[Fórum Tribal] Nomenclatura

 Resumo do 1º Dia do Fórum Tribal -1ª edição

Tema: Nomenclatura

Data: 08 de novembro de 2020 às 15 Hs 

Tempo da reunião: 2 horas 

Integrantes da mesa mediadora: Sarah Belford (DF), Hollë Carogne (RS) e Maya Felipe (RJ)

A reunião se iniciou com a fala da mediadora Sarah Belfort, representante da região Centro-Oeste (Brasília) que enumerou os tópicos que serão debatidos, são eles:

  • Como a mudança da nomenclatura impacta a cena Brasileira ?

  • Como o fazer político influencia na mudança da nomenclatura ?

  • Como a mudança do nome pode impactar  a estética do estilo ?

  • Como a representatividade negra está influenciando esse processo ?

  • Como perpetuar a modalidade sem a introjeção de estereótipos ?

  • Como as subdivisões do estilo são afetadas ?


  Em seguida, a responsável pelo chat Hölle Carogne, integrante representando a região sul do país (Rio Grande do Sul)  fez sua apresentação.


A primeira pessoa a debater apresentou suas preocupações a respeito do assunto, sobre a importância de se ater ao tema devido ao amplo desdobramento de questões que poderiam ocorrer. Indagação : Porque o nome Tribal é tão inapropriado?  


Relato de definições e reflexões para o termo tribal: termo de alteridade que, da mesma forma que o termo étinico, propõe o olhar do outro ao outro (outro não hegemônico, não padrão, não branco, não europeu). Aborda a relação da história hegemônica com o olhar ao “outro” de forma excludente e somente inserida através da antropologia. Relata a temporalidade do termo e sua relação com a década de 70, sendo utilizado para indicar grupos unidos por uma afinidade para com algo. Na sua opinião o termo Tribal não deveria mais ser utilizado por carregar esses preconceitos expostos pelo olhar decolonial atual.

 

A primeira participante realiza o convite para que alguém da comunidade LGBTQ + e/ou algum representante que vivencia questões de negritude e/ou questões de minoria, que tenha reflexões a respeito, para falar sobre sua percepção do preconceito no meio e na utilização do termo Tribal em sua nomenclatura. 


Participante LGBTQ+: Aborda sobre a ressignificação de termos criando a ponte com a possibilidade de ressignificação do termo tribal dando exemplos sobre os ocorridos no meio acadêmico e não acadêmico.


Terceira pessoa a falar aborda o tema pelo olhar de mulher afro-brasileira / latino-americana: inicialmente aborda o tema pela visão latina colocando o Imperialismo e a colonização em pauta e questionando o como a comunidade latina deveria se posicionar quanto a mudança da nomenclatura. Aborda o sistema hierárquico do estilo FCBD style e suas características mercadológicas excludentes aos que não possuem poder monetário, acreditando que essas questões podem influenciar na nomenclatura. Concorda com a não representatividade do termo tribal por questões sociais, práticas e mercadológicas. Aborda a dificuldade da compreensão da natureza do fazer tribal para com editais e público em geral devido a nomenclatura originária que não define o fazer da dança para o leigo. 

Pela visão afro-brasileira aborda a necessidade de uma alternativa para que se possa experienciar a diversidade, se referindo a essas culturas de forma mais respeitosa. 


Quarta pessoa a falar também no lugar de fala da pessoa negra, inicia o discurso referenciando o livro : Antropologia da Dança, autora Giselle Guilhon - capítulos sobre os termo tribo e étinico, indicando a leitura para nossa comunidade de dança. Fala sobre a identificação da comunidade com o termo Tribal mesmo com seus entraves e sobre a sua opinião elegendo o termo Dança do ventre estilo tribal como termo de transição para a nova nomenclatura não definida. Aborda a importância da conversa com outros grupos e "etnias" que são comumente classificados como tribos, mesmo que os mesmos não se identifiquem como tal, para dar  lugar de fala a essas pessoas que são rotuladas como tribos e escutar sua opinião sobre a utilização do termo.  


A quinta participante aborda a necessidade de se aproximar da academia para uma discussão teórica sobre as terminologias, excluindo a questão do gostar ou não gostar do termo. A mesma indaga se a mudança da nomenclatura se dá por uma preocupação teórica ou epistemológica ou por uma questão de mercado? Indaga se existe sentido na mudança da nomenclatura dentro da nossa realidade de mercado brasileiro por questões inerentes ao mercado estadunidense. Qual a nossa relação com esse mercado estadunidense e o quanto essa pauta está ancorada em perspectivas liberais de pensamento (que perpetuam uma lógica capitalista e mercadológica excludente)? A mesma relata não gostar do termo tribo fora do contexto de dança e ainda enfatiza a disparidade de trocar o termo tribal por etnico já que os dois entram em uma mesma visão colonialista.


