Quando um ano se inicia é comum idealizarmos a nossa participação nas ações da comunidade de dança. No estado de Alagoas, essa imaginação foi logo concretizada entre os dias 07 e 11 de fevereiro pela 11ª Universidança – Semana Acadêmica do Curso de Licenciatura em Dança da UFAL, quedevido a pandemia COVID-19 e de acordo com as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), ocorreu no modo online através das plataformas virtuais e com inscrições pelo sistema UFAL SIGAA. É importante deixar claro que a Dança Tribal ou Dança do Ventre de Fusão em Alagoas está estreitamente relacionada ao âmbito acadêmico então, estreamos o ano de 2022 conforme zela a referida universidade nos tempos de hoje.
Com suporte nisso, a matéria registra a participação do nosso estilo plural de dança nas seguintes atividades: palestra, oficina e apresentação coreográfica. Na tripla função de artista-professora-pesquisadora, desenvolvi as ações a partir do tema geral do evento “Diálogos Entrelaçados”.
Divulgação da 11ª Universidança UFAL
(Fonte: @universidancaufal)
A palestra “Emancipação Feminina na Dança” que mediada por Bruna Oliveira, foi proferida na mesa redonda virtual por mim e pelas demais convidadas Nanna Buarque e Gabriela Buarque. No tempo de 30 minutos, cada convidada desenvolveu a partir do seu eixo teórico-metodológico a relação da Dança como promovedora de conhecimento e as perspectivas feministas. A minha exposição sobre o tribal esteve localizada nos estudos feministas decoloniais que por sua vez, são amplamente discutidos na minha pesquisa em andamento no Doutorado em Artes da Universidade Federal de Minas Gerais. Em seguida, tivemos um debate com os participantes e geramos considerações para o campo da Dança.
Mesa redonda na 11ª Universidança UFAL
(Fonte: @universidancaufal)
Na oficina “Dança do Ventre de Fusão (estilo Tribal)” identifiquei junto aos participantes alguns temas geradores através de perguntas disparadoras. Os temas inspirados nos ensinamentos do educador Paulo Freire nutriram a proposta de ensino do estilo tribal. A aplicação dos temas geradores aconteceu em diálogo com o repertório de movimentos do Tribal Fusion, especificadamente.
Oficina na 11ª Universidança UFAL
(Fonte: @universidancaufal)
A participação artística do tribal se deu na reapresentação da coreografia “Caminhos”. Alguns de vocês já apreciaram no festival “Shamando as Tribos” – edição Nordeste da Shaman Tribal Co.
Mas, para revivermos o trabalho deixo o link diretamente do canal Universidança UFAL para vocês:
Ficha técnica da apresentação:
Improvisação: Ana Clara
Imagens e montagem: Juliana Barreto
Locação: Estação Jaraguá, Maceió (AL)
Música: Espumas ao vento
Composição: Accioly Neto Intérpretes Luamarte
Com uma programação vasta, inteiramente gratuita e rica, a 11ª Universidança contou com oficinas, apresentações artísticas, palestras e comunicações orais. De antemão, não vou conseguir mencionar todos os convidados e participantes, mas com ternura afirmo que os seus trabalhos foram fundamentais para a promoção da Dança como campo de conhecimento. Cito alguns nomes: Isabelle Rocha, Vanilton Lakka, e Denis Angola.
Agradeço a equipe do Universidança UFAL, em especial, a querida Isabelle Rocha, coordenadora do evento e também professora da Licenciatura em Dança UFAL. Parabéns Universidança! Parabéns UFAL pelo pioneirismo do Tribal na universidade brasileira!
Ana Clara Oliveira (Maceió-AL) é dançarina e pesquisadora do estilo Tribal de Dança do Ventre. Professora de Dança na Escola Técnica de Artes (UFAL). Doutoranda em Artes (UFMG) onde pesquisa a formação no Tribal. Mestrado em Dança (UFBA). Diretora da Zambak Cia de Dança Tribal ...Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>
A matéria apresenta a participação do estilo Tribal de Dança do Ventre ou Fusão Tribal (carinhosamente Tribal) no evento 10ª Universidança – Semana Acadêmica do Curso de Licenciatura em Dança da Universidade Federal de Alagoas, nos dias 02 a 09 de agosto de 2020. Na tripla função de artista-professora-pesquisadora, desenvolvi as seguintes ações no evento: comunicação oral; oficina e apresentação artística.
