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[Old is Cool] Analisando o Tribal Old School - Parte Final

por Mari Garavelo

Sejam muito bem-vindas e muito bem-vindos à coluna Old is Cool! Nesta coluna estamos fazendo pequenas análises sobre o período de vanguarda do estilo tribal de dança do ventre e este é o episódio final da primeira análise: o que é o tribal old school e porque é importante entender esse recorte nos dias atuais?


Esta minha pesquisa nasceu com a minha vontade de entender o pensamento das bailarinas e o motivo por trás das criações responsáveis por me fazer apaixonar pelo estilo tribal. Esta vontade foi evoluindo para uma pesquisa amadora, que depois evoluiu para conteúdo teórico imprescindível nas minhas aulas e por fim evoluiu para um convite feito pela Lailah Garbero (MG) para palestrar sobre o tema em seu simpósio on-line. Naquele momento percebi que de alguma forma essa pesquisa estava surtindo efeito e eu talvez tivesse finalmente encontrado a resposta que eu tanto buscava; lembrando que esta é minha pesquisa, meu olhar, minha conclusão e eu quero compartilhar com você aqui nesta coluna.


No nosso último encontro falei um pouco sobre como os anos 2000 com sua estética, expectativas sobre a tecnologia e a cultura pop podem ter influenciado fortemente a forma como o estilo tribal foi desenvolvido. Certamente a geopolítica, o liberalismo e a forma como os estadunidenses construíram sua história e trato com os outros países (especialmente os do oriente) também são imprescindíveis nesta análise. Sempre existe um contexto histórico que serve de base para os pensamentos e comportamentos de uma época. 


Eu tenho dito nos últimos anos que o período considerado old school pode ser um dos caminhos para entender a dança hoje. Quando comecei a me aprofundar nos estudos sobre essa tema, cheguei a uma conclusão um tanto ortodoxa de que se a dança feita hoje parece muito distante da que era feita nos anos 2000, então já não se configurava mais como Tribal Fusion. Cheguei a compreender o estilo tribal como algo que só era possível naquela determinada época e circunstância e qualquer coisa feita neste momento, com outras características, já não seria a mesma linguagem de dança.  Contudo, se hoje compreendo que o cabelo da Rachel Brice é inspirado em Star Wars, posso seguramente me inspirar no cabelo de um personagem de X-Men. Assim como percebo o apreço de Mardi Love pela joalheira original e antiga, me permito ousar também em minhas preferências, como, por exemplo, usar em minha caracterização um bracelete que pertenceu à minha avó, pela qual tenho muito apreço, além das referências estéticas 'étnicas'. Se compreendo hoje que uma trilha sonora de filme pode ter inspirado Frederique a dançar, posso me inspirar também pelo som do mar e dançar. E digo mais! Ao compreender minha realidade enquanto brasileira e aqui residente, não há qualquer necessidade de dançar com figurino de veludo ou mangas compridas em pleno verão.


Ainda que o agora pareça visualmente distante do Tribal que foi produzido nos anos 2000, a forma de produzir, ou o método, pode ser a mesma. Estudar o old school não requer que façamos uma caricatura, uma reprodução dessa época. O que o aprofundamento nos permite é saborear a experimentação que continha o Tribal naquele momento.


É, inclusive, essa essência que evoca a constante evolução do estilo, como se já estivesse impressa ou incorporada na linguagem do Tribal essa necessidade de experimentar e expressar a partir de nós mesmas e de nossas próprias referências. Se olharmos para trás e observarmos as numerosas subdivisões que ganhou o Tribal nos últimos quinze anos, é possível perceber essa necessidade de experimentação e adaptação.  Interpretar desta forma o momento de vanguarda do estilo é valer-se de grande inspiração para experimentar, fusionar e estabelecer trocas.


Captar o sabor da liberdade para experimentação que permeou os anos 2000 neste panorama me trouxe uma melhor compreensão acerca do Tribal. A maioria das pessoas que conheci através da dança, especialmente as que vieram da dança do ventre “tradicional” para o estilo tribal, buscam certa flexibilidade diante de determinadas tradições e maior liberdade para criar a partir das próprias referências. Assim, podemos afirmar que o tribal old school pode nos servir como motivação para seguir esse caminho ao invés de engessar ou estacionar a nossa criação. 


