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[Resenhando-BA] Festival Tribal Spin: Tecendo uma Teia em Arabesco

 por Camila Saraiva

Imagem de divulgação do evento, cedida pela produção


Quando uma mulher abre a roda, o círculo se fortalece, e tod@s giram. O Tribal Spin é um festival que acontece em Salvador – Bahia desde 2016 e foi idealizado pela professora, dançarina e coreógrafa Bela Saffe. Em parceria com a também dançarina, professora e coreógrafa Priscila Sodré na produção e realização - especialmente nas duas primeiras edições - o festival é um dos eventos mais importantes da Bahia, ao todo foram quatro edições (que ocorreram antes da pandemia do Covid-19). O Tribal Spin é um evento múltiplo, sua configuração mista composta por Mostra, Show, Workshops e até mesmo Palestras, confere ao festival uma potência de diversidade, acolhendo e apresentando diferentes propostas, espaços, discussões e artistas.

Para Bela Saffe o festival é uma continuação das ações que ela vem desenvolvendo ao longo de sua carreira, desde a sua participação na Caravana Tribal Nordeste, no Tribal Remix e em outros eventos que ela realizou anteriormente na Bahia. Em suas próprias palavras: “A ideia principal do Tribal Spin é fazer circular, é fazer os grupos se movimentarem, produzirem, criarem coreografias, fazerem aulas, se reciclarem, as professoras darem aula, terem mais visibilidade...deixar a dança viva! ” 

De fato, o festival é um acontecimento que faz as danças dos ventres, tribal, fusion (como queiramos chamar), girarem em Salvador nos últimos anos, proporcionando uma oportunidade de reunir amantes dessas danças para estudar, discutir, trocar e se apresentarem em um ambiente de acolhimento e respeito. É um evento bastante significativo, que vem promovendo maior visibilidade no campo para a Bahia, e para o Nordeste. Nos últimos anos foi o único evento específico de Tribal em Salvador de grande porte que tinha como uma das propostas uma Mostra, onde qualquer artista podia se inscrever e apresentar seu trabalho, sem necessitar de um convite para participar. As Mostras de Dança são de fundamental importância para oportunizar que estudantes, artistas marginais e até mesmo profissionais conhecidos apresentem suas criações numa atmosfera de experimentação e compartilhamento de ideias e processos em maturação. 

A riqueza de participantes tanto nas Mostras quanto nos Shows é realmente algo a se destacar! Artistas, estudantes e profissionais apresentaram danças diversas ao longo dessas quatro edições, escancarando como podemos ser tão bel@s, impactantes, potentes, criativos e diferentes ao mesmo tempo, no mesmo espaço, convivendo, coexistindo.


Show do Festival Tribal Spin 2018 no Teatro Sesc Pelourinho. Artista convidada: Piny Orchidaceae. Foto: Adeloyá Magnoni.


Em 2016 o festival começou com o foco numa escala local, as professoras convidadas foram profissionais residentes em Salvador:  Bela Saffe, Priscila Sodré, Adriana Munford e Karina Leiro. A roda foi crescendo e em 2017 as professoras convidadas foram Tamyris Farias (Recife - PE), Bia Vasconcelos (Feira de Santana – BA), Bela Saffe, Priscila Sodré e Karina Leiro, além da palestrante Carla Roanita (Salvador –BA) que apresentou a sua pesquisa de mestrado em dança, mais especificamente dança tribal fusion, no evento. Em 2018 o festival contou com a presença da convidada Piny Orchidaceae (Portugal). Em 2019 quatro profissionais internacionais participaram do festival como convidadas: Amy Sigil (Estados Unidos), Isabel de Lorenzo (Brasil/Itália), Kimberly Larkspur (Estados Unidos) e Catherine Taylor (Inglaterra). Em termos de participantes e inscrições o evento foi crescendo aos poucos, mobilizando cada vez mais artistas locais, mas não apenas. Nas últimas edições participantes de diferentes estados do Nordeste compareceram ao evento, até mesmo alguns participantes da região Sudeste do Brasil. 

Ciclo de Workshops do Festival Tribal Spin 2019 na Escola Contemporânea de Dança. Artistas convidadas: Amy Sigil, Isabel de Lorenzo, Kimberly Larkspur e Catherine Taylor. Foto: acervo da produção.


Mostra do Festival Tribal Spin 2019 no Teatro Sesc Pelourinho. Foto: Adeloyá Magnoni. 


