[Resenhando-SP] IV Imersão Tribal Simbiose - edição ONLINE

por Samra Hanan | Coordenação: Irene Patelli

 

Nos dias 30 e 31 de janeiro de 2021 aconteceu a 4a edição da Imersão Tribal Simbiose. Como nas edições anteriores, foram 6 horas de aulas dedicadas ao Estilo Tribal. 


📌 Nesta edição tivemos: 


  • Fusão e Brasilidades (Tribal Brasil) com Samra Hanan;
  • Floorwork no FCBD® Style com Natália Espinosa;
  • Combos no Tribal Fusion com Mariana Quadros;
  • Fusão taitiana com Marcelo Justino
  • Espada no FCBD® Style com Lilian Kawatoko;
  • Técnica de braços no Tribal Fusion com Samra Hanan.

 A grande novidade deste ano foi o formato do evento: totalmente ONLINE via ZOOM. Assim pudemos continuar nossos estudos de dança com segurança para todos.

É um grande desafio produzir eventos de dança, dar e fazer aulas no formato ONLINE, e acredito que após 1 ano inteiro nestas condições aprendemos muito. Sem dúvida desenvolvemos novas habilidades enquanto professores e alunos.




Os professores criam novas metodologias e didáticas, os alunos se posicionam de maneira muito mais autônoma e autoral. Assim também foi na Imersão Tribal, foram 6 horas de muito estudo focado, divididas em dois dias com 3h/aulas cada um. E ainda todas as aulas foram gravadas e disponibilizadas para os inscritos por um mês. Vejo que este é um importante recurso nas aulas ONLINE, com o qual podemos equilibrar possíveis oscilações de internet, delays e outras dificuldades inerentes do formato virtual ao vivo.


E enquanto não é possível voltar ao presencial seguimos de forma corajosa e resiliente nos adaptando e construindo novas formas de fazer dança.


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Resenhando-SP


Samra Hanan (São Paulo-SP)  é dançarina/professora/produtora em Dança do Ventre, Tribal Fusion, FCBD Style e Fusões com Danças Brasileiras. Formada em Educação Física pela USP-SP e pós graduada em Dança pela UFBA-BA, dedica-se ao universo das Danças Orientais desde 1998. 

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Irene Rachel Patelli (São Paulo-SP) é técnica em dança formada pela Etec de Artes/SP, coreógrafa, bailarina/dançarina, performer, professora de tribal fusion, dark fusion e ATS. Formação em yôga, pesquisadora de ghawazee e zaar. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>

[Make off] Autocuidado: Qual seu tipo de pele

por Sarah Raquel

Créditos da imagem do @theboyofcheese  

Quanto tempo você não faz o autocuidado uma ação importante em sua vida? O autocuidado é conjunto de ações que cada individuo promove para manter a própria saúde e bem-estar.

Sabemos que em um ano caótico, deixamos passar despercebido a ação de se olhar e ouvir, analisar as nossas necessidades de curto à longo prazo, mas é extremamente importante não deixarmos que a rotina agitada atrapalhe esses momentos. 

O primeiro passo para começar é iniciar uma rotina de skincare. Os benefícios são inúmeros, mas o importante é que não precisa de muito para começar, basta ter consistência nesses cuidados.

Mas o começo de qualquer cuidado, tanto para maquiagem como limpeza é: você realmente sabe qual o seu tipo de pele? Existe a importância de catalogar o seu tipo para o tratamento certo para não desbalancear o pH do seu rosto e causar um efeito não esperado. 

Conheça os 4 tipos universais:

   1) Pele Seca

É caracterizada por ressecamento, descamação, vermelhidão e pouca luminosidade, porque as glândulas sébaceas não produzem lubrificação na quantidade ideal. 

2) Pele Mista

Possui oleosidade na zona T (testa, nariz e queixo) e o restante do rosto pode apresentar pele seca ou normal. Sendo assim, os poros costumam ser irregulares.


3) Pele Normal

Apresenta textura macia ao toque, com poros pequenos e pouco visíveis e sem brilho excessivo, pois tem um equilibrio de hidratação maior do que os outros tipos.


4) Pele Oleosa

Tem o aspecto brilhante, poros mais dilatados e com tendência a cravos e acne, por conta da alta produção de sebo pelas glândulas sebáceas.


