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[Resenhando-BA] Baladi Congress: O Evento que Projetou a Dança do Ventre da Bahia para o Brasil

 por Camila Saraiva

Cartazes de divulgação das edições de 2013, 2015, 2016, 2017 e 2018.
Fonte: Facebook Baladi Congress


Podemos afirmar que o Baladi Congress é atualmente o maior evento independente de dança do ventre da Bahia, e afirmo isso levando em conta tanto o alcance de público, quanto o destaque na mídia local, bem como a estrutura do evento e a quantidade de profissionais renomados no mercado que participam. O evento vem contribuindo significativamente com a formação de muitos profissionais e estudantes da dança do ventre no estado há dez anos, e é uma vivência intensa e intensiva que proporciona ao seu público uma imersão em um ambiente que transborda paixão pelas danças árabes. Contudo, arrisco dizer que uma das maiores conquistas do Baladi Congress foi projetar a dança do ventre da Bahia para o Brasil afora. 

Nós que atuamos com o estilo tribal, com as fusões, precisamos aproveitar eventos como esse como uma oportunidade de conhecer um pouco mais as danças árabes e o universo das danças do ventre, afinal de contas, as próprias criadoras do estilo tribal americano e do tribal fusion afirmam que são estilizações da dança do ventre. Defendo que uma boa base de dança do ventre, bem como o estudo das danças árabes, é fundamental para quem deseja estudar e atuar com as fusões tribais, até porque essa nomenclatura já está sendo abandonada e o termo Fusion Bellydance (dança do ventre de fusão) vem assegurando e reafirmando a dança do ventre como o centro dessa roda. 

O Baladi Congress (carinhosamente vou apelidar de BC) é realizado pelo Studio Dance Baladi, escola especializada em Danças Árabes e Danças de Salão, e aqui aproveito essa oportunidade para parabenizar a escola pelos seus dezoito anos de vida! A direção do Dance Baladi e do Baladi Congress é do casal Fernanda Guerreiro e André Uzêda.

Workshop com Lukas Oliver (São Paulo) em 2018.

O BC acontece todo ano em Salvador desde 2011, sempre no mês de agosto. Foram nove edições no total, a décima iria acontecer em 2020, mas por causa da pandemia essa edição especial precisou ser adiada. A décima edição já tem data marcada para 2022 e Fernanda Guerreiro adiantou em sua rede social que vai ser uma edição ainda mais especial! Será nos dias 05, 06 e 07 de agosto de 2022 no Quality Hotéis e Suítes São Salvador, e eu já estou me organizando para participar! Simbora?! Se você é também apaixonad@ por dança do ventre, é um evento imperdível, daqueles que recomendo ir pelo menos uma vez na vida para conhecer! Provavelmente depois da primeira vez que participar você vai querer ir de novo!

Fernanda Guerreiro explica que o objetivo, a proposta do evento, é proporcionar conhecimento através de workshops, palestras e cursos com grandes nomes nacionais e internacionais da dança; promover intercâmbio entre os participantes; dar visibilidade à novos talentos; promover momentos de interação e alegria aos participantes e elevar o nome da Bahia no cenário nacional. O evento tem um alcance de aproximadamente mil e quinhentas pessoas nos três dias e propõe em cada edição uma grade de aulas que agrada diferentes perfis e preferências, o que possibilita a participação de um público amplo, com interesses e estilos diversos. No quadro de professores, profissionais reconhecidos na Bahia, no Brasil e até mesmo no cenário internacional da dança do ventre já participaram do evento. O Baladi Congress ganhou duas vezes o prêmio Shimmie de melhor evento de dança do ventre do Brasil, reforçando e reconhecendo a proporção que o evento tomou, resultado do trabalho árduo, sério, competente e dedicado de toda uma equipe de realização e produção.

É uma grande responsabilidade, ao mesmo tempo que uma emoção falar do BC, porque é de fato um evento importante para a cena da dança do ventre na Bahia ao passo que é também um evento importante para mim. Participei da primeira edição do BC, em 2011, e de lá pra cá já participei de várias edições, sempre que posso me inscrevo, faço as aulas, assisto a mostra, o show, e fico babando na feira de exposição que, aliás, é um destaque do evento, oferecendo a oportunidade de adquirirmos itens de dança que dificilmente teríamos acesso. Para mim particularmente, o Baladi Congress é marcante, pois acontece no mês de agosto, que é o mês do meu aniversário e já me dei de presente diversas vezes o pacote de aulas e/ou até mesmo um figurino, um lenço, um véu da feira de exposição. São muitas lembranças de aniversários meus celebrados nesse evento... em uma certa edição um dos dias chegou a cair exatamente no dia do meu aniversário, lembro nitidamente da aula que fiz, foi com Ju Marconato!  O BC foi importante para a minha formação enquanto dançarina e professora de dança do ventre e fusões, mas não somente, nessa trajetória de dez anos fui observando o evento crescendo à medida também que eu fui amadurecendo enquanto profissional e enquanto mulher.

Workshop com Gamal Seif (Egito) em 2019."

E o BC cresceu muito, de maneira rápida! Quando perguntei à Fernanda Guerreiro sobre a evolução do evento, ela me respondeu: “O Baladi cresceu rapidamente e além de qualquer expectativa esperada. Acredito que pela qualidade do evento e pela organização (ouvimos muito isso do nosso público). O Baladi também traz muitos diferenciais do que existe no mercado... preparamos sempre muitas surpresas que acontecem durante todo o Congresso, temos dois estilos específicos e distintos (Danças Árabes e Salão) mas que se complementam (normalmente os eventos com essas modalidades acontecem separadamente), festas cheias de alegria e interação do público.

