Mostrando postagens com marcador Resenha_Internacional. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Resenha_Internacional. Mostrar todas as postagens

[Danças & Andanças] DaturaCon: O acampamento de verão para professores do Datura Style™

por Mimi Coelho



Em julho do ano passado (2017), durante minhas aventuras pelo mundão da dança, ingressei nesta experiência fantástica e tão comum para os americanos: o “Summer Camp” (acampamento de verão). Para ser mais específica, neste caso foi um “Dance Summer Camp”, organizado por Rachel Brice e direcionado aos seus professores certificados do Datura Style . E eu pergunto: Qual a melhor maneira de refinar a técnica da dança e de praticar o improviso do Datura Style™ senão em uma grande reunião da comunidade, em meio à natureza, enriquecida por bons momentos com “Bonfires e S’mores” (fogueiras e biscoitos recheados com marshmallows assados no fogo e chocolate)? Se você se interessou em saber mais sobre o que pode seguir depois das quatro fases dos 8 Elements de Rachel Brice, vem comigo que eu vou contar os detalhes desta vivência super especial!



O evento aconteceu no aconchegante e encantador Sou’Western, que fica em Seaview, há duas horas e meia de Portland, bem na costa de Washington. O lugar é impressionante! Nele há a oferta de várias opções de alojamento para todos os gostos e disposições. É uma mistura fascinante de diversos tipos de estadia: quartos tradicionais, cabines privadas do tipo bangalôs, mini suítes, espaços abertos para acampamento em barracas e trailers de viagens antigos. O local ainda ostenta uma combinação de paisagens naturais belíssima e a poucos metros de distância. A depender da direção em que caminha, você pode encontrar a praia linda e praticamente deserta ou maravilhosas trilhas de matas naturais. 


Logo no primeiro momento, ficamos deslumbradas com a exuberância do local e claro, entusiasmadas com os nossos trailers “vintages”, que são realmente uma graça! Tive o imenso prazer de dividir uma dessas preciosidades com a minha grande amiga Chandala Snow-Chiva. Desfrutamos de momentos divertidíssimos em nosso trailer que tinha sala, cozinha, quarto e um pequeno banheiro com chuveiro e tudo! Além disso, em nosso “Blue Flamingos” havia um área externa com lugar para se fazer fogueira e ali realizamos nosso primeiro encontro para contos de terror (sim, a família dos 8 Elements e a nossa mestra Rachel Brice dividimos histórias horripilantes ao redor do fogo! – assunto que guardarei para uma próxima oportunidade, pois daria outro artigo). 


No primeiro dia, depois de nos alojarmos propriamente, pudemos desfrutar de uma visita em grupo às lojas de antiguidades locais e procurar pelos ditos tesouros para ornamentação própria, de figurinos, de studios de dança e de casa. Apesar de não ser uma experiência comum, é como um laboratório de estudo sobre criatividade. Aprendi muito ao observar como cada uma percebia o valor do significado de objetos/adornos de forma diferente, visualizando possibilidades múltiplas para a utilização dos mesmos. 

Após uma tarde entre belezas antigas e processo criativo, reunimos à noite para a tão esperada sessão de perguntas e respostas com a nossa mestra Rachel Brice. Fomos orientadas a formular perguntas que abordassem o Datura Style (método e vocabulário), bem como o ensino de dança, a administração de estúdios, carreiras profissionais em dança e outros assuntos relacionados. Este foi um momento de introdução oficial ao “Dance Summer Camp”, onde trocamos experiências, resolvemos questões e nos preparamos para todo o treinamento prático dos dias seguintes. A proximidade e abertura por parte da Rachel Brice neste encontro foram tocantes. Ela se colocou a nossa disposição não somente para resolver as dúvidas, mas também se abriu para sugestões e ideias apresentadas pelo seu grupo de professores. Houve também a apresentação oficial do primeiro livro brochura dos 8 Elements, o qual aborda todas as quatro fases. A emoção foi forte ao segurar este volume recheado de informações e conhecimentos que fazem do programa uma experiência transformadora.


Os dias seguintes foram preenchidos por um intenso trabalho de refinamento da técnica e prática de improviso utilizando-se o vocabulário de movimentos e passos do Datura Style™. Durante o treinamento técnico, tivemos tempo para corrigir e entender como repassar em aula as particularidades da movimentação em geral. Foi um trabalho de colaboração e esclarecimentos fundamental à uma reciclagem de conhecimentos dos professores do estilo.



