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[Fórum Tribal] Fórum Brasileiro de Dança Tribal e Fusões - 2ª edição



Sábado, 30 de outubro e 06 de novembro de 2021 das 15h às 17h

Tema Geral: O que pensamos sobre o mundo virtual que se abriu nos últimos 2 anos?

Nos últimos 2 anos, a vida online se tornou nossa única possibilidade de encontro e prática da dança. Fomos forçadas a reinventar nossa relação com a tecnologia e com o mundo virtual. Pensando nisso, propomos discutir como isso afeta e acreditamos que afetará o futuro da cena Tribal/Fusão? Quais são os pontos positivos e negativos que vocês encontram dessa relação com a tecnologia e o mundo virtual? O que precisamos pensar para o processo de retorno para os encontros presenciais?


Equipe de Organização


Inscrições: Caíque Melo (BA)

Divulgação: Karine Neves (RS)

Documentação: Melissa Souza (SP)

Cronograma e produção geral: Thaisa Martins (RJ)


GT1

Mediadora: Annamaria Marques (MG)

Chat: Camila Saraiva (BA/PB)

Bakchup: Pan Lira (PA)


GT2

Mediadora: Ana Clara (AL)

Chat: Raquel Ottoni (MG)

Backup: Aline Muhana (RJ/SP)


Sábado, 30 de Outubro de 2021

Integrantes da mesa mediadora: Annamaria Marques (MG), Camila Saraiva (BA/PB) e Pan Lira (PA)


Tema: Dança e Redes Sociais: Contribuições e Problemas


  • Autoimagem, padrões e distorções no virtual;

  • Representação, representatividade e identidade no virtual;

  • Tiktorização da dança e implicações para o processo de ensino-aprendizagem;

  • @ profissional da dança multifunção e as novas demandas das redes sociais;

  • Dificuldades de exposição e relação entre público e privado;

  • Os parâmetros de sucesso das redes sociais.


Discussão da reunião

O Fórum teve início com 28 participantes, contando com a equipe de produção, profissionais e estudantes da dança, bem como simpatizantes interessados nos tópicos apresentados. Seguida as apresentações do GT, passaram os slides com os tópicos do dia, destacando que foram organizados de acordo com as sugestões enviadas pelo público. Importante destacar que o número de participantes representa menos da metade dos inscritos, sendo que o limite de inscrições era 100. Houve uma concentração maior de pessoas do sudeste em comparação ao pessoal do norte e centro-oeste. Também tivemos inscrições de estrangeiros e brasileiras vivendo no exterior.

O primeiro a falar foi um participante bastante ativo na discussão, ele abriu e fechou as perguntas do fórum, trazendo suas inquietações acerca da nomenclatura, representação do corpo e auto imagem, demonstrando bastante afinidade e interesse pela dança do ventre estilo tribal. Após o evento, dialogamos sobre a necessidade de nos prepararmos melhor para receber toda a diversidade de público e nos comprometermos com a proposta de fazer do evento um espaço inclusivo.

A próxima a falar relatou que por receio de ministrar aulas online optou por se ausentar do ofício e priorizou estudar durante esse período de pandemia. Percebo que a nossa relação com o espaço virtual x fisicalidade é o que mais tem nos afetado e esse assunto se perdura ao longo de todo o encontro. O participante seguinte trouxe importantes contribuições enquanto profissional da dança. Em sua fala, ressaltou a dificuldade de transportar o ensino e a prática da dança para o virtual e a consequente condensação do conteúdo, considerando as limitações especialmente de tempo nos variados formatos de publicação para retenção da atenção do público nas redes sociais.

Em seguida, outra participante compartilhou suas dores e aprendizados enquanto professora de dança, com a pequena vantagem de ter uma familiar publicitária e que trabalha com marketing digital para orientá-la. As redes sociais é mesmo um espaço democrático? Não posso deixar de refletir sobre isso, especialmente ao ouvir o desabafo e as angústias das participantes, tal como foi colocado no chat: “triste para quem não sabe fazer essas produções, mas é um mega artista”, e “nós alimentamos as plataformas deles em troca de nada”. A participante versou ainda sobre a divisão de classes, limitações tecnológicas, de recursos e a falta de acessibilidade. “Penso que o instagram é um homem hetero branco”, afirmou, sintetizando que o algoritmo não é pensado para todos os públicos. Somos escravizados pelas redes? Por que? É realmente necessário essa presença e constância online? Para quem? Demorou, mas a dificuldade de delegar e valorizar os profissionais de mídia veio à tona na discussão.

O próximo a falar colocou que “artistas de vídeo e artistas de palco tem necessidades diferentes”. No chat, articularam: “penso que ninguém é obrigado a estar no Instagram ou qualquer outra rede, mas a atualidade nos permite estar nesses lugares e expandir. Vejo muito mais como algo benéfico, basta cada pessoa usar da forma que achar melhor”. O participante seguiu ressaltando as divergências do espaço online, mas trouxe também as contribuições que as redes sociais trouxe para a comunidade, pensando em custos com deslocamentos e tudo mais.

Em seguida, trouxeram mais uma provocação através do chat: “qual será nossa postura agora com o retorno? Continuaremos investindo em produções de rede ou voltaremos a pensar nos palcos?”. Falaram também sobre autopolítica na usabilidade das redes sociais - da necessidade de pensarmos em como usamos a plataforma e quem seguimos. A seguinte a falar trouxe também colaborações valiosas, destacando que optou por “não se cobrar tanto no virtual”, ao que concordaram no chat: “dançar também é partilhar, o virtual tira isso um pouco”.

Um dos participantes tornou a falar questionando a profissionalização na dança e essa nossa tendência à rebeldia, na necessidade de corrompermos o sistema. No chat, surgiu questionamentos do tipo “sou do físico ou do virtual? E o hibridismo?”. Citaram o documentário “O Dilema das Redes” disponível na Netflix. “Não nos ensinaram a trabalhar com dança”, disseram, “romantizamos muito”, e sintetizaram: “alimentamos uma competição que não é necessária”.

Então outra participante assumiu a fala e expôs suas dificuldades em conciliar maternidade, dança e as demandas que surgiram com a pandemia, falou da necessidade de nos fazermos ouvir em outros espaços e fechou comentando sobre estar sempre se questionando, necessitando de uma validação que não existe, a tão conhecida síndrome de impostora que em algum momento precisamos lidar nessa trajetória.

No chat disseram: “sinto que o nosso meio do tribal explora a criação de vídeo de forma muito limitada”, e mais para frente tornaram a falar da criação audiovisual como um campo de conhecimento que merece ser valorizado. Uma matéria disponível no blog Coletivo Tribal especificamente sobre gravação, foco e expressividade: “A dança na tela – Transportando o Espectador para o filme de dança pelo Efeito de Presença” foi sugerida. Então, a participante seguinte tornou a falar sobre marketing digital, publicidade e todo o mundo virtual que existe para além das redes sociais, como o Google Business, a importância da criação de um site.

Uma das participantes tornou a falar de aceitação, autocrítica e autoimagem e então comentaram sobre o tribal, para além da liberdade do movimento, ser também sobre liberdade do corpo e da imagem. Eis que ressaltam “em números, o padrão fit vigora”. A participante seguinte falou sobre engajamento, sua visibilidade e alcance nas mídias enquanto criadora de conteúdo. E então outro participante tornou a pontuar sobre “o preço a se pagar ao almejar querer ser ou estar entre as grandes”, a necessidade de foco, disciplina e também, terapia. No chat, salientaram: “estamos sim construindo algo grande aqui, isso é construir história”. A próxima a falar ressaltou os acessos que a crise nos possibilitou ao nos forçar a olhar para o virtual, como por exemplo a necessidade da construção de um portfólio online.

Então a pauta se voltou sobre o cenário internacional como um parâmetro de sucesso e a necessidade de olharmos à nossa volta, para os nossos, em ocupar primeiro o nosso próprio território, às redondezas, e como o virtual tende a nos empurrar para o internacional, ainda mais considerando que a produção de mídia no Brasil ainda é um tanto escassa. Por fim, tornaram a falar sobre aproveitar a crise e os questionamentos atuais ao estilo para divulgar e incentivar o que produzimos em solo nacional. A participante encerrou sua fala com uma citação poética do filme biográfico de Pina Baush (2011): “as situações, é claro que te deixam absolutamente sem palavras, tudo o que você pode fazer é insinuar, as palavras não podem fazer mais nada do que apenas evocar as coisas, é aí que vem a dança.”