Falando um pouco da configuração do evento, o BC é um megaevento com vários eventos dentro dele, ao longo dos três dias acontecem workshops, palestras, dois shows, dois bailes, sendo um à fantasia (o Baladi Fantasy), feira de exposição e ainda, um flashmob de dança do ventre que é um show a céu aberto! Para esse evento acontecer é necessário de fato uma organização afiada, e esse é um dos trunfos do BC! Com inúmeros fãs declarados pelo Brasil, o público cativo reconhece a competência e a seriedade da produção, e seus admiradores estão espalhados por todas as regiões do país. O Baladi Congress é uma referência de evento independente de dança do ventre que deu certo e se consolidou no mercado nacional da dança.

Flashmob de Dança do Ventre em 2019.

Foram tantos profissionais renomados que passaram pelo BC ao longo dessas nove edições que eu precisaria escrever um texto à parte para dar conta de mencionar os diversos mestres e mestras da dança do ventre e fusões que ministraram workshops, palestras e dançaram no palco do Baladi Congress. Com todo cuidado e respeito do mundo, vou citar alguns nomes, já de antemão dizendo que muitos profissionais incríveis participaram do evento e não vou conseguir mencionar todes, então meu recorte será com base em minha experiência. Tive a oportunidade de fazer aula no BC com mestres e mestras como Gamal Seif, Lulu Sabongi, Esmeralda, Mahaila El Helwa, Ju Marconato, Kahina, Elis Pinheiro, Dani Nur, Cris Azevêdo, Lis de Castro, Pâmela Cruz, Fernanda Guerreiro....Pude assistir belíssimas apresentações desses professores e professoras e mais tantas danças que levaram ao palco das mostras e dos shows seus estudos e seus trabalhos com aquele entusiasmo de estarem dançando para um público que está ali porque quer muito, porque ama. Essa energia é inexplicável, uma vibração diferente fica no ar quando um evento reúne tantas pessoas que amam dança do ventre, e é isso que o Baladi Congress faz, agrega pessoas diversas com essa paixão em comum.

Como sempre venho afirmando nessa coluna, não é tarefa fácil realizar eventos independentes de dança no Brasil, ainda mais no momento extremamente difícil que estamos (so)brevivendo, com um governo que desqualifica a arte e a cultura sem um mínimo de vergonha.

Convidados do Baladi Congress Dança do Ventre

2019 no Show de Gala.Todas as imagens foram cedidas pela produção.


Então registro aqui, como rito obrigatório nos meus textos, a minha reverência, respeito e admiração ao Baladi Congress por se sustentar e apoiar tantos e tantas profissionais da dança do ventre, fusões e da dança de salão, mesmo diante de adversidades e dificuldades. Quando perguntei como tinha sido ficar sem realizar o BC em 2020 e 2021 por causa da pandemia, Fernanda respondeu: “Foi bem difícil, mas mediante tudo que estava acontecendo no mundo foi a decisão mais acertada. De forma presencial seria uma irresponsabilidade realizar qualquer evento mediante uma pandemia. Optamos em não realizar nem no formato online porque o Baladi é feito de momentos de muita interação do público, uma verdadeira aglomeração de alegria e muita troca, e vimos que o formato online não teria a essência do Baladi Congress.”.

Deixo registrado também meu apoio e admiração por essa decisão e pelo posicionamento firme e sim, politizado, de Fernanda Guerreiro diante da pandemia e dos absurdos do governo atual no Brasil. É preciso ter coragem para se posicionar, para deixar os interesses pessoais de lado e pensar no coletivo, para viver profissionalmente de dança, e ainda mais, de dança do ventre, no Nordeste. A minha reverência à Fernanda e ao seu trabalho que há mais de vinte anos é realizado em Salvador com a dança do ventre. Para finalizar esse texto, deixo as palavras de Fernanda sobre o que é o Baladi Congress para ela: “O Baladi é a realização de um grande sonho de viabilizar conhecimento e trazer visibilidade para a nossa Bahia. Quando comecei a viajar levando minha dança Brasil afora, costumava ouvir bastante a seguinte frase: “Não sabia que tinha Dança do Ventre na Bahia”. Foi algo que me impulsionou ainda mais para tirar esse sonho do papel e mostrar os talentos da nossa terra, assim como a qualidade na produção de eventos.  O Baladi se tornou um filho de uma história de amor e entrega à Dança.”.


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Resenhando-BA


Camila Saraiva (Salvador-BA) é artista da dança, baiana, LGBTQ+. Dançarina, professora e pesquisadora das danças dos ventres e suas fusões na contemporaneidade, com graduação e pós-graduação em Dança na UFBA. Atualmente é doutoranda em Dança pelo PPGDANÇA/UFBA e pesquisa a relação entre danças dos ventres, orientalismo, feminismos e estudos de gênero e sexualidade, numa perspectiva contemporânea.

