Entrevista #27: Surrendra



Nossa entrevista do mês de junho é com a bailarina de Divinópolis, Minas Gerais, Surrendra! Nesta entrevista vamos conhecer mais sobre a trajetória desta bailarina entre o universo da dança do ventre e tribal! Vamos também conhecer mais sobre suas inspirações, seu grupo e projetos futuros. Vamos conferir?


BLOG: Conte-nos sobre sua trajetória na dança do ventre/tribal. Como tudo começou para você?  
Eu danço desde a infância, mas meu primeiro contato com a dança do ventre foi em 97. Fui a uma escola de dança da minha cidade procurar aulas de jazz e vi escrito no quadro de aulas: "Dança do ventre". Fiquei curiosa e, depois de assistir uma aula, apaixonada. Tive aulas regulares com a minha primeira professora durante 3 anos e ainda trabalhei com ela por mais dois anos. A incompatibilidade de pensamentos fez com que esta parceria chegasse ao fim. E, confesso, que me desanimou um pouco. Então dei um tempo nos estudos da dança oriental. Meu animo voltou quando conheci o estilo tribal através de um dvd do Bellydance Superstars. Desde então, não parei mais de estudar a dança oriental.


Surrendra e Nanda Najla
BLOG: Quais foram as professoras que mais marcaram no seu aprendizado e por quê? 
 Posso citar a Nanda Najla como divisor de águas na minha vida. Ela me apresentou a dança de uma forma que, até então, eu nunca tinha visto. Sua criatividade e carisma me influenciam até hoje, mesmo com sua saída da dança. 

 BLOG: Além da dança tribal você já fez ou faz mais algum tipo de dança? Há quanto tempo?
 Fiz um pouco ballet quando criança e depois de adulta voltei a fazer para melhorar postura, alongamento, giros e etc. E me dediquei um tempo ao tango, flamenco, pole dance. Mas foi por pouco tempo.

BLOG: Quais foram suas primeiras inspirações? Quais suas atuais inspirações?  
Quando conheci o estilo tribal minha inspiração era a inspiração de todas: Rachel Brice. Ainda a tenho como fonte de inspiração até hoje, mas me identifico muito com Manca Pavli da Slovenia. Mariana QuadrosAshley Lopez e Kae Montgomery.

BLOG: O quê a dança acrescentou em sua vida?



Sou uma pessoa reservada e tímida. Não parece, eu sei, mas sou. Tive muitos problemas na adolescência por ter receio de me expressar e fazer amigos. O fato de estar em contato com gente diferente todo o tempo me ajudou a modificar este traço na minha personalidade. Hoje tenho amigos muito queridos que vieram da dança. Tenho um grupo de amigas, denominadas LULUS, que são da época em que eu comecei a dançar. Amizade perdura até hoje e a única que dança no grupo, sou eu.

BLOG: O quê você mais aprecia nesta arte?


Creio que o fato de poder fazer o movimento ganhar forma. Poder usar estas formas para expressar aquilo que sentimos.

BLOG: O quê prejudica a dança do ventre e como melhorar essa situação?Você acha que o tribal está livre disso?

Estamos numa época de excesso de sensualidade feminina. Esta tendência esta em todos os meios e a dança do ventre não foi poupada. É necessário ter muito bom senso na hora de dançar. Dançar para ser e não para aparecer.

BLOG: Você já sofreu preconceitos na dança do ventre ou no tribal? Como foi isso?
 

Aquela idéia que dança do ventre foi criada para seduzir homem ainda persiste até hoje. Então, temos muitos homens que não deixam suas esposas, namoradas, filhas e etc fazerem aula por causa desta idéia.

BLOG: Como é ter um estilo alternativo dentro da dança. Conte-nos um pouco sobre isso.
 Antes o tribal era meio marginalizado dentro da cena da dança do ventre. Mas isso vem mudando. O estilo cresceu no Brasil e este crescimento fez com que varias pessoas olhassem de forma diferente. Ainda existe um receio e às vezes até certa repulsa. Mas o mundo é isso. Feito de diferenças.


Anamaria e Surrendra
BLOG: Houve alguma indignação ou frustração durante seu percurso na dança? 
 Sempre há. O pior deles é o aspecto financeiro. A gente se dedica e investe, mas ter tudo isso de volta é complicado. Já perdi a conta de quantas vezes pensei em deixar a dança como trabalho e me dedicar somente como lazer. Logicamente, a idéia vem e vai embora da mesma forma que veio...hehehe

BLOG: E conquistas?Fale um pouco sobre elas.