Resta-me um pensamento sobre o nome dado a esta linguagem para além das discussões sobre as problemáticas que envolvem o termo tribal fusion: este nome tão intrincado ao período de vanguarda ainda consegue abarcar todas as novas criações? Faz sentido utilizá-lo ainda? Por enquanto, a partir do meu olhar pessoal, minha resposta é que não faz tanta diferença efetivamente. A dança feita pelas ghawazee (entre outros grupos) no século XIX, conhecida popularmente em seus locais de origem como raqs el sharqi (do árab, “dança do leste”) ganhou a alcunha de danse du ventre pelos invasores franceses e, posteriormente, bellydance nos Estados Unidos, nome pelo qual é mundialmente conhecida a dança do ventre hoje. Este nome definitivamente não me soa ideal para uma dança com tantas especificidades culturais diversas e movimentos por todo o corpo, no entanto, é um nome já amplamente divulgado e reconhecido, assim como o nome tribal, também não ideal e carregado de estereótipos, mas igualmente de fácil reconhecimento no mundo todo. 


Espero que você, leitora ou leitor, ao chegar nesta última parte da análise, possa ter se inspirado e se motivado a continuar experimentando, criando, expressando-se através desta linguagem, essa é a minha mensagem e o caminho que indico a todo mundo para compreender a dança do ventre tribal hoje.


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Old is Cool


Mari Garavelo (Osasco-SP) iniciou seus estudos em dança do ventre e Tribal Fusion em 2006 e desde então vem aprimorando seu trabalho através de aulas regulares e oficinas com diversos profissionais renomados nacionais e internacionais. Instrutora de Hatha Yoga e Yogaterapeuta formada pela Humaniversidade Holística de São Paulo com registro na Aliança do Yoga.  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Old is Cool] Analisando o Tribal Old School - Parte 3

por Mari Garavelo

Sejam muito bem-vindas e muito bem-vindos à coluna Old is Cool! Estamos fazendo por aqui pequenas análises sobre o período de vanguarda do estilo tribal de dança do ventre. No nosso último encontro falei sobre um ponto em comum de muitas bailarinas incríveis que foi a companhia de dança Bellydance Superstars e finalizei propondo uma reflexão sobre como a cultura pop e a tecnologia nos anos 2000 pode ter influenciado o estilo tribal.

Na minha pesquisa pessoal comecei a pensar sobre esta influência ao observar vídeos antigos do grupo Unmata. O grupo é dirigido por Amy Sigil, foi fundado em 2004  e desenvolveu a proposta do ITS - Improvisational Tribal Style. Atualmente o significado da sigla foi alterado para Improvisational Team Synchronization. O ITS é baseado nas regras de improvisação coordenada do ATSⓇ, porém o grupo se vale de um dialeto próprio, estruturado por combinações de movimentos.  O Unmata trouxe muitas inovações para o estilo Tribal, como a ampla utilização das músicas eletrônicas, as coreografias mais dinâmicas em nível e espaço, mais velocidade na execução e figurinos inovadores, inspirados em um visual pós-apocalíptico como podemos ver neste vídeo:

 


Quem viveu nos anos 2000 pode ter experimentado a expectativa de um futuro com uma tecnologia quase cinematográfica, os celulares ficando mais populares e com designs cada vez mais diferentes, com luz de fundo colorida, flips e música em formato mp3. Essa foi a década em que surgiu o GPS, o pendrive, as TVs de tela plana, a internet de banda larga, a trilogia de filmes Matrix e uma grande influência estética baseada em paletas de cores metalizadas, calçados de plataforma, óculos com lentes coloridas e customizações diversas nas roupas entre outras tendências da moda que tinham como denominador comum “ser disruptivo”. De alguma forma a sociedade foi influenciada por essas expectativas e por essa vontade de ousar, modificar e transformar, demandadas pela época. Para compreender o que pensava Jamila Salimpour ao criar o Bal Anat e todo seu legado, precisamos entender o contexto dos EUA nos anos 70, assim como se faz necessário, para assimilar o período old school Tribal, interpretar o que pode ter levado as bailarinas da época a criar linguagens tão diversas, em constante experimentação. Nesse âmbito a adesão da música eletrônica nas apresentações do estilo Tribal tem muito a nos dizer. Divergindo da década de 70, quando a contracultura incitava a busca pelo exótico, pelo “tradicional”, pelo “étnico” ou raíz, surge, na virada do séc. XXI, uma tentativa de modernização, de misturas e novas investigações.