Daí vocês me questionam: "Okay Mimi, entendemos que vocês se encontraram para refinar todas as informações e conhecimentos técnicos sobre o Datura Style™, mas como é o método utilizado para o desenvolvimento do estilo em aula?"

Rachel Brice desenvolveu um método, ao longo da concepção do programa 8 Elements, com o objetivo de garantir e melhorar a técnica de dança, os famosos “Studies”.  Eles são exercícios que combinam o treinamento usando intervalos de tempo, a musicalidade (incluindo o uso de zills – snujs), os isolamentos específicos, os padrões de braços e os deslocamentos. Eu sempre faço uma correspondência destes com a “barra” da aula de ballet clássico. Seriam todas as partes isoladas de movimentos corporais que necessitam de coordenação, força, limpeza e precisão. Por serem diretos, práticos e eficientes, tenho uma adoração especial pelos “Studies”. Em seguida, passamos para a prática dos movimentos e dos passos que formam o vocabulário (na minha associação, o centro da aula de ballet clássico). Após o trabalho físico focado exclusivamente no aprimoramento da técnica, eles entram para compor a parte dançante e criativa do estilo. Assim como no ATS®, estas combinações (“combos”) possuem senha para facilitar o improviso dançado em grupo. 

Neste primeiro Datura Con, toda essa prática intensa da técnica e das combinações teve a duração de 3 a 4 horas por dia. Logo após isso, fazíamos uma pausa de uma hora para o almoço, momento em que nos sentávamos à longa mesa de madeira no centro do acampamento e confraternizávamos. O mais tocante dessa experiência foi a proximidade e o espírito de colaboração do grupo, a troca era constante e sobre todos os tipos de assuntos. O crescimento não para em oportunidades como essa.





Outro grande foco do “Dance Summer Camp” era a oportunidade de se praticar o improviso em grupo do estilo com seus colegas-professores. Assim, mais 3 horas de cada dia eram desfrutadas em sala de aula, exercitando nossas habilidades em improviso de grupo dentro da técnica Datura Style™


Ao fim de quatro dias, encerramos essa vivência tão enriquecedora com uma grande fogueira na praia. Dançamos ao redor do fogo, apreciamos os tão aclamados “S’mores” (sanduíches feitos de biscoito recheados com chocolate e marshmallows assados no fogo), assistimos o pôr do sol e nos despedimos desses momentos de troca, inspiração e nutrição de conhecimentos.







[Danças & Andanças] Dancecraft: O Formato Zoe Jakes de Dança

por Mimi Coelho

Em maio de 2017 tive a grande oportunidade de vivenciar dias intensos de estudo e prática de dança com uma de nossas grandes referências do Tribal Fusion Bellydance, Zoe Jakes. Essa foi mais uma de minhas aventuras como bailarina estudante, a qual me rendeu momentos incríveis ao lado de pessoas maravilhosas com inúmeros desafios físicos e mentais para fortalecer a postura resiliente que a vida de dança nos exige, como bem sabemos. Tive a grande oportunidade de fazer os dois níveis do Dancecraft seguidos, devido ao meu esforço concentrado para passar nos testes do primeiro nível (que não foram nada fáceis), e o direito a uma bolsa de estudos oferecida por minha amiga da dança Lesley Inman (que, infelizmente, devido a uma lesão não pôde comparecer ao curso). Muitas bênçãos podem ocorrer pelos caminhos de quem dança se nos abrirmos para as lindas amizades que se apresentam por eles, mas isso é uma conversa para outro artigo!

Se você admira a Zoe como uma grande performer e a tem como inspiração técnica e artística o Dancecraft é certamente o investimento ideal dentre os programas atualmente oferecidos. O objetivo deste artigo é lhes oferecer um panorama deste formato, esclarecendo sobre a abordagem de dança e o estilo de ensino que ele envolve. Vem comigo?


________________________________________
[1] Para maiores esclarecimentos acesse http://zoejakes.com/dancecraft/ .



Dancecraft: Um programa de desafios

Desde o princípio Zoe esclarece que o que ela ensina em seu programa constitui sua visão e versão de Tribal Fusion Bellydance, o que implica que outras diversas formas abordadas por diferentes profissionais desse estilo não são cobertas em seu curso. Ela nos oferece uma vivência que constitui o resultado de todas as suas experiências e descobertas ao longo de sua carreira em forma de dança.