Divulgação da 10ª Universidança UFAL
(Fonte: @universidancaufal)
Antes de discorrer sobre as minhas atividades, considero importante localizar brevemente a Universidança em 2020 para vocês: “criada em 2009, a Semana Acadêmica do Curso de Licenciatura em Dança – Universidança, é um evento anual de extensão para apresentar, divulgar e promover o Curso de Licenciatura em Dança da Universidade Federal de Alagoas” (UNIVERSIDANÇA, online). Na 10ª edição, devido a pandemia do COVID-19 e de acordo com as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), o evento ocorreu de modo online através das plataformas virtuais e com inscrições pelo sistema UFAL SIGAA.
Diante disso, o momento mais esperado. Afinal, nós atuamos no Tribal. E sabemos o quanto é importante ocupar todos os espaços com muita resistência, crítica e criatividade, inclusive na universidade pública (na coluna “Formação” posso desenvolver melhor esse aspecto). Como de costume, marco a presença do Tribal na Universidança. Para a edição 2020, desenvolvi a comunicação oral de 15 minutos intitulada “O Pós-colonial e o Decolonial no estilo Tribal de Dança do Ventre”, seguida de um debate onde os participantes inscritos no evento levantaram perguntas, provocações críticas e considerações relevantes. Abaixo, a divulgação:
Divulgação da 10ª Universidança UFAL
(Fonte: @universidancaufal)
Ofertei a oficina “Fundamentos do Tribal Fusion na formação do Artista da Dança”. Nela, atuantes do Tribal participaram na condição de estudante. Contudo, a atividade foi aberta ao público em geral, então é sempre uma grande responsabilidade ensinar nossa dança para pessoas que não necessariamente possuem um repertório de Tribal ou Dança do Ventre. Em razão disso, escolhi o tema dos fundamentos com o intuito de introduzir princípios das práticas, técnicas e improvisações do Tribal. Foram dias calorosos! Segue abaixo o card da oficina.
Divulgação da 10ª Universidança UFAL
(Fonte: @universidancaufal)
A participação artística se deu na reapresentação da coreografia “Em que tempo a sua dança está?” Alguns de vocês já apreciaram, porém deixo o link diretamente do canal Universidança UFAL para os que nunca viram:
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Ah! Não esqueçam de curtir e se inscrever no referido canal.
Bem, com uma programação vasta, inteiramente gratuita e rica, a 10ª Universidança contou com oficinas, apresentações artísticas e comunicações orais de participantes das diferentes localidades brasileiras. De antemão, não vou conseguir mencionar todos os participantes e convidados, mas com ternura afirmo que os seus trabalhos foram fundamentais para a promoção da Dança como campo de conhecimento. Cito alguns nomes: Alexandre Américo, Helena Katz, Jurandir Bozo, Jessé Batista, Nanna Buarque, Mariana Camarote e Joyce Barbosa (convidadas, convidados e convidades da Universidança).
Finalizo a matéria com uma novidade: vem aí o 11ª UniversidançaUFAL! De 07 a 11 de fevereiro 2022. Salvem estas datas! Todas, todos e todes poderão participar. Não esqueçam: é GRATUITO. O regulamento se encontra aqui: https://linktr.ee/Universidanca .
Agradeço a equipe do Universidança UFAL, em especial, a querida colega Isabelle Rocha, coordenadora e também professora da Licenciatura em Dança UFAL. Parabéns pelo grandioso evento! “Simbora”!
Ana Clara Oliveira (Maceió-AL) é dançarina e pesquisadora do estilo Tribal de Dança do Ventre. Professora de Dança na Escola Técnica de Artes (UFAL). Doutoranda em Artes (UFMG) onde pesquisa a formação no Tribal. Mestrado em Dança (UFBA). Diretora da Zambak Cia de Dança Tribal ...Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>
Yolanda Cavalcante, Veronica Alves e Kilma Farias | Fonte: acervo Cia Lunay
O presente texto apresenta a Cia Lunay (PB) como uma das fontes inspiradoras para o estilo tribal de dança do ventre em Alagoas. Sem dúvida, esta matéria se fundamenta pelo grandioso trabalho artístico-educacional sistematizado e disseminado pela Cia Lunay ao longo da história do estilo no Brasil. Embora a coluna se dedique aos eventos em Alagoas, necessito expressar o quanto admiramos e respeitamos a Cia Lunay que tanto nos surpreende com brilhantes acontecimentos.