Unmata, 2008

Nesta trajetória da época em questão, é imprescindível citar as bailarinas Zoe Jakes, Sharon Kihara e Kami Liddle. Seus respectivos estilos são muito peculiares e específicos, bastante influenciados pelas danças do movimento Hip Hop e música eletrônica. Há movimentações como o waving, o popping, isolamentos pequenos e rápidos, assim como há a nítida influência do Bellydance Superstars e da dança “espetacular”, posto que as três foram também integrantes da companhia.

Eu considero também essenciais nessa análise as bailarinas Mira Betz e Elizabeth Strong que foram alunas de Katarina Burda e fizeram parte de seu grupo Aywah!, onde todas as integrantes não só dançavam, como tocavam e cantavam, o que as diferenciou em sua leitura musical e em seu trabalho com músicas balcânicas e trilhas de jazz dance. Assim como ocorreu com Zoe Jakes, que também foi aluna de Katarina Burda e integrante do Aywah!, podemos perceber que seus estilos não estão embasados no ATSⓇ, o que se observa através da postura, figurino e escolha de repertório. Entretanto, ao meu ver, elas já estavam dançando Tribal Fusion, pois eram influenciadas por toda comunidade do estilo tribal da época, estavam nos mesmos DVDs e shows, ou seja, eram consideradas como bailarinas da mesma linguagem.

Mira Betz em apresentação no transatlântico Queen Mary na Califórnia

É claro que existem muitas bailarinas incríveis e que foram muito importantes nos anos 2000, mas preciso selecionar os pontos mais relevantes da minha pesquisa e diante dessa pequena cronologia que apresentei podemos pensar: o que todas essas bailarinas e grupos têm ou tiveram em comum? Eu arrisco dizer que a resposta está na ousadia para compor a partir das próprias referências. Assim, certas escolhas estéticas - como o fato de Frederique poder ter se inspirado em um filme para dançar sua trilha sonora, como o fato de Rachel Brice ter buscado referências em em Star Wars, ou ainda, o fato de Melodia Medley pensar em uma modelagem de calça capaz de facilitar a movimentação ao se performar o Tribal em raves, - são elementos que deixaram, aos poucos, de serem pessoais para compor uma linguagem estética do tribal.
Parafraseando Mira Betz, o Tribal é muito mais sobre você descobrir quem você é e expressar isso com essa dança herdada do que de fato tentar reproduzi-la. Irei abordar mais isso no nosso próximo encontro em que finalizamos esta pequena análise, deixe um comentário com sua opinião sobre o texto e me conte: o que você considerava mais disruptivo no tribal dos anos 2000?

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Old is Cool


Mari Garavelo (Osasco-SP) iniciou seus estudos em dança do ventre e Tribal Fusion em 2006 e desde então vem aprimorando seu trabalho através de aulas regulares e oficinas com diversos profissionais renomados nacionais e internacionais. Instrutora de Hatha Yoga e Yogaterapeuta formada pela Humaniversidade Holística de São Paulo com registro na Aliança do Yoga.  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Old is Cool] Analisando o Tribal Old School - Parte 2

 por Mari Garavelo

Sejam muito bem-vindas e muito bem-vindos à coluna Old is Cool! Estamos nesta coluna fazendo pequenas análises sobre o período de vanguarda do estilo tribal de dança do ventre e no nosso último encontro aqui no blog falamos sobre Jill Parker, Frederique e especialmente o Urban Tribal. Nesta estrada muito sinuosa e cheia de atalhos na qual estamos percorrendo nessa coluna, nós chegamos enfim a um ponto de convergência muito importante: o estilo tribal no Bellydance Superstars.

Bellydance Superstars - Divulgalção

Você deve se lembrar com facilidade do Bellydance Superstars (BDSS), talvez inclusive você tenha chegado aqui graças à sua existência, a maioria das pessoas que eu conheço na comunidade tribal brasileira e que começou a dançar na mesma época que eu, o fez por conhecer o estilo através de vídeos do BDSS. Fundada em 2002 pelo magnata e empresário Miles Copeland e pautada numa proposta nada humilde se ser o “Riverdance” da dança do ventre, a companhia de dança mundialmente famosa por tornar a dança do ventre “espetacular” teve importância significativa na disseminação do estilo tribal pelo mundo todo.