[Resenhando-BA] Ousadia, Jogo de Cintura e Pé no Chão: Festival Bailares em Feira de Santana

por Camila Saraiva

Repare, se você não conhece o Festival Bailares, pegue a visão! Pense em um projeto corajoso, ousado e revolucionário. Quem conhece o Bailares sabe do que eu tô falando! O Bailares foi idealizado e é produzido pela Trupe Mandhala - grupo de dança étnica contemporânea composto por Andrea Farias, Antonia Lyara, Mary Figuerêdo e Viviane Macedo - com o intuito de incentivar o desenvolvimento das artes na cidade de Feira de Santa – BA. Essas mulheres feirenses retadas fazem acontecer esse grande evento, totalmente gratuito, que envolve em média quinhentas pessoas desde 2012. O festival traz a dança como linguagem primordial, propondo um espaço democrático e motivador da cultura e da cidadania.  Mobilizando artistas e amantes da dança locais, mas também de outras cidades, estados e até mesmo de outras regiões, contribui com a divulgação da dança na cidade e com o envolvimento da comunidade no circuito artístico. Com uma programação de cair o queixo, o Bailares reúne workshops, shows, mostras, palestras, rodas de conversa, vivências, exposições, e campanhas de doações em um só evento! Diga aí se a Trupe Mandhala não joga duro?! Passou batido ou você tá ligad@ que eu falei que o festival é inteiramente gratuito? Pois não durma no ponto, temos muito o que aprender com essas moças que com muito profissionalismo, competência, dedicação, talento e amor realizam um festival de dança que é um exemplo de resistência para nós artistes.



Imagem de divulgação do evento, cedida pela produção.


A cidade de Feira de Santana fica a apenas 115 km de Salvador, em média 1 hora e 30 minutos de carro, porém essa distância é muito maior do que menos de 2 horas de estrada para quem deseja acessar o que uma capital promove no campo da arte e no circuito cultural. Foi com o desejo de facilitar o acesso a eventos culturais e difundir a dança em Feira que a Trupe Mandhala idealizou o Bailares. Com o propósito de união da classe artista, aproximando amantes da dança, a Trupe acredita que todes devem ter o direito de aprender com diferentes profissionais da dança e que artistes diversos precisam de espaço para divulgarem seus trabalhos e terem seus talentos reconhecidos. Para que esse sonho pudesse se concretizar as moças da trupe precisaram ter muito jogo de cintura, afinal não é tarefa fácil conseguir financiamento para realizar um festival de dança, ainda mais em uma cidade do interior. Mas, com o pé no chão, elas conseguiram realizar quatro edições do festival, todas gratuitas, com captação de recursos via patrocínio, através de políticas públicas e privadas. O Bailares foi contemplado por três editais públicos de fomento à cultura e um edital privado também de incentivo à cultura. 


Cartaz de divulgação da primeira edição do Festival Bailares, em 2012. Cedida pela produção.

A produção do Bailares é de tirar o chapéu, reúne artistes não apenas da dança do ventre, do estilo tribal e do fusion bellydance, mas também profissionais de outras linguagens e técnicas de dança. O evento agrega diversos outros estilos e modalidades, como por exemplo dança de salão, dança afro, dança contemporânea, dança moderna, danças populares regionais, danças urbanas, swing baiano, dentre outras. Como já deu pra perceber, a programação de cada edição contou com uma grade bem diversificada de profissionais, os workshops tiveram temas variados, contemplando gostos, aptidões e interesses diferentes. Essa característica de ser um festival democrático, que preza pela diversidade, união e reconhecimento de diferentes estilos e artistes, proporciona à todes os participantes, seja estudante, público, plateia, dançarin@, professor@, uma experiência super rica. E não é só “gogó”, não é da boca pra fora, o Bailares é um evento múltiplo, que respeita e apoia a diversidade. Ao longo dessas quatro edições, que aconteceram em 2012, 2014, 2018 e 2021, ocorreram workshops de dança do ventre, tribal fusion, indian fusion, tribal brasil, tribal ragga jam, tribal afro urbano, popping no tribal fusion, flamenco árabe, waack fusion, vogue, stiletto, twerk, dança afro, kuduro, pagotech, street jazz, balé, dança moderna, dança contemporânea, dança de salão, quizomba, zouk, expressão corporal, condicionamento físico para dançarinos e etc. Pire aí com tantos estilos variados! É um ambiente muito propício para experimentar possibilidades de fusões com dança do ventre! Pra quem curte fusões, hibridações, contaminações, influências de outras danças, vivenciar um evento como esse é um grande laboratório. Em outras palavras, é babado!


Programação da segunda edição do Festival Bailares, em 2014. Cedida pela produção.

Só pra você não ficar por fora, dá um saque em alguns nomes de artistes da dança do ventre e fusion que passaram por essas quatro edições do Bailares dando aulas e/ou dançando: Fernanda Guerreiro, Angela Cheirosa, Janah Ferreira, Bela Saffe, Joline Andrade, Kilma Farias, Lukas Oliver, Caique Melo, Mel Brevilliere, Gilmara Cruz, Mitsuyana Matsuno, Sidinha Damasceno, Heron dos Anjos, Verônica Vanessa, Priscila Sodré, Camila Saraiva, Lais Amorim, Jessie Raidah, Raíssa Medeiros e a Trupe Mandhala, que além de produzir o festival, oferece aulas e prepara performances para os shows e mostras. Foram tantos profissionais incríveis que participaram do festival nesses anos que não daria para citar todes, listei aqui apenas alguns da dança do ventre e fusões, mas você pode conferir mais informações, bem como os temas das aulas e as apresentações ao final desse texto nas referências.