Outra participante aproveitou para falar sobre como se sentiu enganada com a publicidade de alguns cursos online, mas em contrapartida se deparou com bons cursos oferecidos por profissionais como Lukas Oliver e seu programa Power Shimmy, assim como Gilmara Cruz e a introdução ao Dark Fusion, defendendo o oferecimento de aulas gratuitas como uma “amostra de didática”.

O evento passou do horário e encerrou às 17h20. Antes do participante citado inicialmente trazer sua fala com suas reflexões sobre toda a discussão, uma outra participante falou sobre a demanda de mídias não ser uma necessidade isolada do campo da dança, da importância de se atualizar e seguir as tendências ainda que tenha dificuldades ao longo do processo, e também da integração das artes do corpo e performance como uma linguagem artística híbrida, “as coisas estão mudando”. Disse ainda que chegou a ouvir que “teatro na internet é cinema de má qualidade”, típico argumento de pessoas que apresentam certa relutância em se atualizar e seguir as tendências. A mudança do Facebook para Meta também foi colocada. E concluiu relatando que recebeu um convite inesperado da própria Zoe Jakes no privado para fazer uma aula online, repetindo a velha e conhecida frase “quem não é visto, não é lembrado”.



Sábado, 06 de Novembro de 2021

Integrantes da mesa mediadora: Aline Muhana (RJ/SP), Ana Clara (AL) e Raquel Ottoni (MG)


Tema: Dinamismo do Ensino-Aprendizagem em transição do online para o presencial


  • Relações entre transmissão de conhecimento, conexão professor-aluno e qualidade de conteúdo na era digital

  • Existe liberdade de posicionamento político dentro das relações de ensino e aprendizagem?

  • Como as leis de fomento à arte impactaram o ensino de dança tribal on-line no Brasil? Você teve acesso a essas aulas? Qual foi a sua experiência?

  • A possibilidade do contato virtual com praticantes de outros países possibilitou o estreitamento de relações entre a comunidade brasileira e demais comunidades latino-americanas? Como foi o seu contato?

  • O reconhecimento das várias vertentes da dança tribal está sendo abordado e estimulado durante o ensino? Quais conteúdos importam na sua aula? Como proporcionar uma educação emancipatória para o estudante, valorizando sua individualidade e processo artístico?


Discussão da reunião

O evento teve início com 20 participantes, seguido 5 min de tolerância de atraso, o GT se apresentou e em seguida fizeram a apresentação do tema e os tópicos em slides, reforçando a necessidade de se ater a cada tópico dentro do tempo sugerido para que a discussão conseguisse abranger todos os temas.

A primeira participante a falar relacionou o tema com a discussão anterior, alegando o grande foco da cena tribal na transmissão de conteúdo e ensino. Ela falou sobre o grande boom do início da pandemia e distanciamento social, de acordar de madrugada e dançar com pessoas de todo o mundo. Lamentou a inauguração de seu espaço físico em meio a este período e comparou a experiência do online com a experiência superficial de aprendizagem nos workshops estilo masterclass, onde não se tem um aprofundamento do conteúdo.

O próximo participante relatou sua experiência com as fitas de vídeo, DVD, e como o digital sempre intermediou sua relação com a dança. Novamente, falou sobre os custos e investimentos em tecnologia para conseguir dar uma boa aula online. “Ela precisa de alguma forma ser uma experiência para os alunos, para se conectarem, preparar seu espaço, estar totalmente equipado, prestar atenção ao contraste da roupa.”.

Em seguida, outro participante compartilhou sua visão especialmente sobre a cena local, comparando ao exterior, em como se adaptaram com mais facilidade lá fora, “detenção de poder, capital, pras norte-americanas é mais facilitado”, incitando questionamentos: que tipo de conteúdo estamos produzindo? Tutoriais?

No chat relacionaram oportunidades vs seleção das aulas. A carta aberta de Donna Mejia sobre o Transcultural foi citada, “o estilo já veio com essa coisa da troca, entre países e profissionais do mundo”. Citaram também a Datura Online e as possibilidades do virtual enquanto facilitador para a comunicação, o diálogo e as conexões.

Então a participante seguinte criticou o uso da câmera fechada, falou sobre tentar se aproximar de uma experiência presencial, de oferecer a aula ao vivo e ficar desconfortável com a disponibilização da gravação, de como intimida os participantes inclusive a compartilhar abertamente, de presenciar caso de violência doméstica e de ter alunos estilo "voyeur", que só está lá para assistir. Citaram ainda os 4 pilares da educação segundo a Unesco: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser.

“Esses contratempos cotidianos é muito mais potencializado quando se tem filhos”, disseram. Então uma participante foi convidada a falar do cenário norte-americano considerando que é onde mora e trabalha atualmente. “Elas também tiveram suas dificuldades”, Raquel Brice, por exemplo, optou por não oferecer seu programa de imersão para novas participantes online. Em contrapartida, Mardi Love, que normalmente não é tão ativa nas mídias sociais, lançou um programa de aulas online Isolations in Isolation que teve alta adesão. A participante também optou por não ministrar aulas online com um filho em casa, com receio que as alunas pudessem se incomodar, contradizendo a ideia de espaço organizado que outro participante havia colocado. A falta de rede de apoio, conflito com os horários de escola foram outros assuntos debatidos.

Passaram então para o tópico seguinte, organizando o tempo para que todos os assuntos fossem discutidos. Um dos participantes tornou a falar, relatando que optou por aulas gravadas para evitar interferências e ruídos externos como vizinhos e animais de estimação. Falou então da vantagem de usar espaços virtuais próprios para aulas online ao invés das redes sociais, e disse ainda sobre se auto-gerenciar, empreender e administrar a dança como um negócio. No chat, as conversas seguiram fluindo: “quando no presencial, ficamos dependentes de espaços e apoio para também ter uma qualidade que gostamos de proporcionar aos nossos alunos”, “confesso que a aula gravada me ajuda, em outras danças, na autonomia, pois faço no meu tempo e ofereço até mais gás”. O participante falou também da responsabilidade de entregar conteúdo, mas que o aluno também precisa ter um compromisso para estudar de casa. Finalizou abordando o tópico seguinte, sobre liberdade de posicionamento político.

Outra participante tornou a falar de desigualdade social, acessibilidade, que tudo é política, relacionamento, diálogo. De saber as necessidades e dificuldades dos alunos. “Tá difícil, impossível viver no Brasil e falar de política”. Ética também é política, não falar mal de outras professoras, alunas, respeitar a diferença de corpos: “conteúdos conceituais, procedimentos, atitudinais, considerando a experiência da educação em dança para além da transmissão de conhecimento”.

Falaram também sobre a crítica em cima de corpos masculinos, “homem tem que dançar diferente”. O participante criticou também a isentabilidade política e a responsabilidade que o professor carrega ao emitir um posicionamento em aula. “Eu penso que o corpo já é político, se uma mulher gorda, por exemplo, já está ali e fala que não se sente confortável com seu corpo, ela mesma já está se posicionando diante de toda a sociedade que impõem padrões. Penso que é impossível não associar. Não é toda mulher que vem fazer aula comigo. Por que não me posicionar politicamente então?”. Uma das participantes chocou e emocionou ao relatar sua experiência como aluna num ambiente machista, com um professor assumidamente nazista e facista, relacionando com a dança, em exigir seus direitos. “A questão é que há uma grande confusão sobre o que é liberdade de posicionamento/expressão com descriminação e ignorância”, disseram no chat.

A participante seguinte recomendou uma dissertação sobre as questões feministas no ATS, “Estilo tribal americano de dança do ventre: algumas questões e princípios estéticos, técnicos e composicionais”, por Maria Beatriz Ferreira Vasconcelos. “Acho que a política/ética ainda pega as questões que tanta gente quer fugir e que abrangem também a apropriação cultural, movimento decolonial, preconceitos”; “quando entrei no Tribal, entrei porque falaram que faria uma dança da contracultura, desde então, penso no que político nessa dança?” Vivo a pensar…”, disseram no chat.