O Bellydance Superstars produziu e comercializou numerosos materiais, como DVDs (que mais tarde foram, em sua maioria, disponibilizados no Youtube), camisetas e CDs, viabilizando assim difusão do estilo, antes restrito à Califórnia, em uma escala mundial. Rachel Brice foi descoberta por Miles Copeland e contratada para a companhia onde passou a coreografar uma espécie de “núcleo tribal” do show. Nomes muito conhecidos na dança também passaram pelo Bellydance Superstars como Kami Liddle, Mardi Love, Zoe Jakes, Sharon Kihara, Moria Chappel, entre outras, e, se movendo para os grandes palcos o dresscode tribal também foi ganhando grandes produções. A maquiagem foi se tornando menos rústica e mais artística, mais luxuosa e brilhante, os figurinos ganharam mais adornos com brilho, e para contrastar com o humor colorido dos shows, os figurinos do “núcleo tribal” eram usualmente escuros e com cores fechadas. 

Abertura de espetáculo do Bellydance Superstars, toda a atmosfera de som e luz muda drasticamente quando o ‘núcleo tribal’ entra em cena.


Há nesta época também um notável acontecimento: a parceria histórica entre Rachel Brice e Mardi Love. As criações coreográficas da dupla e seus respectivos figurinos acabaram por criar um estilo inusitado dentro da própria linguagem tribal repleto de referência dos anos 20. Mardi Love foi aluna de Heather Stants e integrante do Urban Tribal, protagonizando, através de suas criações, o desenvolvimento da estética que tem hoje o estilo Tribal. É possível notar nas suas produções uma explícita referência à Theda Bara, atriz que marcou o cinema mudo no início do séc. XX.

Rachel Brice e Mardi Love | Fonte: desconhecida.

Rachel Brice é o maior fenômeno e o nome mais conhecido do Tribal, especialmente devido à sua participação no Bellydance Superstars. É quase sempre a mais citada das bailarinas, havendo até mesmo quem pense que ela é a criadora do estilo. De fato, Rachel tem um papel muito importante na disseminação do gênero, trazendo elementos bastante pessoais e característicos que vieram a se tornar uma “regra” por bastante tempo. É pouco sabido, por exemplo, que seu estilo de cabelo, com dois coques, flores e lenço, tinha como inspiração a Princesa Leia de Star Wars. Se fosse sabido que não se tratava de algo tradicional, mas sim de uma preferência nerd por um personagem, talvez o penteado não fosse reproduzido tão massivamente. Rachel atuava também como professora de yoga, trazendo muito dessa filosofia para o Tribal ao trabalhar a fluidez e a precisão dos movimentos. Seu controle de movimentação faz parecer que o tempo é esgarçado de uma forma sinuosa e perfeita, o que acabou se tornando também uma característica a ser buscada por quem estuda Tribal. Rachel explorou músicas experimentais e sincopadas, carregando uma atmosfera dark em sua expressão.

É quase impossível falar em Mardi e Rachel e não falar em The Indigo. The Indigo Belly Dance Company foi um grupo criado em 2001, dirigido por Rachel. A primeira formação do grupo incluía Ariellah, de quem falaremos mais pra frente. O visual do grupo em seus primórdios estava muito conectado ao Urban Tribal e ao Bellydance Superstars. O auge da companhia ocorreu em sua última formação, com Zoe Jakes e Mardi Love. Vale a pena assistir a cada segundo dos shows do The Indigo no Tribal Fest no Youtube. As apresentações eram repletas de referências à John Compton, em uma pegada cênica ao estilo vaudeville, com atos circenses, músicas árabes e balcânicas tocadas ao vivo. A exibição desses shows exerceu influência direta na cena Tribal em meados de 2007/2008.

Playlist com o Show Completo do The Indigo no Tribal Fest 2007

Ariellah, que foi aluna de Rachel e integrante da primeira formação do The Indigo, destacou-se muito nos anos 2000 também graças a uma grande busca pela chamada gothic bellydance e Ariellah trouxe muito desse universo para o Tribal. Seu estilo foi posteriormente nomeado Dark Fusion, combinando a teatralidade a referências góticas diversas nas músicas, na estética e na movimentação.

Vamos chegando ao fim dessa parte 2 da análise refletindo sobre alguns pontos. 

  • O primeiro: percebam como a idéia do “espetacular” e do show foram moldando a estética (e por que não a movimentação?) do estilo. 