Eu fui muita mais longe do que um dia imaginei. O reconhecimento do meu trabalho é o que mais me emociona. Meu nome cresceu em Minas e esta crescendo também fora. Aos poucos, as pessoas vão conhecendo meu trabalho e gostando. :D  Fico tão feliz com isso. De poder levar minha expressão para vários lugares.

BLOG: Como é o cenário da dança tribal em  Minas Gerais? Pontos positivos, negativos, apoio da cidade/estado, repercussão por parte do público bem como pela comunidade de dança do ventre/tribal?

O cenário tribal em Minas se concentra mais em Belo Horizonte e região. Mas temos bailarinos em várias cidades. Belo Horizonte perdeu muito com a saída da Nanda Najla. Era ela quem promovia eventos e workshops do estilo na cidade; e unificava os grupos. Senti muita falta disso e eu, juntamente com minha parceira, Anamaria Marques, tomamos a iniciativa de fazer eventos específicos para o estilo tribal. Ainda estamos no começo deste trabalho, mas já estamos satisfeitas com os resultados obtidos. 


BLOG: Conte-nos como surgiu a Cia Ansatta Bellydance, a etimologia da palavra, seus integrantes, qual estilo marcante do mesmo e se ele sofreu alguma mudança estrutural ou de estilo desde quando foi criado até agora.

Cia Ansatta Bellydance
 O Ansatta surgiu da vontade de fazer um trabalho em grupo. Foi algo despretensioso, mas, ainda sim, sério. Infelizmente, eu não estou podendo me dedicar ao grupo como queria. Logo após fundarmos o grupo e eu perdi meu marido e tive que voltar a morar no interior. Toda esta mudança brusca de cidade e vida fez o grupo ficar um pouco ocioso, mas estamos voltando as atividades. O nome veio de símbolo da cultura egípcia: o ankh. O Ankh é uma cruz que simboliza a vida e proteção. Ela também é conhecida por outros nomes e ANSATA é um deles. Sempre gostei da cultura egípcia mesmo antes de ingressar na dança do ventre.


BLOG: Em 2011  você participou da Cia Dancers South America(DSA), como uma das bailarinas da segunda formação de tribaldancersdirigida por Adriana Bele Fusco. Como surgiu a oportunidade de fazer parte do DSA ? Comente como foi a experiência de dançar em grupo tão diversificado em modalidades de dança e em proporção de projeto? Como foi sua contribuição para o espetáculo de 2010?
Adriana abriu audições para integrantes do DSA através de vídeos. Achei excelente oportunidade para bailarinos de fora de São Paulo poderem participar. Fiquei muito feliz por ter sido aceita na Cia. Fazer parte deste casting foi emocionante. Pude conhecer pessoas, que de outra forma, não conheceria. A formação tribal foi dirigida pela Gabriela Miranda. Pude conhecê-la um pouco melhor e fiquei fã de seu trabalho e da pessoa que ela é. 
Nunca tinha tido contato tão direto com pessoas de outros países e isso se deu por causa do DSA. Estar fazendo aquilo que se ama e com gente tão conceituada abriu minha mente e me influenciou direta e indiretamente. 

DSA


BLOG: Em 2013, você participou do BellyFest Peru, evento organizado pela bailarina Luna Amada, que teve a presença de bailarinos renomados na dança do ventre deste país e do Brasil. Como foi sua participação e a repercussão da sua dança tribal neste espetáculo? 

O convite para dançar no Peru veio da minha amiga Luna. Amiga que ganhei no DSA.  O Bellyfest Peru contou com gente renomada como o Tito do Egito e Amir Thaleb da Argentina. Fiquei feliz de ver que meu trabalho foi bem aceito lá. O carinho que recebi de todos os presentes foi algo único. Realmente, não sabia que minha dança estava atingindo a tantas pessoas. Foi uma experiência diferente. Nunca havia dado aula para tantas pessoas ao mesmo tempo. E todos lá estão com sede de aprender.



BLOG: Em 2013, seguindo por 2014, começaram os estudos e aulas com a bailarina Natália Espinosa (SP), professora certificada em ATS®, em Belo Horizonte. Por que você começou a querer ou ver necessidade em se aprofundar no ATS®? Qual importância que você vê no ATS®? Vocês têm pretensão de formar algum grupo de ATS® em Minas Gerais?