Em caso de dúvidas ou caso não identifique qual o seu tipo de pele, é importante que consulte um dermatologista para indicar os melhores tratamentos para o seu tipo de pele.


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Make Off


Sarah Raquel (Fortaleza-CE) iniciou os estudos em danças orientais com a dança do ventre em 2015 e logo se redescobriu na vertente dark fusion, para melhor se expressar dentro desse estilo buscou estudar tribal fusion e o dark fusion. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 



[Resenhando-AL] Tempos de Pandemia: O Tribal Fusion em Alagoas

 por Ana Clara Oliveira


“Um, Dois, Três. Dissolver os efeitos dos antes, para nesta leitura desvestir os figurinos habituais. A dança é o Pensamento do corpo” (Helena Katz)

 


O ano de 2020 será lembrado como o ano das transformações do funcionamento das vidas contemporâneas. A pandemia causada pelo vírus SARS-CoV-2 ameaça a vida humana e muda os modos de relação do corpo com o ambiente em diversos campos de atuação. Eis que a Covid-19 afeta as Artes paralisando, desviando e transbordando a Dança para as redes sociais. Sem dúvida, a Dança e Tecnologia é uma linha de pesquisa e uma área difundida nos espaços acadêmicos e outros lugares importantes. Igualmente, é comum o uso das redes sociais para postagem de fragmentos de vídeos ou obras completas. No entanto, ao entrarmos na quarentena, surge um aumento fabricado do Tribal Fusion nas redes sociais e nos eventos online. Transportamos ainda mais os nossos trabalhos artísticos para o mundo virtual. Em relação a esse ponto, o teórico cultural e sociólogo britânico-jamaicano, Stuart Hall afirma: “o deslocamento tem características positivas; ele desarticula as identidades estáveis do passado, mas também abre a possibilidade de novas articulações: a criação de novas identidades, a produção de novos sujeitos” (HALL, 2006, p. 17-18).

Na Zambak Cia de Dança Tribal (AL), a qual faço parte, as mudanças também existiram. Fomos reinventando as práticas no nosso 4º ano de existência. Longe do desejo da comparação e muito menos da redução da dor ou até da glamourização do sofrimento, mas entre mortes mundiais e lutos particulares na Cia, o Tribal Fusion em Alagoas sofreu desvios e sobreviveu dançando outras histórias. Por essas novas histórias é que escolhi a foto acima com as belas Janna Scarllet e Leeh Lima, ambas integrantes da Zambak, que juntamente comigo fortaleceram a fusão alagoana diante das dificuldades.

Em 2020, experimentamos a potência de formar novas alianças e refletir a nossa “casa”. A socióloga feminista, professora e ativista argentina, María Lugones ressalta: “estamos nos movendo em um tempo de encruzilhadas, de vermos umas às outras na diferença colonial construindo uma nova sujeita de uma nova geopolítica feminista de saber e amar” (LUGONES, 2014, p. 950). Neste sentido, podemos compreender o tema “TEMPOS DE PANDEMIA: O TRIBAL FUSION EM ALAGOAS” através de dois momentos: o primeiro (2020.1), completamente marcado pelas adaptações da Zambak em paralelo com a suspensão temporária da Extensão Universitária de Tribal na UFAL e o segundo (2020.2), voltado para o desabrochar da Cia e ações individuais das integrantes, sem perder de vista o nosso local de abrigo poético: a Cia.

No primeiro semestre de 2020, decidimos nos acolher nos laboratórios criativos de formato online sem a expansão efetiva dos processos criativos nas redes. Na realidade, o nosso objetivo maior estava focalizado em permanecer estudando em tempos de caos. Com muita amorosidade e compreensão do que se passava na vida umas das outras, nos encontrávamos nas telas para conversar do cotidiano das nossas vidas e para dialogar acerca das cenas do Tribal no âmbito internacional e, sobretudo, nacional. Além disso, desenvolvemos dentro da Cia algumas oficinas práticas a partir de temas diversificados das fusões tribais. Destaco o retorno para os estudos da Dança do Ventre, do estilo ATS e o trabalho das lives com a participação das profissionais do Tribal: Camila Saraiva (PB / BA) e Mimi Coelho (BRA / EUA), ambos no meu perfil do instagram. Seguem os cartazes abaixo:

 



No segundo semestre de 2020, o Tribal Fusion em Alagoas foi direcionado para as participações nos eventos por parte de algumas dançarinas da Zambak. Participei como palestrante e professora em eventos nacionais como o Prakis – Simpósio Brasileiro de Fusões Tribais e Festival Tribal Core Trupe Andurá, bem como, estive nas organizações de determinadas ações relevantes para a cena Tribal no Brasil como o Fórum Tribal e Cheias de Assunto (circuito de lives UFBA I UFAL). Do mesmo modo, as integrantes, em especial, Janna Scarllet e Leeh Lima fortificaram como docentes de Tribal no espaço Mandala Danças Ciganas, localizado na cidade de Maceió.