A sexta participante faz referência a fala de uma palestrante do evento Praksis  “O chicote duplo da colonização” e discorre sobre. Traz para a pauta a criação da nomenclatura pela observação de terceiros e não de pessoas referentes a criação do estilo. Relata sua visão sobre a dificuldade de debater o tema sem recorrer a materiais e questionamentos referentes ao mercado onde foi criado o estilo já que nossa realidade é toda outra.


A próxima participante a pedir a palavra enfatiza o desconhecimento do público geral e dos praticantes de outras modalidades de dança sobre o estilo, e o quanto a atual conjuntura de mudanças e utilização de nomes diferentes por profissionais renomados pode dificultar a divulgação / mercado de nosso estilo.  Relata que devido a nomenclatura atual possuir ampla possibilidade de associações/interpretações, a mesma sempre precisa discorrer longamente sobre a história do estilo para que o mesmo seja compreendido. 

 

A próxima participante cita as indagações da dançarina/professora/pesquisadora Donna Mejia e a sua influência no pensar o termo tribal da atualidade. Relata a sua percepção sobre as indagações da pesquisadora citada acima, onde interpreta que precisamos nos aprofundar no estudo das origens, dos povos e sua cultura devido às peculiaridades vinculadas ao estilo e não somente mudar a nomenclatura.


A nona participante discorre sobre o surgimento do tema da apropriação cultural em meados de 2010 nos Estados Unidos, e a dificuldade das grandes representantes do estilo em abordar o tema e se posicionar antes do posicionamento de Donna Mejia, que se enquadra em um amplo lugar de fala. Discorre sobre a maior dificuldade das dançarinas do estilo que se encontram na América Latina em estudar sobre a bases do estilo através de cursos com as precursoras, devido a sua concentração nos EUA, aos valores elevados, e a valorização do dólar. Apresenta sua preocupação com a ideia de algumas dançarinas de aderir a uma nomenclatura de forma isolada de acordo com as necessidade e peculiaridades da estrutura social local e se isolar do estilo que já possui praticantes em muitos países.

Expressa sua opinião sobre a necessidade de um termo consensual indicado pelos grandes nomes de referência e a necessidade de uma cobrança do grupo latino americano a essas representantes estadunidenses através de elaborações em conjunto de forma uníssona enfatizando a necessidade da nomenclatura para o fazer mercadológico. 


A décima participante enfatiza a questão da nomenclatura atual não ser descritiva, carregando um peso de “nome não oficial” desde sua criação. Traz luz a um dos porquês para dificuldade de se nomear o estilo : a dificuldade de definir o estilo tribal por sua ampla variedade de interpretações sobre quais são suas principais bases. Relata que na sua opinião o momento para o estilo é de extrema importância e pode agregar muito pelo pensar a dança, suas características, a pontuação das diferenças e semelhanças de cada uma das várias vertentes atuais do estilo. Mostra sua discordância com uma das participantes anteriores sobre o termo Tribal ser um termo acadêmico. Na sua opinião, o termo tribal está atualmente (nos últimos 10 anos) sendo discutido no meio acadêmico para a compreensão do que foi utilizado por pessoas leigas intuitivamente. 

Indaga se assim como o termo, se a dança em si moralmente falando, não é algo politicamente incorreto na visão atual. Na sua opinião ela não seria.

Exemplifica a adaptação a nomes inapropriados utilizando o termo Dança do Ventre e relata a adaptação do público ao termo com o passar do tempo e o crescimento da modalidade. 


A décima primeira participante enfatiza a dificuldade da escuta pelas estadunidenses, dos  países que abraçaram o estilo FCBD Style e sofreram grande impacto com a mudança da nomenclatura.  Na sua opinião, a mudança do nome sem a discussão sobre  apropriação cultural se caracteriza como uma “fuga” improdutiva.

Em sua opinião seria interessante haver maiores pontes, conversas, debates entre os países subalternizados sem a necessidade da constante consulta dos países centrais em relação ao estilo. Concorda com a opinião de participantes anteriores sobre a importância de se estudar e compreender o fazer do tribal ao invés de focar totalmente na identidade através da nomenclatura.


No chat do encontro uma participante perguntou: o que vocês acham do termo Transnacional fusion? e pede para que outras participantes discorrem sobre.