 

E falando em ser um evento múltiplo, vou largar o doce, eu mesma nunca vi um festival gratuito na nossa área com tantas atividades diferentes. Entre 2012 e 2021 (no formato online), já rolaram palestras, rodas de conversa, oficinas, workshops, shows, mostras, exposições e até campanhas para arrecadação de alimentos e de apoio a abrigos de animais. O Bailares vem ocupando diferentes espaços na cidade, teatros diversos e outros equipamentos culturais como o MAC – Museu de Arte Contemporânea Raimundo de Oliveira com palestra sobre Empoderamento Feminino com Angela Cheirosa e roda de conversa sobre Políticas Públicas voltadas para a Dança. Ocupou também lugares como o CRAS - Centro de Referência em Assistência Social de Feira de Santana, com vivências em dança do ventre em duas edições, uma com Mel Brevilliere e outra com Angela Cheirosa

 

Cartaz de divulgação da terceira edição do Festival Bailares, em 2018. Cedida pela produção.


 

Além dos shows e mostras específicas de cada edição, o festival também recebeu espetáculos que foram apresentados para toda a comunidade gratuitamente dentro da programação. O Balé do Teatro Castro Alves – BTCA (Salvador-BA) apresentou o espetáculo Delirium na segunda edição do festival. Em 2014 o Bailares também recebeu o espetáculo Feminino Plural da artista Kilma Farias (João Pessoa-PB). Na terceira edição, em 2018, o evento recebeu o espetáculo Cy Deusas da Própria História, dirigido pela artista Antonia Lyara, integrante da Trupe. Massa né? Essas moças brocam!

 

A edição mais recente do Festival Bailares foi em 2021, e por causa da pandemia do Covid-19 foi em um formato totalmente online. Os workshops aconteceram via plataforma Zoom e as apresentações do show e da mostra foram transmitidas ao vivo pelo Youtube. Você pode assistir a todas as performances dessa quarta edição no canal do Youtube Trupe Mandhala Oficial, bem como outros registros e vídeos na íntegra de performances de outras edições. Não deixe de acompanhar as redes sociais da Trupe e do Bailares no Instagram e no Facebook e fique por dentro, apoie e valorize iniciativas brilhantes como essa do festival. Veja também algumas divulgações nas mídias locais nas referências desse texto. Não dê mole, na próxima edição chegue junto e participe! Namoral, se eu fosse você, eu não perdia mais nenhuma edição! Falo por experiência própria, participei das duas últimas edições, conheço o trabalho da Trupe e fecho com elas, recomendo com orgulho! Elas me conquistaram desde a primeira vez que as assisti dançando, fiquei encantada. O apelido da cidade de Feira de Santana é “Princesa do Sertão”, e a Trupe Mandhala é majestade na produção cultural da cidade, merece toda a reverência. 

 

Cartaz de divulgação da quarta edição do Festival Bailares, em 2021 (Online). Cedida pela produção.

 

 

Referências:

 

http://bailaresfsa.blogspot.com.br/

Matéria TV UEFS: https://www.youtube.com/watch?v=8akEmIogS80

@bailaresfestival

@trupemandhalaoficial

Facebook Bailares

Canal do Youtube Trupe Mandhala Oficial

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Resenhando-BA


Camila Saraiva (Salvador-BA) é artista da dança, baiana, LGBTQ+. Dançarina, professora e pesquisadora das danças dos ventres e suas fusões na contemporaneidade, com graduação e pós-graduação em Dança na UFBA. Atualmente é doutoranda em Dança pelo PPGDANÇA/UFBA e pesquisa a relação entre danças dos ventres, orientalismo, feminismos e estudos de gênero e sexualidade, numa perspectiva contemporânea.


[Resenhando-BA] Festival Tribal Spin: Tecendo uma Teia em Arabesco

 por Camila Saraiva

Imagem de divulgação do evento, cedida pela produção


Quando uma mulher abre a roda, o círculo se fortalece, e tod@s giram. O Tribal Spin é um festival que acontece em Salvador – Bahia desde 2016 e foi idealizado pela professora, dançarina e coreógrafa Bela Saffe. Em parceria com a também dançarina, professora e coreógrafa Priscila Sodré na produção e realização - especialmente nas duas primeiras edições - o festival é um dos eventos mais importantes da Bahia, ao todo foram quatro edições (que ocorreram antes da pandemia do Covid-19). O Tribal Spin é um evento múltiplo, sua configuração mista composta por Mostra, Show, Workshops e até mesmo Palestras, confere ao festival uma potência de diversidade, acolhendo e apresentando diferentes propostas, espaços, discussões e artistas.

Para Bela Saffe o festival é uma continuação das ações que ela vem desenvolvendo ao longo de sua carreira, desde a sua participação na Caravana Tribal Nordeste, no Tribal Remix e em outros eventos que ela realizou anteriormente na Bahia. Em suas próprias palavras: “A ideia principal do Tribal Spin é fazer circular, é fazer os grupos se movimentarem, produzirem, criarem coreografias, fazerem aulas, se reciclarem, as professoras darem aula, terem mais visibilidade...deixar a dança viva! ” 

De fato, o festival é um acontecimento que faz as danças dos ventres, tribal, fusion (como queiramos chamar), girarem em Salvador nos últimos anos, proporcionando uma oportunidade de reunir amantes dessas danças para estudar, discutir, trocar e se apresentarem em um ambiente de acolhimento e respeito. É um evento bastante significativo, que vem promovendo maior visibilidade no campo para a Bahia, e para o Nordeste. Nos últimos anos foi o único evento específico de Tribal em Salvador de grande porte que tinha como uma das propostas uma Mostra, onde qualquer artista podia se inscrever e apresentar seu trabalho, sem necessitar de um convite para participar. As Mostras de Dança são de fundamental importância para oportunizar que estudantes, artistas marginais e até mesmo profissionais conhecidos apresentem suas criações numa atmosfera de experimentação e compartilhamento de ideias e processos em maturação. 