Realço aqui o evento online intitulado como “IV Sarau de Danças, Música, Contos e Poesias Ciganas do Stúdio Mandala Danças Ciganas, no período compreendido entre 07 a 11 de dezembro/2020. As apresentações do evento aconteceram no instagram do @mandaladancasciganas com a presença dos professores do espaço, alunos e convidados. O estilo Tribal foi apresentado em forma de live por Janna Scarllet e Leeh Lima, sendo a minha apresentação gravada. Convido a todos para apreciar os vídeos do IV Sarau e assim, conhecer as artistas que movimentaram o Tribal Fusion em Alagoas. Abaixo, o cartaz do evento:

Findo o Resenhando-AL do mês agradecendo aos apoios criativos de 2020 e a todos os profissionais que auxiliaram o desenvolvimento do tribal em Alagoas, singularmente a Zambak Cia de Dança Tribal que de maneira sensível soube sobreviver. Vida longa ao Tribal!

 

Referências

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11ª edição. Rio de Janeiro: DP&A editora, 2006.

LUGONES, María. Rumo a um feminismo descolonial. v. 22, n. 3, Revista Estudos Feministas, 2014. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/36755.

KATZ, Helena. Um, dois, três: a dança é o pensamento do corpo. Belo Horizonte: Helena Katz, 2005.


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Resenhando-AL


Ana Clara Oliveira (Maceió-AL) é dançarina e pesquisadora do estilo Tribal de Dança do Ventre. Professora de Dança na Escola Técnica de Artes (UFAL). Doutoranda em Artes (UFMG) onde pesquisa a formação no Tribal. Mestrado em Dança (UFBA). Diretora da Zambak Cia de Dança Tribal ... Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>

[Resenhando-RS] Tribal & Bando Celta no Rio Grande do Sul

 por Anath Nagendra

Fonte: site oficial do Bando Celta


Continuando com as revisões dos eventos nos últimos tempos, hoje decidi trazer para vocês um pouco do trabalho do Bando Celta, que vêm produzindo diversas Feiras Medievais no estado, e junto delas, com frequência, vemos a participação de bailarinas e grupos de dança, tanto de Tribal Fusion quanto Ventre e ciganas, além de outras modalidades, como a dança irlandesa!

Apesar de não ser um evento especificamente ligado à dança, considerando a expressão cada vez maior de performances do tipo que os acompanham, acho interessante fazer uma matéria sobre. As feiras medievais estão cada vez mais comuns na região sul, e é uma ótima oportunidade para dançarmos e explorarmos o lado folk, pagão e ritualístico!

Grupo Zahira Razi e Bando Celta
| Fonte |


"O Bando Celta é um grupo musical neo folk que além de fazer shows organiza a Feira Medieval no RS, sendo também uma produtora e Cia artística que agrega muitos artistas e artesãos em eventos temáticos medieval, celta, viking e geek." - via site oficial

| Solstício de Verão (2020, on-line), contando com a participação do Espaço Marrakech e Zahira Razi!


| Grupo Estilo Tribal Caravan participando junto do Bando Celta em evento de 2018.


| Fernanda Zahira Razi com um Tribal Ritualístico na Feira Medieval de PoA de 2018.

| Alex Navar e Paula Sabbatino - Reel e Dança irlandesa

Você pode acompanhar os futuros eventos através do site: https://en.bandocelta.com


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Resenhando-RS



Anath Nagendra (Esteio-RS) é bailarina, professora, coreógrafa e pesquisadora de Danças Árabes, Raja Yoga e, em especial, Tribal Fusion e suas vertentes. Hibridiza sua arte e percepção com grandes doses de psicologia, espiritualidade e ocultismo. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>

[Folclore em Foco] Dança Popular X Dança Cênica X Folclore

Por Nadja El Balady

Convido você, leitor do Coletivo Tribal, a mergulhar comigo no universo cultural e artístico onde nós, estudantes, dançarinos, coreógrafos e professores de tribal e fusões realizamos nossas ideias e sonhos de arte. A coluna “Folclore em Foco”, se propõe a apontar direções para a pessoa que estuda a dança oriental e suas estilizações, entre elas o estilo tribal de dança do ventre. Vamos passear por diferentes culturas, derrubar algumas fronteiras, entendendo que o universo da fusão pode beber de fontes muito diferentes e inspirações variadas.

