Resumo do 1º Dia do Fórum Tribal -1ª edição
Tema: Nomenclatura
Data: 08 de novembro de 2020 às 15 Hs
Tempo da reunião: 2 horas
A reunião se iniciou com a fala da mediadora Sarah Belfort, representante da região Centro-Oeste (Brasília) que enumerou os tópicos que serão debatidos, são eles:
Como a mudança da nomenclatura impacta a cena Brasileira ?
Como o fazer político influencia na mudança da nomenclatura ?
Como a mudança do nome pode impactar a estética do estilo ?
Como a representatividade negra está influenciando esse processo ?
Como perpetuar a modalidade sem a introjeção de estereótipos ?
Como as subdivisões do estilo são afetadas ?
Em seguida, a responsável pelo chat Hölle Carogne, integrante representando a região sul do país (Rio Grande do Sul) fez sua apresentação.
A primeira pessoa a debater apresentou suas preocupações a respeito do assunto, sobre a importância de se ater ao tema devido ao amplo desdobramento de questões que poderiam ocorrer. Indagação : Porque o nome Tribal é tão inapropriado?
Relato de definições e reflexões para o termo tribal: termo de alteridade que, da mesma forma que o termo étinico, propõe o olhar do outro ao outro (outro não hegemônico, não padrão, não branco, não europeu). Aborda a relação da história hegemônica com o olhar ao “outro” de forma excludente e somente inserida através da antropologia. Relata a temporalidade do termo e sua relação com a década de 70, sendo utilizado para indicar grupos unidos por uma afinidade para com algo. Na sua opinião o termo Tribal não deveria mais ser utilizado por carregar esses preconceitos expostos pelo olhar decolonial atual.
A primeira participante realiza o convite para que alguém da comunidade LGBTQ + e/ou algum representante que vivencia questões de negritude e/ou questões de minoria, que tenha reflexões a respeito, para falar sobre sua percepção do preconceito no meio e na utilização do termo Tribal em sua nomenclatura.
Participante LGBTQ+: Aborda sobre a ressignificação de termos criando a ponte com a possibilidade de ressignificação do termo tribal dando exemplos sobre os ocorridos no meio acadêmico e não acadêmico.
Terceira pessoa a falar aborda o tema pelo olhar de mulher afro-brasileira / latino-americana: inicialmente aborda o tema pela visão latina colocando o Imperialismo e a colonização em pauta e questionando o como a comunidade latina deveria se posicionar quanto a mudança da nomenclatura. Aborda o sistema hierárquico do estilo FCBD style e suas características mercadológicas excludentes aos que não possuem poder monetário, acreditando que essas questões podem influenciar na nomenclatura. Concorda com a não representatividade do termo tribal por questões sociais, práticas e mercadológicas. Aborda a dificuldade da compreensão da natureza do fazer tribal para com editais e público em geral devido a nomenclatura originária que não define o fazer da dança para o leigo.
Pela visão afro-brasileira aborda a necessidade de uma alternativa para que se possa experienciar a diversidade, se referindo a essas culturas de forma mais respeitosa.
Quarta pessoa a falar também no lugar de fala da pessoa negra, inicia o discurso referenciando o livro : Antropologia da Dança, autora Giselle Guilhon - capítulos sobre os termo tribo e étinico, indicando a leitura para nossa comunidade de dança. Fala sobre a identificação da comunidade com o termo Tribal mesmo com seus entraves e sobre a sua opinião elegendo o termo Dança do ventre estilo tribal como termo de transição para a nova nomenclatura não definida. Aborda a importância da conversa com outros grupos e "etnias" que são comumente classificados como tribos, mesmo que os mesmos não se identifiquem como tal, para dar lugar de fala a essas pessoas que são rotuladas como tribos e escutar sua opinião sobre a utilização do termo.
