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Sobre o Flamenco - Origens - PARTE 2

Parte 2 de 4 | por Karina Leiro

Soneto de Luna Clara (PE) | Fotos de André Ferreira

Terminamos a postagem anterior falando sobre a chegada dos ciganos à Espanha. Sobre isso, vale acrescentar que os teóricos das origens se dividem em “ciganistas” e “andaluzistas”. Para os teóricos “ciganistas”, somente o que é por eles considerado canto cigano tem garantia de pureza. Os demais cantos, que eles consideram “flamencos ou aciganados” não tem valor intrínseco, e os intérpretes não ciganos são meros aprendizes. Para os andaluzistas, os ciganos que se instalaram em Andaluzia foram apenas transmissores do canto andaluz, às vezes intérpretes geniais. Atualmente, seriam meros atores de um drama do qual tomaram posse, e do qual, segundo Arrebola (2005) “reproduzem, presos a uma tradição tribal, ecos, ressonâncias mecanizadas, artificiosas de algo que pode ter sido, em suas origens, tragédia vital e espontaneamente comunicável” (tradução do autor).

Na formação do flamenco houve um confronto entre a cultura espanhola e a cultura dos ciganos, árabes e até mesmo dos judeus, principalmente na época da reconquista pelos reis católicos (onde todos os não católicos foram perseguidos). Os elementos opostos das culturas tendem a se excluir, se opor uns aos outros ao mesmo tempo em que se interpenetram, conjugam e identificam. Daí emergiu essa manifestação artística e cultural, da interpenetração e conjugação de contrários.
Sevilha
O rastro flamenco se dilui nos três séculos posteriores, durante os quais Sevilha, importante cidade de Andaluzia, tornou-se, como porta de saída para a América, um movimentado centro europeu de negócios. A estreita comunicação entre os dois lados do Atlântico permitiu, além do comércio, o intercambio cultural. Assim começa o caminho de ida de cantos e danças andaluzas, que depois de passar pela peneira nativa e mestiça (e, portanto, africana) traria de volta as guajiras, milongas, rumbas, etc., gêneros mesclados que foram popularizados a princípios do século XX por grandes cantores da época.

As poucas alusões escritas sobre o folclore andaluz nesse grande período, estão dispersos na literatura espanhola compreendida entre os séculos XVI e XVIII. La Gitanilla de Miguel de Cervantes, mesmo autor de Dom Quixote, retrata Preciosa, uma ciganinha que poderia ser considerada protótipo da posterior bailaora e cantaora (bailarina e cantora flamenca). As Cartas Marruecas de José Cadalso dão, já na segunda metade do século XVIII, o que muitos estudiosos consideram o primeiro testemunho escrito sobre o flamenco. Nessa mesma época surgem registros dos primeiros artistas de flamenco. A partir de EI Planeta, cantor natural de Cádiz, vão aparecendo, no triangulo Sevilha, Jerez e Cádiz, três importantes cidades de Andaluzia, outros nomes do canto, da dança e da guitarra.


Soneto de Luna Clara (PE) | Fotos de André Ferreira

        A partir do século XIX começa a existir documentação mais consistente a respeito da história do flamenco, razão pela qual, muitos estudiosos tomam essa época como seu início. São os jornais da época e o olho observador dos viajantes românticos que começam a gerar esses registros.

 Acesse a Parte 1, clicando aqui!

http://aerithtribalfusion.blogspot.com.br/2014/04/flamenco-das-origens-fusao-por-karina.html




Flamenco, das origens à fusão
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Recife, PE

Sobre o Flamenco - Origens - PARTE1

Parte 1 de 4 |  por Karina Leiro



            Pode-se considerar o flamenco como o conjunto de expressões artísticas e culturais constituídas pelo canto, a dança e o toque da guitarra (violão flamenco), trata-se, portanto, de uma manifestação interdisciplinar e, como veremos ao longo do texto, mestiça desde a sua formação. Reconstruir a história do flamenco, buscar sua origem e seguir seus passos até os dias de hoje não é uma tarefa fácil. A carência de tradição escrita até o século XIX, acabou gerando diversas e contraditórias teorias sobre as origens do flamenco que tentam explicar quando e porque ele surgiu. Existe consenso apenas a respeito de onde, o berço do flamenco seria mesmo Andaluzia, região ao sul da Espanha.