A riqueza de participantes tanto nas Mostras quanto nos Shows é realmente algo a se destacar! Artistas, estudantes e profissionais apresentaram danças diversas ao longo dessas quatro edições, escancarando como podemos ser tão bel@s, impactantes, potentes, criativos e diferentes ao mesmo tempo, no mesmo espaço, convivendo, coexistindo.


Show do Festival Tribal Spin 2018 no Teatro Sesc Pelourinho. Artista convidada: Piny Orchidaceae. Foto: Adeloyá Magnoni.


Em 2016 o festival começou com o foco numa escala local, as professoras convidadas foram profissionais residentes em Salvador:  Bela Saffe, Priscila Sodré, Adriana Munford e Karina Leiro. A roda foi crescendo e em 2017 as professoras convidadas foram Tamyris Farias (Recife - PE), Bia Vasconcelos (Feira de Santana – BA), Bela Saffe, Priscila Sodré e Karina Leiro, além da palestrante Carla Roanita (Salvador –BA) que apresentou a sua pesquisa de mestrado em dança, mais especificamente dança tribal fusion, no evento. Em 2018 o festival contou com a presença da convidada Piny Orchidaceae (Portugal). Em 2019 quatro profissionais internacionais participaram do festival como convidadas: Amy Sigil (Estados Unidos), Isabel de Lorenzo (Brasil/Itália), Kimberly Larkspur (Estados Unidos) e Catherine Taylor (Inglaterra). Em termos de participantes e inscrições o evento foi crescendo aos poucos, mobilizando cada vez mais artistas locais, mas não apenas. Nas últimas edições participantes de diferentes estados do Nordeste compareceram ao evento, até mesmo alguns participantes da região Sudeste do Brasil. 

Ciclo de Workshops do Festival Tribal Spin 2019 na Escola Contemporânea de Dança. Artistas convidadas: Amy Sigil, Isabel de Lorenzo, Kimberly Larkspur e Catherine Taylor. Foto: acervo da produção.


Mostra do Festival Tribal Spin 2019 no Teatro Sesc Pelourinho. Foto: Adeloyá Magnoni. 


O Tribal Spin foi tema da pesquisa de monografia de Priscila Sodré na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia onde descreve mais especificamente as etapas de produção da segunda edição do festival. Ela destaca em seu texto que as expectativas de produção foram superadas com relação a adesão da comunidade ao evento, isso lá em 2017: “Para a Mostra de danças foram registradas 21 inscrições, superando as expectativas e fazendo com que a produção ampliasse o número de vagas, incluindo todos os inscritos. Já as inscrições para as aulas de dança corresponderam a 84 vagas ocupadas.” (P.16). O número total de pessoas pagantes que compareceram aos shows foi de 197.

Show do Festival Tribal Spin 2017 no Teatro Molière. Foto: acervo da produção.

Produzir eventos, festivais de dança no Brasil, no Nordeste, na Bahia, de maneira autônoma, não é tarefa fácil, pelo contrário, é um grande desafio. Ressalto aqui a importância de valorizar e reconhecer as pessoas que corajosamente se colocam nesse árduo lugar da produção sem nenhum tipo de apoio financeiro, fomentando a cena, a formação e a produção artística na dança. Expresso aqui a minha gratidão enquanto artista baiana à Bela Saffe, essa mulher retada, pioneira na dança do ventre e no tribal fusion na Bahia que vem abrindo a roda, e tecendo essa teia em arabesco ao longo dos seus mais de vinte e cinco anos de carreira.

Fiquemos atent@s para como os eventos são realizados. A maneira como realizamos um evento acarreta em impactos em toda a comunidade da dança. Não precisa existir um modo único, padronizado, de realizar festivais e eventos, como não existe um modo único de dançar dança do ventre, tribal, fusion. A maneira como fazemos algo pode fazer toda a diferença na vida de outras pessoas, podemos vivificar outras existências quando escolhemos realizar algo de determinada maneira, ou não. E foi isso que pude perceber no Festival Tribal Spin, existências diversas convivendo e sendo vivificadas. "Enquanto que a maneira, de manus, pensa a existência a partir do gesto, da forma tomada pelos seres quando aparecem. Um modo limita uma potência do existir enquanto que a maneira revela a forma do existir, a linha, a curvatura singular, e assim mostra uma arte." (LAPOUJADE, 2017).

Portanto, devemos considerar cada um desses modos como uma arte de existir, esse é o interesse de um pensamento do modo como tal. O modo não é uma existência, mas a maneira de fazer existir um ser em um determinado plano. É um gesto, cada existência provém de um gesto que o instaura, de um arabesco que determina que será tal coisa. Esse gesto não emana de um criador qualquer, é imanente à própria existência. (LAPOUJADE, 2017, p. 14 e 15).