Outro participante recomendou o filme Maringuella. “O que sua Dança convoca nos tempos de agora? Minha orientadora sempre faz essa pergunta”. Não conhecer também é político. “Acho importante lembrar que opinião não substitui estudo, falar de política baseado em post de Instagram é bem complicado”; “Porque dar aula numa universidade é diferente de dar aula numa escola de Ballet, num studio de Yoga ou numa periferia” foram algumas das falas trazidas no chat.

Já no tópico seguinte, o próximo a falar incentivou o uso de editais públicos, “é quantitativo, precisamos mostrar nossa arte”. Então uma participante falou sobre sua experiência falha com os processos burocráticos de editais, prazos e custos, enquanto outra participante relatou que falaria o dia todo sobre leis de fomento ao tribal, leis de incentivo, e citou Helena Katz, “edital é paliativo”, falou ainda sobre apropriar-se de mecanismos existentes, do “canibalismo” na dança, de como o capital gira entre as mesmas pessoas, numa pequena bolha, como construir um público, fluir com o estilo, e concluiu: “nem todo mundo precisa aprender a dançar para apreciar a dançar”.

“Professor lida com um tipo de conhecimento, edital lida com outro, o do produtor cultural”, colocaram. Citaram também a Caravana Tribal Nordeste 2021 como um evento descentralizado que fez uso de edital público. A participante seguinte falou sobre o privilégio de gostar de ler e estudar, o que a ajuda a entender os editais. “Ser artista não é só aula e festival”, disseram. “Precisamos de uma dose de autoestima porque já ouvi artistas e professoras maravilhosas com medo de mandar projeto”. É possível viver de edital? “As normas técnicas são para excluir mesmo.”

Outra participante pontuou: “o edital precisa ter uma contrapartida potente, isso para também pela acessibilidade no interior de formação de plateia, libras, audiodescrição.” O próximo participante falou sobre o tempo e a pressão de esperar os prazos dos editais. “É trabalhoso e é frustrante quando não é aprovado. Mas ainda assim demonstra para os órgãos de fomento que é preciso ter mais verba.” E então, concluíram: “Os editais abrangem aulas, oficinas, vivências, criação de espetáculo, videodança, documentário, pesquisa, livro, manutenção de espaços e coletivos, ações, congressos, festivais…”; “Ninguém é obrigado a se inscrever nos editais, só acho que a gente tem que entender que essa possibilidade existe”.

O chat teve um grande engajamento com conversas paralelas. Às 16h17, no meio do evento, chegamos a 25 participantes. A próxima a falar e criticou a falta de organização e profissionalismo na cena tribal quando comparada à “tradicional” dança do ventre. Falaram também sobre a dificuldade de inclusão no estilo. “O que é uma das minhas críticas no meu tcc: a linguagem excessivamente rebuscada, prejudicando a população interessada. As pessoas quando acesso não compreendem, dando brecha para outros que compreendam melhor”.

Já caminhando para o final, o GT citou os últimos tópicos de discussão, então a participante seguinte versou sobre sua experiência com praticantes de outros países, especialmente na América Latina, e o contato com a língua espanhol. “Essas redes online pode ser um evento calendarizado visto também o custo ser menor e nos proporcionar essa rede.”

A participante seguinte falou sobre dicotomias, de não precisar se prender à harmonia, e fez um carinho sobre a nossa representatividade, nosso jeito de fazer na dança, da importância de estarmos em rede, que não podemos nos inferiorizar, que estamos fazendo isso lindamente. Então falou sobre o estreitamento de relações com comunidades latinoamericanas e danças originárias, como a dança indiana e também a própria dança do ventre. “E um adendo: o tribal tem uma preocupação para o embasamento teórico que muitas vezes falta em outras danças.”, disseram no chat.

“E as fusões com as nossas danças nacionais marginalizadas? Funk, piseiro, samba. A gente fala do preconceito com dança do ventre, e até onde a gente tem preconceitos em conhecer as nossas?” indagaram. “As tendências nas redes sociais acabam por abafar as propostas de fusões brasileiras.” disseram no chat, então citaram o trabalho de Alana Reis e sua fusão com carimbó. Destacaram também as performances de Michele Coelho com músicas músicas e estéticas brasileiras no norte global.

Outra participante falou sobre o dark como vertente e os preconceitos enraizados, “o Brasil é referência em Dark há muito tempo e não sabemos disso. Falta diálogo, troca de informações, união na cena nacional.”. Então comentaram sobre a live com Rachel Brice organizada pelo Coletivo Drusa em que perguntaram a ela “o que você acha da apropriação cultural?”, ao que ela respondeu: “por mim vocês tomavam o tribal para vocês!”.

Faltando 10 min para encerrar, as pessoas começaram a deixar a sala para atender outras demandas. O GT fez sua fala final e, por fim, pediram que a equipe de produção se apresentasse também, brevemente, seguida as despedidas e agradecimentos ressaltando que no Fórum temos espaço para todos.

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[Fórum Tribal] Produção de Evento

 Resumo do 4º Dia do Fórum Tribal - 1ª edição

Tema: Produção de Evento

29 de novembro de 2020 às 15 Hs 

Tempo da reunião: 02:30         

Integrantes da mesa mediadora: Cibelle Souza (RN), Annamaria Marques (MG)e Aerith (PR)

O quarto dia do Fórum Brasileiro de dança Tribal e Fusões teve como tema:

“Produção de eventos”, escolhido previamente entre os participantes por meio de votação. 

O debate foi aberto pela mediadora Cibelle Souza, seguida por Annamaria Marques e Aerith, membros da organização,  com as seguintes questões: 

. Como produzir eventos de dança na realidade brasileira: quem produz, por quê e para quem, o que te faz querer produzir um evento, o que está incluído no trabalho de um produtor, ética e produção.

. A importância dos eventos na construção da cena local (dentro do brasil de forma geral): como a escolha do contratado, da locação e do público-alvo impactam a cena que estamos construindo. Além de se discutir se é possível abraçar dicotomias e garantir a qualidade do evento (artista nacional ou internacional, workshop ou show, evento urbano ou retiro).

. Colaboração entre produções: diálogo entre os eventos para criar uma cena mais rica e diversificada, criação de um calendário de eventos para facilitar a organização da cena e facilitar o acesso ao público em comum, estabelecimento de parcerias respeitosas e efetivas (em promoções, divulgação, participação).

. Principais desafios e inquietações: Produção e finanças: (lucro, patrocínios, editais), eventos em tempos de pandemia, acessibilidade e inclusão social (oportunidades para somar às causas, proporcionar espaço para as minorias), Minorias na produção de eventos e quem define o  mercado ( produção ou público?)

            Aberto o debate, foi colocado que a produção de eventos é um assunto de grande interesse já que, enquanto o estilo de dança, o estilo tribal de dança do ventre ainda não tem grande visibilidade na comunidade de forma geral e acaba por tornar-se necessário  que os próprios artistas se tornem produtores de forma a fomentar esta  visibilidade e também oportunidades de que outras pessoas da área possam mostrar seus trabalhos ao público em geral e a outros artistas da dança. Porém, um resultado disso seria o uso de formatos padrão de evento e, segundo a fala, reduz a diversidade de tipos de evento que acontecem e pode, inclusive, engessar como entendemos nossa própria dança. "A nossa dança modela caminhos" de acordo com o participante.

             Em seguida, foi colocada a questão de se os novos produtores se perguntam, antes de ingressar nesta área, o por quê de estarem fazendo aquilo (diretrizes), quais os objetivos do evento, os riscos envolvidos e qual seria a preparação que deveriam ter antes disso, visto que a demanda logística, financeira organizacional/ de gestão e até psicológica de se produzir o evento pode ser muito complexa. Neste sentido foi apontado como estratégia essencial se ter uma equipe, e de preferência uma  boa equipe profissional nesta área, para que o evento alcance bons resultados para o público e para a organização, seja o evento virtual seja presencial.

