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VII Festival Campo das Tribos

por Raphael Lopes



Olá Leitores,

Na nossa última postagem falávamos sobre as influências hindus na dança Tribal contemporânea, com a promessa de apontar esses elementos em dançarinas mais específicas (como a Zoe Jakes). Mas com a vinda de Caroleena Nericcio Bohlman ao Brasil para a certificação de dezenas de bailarinas e uma apresentação pocket ao lado de Megha Gavin no sétimo Festival Campo das Tribos (encabeçados pela Rebeca Piñeiro) me obrigam a pedir licença e permissão para uma pausa, e falar um pouco sobre tudo o que vi e ouvi desse evento tão marcante para a história da dança aqui no Brasil.

O Festival anunciado com grande pompa no final da sexta edição no ano passado causou um grande alvoroço no meio tribal. Muitas bailarinas iniciaram suas economias para participar dos cursos oferecidos e algumas professoras já certificadas com o título de Sister Studio ofereceram cursos preparatórios para as futuras Sisters; e registro aqui também o surgimento do projeto Pilares do Tribal (encabeçado pela Maria Badulaques) organizado como um diário (blog) onde entrevistas, videos e muitas matérias bem interessantes eram postadas diariamente numa contagem regressiva à vinda de Mamma C. 


General Skills pela primeira vez no Brasil, foto oficial da fanpage do FatChanceBellyDance

Essa expectativa era tão tátil entre as bailarinas que posso afirmar que o Festival começou assim que o sexto terminou. Não se falou em outra coisa ao longo de todo o ano!!! Acho importante frisar esse frison, porque ele ajudará a compor minha crítica como um todo ao projeto.

O Festival começou com os cursos General Skills iniciados ao longo da semana, e as redes sociais foram bombardeadas por declarações emocionadas das meninas que estavam tendo contato com a visionária bailarina que arrematou o ATS® e o tornou tão impactante e fundamental para o Tribal. No final de semana chegou o tão aguardado Show, que foi dividido entre os horários de Mostra e o Show de Gala. Esse ano em específico essa divisão criou uma celeuma mais clara entre as bailarinas. 

Shows de mostra costumam ter um público reduzido e, independente do nível apresentado, existe um preconceito de que o show de mostra seja menor em qualidade. O que é muito complicado de afirmar, uma vez que cada número provoque um efeito diferente na opinião de quem o assiste. Não existe unanimidade quanto à qualidade de um Show, de modo que a mostra acaba sendo uma forma de um número maior de participantes mostrarem seus trabalhos. É como uma vitrine, de onde surgem muitas pérolas. Vide o próprio Guigo Alves e sua Cia Exotique, que participaram dos shows de mostra do Festival Campo das Tribos e, em pouco tempo, chegaram a apresentar o mesmo e dançar no Show de Gala.
A Sister Studio Natália Espinosa, Maria Badulaques, Emi Victoria, em o Coletivo Amora no Show de Mostras

Algumas críticas foram mais ácidas, principalmente apontando números do Show de Gala como tendo sido inferiores a números das mostras. Galera, o Festival Campo das Tribos não é um festival competitivo, e esse tipo de crítica pode dissolver muito mais do que agregar o espírito de tribo. Lembrem-se sempre que no final das contas é a opinião da organizadora do evento que vai pesar nessa seletiva. Geralmente por afinidade, proximidade profissional, para algum tipo de promoção, ou até mesmo para agregar valor ao evento: não importa os motivos que a organização utilize para essa divisão, mas é preciso respeitar toda forma de arte que for levada ao palco. 

Acredito que de repente uma organização mais inclusiva gerasse uma reação muito mais positiva num geral, mas essa é a minha opinião, assim como a de outras pessoas com quem pude conversar. Mas verdade seja dita, quem quiser algo diferente assim o faça!!! Esse é o formato do Festival, sempre foi assim. 