No Brasil, começamos o caminho inverso. Conhecemos antes o tribal fusion e agora estamos conhecendo o ATS®. Ainda se discute por aí a importância do ATS® na dança tribal. Para mim, a importância é vital. Eu não gostava do ATS®, confesso. Mas isso foi mudando pouco a pouco. Descobri sua beleza, sua força, sua complexidade...  Hoje sou inteiramente apaixonada. Eu queria compartilhar esta descoberta com outras pessoas de Minas. Por isso, organizo as aulas da Natália em Belo Horizonte. Nossas aulas ainda estão no inicio, mas a idéia do grupo de ATS® já esta se formando.


BLOG: Além de ser bailarina e professora de tribal fusion, você também é de dança do ventre. Na sua opinião, há dificuldades em coexistir as duas modalidades? Quais são os benefícios da dança do ventre para o tribal fusion e vice-versa? 
No início, tive problemas em separar uma dança da outra. Mas hoje isso já não acontece. Aprofundei meus estudos tanto no tribal como no ventre. Creio que esta confusão se dava justamente pela falta de estudo. Afinal, não tive professora regular de estilo tribal. E no começo o estudo do tribal era assim mesmo. Só por vídeo. Com a cena tribal crescendo do Brasil, tivemos muito material para estudar. Graça a Deus!!!!
Hoje, ao invés de confundir os estilos eu uso coisas de uma na outra. Conhecer o estilo tribal não me fez perder o gosto pela dança do ventre. Pelo contrário, reacendeu a chama do conhecimento e me fez ir atrás de mais estudos. Amo a dança oriental em sua totalidade.


BLOG: O quê você mais gosta no tribal fusion?
Amo o fato de existir uma dança única cada vez que o tribal é passado de pessoas para pessoa. Esta diversidade me encanta.

BLOG: O quê você acha que falta à comunidade tribal?
União.
 
BLOG: Como você descreveria seu estilo?

Como também sou professora e bailarina dança do ventre clássica tenho grande influencia dela no meu estilo. Por isso, gosto da forma como a Rachel Brice denomina sua dança: Unusual Belly Dance

BLOG: Como você se expressa na dança?

Uso todas as ferramentas disponíveis para isso: musica, figurino, acessórios e movimentos.
 
BLOG: Quais seus projetos para 2014? E mais futuramente?

Minha maior vontade é fazer um evento grande de estilo tribal em Belo Horizonte.
Com presenças de várias bailarinas brasileiras e quem sabe internacionais.
 
BLOG: Improvisar ou coreografar?E por quê?

Gosto dos dois. E vejo a necessidade dos dois. Como professora estou acostumada a coreografar para alunos. Que seja em grupo ou solo. A coreografia é uma ferramenta muito importante para desenvolver uma trabalho bem elaborado,  mas não aconselho a só trabalhar coreografias. O improviso leva nossa dança a outro patamar. Quando conseguimos improvisar sem medo estamos mais que prontos para qualquer situação.

BLOG:  Você trabalha somente com dança?

Sim, desde 2010 me dedico somente a dança. Tive que pensar muito nisso. Senti que minha dança não evoluía porque eu não conseguia me dedicar. Passava maior parte do meu tempo em um escritório. E quando tinha tempo estava sempre cansada para estudar. Ponderei e vi que algo teria que ser cortado da minha vida. E, com certeza, não foi a dança. :D

BLOG: Deixe um recado para os leitores do blog.

Durantes minhas aulas em Belo Horizonte, conversamos sobre ser ou não talhado para a dança e uma aluna disse uma frase que estamos sempre repetindo nas aulas: ONDE NÃO HÁ VOCAÇÃO, HÁ TÉCNICA E TREINO. Deixo esta frase para vocês como incentivo. 

 Contato:
 Tel/cel:
 (31) 93763019
E-mail: 
cia_horus@hotmail.com
















[Resenhando-SP] Workshop Internacional com Kristine Adams - Campo das Tribos VI


por Carine Würch

Veja bem (detesto que começa frases assim, então veja bem, a ironia...), nunca fui uma pessoa com grandes paixões adolescentes. Nunca criei ídolos. Não fui apaixonada por bandas de rock... Tá bom, eu fui apaixonada pelo Keanu Reeves. Antes do Matrix. Antes do Velocidade Máxima. (Meus deus, que cheiro de naftalina...)