            A equipe profissional também pode gerenciar questões importantes como a curadoria artística e o acesso a fomentos governamentais na área artística. O produtor também está fazendo dança.

            Outro ponto abordado foi o alcance dos eventos, se e até onde é válido montar eventos visando atender a um público mais especializado e consequentemente mais restrito ou buscar alcançar mais pessoas de forma a difundir e educar o público (fomento) com relação ao nosso estilo de dança. 'Levar o tribal a outras esferas" como colocou outro participante.

            Foram relatadas experiências com a produção e participação em eventos de portes diversos. Além disso, um  evento em particular foi citado como exemplo de como é possível haver um diálogo entre vários estilos de dança e eles estarem "convivendo" naquele mesmo espaço. Pensar também em que tipo de experiência se está proporcionando para o público (leigos, alunos e profissionais).

            Também foi discutido o "canibalismo" entre eventos visto que vários acontecem ao mesmo tempo, ou muitos em seguida, obrigando o público e alunos (e até produtores) não só a escolherem um em detrimento de outro, mas a falta de diversidade de temas gera desinteresse do público. 

            Como desdobramento deste assunto, apontou-se a construção de parcerias e diálogo entre produtoras como um caminho possível e frutífero para o crescimento da da produção de eventos de dança.

            Não é possível abarcar todos os assuntos devido à amplitude de desdobramentos possíveis das questões propostas e ficou a proposta de que cada um busque colaborar ao máximo com o crescimento da cena.

            Uma das moderadoras sugeriu também que fosse abordada a inclusão social nos eventos de tribal e se havia alguém no grupo presente que fizesse parte de minorias e quisesse falar a respeito da representatividade em eventos e também na produção de eventos de tribal, mas não houve pronunciamento. Um "silêncio ensurdecedor", foi a fala da participante, apontando justamente a ausência dessas pessoas na atuação enquanto produtoras e o quanto isso é preocupante no meio. 

            Uma fala que aconteceu sobre o assunto foi uma sugestão de se observar também a ausência de referências (artistas famosas) dessas minorias ou fora do padrão eurocêntrico presentes e em destaque em eventos grandes e pequenos no Brasil. E quando houver a possibilidade de se abrir espaço para estas discussões, como tornar isso atraente e receptivo para todos. Mais do que isso, se conscientizar de que há a necessidade de que antes de determinar o que as minorias querem ouvir, precisamos saber o que elas querem falar.

            Falou-se sobre a valorização e desvalorização do artista, inclusive dentro do meio, sugerindo aos produtores uma reflexão de como que o produtor e o artista possam ser mais valorizados nas suas atividades e juntos possam fomentar o crescimento da cena.

            Por fim, foi abordado o assunto de quem determina o que é feito no evento, discutindo que o público tem uma demanda relacionada a eventos, mas os produtores também são responsáveis por guiar o público para que haja um crescimento e valorização da cena também. E houve a sugestão de se buscar a conscientização de que cada região do país tem suas facilidades e dificuldades para se produzir.

            No final do encontro, debatemos os possíveis encaminhamentos para o pós Fórum, sendo eles a criação de uma agenda on-line do estilo Tribal nacional e de um grupo de produtores que colaborem entre si no fomento de eventos de tribal, além de um grupo de estudos para dar continuidade às conversas iniciadas no fórum.

            Ao todo, 23 pessoas estiveram presentes.

            Mais uma vez, agradecemos a todos os participantes do Fórum pela presença e contribuição e desejamos que ele possa ser um espaço de troca, crescimento e parceria.

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[Fórum Tribal] Formação

 Resumo do 3º Dia do Fórum Tribal - 1ª edição



Tema: Formação

22 de novembro de 2020 às 15 Hs 

Tempo da reunião: 2 horas    

Integrantes da mesa mediadora: Samra Hanan (SP), Ana Clara (AL), Mimi Coelho (MG / EUA (OR))


A reunião se iniciou com a fala da mediadora Samra Hana (SP) que deu as boas vindas aos participantes, introduzindo as integrantes do grupo mediador GT3. Ana Clara (AL) e Mimi Coelho (MG / EUA (OR) que falaram brevemente, apresentado-se e saudando todos presentes na reunião.


Em seguida, Samra também se apresentou e ressaltou o fato de que cada uma das três componentes do GT3 traçou um caminho diferente na dança até à sua atuação neste estilo. Ela elucidou que na verdade não há um padrão de formação validado no meio como oficial ou exigido para se definir um profissional como autêntico. Há múltiplas possibilidades de formação de um profissional de dança para trabalhar com este estilo. 


Assim, Samra explicou, sem a pretensão de responder ou solucionar qualquer questão, que o grupo mediador GT3 optou por compartilhar alguns pontos discutidos anteriormente ao dia do Fórum através de Slides com os seguintes apontamentos:


SLIDE 1: "Não há saber mais, nem saber menos, há saberes diferentes". Paulo Freire, 1987.


SLIDE 2: Não existe 1 ÚNICA formação que dê conta da pluralidade das manifestações e atuações na Dança Tribal/ Tribal Fusion/ Fusion Bellydance.


SLIDE 3: FORMAS DE ATUAÇÃO : PERFORMANCE X PROFESSOR [o que estudar para "ser professor"]

Saberes docentes

Conhecimento sobre o corpo/ movimento

Técnica específica (estilo)

Conhecimento teórico


SLIDE 4: AMBIENTE DE ATUAÇÃO [como o local de atuação altera as "exigências"curriculares]

Universidade

Escolas (ensino formal)

Estúdios e Academias

Teatro e Editais


SLIDE 5: RAÍZES E DEFINIÇÃO DO ESTILO [como a (in)definição do Estilo Tribal influencia na formação]

  • É necessário estudar/ ser profissional de DANÇA DO VENTRE para ensinar Tribal Fusion?

  • De que DANÇA DO VENTRE tratamos no Fusion?

  • É necessário estudar/ ser profissional de outros estilos de Dança para ensinar Tribal Fusion?

  • Métodos/ selos internacionais


SLIDE 6: TALENTO X FORMAÇÃO [o valor do "tempo"de dança]

  • Tempo de prática como aluna (não negligenciar a importância do tempo)

  • Valorização da relação PROFESSOR E ALUNO

  • Esvaziamento de significado dos certificados

  • Carência didática e metodológica


SLIDE 7: FORMAL X INFORMAL [pluralidade de "locais"onde se construir a formação profissional]

  • Pluralidade de cursos técnicos e de graduação

  • Qual o peso/valor dos workshops na formação?

  • Existe uma duração e conteúdo mínimo para um curso de formação?

  • Importância da formação continuada

  • Credibilidade por contexto histórico/ cultural

  • Cursos sistematizados em ambientes não-acadêmicos


SLIDE 8: INQUIETAÇÕES [resumo]

  • Qual seria a formação "mínima"esperada para se começar a dar aulas?

  • Como dialogar os conhecimentos teóricos acadêmicos e os conhecimentos práticos de sala de aula?

  • Qual a importância dos cursos internacionais?

  • Como reduzir os danos e confusões causados pela atuação profissional sem uma formação "sólida"?

Toda esta introdução foi colocada como uma possibilidade de norteamento para a discussão deste tema “Formação” que é muito extenso. Objetivou-se também pontuar que aceitar esta pluralidade de formação existente é também respeitar as diferenças de saberes.

Samra em seguida passou a palavra para que os participantes pudessem contribuir com as suas colocações.


A primeira pessoa participante, graduada em dança, expôs que há essa confusão, essa dúvida comum no campo das artes como um todo acerca de como os seus profissionais se instauram. Ela expôs que apesar de querer trabalhar com dança, não havia um anseio por dar aulas de uma modalidade dentro de um estudio ou academia, mas sim uma vontade de abranger um cenário maior. Daí a sua procura pela academia para se formar. Enfatizou, então, a importância da reflexão sobre o que é uma graduação em dança. A academia não oferece a formação em estilos de dança ou o aprendizado sobre como ensinar modalidades, estilos específicos. Um curso de Licenciatura em Dança (curso este oferecido na maior parte das universidades federais e particulares do país) abrange a forma de ensino para crianças na escola, como integrar a dança no desenvolvimento delas. Já o Bacharelado em Dança (um curso já menos ofertado em Universidades do país) é mais voltado para coreografias, para aquelas pessoas que querem virar coreógrafos. Ainda, há o curso de teoria da dança que abrange a história, a antropologia da dança e que vai formar aquele profissional pensador da dança, o curador, o crítico. Entretanto, em nenhum desses cursos oferecidos pelas universidades, há aquele que vai formar o dançarino deste estilo “Tribal Fusion” ou o professor do mesmo.