Você já foi a um festival de dança do ventre?

Se já foi, percebeu que existe uma categoria considerada para “folclore” para determinadas apresentações. Mas o que são estas “danças folclóricas” como se relacionam com o estilo tribal?

Em nosso primeiro mergulho de 2021, convido você a pensar comigo sobre o que são danças folclóricas, danças populares, danças cênicas e teatrais, para poder pensar qual é a dança que você faz.


Danças populares e folclóricas


Samba de Roda
















A dança popular é aquela que faz parte da identidade cultural de determinada comunidade. Acontece em família, com amigos, em ambiente descontraído, celebrações e partes profanas de festas religiosas. A dança popular é espontânea, transmitida oralmente (informalmente), através de hábitos culturais, se transforma através do tempo e faz tranças culturais com outras manifestações culturais de lugares vizinhos.

Inicialmente, a dança popular não requer espaço cênico, não tem plateia. O objetivo é a celebração em si. Expressar sentimentos, unir a comunidade, reafirmar a identidade cultural.

Podem existir diferentes entendimentos do que é folclore. De maneira em geral, entendemos como “folclore” tudo aquilo que se relaciona à tradição e costumes de um povo, que seja transmitido de geração em geração. Sejam lendas, hábitos alimentares, rituais religiosos e artes em geral. Os folguedos populares folclóricos, estão ligados à tradição através de ritos e festejos, que geralmente são de origem religiosa. Inclusive o ritual do casamento, muitas danças populares ao redor do mundo estão conectadas às tradições de matrimônio.

Folia de Reis

É preciso prestar bastante atenção no aspecto religioso comum à muitos dos folguedos folclóricos, no Brasil principalmente. Religiões têm festas, músicas e danças típicas em datas importantes em seus calendários. Estes ritos e festejos, passam a ter uma importância comunitária muito grande e hábitos culturais são mantidos enquanto tradição popular em função da religiosidade. 

Ex: Peguemos duas manifestações populares brasileiras, a Folia de Reis e o Funk. Um pode ser considerado folclore e outro, com certeza não. Por quê? Porque a Folia de Reis é um folguedo completo, que compreende dança, música e teatro, mantida de geração a geração, tradicional e ligada ao ciclo natalino do calendário católico. O Funk... nada disso. 

Então existem dança populares que são folclóricas e outras não. Dentro deste ponto de vista, a grande maioria das danças que aprendemos como folclore árabe não seriam danças folclóricas, mas danças populares, como por exemplo: dabke, shaabi e mesmo o baladi.

A dança popular no palco

O palco é a delimitação do espaço cênico, a divisão entre artista e plateia. O espaço cênico se delimita quando a dança ganha uma intenção, um objetivo. O artista influencia o seu meio compartilhando emoções, ideias e visões de mundo.

Podemos ver isso acontecer em folguedos populares que compreendem também elementos teatrais, incluindo personagens, caracterização de figurino e até diálogos entre as figuras. Todo o folguedo gira em torno deste espaço imaginário que se cria para o desenvolvimento de autos, bailes e jogos de cena.

Danças populares de festas e celebrações também se modificam quando transportadas para o espaço cênico, em performance para a plateia, ganham preocupações cênicas, como mudança de posicionamento, expressão facial, gestual de cena, figurino e técnica. 

Podemos comparar ao nosso samba brasileiro, onde se difere o modo como sambamos em festas, do samba que é levado para o palco por passistas e dançarinos profissionais. A produção de maquiagem e figurino fica para os desfiles e apresentações das escolas de samba. Também a movimentação das passistas profissionais é diferente, com técnica e elementos de efeito cênico que muito diferenciam da dança casual feita em casa.

