por Mimi Coelho
Fase 4: Transmission
O início do aprendizado sobre o
“transmitir” e o “ajudar” na eterna caminhada rumo ao conhecimento e à
descoberta das sua identidade artística
A
fase 4 é introduzida por Rachel Brice com muita cautela e respeito, ressaltando
sempre a importância que um professor possui na vida de seu estudante e na evolução
artística que ele desenvolverá. Por isso, desde o primeiro momento, ao indicar
os livros prévios ao intensivo, ela já destaca a necessidade de especialização
(que será um estudo continuado e constante), de cuidado com o que se ensina e,
principalmente, com a conduta ao se ensinar. Neste momento do programa 8
elements a criação artística e o desenvolvimento das habilidades pessoais
enquanto “performers” são colocados à parte para dar lugar à formação do
professor, do profissional que irá transmitir ao seu estudante os conhecimentos
que acumulou e que ainda desenvolve. Para Rachel, há uma separação a se
considerar entre o profissional de dança e o professor de dança, claro sem
afirmar que há um impedimento em se exercer os dois, porém esclarecendo que
estas profissões envolvem buscas, planejamentos, estudos e evoluções distintos.
Isto nos permite a compreensão de que a excelência e o talento como “performer”
não garante a desenvoltura de sucesso como professor, uma vez que são caminhos
diferentes que comungam de alguns conhecimentos e habilidades.
Enquanto
professores devemos esclarecer a nós mesmos nossas próprias intenções sobre o
que ensinamos, quem somos e onde queremos chegar, alcançando um foco preciso
dos nossos objetivos, os quais caracterizarão nossa forma, filosofia e abordagem
de ensino particulares. Isto significa que a busca pelo conhecimento, pela
especialização será constante, pois há sempre o que se aprender sobre algo ou
assunto, o que faria de todos eternos estudantes. Assim, não há desvalorização
em se reconhecer que outro profissional seja mais especialista que você em
alguma vertente do vasto campo do conhecimento, o que nos conecta à ideia de
uma “rede do saber”, onde se é possível estudar com diversos profissionais à
medida que estes mesmos se conhecem, trocam experiências e indicam uns aos
outros. Quando se trata da importante função “ensinar” é extremamente relevante
que o professor revele todas as fontes disponíveis para que o aluno alcance o
aprendizado de qualidade de acordo com o seu próprio objetivo, com sua própria
escolha. Rachel sempre disse, desde o primeiro intensivo do programa, não há
vergonha em se admitir que há algo que você, professor, não saiba, não estamos
à frente de uma turma de estudantes como doutrinadores, mas como líderes
temporários que objetivam criar outros líderes e não seguidores. Como
professores acompanhamos os alunos por um breve tempo, auxiliando-os em seu
aprendizado individual rumo ao caminho escolhido e traçado por ele, pelo qual
sua identidade própria se formará e seu trabalho florescerá.
Esta
fase do programa é extremamente tocante pela abertura e proximidade que todos
participantes possuem uns com os outros e com a própria Rachel. As emoções se
afloram com o decorrer das experiências trocadas e da exposição da história de
aprendizado pessoal, da própria criação de cada um. Nós artistas, em geral,
possuímos um nível de auto exigência muito grande e, às vezes, transferimos
algumas expectativas ao ensinar. A tarefa de se equilibrar esta exigência de se
ampliar os limites e o apoio próximo ao aluno talvez seja um dos maiores
desafios de um educador. Rachel nos ensina a expandir a mente para o “modo” de
crescimento, ou seja, nos ensina que amar o processo que se percorre no
aprendizado, valorizando cada desafio, obstáculo ou falha, é muito mais
importante do que um único perfeito resultado. Essa postura nos afasta do comportamento
dado por uma mente fixa, ávida pela aprovação externa, que teme as falhas por
achar que o talento é nato, que limita o indivíduo às situações por ele
conhecidas e pode ser responsável, muitas vezes, por desistências prematuras e
queda drástica de rendimentos. Cultivamos então a mente que ama abordagens
diferenciadas e que enxerga cada teste como um verdadeiro presente, a grande
possibilidade de alavancarmos nossos conhecimentos, principalmente se houverem
falhas, oportunidades de aprendizado reais e de descobertas de grandes
inovações. A criatividade, então, é praticada consistentemente, pois somente
assim ela se desenvolve. O cultivo de uma mente aberta que acredita que o
esforço, o trabalho duro e consistente são a chave para a construção de uma
habilidade pode ser provocado e supervisionado inicialmente pelo professor.
Este, pelo diálogo, sem utilizar elogios vazios – “muito bem”, “lindo”,
“ótimo”- pode incentivar o apreço pelo processo de aprendizagem, provocando a
produção de estratégias individuais por cada estudante, o que torna o aprender
e a prática desfrutáveis e não mais obrigações para um resultado idealizado.
Aprender seria o resultado de uma parceria do professor e aluno. O aluno
estabelece uma relação de confiança com seu professor, principalmente quando
este demonstra que acredita no estudante.
Assim,
com estes lindos ensinamentos termina o programa 8 elements, um fim que
determina para mim um começo de uma jornada como bailarina e professora de
dança, refletindo o meu processo de transformação ao longo dos quatro intensivos:
uma nova mente, uma nova prática, uma nova forma de acreditar e viver minha
arte, com a ética sempre presente e o respeito aos meus mestres e antecessores,
a alma de uma eterna estudante, a certeza de que cada um possui a sua linguagem
criativa individual e de que a cooperação entre os profissionais da nossa arte
pode alavancar a todos, espalhando nossa voz e transformando vidas. E por isso
tudo serei eternamente grata à minha professora Rachel Brice, aquela que me
despertou para um novo olhar e que me guiou para este encontro com um novo
caminho.
Vídeo
sobre a minha experiência The 8 Elements