A segunda participação também foi de uma pessoa do meio acadêmico que iniciou sua fala expondo que geralmente antes de entrar na academia a maioria das pessoas já possuem uma experiência antecessora em dança e que, por vezes, o desejo de se fazer um curso acadêmico parte da busca por se suprir algumas ausências na formação informal. Enfatizou, então, que na verdade há uma necessidade de vivência dos dois lados da formação, o informal e o formal. Explicou que o informal, dito aquela formação que não está em um meio universitário, se constitui muitas vezes por um viés de mercado. Isto é, seriam os workshops e como eles são vendidos,  os cursos de curta duração que incorporam alguns entendimentos que buscamos e que a academia não oferece de fato. No entanto, enfatizou-se a importância de se estar no meio acadêmico porque, primeiro,  a área da dança está se expandindo e ganhando uma relevância substancial; segundo, como uma ação política, principalmente, diante da atual conjuntura que vivemos, para se colocar a área da dança como constituinte de formação, de pesquisa e de ensino. Isto não implica e não está em conformidade com o discurso de que a formação obtida na academia seja superior àquela adquirida através do ensino informal. Aliás, deve-se romper com tal entendimento. A academia deve reconhecer o ensino informal como uma estratégia de extensão, ou seja,  o conhecimento da universidade se estendendo para a sociedade. Mas, ainda há uma urgência de comunicação entre os dois lados. Na verdade, as formações informal e formal são complementares. A universidade não possui o conhecimento sobre o que estamos abordando no campo informal. A fim de se quebrar a hegemonia do campo clássico e do contemporâneo, extremamente forte no meio acadêmico, existe uma necessidade de se fazer entender que sim há conhecimentos que somente são constituídos em nosso campo de atuação da dança, fato este que atribui um caráter de extrema importância ao diálogo entre os dois lados.


Ainda nesta segunda fala, abordando algumas das provocações iniciais expostas pelo GT3, pontuou-se que o Tribal Fusion não precisa vir da dança do ventre, mas que esta sim constitui um elemento fundamental para o mesmo. Contudo há o entendimento que a constituinte de fusão já está sendo colocada em nosso meio há algum tempo. Existem artistas contemporâneos que estudam diversos estilos e formas de se mover que já carregam uma ideia de fusão e que não tange a dança do ventre, não se passa à dança flamenca ou aos conhecimentos que temos em nosso meio.


Isto tudo se constitui em um estímulo para se pensar que a formação deve ser refletida na forma em que se vai atuar. Optando-se por ser professor, uma busca por uma licenciatura pode ser interessante, mas sabendo que a formação acadêmica possui estas constituintes e que o campo de atuação geralmente será o informal. Ao passo que se o objetivo é ser um teórico, um pesquisador, o mestrado e o doutorado são os campos de atuação. Por exemplo, a UFBA é o único doutorado público em dança existente no mundo. Daí a importância da ação política de ingressar em um curso como este.


A formação informal concebida no mercado também é válida. Os cursos com os grandes nomes atribuem um peso às pessoas que participam do mercado. Diante disso, é importante refletir em quem valorizamos no mesmo. Com tantas insurgências que estão acontecendo no mundo, as atuações profissionais  precisam dialogar com as mesmas. Faz-se urgente a reflexão sobre racismo, intolerância religiosa e cultural. Isso integra a nossa formação enquanto pessoas, enquanto profissionais. Há que se atribuir um cuidado especial a essas questões, principalmente, no campo informal, já que na academia há uma exigência natural de um posicionamento mais crítico por parte dos profissionais.


A terceira fala também partiu de uma profissional acadêmica que também possui uma vivência extensa na área informal. Ela pontuou algumas inquietações, a começar pelo tempo de formação mínima ideal para se ensinar o estilo de dança. Externou sua preocupação e citou o exemplo do estilo clássico de Dança Indiana, o Bharatanatyam, que embora seja de um contexto diferente, de uma cultura diferente, em que os princípios das estruturas são totalmente distintos, existem diretrizes específicas que pontuam este tempo de formação como requisito condicional para ensinar a dança. Por exemplo, há a exigência neste estilo de dança de que o profissional professor seja proficiente na execução de movimentos, bem como, tenha base sólida dos conteúdos e, caso, faça parte de uma sucessão discipular (aqui foi enfatizado que não há a pretensão de que isto exista no Tribal Fusion) há a necessidade da autorização direta do mestre. A participante, então, explicou que não há uma intenção de que tal realidade seja transferida para o estilo tribal, uma vez que este possui outras características de formação incluindo um viés emancipatório, o que não dialoga com tais diretrizes. Entretanto, levantou a importância de se refletir sobre o papel do professor do estilo e suas responsabilidades para com o mesmo, o que isto significa em termos de tempo de formação, o quando começar a ensinar, a sua importância para nortear esse conhecimento. Ressaltou a necessidade de se levar o estímulo a esta reflexão para a sala de aula, guiando, norteando a próxima geração que está no processo de formação.


Passando para a questão que aborda o ensino formal e informal, reforçou o quão importante é o papel da extensão universitária. Destacou sua experiência pessoal, o ensino de Tribal Fusion dentro da UFAL como um curso de extensão, o qual construiu e constrói saberes. Enfatizou que estes saberes não são conhecimentos vindos de fora, são saberes da universidade em relação com a comunidade. Atualmente, possui alunas em Alagoas que ministram aulas de tribal, comprovando a importância do papel da universidade.


Destacou ainda, pelo fato da história da dança não ter começado dentro de uma universidade, e por todas as bagagens significantes que carregamos de nossas vivências anteriores, há sim a grande relevância de um diálogo concomitante entre os meios, assim como entre alunos e professores.

Em seguida, abordou a questão da capacitação internacional, a qual considera importante, mas não fundamental nos dias de hoje, visto que precisamos pensar sobre o decolonial. Explicou que no Brasil há a presença de professores que possuem muito conhecimento que podem ajudar nessa formação continuada. Entretanto, há sim o entendimento de que deve haver um diálogo com o eixo originário do estilo, não sendo a favor do total desprendimento do mesmo.


A quarta participação trouxe uma fala externando suas inquietações através da exposição de sua própria vivência. Enfatizou que se sentia insegura sobre atuar enquanto professora, mas que após um curso de capacitação com sua docente passou a ensinar dança do ventre. Fez uma licenciatura em dança após este fato e já estudava tribal antes mesmo disso. Ainda assim, sentiu muita dificuldade em termos de legitimação para ensinar o estilo Tribal Fusion. Mesmo trabalhando com algumas fusões, sempre carregou o medo de nomear as mesmas como Dança do Ventre estilo Tribal, justamente por ser um estilo que nasceu nos Estados Unidos e também por não ter feito aulas diretamente com estadounidenses. Destacou que para as pessoas nordestinas o custo de participação de eventos, programas e workshops no Sudeste e no Sul é praticamente inviável. Dessa maneira, pontuou um problema de acessibilidade que acentua a questão da falta de legitimação e insegurança acerca de se auto considerar e atuar como professora do estilo, ainda que tenha na sua bagagem vivências substanciais que ancoram sua competência enquanto profissional. Para finalizar ressaltou a importância de se entender que para uma dança ser considerada fusão, não há a necessidade de se estudar ou de se passar pela dança do ventre, pela dança flamenca ou pela dança indiana. Esta fusão pode utilizar elementos e técnicas de diversos outros estilos como o hip hop, o contemporâneo, dentre outros, como já foi feito no passado e ainda é feito no presente pelo mundo da dança em geral. Expôs seu desconforto diante da capacidade dos EUA gerarem produtos, mercadoria e venderem para os brasileiros, impondo sua hegemonia sobre todos. E os brasileiros compram tanto a ideia de superioridade do que é gerado nos EUA como o produto/serviço mercantilizado. O Tribal Fusion, dessa maneira, não seria contra hegemônico. Nem tudo que não é ballet é contra hegemônico. O próprio capitalismo se reinventa de forma a vigorar as leis hegemônicas de mercado.  O Tribal Fusion é um estilo que nasceu nos EUA, fato que ela questiona muito. Argumentou, então, que ser “Underground“ em New York é totalmente diferente de ser periférica no Nordeste do Brasil, pontuando que este universo dito “Underground“ não a representa. Ainda, encerrando a sua fala, esclareceu que após cursar a faculdade de dança se sente mais segura em afirmar que ensina fusões, dada a instabilidade do mercado. Aponta que ficar a mercê do mercado não é uma posição que a agrada ou que incentiva de alguma forma, especialmente enquanto uma representante da comunidade LGBTQ+.