Mas me lembro bem do meu “chilique histérico” quando vi  Shaquille O’Neal, Horace Grant e Penny Hardawy AO VIVO no Boston Center. Lembre-se, eu joguei basquete por 17 anos. Cheguei na lateral da quadra. Dava pra ver aqueles homens arremessando e fazendo mágica. Aquilo foi o céu pra mim. E eu tinha 16 anos, lá em 1995.

Volte para São Paulo, 2014. 

Após tomar meu café da manhã, pronta para fazer um turismo rápido pela cidade, subindo para meu quarto, cruzei com Kristine Adams. A PRÓPRIA. Minha barriga gelou e eu virei adolescente. Não sabia mais falar, nem português, nem inglês. Não sabia se cumprimentava, se deixava ela em paz... Poucas vezes me senti tão boba por não saber o que fazer e tão empolgada por ter visto alguém “importante”. Claro que fui para o Face postar o fato... :P

Kristine foi muito receptiva, respondeu minha postagem. E eu fiquei muito feliz, pois no dia seguindo teríamos o primeiro workshop internacional de 4 horas.


No dia seguinte, sábado, dia 03/05, encontrei com ela no café e fui lá dar bom dia. Ela me recebeu com um abraço. Aquela atmosfera que eu tinha criado sobre “A bailarina Kristine Adams do FCBD, aluna de Carolena Nericcio, etc , etc”, se dissipou. Não diminuiu tudo isto que ela é. Mas o humano nela sobressaiu.

Então cheguei para minha primeira aula de ATS na vida! Nervosa, ansiosa (não contei para vocês, né? Mas acordei às 5h e não consegui mais dormir...) e com muita vontade de conhecer afinal o que é este tal de American Tribal Style? Kristine estava se alongando. Alguns rostos conhecidos dos works anteriores, outros totalmente novos.  Gabriela Miranda nos acompanhou fazendo tradução simultânea. Eu a admiro. Admiro todos vocês que fazem isto. Não tenho competência. Eu entendo, mas até achar os sinônimos em português a frase já se foi.

Kristine é precisa e profissional. Nestas 4 horas acho que tivemos uma única pausa rápida para água (confere, produção?). O que quero dizer com isto? Não está ali “enchendo linguiça”, ou fazendo de conta. Foram 4 horas muito produtivas de muito aprendizado. Eu saí com a cabeça cheia. Em especial, porque os passos são diferentes do que eu estou acostumada. Eu imaginava que era feito uma coisa e não é nada daquilo que eu imaginava, rs.

Trabalhamos bastante em grupos, como se dá as trocas de liderança, depois a entrada e saída do coro. Foi muito bom!!! Em todo tempo, além de toda explicação técnica e repetição dos movimentos, quando nós tínhamos que fazer o exercício em grupos, ela estava lá corrigindo nossa postura e nos indicando como fazer, sempre respondendo nossas dúvidas. Minha maior dificuldade foi em relação aos snujs. Pois não toco, não conheço nada e nem fazia ideia que precisaria deles! Foi lindo ver o pessoal acompanhando as músicas, e eu fiquei batucando o que eu imaginava que poderia ser o ritmo (rs). 

Agora imaginem: além de dançar, lembrar dos combos, da liderança, onde olhar, quando sair, quando voltar, onde parar, eu ainda tenho que tocar snujs, NO RITMO. #todoschora





Como eu disse: se antes eu era “analfabeta no ATS”, iniciei minha alfabetização com Kristine Adams. E foi bom demais!


 No domingo pela amanhã, o negócio foi mais puxado! O tema era "Os movimentos lentos para o ATS".  Acredito que foi mais puxado que o do dia anterior, mesmo tendo uma hora a menos, pois este work subentendia que a pessoa teria algum conhecimento prévio de ATS. Kristine se manteve todo o tempo disposta e muito presente, para tirar nossas dúvidas e tentar solucionar o questionamento dos alunos a respeitos de passos específicos. Depois da parte teoria, com exemplos, bastante parte prática, em grupos, depois no coro. Novamente, foi um workshop muito proveitoso, mesmo com todo o cansaço e a quantidade de informação, pude aprender muito. E solidificar os conhecimentos adquiridos no dia anterior.
Valeu todo o investimento.

Quanta honra já ter Kristine Adams como professora!