Em razão disso, este grupo profissional paraibano tornou-se um excelente entusiasmo e uma fragrância criativa que impulsionou muitos dos trabalhos artísticos da Zambak Cia de Dança Tribal (AL), a qual participo na condição de diretora. Por tantas vezes, a aproximação do tribal de Alagoas com a Cia Lunay aconteceu por contemplação e também pelos estudos teóricos/práticos promovidos pelo grupo da Paraíba nos eventos do nordeste brasileiro. Em outros momentos, a proximidade respeitosa brotou como desejo sincero da profissionalização do tribal em grupo no chão alagoano, uma vez que a Cia Lunay é referência nas investigações artísticas no campo das fusões. Por último, a conexão se deu como potência constituinte de promoção do tribal, principalmente, na fusão de matrizes afrobrasileiras e populares, que também são elementos de interesse da cena tribal alagoana. Por todos esses fatos, a Cia Lunay é uma grande inspiração para Alagoas e certamente, para todo o Brasil.
Em face do exposto, transporto vocês para a obra da Cia Lunay intitulada Infinitudes (2020), que realizada com recursos da lei Emergencial Cultural Aldir Blanc se consolida como um gigantesco e inovador trabalho de dança em tempos tão sombrios. Infinitudes que recebeu apoio da Secretaria de Estado Cultura/Governo do Estado da Paraíba, Edital Fernanda Benvenutty, possui a seguinte ficha técnica:
Bailarinas
Kilma Farias
Veronica Alves
Yolanda Cavalcante
Imagens e Direção de Fotografia
Mano de Carvalho
Direção geral e Edição de imagens
Kilma Farias
Músicas
Amor Tropical – Cassicobra
Tinaja Dub – Cassicobra
Cobra 0.9 – Cassicobra
O Peso do Meu Coração
Autores: Castello Branco/Tomas Troia
Editora: Deck
Infinitudes Cia Lunay | Fonte: acervo Cia Lunay
Em diálogo com a bailarina da Cia Lunay, Kilma Farias, obtive acesso aos dados específicos da obra de dança Infinitudes que possui aproximadamente vinte e seis minutos:
Extravasar os limites do dentro e do fora, de si e do outro e transbordar nossos corpos em movimento: essa é a poética de Infinitudes. A Cia Lunay traz uma reflexão em vídeo do isolamento gerado pela pandemia. As imagens dançam o quanto isso nos fez olhar para dentro e perceber que para além das 4 paredes, somos seres infinitos, imensos. Essa infinitude se torna ainda maior quando a união é entre mulheres que possuem laços profundos de amizade através da Dança. (LUNAY, CIA, 2020, on-line)
A bailarina Kilma Farias, conta que o objetivo desse trabalho artístico é discutir e, paralelamente, transformar em imagens poéticas a condição que foi estabelecida pela pandemia e isolamento social, tendo como base a relação de afetividade entre as mulheres. De acordo com a bailarina, devido ao fato da Cia Lunay possuir 17 anos de existência ininterruptos, presenciais e de muita produção em dança nos teatros e na natureza, o grupo esbarrou no desafio de conviver sem a presença física. Tal obstáculo veio carregado de situações específicas nas quais uma bailarina passou a necessitar do amparo da outra para sobreviver aos tempos de dor, medo e insegurança coletiva. Então, as três artistas decidiram “quebrar” o isolamento social para o cuidado umas com as outras, inclusive partilhando fisicamente das noites mais difíceis.
Yolanda Cavalcante, Veronica Alves e Kilma Farias | Fonte: acervo Cia Lunay
Nesse momento, as artistas perceberam que olhando para dentro, ou seja, transportando para um mergulho interior e para as relações estabelecidas antes da pandemia, o isolamento se tornava ilusório, pois sentiam as suas fragilidades e suas potências, isto é, estavam acompanhadas de si e do outro. Dessa forma, descobriram que existe apenas o isolamento físico, pois somos parte da natureza, transbordamos, atravessamos, penetramos pelos afetos... somos infinitos... infinitudes. Kilma Farias conta que a materialidade ou o mundo imanente vem de algo maior que é a subjetividade e o mundo transcendente. Justamente por esses aspectos que a obra faz a sua narrativa.