A  próxima participante faz uma ratificação por entender que não foi bem compreendida por uma das participantes que se baseou em sua fala. Ela enfatiza que o termo tribal não veio do meio acadêmico, porém o questionamento/ inquietação sobre a utilização do termo tribal  sim. Fala sobre o termo Tribo Urbana criado na década de 80 e sua influência na nomenclatura do estilo pela alargamento no conceito de tribo amplamente criticado atualmente pela academia. Aborda a importância do estudo do termo Tribal pelo olhar acadêmico sem a necessidade de o fazer academicista, gerando uma construção do conhecimento através da dialógica entre  academia e sociedade.


Em resposta ao questionamento no chat, uma das participantes responde:  Pontua que a pesquisa de Donna Mejía se iniciou em 2011 sem grande adesão de suas pesquisas pela comunidade da dança. Ela relata que a tradução/ intenção da utilização do termo transnacional seria ‘’para além das fronteiras’’, aproximando mais as pessoas. A participante discorda da utilização do termo pela não diluição das fronteiras culturais, visto que a mesma foi criada em meio ao paradigma cultural colonialista do fazer estadunidense. 


A próxima participante relata que o termo transnacional não foi criado por Donna Mejia, visto que o termo foi pensado na década de 90 pelas ciências sociais pela necessidade do pensar o colonial e o aculturamento dos povos colonizados, agindo para tirar o colonizado do lugar de passivo e trazendo o foco para a influência gerada pelo encontro das duas cultural simultaneamente.

Pontua sobre a percepção através de um olhar antropológico acadêmico de Donna Mejia como professora de dança para a eleição na sugestão do novo termo para designação do estilo. Porém, de acordo com a participante, o termo transnacional já não é bem aceito no meio acadêmico. Para finalizar, se posiciona discordando da fala de uma das participantes sobre o fazer da dança tribal não ser correto, já que a seu ver a dança só não é certa se não houver embasamento.


A próxima participante relata seu descontentamento com o termo transnacional e sobre a problematização em relação a trocar o nome da dança após ser utilizada por longo período. No seu ponto de vista o termo tribal atualmente já é reconhecido com suas particularidades corporais e estrutura visual e deixar de usar o termo seria uma grande perda do que já foi conquistado no mercado da dança. 


O último participante tenta resumir os conteúdos abordados. utiliza exemplos para trazer a pauta a tentativa atual de várias danças de buscar nomenclaturas mais fiéis às suas origem para definir de forma mais precisa as culturas estudadas, dando como exemplo o uso do termo Raq al sharq ao invés de dança do ventre e cavalo marinho no lugar de danças brasileiras, diminuindo assim a utilização de termos hegemônicos. Embasado nessa tendência, classifica o transnacional como hegemônico e inapropriado. Ratifica falas de participantes anteriores sobre a necessidade da maior conversa entre academia e conhecimento popular, mostrando a importância de ambos. 


Enfatiza a importância da decisão do nome apropriado para o estilo  devido a necessidade mercadológica dos profissionais da dança e discorre sobre o quanto as atuais discussões e o pensar o estilo junto a academia vão afetar o nosso fazer da dança.


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Fórum Tribal

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Fórum Tribal - Fórum Brasileiro de Dança Tribal e Fusões

 


Sobre a coluna:

Muito se fala em um lugar ideal, onde possamos olhar no fundo dos olhos e reconhecer algo de grandioso além-nós. Não me servem palavras desgastadas, então penso que esse lugar não tenha nome.

Entretanto, meu corpo ainda vibra quando penso em “comunidade”. Essa palavra que enche a boca e o coração. Comunidade me parece algo inteiro, construída de pequenos fragmentos. Míseros farelos. Ou ainda, grandes universos.

Penso que esse lugar, morada do que é comum, não exista e que, talvez, seja impossível criá-lo. Mas bem no fundo do meu âmago, acreditar neste improvável me dá forças para mudar o processo, o hoje, o agora.

Eu acredito nesse lugar! Eu acredito no impossível!

E hoje, eu não sou eu. Porque hoje, não estou sozinha.

Divido a dor e a alegria de acreditar na humanidade e me torno nós.

Nós, míseros farelos, não temos produto, nem serviço. Não estamos vendendo, não estamos divulgando. Nem nomes temos.

Somos como a virgem e nosso intuito é servir. Trabalhamos para proporcionar um espaço àqueles que sentem o chamado. Facilitaremos a sua manutenção para que vocês venham semear a terra.

Estaremos dispostas a doar, a cooperar, sem nada pedir em troca. Mas temos um sonho... Ver o recém chegado e o pioneiro, o aluno e o professor, o acadêmico e o autoditada, o curioso, o entusiasta. Temos o sonho de iniciar uma grande roda, com eixo imóvel, que nos permita o movimento.