De toda esta experiência enriquecedora, o que mais levo comigo, além das novas amizades, é perceber, novamente, como a dança faz parte de mim. Num âmbito muito maior do que coreografia para dançar Apresentação (e não diminuindo a importância disto). Mas se a minha vida dançante fosse “apenas” dos encontros entre aquelas que sentem o mesmo que eu, e desfrutam do tempo que estamos juntas,  tudo teria valido a pena.


O ATS tocou em mim, naqueles pontos primordiais:
- Por que eu danço?
- Pra que eu danço?
-Pra quem eu danço?

http://aerithtribalfusion.blogspot.com.br/2014/03/resenhando-resenhas-de-eventos-de-danca.htmlSó tem um jeito de descobrir a resposta: dançando.

Vamos?

Resenhando - Região Sudeste
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Coodenação Carine Würch

[Índia em Dia] Entrevista com Rahul Acharya traduzida

por Raphael Lopes

Trazemos aos nossos leitores uma entrevista com um dos maiores ícones da atualidade dentro da dança clássica indiana. Rahul Acharya dança desde os seus quatro anos de idade, e vem de uma família tradicionalmente ligada as atividades do Templo de Jagannatha.

Aluno do Guru Durga Charan Ranbir, o bailarino de Odissi Rahul Acharya mora em Bhubaneshwar, Orissa. Ícone do estilo Guru Deba Prasad Das, ele foi o primeiro bailarino de Odissi à ser homenageado com o prêmio Ustad Bismillah Khan Yuva Puraskar, do Governo da Índia  em 2009. Além de sua dança, Rahul é um devoto e pujari do Senhor Jagannatha, erudito e bem versado ​​em sânscrito. Ele é formado em Hatha Yoga e Raja Yoga pela Escola Bihar Yoga. Ele gosta de ler e pesquisar sobre os Shastras (escrituras) e trazê-los à tona através de sua dança.

Aqui, Rahul Acharya partilha as suas opiniões sobre uma variedade de assuntos relacionados com a dança Odissi.

Com a crescente popularidade de Odissi, você acha que os movimentos tradicionais estão sendo afetados de alguma forma?

A tradição é um elemento de transição. Não há tradição estática. Costumes, crenças e práticas foram alterados com freqüência para atender a mudança dos tempos. O que nós praticamos como Odissi, hoje, não é certamente o que Bharata mencionou como Odra Magadhi no Natya Shastra. O estilo Odissi que praticamos hoje não é o que foi durante os anos 50. Quando o repertório de Odissi estava sendo desenvolvido todo o Margam dificilmente durava 15/20 minutos. Hoje, uma única coreografia pode durar horas. Assim, não há uma tradição que os bailarinos precisam furar. Mas há uma gramática básica que caracteriza a antiguidade e singularidade do Odissi , que todos nós já aprendemos como iniciantes e temos praticado desde então. Esta gramática básica é o alicerce da forma de dança. Assim, torna-se bastante importante para entender e digerir o que os nossos mestres passaram para nós. Precisamos preservar esse rico legado que foi entregue a nós e dar um passo adiante com nossas próprias inovações.

É animador ver a crescente popularidade do Odissi no mundo todo, mas há prós e contras também. Dançarinos da atualidade estão fazendo muito bem. Eles são acessíveis, cordiais, trabalhadores e, acima de tudo, embasados. Eles são como uma lufada de ar fresco. Mas no meio de todos esses prós, os contras são igualmente visíveis, onde alguns dançarinos meia-boca, não investem a quantidade de trabalho e treino necessários e afirmam ser o tipo sabe-tudo. Com eles, vale tudo em nome do “contemporâneo e da fusão”. Fusão torna-se confusão e o “contemporâneo” é apenas temporário.

Não devemos esquecer as nossas raízes não importa o quão moderno nos tornamos. Devemos sempre lembrar o rico legado que herdamos de nossos gurus e precisamos agir como guardiões de tudo o que foi passado para nós e levá-lo adiante com a nossa própria criatividade.

O lema : "Primeiro aprender as regras e depois quebrá-las " ... A fim de quebrar as regras, precisamos aprendê-las primeiro.

Hoje em dia, alguns bailarinos de Bharatanatyam começaram a usar o cinto típico do Odissi como parte de seu traje.

