por Mari Garavelo
Sejam muito bem-vindas e muito bem-vindos à coluna Old is Cool! Estamos fazendo por aqui pequenas análises sobre o período de vanguarda do estilo tribal de dança do ventre. No nosso último encontro falei sobre um ponto em comum de muitas bailarinas incríveis que foi a companhia de dança Bellydance Superstars e finalizei propondo uma reflexão sobre como a cultura pop e a tecnologia nos anos 2000 pode ter influenciado o estilo tribal.
Na minha pesquisa pessoal comecei a pensar sobre esta influência ao observar vídeos antigos do grupo Unmata. O grupo é dirigido por Amy Sigil, foi fundado em 2004 e desenvolveu a proposta do ITS - Improvisational Tribal Style. Atualmente o significado da sigla foi alterado para Improvisational Team Synchronization. O ITS é baseado nas regras de improvisação coordenada do ATSⓇ, porém o grupo se vale de um dialeto próprio, estruturado por combinações de movimentos. O Unmata trouxe muitas inovações para o estilo Tribal, como a ampla utilização das músicas eletrônicas, as coreografias mais dinâmicas em nível e espaço, mais velocidade na execução e figurinos inovadores, inspirados em um visual pós-apocalíptico como podemos ver neste vídeo:
Quem viveu nos anos 2000 pode ter experimentado a expectativa de um futuro com uma tecnologia quase cinematográfica, os celulares ficando mais populares e com designs cada vez mais diferentes, com luz de fundo colorida, flips e música em formato mp3. Essa foi a década em que surgiu o GPS, o pendrive, as TVs de tela plana, a internet de banda larga, a trilogia de filmes Matrix e uma grande influência estética baseada em paletas de cores metalizadas, calçados de plataforma, óculos com lentes coloridas e customizações diversas nas roupas entre outras tendências da moda que tinham como denominador comum “ser disruptivo”. De alguma forma a sociedade foi influenciada por essas expectativas e por essa vontade de ousar, modificar e transformar, demandadas pela época. Para compreender o que pensava Jamila Salimpour ao criar o Bal Anat e todo seu legado, precisamos entender o contexto dos EUA nos anos 70, assim como se faz necessário, para assimilar o período old school Tribal, interpretar o que pode ter levado as bailarinas da época a criar linguagens tão diversas, em constante experimentação. Nesse âmbito a adesão da música eletrônica nas apresentações do estilo Tribal tem muito a nos dizer. Divergindo da década de 70, quando a contracultura incitava a busca pelo exótico, pelo “tradicional”, pelo “étnico” ou raíz, surge, na virada do séc. XXI, uma tentativa de modernização, de misturas e novas investigações.
Unmata, 2008 |
Eu considero também essenciais nessa análise as bailarinas Mira Betz e Elizabeth Strong que foram alunas de Katarina Burda e fizeram parte de seu grupo Aywah!, onde todas as integrantes não só dançavam, como tocavam e cantavam, o que as diferenciou em sua leitura musical e em seu trabalho com músicas balcânicas e trilhas de jazz dance. Assim como ocorreu com Zoe Jakes, que também foi aluna de Katarina Burda e integrante do Aywah!, podemos perceber que seus estilos não estão embasados no ATSⓇ, o que se observa através da postura, figurino e escolha de repertório. Entretanto, ao meu ver, elas já estavam dançando Tribal Fusion, pois eram influenciadas por toda comunidade do estilo tribal da época, estavam nos mesmos DVDs e shows, ou seja, eram consideradas como bailarinas da mesma linguagem.
Mira Betz em apresentação no transatlântico Queen Mary na Califórnia |
______________________________________________________________________________