A próxima contribuição foi realizada pela própria mediadora, que compartilhou com todes sua história e suas experiências. Ressaltou que todas as oportunidades de estudos nacionais e internacionais em dança do ventre e Tribal (ATS ou Fusion) foram extremamente enriquecedoras para sua carreira profissional, entretanto, não a certificou ou formou como professora deste estilo. Argumentou que como o estilo não é formalmente e tecnicamente bem consolidado, a formação é menos ainda. Este assunto o qual estamos tratando ainda está aberto, vivo e em transformação constante, o que na opinião dela é problemático. Expôs que por muitas vezes, ao longo de sua carreira como professora do estilo, questionou-se se realmente estava ensinando o que seria o “correto” Tribal Fusion e não somente o que seria a bagagem dela em dança do ventre e fusionando de maneira caricata para chegar na ideia do estilo. Citou então sua vivência de estudo com a Rachel Brice que a conduziu à conclusão de que a estilização neste estilo é própria de cada profissional, cada um vai ter o seu viés dentro do que se reconhece como Tribal Fusion. Essa visão libertou-a de todos os questionamentos e a deixou fluir mais leve para desenvolver sua linha dentro desta linguagem de dança. Destacou ainda que por volta de 2008, quando iniciou sua carreira no estilo, todas as informações foram lançadas superficialmente na cena brasileira, o que era visto como uma dança do ventre não usual começava com bases frágeis por falta de acesso a informações e certezas do que era realmente esta nova linguagem de dança. Os profissionais tinham que lidar com as incertezas diante de tantas indefinições e dificuldades de acessibilidade para se adequar a uma nova demanda do mercado. Essa realidade atualmente não se diferencia muito deste passado não tão distante. É um mercado ainda vinculado à dança do ventre. Disse ainda, que hoje ela faz as pazes com o fato de que sim está relacionado à dança do ventre e sim é compatível com este corpo que tem a dança do ventre incorporada nele, o que corresponde à sua realidade. Aponta que o estilo Tribal Fusion é a fusão de cada um, no corpo de cada um, somando-se às experiências particulares do mover de cada um. A fusão carrega toda esta informação tornando o estilo peculiar e particular a cada um que o desenvolve. Essa peculiaridade define a condição de teste que o estilo ainda hoje carrega. O Tribal Fusion ainda é uma dança viva que se forma de acordo com a raiz de cada profissional, o que novamente se traduz em uma construção de fusão particular a cada um e até mesmo a cada turma a que se ensina, porque os alunos agregam à fusão do professor também.


A sexta participação também traz uma fala sobre experiências pessoais, enquanto uma profissional historiadora (acadêmica) e também estudante de dança. Se colocou como uma pessoa que sempre busca cursos que habilitam, explicitando seu propósito de estar sempre embasada por estudos e informações consistentes. Pontuou, então, que não há um curso técnico de formação para a área de dança do ventre, há cursos oferecidos pela área técnica da dança, mas que não formam professores da área. Como sempre acreditou que há a necessidade de se desenvolver uma didática em sala de aula, embasando-se em um material teórico a ser repassado aos alunos e uma forma correta de se traduzir as informações pelo corpo ao conduzir os alunos pelos ensinamentos, ressaltou a importância de se atentar para essa defasagem de um curso técnico específico que englobe estes objetivos. Apontou a cultura usual no meio da dança do ventre de que a aluna de estúdios de dança assim que evolui dos níveis básicos para o intermediário começa a dar aulas. Havia, então, a exigência de um registro profissional para tal atividade de ensino em estúdios. Inicialmente, devido a ausência de cursos de formação em dança nas universidades, exigia-se o registro profissional de educador físico para se lecionar em estúdios e academias. Porém, em sua opinião, para dar aulas de dança a exigência de se cursar Educação Física parece um tanto problemática. Ainda relacionado a isso, passa-se à exigência de um DRT profissional para que então a professora seja considerada apta à função de educadora. Entretanto, se analisarmos o que está escrito na carteira nota-se a descrição Artista Dançarino e não professor. Este fato também lhe causa estranheza, uma vez que o artista pode ser contratado para se apresentar em eventos, mas não para o ensino especificamente de dança. Destacou que no Estado do Rio de Janeiro há um DRT específico para a profissional de dança do ventre, outro para ATS e Tribal Fusion e até aquele direcionado às danças folclóricas para se incluir as danças masculinas. Tal fato parece a ela muito inconsistente, pois há uma mistura de nuances estruturais entre eles e acaba por gerar dificuldades especificamente para o nosso meio e estilo quando se pensa em termos de legitimação de trabalho e formação.


A próxima contribuição traz a reflexão sobre investimento financeiro. Trouxe duas perguntas: Por qual motivo estamos investindo dinheiro em determinados cursos ditos de formação? E o que esperamos que seja o nosso retorno?


Argumentou que não é pelo fato de se cursar estes cursos e ter um certificado em papel que o número de alunos em nossa sala de aula vai aumentar, que a nossa clientela vai crescer mediante tais feitos. Isso seria uma ilusão que temos. A ilusão, muito comum dentre os brasileiros, de que quando adquirimos estes certificados somos pessoas diferenciadas. E o mesmo pode ser dito pelo diploma universitário. Expôs que se formou na faculdade de dança exatamente igual ao que era antes de começar. Por isso, enfatiza a importância em se refletir nas razões de se fazer cursos como estes. É importante que façamos nossas escolhas de forma correta para nós mesmos. Vivemos uma pressão de que temos que fazer aulas com as dançarinas que constituíram as bases do estilo (Rachel Brice e por aí vai), alimentando esse “motor” capitalista. Construímos falas internas como a de que o estudo com elas é necessário para maior visibilidade ou para ampliar os contatos e etc. Entretanto, o fundamental seria o questionamento dos motivos para tais investimentos e o que desejamos como retorno. Essa é uma confusão pela qual todes nós passamos. A transição de Tribal Fusion para Fusion Bellydance permite que todos os formatos e fusões sejam abarcados gerando uma pressão imensa relacionada a quanto temos que pagar para sermos considerados inseridos. É uma exigência sem fim, uma necessidade de se pagar eternamente. E este é um movimento que não dá frutos, não dá resultados. Enfatizou novamente que é necessário refletirmos o por quê de nossa formação e o modo que estamos nos formando. Existe essa confusão muito grande sobre essa especialização. Existe hoje academicamente o mestrado profissional em dança, no qual a exigência é de que a pessoa tenha experiência de campo, isto é, seja profissional há mais tempo. Hoje temos este mestrado na UFBA, que é público, e na Angel Vianna, que é privado. Tudo isso que envolve investimento que não é só financeiro, mas também emocional, de tempo, de saúde, de vida, de sonhos. Será que estamos nos fazendo a pergunta certa? São questões necessárias para se perguntar e se refletir.