O Tribal Spin foi tema da pesquisa de monografia de Priscila Sodré na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia onde descreve mais especificamente as etapas de produção da segunda edição do festival. Ela destaca em seu texto que as expectativas de produção foram superadas com relação a adesão da comunidade ao evento, isso lá em 2017: “Para a Mostra de danças foram registradas 21 inscrições, superando as expectativas e fazendo com que a produção ampliasse o número de vagas, incluindo todos os inscritos. Já as inscrições para as aulas de dança corresponderam a 84 vagas ocupadas.” (P.16). O número total de pessoas pagantes que compareceram aos shows foi de 197.

Show do Festival Tribal Spin 2017 no Teatro Molière. Foto: acervo da produção.

Produzir eventos, festivais de dança no Brasil, no Nordeste, na Bahia, de maneira autônoma, não é tarefa fácil, pelo contrário, é um grande desafio. Ressalto aqui a importância de valorizar e reconhecer as pessoas que corajosamente se colocam nesse árduo lugar da produção sem nenhum tipo de apoio financeiro, fomentando a cena, a formação e a produção artística na dança. Expresso aqui a minha gratidão enquanto artista baiana à Bela Saffe, essa mulher retada, pioneira na dança do ventre e no tribal fusion na Bahia que vem abrindo a roda, e tecendo essa teia em arabesco ao longo dos seus mais de vinte e cinco anos de carreira.

Fiquemos atent@s para como os eventos são realizados. A maneira como realizamos um evento acarreta em impactos em toda a comunidade da dança. Não precisa existir um modo único, padronizado, de realizar festivais e eventos, como não existe um modo único de dançar dança do ventre, tribal, fusion. A maneira como fazemos algo pode fazer toda a diferença na vida de outras pessoas, podemos vivificar outras existências quando escolhemos realizar algo de determinada maneira, ou não. E foi isso que pude perceber no Festival Tribal Spin, existências diversas convivendo e sendo vivificadas. "Enquanto que a maneira, de manus, pensa a existência a partir do gesto, da forma tomada pelos seres quando aparecem. Um modo limita uma potência do existir enquanto que a maneira revela a forma do existir, a linha, a curvatura singular, e assim mostra uma arte." (LAPOUJADE, 2017).

Portanto, devemos considerar cada um desses modos como uma arte de existir, esse é o interesse de um pensamento do modo como tal. O modo não é uma existência, mas a maneira de fazer existir um ser em um determinado plano. É um gesto, cada existência provém de um gesto que o instaura, de um arabesco que determina que será tal coisa. Esse gesto não emana de um criador qualquer, é imanente à própria existência. (LAPOUJADE, 2017, p. 14 e 15).


REFERÊNCIAS:

LAPOUJADE, David. As existências mínimas. N-1 Edições. São Paulo, 2017. SODRÉ, Priscila. Tribal Spin Festival. Trabalho de conclusão de curso apresentado à Faculdade de Comunicação como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação com Habilitação em Produção em Comunicação e Cultura, na Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2018.

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Resenhando-BA


Camila Saraiva (Salvador-BA) é artista da dança, baiana, LGBTQ+. Dançarina, professora e pesquisadora das danças dos ventres e suas fusões na contemporaneidade, com graduação e pós-graduação em Dança na UFBA. Atualmente é doutoranda em Dança pelo PPGDANÇA/UFBA e pesquisa a relação entre danças dos ventres, orientalismo, feminismos e estudos de gênero e sexualidade, numa perspectiva contemporânea.

[Entrando na Roda] Pioneira da Roda: Aline Muhana

 por Natália Espinosa


Quando a Natália me pediu pra escrever esse texto eu tive um misto de sensações. Algo entre “Que legal! Querem ouvir a minha história!” e “Socorro! por onde eu começo?”. E por uma brincadeira do destino fui convidada pela Laila Garbeiro pra participar da edição especial do Simpósio Práxis de fevereiro de 20121 para falar justamente de…memórias do início do Tribal no Brasil! 


Foi um momento muito propício porque eu estava preparando a minha mudança pra São Paulo e todas as minhas coisas estavam à mão, no meio da arrumação do que levar para casa nova. As pastas e caixas com os certificados, recibos, flyers, credenciais de eventos estavam todas ali. Memórias físicas do que aconteceu, e não só fotos em redes sociais mortas e drives externos abandonados. 


