Conhecendo este corpo que dança - Pé e sua estrutura funcional

por Thalita Menezes


Em uma linda noite de primavera, na sala de aula da UFMG, assisti a um vídeo com a temática: "O que é dança?".

O vídeo mostrava várias pessoas em diversos ambientes, bailarinos e não bailarinos respondendo a pergunta “O que é Dança?”. “Arte de mover o corpo”; “Descontração, alegria”, “Capacidade de expressar sentimentos através de movimentos”, “Possibilidade de relacionar-se com os outros”, “Movimento cadenciado”, “Discurso do corpo em formas” foram algumas respostas.


Diante de diversos conceitos refleti a cerca das coincidências e a que mais me implicou foi o MOVIMENTO como característica marcante quando se fala em dança.

Toda e qualquer ação corporal é originária do trabalho conjunto de estruturas ósseas, musculares e articulares. Para o bailarino, conhecer o corpo que dança é extremamente importante para o desenvolvimento de sua técnica e estética, tratamento e prevenção de lesões e potencialização de movimentos mais criativos e uma expressão mais verdadeira.

Contudo, antes de focar em um corpo expressivo, enérgico, fluido, criativo é importante conhecermos sua estrutura básica: os pés, base de nosso equilíbrio, base de nossa dança.



OS PÉS



O pé humano se caracteriza como uma complexa estrutura que atua como suporte do corpo, recebe e distribuição de cargas, sendo indispensável para a locomoção e estabilidade corporal.

Anatomia do pé



O pé ou região do pé é a parte distal do membro inferior, que contem 26 ossos. O esqueleto do pé é formado por 7 ossos tarsais, 5 metatarsais e 14 falanges. O pé e seus ossos podem ser divididos em três partes anatômicas e funcionais:

  • A parte posterior do pé (retropé): tálus e calcâneo.
  • A parte média do pé (mediopé): navicular, cuboide e cuneiformes.
  • A parte anterior do pé (antepé): metatarsais e falanges

A parte/região do pé que toca o solo é a planta ou região plantar. A parte voltada para cima é o dorso do pé ou região dorsal do pé. A parte da planta do pé subjacente ao calcâneo é o calcanhar ou região calcânea, e a parte da planta subjacente às cabeças dos dois metatarsais mediais é a bola do pé.





Planos de referência

Na figura que se apresenta a seguir, mostram-se os três tipos de pés (pé raso, pé de arco normal e pé cavo) 




Para uma análise dos movimentos do pé, vamos definir os seguintes planos de referência. Como veremos, estes planos são importantes para definir os principais movimentos do pé.

·       Plano frontal: é o plano que separa a parte anterior do pé da parte posterior. Este plano passa sensivelmente pelo tornozelo.

·       Plano sagital: é o plano que divide a parte medial (parte interna do pé) da parte lateral (parte externa do pé). Este plano passa pelo eixo do pé.

·       Plano transversal: é o plano que divide a parte superior da parte inferior do pé.






Movimentos básicos do pé

Existem seis tipos de movimentos básicos do pé. Estes movimentos desenvolvem-se num único plano e são os seguintes:

·       Abdução
·       Adução
·       Inversão
·       Eversão
·       Flexão dorsal
·       Flexão plantar
·       Pronação
·       Supinação (ou sub-pronação)


Passamos a descrever todos estes tipos básicos e mais complexos de movimentos dos pés.

  • Abdução e Adução:
Abdução: movimento que ocorre no plano transversal quando o pé roda lateralmente para fora. Os eixos de rotação situam-se nos planos frontal e sagital.

Adução: movimento que ocorre no plano transversal quando o pé roda lateralmente para dentro. Os eixos de rotação situam-se nos planos frontal e sagital.





  • Inversão e Eversão
Inversão: movimento do plano frontal, com rotação dos calcâneos para dentro e para cima. Os eixos de rotação situam-se nos planos transversal e sagital.

Eversão: movimento do plano frontal, com rotação dos calcâneos para fora e para cima. Os eixos de rotação situam-se nos planos transversal e sagital.





  • Flexão Dorsal e Flexão Plantar
Flexão dorsal: movimento do plano sagital, quando o pé se move para cima (na direcção da tíbia). Os eixos de rotação situam-se nos planos frontal e transversal.

Flexão plantar: movimento do plano sagital, quando o pé se move para o solo. Os eixos de rotação situam-se nos planos frontal e transversal.





  • Pronação

    É um movimento do pé que envolve três planos de movimento:
Abdução;
Eversão;
Flexão dorsal.





É um movimento de rotação interna excessivo, criado durante o ciclo biomecânico. Este movimento origina uma elevada pressão e tensão nos músculos, tendões e ligamentos. Durante a execução deste movimento, o pé é capaz de absorver choques e de se adaptar ao tipo de terreno e suas irregularidades (terreno plano, subidas, descidas, duro, macio, irregular, etc.).


  • Supinação (ou Sub-pronação)
    É um movimento do pé que envolve três planos de movimento:
Adução;
Inversão;
Flexão plantar.




Movimento de rigidez excessiva no ciclo biomecânico, em que o pé não consegue rodar suficientemente para dentro de forma a distribuir as forças pelas arcadas, criando muita tensão no membro inferior. Durante a execução deste movimento, a estrutura do pé é capaz de estabilizar-se, elevar-se e propulsionar o corpo.

A figura seguinte mostra o posicionamento do pé nas situações de pronaçãonormal e de supinação.



Abaixo segue um vídeo de Ivaldo Bertazzo que ilustra algumas estruturas ósseas do pé e a importância de conhecer e senti-los como processo de uma reeducação postural.




Um ato mecânico, aparentemente simples, pode ser tão complexo, que envolve articulações, músculos, centro de gravidade, equilíbrio, sistema nervoso central e periférico, vida psicológica e emocional. 

Estudar o corpo que dança sempre foi uma das minhas paixões, pois além de propiciar o autoconhecimento amplia o potencial criativo e expressivo do ser dançante. Os estudos de anatomia me fizeram enxergar a base de todo o processo de cada movimento que realizo enquanto danço. A partir disso passei a trazer mais significado para cada deslocamento, olhar, tremido, ondulação, salto... Enfim, cada gesto, por menor que seja.

“Explorar todas as possibilidades, decidir que partes do meu corpo devem ser ativadas, quais devem ser inibidas. Prá onde devo direcionar cada parte, errar, acertar, repetir, ir clareando o percurso do movimento. Até que a ação seja construída. Eu coordeno a respiração, garanto a ausência de esforço, vou me sentindo bem e satisfeita com a qualidade da ação que descrevo. Posso então lapidar ainda mais, descobrir como suavizar mais, como fazer este movimento com uma qualidade que me encha de prazer. E sentir que me aproprio da minha ação."

(Por Mathilda Yakhni, especialista no Método Feldenkrais, disponível em http://www.geocities.com/metodofeldenkrais)


Fontes:

Documentário O que é dança? Parte 1.avi.flv: https://www.youtube.com/watch?v=8vgzmxfzjuE



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