A oitava participação envolveu também a questão da formação do professor, em termos de como e de quanto tempo. Alertou para o problema de precarização das condições de trabalho dos profissionais na dança e o quanto é necessário resiliência por parte de quem atua no meio para permanecer ativo. A confusão em torno de quais cursos de formação e ou acadêmicos a se ingressar parte muito dessa própria precarização das condições de trabalho. Sobre os cursos lá fora, expôs que não há retorno financeiro. As pessoas ingressam nesse caminho porque entendem que é importante para sua formação não somente enquanto professores, mas também para alimentar seu dançarino profissional. Explicitou, ainda, que não se pode pensar neste tipo de discussão sem considerar o viés que se tem, pois são pouquíssimas pessoas que se sustentam somente através de seu trabalho com a arte e dentre elas ainda há aquelas que possuem um respaldo financeiro suporte. Tudo seria mesmo um reflexo da precarização e é importante se considerar isso.


A próxima fala traz novamente as inquietações expostas no princípio. Começou pelo ponto que abarca o tempo de formação mínima para se dar aula. Pontuou que nunca estamos totalmente prontos quando começamos a dar aulas. Afirmou que mesmo após anos na profissão ainda não estamos cem por cento prontos para dar aulas. Entretanto, ressalta que o princípio é muito delicado, expondo a importância de se apoiar os nossos próprios alunos, de estarmos presentes quando estes começam na estrada do lecionar. Este apoio seria fundamental para se resguardar o suporte a este educador que está surgindo, oferecer também o que poderia se identificar como monitoria. Ao invés de se encarar estes alunos que começam dar aulas como concorrentes, dedicar a eles um suporte sabendo que a cena está se fortalecendo através da sua atuação. É extremamente relevante introduzir estes licenciandos na área através de sua tutela. O professor deve estar entranhado nesse processo. Expôs a sua opinião pessoal de que cada profissional, ainda que faça aulas com muitos professores diferentes, deve escolher um único professor, em quem confia e com o qual se identifica, para ser uma espécie de guia que vai conduzir o profissional pelas atividades estimulando a desenvolver o melhor que pode ser. Ressaltou como de fundamental importância, o trabalho de se desconstruir a ideia do novo profissional como concorrência. Assim, a partir disso, seria possível também desconstruir as situações em que o aluno pensa que o professor não trabalha ou deseja sua evolução, sendo uma ameaça à sua carreira. Isto pode ser ilustrado pelas ocasiões em que o professor diz ao aluno que o mesmo não está pronto e de que é necessário mais estudo e trabalho, sugerindo monitoria. Através desse discurso, enfatiza mais uma vez o quão relevante é o tratamento carinhoso, emocional dentro de sala de aula.


Sobre a importância dos cursos internacionais, apontou que depende muito sobre o pensamento de cada pessoa e o objetivo. Ressaltou que curso internacional não é faculdade e que faculdade também não significa a garantia de nada. Há muitas pessoas que cursaram dança na faculdade e que não possuem tanta experiência quanto os profissionais que atuam na área e no estilo por muitos e muitos anos. Argumentou que os cursos internacionais devem ser considerados sob um olhar muito prático do dançarino brasileiro. Acredita-se que como o estilo tribal surgiu nos EUA é muito importante de alguma forma estar lá. Afirmou que esta foi a primeira mentalidade que seguiu, pensava que era relevante estar lá para entender como funciona. Estar lá, no entanto, revelou o quanto era importante estar no Brasil. A fim de ser uma profissional sólida, não havia esta condição de estar nos EUA, como imaginava primeiramente. Admitiu que sim, acrescentou muito para ela a experiência, mas também lhe tirou muito. Embora não tenha ido pela visibilidade como tantos, esperou aprender muito. Entretanto, mencionando o programa “The 8 Elements” que cursou nos EUA, tudo que foi abordado ali ela já tinha aprendido com sua professora Mariana Quadros que é brasileira. Aquilo pelo qual pagou em torno de dois mil reais, que exigiu o sacrifício dela de comer somente uma vez por dia dentre outros, não lhe acrescentou o esperado, pois abordou informações e conhecimentos que já possuía. Dessa maneira, pensa que é importante sim se todo esse esforço e vivência fizerem sentido para o dançarino. Não há porém a necessidade disso. O Brasil possui profissionais bons que podem proporcionar a mesma experiência ou até mesmo superior.


Com relação aos danos e confusões causados pelos profissionais sem uma formação sólida, enfatizou o que mencionou no início sobre a necessidade de se ter professores empenhados em apoiar os novos, sabendo que eles vão cometer erros. É comum os professores cometerem erros. Todos cometem ao longo de sua profissão. Estes novos professores precisam de ajuda nessa formação. Isso é de extrema importância para o nosso meio, os professores precisam dar um suporte aos novos.


Passando-se para a décima contribuição deste dia de Fórum que também trouxe o compartilhamento da experiência profissional. Destacou o quanto foi positivo ter professoras que a ampararam no início de sua trajetória como professora do estilo. Embora tivesse esse suporte, muitos questionamentos surgiram culminando na reflexão sobre se estaria contemplando ou não o que seus alunos demandavam. Assumiu então seu estilo próprio e viu como uma maneira de proporcionar mais conteúdo às suas alunas, que assim demonstravam interesse por outras formas dentro do estilo, a possibilidade de indicar outras professoras. Um fato que a libertou muito e que a fez sentir como parte de um todo maior.


Sobre a exigência de registros profissionais de educador físico para atuar como professor de dança, apresentou sua opinião contrária. Acredita que profissionais formados em dança precisam ter uma formalização necessária para legitimá-los enquanto profissionais atuantes da área.


Com relação aos programas internacionais, colocou a reflexão sobre o retorno que isso tem para as bailarinas estadunidenses que criaram esse produto com todo esse apelo mercadológico. É sofrido para os brasileiros pagar o montante pedido. Elas têm retorno não somente financeiro, mas também de importância e visibilidade na área.


A próxima fala veio acrescentando neste último ponto, afirmando que estes programas ofertados nos EUA, são uma forma para manter a renda delas e de se sustentar com o trabalho em dança. São programas que evoluem em preço e visibilidade, e é muito específico da cena dela, uma forma de renda fixa. Elas ganham visibilidade através do nome que construíram pelo fato de serem pioneiras, por estarem na base de quando ocorreu o surgimento do estilo. Citou a Rachel Brice que menciona o interesse de todos pelo seu trabalho justamente pelo fato de ela ter participado do início do estilo. Explicou ainda que por muitas vezes atentou aos profissionais dos EUA para o fato de que pagar em dólar quando se ganha em real é delicado e que para obter uma renda de professor de dança e ainda de dança do ventre estilo tribal precisa de um sacrifício bem maior para quem trabalha no país delas. Estas profissionais atuam de acordo com a realidade que vivem no país delas. E fazem todas suas estratégias seguindo o conhecimento dessa vivência, que é muito diferente da nossa no Brasil. Enfatizou o fato de que estes profissionais desconhecem e mais que isso, não conseguem imaginar a situação de um profissional de dança do Brasil, ou de uma pessoa que ganha menos que um salário mínimo em nosso país. As estadunidenses estão tão habituadas a serem o padrão que é difícil elas saírem desta posição e imaginarem outra situação que não a delas. Finalizou essa reflexão, com a afirmação de que estes cursos não são feitos e pensados para países subdesenvolvidos e que é necessário despertar para cursos que são concebidos e direcionados para nós.


Concluindo, abordou a questão do nome “curso de formação” apontando-o como extremamente problemático. Explicou que no Brasil acredita-se que uma vez concluído estes cursos têm-se a falsa ideia de que não há necessidade de mais nada, o profissional está apto a atuar. Não há, entretanto, a preocupação em se estabelecer e desenvolver a educação continuada. Mesmo que se atentem para este fato, as pessoas ainda se atraem pelo curso que oferece o papel/certificado de Curso de Formação. Enfatizou mais uma vez que as pessoas precisam abandonar essa ideia que após vivenciar um curso com o certificado, passa para a condição ideal de profissional pronto. Entretanto, é de conhecimento geral, não há profissional pronto, não existe essa possibilidade. As pessoas precisam entender que estudos e formações são processos que devem ser constantes e contínuos ao longo da vida inteira. Trata-se de um processo, uma trajetória contínua sem fim.


A décima primeira contribuição vem complementar a anterior, partindo de uma profissional que trabalha com a capacitação de profissionais da cultura e turismo. Pontuou que no Brasil o ideal para quem trabalha nessa área é não utilizar a palavra “formação”, pois a formação está relacionada à ideia de um curso técnico que vai proporcionar uma habilitação. Assim, seria mais adequado a utilização das palavras capacitação e/ou aperfeiçoamento.