Os remanescentes de figurinos canibalizados, bases e peças que eu não me desfiz com o passar dos anos, materiais que caíram em desuso por conta das modas e preferências atuais, peças que se desfizeram ou que não cabem mais. Foi um momento bem propício pra olhar pro começo, no meio de todas essas coisas que já foram protagonistas na minha história. 


E no início de tudo (pelo menos pra mim) tiveram esses dois vídeos: de um grupo de mulheres dançando no que parecia ser uma feira medieval muito animada (o palco era na frente de um rio, e tinha uma barquinho passando, nunca tinha visto uma apresentação de dança ao ar livre) e outro vídeo de uma mulher que não parecia real. Ela se movimentava de uma maneira não natural e vestia o figurino mais impressionante que eu já tinha visto (apesar da qualidade de imagem ser péssima naquela época). Depois de muito tempo eu descobri que o grupo se chamava Daughters of Durga e a mulher se chamava Rachel Brice. Cheguei a esses vídeos através de uma plataforma para artistas que eu usava na época, o Deviantart


Depois da minha formatura como bacharel em Artes Plásticas pela UFRJ em 2004 eu fiz muitas coisas, não me contentei em traçar uma carreira apenas como pintora. Eu ilustrava, dava aulas de desenho e pintura, costurava, criava performances e arte digital, então criei um perfil nessa plataforma e entrei em contato com outros artistas de várias partes do mundo. E no perfil de uma moça da costa Oeste dos Estados Unidos eu vi o link para esses vídeos. Ela usava o nome de Danya e dançava nessa trupe Daughters of Durga, e tinha como colega Tori Halfon (ela mesma, a criadora do Tribal Massive!) em 2006. O próximo vídeo que apareceu na pesquisa do Youtube foi um solo de Rachel Brice com o percussionista Tobias Robertson em uma edição do Tribal Fest. E eu pirei mais ainda. Fiquei muito impressionada com a estética dos vídeos e me interessei em saber mais sobre aquilo. 


Nessa época eu praticava Dança do Ventre por conta própria, sozinha em casa, com o auxílio de revistas, cds, e lembranças das apresentações que eu via na tv (eu morei em Foz do Iguaçu - PR dos 5 aos 17 anos, uma das maiores colônias libanesas do Brasil. Tínhamos canais libaneses na tv a cabo, eu tinha colegas libaneses na escola. A dona da escola que eu estudei era libanesa. Toda festa do folclore da escola tinha roda de Dabke.  Enfim…fui exposta  à cultura por um bom período de tempo, mas sem me aprofundar) E esses vídeos foram mais um incentivo para procurar aulas regulares, apesar de eu não saber bem o que era aquilo, mas achar parecido com algumas coisas que já tinha visto. 


Cheguei em 2007 ao Asmahan Escola de Artes Orientais por indicação de um amigo em comum que eu tinha com a fundadora da escola: Jhade Sharif. E qual foi a minha surpresa ao encontrar no site da escola algumas fotos dela com esse figurino diferente (e até meio parecido com o das americanas) em shows da escola e em restaurantes! Achei o que eu estava procurando  a um ônibus de distância da minha casa e descobri o nome daquele estilo diferente de dança do ventre: Dança Tribal. 


Olhando pra essas memórias 14 anos depois me dou conta de que o  que se colocava como Dança Tribal naquela época era muito mais fruto de pesquisas pessoais de profissionais expostos a essas performances, que chegavam sem explicação nenhuma e fora de contexto, (as pessoas não sabiam ainda do poder da internet de difundir conteúdo indiscriminadamente)  fora a barreira do idioma. Não existia nenhum tipo de unidade nem de conhecimento do que outras pessoas faziam, e a produção artística nacional apesar de já estar ocorrendo em vários lugares,  passava despercebida da maioria. A informação de que o Tribal Fusion (que foi adotado depois, pois não se fazia diferenciação) era derivado do antigo American Tribal Style (que foi difundido no Brasil muito depois) era inexistente.

 

Através de pesquisas numa rede popular entre as tribalistas americanas da época  chamada Tribe.net descobri essa e muitas outras informações sobre o estilo e iniciei um blog que se chamou “ATS e ITS” em que comecei a traduzir informações sobre a história do estilo, os códigos de vestimenta do ATS, as diferentes vertentes de improvisação coordenada (ITS) e as últimas notícias da comunidade americana. O blog durou alguns anos, mas com o tempo e a demanda de trabalho com aulas e o atelier deixei de publicar atualizações. 