Kilma Farias | Fonte: acervo Cia Lunay
As referências utilizadas para Infinitudes foram o método de estudo do movimento desenvolvido por Rudolf von Laban e o trabalho significativo da Pina Bausch. Igualmente, foi desenvolvida uma pesquisa autoral do estilo tribal Brasil que propõe uma tradução cultural de diversas danças do feminino desde as estéticas e poéticas da dança do ventre até as danças indianas, o flamenco, as danças que abordam arquétipos de deusas e simbologias sagradas. Assim, Infinitudes reverbera o trabalho do corpo cotidiano experienciado na pandemia através do repertório do estilo tribal brasil, utilizando as qualidades/dinâmicas e fatores de movimento Laban e, as inspirações estéticas de Dança-Teatro de Pina Bausch.
Yolanda Cavalcante | Fonte: acervo Cia Lunay
Sugiro fortemente a apreciação da obra completa disponível no canal YouTube Núcleo de Danças Kilma Farias. Para finalizar, destaco alguns aspectos que convocam a atenção: os véus vermelhos, os vestidos esvoaçantes, o vento, o mar, a falésia, o sol, o chão duro, os movimentos sinuosos, o gesto cotidiano autêntico, as cadeiras e bancos vermelhos, os pés descalços, a mala preta, as direções espaciais, o guarda-chuva preto, as pausas, os giros, as pontuações e os bloqueios com as partes corporais, as figuras com os braços, os tempos súbitos da corporalidade, a fluência livre e contida, o figurino preto e justo no corpo, a repetição específica como invenção no que se deseja evidenciar, os cabelos soltos, a iluminação no feminino como nos quadris, pernas, ventre, cabelo e face.
Outros elementos como: o dançar com os objetos cênicos, as ações corporais básicas, o silêncio e as cenas distintas que somam um todo semiótico criativo; um entendimento sobre o tempo, os elementos de matrizes afrobrasileiras e populares que reverenciam a fusão brasil e os aspectos de danças modernas/contemporâneas que se mesclam com os repertórios do estilo; o sentir, o tocar, o amparar, os cuidados, a solidão, o isolamento e o desejo do reencontro; a musicalidade múltipla, o entrelaçamento dos corpos femininos, a atmosfera de união e de bálsamo; os diversos ângulos e edições poéticas dos repertórios específicos do estilo de fusão que permitem ao espectador sulear novos rumos inspiradores para a pluralidade do corpo brasileiro que dança e do tribal no Brasil.
Agradeço a Cia Lunay pela partilha da obra Infinitudes, por motivar sonhos tanto na cena tribal em Alagoas como também em todo o território brasileiro e, especialmente, por ser resistência da classe trabalhadora artística. Espero que Infinitudes possa aquecer o coração de vocês. Reflitam e desfrutem carinhosamente dessa obra maravilhosa.
Ana Clara Oliveira (Maceió-AL) é dançarina e pesquisadora do estilo Tribal de Dança do Ventre. Professora de Dança na Escola Técnica de Artes (UFAL). Doutoranda em Artes (UFMG) onde pesquisa a formação no Tribal. Mestrado em Dança (UFBA). Diretora da Zambak Cia de Dança Tribal ...Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>
A
vida é amiga da arte, é a parte que o sol me ensinou
O
sol que atravessa essa estrada que nunca passou
(Gal
Costa)
Fonte: arquivo pessoal
Nos dias 27 e 28 de março/2021,
a Zambak Cia de Dança Tribal (AL) participou da Caravana Tribal Nordeste (CTNE)
2021 - Edição Especial com formato on-line, sob o financiamento da Lei Aldir
Blanc – PE, SECULT - PE. A participação se deu através de duas ações: palestra/oficina
e performance na mostra artística. Na figura de diretora da Zambak, desenvolvi
as referidas atividades, intituladas, respectivamente, “O pensamento Decolonial
e o Tribal no Brasil” e, o solo “Em que tempo sua dança está?”