Em seguida, a próxima contribuição trouxe a reflexão sobre o professor desse estilo e quais os saberes anteriores seriam necessários, a organização didática e as ferramentas necessárias para o aprendizado dessa linguagem de dança. Muito mais que o conteúdo, deve-se debruçar sobre a formação didática, metodológica para ser um professor. É necessário entender como se organizam as informações e o sequenciamento metodológico. Existe um campo enorme de pesquisadores que estudam isso. Quem faz um curso formal esse pensamento metodológico já é comum, incorporado em sua organização de aula. Há uma carência do dito ensino informal sobre os saberes de um professor, os saberes sobre dar aula e depois os saberes sobre dar aula de dança, para então se pensar no conteúdo específico do estilo. Deixou a provocação sobre como pensar o organizar, o ensinar com didática, o sequenciar e a importância de se entender como a transmissão de conhecimento ocorre como necessário de reflexão, já que recebe pouca importância em comparação com o conteúdo em si.


Passa-se à décima segunda fala que traz também a experiência e vivência pessoal individual da participante, explicitando como foi sobreviver na dança enquanto bailarina profissional, com um biotipo específico e forma de se mover bem característico deste corpo brasileiro. Explicou que em sua trajetória procurou formas de estar na dança, sem muito sucesso, inclusive o curso acadêmico de dança. Sofreu preconceitos por não ser adequada ao ballet clássico e por ter a formação no ballet clássico. Explicou que ainda que seus professores a desencorajaram, ela permaneceu resiliente em sua busca. Contou que na dança do ventre sofreu preconceito por possuir a base clássica e isso ocorreu também no estilo tribal. Assim, na busca por legitimação, procurou vias, meios de estudo que a amparasse em sua luta pela dança. Descreveu que no programa de Rachel Brice aprendeu a lidar com os saberes mencionados pela fala anterior. Aprendeu como sequenciar conteúdos, como repassar conhecimento, como aceitar o próprio corpo e o próprio mover. Esclareceu que ao final do curso, ainda não conseguiu a legitimação como dançarina de dança do ventre tribal, o que ocorre do lado da dança clássica também, permanecendo entre os diversos estilos de dança, lutando para sobreviver com o seu mover, independente da linguagem. Ressaltou acreditar neste corpo dançante que pode abraçar múltiplas vertentes e que na prática permanece resiliente na busca pela sobrevivência na dança. Pela sua vivência e intensa busca, explicou que foi pressionada a sair do país por essa luta na dança e que ver todos da cena argumentando pela volta ao Brasil e a seus profissionais no país é doloroso pessoalmente, mas totalmente compreensível.


A fala seguinte começa pela provocação sobre o que é ser um profissional de sucesso. Há uma necessidade de entendimento das formas possíveis para nos validarmos enquanto profissionais. Tal busca, no entanto, deve  também passar pela ética. Explicou que a validação como profissional de sucesso aquele que tem validação externa não ajuda a cena.  Como o estilo nasceu nos EUA, estudamos com as profissionais estadunidenses, qual seria a melhor forma de atuação? Destacou que para muitas pessoas que constituem o público de alunos, no mercado o profissional de sucesso é quem está nos eventos externos como o Tribal Massive, quem tem vídeo nos eventos de fora, quem fez curso com Rachel Brice. E todos nós precisamos sobreviver disso. A questão que deixou para o grupo foi: O que fazer com isso? Como proceder? Copiar? Reproduzir? Desvincular?


Seguindo com outras provocações, apontou para a necessidade de conhecer o que foi criado na base, mas saber avaliar o que faz sentido para cada um. Seria o saber avaliar e utilizar a técnica para se libertar e não para se aprisionar.


Um terceiro ponto atentou para o cuidado em não esvaziar o tema com afirmações do tipo “ninguém forma ninguém”, “universidade não forma ninguém” e etc.. Apontou que existe uma maneira de se construir capacitação e profissionalização e isso muitas vezes favorece vertentes que podem ser consideradas pouco éticas. Afirmou que o curso de formação representa uma problemática real, em sua vivência comprovou que não há formação.


Atentou, em seguida, para a ética e responsabilidade de todos nós como professores. Ressaltou o quão difícil é para o aluno quando não se tem apoio e afeto na relação professor aluno. O professor precisa entender seu papel enquanto facilitador. Apresentou a provocação sobre o papel do professor enquanto mediador e a situação do aluno que não é súdito, mas sim parceiro. Apontou para a necessidade de se acender a chama do aprendizado e do cuidado para não se minar pessoas.


A contribuição que seguiu trouxe o argumento que há a correspondência de por exemplo cursos no exterior, um curso na faculdade, um DRT com certos níveis de hierarquização no mercado. Para ilustrar trouxe a seguinte fala: Se não for Sister Studio não pode dar aula de ATS. O que não corresponde com a verdade. E esses mitos e hierarquias surgem para favorecer financeiramente e em visibilidade alguns profissionais. Entretanto, isso é o que corresponde com a verdade da maioria. Apontamos em nosso currículo todos esses cursos, certificações e etc., justamente para nos adequarmos ao mercado. O nome “Curso de Formação” ainda que não signifique mais conhecimento, acaba por sobrepor às outras experiências. Dessa forma, apontou que é necessário trabalharmos juntos e não utilizarmos de títulos para a exclusão uns aos outros. A academia não foi o berço do tribal. Pontuou, então, que não podemos nos ranquear e nos hierarquizar. É necessário lembrar que buscamos experiências nestes cursos e não papéis de certificados.

A participação seguinte aponta que se há a necessidade de se buscar esta validação pela busca de cursos no exterior, por que não recorrer aos cursos com os povos das culturas que utilizamos?

A última participante traz a provocação de que se estas formações no exterior fossem realmente necessárias, elas não estariam no campo da dança e não ensinariam o estilo. Explicou que não possui condições financeiras ou de tempo pra isso. Que ainda que fizesse economias ou deixasse de fazer certas atividades, ainda assim seria inviável para ela participar de experiências no exterior. Atenta para o fato de que isso é sim um privilégio e que não faz parte de sua realidade econômica social. Ressaltou ainda que fazer faculdade de dança também representa um privilégio que não corresponde a realidade que vive. Explicou que ser professora de ATS exige um dispêndio financeiro que foge de suas possibilidades, o que a impulsionou a desistir de dar aulas do estilo.


Apontou então, para a necessidade de se esclarecer o objetivo da formação. Seria para desenvolver o artista, formar o bailarino ou o professor? Os propósitos são múltiplos. Expôs que acredita que nenhuma formação será suficiente o bastante para se exercer uma profissão. Alertou que quem acredita no oposto está sujeito a se iludir e se frustrar.


Com relação ao nome do curso, explicitou que qualquer nome seja capacitação, formação ou qualquer outro, o resultado será a ilusão de pessoas. Dessa forma, não há realmente uma diferença em se buscar alterações ou não.


Afirmou que qualquer profissional de qualquer área precisa de educação continuada.


Deixou o questionamento sobre a real intenção em sermos professores, ressaltando a importância de se saber o que esta função abarca, não somente em termos de atividades, mas também responsabilidades. Além disso, aponta para a necessidade de se saber o propósito de suas aulas conforme o perfil de suas turmas.


Abordou então a questão da metodologia, ressaltando a importância da experimentação para se alcançar a metodologia adequada, não sendo, portanto, dependente de somente um estudo teórico.

Finalizou, apontando que assim como as pessoas que fazem um curso acadêmico em dança, as pessoas que cursam os programas internacionais se colocam acima de profissionais como ela, que não possui acesso ou condições de acessar tais formações.


A mediadora então encerrou o encontro, agradecendo a todos e lembrando a citação inicial de Paulo Freire: “Não há saber mais, e nem saber menos, há saberes diferentes.“ Explicou que a construção destes saberes se dá em diversas vias, é contínua e sem fim. Não existe uma formação única, mas que haja uma formação, lembrando das responsabilidades e incluindo cumplicidade e sinceridade na relação professor-aluno.

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Fórum Tribal


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