Como a Estrela, nos ajoelhamos diante do rio e oferecemos nossas águas. Nuas, vulneráveis, mas cheias de esperança.

Venha! Escolha seu lugar na grande roda. Pegue um dos fios do novelo... Juntos, como iguais, carregando o sangue velho das avós, teceremos o amanhã!

Texto por Hölle Carogne



Artigos

[Estilo Tribal de Ser] Figurinos pelo mundo - Parte 2

por Annamaria Marques 

Olá pessoal!


Desta vez para nossa viagem pelo universo das fusões eu trouxe a referência da artista japonesa Natsumi Suzuki


Ela é dançarina, coreógrafa e diretora, nascida em Tóquio ,(Japão) e atualmente mora em São Francisco (Estados Unidos) e tem um trabalho incrível e requintado, repleto da influência da sua cultura, fazendo um belo exemplo de trabalho de Asia Fusion, como ela mesma chama.



Tribal Asia Fusion é o nome do estilo desenvolvido por ela. Ele junta vários estilos de dança que ela estudou com movimentos de danças folclóricas japonesas. Além disso, utiliza gestos mímicos japoneses do formato tradicional de contação de histórias. 


Na coreografia abaixo, Garota que se transforma em ave, além da dança, ela utiliza uma técnica vocal com a qual imita o canto da ave na qual a garota se transforma. Segundo a bailarina, esses animais aparecem com recorrência em histórias e folclores antigos e este recurso é usado pelos contadores de histórias para ilustrar e enriquecer a performance.





No vídeo abaixo ela trabalha tanto os movimentos de leque quanto a máscara do teatro Noh (possivelmente a Onnamen ou máscara de mulher, ou ainda a Komote ou a mulher bela e calma).




As máscaras no teatro Noh são feitas geralmente em madeira e representam emoções e personagens específicos da história sendo contada. Existem máscaras para representar as emoções e idades das personagens femininas, masculinas, monstros e heróis.


Um detalhe maravilhoso sobre elas é que são construídas de forma que mudanças no ângulo do do ator também mostram emoções diferentes devido às mudanças na iluminação que elas recebem.


Natsumi Suzuki com a Máscara Kitsune: a entidade raposa




Mais um vídeo com figurinos japonês:





Mais referências:

https://japanobjects.com/features/japanese-masks


https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Kitsune


https://historyplex.com/japanese-masks-meanings/amp


https://kimurakami.com/blogs/japan-blog/traditional-japanese-mask#:~:text=JAPANESE%20THEATER%20MASK%20MEANING&text=No%20masks%20are%20used%20for,were%20also%20played%20by%20men


Site:

http://natsumisuzuki.com/


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Estilo Tribal de Ser



Annamaria Marques (Belo Horizonte-MG)
 é bailarina, professora, produtora do festival Tribal Core, dona do atelier InFusion e diretora da Trupe Andurá de ATS® e da Tribo Dannan de Tribal Fusion de Minas Gerais.Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 


[Corpo & Dança] A importância de treinar força no contexto dançante

 por Jossani Fernandes

Michelle Sorensen (EUA)


Fundamental para execução de diversos movimentos e interações individuais e em duplas, utilizamos a força em significativas situações coreográficas, consistindo na ação que causa uma mudança no estado de movimento de um objeto, pessoa ou seu próprio corpo.


Do ponto de vista fisiológico, a força é a capacidade de exercer tensão contra uma resistência, que ocorre por meio de diferentes ações musculares (BARBANTI, 1994), as quais já foram abordadas na coluna anterior. 


O processo de treinamento, não somente da força, mas de qualquer capacidade física, se dá pelo planejamento e programação com embasamento em alguns princípios, que, devem ser respeitados e utilizados de forma coerente com as particularidades encontradas tanto no nosso corpo que será treinado, quanto na modalidade, no nosso caso a dança! 


Detalhe, não é qualquer estilo de dança não é minha gente...


Daí vem as maiores dúvidas:


Não vai me atrapalhar na dança?


Anteriormente, o treinamento de força de certa forma era considerado impopular na dança, devido á hipertrofia (ganho de massa muscular) ser uma preocupação para os bailarinos, pois antes acreditava-se que o ganho de massa muscular poderia prejudicar a flexibilidade, agilidade e a estética que necessitavam, algo que já tem sido estudado fortemente e já vemos que não irá acontecer:


  • Uma coisa é fato, primeiramente para as mulheres, vocês não irão ganhar massa muscular o suficiente para ficar masculinizadas, pois não produzimos hormônios que permitem esse acontecimento. 

  • Aos homens, se vocês não desejam ficar musculosos, existem formas de manipular os treinos de força para que vocês não hipertrofiem tanto.