O cinto de Odissi normalmente referido como Bengapatia ou Bhekamukha (referindo-se à semelhança de um sapo), era uma peça única de cinto usado pelas Maharis que mais tarde foi adaptado pelos dançarinos de Odissi. Ornamentos de prata, o adorno de cabeça (Tahia) e os sarees típicos de Orissa são a marca registrada do Odissi. Eles fornecem algum tipo de identidade para a dança. Da mesma forma, cada forma de dança tem o seu próprio “Aharyam”. Foi notado ultimamente que alguns bailarinos de Bharatanatyam usaram o cinto de Odissi realmente. Na minha opinião, o melhor é permanecer fiel ao aharyam projetado para cada estilo de dança, a fim de evitar confusão.

Muitos bailarinos estão sendo treinados em kalaripayattu. Você acha que é essencial para um bailarino de Odissi ser treinado em kalaripayattu, para fitness ou para qualquer outra finalidade?

Nós todos sabemos que as artes marciais são excelentes programas de treinamento físico que aumentam as habilidades do corpo do praticante, aumentando assim o seu nível de resistência. Na verdade, qualquer atividade é válida: do Yoga ao Pilates, do Kalaripayattu a Zumba. Nós todos acreditamos que Shiva é o Senhor da dança, Shiva também é considerado o Senhor do Hatha Yoga. Assim, Shiva não foi apenas bem versado ​​em dança, mas em Yoga também. Eu, pessoalmente, sugiro aos dançarinos que pratiquem Yoga regularmente, o que provou ser muito benéfico. Digo isso a partir de minha experiência pessoal. Eu tenho sido um praticante de Yoga desde a infância.

Qualquer forma de treinamento físico é excelente para o condicionamento físico de um dançarino em qualquer modalidade. Aprender artes marciais étnicas fornece benefícios adicionais para a dançarina que pratique essa forma étnica de dança. Dança varia de região para região, e é por isso que temos 8 estilos diferentes de dança clássica e muitas variações regionais. Isso ocorre porque a dança é certamente influenciada pelo ambiente da região a que pertence seu povo, seus costumes, crenças e práticas. Eu não acho que é essencial para um bailarino de Odissi aprender Kalaripayattu (arte marcial do sul da Índia) já que temos nossas próprias artes marciais como a Akhada, Piko, Chhau etc... mas não há mal nenhum , se alguém quiser aprender. Cada um na sua.

Comparado ao número de bailarinos de outras formas de dança clássica, parece haver um grande número de homens se interessando por Odissi. E eles parecem estar fazendo bem tanto em grupo quanto em solo.

É realmente impressionante ver um número crescente de dançarinos de Odissi em comparação com outros estilos de dança. Desde os tempos do Natya Shastra, tem sido os homens que transmitiram o legado da dança. Tudo começou com Bharata, Tandu, Gargacharya, Rantideva, Attahasa e assim por diante. Os gurus em sua esmagadora maioria são homens. Aqui eu não estou sendo machista, mas o tempo é testemunha de que os guardiões da tradição foram todos homens, mas devido à falta de patrocínio, acabaram interrompendo suas atividades ou se dedicando à outras profissões, já que arte nunca foi lucrativa. Muito raramente nós encontramos bailarinos como performers no palco. Mas o gelo foi quebrado com o aumento do número de dançarinos tendo suas performances como atividade principal. Mas não só em Odissi, existem excelentes bailarinos em outros estilos de dança também que estão fazendo um trabalho brilhante. Só que o número parece maior em Odissi.

Quando você realiza workshops no exterior, o que você percebe mais entre os praticantes  de Odissi por lá?

Eu costumo organizar meus workshops para atender um grupo heterogêneo de dançarinos, que geralmente não pertencem apenas a um estilo particular. Eu enfatizo muito nas técnicas de condicionamento e preparação do corpo para preparar o dançarino para lidar com os rigores da dança clássica indiana. A maioria destas técnicas foi emprestada da minha própria experiência em Yoga. Eu não costumo ensinar itens de repertório em minhas oficinas, a menos que eu veja um dançarino que corresponda a minha expectativa. Só assim então eu posso ensinar itens.

O feedback é extremamente impressionante. Nesses workshops sou bombardeado por sua ânsia em entender com atenção os mínimos detalhes. A maioria dos meus alunos vem até mim por meio dessas oficinas.

Qual a importância para um dançarino, de Odissi ou qualquer outra forma, em ser bem versado em sânscrito?