No Tribe.net também conheci outras artistas americanas do estilo e no youtube e orkut descobri o trabalho das nacionais Cia Halim (SP), Kilma Farias (PB) , Nanda Najla (MG), Bruna Gomes (RS) e de Victoria Vasquez (Chile), além de Nadine Fernández (Alemanha) (que Jhade tinha acabado de convidar para workshops no Asmahan, pouco antes de eu entrar pra escola). 

Meu estande do Tribes Brasil I  (Tribal.fest / Festival Tribal do Rio) - 2008

O primeiro momento em que pude ver alguns destes nomes nacionais juntos, mais a companhia Shaman, Rhada Naschpitz e Nadja el Balady (que dividiu a produção do encontro com Jhade) e outras artistas que não fui capaz de recordar foi no primeiro encontro que ocorreu no Rio em julho de 2008. A primeira edição do Tribes Brasil (Tribal.fest / Festival Tribal do Rio). Participei como expositora no que seria o embrião do meu atelier (Nataraja Designs) e dancei com mais duas amigas de aulas no show de mostras. Depois disso tudo mudou, e novos eventos exclusivos de Dança Tribal  com esse caráter de encontro começaram a surgir em outras regiões do país.  


Tribal.fest / Tribes Brasil I, 2008. Eu, Sarah Bott e Carla Nar


Foi muito interessante ver as expressões individuais das outras artistas brasileiras, traduzidas em figurinos e escolhas musicais. Acho que foi a primeira vez que vi ao vivo um figurino incorporando elementos nacionais como crochê e chitão, de Kilma, Cia Halim e das Shamans. 


Naquela época a joalheria indiana importada que hoje é tão comum de se encontrar (apesar do preço) era extremamente rara, e só quem viajava para o exterior tinha acesso. Os sites de venda ainda eram poucos e muitos não enviavam para o Brasil. Mesmo as lojas de bijuterias não tinham a variedade de peças com inspiração oriental que temos hoje com a moda Boho em alta, então o impacto de ver figurinos ricos e bem feitos com produtos nacionais foi ainda maior!


Eu frequentava feiras de antiguidades e brechós  pra conseguir algo interessante e conseguia verdadeiros achados, a custa de muita paciência e barganhas. Comprava bijuterias antigas, às vezes até achava alguma peça indiana legítima, roupas com tecidos interessantes para reaproveitar e acessórios como xales, luvinhas de crochet e broches. 

Existiam pouquíssimos ateliers de figurino para Tribal, era muito difícil conseguir um figurino completo em pronta-entrega,  muitas vezes tínhamos que criar acessórios e figurinos por conta própria ou com a ajuda de costureiras. Foi aí que surgiu o meu atelier inclusive.


Primeira tentativa de look ATS Old School - Figurino completo Nataraja Designs - 2009


As tendências de figurino nesse início eram muito inspiradas no visual do contingente tribal do BellyDance SuperStars (a principal fonte de referência da maioria de nós) e de alguns dos poucos vídeos que chegavam a nós pelo youtube. Aos poucos o figurino tradicional de cintos de franjas de lã e calças boca de sino foram sendo substituídos pelo visual mais vintage usado pelo The Indigo no seu show recém lançado Le Serpent Rouge.

Carol Schavarosk, Sarah Bott, Eu e Karine Xavier em figurinos tribais criados e executados por nós mesmas (excetuando o da Karine). Al Khayam - 2009

Um dos pontos altos do Tribes e dos outros eventos que seguiram nessa tendência foi a troca de conhecimento entre as artistas nacionais através de workshops. Muitas de nós, dessa primeira geração do Tribal do Brasil, tivemos oportunidade de fazer aulas umas com as outras e contribuímos efetivamente para a formação conjunta da nossa comunidade.  Nesse primeiro contato da comunidade consigo mesma foi fundamental aprender as diferenças e similaridades dos trabalhos das colegas e até desenvolver nomenclaturas e afinidades estilísticas. 

Os workshops eram todos grandes exposições das pesquisas artísticas pessoais de cada bailarina, seguindo uma linha individual de desenvolvimento totalmente independente. Não existiam ainda os formatos pré-estabelecidos (como Datura ou DanceCraft) e não havia ninguém com conhecimento mínimo de ATS para dar aulas (apesar do método já existir e os DVDs já serem comercializados no mercado “informal”, vulgo Pirataria). A primeira brasileira a dar aulas de ATS no Brasil só viria no ano seguinte (Isabel de Lorenzo, em 2009). 