  • Para todos, sua flexibilidade, agilidade e afins só será afetada se deixar de treinar essas capacidades, o ganho de massa muscular não te fará perder o que você possui.

Para que treinar força?


Assim como no âmbito esportivo, a dança tem característica forte quanto aos níveis de exigência, aspectos coreográficos que envolvem diversos valores físicos e psicomotores. Nós sabemos mais que ninguém o nível de exigência que demandamos do nosso corpo, principalmente, com a aproximação de festivais, concurso e eventos, ondes enfrentamos cargas horárias extensas de ensaios e aulas, assim como as companhias de dança profissionais.


Por esse e outros motivos, como nossa saúde, precisamos nos preocupar em manter nossas bases fortes, para evitar lesões, cansaço excessivo, adquirir uma maior consciência corporal e manter o condicionamento para aguentar a carga de trabalho.


Preciso treinar força?


Muitas vezes, quando não conseguimos executar de forma correta um dado movimento, dizemos que estamos fracos ou com o corpo inadequado para tal, o que pode ser precipitado, podendo apenas necessitar de um ajuste na técnica, melhorando sua postura, equilíbrio, flexibilidade e a iniciação correta no movimento com trabalho de força específico. Buscando sempre o alinhamento corporal, favorecendo a execução de qualquer movimento.


Além disso, O fortalecimento muscular possibilita romper com os desvios posturais advindos do nosso cotidiano ou até mesmo de movimentos repetidamente reproduzidos na dança.


Esse fortalecimento é um importante fator prevenção de lesões, auxilia na recuperação das lesões preexistentes, os músculos agem de forma mais eficiente e integrada, além de nos tornar fisicamente mais disposto e mais habilidosos. 


Como organizar a rotina de treinos?


Cabe ressaltar, que as melhoras das capacidades ligadas à dança estão condicionadas à uma prescrição e estruturação que sejam coerentes com a proposta a serem desenvolvidas em nós bailarinos/as, distribuindo os estímulos com volumes e intensidades adequados, para isso um profissional de educação física qualificado é de extrema importância.


Sobre organização, depende da sua rotina, em relação a ensaios, aulas, trabalho e estudo... Para que não entre em sobrecarga, mas para que tenha bons resultados recomento que tenho uma frequência semanal mínima de 2 a 3x em seus treinos de força para que o seu corpo tenha adaptação.


Modalidades recomendadas para que tenha ganhos de força:

 

  • Musculação


  • Treinamento Funcional (imagem Treinamento Funcional)


 

  •  Cross Trainning/Crossfit

 

  • Body Pump

 

  • Pilates

 E na própria aula de dança, com orientação, é possível fazer um trabalho de fortalecimento muscular, desde que o professor tenha formação e conhecimento adequados para realizar treinamento de força.

Por fim, é importante que o treinamento de força deve ser realizado de forma global com exercícios próximos ou iguais aos que serão realizados na dança, se o seu objetivo ao treinar força, for se preparar para a dança é claro! Se trabalharmos a força do músculo de forma isolada, sem considerar a coordenação do corpo como um todo, podemos não atingir o resultado técnico desejado e ainda atrapalhar o desempenho na dança. Por esse motivo, é importante procurar um profissional de educação física para orientar esse treinamento de força, pois ele vai planejar o treino dentro de um objetivo com uma intensidade adequada e periodização das fases e progressões.

Referências: BARBANTI, Valdir J. Teoria e prática do treinamento esportivo. 2.ed, São Paulo: Edgard Blucher, 1997 FLECK, Steven J.; KRAEMER, Wiliam J. Fundamentos de treinamento de força muscular. Porto Alegre: Artemed, 2006.

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Corpo & Dança: Um olhar sob nosso Palácio Industrial


Jossani Fernandes (Belo Horizonte-MG)
 é professora e bailarina de danças orientais, profissional de educação física, atua na área como personal trainer e pesquisadora da área da flexibilidade, é apaixonada por anatomia e por tudo que diz respeito ao corpo humano e toda a sua complexidade.  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 


[Old is Cool] Analisando o Tribal Old School - Parte 3

por Mari Garavelo

Sejam muito bem-vindas e muito bem-vindos à coluna Old is Cool! Estamos fazendo por aqui pequenas análises sobre o período de vanguarda do estilo tribal de dança do ventre. No nosso último encontro falei sobre um ponto em comum de muitas bailarinas incríveis que foi a companhia de dança Bellydance Superstars e finalizei propondo uma reflexão sobre como a cultura pop e a tecnologia nos anos 2000 pode ter influenciado o estilo tribal.