Mariana Quadros, primeira Sister Studio brasileira


O Show teve um pequeno contratempo com a equipe de iluminação e palco, mas nada que tenha prejudicado diretamente o show. A iluminação do próprio teatro (embora menos diversificada) esteve a nossa disposição, mas foi uma perda não termos o recurso da máquina de fumaça e do telão como era esperado. Sem maiores atrasos, e sob a euforia de uma platéia ansiosa, o show foi belamente introduzido com um número rico. Música ao vivo e um seleto número de bailarinas escolhidas por Rebeca Piñeiro dançando números "improvisados", ambientando em pleno Teatro Madre Cabrini todo o clima de festa das feiras tribais à la Bal Anat. Vale registrar que o primeiro solo ter sido o de Mariana Quadros foi uma bela homenagem à nossa primeira Sister Studio tupiniquim rs.

Daí em diante os Shows seguiram sem apresentação, o que sempre vejo como uma grande deficiência. Um festival desse calibre, assim como qualquer atividade cultural apresentada ao grande público necessita de um mestre de cerimônias que saiba não apenas introduzir os bailarinos e números apresentados de forma fluída, mas, acima de tudo, interagir com o público para que exista uma conexão entre palco e platéia. A impressão que tive em alguns momentos era estar assistindo um filme num grande telão, fora a curiosidade em saber o nome dessa ou daquela bailarina desconhecida que estava em cena. Acho que nesse ponto é importante lembrar que qualquer Festival precisa de uma direção artística, que consiga costurar tantos números tão únicos e especiais a favor de um tema, e prender de forma estética a elegância do evento para quem o assiste.

Raphael Lopes - Show de Gala
O modelo de agrupamento do grande número de convidadas dos números de ATS® dançando até quatro músicas seguidas se tornou cansativo para o público, e mais uma vez a falta de apresentação fez com que algumas bailarinas conhecidas passassem batidas pelo público. Nesse ponto houve uma redução considerável da animação da platéia, que apesar da importância do evento também não lotava a platéia... Talvez pelo preço do convite, ou pela falta de outras mídias de divulgação que não apenas as redes sociais, o evento acabou ficando mais uma vez restrito aos familiares e conhecidos das bailarinas que se apresentavam. Um Festival desse porte merecia uma cobertura mais ampla, uma nota junto aos órgãos de imprensa, e um convite à algumas personalidades da dança a nível acadêmico para contemplarem esse momento tão único, em que Rebeca Piñeiro assinava seu nome definitivamente na história do Tribal como pioneira.

Os bastidores do evento era um misto de camaradagem sempre presentes em eventos de tribal, pois geralmente são nesses momento que reencontramos amigos tão queridos, mas que moram em outras regiões. Existia uma tensão no ar, principalmente quanto a cruzarmos com Carolena pelos corredores, mas infelizmente não tivemos acesso à ela. A equipe de produção do evento as mantiveram isoladas (e isso é entendível), e eu me pergunto se elas puderam prestigiar o Show que estava acontecendo...


Raphael Lopes e Nomadic nos bastidores do Teatro Madre Cabrini

O dueto de Megha Gavin e Carolena Nericcio levantou a platéia, e reduziu a distância entre os admiradores da arte e sua idealizadora. Particularmente eu esperava um número mais explosivo, mas a emoção era tamanha que certamente todos aqueles que assistiram aquele show irão se lembrar sempre com um sorriso estampado no rosto. Com a presença de Kelsey Suedmeyer e Rebeca Piñeiro, as quatro dançaram um número onde era visível toda a emoção da organizadora do evento. Sinto apenas que o show poderia ter uma carga mais Tribal se mais bailarinas tivessem o privilégio de dividirem o palco com a Mãe do Tribal. 

Com o encerramento o público parecia esperar que Carolena retornasse ao palco, e trocasse algumas palavras... mas assim que todos os convidados do Show de Gala voltaram ao palco seguidas por Rebeca, as cortinas se fecharam sem muitas delongas. Espero que minha visão aqui partilhada não soe como uma crítica pesada, mas apenas um relato de quem participou de um Show gestado por um ano, e que esperava, assim como as demais bailarinas e públicos, um "algo" a mais. Rebeca terá sempre seu espaço no cenário da dança, conquistados por sua visão arrojada de mercado, mas é uma opinião geral de que é preciso uma direção mais clara em seus Festivais.

Kelsey Suedmeyer
Para todas as meninas que participaram dos cursos de General Skills e Teacher Training existia uma névoa de encantamento provocadas pela convivência direta ao longo de uma semana com a Mãe do Tribal, mas essa magia ficou inacessível para quem apenas assistiu ou participou dos shows. Espero com muita apreensão que todas as novas certificadas possam polissemizar o estilo Tribal, criar novas oportunidades de estudo, novos festivais, novas idéias.