  • Outro ponto: percebemos nessa fase do tribal uma grande inserção de referências àquilo considerado moderno, atual, futurista, impactante, underground. A música eletrônica no seu auge, a popularidade da internet, a ousadia da moda e a expectativa de um futuro cinematográfico (quase com uma estética cyberpunk) influenciaram de alguma forma na criatividade das estadunidenses na estilização daquela dança do ventre? Como isso pode ter se dado?

Ficaremos com mais uma janela entre posts para refletir e se deliciar com os vídeos linkados aqui e na parte 3 iremos dar continuidade à análise do old school. 

Me conta nos comentários o que está achando dessa sequência de textos, eu vou adorar!

Até a próxima!

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Old is Cool


Mari Garavelo (Osasco-SP) iniciou seus estudos em dança do ventre e Tribal Fusion em 2006 e desde então vem aprimorando seu trabalho através de aulas regulares e oficinas com diversos profissionais renomados nacionais e internacionais. Instrutora de Hatha Yoga e Yogaterapeuta formada pela Humaniversidade Holística de São Paulo com registro na Aliança do Yoga.  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Old is Cool] Analisando o Tribal Old School - Parte 1

 por Mari Garavelo

Sejam muito bem-vindas e muito bem-vindos à coluna Old is Cool!

Urban Tribal















Não é nenhuma novidade o quanto sou apaixonada pela velha escola tribal e essa oportunidade que eu tenho de estar aqui escrevendo um pouco sobre minhas pesquisas e reflexões é muito especial para mim! Espero que a leitura seja igualmente especial para você.

Nesta coluna estamos localizando e analisando o que chamamos de Old School no Estilo Tribal. No post anterior falamos sobre o significado do termo e como ele se aplica à ideia de uma vanguarda. Falamos também sobre esta vanguarda estar localizada nos anos 2000 em sua maior potência a partir de uma “linha do tempo simplificada”.

Nessa década observamos uma eclosão de eventos e de personalidades importantes para a história do Tribal e é imprescindível lembrar que a análise que faço se atém ao Tribal Fusion e não ao ATSⓇ.

Dentre estes eventos estão a criação dos grupos Urban Tribal, Bellydance Superstars e The Indigo e uma imensa quantidade de experimentações na linguagem, quando antes o desenvolvimento desta era mais lento. O que pode ter ocasionado essa eclosão e de que forma ela influenciou a dança que fazemos hoje?

Para buscar estas respostas vamos analisar a estética e o desenvolvimento da dança de algumas das personagens mais importantes na minha pesquisa.

Vamos começar por Jill Parker. Jill fez parte das primeiras formações do FatChanceBellydance, deixou o grupo em 1996 e criou, em seguida, o UltraGypsy. Esse evento muitas vezes é tido como o marco do que chamamos de Tribal Fusion - o rompimento com o grupo de ATS e a transição para um novo estilo, experimentando fusionar a linguagem a outras inspirações. Jill trouxe inovações na estética, retirou os cholis, trabalhou solos e coreografias, utilizou músicas eletrônicas e se aproximou um pouco mais da dança do ventre conhecida nos EUA como cabaret.

Jill Parker foi também professora de grandes bailarinas da cena que mencionarei a seguir, sendo, então, imprescindível trazer um pouco da sua história para compreender a evolução do gênero. Ao fim da década de 90, a dança do seu grupo, o Ultra Gypsy, se aproximava muito mais do ATS do que o que conhecemos por Tribal Fusion hoje. Sendo assim, especificamente desse momento até meados de 2008, cabe classificá-la como old school.


Jill Parker e Ultra Gypsy, 2001
 

 Em seguida temos Frederique, ou Lady Fred, como também é conhecida. Ela foi uma das aparições mais interessantes que surgiram no Tribal. Foi inovadora, trouxe alguns contornos diferentes para aquela “dança do ventre tribal” que até então estava sempre conectada às referências estéticas orientais, conectada à estética do ATS. Ela se baseou em uma estética vitoriana, em trilhas sonoras de filmes e muita teatralidade.

A partir de tudo que já estudei, li e conversei com outras profissionais acerca deste tema, posso afirmar que há um consenso de que Frederique foi a primeira pessoa conhecida a fazer estas experimentações e não necessariamente que tenha sido a primeira dentre todas.

 

True Colors TV Presents Frederique: The Lady Fred from Rosalyn Fay on Vimeo.