Na minha pesquisa pessoal comecei a pensar sobre esta influência ao observar vídeos antigos do grupo Unmata. O grupo é dirigido por Amy Sigil, foi fundado em 2004  e desenvolveu a proposta do ITS - Improvisational Tribal Style. Atualmente o significado da sigla foi alterado para Improvisational Team Synchronization. O ITS é baseado nas regras de improvisação coordenada do ATSⓇ, porém o grupo se vale de um dialeto próprio, estruturado por combinações de movimentos.  O Unmata trouxe muitas inovações para o estilo Tribal, como a ampla utilização das músicas eletrônicas, as coreografias mais dinâmicas em nível e espaço, mais velocidade na execução e figurinos inovadores, inspirados em um visual pós-apocalíptico como podemos ver neste vídeo:

 


Quem viveu nos anos 2000 pode ter experimentado a expectativa de um futuro com uma tecnologia quase cinematográfica, os celulares ficando mais populares e com designs cada vez mais diferentes, com luz de fundo colorida, flips e música em formato mp3. Essa foi a década em que surgiu o GPS, o pendrive, as TVs de tela plana, a internet de banda larga, a trilogia de filmes Matrix e uma grande influência estética baseada em paletas de cores metalizadas, calçados de plataforma, óculos com lentes coloridas e customizações diversas nas roupas entre outras tendências da moda que tinham como denominador comum “ser disruptivo”. De alguma forma a sociedade foi influenciada por essas expectativas e por essa vontade de ousar, modificar e transformar, demandadas pela época. Para compreender o que pensava Jamila Salimpour ao criar o Bal Anat e todo seu legado, precisamos entender o contexto dos EUA nos anos 70, assim como se faz necessário, para assimilar o período old school Tribal, interpretar o que pode ter levado as bailarinas da época a criar linguagens tão diversas, em constante experimentação. Nesse âmbito a adesão da música eletrônica nas apresentações do estilo Tribal tem muito a nos dizer. Divergindo da década de 70, quando a contracultura incitava a busca pelo exótico, pelo “tradicional”, pelo “étnico” ou raíz, surge, na virada do séc. XXI, uma tentativa de modernização, de misturas e novas investigações.


Unmata, 2008

Nesta trajetória da época em questão, é imprescindível citar as bailarinas Zoe Jakes, Sharon Kihara e Kami Liddle. Seus respectivos estilos são muito peculiares e específicos, bastante influenciados pelas danças do movimento Hip Hop e música eletrônica. Há movimentações como o waving, o popping, isolamentos pequenos e rápidos, assim como há a nítida influência do Bellydance Superstars e da dança “espetacular”, posto que as três foram também integrantes da companhia.

Eu considero também essenciais nessa análise as bailarinas Mira Betz e Elizabeth Strong que foram alunas de Katarina Burda e fizeram parte de seu grupo Aywah!, onde todas as integrantes não só dançavam, como tocavam e cantavam, o que as diferenciou em sua leitura musical e em seu trabalho com músicas balcânicas e trilhas de jazz dance. Assim como ocorreu com Zoe Jakes, que também foi aluna de Katarina Burda e integrante do Aywah!, podemos perceber que seus estilos não estão embasados no ATSⓇ, o que se observa através da postura, figurino e escolha de repertório. Entretanto, ao meu ver, elas já estavam dançando Tribal Fusion, pois eram influenciadas por toda comunidade do estilo tribal da época, estavam nos mesmos DVDs e shows, ou seja, eram consideradas como bailarinas da mesma linguagem.

Mira Betz em apresentação no transatlântico Queen Mary na Califórnia

É claro que existem muitas bailarinas incríveis e que foram muito importantes nos anos 2000, mas preciso selecionar os pontos mais relevantes da minha pesquisa e diante dessa pequena cronologia que apresentei podemos pensar: o que todas essas bailarinas e grupos têm ou tiveram em comum? Eu arrisco dizer que a resposta está na ousadia para compor a partir das próprias referências. Assim, certas escolhas estéticas - como o fato de Frederique poder ter se inspirado em um filme para dançar sua trilha sonora, como o fato de Rachel Brice ter buscado referências em em Star Wars, ou ainda, o fato de Melodia Medley pensar em uma modelagem de calça capaz de facilitar a movimentação ao se performar o Tribal em raves, - são elementos que deixaram, aos poucos, de serem pessoais para compor uma linguagem estética do tribal.
Parafraseando Mira Betz, o Tribal é muito mais sobre você descobrir quem você é e expressar isso com essa dança herdada do que de fato tentar reproduzi-la. Irei abordar mais isso no nosso próximo encontro em que finalizamos esta pequena análise, deixe um comentário com sua opinião sobre o texto e me conte: o que você considerava mais disruptivo no tribal dos anos 2000?