Ainda que a maioria dos estudiosos, ao buscar a origem do flamenco, ignore a história do sul da península ibérica, anterior ao século XVIII,creio que tem lógica pensar que o cruzamento de culturas ocorrido em Andaluzia ao longo de sua história, tem a ver com a formação dessa expressão artística e cultural.

O genótipo flamenco contém informações sobre suas influências greco-romanas, refugiadas até a Idade Média nos cantos litúrgicos bizantinos. Segundo Calado (2005), Manuel de Falla, compositor espanhol, achou essa conexão em traços como a melodia e a escala menor descendente. Parece haver também influencias hindus. Os estudiosos citam Abulhasam Ali Ben Nají (Zyryab), procedente de Bagdá, que foi músico da corte durante o califado de Abderraman 11 em Córdoba (822-852 O.C.). Objeto de estudos para intelectuais e fonte de inspiração para os artistas, Ziryab (o pássaro negro) foi tema de um disco do músico Paco de Lucía em 1990.

A dominação árabe (711-1492) enraizou na região de Andaluzia modos de organização política, social e econômica, ciências, artes e costumes. Depois de mais sete séculos de convivência, a música não deve ter sido menos influenciada. Assim mostram exemplos do palpável paralelismo entre as modulações dos cantos flamencos e as chamadas à oração muçulmanas, assim como entre os ritmos de ambas as músicas. Além disso, textos do séc. XIX, tais como Cosas de Espanha de Richard Ford, fundamentam a idéia da influência árabe no flamenco.

Tampouco podemos descartar a influência judaica na formação da arte flamenca. Rossy (1998) diz que "o povo israelita por sua convivência de séculos com os espanhóis, inclusive na Espanha muçulmana, teve grande oportunidade de influir no canto flamenco..." (tradução do autor). O autor acredita que muitos cantores flamencos, os chamados cantaores, eram judeus.

O paulatino desmembramento político dos territórios árabe-andaluzes abre para os reinos cristãos do norte da península, as portas desse rico caldeirão cultural. Desde 1236, ano de queda de Córdoba até 1492 quando a tomada de Granada finaliza a reconquista, Castela influenciou Andaluzia e foi, obviamente, também influenciada por ela. O fato é que a partir do século XV outros modos culturais tiveram caminho livre para matizar ainda mais o repertório cultural de Andaluzia.

Na mesma época, ocorreu outro fator chave para a formação do flamenco; a chegada dos ciganos à Espanha. O mais antigo documento que trata dessa onda de imigrantes data de 1425. A teoria mais aceita é que os ciganos seriam de Punjab, noroeste da índia, de onde teriam empreendido um longo êxodo que, entre os séculos VII e XIV, por causas pouco esclarecidas, foi adentrando o continente europeu. Os ciganos que se estabeleceram no sul da península ibérica, teriam se encontrado com o rico folclore andaluz, o qual teriam assimilado, e passado a interpretar segundo as características de sua própria cultura. 



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Flamenco, das origens à fusão
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Recife, PE

Flamenco, das origens à fusão por Karina Leiro



Flamenco, das origens à fusão
Karina Leiro, Recife -PE, Brasil
Sobre a coluna:
O Flamenco é um dos pilares do tribal, sendo, ele mesmo, uma manifestação multicultural e híbrida desde as suas origens, tendo, portanto, desde os seus primórdios, características atribuídas às manifestações artístico-culturais da contemporaneidade. Percebo que o tribal fusion está para as danças ditas “étnicas” (Flamenco, dança do ventre, dança indiana) assim como a dança contemporânea está para as modalidades das quais se utiliza como base (ballet clássico, moderno, jazz, etc). Ou seja, utilizando-se das movimentações dessas danças, vai desconstruindo e criando sua própria linguagem, linguagem essa, que, embora contenha elementos das danças tradicionais ou das modalidades com técnicas mais cristalizadas, já não é mais literalmente aquilo nem uma simples mistura das danças que tomou como base, mas algo que se transformou, hibridizou, fundiu e que está em constante deslizamento, sem se fechar enquanto técnica pronta e acabada.