O formato Dancecraft, sem dúvidas, desafia os dançarinos em suas habilidades físicas e mentais e traz como foco principal o estilo de dança apresentado em palco pela Zoe. Os alunos devem estar preparados para intensas práticas físicas por horas seguidas (normalmente são 3 horas antes do almoço e 3 horas após o mesmo), com pequenas pausas entre exercícios para água, “belisquetes” e banheiro. São trabalhados força muscular, flexibilidade, estamina, técnica, musicalidade, coreografia, pensamento crítico, análise criativa, trabalho em grupo, história da dança do ventre e criatividade.

Neste momento você deve estar se questionando: “Ah, okay Mimi, mas como assim 3 horas seguidas de prática? É como uma aula normal de dança do ventre onde se explicam os exercícios e depois os executa?”.

E aqui eu pauso um pouco a explicação para alertar àqueles que têm o objetivo de investir no formato Dancecraft. Por ser um programa intenso e muito técnico, Zoe recomenda enfaticamente que os dançarinos tenham um mínimo de 3 anos de prática da dança do ventre ou que antes de se inscreverem para o primeiro nível realizem o curso preparatório para o Dancecraft oferecido por ela. Eu pessoalmente concordo com essa recomendação. Por ser uma pessoa que já possuía 3 anos de dança do ventre antes de me inscrever para o Key of Diamonds e que também realizou o curso preparatório, posso afirmar que as aulas são extremamente desafiadoras em relação tanto à resistência física e preparação, quanto à execução de movimentos extremamente complicados, como: “layers incomuns” (em que os comandos do cérebro não são usuais para determinadas partes do seu corpo), pop, locks muito rápidos, ooey gooyes (tradução livre desta expressão: "gelatinoso e super ligado, como se não tivesse osso") lentíssimos, “shapes” inesperados. Além disso, as aulas da Zoe são extremamente rápidas. Claro, que isso é uma opinião pessoal! E por isso deixo a critério de cada um a sua análise e opção.

Retorno, assim, à explicação geral do programa repetindo que as aulas são muito dinâmicas e mais práticas do que teóricas (embora os laboratórios durante a noite sejam mais sobre teoria). Todos os dias há inicialmente um aquecimento - uma mistura de preparação física, em que se trabalha força, estamina e flexibilidade - o qual evolui para as práticas de isolamentos (os famosos “drills”) em que são trabalhadas as técnicas em “shapes” com variação de qualidade e intensidade dos movimentos. Gradualmente somos direcionados, então, dos drills para os layers e a cada dia o nível de dificuldade aumenta. Após tudo isso, Zoe nos conduz pelos repertórios de passos que chama de “old school” e pelas frases curtas de autoria própria, os quais devem ser completamente memorizados e executados com bom nível técnico (principalmente se o aluno pretende realizar o teste final). Ela ainda trabalha a execução dos movimentos com o acompanhamento de Zils (Finger Cymbals ou Snujs, nomenclatura mais popular no Brasil) com diversos padrões de toque e, por fim, uma coreografia desenvolvida para cada nível do programa (que também deve ser memorizada e executada com boa técnica). Essa descrição toda corresponde a um dia inteiro de aula que normalmente se repete por 5 a 6 dias (a depender do nível) e termina com o teste e o hafla em comemoração ao seu grande esforço e desempenho!

Ao final de tudo, a sensação é maravilhosa! Terminar uma semana intensa de curso e perceber que você se transformou pelo trabalho que desenvolveu ali com sua professora uma grande inspiração e também uma das referências da dança é realmente uma emoção indescritível. Sim, haverá dores por todo seu corpo (o que eu particularmente sou viciada, acho simplesmente energizante), e sim, o seu cérebro se sentirá cansado, mas também revigorado por tantas informações e conexões novas adquiridas. São transformações positivas que você desenvolve e que, com consistência de trabalho, perpetuam-se em sua carteira de habilidades.




Primeiro Nível do Dancecraft – Key of Diamonds

O diamante do nome deste primeiro nível representa o que vem da terra, a base, os fundamentos.