Os dvds pirateados foram primordiais para muitas de nós termos o primeiro contato  contextualizado com a produção americana do estilo. Apesar do idioma, muitas de nós conseguiram ultrapassar esse obstáculo e pudemos entrar em contato com os primeiros vídeos didáticos explicando o conteúdo das aulas e a importância de temas como o estudo do Yoga, fundamentos técnicos do estilo e suas variações. 


Com a vinda das primeiras bailarinas americanas ao Brasil no ano seguinte ( Sharon Kihara, Mardi Love e Ariellah no Tribal Y Fusion/2009 -  produção Adriana Bele Fusco)  houve esclarecimento de alguns destes  tópicos e uma difusão ainda maior desses fundamentos por todo território nacional a partir das participantes do evento, que foi de quase 200 bailarines de todo o país. Foi um momento de descobertas e de compreensão muito grande para a cena brasileira.

Jhade Sharif , Nadja el Balady e eu - 2009 - Tribal y Fusion - Primeira apresentação da Tribo Mozuna - primeiro grupo de ATS do Brasil.


Existia um senso de comunidade e um otimismo muito grande nesses primeiros anos, uma preocupação em criar um ambiente receptivo e de suporte mútuo que era perceptível nos corredores dos eventos, salas de aulas e camarins. Tudo era muito novo e a sensação de encontrar alguém que compartilhava aquela mesma dança inebriava  e empolgava a todes. Ainda hoje me sinto como se estivesse “visitando a família” nos grandes eventos, onde tenho a oportunidade de encontrar esses rostos familiares de tantos anos.


Nestes 14 anos houve uma evolução muito grande em todos os aspectos da nossa cena: Integração, variedade, qualidade de performance e instrutores e a quantidade de praticantes, frutos de muito trabalho e dedicação tanto das gerações mais antigas quanto das mais novas, nossas alunas e ex-alunas. As reflexões atuais geradas pelos simpósios, coletivos e grupos de estudo (que floresceram durante a pandemia) trouxeram aprofundamento das discussões teóricas, históricas e sociais e amadurecem ainda mais nossa comunidade, nos colocando no próximo estágio de evolução da dança do país.


E basicamente esse era o cenário quando comecei a “dançar tribal”, nos primeiros anos da difusão do estilo no país. Espero que tenha sido uma experiência boa esse passeio pelas minhas memórias! 


Grande beijo!

Aline Muhana


Para conhecer mais o trabalho de Aline Muhana, acesse:


| Instagram | Entrevista no Blog |



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Entrando na Roda

Natália Espinosa (Campinas-SP) é dançarina e professora de Estilo Tribal de Dança do Ventre e ATS®.Tornou-se Sister Studio FCBD® em 2013 e está cursando o programa The 8 Elements™ de Rachel Brice. Natália orienta o Amora ATS ® e participa do TiNTí, grupo profissional de ATS® composto por sua professora Mariana Quadros e por Anna Pereira. Sua grande paixão é ensinar e seu palco é a sala de aula.  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 


[Entrando na Roda] Pioneira da Roda: Isabel De Lorenzo

por Natália Espinosa


Vivo em Roma há mais de vinte anos e me defino uma artista da Dança. Meu trabalho cotidiano é multifacetado: sou, principalmente, professora de FCBD®️Style e dirijo uma escola de danças do mundo, a San Lo’, situada no coração de Roma. A escola vai completar vinte anos em 2023, mas na verdade, desde março de 2020 está fechada devido às restrições que a Itália vem sofrendo com a pandemia do coronavírus, o que nos obrigou a migrar quase inteiramente para o setor online. Também organizo o Roma Tribal Meeting, festival que reúne anualmente artistas do mundo todo em torno da ideia de comunidade nas danças “estilo tribal”. Sou membro do Dance Sisters Collective, que tem trabalhado desde 2013 com o FCBD®Style aplicado a sofisticados projetos de performance, à distância e em presença. Dou aula em inúmeros eventos e festivais pelo mundo afora. Apaixonada pelo teatro-dança, já colaborei com algumas companhias de dança contemporânea como atriz e dançarina, muito aprendi com essas experiências e acabei criando e produzindo meus próprios espetáculos teatrais, Al-muallaqat | Le sospese (2007), Frida Suite (2012) e Bambola (2018).