Documentário curto sobre Lady Fred


E agora deixo vocês com bastante material para assistir e pensar: vamos falar de Heather Stants. Heather é muito essencial na trajetória do estilo Tribal. Fortemente influenciada por Jill Parker, de quem fora aluna anteriormente, sua dança e sua companhia adquiriram aos poucos um estilo próprio, a partir das experimentações que estavam sempre baseadas na demanda de cada apresentação que o grupo fazia. 

A imagem de Heather e do Urban Tribal nos remete à estética da dança contemporânea, com figurinos mais sóbrios, quase sem acessórios, mas nos primórdios do grupo as caracterizações eram bem diferentes. Aos poucos o turbante foi retirado a fim de ostentar os cabelos, os dreads ou adornar a cabeça de formas diferentes, assim como o vestuário, que também se adequou ao que o grupo desejava dançar.

As integrantes do Urban Tribal foram especialmente importantes na transformação da indumentária ao longo da história do estilo. Melodia Medley, por exemplo, estava inserida na cultura de festivais de música eletrônica e fazia performances com fogo. Surgiram daí algumas ideias sobre os figurinos, que foram, em seguida, adaptadas para facilitar movimentos no chão e trabalho de pernas. Melodia foi a responsável por trazer fama às calças de boca larga que marcaram época nos figurinos do Tribal. Mardi Love, que integrava também o grupo, confeccionava os seus próprios figurinos e os estilizava com dreads de lã para, cintos com borlas, búzios, dentre outros acessórios. O Urban Tribal passou por transformações significativas, experimentando e adaptando-se até chegar ao visual minimalista que caracterizou o grupo.

Abaixo está um vídeo do Youtube com um trecho de um DVD chamado Bellydance TV Vol.1 com entrevistas de Heather e integrantes do grupo. Também recomendo fortemente que, caso tenham acesso, assistam à entrevista que Heather cedeu ao Datura Online.

Em nosso próximo encontro aqui no blog falaremos sobre Bellydance Superstars, The Indigo, Mira Betz, etc. Também começaremos a tecer uma pequena análise sobre os anos 2000 na cultura pop e na tecnologia e como isso pode ter influenciado drasticamente o desenvolvimento do Tribal Fusion, ou como amo chamar, a dança do ventre tribal.

Não deixe de curtir e comentar o post e compartilhe com quem você sabe que adora uma velharia! :)

Nos vemos em breve!


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Old is Cool


Mari Garavelo (Osasco-SP) iniciou seus estudos em dança do ventre e Tribal Fusion em 2006 e desde então vem aprimorando seu trabalho através de aulas regulares e oficinas com diversos profissionais renomados nacionais e internacionais. Instrutora de Hatha Yoga e Yogaterapeuta formada pela Humaniversidade Holística de São Paulo com registro na Aliança do Yoga.  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Old is Cool] Localização do Old School no Estilo Tribal de Dança do Ventre

 por Mari Garavelo 

Sejam muito bem-vindas e muito bem-vindos à minha coluna aqui no blog! Estou muito feliz com essa oportunidade de trazer um pouco da minha pesquisa e das minhas reflexões sobre esse tema para vocês.

Esta coluna tem o objetivo de fazer pequenas análises e levantar reflexões sobre a velha escola do tribal a fim de aproveitar esse universo de possibilidades e idéias que ela traz para evoluir nosso estudo e prática da dança atualmente.

Vamos começar pelo próprio conceito de uma velha escola, ou old school: o que significa? 

A expressão provinda do inglês, old school, ao pé da letra em português é “velha escola”, podendo também ser interpretado como “à moda antiga”. Esse termo se refere a um conjunto de elementos do passado que foram bastante utilizados ou valorizados em determinada época, e que são considerados hoje um pouco obsoletos, com um quê de démodé (palavra que provém do francês e significa “antiquado”, podendo se referir a algo considerado fora de moda, ou que já teve seu momento).

O old school pode referir-se também a algo que se tornou clássico ou estabelecido como tradicional de alguma maneira, como tatuagem old school, hip hop old school, moda old school etc.

Exemplo old school na moda, tatuagem e artista do movimento hip hop, Tupac Shakur.

 

Vale muito ressaltar que old school não é necessariamente o mesmo que vintage ou retrô. Vintage se refere geralmente a elementos que são originalmente antigos, que foram produzidos no passado, enquanto o retrô tenta reproduzir a estética do vintage em elementos atuais.