Neste nível Zoe ressalta a importância de se constituir uma base sólida de habilidades e conhecimentos para, então, agregar movimentos mais desafiadores, coordenados, rápidos e em composições mais difíceis. Trata-se de uma introdução de todos os princípios pelos quais ela constrói o seu estilo, revelando a raiz da sua estilização e da estética da sua dança.



Segundo Nível do Dancecraft – Key of Spades

As espadas mencionadas no nome deste nível fazem referência ao Tarot e simbolizam determinação, trabalho duro e disciplina. Zoe assume que os alunos retiveram o profundo e sólido entendimento da linguagem desenvolvida no Diamonds e os conduz por um trabalho mais desafiador, o qual resulta em um maior acúmulo de habilidades e técnica apurada.

Neste nível, há um  grande salto de dificuldade técnica. Todos os isolamentos e layers exigem dos alunos maiores precisão, força, flexibilidade e estamina. Além disso, eles devem ser capazes de executar passos de extrema dificuldade, enquanto tocam diversos padrões de Zils (snujs). Há também uma coreografia complexa em que se utiliza os mesmos. E finalmente, neste nível também se trabalha composição de dança e colaboração coreográfica para espetáculos.



Zoe Jakes e aulas regulares

A experiência com Zoe Jakes  no programa Dancecraft é única e corresponde diretamente com o que ela realiza em palco, sejam coreografias ou improvisações. Após estudar o formato, o dançarino consegue identificar cada forma, qualidade, movimento que ela executa e isso é muito interessante!

Zoe é uma professora intensa e dinâmica o que corresponde com a sua personalidade no dia a dia. Talvez ela seja uma das profissionais referências mais acessível, por interagir sempre diretamente com o aluno sem muitas restrições e com muita humildade. Ela divide todos os seus conhecimentos abertamente e aplica em suas aulas novas experiências corporais que agregam diariamente em suas práticas pessoais de acro yoga e circo. Sua forma de ensinar, então, sempre recai sobre os desafios que a motiva e sobre a sua vontade de sempre desenvolver os alunos para superar essas dificuldades. Estes, por sua vez, sempre se sentem encorajados a arriscar algo novo, algo desafiador e, por isso, há um progresso visível e constante de sua turma.

Como uma dançarina que sempre estuda, vivenciei diversas oportunidades de aprendizado com essa grande profissional. Por isso, afirmo com propriedade que os workshops que ela ministra em diferentes ocasiões, as aulas regulares em Oakland e o programa Dancecraft são experiências distintas com algumas poucas semelhanças entre eles. Zoe é extremamente artista e criativa, com um conteúdo amplo de movimento na sua bagagem e sabiamente consegue reparti-lo em experiências múltiplas para os alunos que a acompanham.

Zoe inspira a todos em suas ações diárias de busca. Não há crença de idade, pré condições ou tantas outras limitações usuais que se espalham pelas mentes dos dançarinos. Para ela há o desejo, a motivação, o trabalho, a superação dos limites e um desenvolvimento claro de novas habilidades. Ela é um movimento constante, simplesmente não para e por isso está sempre se superando. Sou muito grata por ter presenciado o movimento dela ao longo do ano de 2017 e posso dizer que só vi resultados extremamente positivos. É inspirador!

Esperança, determinação e coragem são muito importantes... e acreditar em si mesmo e no seu caminho verdadeiramente lhe traz a lua e as estrelas”– Fonte: @thedaturaonline





Uma publicação compartilhada por Carla Michelle / Mimi Coelho (@mme_mimicoelho) em





[Resenhando Internacional] TribaLX 2017

por Sara Félix



O Contato
               
Existe dentro de mim uma admiração profunda pelo estilo de Piny Orchidaceae. Há alguns anos que venho investigando a linguagem artística dela, a partir de pesquisas em materiais desenvolvidos através de suas próprias teorias e processos criativos dentro da contemporaneidade. O pressuposto cálculo da companhia da Piny visa entender que toda relação estética deve dialogar com o ensino e aprendizagem para que haja uma transformação em palco. De fato, isso me torna sempre curiosa e expecta de seu trabalho.

Poder trabalhar ao seu lado despertou em mim um enorme entusiasmo. Após o contrato assinado para apresentar meu trabalho no TribaLX 2017, iniciou-se uma realização profissional sem tamanho.