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Old is Cool


Mari Garavelo (Osasco-SP) iniciou seus estudos em dança do ventre e Tribal Fusion em 2006 e desde então vem aprimorando seu trabalho através de aulas regulares e oficinas com diversos profissionais renomados nacionais e internacionais. Instrutora de Hatha Yoga e Yogaterapeuta formada pela Humaniversidade Holística de São Paulo com registro na Aliança do Yoga.  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Campo em Cena] A produção de eventos no Tribal: O poder sobre os meios de produção de capital intelectual.

 por Thaisa Martins



Nesta coluna, refletimos aspectos do campo da Dança tendo a teoria de campos do pesquisador francês Pierre Bourdieu como principal suporte teórico. No artigo de hoje, seguiremos a trilha que estamos construindo para pensar a importância dos eventos para a consolidação do campo da Dança, analisando especificamente a cena brasileira do Tribal. 


Bourdieu (2003) nos aponta que dentro do campo científico (aqui estamos interpretando o termo científico de forma mais alargada, associando ao lugar de campo de produção de conhecimento), há duas principais formas de poder: o poder político e o poder sobre os meios de produção. A essas formas de poder, Bourdieu associa dois tipos de capital intelectual específicos de produção. O primeiro é o capital “puro” que são os resultados diretos das pesquisas, sejam os artigos, os livros, e acrescentamos aqui as obras coreográficas, os video-danças, as performances e etc, tudo aquilo que tem a possibilidade de conceder um prestígio por meios de créditos simbólicos. O segundo tipo é o capital da instituição, que são acumulados com o tempo e que se inserem em estratégias políticas específica, temos aqui a participação em bancas de mestrado e doutorado, cerimônias, reuniões e acrescentamos, apresentação de trabalhos em eventos, palestras como convidado em eventos, ministrar aulas em eventos.


Assim, os eventos têm um papel diretamente conectados à produção de capital da instituição, onde eles administram o poder sobre os meios de produção, ou seja, eles acabam por legitimar quem são os profissionais (ou agentes no jargão Bourdieusiano) que tem espaço e concedem prestígio e reconhecimento para os mesmos. Fomos muito longe? Calma que agora vem os exemplos que esperamos desanuviar nossas idéias.


O que estamos apontando aqui é que os eventos são importantes influenciadores e viabilizadores de desenvolvimento para o fazer da Dança. Quando analisamos a cena do Tribal no Brasil, podemos identificar algumas das marcas que os eventos nos proporcionaram. O evento Tribal y Fusion, produzido por Adriana Bele Fusco (SP) em  2009, foi um dos primeiros eventos a trazer estrelas internacionais do Tribal Fusion para o Brasil, nomes como Sharon Kihara (USA), Mardi Love (USA) e Ariellah (USA) fizeram parte da equipe de professoras e dançarinas do show de gala. Aqui, as brasileiras que só tinham acesso limitado à informação, geralmente através de DVDs de aula com umas 2h de duração, estavam frente a frente com as profissionais para tirar suas dúvidas e receber feedbacks.

Em 2014 no Shaman’s Fest, organizado pela Shaman Tribal Co na coordenação de Cibelle Souza (RN) e Paula Braz (SP), tivemos pela primeira vez no Brasil (e única vez até a data de publicação deste artigo) a dançarina Rachel Brice (USA) para ministrar um Curso Profissional e workshops. A vinda da principal dançarina de Tribal Fusion do mundo ao país impactou imensamente na produção coreográfica.


Em 2015, no Festival Campos das Tribos organizado por Rebeca Piñeiro (SP), tivemos o que consideramos um dos maiores impactos para a profissionalização latino americana do então ATS® (American Tribal Style), com a realização do curso de formação ministrado pela própria criadora do estilo. Segundo informações do site do evento, foram mais de 50 profissionais que adquiriram o certificado que, antes deste momento, só seria possível ser realizado nos EUA. De lá para cá, muitos eventos marcaram a profissionalização, a produção de conhecimento e de material artístico na cena do Tribal brasileiro, bem como o pensamento curatorial. 


Com a situação pandêmica do COVID-19, a produção de eventos foi diretamente impactada e precisou se reinventar. Em 2020, o Simpósio Práksis coordenado por Lailah Garbero (MG), marcou a produção dentro da cena Tribal ao propor um evento com palestras totalmente teóricas. A procura de mais de 100 inscritas evidenciou que há muito espaço para discussões e proposições críticas dentro da produção de eventos na cena Tribal.