A presente matéria aborda o
solo coreográfico e o processo de gravação para o evento CTNE. Este trabalho
artístico de 04 minutos, publicado no canal YouTube
da Carvalho Studio de Dança, expõe
um pouco das minhas experiências formadoras entrelaçadas pelo momento de
resiliência nos tempos atuais. A coreografia possui como base algumas das
técnicas que utilizo e as minhas desordens experienciadas na vida diária. Esses
elementos ocasionaram uma dança que só é possível acontecer quando encarnada
com os sentimentos e a própria realidade.
Assim, o solo apresenta uma
dança de si contaminada pelas informações do meio e, certamente, se constitui
como mais uma ferramenta artística para o acendimento do meu ser na conjuntura
contemporânea. Diante da minha dor e do luto coletivo por causa da COVID-19,
pergunto-me: em que tempo o meu mover se encontra? Tal mover não existe de modo
individualizado, mas está exposto a experiência com o mundo. “Essa movimentação
absorve fronteiras, cria um outro espaço de atuação e permite um fluxo de
continuidade entre diferentes modos de perceber e dialogar no mundo” (SETENTA,
2008, p. 62).
Nos últimos anos, tenho
pensado demasiadamente na palavra “tempo”. Seja na pesquisa acadêmica ou
artística, seja nas questões mais simples do dia a dia, o tempo penetra meus
devaneios. Percebi com mais profundidade que o tempo embora seja um aspecto dos
sujeitos, é elaborado por cada corpo de maneira singular devido aos
acontecimentos que o afetam. Então, é impossível dizer que o tempo da minha
dança é igual aos tempos de outras danças. Igualmente, não se trata de
qualidades de tempo, mas sim de diferentes vulnerabilidades corpóreas diante de
períodos tão incertos. Partindo dessa inquietação, provoco o público com a
pergunta/nome do solo, com vistas a mostrar que a dança não está descolada do
relacionamento com o tempo, nem afastada da existência.
Nesse contexto, prática
não é apenas o meio pelo qual criamos obras a serem analisadas na pesquisa, ou
processos de vida que passam a participar de procedimentos científicos. Mas
esses procedimentos passam a ser definidos pela prática enquanto corpo vivo
(soma) em pulsão espaço-temporal imprevisível. (FERNANDES, 2018, p. 187)
Fonte: arquivo pessoal
Para realizar esse solo que
representou a Zambak na Caravana Tribal Nordeste, convidei a artista alagoana Juliana Barretto, doutora em
antropologia pela Universidade Federal de Pernambuco, que capturou
sensivelmente a proposta. A música “Força Estranha” do compositor Caetano
Veloso, cantada por Gal Costa foi escolhida por retratar experiências e
temporalidades do sujeito a partir de metáforas e certezas.
Força estranha expõe os motores de sua
potência: lembrar e esquecer – os arranjos narrativos daquilo que o sujeito viu
e viveu. A memória do sujeito narrador de Força estranha, sem a ordem
restritiva do cronológico, consagra eventos múltiplos e diversos. A
“organização” dessa unidade está mais próxima dos afetos [...] do que da
sucessão dos fatos. Está mais perto da invenção poética – e, por isso, real.
(REVISTA CAJU, 2016)[1]
Motivada pela canção e por
todo o conjunto vivido na contemporaneidade, debrucei no processo de criação do
solo. A seguir, destaco os aspectos importantes:
1. Proposta
de improvisação
Nesse
procedimento, adotei o ato de improvisar na tentativa de diluir e aterrar a sensibilidade.
O fato de escutar a música e trabalhar constantemente a improvisação permitiu
uma aproximação mais imediata com a proposta que elaborei para performar.
2. Estudo do pulso, do compasso e da pausa
O
pulso é a marcação relevante da estrutura, repetido constantemente. Uma vez que
a pulsação é o elemento do ritmo, passei a compreender o compasso que é o
definidor da marcação rítmica. Em seguida, direcionei o foco para a pausa, ou
seja, para qualquer silêncio que pudesse identificar. E assim, fazer escolhas
criativas.
3.Coreografia
Com
o repertório de movimentos da improvisação e o breve entendimento da música,
selecionei momentos que mais me agradaram e, consequentemente, exerci a
repetição como captura do mover. Cabe dizer que a ideia de repetição que se
aproximou da proposta foi a descrita por Deleuze.
