[Old is Cool] Analisando o Tribal Old School - Parte 2

 por Mari Garavelo

Sejam muito bem-vindas e muito bem-vindos à coluna Old is Cool! Estamos nesta coluna fazendo pequenas análises sobre o período de vanguarda do estilo tribal de dança do ventre e no nosso último encontro aqui no blog falamos sobre Jill Parker, Frederique e especialmente o Urban Tribal. Nesta estrada muito sinuosa e cheia de atalhos na qual estamos percorrendo nessa coluna, nós chegamos enfim a um ponto de convergência muito importante: o estilo tribal no Bellydance Superstars.

Bellydance Superstars - Divulgalção

Você deve se lembrar com facilidade do Bellydance Superstars (BDSS), talvez inclusive você tenha chegado aqui graças à sua existência, a maioria das pessoas que eu conheço na comunidade tribal brasileira e que começou a dançar na mesma época que eu, o fez por conhecer o estilo através de vídeos do BDSS. Fundada em 2002 pelo magnata e empresário Miles Copeland e pautada numa proposta nada humilde se ser o “Riverdance” da dança do ventre, a companhia de dança mundialmente famosa por tornar a dança do ventre “espetacular” teve importância significativa na disseminação do estilo tribal pelo mundo todo.

O Bellydance Superstars produziu e comercializou numerosos materiais, como DVDs (que mais tarde foram, em sua maioria, disponibilizados no Youtube), camisetas e CDs, viabilizando assim difusão do estilo, antes restrito à Califórnia, em uma escala mundial. Rachel Brice foi descoberta por Miles Copeland e contratada para a companhia onde passou a coreografar uma espécie de “núcleo tribal” do show. Nomes muito conhecidos na dança também passaram pelo Bellydance Superstars como Kami Liddle, Mardi Love, Zoe Jakes, Sharon Kihara, Moria Chappel, entre outras, e, se movendo para os grandes palcos o dresscode tribal também foi ganhando grandes produções. A maquiagem foi se tornando menos rústica e mais artística, mais luxuosa e brilhante, os figurinos ganharam mais adornos com brilho, e para contrastar com o humor colorido dos shows, os figurinos do “núcleo tribal” eram usualmente escuros e com cores fechadas. 

Abertura de espetáculo do Bellydance Superstars, toda a atmosfera de som e luz muda drasticamente quando o ‘núcleo tribal’ entra em cena.


Há nesta época também um notável acontecimento: a parceria histórica entre Rachel Brice e Mardi Love. As criações coreográficas da dupla e seus respectivos figurinos acabaram por criar um estilo inusitado dentro da própria linguagem tribal repleto de referência dos anos 20. Mardi Love foi aluna de Heather Stants e integrante do Urban Tribal, protagonizando, através de suas criações, o desenvolvimento da estética que tem hoje o estilo Tribal. É possível notar nas suas produções uma explícita referência à Theda Bara, atriz que marcou o cinema mudo no início do séc. XX.

Rachel Brice e Mardi Love | Fonte: desconhecida.

Rachel Brice é o maior fenômeno e o nome mais conhecido do Tribal, especialmente devido à sua participação no Bellydance Superstars. É quase sempre a mais citada das bailarinas, havendo até mesmo quem pense que ela é a criadora do estilo. De fato, Rachel tem um papel muito importante na disseminação do gênero, trazendo elementos bastante pessoais e característicos que vieram a se tornar uma “regra” por bastante tempo. É pouco sabido, por exemplo, que seu estilo de cabelo, com dois coques, flores e lenço, tinha como inspiração a Princesa Leia de Star Wars. Se fosse sabido que não se tratava de algo tradicional, mas sim de uma preferência nerd por um personagem, talvez o penteado não fosse reproduzido tão massivamente. Rachel atuava também como professora de yoga, trazendo muito dessa filosofia para o Tribal ao trabalhar a fluidez e a precisão dos movimentos. Seu controle de movimentação faz parecer que o tempo é esgarçado de uma forma sinuosa e perfeita, o que acabou se tornando também uma característica a ser buscada por quem estuda Tribal. Rachel explorou músicas experimentais e sincopadas, carregando uma atmosfera dark em sua expressão.

É quase impossível falar em Mardi e Rachel e não falar em The Indigo. The Indigo Belly Dance Company foi um grupo criado em 2001, dirigido por Rachel. A primeira formação do grupo incluía Ariellah, de quem falaremos mais pra frente. O visual do grupo em seus primórdios estava muito conectado ao Urban Tribal e ao Bellydance Superstars. O auge da companhia ocorreu em sua última formação, com Zoe Jakes e Mardi Love. Vale a pena assistir a cada segundo dos shows do The Indigo no Tribal Fest no Youtube. As apresentações eram repletas de referências à John Compton, em uma pegada cênica ao estilo vaudeville, com atos circenses, músicas árabes e balcânicas tocadas ao vivo. A exibição desses shows exerceu influência direta na cena Tribal em meados de 2007/2008.

Playlist com o Show Completo do The Indigo no Tribal Fest 2007

Ariellah, que foi aluna de Rachel e integrante da primeira formação do The Indigo, destacou-se muito nos anos 2000 também graças a uma grande busca pela chamada gothic bellydance e Ariellah trouxe muito desse universo para o Tribal. Seu estilo foi posteriormente nomeado Dark Fusion, combinando a teatralidade a referências góticas diversas nas músicas, na estética e na movimentação.

Vamos chegando ao fim dessa parte 2 da análise refletindo sobre alguns pontos. 

  • O primeiro: percebam como a idéia do “espetacular” e do show foram moldando a estética (e por que não a movimentação?) do estilo. 

  • Outro ponto: percebemos nessa fase do tribal uma grande inserção de referências àquilo considerado moderno, atual, futurista, impactante, underground. A música eletrônica no seu auge, a popularidade da internet, a ousadia da moda e a expectativa de um futuro cinematográfico (quase com uma estética cyberpunk) influenciaram de alguma forma na criatividade das estadunidenses na estilização daquela dança do ventre? Como isso pode ter se dado?

Ficaremos com mais uma janela entre posts para refletir e se deliciar com os vídeos linkados aqui e na parte 3 iremos dar continuidade à análise do old school. 

Me conta nos comentários o que está achando dessa sequência de textos, eu vou adorar!

Até a próxima!

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Old is Cool


Mari Garavelo (Osasco-SP) iniciou seus estudos em dança do ventre e Tribal Fusion em 2006 e desde então vem aprimorando seu trabalho através de aulas regulares e oficinas com diversos profissionais renomados nacionais e internacionais. Instrutora de Hatha Yoga e Yogaterapeuta formada pela Humaniversidade Holística de São Paulo com registro na Aliança do Yoga.  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 
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