Eurotrip


Embarco desta vez com meu marido par uma deliciosa viagem. Não é sempre que se pode ir a Europa, portanto, nada mais justo que aproveitar a ida para Portugal e conhecer os países vizinhos. Despedimo-nos de nosso verão aqui no Brasil para passarmos dias congelantes em Amsterdam.

“Amsterdam é a capital de almas perdidas em busca da liberdade”.  Uma cidade singela com propostas que registram a soberania e iniciativa independente. Ter a oportunidade de conhecer Amsterdam me manteve acesa e inspirada por todo o restante da trip. Após quatro dias partimos para Bruxelas (Bélgica) e na sequencia Paris (França). Tentar resumir Paris é algo impossível. Ela é pecuniosa em arte e cultura. Uma cidade de muitas descendências e etnias. Pudemos aproveitar bastante à viagem, porém, digo a quem quiser que cinco dias em Paris não são suficientes. Enfim iniciamos a viagem para Lisboa (Portugal) e chegamos ao nosso destino; meu coração palpitava e meu corpo já sentia sede de dança.


The Meet & Greet


A primeira noite do evento foi reservada para um jantar de confraternização entre artistas do festival. Meu primeiro contato com Piny foi realmente especial; ao chegar ao restaurante Royal Palace, fomos recebidos por Silvia e Cris, ambas, professoras da companhia Orchidaceae. Piny então surpreendeu me abordando pelas costas, e me fazendo atuar com ela em uma exibição divertida no palco que havia neste restaurante. Levou-me para o camarim e lá nos produzimos com figurinos engraçados; subimos no palco com a música “I Will Survive” e criamos uma brincadeira improvisada de forma a levar o espectador cair na gargalhada.

Entre bons “papos” com Piny, Cris, Sophia, Kenzi, Leo, Moony e Mat Jacob, pude esclarecer melhor minha visão sobre esta comunidade (Elas são demais)!  Logo mais me convidaram a sentar ao lado de April Rose, Gudrun Herold e Mell Tribal Bounce em uma mesa reservada para as quatro bailarinas internacionais. Uma mesa enérgica e cheia de expectativa com experiências fantásticas; ainda nesta mesa participamos de uma breve entrevista feita por Ricardo Duto.



Ensinamentos com April Rose


Concluindo a noite receptiva retornei ao hotel, empolgada para o segundo dia do festival. Na manhã de sexta-feira, April deu início às primeiras aulas e com sabedoria nos revelou histórias aprofundadas partindo de várias referências e acervos que foram analisadas através de um powerpoint. Apresentou-nos fundamentos, gerações e nos indicou diversas fontes de estudo, nos oferecendo conexões e possibilidades infinitas. “Sabemos que o campo da dança é vasto e que devemos nos comunicar em diferentes direções.” A partir do vocabulário de April minha cabeça entrou em órbita tamanha dedicação que esta mulher tem para alimentar seus ensinamentos.

No dia seguinte tivemos mais um encontro com April, sendo uma aula tranquila sem divisões de níveis. O processo de atividades eram compostas por sequências coreográficas conduzidas de uma forma equilibrada. Cada elemento interligava-se a processos criativos, desencadeando linguagens em ferramentas necessárias para o meu vocabulário.

Durante o período da tarde aconteceram outros workshops, no entanto, preferi retornar ao hotel para me recompor e me organizar para a mais esperada noite do evento.

A Banca


Este foi um dia excitante para mim, me considero uma pessoa extremamente viciada em dança tribal e em tudo que gira em torno dela. Na noite de sexta-feira aconteceu a competição e o hafla pelo qual fiz parte da banca de análise ao lado de April, Gudrun e Mell. Eu amo assistir aos haflas e observar evoluções decorrentes de esforços, apreciar a perspectiva de cada dançarina e mergulhar na concepção do cenário, figurino e interpretação. Alunas dividiram seu espaço de dança para diluírem suas experiências e interesses artísticos. Notava-se ainda que algumas quebravam barreiras enquanto outras saíam da zona de conforto para se desafiarem; à vista disso tive um panorama de dançarinas com muita auto confiança.