A
repetição nem é a permanência do Uno nem a semelhança do múltiplo. O sujeito do
eterno retorno não é o mesmo, mas o diferente, nem é o semelhante, mas o
dissimilar, nem é o Uno, mas o múltiplo, nem é a necessidade, mas o acaso. (DELEUZE,
2000, p. 126)
4.Figurino, acessórios e maquiagem
A
cor predominante no solo foi o vermelho - saia longa e rodada, choli e flores. Cada elemento escolhido
foi um reforço a algum impulso interno ou alguma sensação e emoção, sempre em
consonância com o estilo tribal de dança do ventre. Como a minha
palestra/oficina foi sobre formas de decolonizar a dança, de modo mais sutil,
retornei a imagem da Frida Kahlo, não no sentido representacional, mas como potência
feminista. Não posso deixar de mencionar que a própria imagem da cantora Gal
Costa no disco “Gal Tropical” (1979), mesma imagem usada no Spotify, também provocou um certo desejo
não literal, mas de impulso organizacional. A maquiagem e o coque seguiram a
proposta superando as minhas expectativas. Ambas, foram concepções da
profissional alagoana Priscilla Lucena.
Fonte:arquivo pessoal
5. Cenário - Mirante São Gonçalo, Maceió (AL)
O
mirante São Gonçalo está localizado na cidade de Maceió e desenha um belo ponto
turístico. O mirante possibilita noções de profundidade do urbano e diversas perspectivas
criativas, por esse motivo foi escolhido.
6. Captura de imagens e edição
A
coreografia foi gravada numa tarde ensolarada e quente de uma segunda-feira. Seguindo
os protocolos de segurança, optamos por usar um dia de feriado na cidade, pois o
ambiente estaria vazio. Gravamos 05 vezes a mesma coreografia com ângulos
distintos, sendo a primeira gravação um teste simples. O segundo ângulo, mais
amplo e aberto, capturou toda a dimensão coreografada. O terceiro ângulo, com enquadramento
específico, conquistou a ideia de imagem de baixo para cima, tendo o sol como
plano de fundo. No quarto ângulo, me posicionei de frente para o sol e de
costas para a câmera a fim de salientar o trabalho natural dos raios de sol no
corpo. Por fim, o quinto ângulo que enfatizou os detalhes faciais e de alguns
gestos, escolhidos propositalmente. Na edição, obtive duas propostas da profissional
Juliana Barretto. A primeira, mais
focalizada como vídeo-dança com colagens criativas que transformaram a obra
coreográfica em quase que numa outra dança. A segunda versão, mais fiel à dança
coreografada com utilização de colagens respeitando à musicalidade. Optei pela
segunda edição como produto final para a CNTE 2021. Mas, confesso que também fiquei
encantada pela primeira versão.
Fonte: arquivo pessoal
A seguir, algumas imagens do
vídeo (solo):
Fonte: arquivo Caravana Tribal Nordeste
Fonte: arquivo Caravana Tribal Nordeste
Para finalizar, deixo o link
do solo:
Espero que tenham gostado
dessa matéria. Agradeço as profissionais Juliana Barretto e Priscilla Lucena
pelos trabalhos e afetos.
Na próxima matéria do RESENHANDO-AL almejo trazer a minha experiência como espectadora do belíssimo show – Mostra
Artística CTNE 2021.
DELEUZE, Gilles. Diferença e Repetição. Lisboa: Relógio
d’Água, 2000.
FERNANDEZ, Ciane. Dança Cristal: da Arte do Movimento à
Abordagem Somático-Performativa. Contribuições de Melina Scialom e Dalton
Carneiro. Salvador: EDUFBA, 2018.
SETENTA, Jussara. O fazer-dizer do corpo: dança e
performatividade. Salvador: EDUFBA, 2008.
Ana Clara Oliveira (Maceió-AL) é dançarina e pesquisadora do estilo Tribal de Dança do Ventre. Professora de Dança na Escola Técnica de Artes (UFAL). Doutoranda em Artes (UFMG) onde pesquisa a formação no Tribal. Mestrado em Dança (UFBA). Diretora da Zambak Cia de Dança Tribal ...Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>