Nesta coluna pretendo contribuir trazendo informaçoes sobre a dança flamenca tradicional, suas origens, história, estilos musicais, as modificações que a mesma vem sofrendo ao longo do tempo e abordar a questão da fusão, trazendo um pouco da minha experiência como bailarina e coreógrafa, primeiro (e ainda hoje) com o flamenco tradicional e depois com as possibilidades que o estudo do tribal me abriu de dialogar e fundir com outras linguagens.

Sobre a autora:


Karina Leiro - Foi aluna e posteriormente bailarina e professora da EDACE, Escola de Dança Arte e Cultura Espanhola e integrante do Mar Esmeralda Cia de Dança (ambos no centro Espanhol de Salvador, Bahia), desde 1990 até o ano de 2006 quando foi convidada para dançar fora do Brasil. Foi bailarina de flamenco no Palácio de Almanzor em Fátima, Portugal. Foi bailarina do grupo Hijas del Flamenco em Lisboa, tendo participado de vários eventos e espetáculos entre os quais o "Mescla – Da Origem a Fusão" no café teatro EDSAE em Lisboa. Integrou também o grupo El Camino do guitarrista Xavier LLonch com quem se apresentou em vários espetáculos, entre eles a mostra de dança do Festival do Sudoeste em Portugal (2007). Estudou dança flamenca na Flamenco Ados, escola de Isabel Bayón e Ángel Atienza em Sevilha. Foi bailarina convidada da turnê de lançamento do CD Mediterraneo Profumo Latino do tenor italiano Giovanni D'Amore e paricipou do Fusion Dances, grupo de fusão de salsa, flamenco e dança do ventre. Foi professora da Escola 1001 Danças no Ateneu comercial de Lisboa tendo ministrado workshops e aulas diversas, inclusive no Andanças, Festival Nacional de Dança em São Pedro do Sul, Portugal. Em 2008, já de volta ao Brasil, em parceria com o guitarrista Eduardo Bertussi, fundou o grupo Aires em Salvador, Bahia, tendo participado com o mesmo e também como solista em diversos eventos e espetáculos. Foi professora de flamenco no curso de extensão da Universidade Federal da Bahia em 2008 e 2009.  

Em 2009 iniciou o estudo da Fusão Tribal com Bela Saffe na casa Kairós em Salvador, tendo estudado também com Kilma Farias e Ale Carvalho, além de ter feito workshops com diversos profissionais de tribal entre eles Sharon Kihara, Carolena Nericcio, Kami Liddle, Lady Fred, Jill Parker, Ariellah, Morgana e Rachel Brice, além vários profissionais do Brasil. Atualmente reside em Recife, foi bailarina de tribal do ATF - Aquarius Tribal Fusion. Atualmente é bailarina, professora e coreógrafa de flamenco do Instituto Cervantes Recife, professora de dança flamenca do Ballet Gonzalez, proprietária do Studio Karina Leiro, ministrando aulas e promovendo cursos de flamenco com profissionais nacionais e internacionais. É diretora e bailarina de tribal fusion da Cia Lunay Pernambuco, sob a direção geral de Kilma Farias. É diretora da Cia Karina Leiro de dança Flamenca. Atua como bailarina e ministra workshops de flamenco tradicional e fusão em várias cidades do Brasil e do exterior. É também bailarina e coreógrafa da Cia DSA (Dancers South America) em São Paulo, dirigida por Adriana Bele Fusco.
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Entrevista:

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