Danças teatrais e cênicas



Chamamos “dança cênica” todas as modalidades de dança que se desenvolveram a partir do Ballet. Todas as danças modernas e contemporâneas, todos os estilos que vieram do ballet ou que romperam com o ballet, todas as danças de palco desenvolvidas no ocidente. Danças que exigem fundamento técnico, estudo e habilidade. Concebidas para a performance, com o objetivo da experiência artística. A dança cênica pode ser teatral ou abstrata. Teatral significa que existe um enredo, uma dramaturgia, caracterização de personagens, que transmite uma mensagem. A dança abstrata tem por fim o próprio movimento, a habilidade técnica, o virtuosismo. A criação coreográfica e sua execução técnica é o foco principal da performance.

No ocidente, termo “dança teatral” ou “dança teatro” surgiu no início do século XX na Alemanha, como definição de uma corrente de pensamento que pretendia distanciar esta nova forma de dança das tradições do ballet clássico, durante o movimento Expressionista. Um de seus maiores representantes foi Rudolf Laban e teve ainda grandes nomes da dança no ocidente como Mary Wigman e Pina Bausch.

A dança teatral no Egito



É comum encontrarmos, principalmente entre professores egípcios, o entendimento de que danças folclóricas são danças teatrais.

Diversos folguedos folclóricos carregam em suas tradições aspectos teatrais importantes. No Egito, na segunda metade do século XX, o grande coreógrafo Mahmoud Reda transportou com maestria os aspectos teatrais populares para o palco, criando novas corporeidades para representar personagens do povo, criando danças que não existem na tradição popular, mas que se encaixam na teatralidade de representação cultural de hábitos regionais ou períodos históricos, criando uma fantasia folclórica teatral. Podemos citar como exemplo dois estilos criados por Reda: a dança com melaya laff e o Mwashahat. 

Não existe, dentro da tradição popular egípcia”, uma dança com melaya. Este é apenas um acessório de vestimenta comumente usado pelas egípcias há várias décadas atrás. A dança com melaya foi criada por Mahmoud Reda e Farida Fahmy para retratar um tipo de mulher egípcia, criar um personagem incluído em um enredo e com ele uma cena que envolveria interpretação e dança. Melaya é “dança teatral” que usa a movimentação popular “baladi “ou “skandarani” como base técnica de sua expressão.

Danças populares cênicas - estilizações

Dabke

Na intercessão entre a dança cênica e a dança popular, existe este espaço da cena popular, como já exemplificado antes com o samba. Muitas formas de dança étnica ocupam o espaço cênico, sobem ao palco, cumprindo ainda uma função de afirmação da identidade cultural, mas com um novo objetivo: O entretenimento, criando estilizações da cultura popular. Isto acontece com inúmeras manifestações populares no mundo todo. 

Como exemplo deste fenômeno de estilização no mundo árabe e que conhecemos através da dança do ventre, podemos citar o dabke libanês. Uma dança popular, fruto de hábitos do cotidiano, a maior expressão de identidade cultural libanesa, com suas diferentes corporeidades regionais. Não existe casamento sem dabke no Líbano. O dabke é uma dança circular, que não requer roupa especial e não precisa de delimitação de espaço cênico para acontecer. O objetivo é a celebração em si. 

Dabke (coreográfico) no palco

Quando assistimos performances de dabke no palco, normalmente são feitas por grupos de dabke coreográfico, que modificam e inserem novos movimentos em favor da performance cênica. No palco, para uma melhor visualização da cena pelo público, o posicionamento muda, a roda tradicional se abre. Os dançarinos usam figurinos que imitam as roupas do dia a dia, ou representam um período histórico, mas sempre com glamour e brilho. Novo repertório de movimento é criado e existe a valorização do dançarino virtuose.


A dança do ventre e as fusões étnicas

A dança do ventre é uma dança étnica estilizada, cênica, de palco, que teve origem na tradição popular egípcia e foi se tornando o que conhecemos a partir da virada do século XIX para o século XX, quando aconteceram transformações de seu espaço cênico e da sua importância social como arte e entretenimento. Imortalizada para o mundo através do cinema, a raks el sharq (dança do oriente, em árabe), se tornou uma expressão artística popular e tradicional, intimamente conectada às celebrações da cultura egípcia. Com mais de um século de evolução, é uma modalidade cênica que se espalhou pelo mundo e encontrou novos significados para mulheres de diferentes tempos, de diferentes locais.


