por Sara Félix
O Contato
Existe
dentro de mim uma admiração profunda pelo estilo de Piny Orchidaceae. Há alguns
anos que venho investigando a linguagem artística dela, a partir de pesquisas
em materiais desenvolvidos através de suas próprias teorias e processos
criativos dentro da contemporaneidade. O pressuposto cálculo da companhia da
Piny visa entender que toda relação estética deve dialogar com o ensino e
aprendizagem para que haja uma transformação em palco. De fato, isso me torna
sempre curiosa e expecta de seu trabalho.
Poder
trabalhar ao seu lado despertou em mim um enorme entusiasmo. Após o contrato
assinado para apresentar meu trabalho no TribaLX 2017, iniciou-se uma
realização profissional sem tamanho.
Eurotrip
Embarco
desta vez com meu marido par uma deliciosa viagem. Não é sempre que se pode ir
a Europa, portanto, nada mais justo que aproveitar a ida para Portugal e
conhecer os países vizinhos. Despedimo-nos de nosso verão aqui no Brasil para
passarmos dias congelantes em Amsterdam.
“Amsterdam
é a capital de almas perdidas em busca da liberdade”. Uma cidade singela com propostas que registram
a soberania e iniciativa independente. Ter a oportunidade de conhecer Amsterdam
me manteve acesa e inspirada por todo o restante da trip. Após quatro dias
partimos para Bruxelas (Bélgica) e na sequencia Paris (França). Tentar resumir
Paris é algo impossível. Ela é pecuniosa em arte e cultura. Uma cidade de
muitas descendências e etnias. Pudemos aproveitar bastante à viagem, porém,
digo a quem quiser que cinco dias em Paris não são suficientes. Enfim
iniciamos a viagem para Lisboa (Portugal) e chegamos ao nosso destino; meu
coração palpitava e meu corpo já sentia sede de dança.
The Meet & Greet
A
primeira noite do evento foi reservada para um jantar de confraternização entre
artistas do festival. Meu primeiro contato com Piny foi realmente especial; ao
chegar ao restaurante Royal Palace, fomos recebidos por Silvia e Cris, ambas,
professoras da companhia Orchidaceae. Piny então surpreendeu me abordando pelas
costas, e me fazendo atuar com ela em uma exibição divertida no palco que havia
neste restaurante. Levou-me para o camarim e lá nos produzimos com figurinos
engraçados; subimos no palco com a música “I Will Survive” e criamos uma
brincadeira improvisada de forma a levar o espectador cair na gargalhada.
Entre
bons “papos” com Piny, Cris, Sophia, Kenzi, Leo, Moony e Mat Jacob, pude
esclarecer melhor minha visão sobre esta comunidade (Elas são demais)! Logo mais me convidaram a sentar ao lado de
April Rose, Gudrun Herold e Mell Tribal Bounce em uma mesa reservada para as
quatro bailarinas internacionais. Uma mesa enérgica e cheia de expectativa com
experiências fantásticas; ainda nesta mesa participamos de uma breve entrevista
feita por Ricardo Duto.
Ensinamentos com April Rose
Concluindo
a noite receptiva retornei ao hotel, empolgada para o segundo dia do festival. Na
manhã de sexta-feira, April deu início às primeiras aulas e com sabedoria nos
revelou histórias aprofundadas partindo de várias referências e acervos que
foram analisadas através de um powerpoint. Apresentou-nos fundamentos, gerações
e nos indicou diversas fontes de estudo, nos oferecendo conexões e
possibilidades infinitas. “Sabemos que o campo da dança é vasto e que devemos
nos comunicar em diferentes direções.” A partir do vocabulário de April minha
cabeça entrou em órbita tamanha dedicação que esta mulher tem para alimentar
seus ensinamentos.
No dia seguinte tivemos mais um encontro com April, sendo uma aula tranquila sem divisões de níveis. O processo de atividades eram compostas por sequências coreográficas conduzidas de uma forma equilibrada. Cada elemento interligava-se a processos criativos, desencadeando linguagens em ferramentas necessárias para o meu vocabulário.