REFERÊNCIAS:

LAPOUJADE, David. As existências mínimas. N-1 Edições. São Paulo, 2017. SODRÉ, Priscila. Tribal Spin Festival. Trabalho de conclusão de curso apresentado à Faculdade de Comunicação como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação com Habilitação em Produção em Comunicação e Cultura, na Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2018.

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Resenhando-BA


Camila Saraiva (Salvador-BA) é artista da dança, baiana, LGBTQ+. Dançarina, professora e pesquisadora das danças dos ventres e suas fusões na contemporaneidade, com graduação e pós-graduação em Dança na UFBA. Atualmente é doutoranda em Dança pelo PPGDANÇA/UFBA e pesquisa a relação entre danças dos ventres, orientalismo, feminismos e estudos de gênero e sexualidade, numa perspectiva contemporânea.

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Resenhando-BA por Camila Saraiva

 Coordenação Região Nordeste - Núcleo Bahia:


Camila Saraiva é artista da dança, nordestina, LGBTQ+. Dançarina, professora e pesquisadora das danças dos ventres e suas fusões na contemporaneidade, com graduação em Dança e em Biologia na Universidade Federal da Bahia (UFBA). É pós-graduada em Ecologia (Mestrado) e em Estudos Contemporâneos em Dança (Especialização) também pela UFBA. Atualmente é doutoranda em Dança pelo PPGDANÇA/UFBA e pesquisa a relação entre danças dos ventres, orientalismo, feminismos e estudos de gênero e sexualidade, numa perspectiva contemporânea. Natural de Salvador-BA, já morou em Petrolina-PE e atualmente reside em João Pessoa-PB, provisoriamente. Amante das danças dos ventres, se encanta com suas múltiplas e diversas possibilidades de fusões, de hibridações, e de existências. Começou pelas danças árabes há quinze anos e de lá pra cá vem estudando Tribal Fusion, ATS/FCBD, Indian Fusion, Flamenco, Dança Moderna, Técnica Silvestre, dentre outras danças. Seu interesse é por investigar abordagens, configurações contemporâneas para as danças dos ventres e seus fazeres artísticos-pedagógicos, tendo em consideração as implicações biopolíticas dessas práticas nas vidas de diversas mulheres e de pessoas LGBTQ+. 



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[Resenhando - BA] V Dramofone - Espetáculo de Dança Tribal e outras hibridações

por Mariana Braga Figuerêdo
Salvador, Bahia - Brasil

Cartaz de divulgação
No dia 5 de Julho de 2015 aconteceu mais uma edição do espetáculo Dramofone, a segunda edição realizada neste ano, que tem direção da professora e bailarina Joline Andrade.

´O espetáculo DRAMOFONE leva a uma imersão em universos exóticos e híbridos, através da dança e música étnica e contemporânea, permeando por uma estética antique/retrô´, já começando pelo título do espetáculo, inspirado no Gramofone, uma invenção de 1887.

O espetáculo, sempre realizado em salvador com início em 2013, aconteceu no Espaço Xisto Bahia, e trouxe nesta edição a apresentação das alunas de turma iniciante e intermediária de Joline, apresentação das coreografias criadas para o encerramento do Curso de Formação em Tribal Fusion com Joline Andrade deste ano, e teve como convidado especial a Trupe Mandhala, grupo que eu faço parte.

Roteiro das apresentações
O legal de toda edição do Dramofone é que vemos não só bailarinos, mas também ocorrem apresentações de poetas, atores, cantores, tem música ao vivo, e há uma fusão linda de tudo com o universo da Dança Tribal. É uma troca muito boa de experiências, de conhecimentos, de visões de mundo.

Como de costume, todo mundo chegou mais cedo para passar palco e conseguimos assistir a de quase todos. É no ensaio que geralmente a gente consegue isso porque durante o espetáculo em si nem sempre dá pra assistir todo mundo por conta da correria, troca de figurino e tudo mais (é assim em todo lugar rs). Fiquei feliz de ter assistido a dos demais no ensaio, pois todos foram bem criativos em seus temas. Mais abaixo vou fazer um apanhado geral sobre o que cada um trabalhou em suas coreografias. Quando a gente se deu conta já estava pertinho do espetáculo começar e aí é correr pra se arrumar a tempo e ainda fazer um pouquinho de resenha no camarim, claro! Como de costume, antes do público entrar a Joline convida a todos os artistas para uma grande roda para fazer uma dinâmica meio oração para trazer bons fluidos para a apresentação a seguir.

A casa estava cheia, mas com um público super educado. Não teve barulho, conversa alheia nem celular. Eram só olhos focados no palco para absorver tudo que seria apresentado.

Nós da Trupe fizemos a abertura com a coreografia Volante Tribal, um trabalho lindo de Tribal Brasil.


Trupe Mandhala – coreografia Volante Tribal


A gente já dançou essa coreo com a Kilma Farias no Bailares aqui em Feira de Santana, já dançamos ela em quarteto, até em trio, mas no Dramofone a gente levou uma versão super completa com 7 pessoas no elenco. Uma das apresentações mais lindas desta coreo.

