovem, aos 12 anos.
Aos 14 anos conheceu a dança do ventre, em Teresina/PI e a partir daí se dedicou ao estudo da dança árabe e participou de diversos workshops com Ju Marconatto, Samya Jú, Lulu Sabongi, Esmeralda, entre outras bailarinas.

Em meados de 2005 conheceu as danças populares brasileiras, através da Unesp – Rio Claro/SP, onde fez parte do grupo “Oro Ari”, se apresentando em diversos eventos em todo Estado.

Junto às danças populares, continuou seus estudos na dança do ventre e em 2010 conheceu o Tribal Fusion e se tornou aluna regular de Paula Braz – Shaman Tribal Co.. Apaixonada pelo estilo começou a fazer aulas e workshops com bailarinas nacionais e internacionais, como Cibelle Souza (com quem atualmente é aluna regular), Kilma Farias, Karina Leiro, Gabriela Miranda, Mariana Quadros, Rebeca Piñeiro, Guigo Alves,Rachel Brice, Samantha Emanuel, Tjarda Von Straten, Heather Stants, Ariellah, April Rose, Lady Fred, entre outras.

Os workshops na dança tribal foram realizados em diversos estados do Brasil, em Festivais Internacionais, que inclusive, fez parte da organização, como por exemplo, os Shaman’s Fests de 2011, 2012, 2013 e 2014.Já se apresentou em palcos de diversos festivais e desde 2014 é integrante do corpo de baile da Companhia Shaman Tribal. Integrada e apaixonada pela dança étnica contemporânea,de onde nunca mais saiu, Alana morou em Austin/TX, em 2013 e 2014, para fazer aulas de fusão com dança indiana com a bailarina internacional, April Rose.

Desde abril de 2014 resideem Natal/RN, onde ministra aula e faz parte do corpo de baile da Companhia Shaman Tribal.

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