Durante o período da tarde aconteceram outros workshops, no entanto, preferi retornar ao hotel para me recompor e me organizar para a mais esperada noite do evento.
A Banca
Este foi um
dia excitante para mim, me considero uma pessoa extremamente viciada em dança
tribal e em tudo que gira em torno dela. Na noite de sexta-feira aconteceu a
competição e o hafla pelo qual fiz parte da banca de análise ao lado de April,
Gudrun e Mell. Eu amo assistir aos haflas e observar evoluções decorrentes de
esforços, apreciar a perspectiva de cada dançarina e mergulhar na concepção do cenário,
figurino e interpretação. Alunas dividiram seu espaço de dança para diluírem
suas experiências e interesses artísticos. Notava-se ainda que algumas quebravam
barreiras enquanto outras saíam da zona de conforto para se desafiarem; à vista
disso tive um panorama de dançarinas com muita auto confiança.
O
estilo moderno contemporâneo trazido da região explorou variedades, contrastes
e unidade de composições que tornaram a noite muito interessante. Além de
instrumentos percussivos, a competição ofereceu dinâmicas pertinentes. O mais
admirável foi constatar que todas as dançarinas se apresentaram com um preparo
íntegro, assim como no hafla.
Mooni Orchidaceae foi a primeira
colocada na competição desta memorável noite conseguindo destacar uma linguagem
madura. Analisar um corpo sensível em transformação técnica me fizeram repensar
e me auto criticar enquanto professora.
O Espetáculo
O gala show compõe de artistas
com identidades formadas que influenciam positivamente alunos e expectadores.
Entender tecnicamente como se produz um espetáculo de dança, deve-se no mínimo
exercer contribuições e parâmetros que resultam em um bom trabalho. A equipe
Orchidaceae garantiu ao expectador uma produção devidamente correta, mostrando
seus valores e ética de forma profissional.
Nos bastidores não poderia ser
diferente, aliás me emociona falar de instantes como este. Momentos de troca
num processo de desafio particular no entanto, todos com objetivos incomum.
Muito profissionalismo também entre artistas que se concentram coletivamente em
prol do espetáculo. “É realmente incrível estar envolvida nessa energia.” Cada
minuto dentro de um camarim resulta em mais uma bagagem nos meus propósitos de
dança que me auxiliam tanto como educadora quanto aluna. O capricho é notável
em todos os detalhes entre produção cênica, luzes, som... E as dançarinas com seus
figurinos, maquiagens e adornos. Procedendo então em uma obra de arte que é um
espetáculo de dança.
Enfim, o dia do meu workshop
chegou. Acordei com muita alegria e contando os minutos para lecionar a prática
das minhas vivências. Meu workshop baseava-se em uma aula sequencial com o
objetivo da qualificação técnica para reestruturar novos combos. Abordei nesta
aula a leitura corporal simétrica para laborar um transporte técnico nos demais
conjuntos de movimentos. Gosto de aulas dinâmicas e trabalhos em coletivo, no
final da aula formei pequenos grupos para desenvolver alternativas de
movimentos, novas estratégias, cooperação, comunicação, planejamento e
raciocínio lógico. Foram duas horas de trabalho, respeito, evolução e cautela
que permitia a linha de aprendizado de cada indivíduo.
Enquanto professora e educadora
gosto de frisar que devemos ser observadoras não apenas com os alunos(a), mas
observar o que nós mesmas temos a oferecer para o aluno de acordo com sua
necessidade. O processo de aprendizado requer oportunidades para ampliar seu
desenvolvimento, portanto é necessário estabelecer diálogos entre o aluno e o
professor.
Ao longo desta deliciosa viagem à
Europa pude desfrutar de muitas culturas e artes que me deixaram entusiasmada.
Participar internacionalmente como professora é uma jornada relevante na minha
carreira e sou eternamente grata a Piny Orchidaceae por acreditar no meu
trabalho e tornar possível esta experiência. Obrigada Lisboa por me despertar
novos âmbitos.