Parte 3 de 4 | por Karina Leiro
Terminamos a sessão anterior falando sobre a documentação mais consistente que começa a surgir a partir do século XIX a respeito da história do
flamenco, razão pela qual, muitos estudiosos tomam essa época como seu início. Agora, com documentos nas mãos, era gerado nas noites, nos
pátios das casas, em restaurantes fora do centro, à luz dos candeeiros, o
flamenco, que coexistia com outras danças folclóricas de Andaluzia e da
Espanha, através da chamada Escola Bolera. O bairro de Triana em Sevilha já
aparece como o epicentro desse pré-flamenco. Eram cantados e dançados ritmos
ensinados nas academias, que funcionavam também como salões de exibição
voltados para o turismo. Com o salão, começou a competir um novo espaço, o Café
Cantante. O primeiro, Los Lombardos, foi inaugurado em Sevilha em 1847. Estes locais
proporcionaram um impulso decisivo para o flamenco até por causa da
concorrência; era preciso fazer um melhor espetáculo que os demais para atrair
um maior número de clientes. Nesses cafés, configurou-se o que se chamou de
época de ouro do flamenco, até que o aparecimento do cinematógrafo e o gosto
pelo cuplé (canção curta e alegre cantada em teatros e em outros lugares de
espetáculo) acabaram afastando o flamenco desses lugares entre as décadas de
vinte e trinta, de maneira que ele precisou buscar outras formas, como o
flamenco teatral, para chegar ao público.
No
final do século XIX, surge o fonógrafo criado por Thomas Edison. Com a intenção
de promover o aparelho internacionalmente, são gravadas músicas de muitos
lugares do mundo e entre elas o flamenco. A primeira gravação teria sido em
1895, sendo Juan Breva, o primeiro a gravar em cilindros de cera. No inicio do
século XX começam a gravar em discos de vinil e as primeiras companhias
internacionais de discografia se estabelecem no mercado espanhol. O flamenco,
já profissionalizado, não demorou a cruzar as fronteiras de Andaluzia. Ainda em
meados do século XIX se tem notícia de algumas festas flamencas em Madri, o que
implica em novas trocas e influências. O gosto por flamenco na corte chega a
tal ponto que, já no final do século, parte da intelectualidade da oposição
começa uma campanha anti-flamenquista cujos ecos chegam
à França. Como reação à atitude dos poetas no fim do século XIX, uma geração de
intelectuais, sobretudo Federico Garcia
Lorca, tomou o flamenco como musa, pois queria recuperá-lo como patrimônio
artístico popular (Fig. 2). De Lorca é a obra Romancero Gitano e a gravação ao
piano com a cantora La Argentinita, do repertório popular de canções
espanholas. A obra do poeta, fuzilado após o golpe de estado franquista, foi e
segue sendo inspiração habitual para a dança e o canto flamencos.
Figura 2 |
Precisamente Lorca, junto com o compositor Manuel de Falla
(Fig. 3), que experimentava na música um processo paralelo ao dos poetas e
outros artistas de várias áreas, agrupados no Centro Artístico e Literário de
Granada, organizaram o primeiro concurso de cante jondo (canto flamenco) em
1922, com o objetivo de revalorizar este canto que já naquela época era
considerado contaminado e em
decadência.
Figura 3 |
Flamenco, das origens à fusão
_______________________________________
Recife, PE