É extremamente essencial para um bailarino ser bem versado em sânscrito e no idioma vernáculo usado na dança, neste caso Orya para o Odissi. Quando dizemos ShastriyaNritya referimo-nos ao estilo de dança mencionado em nossos shastras (escrituras), e todas as nossas escrituras são escritos em sânscrito. Na maioria dos casos observa-se que não há nenhum substituto em inglês adequado a um monte de expressões utilizadas em sânscrito. Por exemplo, a palavra Ananda. O equivalente emi inglês mais próximo seria felicidade ou êxtase, mas muitos concordam que Ananda é muito mais do que aquilo que a nossa contrapartida em inglês tem para oferecer. O idioma é um componente essencial para a dança. Abhinaya é definida como a poesia em ação e não há poesia sem linguagem. A fim de obter conhecimento em primeira mão de qualquer escritura é preciso saber sânscrito. Muita essência se perde em traduções e nunca haverá uma tradução perfeita. Então, nós bailarinos precisamos fazer um esforço extra para aprender o Sahitya também. Só aprendendo e aperfeiçoando técnicas não é suficiente. Dançarinos precisam cultivar duas coisas: Auchitya e Sahitya .

Muitos bailarinos professam dançar de acordo com o Natya Shastra. O que tem a dizer?

Natya Shastra é um grande texto. O que nós referimos como Natya Shastra hoje é aquele que consiste em 6.000 shlokas e é chamado de Shadshahasri Samhita . Há um outro Natya Shastra consistindo de 12.000 shlokas e é chamado o Dwadashashahasri Samhita. Todo o último texto ainda está para ser totalmente descoberto. É impossível para qualquer bailarino usar todo o corpo de técnicas e práticas que o Natya Shastra instrui. No entanto, um extenso trabalho foi feito pela Dr. Padma Subrahmanyam como todos sabemos e há um número de dançarinos que estão a realizar um estudo sério do Natya Shastra. Isso precisa ser mais incentivado.

Parece haver uma proliferação de festivais, concursos e prêmios em Odisha (Orissa).

Orissa tornou-se uma “cama quente” de festivais. Durante os 365 dias em um ano uma coisa ou outra está acontecendo. Estamos literalmente saturados com festivais. Isso, certamente, é uma oportunidade para muitos bailarinos e, assim, incentiva talentos. Mas, com o aumento do número de festivais, a qualidade está lentamente se deteriorando. Da mesma forma os prêmios também estão a perder o seu valor. É a política da mútua premiação, ”você me prestigia e eu te prestigio”. A maioria destes prêmios não têm uma posição e, portanto, não possuem grande destaque. Fora que também é complicado verificar a autenticidade de tais prêmios.

Como você equilibra suas frequentes viagens ao exterior, com a sua própria formação em dança?

Eu costumo seguir um rigoroso regime de treinamento físico que eu não interrompo não importa em que parte do mundo que eu esteja. Isso me dá uma enorme quantidade de agilidade e resistência para manter-me entre as viagens e apresentações frequentes. Eu treino meus alunos sempre que tenho tempo. Eu costumo dedicar 3-4 meses de treinamento aos meus alunos entre o final de cada ano e no início do novo ano. Por causa da minha própria agenda eu não tenho muitos alunos, pois eu acho que é realmente difícil de conciliar o meu próprio trabalho como performer, e certamente minha dança é uma prioridade. Eu tenho poucos alunos que são bailarinos em tempo integral, e todos são muito dedicados. Eu acompanho o progresso deles quase toda semana. Com o avanço da tecnologia e, graças à web o mundo se tornou um lugar menor, e isso me ajuda a manter o controle de meus alunos.

Como você descreveria a experiência de se apresentar no exterior em relação ao desempenho em seu próprio estado de origem?

Para um bailarino o palco não importa. Toda a experiência que se vive na dança é tal que o bailarino se perde completamente,e é levado a um estado de bem-aventurança. Durante essa transformação, o dançarino perde sua identidade, e o palco torna-se um templo. A localização geográfica pouco importa. A dança realmente rompe limites. Como dançarinos todos nós falamos a mesma língua. Sim, os dialetos podem variar. Mas, temos a tendência de entender um ao outro.

É o rescaldo da performance que nos traz de volta desta tranquilidade, e é ai quando você percebe onde está dançando. Para mim, as respostas que tenho recebido tanto no meu estado natal como em outros lugares sempre foi muito grande e extremamente encorajador. A positividade que as pessoas trazem consigo, de fato, me inspiram a ficar melhor a cada dia que passa. Eu sempre fui um devoto da dança e tenho alimentado essa aspiração em chegar a um estado em que o meu corpo físico seja completamente consumido pela dança.