Release: Entre Águias e Gaviões, falcões e Caracarás, espalharam-se pelos sertões adentro, exploradores e percussores de um mito de coragem com aspas ao medo, onde a fome e a seca eram misturadas entre ritmos de passos de alpercatas e tiros, onde se foi intitulado de Volante um exército de justiça pelas próprias mãos nem sempre justas, onde adereços se mesclando com cheiros e cores, tornaram a nossa história atrativa para todo o mundo. Pelas mãos e voz de Bruno Bezerra, artista local da cidade de Feira de Santana, a Trupe Mandhala apresenta o formato da Volante do Tribal, um segmento que representa de uma forma contemporânea uma colagem com estilos de danças populares regionais, com movimentações características do xaxado original, baião e tribal fusion. Uma visão arrebatadora da força que existe em cada um dos nordestinos pela dança que sempre a homenageia com maestria.

Como nesta edição fomos as convidadas especiais, levamos 4 coreografias, além do duo meu e de Vika que foi do encerramento do Curso de Formação em Tribal. Já que comecei com a Trupe, vou falar logo sobre as demais coreos que levamos e depois falarei sobre as outras apresentações da noite.

Outra coreo de grupo que levamos foi a Oráculo de Delfos, quem tem uma temática, música e ambientação bem diferente da Volante.


Trupe Mandhala – coreografia Oráculo de Delfos


Gente, eu AMO todas as coreos da Trupe, mas essa é especial, sempre me deixa arrepiada por tudo que ela é. A coreografia é inspirada na história deste Oráculo situado em Delfos, na Grécia. Havia lá um templo consagrado a Apolo, onde a sacerdotisa Pítia tinha visões e apresentava profecias em total estado de transe (alguns dizem que este transe era provocado por vapores que subiam de uma fenda no rochedo onde o templo havia sido construído). Trouxemos então alguns personagens que representam estas visões, que são delírios de uma sociedade doente, com variados transtornos mentais, e apenas Pítia, a personagem principal vê, e interage com eles. A partir desta explicação, assistir o vídeo vai ter um significado todo especial agora. Outra coisa que adoro é a música, ou melhor, as músicas. A principal é "Aerials" do System of a Down, e a introdução é uma mixagem com vários trechos de músicas de Marilyn Manson e Mike Patton montada por mim. A ideia da música, do figurino e de toda a ambientação é trazer um clima de terror, de pânico, de loucura. E eu que amo essas bandas, o estilo, o terror, fiquei imensamente satisfeita. :D


Trupe Mandhala – solo Viviane Macedo

Esta coreo, criada por Lyara e por Vika, foi inspirada no mito das fiandeiras do destino, ou Moiras. Na mitologia grega, as Moiras eram as três irmãs que determinavam o destino, tanto dos deuses, quanto dos seres humanos. Eram três mulheres lúgubres, responsáveis por fabricar, tecer e cortar aquilo que seria o fio da vida de todos os indivíduos. As Moiras eram: - Cloto (significa "fiar") - segurava o fuso e tecia o fio da vida e atuava como deusa dos nascimentos e partos; - Láquesis (significa "sortear") - puxava e enrolava o fio tecido, e atuava sorteando o quinhão de atribuições que se ganhava em vida; - Átropos (significa "afastar") - cortava o fio da vida, determinando o seu fim.
Vika então neste solo representa a primeira fiandeira, segurando o fuso e tecendo o fio da vida de Sofia, que está em seu ventre e vai nascer em breve.


Trupe Mandhala – Duo Mary Figuerêdo e Viviane Macedo

Este duo foi nosso trabalho de encerramento para o Curso de Formação em Tribal e o tema que escolhemos foi o Urban Tribal. Começamos com a inspiração na Dança de Rua, nas batalhas de Freestyle onde um grupo de dançarinos se reúnem para verem seus colegas mostrarem suas habilidades nas mais variadas técnicas de dança através da improvisação. É comum estes dançarinos ´´tirarem onda´´, fazendo gracinhas para seus rivais, e foi aqui que buscamos trabalhar a nossa expressividade através de brincadeiras onde uma fica desafiando a outra a mostrar sua melhor técnica, mas também trazendo momentos em que as duas se unem, mostrando que na dança, o importante acima de tudo é a união.

Trupe Mandhala – coreografia Makeda – A Rainha de Sabá
Infelizmente devido a um problema técnico não houve vídeo desta coreo, mas ela pode ser vista no youtube, basta colocar na pesquisa o nome acima.

´´A Rainha de Sabá, conhecida entre os povos etíopes como "Makeda", que recebeu diferentes nomes ao longo dos tempos, foi uma célebre soberana do antigo Reino de Sabá (Etiópia). Ao som de Baiana System, na música Pangeia que explora a guitarra baiana e conta a história de Makeda, Lyara inova trabalhando com a linguagem de sinais e movimentos de danças populares realizados de forma diferente do tradicional, tudo muito lento e pausado. Uma delícia de assistir, até porque Lyu arrasa #agenteéfã

Agora voltando para as apresentações das alunas de Jo e das alunas do Curso de Formação, como eu disse lá em cima, todo mundo foi bem criativo explorando temas inusitados.

Tatiane Cassiano trabalhou o tema Stiletto Fusion dançando tribal com um saltão agulha lindamente na cara da sociedade (invejinha, meu joelho podre não aguenta muita coisa de salto).


Luciana Carvalho fez uma coreo inspirada nos movimentos dos felinos. 



Tatiana Freitas fez um solo incluindo posições de yoga no início (é o yoga dominando o tribal no Brasil também) com uma música linda da banda The XX chamada "Tides".