Outra característica muito importante é a de que no conceito de old school nós podemos observar um conjunto de elementos de uma determinada época e que geralmente fizeram parte de uma vanguarda (guarde essa palavra!) de um nicho específico. Então, quando falo em hip hop old school não falo necessariamente da mesma época da tatuagem old school, são momentos diferentes na linha do tempo, mas que tem possuem essa característica da vanguarda e do pioneirismo em comum.

Compreendendo o conceito podemos começar a traçar uma pequena linha do tempo da história do Tribal, e aqui, eu falo exclusivamente do que conhecemos como Tribal Fusion ou Dança do Ventre Tribal para buscar seu momento de vanguarda e começar nossa análise. Minha pesquisa não engloba o ATS (FCBD Style ) porque além de não ser meu foco de estudo também exige uma análise dedicada.

Um último disclaimer antes da linha do tempo é que gostaria de afirmar que não concordo com a ideia de que o Tribal Fusion tem uma história linear. Ao meu ver, não há histórias lineares, existem pontos na história da linguagem que são muito importantes e eles estarão mencionados na linha do tempo para nossa análise, mas, no geral, o desenvolvimento do que nós chamamos de Tribal hoje esteve em alguns lugares ao mesmo tempo e foi se imbricando com as trocas, eventos, as demandas e a internet. Sendo assim, esta linha do tempo abaixo é bastante simplificada, não contempla todos os grandes profissionais envolvidos no Tribal, mas já nos dá um panorama.

 

Conforme podemos observar na imagem acima, a partir dos anos 2000, houve um boom de eventos e personalidades que foram cruciais para o desenvolvimento e o crescimento do Tribal Fusion. Dentre estes, estão a criação do Urban Tribal, a entrada de Rachel Brice no Bellydance Superstars, a amizade e parceria que ela criou com Mardi Love e o Serpent Rouge, o show memorável (e que eu sei que você ama!) que saiu em turnê com a última formação do The Indigo.

É possível observar, no período que vai de 2000 a aproximadamente 2008, que houve muito pioneirismo e trocas entre as criações que estavam sendo feitas. Eu acredito então que este seja o fragmento da linha do tempo em que se localiza o Tribal Fusion old school. Antes desse período, o tribal se desenvolvia de uma forma mais lenta, e, a partir desta época, observamos uma eclosão de eventos importantes para a história do estilo.

O que pode ter influenciado e ocasionado esta eclosão? De que forma esse período ditou como a linguagem se desenvolveria futuramente? Nas publicações seguintes desta coluna vamos buscar as respostas, mas, por ora, temos aqui bastante material para estudar e pensar.

Aqui abaixo está um link de uma playlist que eu criei com vídeos que eu costumo usar para estudar e ensinar sobre tribal old school, pega uma pipoca e faça um watch party com as amigas (tem cada pérola!)!

Não deixe de comentar o que achou dessa postagem e se ficou alguma dúvida, isso é muito importante para o desenvolvimento dos próximos textos.

Até mais!


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Old is Cool


Mari Garavelo (Osasco-SP) iniciou seus estudos em dança do ventre e Tribal Fusion em 2006 e desde então vem aprimorando seu trabalho através de aulas regulares e oficinas com diversos profissionais renomados nacionais e internacionais. Instrutora de Hatha Yoga e Yogaterapeuta formada pela Humaniversidade Holística de São Paulo com registro na Aliança do Yoga.  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

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Old is Cool por Mari Garavelo

 Old is Cool

Mari Garavelo, Osasco – SP, Brasil


Sobre a coluna:

A coluna pretende dedicar-se a análise, reflexão e conhecimento de tudo o que envolve o que é Old School (ou Velha Escola) dentro da linguagem de dança do ventre tribal. Vamos compreender e refletir sobre esse universo de possibilidades e história que o esse recorte pode trazer para nosso estudo atualmente.


Sobre Mari Garavelo:

Iniciou seus estudos em dança do ventre e Tribal Fusion em 2006 e desde então vem aprimorando seu trabalho através de aulas regulares e oficinas com diversos profissionais renomados nacionais e internacionais. Instrutora de Hatha Yoga e Yogaterapeuta formada pela Humaniversidade Holística de São Paulo com registro na Aliança do Yoga. Faz pesquisas e experimentação de diversas danças do mundo, desenvolve um trabalho de inclusão do pensamento e prática do Yoga em ambientes corporativos e nas aulas de dança.





Entrevista

https://coletivotribal.blogspot.com/2015/10/entrevista-38-mari-garavelo.html

Clique na imagem acima para acessar a entrevista.

Artigos

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