Assim surgiram as muitas estilizações da dança oriental, no fazer desta dança em diferentes contextos cênicos, sendo atravessadas pelas questões sociais através do tempo, fazendo tranças culturais com muitas outras etnias ao redor do mundo. A dança do ventre que se fazia no Egito da década de 1920, não é a mesma dança do ventre que se faz no Egito em 2020. A dança do ventre egípcia não é igual à dança do ventre no Brasil. Nem poderia mesmo ser. As estilizações da dança surgem e se modificam por conta do tempo, de fatores geográficos e históricos.

FatChance BellyDance

O estilo tribal é fruto da estilização da dança do ventre nos Estados Unidos e tem toda uma história de evolução e fundamento estético.

A estética tribal se liga aos elementos étnicos de danças populares do norte da África, oriente médio, Índia e Europa. Podemos relacionar uma lista enorme de influências culturais, seja na movimentação, nos figurinos e também nas músicas escolhidas para as performances. Estas influências todas misturadas, organizadas em um sistema que compõe técnica, vocabulário de movimentos, elementos de cena e dinâmicas de palco formam o que a gente conhece como fusão. O estilo tribal americano (American Tribal Style®, ATS®, FCBD Style®, Fat Chance Belly Dance Style®) é uma fusão étnica que usa elementos de culturas populares como elementos de cena, para expressão artística, sem representar nenhuma etnia específica.

Fusão é um conceito bem abrangente e compreende que o dançarino domine mais de uma modalidade de dança popular ou cênica para combinar seus elementos e montar uma coisa nova, híbrida, com outro significado. 

A fusão de diversos elementos étnicos em uma performance é uma expressão cênica, que pode ser abstrata ou teatral. Música, figurino, maquiagem, movimentação, são os elementos principais usados para criar coreografias híbridas, que usam mais de uma modalidade de dança. A performance que usa elementos étnicos na fusão, não cumpre papel de representatividade, nem de afirmação de identidade cultural de nenhum povo, mas é a expressão da coreógrafa, da dançarina que pode utilizar diferentes recursos para a criação.


Todas as estilizações de dança do ventre podem ser entendidas como fusão étnica, desde as diferentes corporeidades regionais (dança do ventre egípcia, libanesa, brasileira, argentina, turca, estadunidense, russa), como as diferentes estéticas, como tribal e fusion. Dança fusão é um conceito maior, fusão com dança do ventre é algo mais específico e Fusion Belly dance é um estilo que se originou do estilo tribal nos Estados Unidos e que tem toda uma história e fundamento estético.

Vamos ressaltar isso, que Fusion Belly Dance, apesar de ser traduzido como dança do ventre fusão, não é qualquer fusão com dança do ventre. Hoje em dia, por conta da queda do termo “tribal” pelas dançarinas dos Estados Unidos, todo o contexto do estilo tribal pode ser chamado de fusion belly dance, por falta de melhor definição. 

Esta fusion bellydance que surgiu do tribal fusion no final da primeira década do século XXI, absorveu elementos teatrais, explorando temas, ambientes e personagens, como é o caso do dark fusion e das fusões com inspiração cabaré vaudeville e vintage.


Responsabilidade e apropriação cultural

Nadja El Balady - fusão afro

É preciso responsabilidade ao trabalhar diferentes elementos étnicos em cena. A fusão étnica é a que mais precisa se preocupar com os aspectos da apropriação cultural e suas consequências negativas. Ao mesmo tempo em que pode ser a porta de entrada para estudos e conhecimento a respeito de culturas populares importantes e antigas, a artista ocidental precisa se refletir em como vai se utilizar destes elementos sem aprofundar a desigualdade social e econômica em relação às pessoas a quem pertencem estes elementos étnicos que usamos.

Apesar dos cuidados e reflexões em relação à ética do fazer dança fusão, a existência deste tipo de arte é inevitável. Através das tranças culturais, onde uma pessoa de uma cultura influencia outra, a arte encontra novas formas de expressão e se transforma. É um processo antigo, tão antigo quanto a humanidade. Através do estilo tribal e suas fusões étnicas, ocupamos este lugar de conexão entre diferentes realidades sociais, econômicas, culturais e artísticas, assim como temos como experiência as vantagens e desvantagens de exercer a liberdade artística.