"A coluna quebrada" - Frida Suite | Foto: Fabrizio Caperchi (2012)


Poster Frida Suite (2012)

Violet Scrap em Bambola, um espetaculo de Isabel De Lorenzo | Foto: Donatella Francati (2018)



Poster Bambola (2018)




Danço desde os oito anos, quando minha mãe me matriculou no balé, em Araraquara, SP. Não me achava talentosa para a dança apesar de desejar continuar, e lutei com essa contradição durante anos, até parar com a dança clássica e moderna quando entrei para a Faculdade de Letras na USP. Trago dessa primeira etapa na dança bons ensinamentos sobre o uso do corpo, espírito de grupo e gosto pela cultura artística em geral.


Meu primeiro encontro com a dança oriental aconteceu em São Paulo em 1987. Nesse ano, junto com minha amiga Yasmin Nammu, tomei aulas com a Márcia Nogueira, uma das professoras mais alternativas da cena paulistana na época. Eu tinha curiosidade tanto pela dança árabe quanto pelo flamenco e pela dança indiana, mas faltou perseverança e acabei voltando ao mero estudo das Letras. Mas minha amiga prosseguiu e, alguns anos depois, eu me tornei uma de suas primeiras alunas; desde então frequentei o estúdio Yasmin Nammu por anos a fio, com grande paixão pelo estudo da dança do ventre. Minhas primeiras apresentações, muito tímidas, se deram nesse período, entre 1991 e 1997 quando me mudei para Roma, capital da Itália. 


Teatro Municipal de Araraquara (1980)


Bellydancing - Roma (1997)

O que havia de mais interessante na cena romana era o estilo egípcio autêntico, com professores do naipe de Saad Ismail - um dos herdeiros do mestre Mahmoud Reda. Não era o meu estilo preferido, mas era “consistente”; então me matriculei num curso com Saad que me ajudou a fazer contatos e encontrar meus primeiros trabalhos como professora e dançarina. Passei muitos anos “bellydançando” na noite arabe-romana, mas ao mesmo tempo meu gosto pessoal foi migrando definitivamente para o estilo tribal. E assim se passaram mais de dez anos de muito estudo, tanto no estilo oriental como no tribal. Eventualmente era possível participar de workshops; mas na maioria das vezes o estudo era através de vídeos. Com o tempo, a dificuldade de se encontrar vídeos didáticos foi amenizando... acredito ter vivido em cheio a passagem entre os anos 80 em SP - quando encontrar um vídeo didático (da Salimpour por exemplo) era ouro! - e os anos 2000, que trouxeram a internet em casa e com ela um acesso mais democrático ao estudo da dança. 


Reda Style: Saad Ismail Dance Company,  Roma (1999)


Encontrei Carolena Nericcio e Megha Gavin pela primeira vez em Milão em 2005 e 2006. Elas viajavam dando cursos na Europa, mas o público ainda era naquela época bem restrito. As Bellydance Superstars também passaram pela Itália e tive oportunidade de participar de diversos workshops (aliás, até co-organizei um ramo da tournée de workshops com elas, em 2007).  Tudo isso culminou com a minha ida para San Francisco em 2010, numa viagem extraordinária junto com minha então aluna e depois parceira Silvia Grassi. Dali em diante eu resolvi me dedicar somente ao ATS® . Nossa turma de General Skills e Teacher Training era razoavelmente pequena, fizemos amizades e trocas importantes. Todo mundo que fez este percurso de alguma maneira sabe o quanto é transformador. E assim foi comigo. Logo pedi para ser Sister Studio de FatChanceBellyDance®  e tenho honrado, espero, este papel. Recentemente passamos a assinar Partner Studio, em apoio às mudanças que estão pedindo para acontecer na sociedade e que atravessam certas nomenclaturas. Nossa troupe, Carovana Tribale, foi fundada em 2003, teve várias formações e hoje em dia é antes de mais nada um container para quem quiser dançar conosco: todas as alunas são bem vindas, assim como as colegas, sem vínculos de nenhum tipo. Temos consciência de que a troupe tem um nome “antiquado”, que traz em si tanto a ilusão orientalista na palavra “caravana” quanto o controverso atributo “tribal” - e talvez, quando chegar a justa inspiração, iremos mudá-lo. Tem sido difícil para todo o mundo, artistas em particular, tomar decisões para o futuro; assim temos tentado, durante esta pandemia, manter o corpo são e a calma mental, dando espaço à pura dança como prioridade nossa de cada dia.