Isadora Moraes trabalhou o tema Dança Dramática, com referência ao Butoh no figurino ao dançar com o corpo todo pintado de branco, e realizou uma experimentação com um tipo de véu wing estilizado, que ela mesma fez, inspirado no figurino de La Serpetine Danse. De acordo com ela, as asas entraram para provocar a sensação de morte e de plenitude, e houve também a influência da Dança Indiana, pois ela conta no solo a história da tentação de Buda através de Yasodhara, que dança como um fantasma que faz uma dança de amor e saudade para o príncipe que ela tanto amou e esperou (Sidartha), mas ele está no caminho da mortificação e ela fica viúva. A dança dela é descrita então como uma dança lânguida, aquática e singela, porém com a energia da lótus (fertilidade). Foi um solo com uma pegada totalmente contemporânea.



Ia Santanche é a mulher das onomatopeias, da expressividade, do yoga, da natureza zen, do teatro, do sorriso solto, do cabelo enorme e laranja, como se estivesse em chamas. Eu particularmente adoro a Ia, me parece sempre uma pessoa muito sincera, alegre, e adoro o fato de ela parecer nunca ´´estar nem aí´´ para nada. Ela não se importa que começou a estudar Tribal agora, ela não tem medo de fazer feio, ela só quer ir lá e mostrar toda essa energia e amor que ela tem pela arte.

A performance super teatral dela se chama Garuda, uma figura mitológica presente nos mitos do hinduísmo, originariamente uma águia. Pássaro solar brilhante como o fogo, é a montaria do deus Vishnu, que é ele próprio de natureza solar. Garuda é também a palavra alada, o triplo Veda, um símbolo do verbo, ou seja, o mesmo que a águia representa na iconografia cristã. Deste mito ela se inspirou para o figurino, e o vôo inspirou sua locomoção no espaço, ela utiliza toda a área da plateia e do palco, correndo entre os espectadores proferindo versos adaptados do "Cântigo Negro" de José Régio. Ela comentou que já tinha esta performance, e aí ela tribalizou o figurino, colocando cores, se inspirando também em Bethânia no Doces Bárbaros, usou postura de yoga e focou nos braços para enfatizar a dramaticidade de suas palavras. Ia me contou que quis aprender Tribal para ampliar o vocabulário gestual dela, focando nas performances do evento Dominicaos, e que com o tempo ela percebeu que os movimentos do Tribal serviam para ampliar a voz também. E eu acho que Garuda reúne isso que ela vem aprendendo.

Texto completo Cântigo Negro - http://www.releituras.com/jregio_cantico.asp

Mariana Noronha inovou ao trazer o músico Leonardo Ogando que tocou Didjeridoo no palco (lindo demais aquilo gente) enquanto ela dançava.  Didgeridoo, ou Didjeridu, é um instrumento de sopro típico dos aborígenes australianos. Ele também tocou pau-de-chuva, clave e chocalhos numa apresentação agradável e poderosa, que deu toda uma atmosfera praticamente mágica à apresentação da Mariana. Parecia que estávamos sendo transportados a algum lugar ancestral, tivemos algumas visões, e depois fomos trazidos de volta.


Cibele Aguiar trabalhou o tema Afro Fusion fazendo uma homenagem à água, onde se inspirou nas lendas de Oxum e de Iemanjá para criar a seguinte história - Diz a lenda que Oxum é a responsável por encher os rios, daí a Cibele pensou como seria se Oxum um dia fizesse greve. Os rios começariam a esvaziar, chegando as águas escassas no mar. Iemanjá vendo isto, resolve ela mesma fazer o serviço, tomando o vaso mágico de Oxum. Mas como o vaso não era dela, foi necessário que Iemanjá fizesse um ritual para poder usar o vaso, e é este ritual que a Cibele apresentou em sua coreografia; Viviane e eu escolhemos o tema Urban Tribal (que já expliquei lá em cima na parte da Trupe); entre outras meninas, algumas que não puderam se apresentar.

Das alunas de Jo, além das que participaram do Curso de Formação, teve apresentação de 3 coreos de grupo,  duas de turmas iniciantes e uma da turma intermediária,  e alguns solos, incluindo outro solo da Tatiana e solo de Ana Caroline Antunes toda uma indiana com um cabelão lindo e movimentos precisos.

Turma Intermediária de Joline (coreografia inspirada em Mardi Love):



Ana Carolina Antunes:


Turma Iniciante 2 de Joline:


A noite foi linda como devida ser. E terá outra edição do Dramofone ainda este ano. Apesar de eu estar no dia recém saída da chicungunya, dei o melhor de mim e fiz o que pude dentro das possibilidades. Fique muito feliz em participar de mais uma edição do Dramofone (a Trupe participa desde a primeira edição se não me engano), e é sempre bom ter a oportunidade e o espaço para mostrar nosso trabalho em Salvador. Obrigada Jo, e vida longa ao Dramofone!!!
Lilililililili 
Foto final com todo elenco

Assista todos os vídeos do V Dramofone:


Confira as fotos e vídeos das edições anteriores http://www.jolineandrade.com/#!dramofonefestival/c1llo

Fique por dentro das notícias das próximas edições curtindo a Fanpage do evento 

´´O Dramofone é um espaço de experimentação onde diversos multiartistas (dançarinos, músicos, atores, poetas e cantores) já fizeram pesquisas de hibridação com a dança tribal.´´ - Joline Andrade




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