É fato que a dança do ventre no ocidente encontrou um novo significado que se distancia de seus objetivos populares e cênicos no oriente. Principalmente quando começou a ser ensinada em uma metodologia de ensino ocidental, ela começou a ocupar um lugar diferente, artístico, mas também terapêutico, do despertar do feminino, que faz como que a dança do ventre tenha um apelo universal.

A arte revela o ser humano, é a expressão maior de visões de mundo, entendimentos da realidade e imaginário coletivo. Muito do que se cria em dança do ventre, seja tradicional, ou tribal, tem a ver com este imaginário, onde a mulher que dança ocupa um lugar diferente das pressões sociais do patriarcado, diferente da origem social da dança. Como uma dança cênica, tem a liberdade de criar outros contextos que não condizem nada com a realidade cultural em que foi criada e é nesse espaço cênico, teatral, imaginário, que novos horizontes se delineiam para a artista que pode se utilizar desta linguagem para sonhar com uma nova realidade para si, para despertar suas potencialidades e transformar o mundo que a cerca.

Bal Anat (2016)


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Folclore em Foco


Nadja El Balady (Rio de Janeiro-RJ) é diretora do grupo Loko Kamel Tribal Dance e proprietária do Oriental Studio de Dança no Rio de Janeiro, dedicando-se há 21 anos a estudar danças orientais. Professora de Dança do Ventre, American Tribal Style® e Tribal Fusion, com experiência internacional na Europa em shows e workshops. Estuda o Estilo Tribal desde 2005 e é uma das pioneiras da Fusão Tribal Brasileira. . Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Campo em Cena] Apreciação coreográfica: Analisando suas referências, construindo uma identidade


 por Thaisa Martins

COVEN & Zoe Jakes (EUA) |
Foto por Tori & Yaniv Halfon - The Massive Spectacular

Cada dançarina é única no seu fazer. Por mais que existam passos, músicas, regras, indumentárias e etc que unem a manifestação artística em uma estética, o que cada uma faz com a sua dança é particular e especial. A forma de mover, de ver o mundo, de se expressar através do movimento, enfim, cada pedaço que a constitui enquanto ser humano influenciará diretamente na produção artística. Aprender a apreciar as peculiaridades das dançarinas que te inspiram, pode ser uma ferramenta poderosa para a construção da sua dança. Propomos neste artigo, uma reflexão sobre como e por que desenvolver um trabalho de apreciação coreográfica no Tribal Fusion. 


Estamos chamando de “apreciação coreográfica” a ação de assistir de forma analítica um conjunto de obras coreográficas, com o intuito de investigar pontos que se destacam e que foram fundamentais para a sua experiência estética. Através da análise das obras coreográficas, vai-se construindo um emaranhado de referenciais artísticos que podem servir de pontos de execução e investigações no processo criativo. 


É importante ressaltar que não se trata de um processo analítico que visa copiar/mimetizar/plagiar a obra de uma dançarina, mas sim de uma busca referencial para investigações pessoais. Não compactuamos com a prática, infelizmente ainda comum, de plágio tanto estético quanto intelectual. 


Como utilizar a apreciação coreográfica?

A apreciação coreográfica pode ser direcionada para uma pergunta específica, este tipo de exploração tem como principal fator agregador a compreensão de uma questão que já esteja em andamento no seu trabalho pessoal, as soluções que você encontrará nas obras apreciadas podem ser experimentadas no seu processo de criação.


Exemplo 1: Gostaria de criar uma coreografia que explorasse diferentes pontos espaciais. Quais dançarinas que eu conheço costumam fazer coisas nesse sentido?

Resposta: X e Y.


  • Quais as obras coreográficas das dançarinas X e Y eu mais gostei? 1, 2, 3 e 4.
  • Quais as soluções espaciais que elas adotaram nas obras 1, 2, 3 e 4? Variação de nível e diferentes ângulos na camêra.

    Agora é trazer esses pontos para o seu corpo:
  •  Como você se relaciona com os níveis?
  • Quais partes do corpo você pode variar na sua leitura espacial?
  • Será que não está na hora de buscar dicas de enquadramentos na internet?


Exemplo 2: Quero compreender melhor o que foi o início do Tribal Fusion.