FCBD Studio - San Francisco (2010)

Carovana Tribale (2007)

Carovana Tribale (2016)

Com alunas de Carovana Tribale | Foto: Roberto Radimir (2018)


Minhas relações dançantes com o Brasil não foram muito intensas nestes mais de vinte anos, mas foram constantes e houve alguns episódios memoráveis. Em 2010 fiz uma viagem mochileira com minha amiga Geneva Bybee (dançarina americana que tinha sido pioneira da Tribal Fusion na Europa). O evento itinerante se chamava Tribal Tour e nosso objetivo era criar redes e lançar as bases para uma comunidade estilo tribal no Brasil. Fomos para Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Além de ter sido extremamente rica como experiência pessoal, esta tournée alcançou em grande parte seus objetivos: a rede de contatos, de amizade e de estudo permanece viva até hoje e com certeza deixamos bons sinais, especialmente no Rio e na Bahia. De toda maneira, eu vou ao Brasil praticamente todo ano e tenho alunas na minha região (Araraquara, interior de SP), podendo citar a Mariana Esther que atualmente é uma excelente bailarina, estudiosa e professora de FCBD®  Style. No Rio, Nadja el Balady e Aline Muhana me receberam muitas vezes para workshops e eventos; o mesmo na Bahia com a Bela Saffe e sua maravilhosa comunidade. Também houve bailarinas brasileiras que vieram a Roma, conheceram minha escola e até participaram do Roma Tribal Meeting como a Dayeah Khalil, a Bela Saffe, a Joline Andrade e outras. Tenho muitas amigas na cena da dança brasileira e espero que seja em breve possível revê-las, conhecer novas pessoas e continuar espalhando a semente da dança por aí afora.


Tribal Tour com Geneva Bybee, Brasil (2010)


Um aspecto muito gratificante do meu envolvimento com o FCBD®Style passa através do Dance Sisters Collective. Este coletivo europeu (com Philippa Moirai, de origem Sul Africana vivendo no Reino Unido, Gudrun Herold da fronteira Alemanha/França e Silvia Grassi da Itália) nos levou a trabalhar efetivamente com o conceito criado por Carolena Nericcio, de que a linguagem compartilhada do FCBD®Style possa se avantajar sobre a multiplicidade de outras linguagens da comunicação humana. Cada bailarina do coletivo tem seu próprio idioma materno, moramos em países diversos, temos bagagens culturais bem variadas e mesmo assim trabalhamos juntas desde 2013, utilizando videoconferências e outras técnicas de comunicação remota que só agora, em tempos de pandemia, se tornaram mais comuns. A dança acima de tudo.


Dance Sisters Collective | Foto: Federico Ugolini (2014)


Dance Sisters Collective | ATS Homecoming, San Francisco, 2017


Enfim, vou tentando me manter como profissional da dança aos 53 anos de idade. Minha jornada se divide entre tudo isso: o ensino, ao qual me dedico com grande amor, a convivência com minhas alunas, assim como a preparação dos meus cursos e workshops são sempre momentos muito importantes. A gestão da escola, a San Lo’, também requer muita energia, começando com a constante troca de informações com nossa equipe de professores, colaboradores e alunos, até a divulgação - eu mesma faço os sites, o material gráfico, os vídeos e a organização geral de todos os eventos, enquanto minha sócia Lara Rocchetti se ocupa mais da administração. A projetação, organização, produção de cada evento, como por exemplo o Meeting, ou o festival de fim de ano da escola, um open day de início dos cursos ou um evento de danças de fusão como o La Divina Commedia Project® que estou preparando para o segundo semestre de 2021 - tudo isso requer apenas um cérebro e centenas de horas sentada em frente ao computador. Quando o corpo padece, pilates e bicicleta são meus antídotos. Música, teatro, literatura, filosofia, cinema nutrem o pensamento e a vida. Meu desejo maior para o futuro é o de permanecer no campo artístico, poder - quem sabe - escrever, dirigir mais espetáculos, viajar e novamente abraçar todo o mundo.


Em casa durante a pandemia



Para conhecer mais sobre o trabalho de Isabel DeLorenzo, acesse:

| Contato | | Entrevista no Blog |


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Entrando na Roda

Natália Espinosa (Campinas-SP) é dançarina e professora de Estilo Tribal de Dança do Ventre e ATS®.Tornou-se Sister Studio FCBD® em 2013 e está cursando o programa The 8 Elements™ de Rachel Brice. Natália orienta o Amora ATS ® e participa do TiNTí, grupo profissional de ATS® composto por sua professora Mariana Quadros e por Anna Pereira. Sua grande paixão é ensinar e seu palco é a sala de aula.  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Resenhando – RJ] Estilo Tribal Live! – Ciclo de Entrevistas

 por Fran Lelis

O ano de 2020 foi desafiador, a gravidade da pandemia tornou o isolamento social a principal arma para combater a propagação do covid-19. Diante desse cenário, a internet e as redes sociais se tornaram o principal meio de encontros e trocas.