O que você acha que pode ser feito para o crescimento e desenvolvimento do Odissi?

Odissi deve, como uma questão central, superar-se. Ele se espalhou por todo o mundo e ainda mantêm o estado de Orissa como sua identidade. Odissi colocou Orissa no mapa cultural mundial. As pessoas reconhecem esse estado como a terra de Jagannatha e da dança Odissi. E tudo isso é muito encorajador, mas isso também levou a uma enorme quantidade de mediocridade que é difícil de lidar. Nem todos os dançarinos têm a oportunidade ou a exposição devidas e, assim, sustentar a si mesmo como um artista se torna extremamente difícil. Como resultado a maioria deles “aprendem menos e ensinam mais”. Esta tendência é extremamente perigosa e precisa ser avaliada com seriedade. Precisamos educar dançarinos e fazê-los entender que a dança não é só técnica, mas teoria também. Dança indiana tem uma história tão antiga quanto a civilização humana e, como dançarinos precisamos estar conscientes para sermos capazes de tornar-se os “rostos” e baluartes do Odissi. Isso precisa ser tratada globalmente.





Entrevista cedida por Rahul ao jornal Narthaki (http://www.narthaki.com/info/intervw/intrv160.html).
Tradução para o português feita por Raphael Lopes, com a devida autorização do entrevistado.

Contato Rahul Acharya :
rahul_acharya@rediffmail.com
http://aerithtribalfusion.blogspot.com.br/2014/03/india-em-dia-por-raphael-lopes.html






Índia - Em Dia
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São Paulo, SP

ARTICULAR: Desconstruindo o movimento por Thalita Menezes




ARTICULAR: Desconstruindo o movimento
Thalita Menezes- Belo Horizonte-MG, Brasil

Sobre a Coluna:

Esta seção consiste em uma abordagem da dança sob um ponto de vista fundamentalmente técnico em que desconstrói o movimento à sua origem: o esqueleto. Como referencial teórico serão utilizados pesquisadores das áreas de anatomia, cinesiologia e educação somática, complementando os conhecimentos práticos e acadêmicos da autora, a fim de alcançar um melhor entendimento e conscientização corporal para construção, definição e fluidez do movimento, contextualizando ao cenário artístico atual da Dança.
Palavras chaves: Dança, arte, anatomia, cinesiologia, educação somática, técnica, auto-conhecimento,

Sobre a Autora:

Thalita Menezes (Belo Horizonte – Minas Gerais – Brasil) é professora, coreógrafa, bailarina, arte-educadora e pesquisadora na área da Dança do Ventre, Tribal Fusion e Fusões, desde 2007. Professora de ATS® (American Tribal Style®), tendo também estudado diretamente com a criadora do estilo, a americana Carolena Nericcio, tornando-se maio de 2015, a primeira Sister Studio FCBD® de MG. Graduanda em Licenciatura em Dança na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Diretora artística e pedagógica do Espaço de Danças Thalita Menezes, desde 2011.
Na avaliação para obtenção de seu DRT/SATED MG, obteu nota máxima em sua certificação.

Thalita foi premiada em diversos concursos de médio e grande porte em sua carreira, como destaque:

- “Toute Forme” em Belo Horizonte (BRA) nos anos de 2007, 2008, 2009 e 2010.
- “Mercado Persa” em São Paulo (BRA) nos anos de 2010 e 2011 (Solista) e 2013 (Grupo).
- “Bellydance Superstars” – Etapa América do Sul em São Paulo (BRA) no ano de 2010, sendo pré-selecionada por Miles Copeland, Petite Jamila e Moria Chappel.
- “Congresso Mineiro de Dança do Ventre“ e “Festival Nacional Shimmie”, com grupos de alunas e alunas solistas nos anos de 2011, 2012, 2013 e 2014.

Ministrou cursos, workshops e realizou shows em diversas cidades de MG (Belo Horizonte, Piumhi, São Sebastião do Paraíso, Divinópolis, Ribeirão das Neves, Contagem, Sete Lagoas, e outras), em alguns estados do Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília), e no exterior, em Lima, no Peru.

Os espetáculos e eventos dirigidos artisticamente por Thalita Menezes são reconhecidos pela tematização e enredo das produções. 

Em 2014, o Espaço de Danças Thalita Menezes produziu o Up Up Fest –  Encontro Tribal em Minas Gerais, sendo o evento pioneiro em dedicar-se exclusivamente ao Estilo Tribal e hibridações no estado.


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