  • Quais foram as principais dançarinas?
  • Qual a diferença entre as coreografias delas?
  • Quais os elementos principais do figurino nas suas apresentações?
  • Como elas se relacionavam com a música?
  • Como os movimentos de Dança do Ventre são usados?
  • Os vídeos são de festivais ou de apresentações menores?
  • As peças eram longas ou curtas?
    Todas essas perguntas são respondidas através de apreciação coreográfica e podem servir de insumo para a criação ou compreensão de uma obra com temática old school (por exemplo).


Essas são algumas das investigações criativas que podem surgir após uma apreciação coreográfica direcionada a uma questão. Note que não se trata de um checklist que será seguido rigorosamente, mas sim de uma ferramenta que se constrói cada vez que é utilizada. Você pode (e deve) retornar nestes mesmos vídeos com outras questões para novas possibilidades de investigação.  


Uma outra potente utilização da apreciação coreográfica é a compreensão do que nos atrai no Tribal Fusion, para então encontrar caminhos de criação que estejam de acordo com a nossa identidade. Por se tratar de uma modalidade de dança que tem uma estética elástica e maleável, muitas coisas são Tribal Fusion e se não sabemos o que realmente gostamos de ver e de fazer, acabamos no “limbo da moda”, seja a estética das “russas alongadas e saradas” , das “old school cheias de kuchi e assuit”, das “experimentais conceituais”, das “Rachels Brices super técnicas”, sejam as Indian Fusion, Rock Fusion, Dark Fusion, Flamenco Fusion, Neo Fusion e etc somos capturadas por um mar de possibilidades e referências.


Neste sentido, preparar diversas playlists no YouTube com os vídeos das dançarinas que você conhece, e até gosta superficialmente, pode ser a solução para os seus problemas. Saber dizer “Eu respeito a dançarina X por tudo que ela representa, mas o trabalho dela não me move como o da dançarina Y” é de grande importância para encontrar por onde você quer construir a sua dança. E essas escolhas não são eternas, em algum momento você pode se (re)encontrar com uma dançarina que passa a te mover. Assim, o processo contínuo de apreciação coreográfica te ajudará a consumir a arte de forma totalmente consciente e te apontará para caminhos criativos afins com o que você se identifica.


Um último ponto que acreditamos ser relevante em relação a apreciação coreográfica é mais direcionado para pessoas que gostam de compreender como a cena está se desenhando e onde os discursos estão convergindo, ou não. Como teórica da dança de formação, essa é uma pergunta que muito me atrai. Saber como as pessoas estão produzindo suas danças, como os grandes festivais estão selecionando as artistas principais e como as influenciadoras estão se posicionando em cena é uma caminho para compreender para onde vamos com a manifestação artística num tempo futuro.


Como exemplo, o evento Tribal Massive que aconteceu em março de 2020 publicou todas as apresentações que anteriormente seriam chamadas de Tribal Fusion Bellydance, como Fusion Bellydance. Esse nome que ainda não circulava aqui no Brasil, nessa época, com tanta força passou a ser amplamente utilizado pelas profissionais alguns meses após a divulgação dos vídeos (por volta de maio/junho). O favorito no país, até então, era Dança do Ventre do Estilo Tribal que acabou sendo abandonado por muitas das profissionais que seguiram, talvez de forma até inconsciente, o nome definido pelo festival meses antes.


Conclusão  



Buscamos no presente artigo apresentar o conceito de apreciação coreográfica como uma importante ferramenta do campo da Dança para a criação e investigação no Tribal Fusion. Apresentamos 3 principais caminhos para utilização: 1) a investigação de uma pergunta no processo de criação; 2) como aprofundamento do conhecimento estético da manifestação e derivações; 3) como fonte de análise de tendências da cena. 


Nosso intuito ao abrir a discussão é de apresentar uma ferramenta que possa auxiliar tanto na qualidade, quanto na profundidade de suas criações, assim como evidenciar o comprometimento ético em relação ao plágio estético e intelectual. A cada dia, fica mais evidente a importância de ferramentas e metodologias no fazer artístico que possam nos embasar de forma criteriosa e ética.   


Sigamos unidas!        



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Campo em Cena


Thaisa Martins (Rio de Janeiro-RJ) é graduada em Teoria da Dança (UFRJ) e mestranda em Arqueologia (UFRJ) onde pesquisa processos de reconstrução de dança na Índia antiga. É sócia do Medusa Tribal Studio, estúdio de dança dedicado ao Tribal Fusion, suas derivações e origens no RJ,  junto com a dançarina e fisioterapeuta Maya Felipe. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

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