Buscando novas maneiras de aproximar nossa comunidade, Nadja El Balady, uma das pioneiras do estilo tribal no Brasil, aproveitou um espaço online já existente, o grupo do Facebook “Dança Tribal Carioca”, e promoveu um ciclo de entrevistas com profissionais que fazem parte da história do estilo no estado do Rio de Janeiro.


 Nadja El Balady, sobre esse projeto, denominado Estilo Tribal Live! :

“Estilo Tribal Live! O ciclo de entrevistas que produzi entre julho e agosto de 2020 visando movimentar a comunidade de estilo tribal do Rio de Janeiro no momento mais agudo da pandemia de covid-19. As entrevistas foram realizadas no grupo do facebook Dança Tribal Carioca, com exceção da primeira, que acabou acontecendo pelo Instagram do grupo Loko Kamel Tribal Dance, devido a problemas técnicos."


"As entrevistadas deste primeiro ciclo foram: Aline Muhana, Isabel de Lorenzo, Jessie Ra’idah e Dária Lorena. Elas foram escolhidas entre algumas das que, junto a mim, fizeram parte do nascimento do estilo no Rio de Janeiro e também no Brasil. Foram convidadas a contar um pouco de sua trajetória na dança e a escolha pelo estilo tribal como forma de expressão e o que isso significava numa época de pouco acesso a internet e quase nenhum recurso para estudar, nem nenhuma grande professora do estilo disponível no Brasil. Foram também convidadas a falar a respeito de assuntos polêmicos do momento, como apropriação cultural, a nomenclatura tribal que está em questionamento internacional e também pontos de vista pessoais sobre racismo e os desafios de artistas negras e de periferia em exercer esta atividade de maneira profissional."


 

"Cada uma das entrevistadas deu sua contribuição ímpar para debates importantes no nosso meio, de acordo com suas experiências: Aline Muhana,  que comigo fez parte do primeiro grupo de estudos em ATS no Brasil, a Tribo Mozuna; Isabel de Lorenzo foi a primeira professora a ensinar ATS no Rio de Janeiro através dos eventos que produzi naquele período; Jessie Ra’idah e Dária Lorena fazem parte de uma segunda geração de dançarinas de tribal que estudaram com as primeiras professoras do Rio de Janeiro e passaram a colaborar profissionalmente com o crescimento da cena dando aula e produzindo eventos.

Os vídeos das entrevistas se encontram disponíveis no meu canal, Nadja El Balady, no Youtube. Planejo um novo ciclo de entrevistas para 2021 convidando outras personagens da história do estilo tribal no Rio de Janeiro para apresentar suas trajetórias, pensamentos e reflexões acerca da nossa cena artística.”

 

As entrevistas foram muito ricas, promoveram importantes reflexões sobre o atual momento do estilo, como também abordaram alguns caminhos trilhados pelo estilo tribal de dança do ventre no Rio de Janeiro, num diálogo muito potente – e necessário – entre passado e presente, pois dentre todos os debates que estão sendo levantados atualmente, se torna claro a urgência de analisarmos os meandros do passado da nossa dança e de suas influências, para entendermos o que somos e queremos hoje enquanto dançarinas de estilo tribal.

Acredito que esse material é muito relevante para comunidade, podendo contribuir para estudos e pesquisas, um meio de partilhar da memória do estilo tribal, além de ser uma forma de conhecermos um pouco mais a carreira e a vida de quatro profissionais inspiradoras que continuam a contribuir muito para o nosso meio.

 

📌 Pra você assistir as entrevistas:

Entrevista com Aline Muhana:


Entrevista com Isabel De Lorenzo:


Entrevista com Jessie Ra'idah:


Entrevista com Dária Lorena:

 

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Resenhando-RJ


Fran Lelis (Volta Redonda-RJ) é professora SEEDUC RJ, especialista em História do Brasil pela UFF, mestra em História pela UFRRJ. Dançarina de Tribal Fusion com registro profissional pelo SPDRJ (DRT:56/032). Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 


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