O estilo moderno contemporâneo trazido da região explorou variedades, contrastes e unidade de composições que tornaram a noite muito interessante. Além de instrumentos percussivos, a competição ofereceu dinâmicas pertinentes. O mais admirável foi constatar que todas as dançarinas se apresentaram com um preparo íntegro, assim como no hafla.
Mooni Orchidaceae foi a primeira colocada na competição desta memorável noite conseguindo destacar uma linguagem madura. Analisar um corpo sensível em transformação técnica me fizeram repensar e me auto criticar enquanto professora.


O Espetáculo


O gala show compõe de artistas com identidades formadas que influenciam positivamente alunos e expectadores. Entender tecnicamente como se produz um espetáculo de dança, deve-se no mínimo exercer contribuições e parâmetros que resultam em um bom trabalho. A equipe Orchidaceae garantiu ao expectador uma produção devidamente correta, mostrando seus valores e ética de forma profissional.


Nos bastidores não poderia ser diferente, aliás me emociona falar de instantes como este. Momentos de troca num processo de desafio particular no entanto, todos com objetivos incomum. Muito profissionalismo também entre artistas que se concentram coletivamente em prol do espetáculo. “É realmente incrível estar envolvida nessa energia.” Cada minuto dentro de um camarim resulta em mais uma bagagem nos meus propósitos de dança que me auxiliam tanto como educadora quanto aluna. O capricho é notável em todos os detalhes entre produção cênica, luzes, som... E as dançarinas com seus figurinos, maquiagens e adornos. Procedendo então em uma obra de arte que é um espetáculo de dança.


A Aula


Enfim, o dia do meu workshop chegou. Acordei com muita alegria e contando os minutos para lecionar a prática das minhas vivências. Meu workshop baseava-se em uma aula sequencial com o objetivo da qualificação técnica para reestruturar novos combos. Abordei nesta aula a leitura corporal simétrica para laborar um transporte técnico nos demais conjuntos de movimentos. Gosto de aulas dinâmicas e trabalhos em coletivo, no final da aula formei pequenos grupos para desenvolver alternativas de movimentos, novas estratégias, cooperação, comunicação, planejamento e raciocínio lógico. Foram duas horas de trabalho, respeito, evolução e cautela que permitia a linha de aprendizado de cada indivíduo.

Enquanto professora e educadora gosto de frisar que devemos ser observadoras não apenas com os alunos(a), mas observar o que nós mesmas temos a oferecer para o aluno de acordo com sua necessidade. O processo de aprendizado requer oportunidades para ampliar seu desenvolvimento, portanto é necessário estabelecer diálogos entre o aluno e o professor.

Ao longo desta deliciosa viagem à Europa pude desfrutar de muitas culturas e artes que me deixaram entusiasmada. Participar internacionalmente como professora é uma jornada relevante na minha carreira e sou eternamente grata a Piny Orchidaceae por acreditar no meu trabalho e tornar possível esta experiência. Obrigada Lisboa por me despertar novos âmbitos.



[Danças & Andanças] A intensa experiência do “The 8 Elements Approach to Bellydance, a Rachel Brice's Dance Program” – Parte 4

por Mimi Coelho



Fase 4: Transmission 

O início do aprendizado sobre o   “transmitir” e o “ajudar” na eterna caminhada rumo ao conhecimento e à descoberta das sua  identidade artística


A fase 4 é introduzida por Rachel Brice com muita cautela e respeito, ressaltando sempre a importância que um professor possui na vida de seu estudante e na evolução artística que ele desenvolverá. Por isso, desde o primeiro momento, ao indicar os livros prévios ao intensivo, ela já destaca a necessidade de especialização (que será um estudo continuado e constante), de cuidado com o que se ensina e, principalmente, com a conduta ao se ensinar. Neste momento do programa 8 elements a criação artística e o desenvolvimento das habilidades pessoais enquanto “performers” são colocados à parte para dar lugar à formação do professor, do profissional que irá transmitir ao seu estudante os conhecimentos que acumulou e que ainda desenvolve. Para Rachel, há uma separação a se considerar entre o profissional de dança e o professor de dança, claro sem afirmar que há um impedimento em se exercer os dois, porém esclarecendo que estas profissões envolvem buscas, planejamentos, estudos e evoluções distintos. Isto nos permite a compreensão de que a excelência e o talento como “performer” não garante a desenvoltura de sucesso como professor, uma vez que são caminhos diferentes que comungam de alguns conhecimentos e habilidades.

