por Thaisa Martins
Acredito que essa pergunta surge, invariavelmente, nas mentes das pessoas que começam a levar sua dança de forma mais profissional, e no Tribal Fusion não é diferente. Mas será que tomamos a decisão correta? Pensando nisso, propomos discutir neste artigo o papel da universidade para o campo da Dança e apresentar um caminho para a escolha de cursar ou não uma graduação em Dança.
Para isso precisamos retomar o assunto discutido no último artigo da nossa coluna intitulado “Campo da Dança: Agentes, Disputas, Capital Científico e o Tribal” e refletir sobre o campo da Dança e seus agentes constituintes. De forma bem sucinta e arbitrária, identificamos os agentes do campo da Dança de acordo com a figura 1.
|
Figura 1 |
Estamos, neste artigo, entendendo como Profissionais: aquelas pessoas que estão produzindo obras coreográficas como dançarinas e coreógrafas; Produtores: todas aquelas pessoas que auxiliam, de alguma forma, no planejamento e viabilização das produções em Dança, seja no papel de produtora ou de staff, sua instrumentalização profissional não necessariamente é feita dentro da Dança; Acadêmicos: pessoas que estão inseridas nas universidades (discentes e docentes) e que estão pensando a Dança a partir desta interface institucional que é a universidade; Professores: Aqueles que aplicam os conhecimentos da Dança associado ao campo da Educação, sendo professor escolar ou de modalidade em academia; Público: Aquele que consome Dança, seja fazendo aula nas academias ou assistindo a espetáculos.
É importante destacar que a o esquema trata-se de uma ferramenta didática pois, no mundo real, muitas vezes nos encaixamos em mais de uma “caixinha”, exemplo: Professoras que fazem aula e produzem eventos, dançarinas profissionais que também dão aula e etc. Esse esquema serve apenas para simplificar e nos ajudar a refletir os diferentes tipos de agências que existem no campo.
Ao observarmos esses diferentes agentes do campo, podemos inferir que suas formações e campos de atuação são bastante distintos. Assim, precisamos ter bem definido o que queremos fazer com a Dança. Que tipo de agente eu almejo ser, para então buscar o estudo necessário que me faça alcançar esse desejo.
O que se estuda numa faculdade de Dança?
Ao cursar Teoria da Dança na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tive recorrentes conversas com colegas decepcionadas com “o mundo acadêmico”, pois elas acreditavam que fazer uma faculdade de Dança seria igual a estar em uma academia e que elas sairiam formadas como dançarinas profissionais, mas já no primeiro período percebiam que não era bem isso. Muitas se perguntavam por que estudar História, Filosofia, Antropologia e etc se tudo o que elas queriam era dançar numa companhia de dança famosa? A universidade iria lhes proporcionar isso?
Para sabermos se queremos ou não entrar numa faculdade de Dança, precisamos então nos informar sobre o que se estuda nela. Uma faculdade de Dança não tem como objetivo formar profissionais da dança que serão altamente treinados em uma ou umas técnicas.
Numa faculdade de Dança os alunos são expostos a diversas teorias que vão pensar a Dança de uma forma mais ampla, propondo e refletindo ferramentas para o fazer, bem como construindo discursos críticos. Aulas de técnicas não visam desenvolver a acuidade estética de uma determinada modalidade, mas sim instrumentalizá-las para analisar e construir obras coreográficas. Aulas de História, Filosofia, Antropologia, Anatomia, Educação e etc servem para construir um pensamento dentro das reflexões do campo.
Outra variável importante de se analisar ao decidir entrar em uma faculdade de Dança é o tipo de curso que você irá fazer. Tendo os cursos oferecidos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) como modelo para análise, identificamos 3 possibilidades: Bacharelado em Dança: curso que busca instrumentalizar os alunos à análise e construção de obras coreográficas, suas matérias são mais carregadas nos estudos do corpo e da cena; Licenciatura em Dança: curso que forma professores escolares em Dança, essa é a opção que mais encontramos nas universidades públicas brasileiras. Suas matérias apresentam uma grande relação com o campo da Educação; Bacharelado em Teoria da Dança: no Brasil este curso é oferecido apenas na UFRJ. Ele visa instrumentalizar pesquisadores do campo da Dança que irão se debruçar em questões teóricas, muito aproximadas com os campos das Ciências Sociais e Biológicas principalmente.
Olhar a grade curricular dos cursos, professores e projetos de extensão da universidade que você almeja estudar é uma importante ferramenta para te ajudar a decidir se esse é realmente o caminho que você quer seguir, serão 4 anos de muito esforço e dedicação para sua conclusão.
E as Pós Graduações em Dança?
Se você já tem uma graduação em outro campo e almeja se inserir no campo da Dança a pós graduação pode ser o caminho ideal para você. Atualmente temos no Brasil algumas opções (públicas e privadas) de especializações, mestrados acadêmicos, mestrados profissionais e doutorado. É importante que você pesquise e identifique que tipo de formação acadêmica em Dança você está almejando. Destacamos aqui a Universidade Federal da Bahia (UFBA) que oferece gratuitamente todos os tipos de formação (graduação, especialização, mestrado acadêmico, mestrado profissional e doutorado em Dança). Na opção privada, destacamos a Faculdade Angel Vianna (FAV-RJ) que oferece diversas modalidades de formação (cursos livres, graduação, especialização e mestrado profissional).
Como o Tribal se insere nesse meio acadêmico?
Temos visto cada vez mais pessoas do Tribal se inserindo nas faculdades de Dança para pesquisar a modalidade. Vemos esse movimento de forma extremamente positiva pois ele complexifica as relações da modalidade no país, expondo-a para novos pensamentos críticos e emancipando o fazer em relação aos discursos das norte americanas e européias. Mas todas as praticantes precisam estar na universidade de Dança para pensar criticamente a modalidade? Definitivamente NÃO.
Defendemos que a pessoa deve buscar a universidade se o caminho discutido até aqui for o que ela almeja seguir. E ao decidir não segui-lo, isso não a diminui de forma alguma. Defendemos ainda, que precisamos compreender a importância da instrumentalização para a prática da Dança, seja realizando cursos livres (formações, capacitações e etc) ou estudando em outros campos, para aprender ferramentas que a Dança não dá conta enquanto produção de conhecimento.
Conclusão: Estudar é preciso.
Buscamos neste artigo mostrar que a universidade é um dos agentes do campo da Dança, mas não é o único. Apresentamos de forma sucinta este agente, na intenção de auxiliar pessoas que estejam pensando em ocupar este espaço. Intentamos também oferecer opções de instrumentalizações acadêmicas que não sejam apenas a graduação em Dança, mostrando que existem muitos caminhos para chegar ao objetivo.
Uma coisa que fica muito evidente para nós, seja na universidade ou na frente do seu espelho, estudar é preciso! E estudar, na perspectiva da Dança, não é apenas ler livros.
Sigamos unidas!
______________________________________________________________________________
Campo em Cena
Thaisa Martins (Rio de Janeiro-RJ) é g
raduada em Teoria da Dança (UFRJ) e mestranda em Arqueologia (UFRJ) onde pesquisa processos de reconstrução de dança na Índia antiga. É sócia do Medusa Tribal Studio, estúdio de dança dedicado ao Tribal Fusion, suas derivações e origens no RJ, junto com a dançarina e fisioterapeuta Maya Felipe. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>
Muito bom Thai
ResponderExcluirEu achava bom falar do PPGDan
Bárbara reflexão
Amei