A quinta participante aborda a necessidade de se aproximar da academia para uma discussão teórica sobre as terminologias, excluindo a questão do gostar ou não gostar do termo. A mesma indaga se a mudança da nomenclatura se dá por uma preocupação teórica ou epistemológica ou por uma questão de mercado? Indaga se existe sentido na mudança da nomenclatura dentro da nossa realidade de mercado brasileiro por questões inerentes ao mercado estadunidense. Qual a nossa relação com esse mercado estadunidense e o quanto essa pauta está ancorada em perspectivas liberais de pensamento (que perpetuam uma lógica capitalista e mercadológica excludente)? A mesma relata não gostar do termo tribo fora do contexto de dança e ainda enfatiza a disparidade de trocar o termo tribal por etnico já que os dois entram em uma mesma visão colonialista.
A sexta participante faz referência a fala de uma palestrante do evento Praksis “O chicote duplo da colonização” e discorre sobre. Traz para a pauta a criação da nomenclatura pela observação de terceiros e não de pessoas referentes a criação do estilo. Relata sua visão sobre a dificuldade de debater o tema sem recorrer a materiais e questionamentos referentes ao mercado onde foi criado o estilo já que nossa realidade é toda outra.
A próxima participante a pedir a palavra enfatiza o desconhecimento do público geral e dos praticantes de outras modalidades de dança sobre o estilo, e o quanto a atual conjuntura de mudanças e utilização de nomes diferentes por profissionais renomados pode dificultar a divulgação / mercado de nosso estilo. Relata que devido a nomenclatura atual possuir ampla possibilidade de associações/interpretações, a mesma sempre precisa discorrer longamente sobre a história do estilo para que o mesmo seja compreendido.
A próxima participante cita as indagações da dançarina/professora/pesquisadora Donna Mejia e a sua influência no pensar o termo tribal da atualidade. Relata a sua percepção sobre as indagações da pesquisadora citada acima, onde interpreta que precisamos nos aprofundar no estudo das origens, dos povos e sua cultura devido às peculiaridades vinculadas ao estilo e não somente mudar a nomenclatura.
A nona participante discorre sobre o surgimento do tema da apropriação cultural em meados de 2010 nos Estados Unidos, e a dificuldade das grandes representantes do estilo em abordar o tema e se posicionar antes do posicionamento de Donna Mejia, que se enquadra em um amplo lugar de fala. Discorre sobre a maior dificuldade das dançarinas do estilo que se encontram na América Latina em estudar sobre a bases do estilo através de cursos com as precursoras, devido a sua concentração nos EUA, aos valores elevados, e a valorização do dólar. Apresenta sua preocupação com a ideia de algumas dançarinas de aderir a uma nomenclatura de forma isolada de acordo com as necessidade e peculiaridades da estrutura social local e se isolar do estilo que já possui praticantes em muitos países.
Expressa sua opinião sobre a necessidade de um termo consensual indicado pelos grandes nomes de referência e a necessidade de uma cobrança do grupo latino americano a essas representantes estadunidenses através de elaborações em conjunto de forma uníssona enfatizando a necessidade da nomenclatura para o fazer mercadológico.
A décima participante enfatiza a questão da nomenclatura atual não ser descritiva, carregando um peso de “nome não oficial” desde sua criação. Traz luz a um dos porquês para dificuldade de se nomear o estilo : a dificuldade de definir o estilo tribal por sua ampla variedade de interpretações sobre quais são suas principais bases. Relata que na sua opinião o momento para o estilo é de extrema importância e pode agregar muito pelo pensar a dança, suas características, a pontuação das diferenças e semelhanças de cada uma das várias vertentes atuais do estilo. Mostra sua discordância com uma das participantes anteriores sobre o termo Tribal ser um termo acadêmico. Na sua opinião, o termo tribal está atualmente (nos últimos 10 anos) sendo discutido no meio acadêmico para a compreensão do que foi utilizado por pessoas leigas intuitivamente.
Indaga se assim como o termo, se a dança em si moralmente falando, não é algo politicamente incorreto na visão atual. Na sua opinião ela não seria.