Enquanto professores devemos esclarecer a nós mesmos nossas próprias intenções sobre o que ensinamos, quem somos e onde queremos chegar, alcançando um foco preciso dos nossos objetivos, os quais caracterizarão nossa forma, filosofia e abordagem de ensino particulares. Isto significa que a busca pelo conhecimento, pela especialização será constante, pois há sempre o que se aprender sobre algo ou assunto, o que faria de todos eternos estudantes. Assim, não há desvalorização em se reconhecer que outro profissional seja mais especialista que você em alguma vertente do vasto campo do conhecimento, o que nos conecta à ideia de uma “rede do saber”, onde se é possível estudar com diversos profissionais à medida que estes mesmos se conhecem, trocam experiências e indicam uns aos outros. Quando se trata da importante função “ensinar” é extremamente relevante que o professor revele todas as fontes disponíveis para que o aluno alcance o aprendizado de qualidade de acordo com o seu próprio objetivo, com sua própria escolha. Rachel sempre disse, desde o primeiro intensivo do programa, não há vergonha em se admitir que há algo que você, professor, não saiba, não estamos à frente de uma turma de estudantes como doutrinadores, mas como líderes temporários que objetivam criar outros líderes e não seguidores. Como professores acompanhamos os alunos por um breve tempo, auxiliando-os em seu aprendizado individual rumo ao caminho escolhido e traçado por ele, pelo qual sua identidade própria se formará e seu trabalho florescerá.


Esta fase do programa é extremamente tocante pela abertura e proximidade que todos participantes possuem uns com os outros e com a própria Rachel. As emoções se afloram com o decorrer das experiências trocadas e da exposição da história de aprendizado pessoal, da própria criação de cada um. Nós artistas, em geral, possuímos um nível de auto exigência muito grande e, às vezes, transferimos algumas expectativas ao ensinar. A tarefa de se equilibrar esta exigência de se ampliar os limites e o apoio próximo ao aluno talvez seja um dos maiores desafios de um educador. Rachel nos ensina a expandir a mente para o “modo” de crescimento, ou seja, nos ensina que amar o processo que se percorre no aprendizado, valorizando cada desafio, obstáculo ou falha, é muito mais importante do que um único perfeito resultado. Essa postura nos afasta do comportamento dado por uma mente fixa, ávida pela aprovação externa, que teme as falhas por achar que o talento é nato, que limita o indivíduo às situações por ele conhecidas e pode ser responsável, muitas vezes, por desistências prematuras e queda drástica de rendimentos. Cultivamos então a mente que ama abordagens diferenciadas e que enxerga cada teste como um verdadeiro presente, a grande possibilidade de alavancarmos nossos conhecimentos, principalmente se houverem falhas, oportunidades de aprendizado reais e de descobertas de grandes inovações. A criatividade, então, é praticada consistentemente, pois somente assim ela se desenvolve. O cultivo de uma mente aberta que acredita que o esforço, o trabalho duro e consistente são a chave para a construção de uma habilidade pode ser provocado e supervisionado inicialmente pelo professor. Este, pelo diálogo, sem utilizar elogios vazios – “muito bem”, “lindo”, “ótimo”- pode incentivar o apreço pelo processo de aprendizagem, provocando a produção de estratégias individuais por cada estudante, o que torna o aprender e a prática desfrutáveis e não mais obrigações para um resultado idealizado. Aprender seria o resultado de uma parceria do professor e aluno. O aluno estabelece uma relação de confiança com seu professor, principalmente quando este demonstra que acredita no estudante.


Assim, com estes lindos ensinamentos termina o programa 8 elements, um fim que determina para mim um começo de uma jornada como bailarina e professora de dança, refletindo o meu processo de transformação ao longo dos quatro intensivos: uma nova mente, uma nova prática, uma nova forma de acreditar e viver minha arte, com a ética sempre presente e o respeito aos meus mestres e antecessores, a alma de uma eterna estudante, a certeza de que cada um possui a sua linguagem criativa individual e de que a cooperação entre os profissionais da nossa arte pode alavancar a todos, espalhando nossa voz e transformando vidas. E por isso tudo serei eternamente grata à minha professora Rachel Brice, aquela que me despertou para um novo olhar e que me guiou para este encontro com um novo caminho.

Vídeo sobre a minha experiência The 8 Elements




LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...