Em relação ao pensamento curatorial, temos eventos com um direcionamento mais regional integrando a cena. O Ankaa Fest organizado pela Ankaa na coordenação de Joline Andrade (BA), Kilma Farias (PB) e Alinne Madelon (CE), o Congresso Mineiro de Tribal organizado por Annamaria Marques (MG) e a Convenção Carioca Tribal organizada por Jessie Ra’idah (RJ) evidenciam o trabalho de profissionais das suas regiões. 


E seguindo um caminho curatorial de descentralização regional, o Fórum Tribal, que também ocorreu em 2020, contou com organização de 13 profissionais brasileiras das mais diversas regiões do país e buscou promover um espaço para debate entre praticantes, produtores e profissionais de todo o país. Aqui não houveram aulas dadas, mas sim conversas e trocas de experiências. 


Desta forma, podemos identificar que os eventos na cena Tribal tem 5 principais pontos de influência: 1) Viabilizam o acesso a profissionais estrangeiras e nacionais; 2) Servem como um espécie de vitrine para professores e dançarinas; 3) Profissionalizam o campo; 4) Geram mercado consumidor; 5) Legimizam produções intelectuais e artísticas.


O problema da construção de público


Acreditamos que o principal problema que a produção de eventos da cena Tribal brasileira enfrenta, nos últimos tempos, é a construção de público consumidor, ou seja, platéia dos eventos. Com o direcionamento das produções voltadas para o ensino de praticantes da modalidade, pouco desenvolvemos na produção de espetáculos em Tribal. Os shows de gala e de mostra artísticas não são o suficiente para construir um público consumidor da arte. Temos ainda a ideia de que o público é um potencial aluno, não um apreciador e essa é uma mentalidade que precisamos mudar.


Vemos que já tenhamos uma cena amadurecida o bastante para começar a propor espetáculos de dança que tenham a modalidade Tribal Fusion como sua linguagem artística. As Shaman Tribal Co. já nos provaram, mais de uma vez, que isso é possível. Os editais de incentivo à arte, editais de ocupação de teatros  e a busca de parceria de financiamento privado são os principais caminhos que o campo da Dança utiliza para concretizar tais projetos. 

A vida forçada no mundo digital também nos abriu para muitas possibilidades de criação, as plataformas de reunião se tornaram os novos palcos dos espetáculos de dança e teatro e, na cena Tribal brasileira, pouquíssimo (ou nada eu diria) foi produzido nessa direção. Temos muito a desenvolver nessas direções nos próximos anos.


Conclusão   


Buscamos neste artigo, refletir sobre a importância da produção de eventos para o campo da Dança, tendo a cena Tribal brasileira como foco investigativo. Apresentamos os conceitos Bourdieusianos de o poder político e o poder sobre os meios de produção, os dois tipos de de capital intelectuais o “puro” e da instituição, sendo esse segundo onde os eventos afetam diretamente.


Trouxemos um pequeno apanhado de eventos que marcaram a cena Tribal brasileira nos aspectos da profissionalização, a produção de conhecimento e de material artístico na cena do Tribal brasileiro, bem como o pensamento curatorial com o intuito de evidenciar a discussão da influência dentro do campo. E finalizamos apontando para o problema da construção de público apreciador da dança Tribal Fusion como o desafio dos próximos anos da produção. Esperamos contribuir, de alguma forma, na autonomia e fortalecimento do nosso campo a partir destas análises.


Vale ressaltar que apresentamos exemplos super pontuais de eventos. Nosso intuito não foi discorrer sobre um apanhado histórico dos eventos da cena, mas apenas exemplificar, através de uma pequena amostra, a importância da produção para o campo da Dança. Temos consciência de que muitas outras produções fizeram parte dessa construção e causaram grandes impactos no fazer artístico. 


Sigamos!    



Referências:

BOURDIEU, P. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo

científico. São Paulo: Ed. da UNESP, 2004. 

https://centraldancadoventre.com.br/publicacoes/notcias/42/tribal-y-fusion-e-4-edio-do-encontro-internacional-de-dana-do-ventresp/454 (acessado em 01/08/2021)

https://congressotribalcom.wordpress.com/sobre/campodastribos/ (acessado em 01/08/2021)

http://shamansfest2014.blogspot.com/  (acessado em 01/08/2021)

http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/danca-para-a-alma/275877 (acessado em 01/08/2021)



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Campo em Cena


Thaisa Martins (Rio de Janeiro-RJ) é graduada em Teoria da Dança (UFRJ) e mestranda em Arqueologia (UFRJ) onde pesquisa processos de reconstrução de dança na Índia antiga. É sócia do Medusa Tribal Studio, estúdio de dança dedicado ao Tribal Fusion, suas derivações e origens no RJ,  junto com a dançarina e fisioterapeuta Maya Felipe. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

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