Exemplifica a adaptação a nomes inapropriados utilizando o termo Dança do Ventre e relata a adaptação do público ao termo com o passar do tempo e o crescimento da modalidade.
A décima primeira participante enfatiza a dificuldade da escuta pelas estadunidenses, dos países que abraçaram o estilo FCBD Style e sofreram grande impacto com a mudança da nomenclatura. Na sua opinião, a mudança do nome sem a discussão sobre apropriação cultural se caracteriza como uma “fuga” improdutiva.
Em sua opinião seria interessante haver maiores pontes, conversas, debates entre os países subalternizados sem a necessidade da constante consulta dos países centrais em relação ao estilo. Concorda com a opinião de participantes anteriores sobre a importância de se estudar e compreender o fazer do tribal ao invés de focar totalmente na identidade através da nomenclatura.
No chat do encontro uma participante perguntou: o que vocês acham do termo Transnacional fusion? e pede para que outras participantes discorrem sobre.
A próxima participante faz uma ratificação por entender que não foi bem compreendida por uma das participantes que se baseou em sua fala. Ela enfatiza que o termo tribal não veio do meio acadêmico, porém o questionamento/ inquietação sobre a utilização do termo tribal sim. Fala sobre o termo Tribo Urbana criado na década de 80 e sua influência na nomenclatura do estilo pela alargamento no conceito de tribo amplamente criticado atualmente pela academia. Aborda a importância do estudo do termo Tribal pelo olhar acadêmico sem a necessidade de o fazer academicista, gerando uma construção do conhecimento através da dialógica entre academia e sociedade.
Em resposta ao questionamento no chat, uma das participantes responde: Pontua que a pesquisa de Donna Mejía se iniciou em 2011 sem grande adesão de suas pesquisas pela comunidade da dança. Ela relata que a tradução/ intenção da utilização do termo transnacional seria ‘’para além das fronteiras’’, aproximando mais as pessoas. A participante discorda da utilização do termo pela não diluição das fronteiras culturais, visto que a mesma foi criada em meio ao paradigma cultural colonialista do fazer estadunidense.
A próxima participante relata que o termo transnacional não foi criado por Donna Mejia, visto que o termo foi pensado na década de 90 pelas ciências sociais pela necessidade do pensar o colonial e o aculturamento dos povos colonizados, agindo para tirar o colonizado do lugar de passivo e trazendo o foco para a influência gerada pelo encontro das duas cultural simultaneamente.
Pontua sobre a percepção através de um olhar antropológico acadêmico de Donna Mejia como professora de dança para a eleição na sugestão do novo termo para designação do estilo. Porém, de acordo com a participante, o termo transnacional já não é bem aceito no meio acadêmico. Para finalizar, se posiciona discordando da fala de uma das participantes sobre o fazer da dança tribal não ser correto, já que a seu ver a dança só não é certa se não houver embasamento.
A próxima participante relata seu descontentamento com o termo transnacional e sobre a problematização em relação a trocar o nome da dança após ser utilizada por longo período. No seu ponto de vista o termo tribal atualmente já é reconhecido com suas particularidades corporais e estrutura visual e deixar de usar o termo seria uma grande perda do que já foi conquistado no mercado da dança.
O último participante tenta resumir os conteúdos abordados. utiliza exemplos para trazer a pauta a tentativa atual de várias danças de buscar nomenclaturas mais fiéis às suas origem para definir de forma mais precisa as culturas estudadas, dando como exemplo o uso do termo Raq al sharq ao invés de dança do ventre e cavalo marinho no lugar de danças brasileiras, diminuindo assim a utilização de termos hegemônicos. Embasado nessa tendência, classifica o transnacional como hegemônico e inapropriado. Ratifica falas de participantes anteriores sobre a necessidade da maior conversa entre academia e conhecimento popular, mostrando a importância de ambos.
Enfatiza a importância da decisão do nome apropriado para o estilo devido a necessidade mercadológica dos profissionais da dança e discorre sobre o quanto as atuais discussões e o pensar o estilo junto a academia vão afetar o nosso fazer da dança.
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