Um grande viva ao Campo das Tribos que uniu a tantas pessoas nessa conquista, mas acima de tudo: que ele possa ter plantado a sementinha de vida nova e próspera na dança tribal no Brasil.

Rebeca Piñeiro e Pashmina Tribal com Carolena Nericcio
Confio e torço por todas as novas Sisters, a Força está com vocês rs.

Um grande beijo, e até a próxima!!!

Namaskar



[Índia em Dia] A Índia e o Tribal - rastreando a presença da arte hindu nas fusões (PARTE 1)

por Raphael Lopes
Pintura tradicional indiana retratando bailarinas Rajastanis dançando Kalbelya


Olá leitores,


Gostaria de iniciar hoje uma conversa sobre as influências indianas sobre o Tribal. E quando digo Tribal não me refiro unicamente ao ATS®, mas ao Fusion principalmente, justamente por ele dar uma infinitude de possibilidades por meio de cada bailarino(a). Não conheço os trabalhos individuais de todos os bailarinos, logo posso apenas pincelar aquilo que está mais visível no mercado contemporâneo. 

Primeiramente, gosto de lembrar que toda arte é uma expressão cultural e, basicamente, é fundamentada em dois pilares: Estética e Filosofia. Assim, as danças "do Ventre" (lembrando que diversos países do Médio Oriente possuem suas particularidades) possuem uma estética e uma filosofia, enquanto o flamenco possui sua estética e sua própria filosofia, o mesmo com o Ballet, e assim por diante. Cada estilo é único, e de certa forma é "fechado". O paradigma da dança tribal é justamente aceitar o desafio de abrir esse circuito fechado que existe em cada estilo, permitindo um diálogo onde danças de estilos diferentes possam convergir numa mesma arte.

Ghagra Choli Bollywood Style

A nível estético, o desafio é grande: danças diferentes possuem padrões rítmicos singulares, e uma colagem apenas tornará mais visível as diferenças. A proposta do Tribal é fluída, e isso deve em primeira instância significar que a bailarina deve diluir as técnicas numa linguagem coesa e, acima de tudo, fluída. Não consigo conceber plágio de coreografias ou combos "prontos", colados e costurados, como uma fusão. A fusão deve ser sempre criativa, uma expressão do entendimento que a bailarina detêm organicamente dos estilos que se propõem a trabalhar.

A estética indiana está fortemente impressa na cultura do Tribal. O uso de Pashminas, Dupatas e Sarees é ampla, sejam como turbantes, xales para amarrar ao torso ou quadril, ou ainda costurados como os mais diversos arranjos, sendo o Choli um dos mais populares. O top Choli a princípio é sempre com os ombros cobertos, e com o fecho na parte da frente. Na cultura indiana mostrar os ombros é reservado para a intimidade do casal, deixando a sensualidade por conta da barriga à mostra. Esse modelo de figurino surgiu há mais de mil anos no período "Chola", tendo sido criado a pedido do próprio Rei Chola (dai o nome Choli).

Colleena Shakti in Kalbelya costumes

Além do mais temos as famosas saias rajastanis, Jaipur Silks, oriundas das tribos "ciganas" do norte da Índia que carregam seus tecidos com pequenos espelhos que criavam um brilho e fascinio nas bailarinas que dançavam ao redor das fogueiras em noites de Lua Cheia. O mesmo encanto se preservou nas bailarinas radiantes sob os holofotes de um palco. 

As jóias, assim como a maquiagem e o uso de Bindis (bijous para a testa) também possui raiz na regionalidade cultural da Índia, onde as mulheres se adornam como Deusas.

As danças Bhanjaras das ciganas de Jaipur também possui o uso dos Snujs (conhecidos como Kartalas), assim como o padrão de giros e movimentos em combo improvisado que tanto vemos ecoar no American Tribal Style®. 

Rachel Brice em postura Tribhanga

Muito embora se diga que a dança indiana seja uma raiz do Tribal, eu me atrevo a afirmar que o grande pilar que a dança indiana fundamenta no tribal seja muito mais a Estética do que o próprio repertório de movimentos. As danças clássicas possuem linhas corporais mais rígidas e poligonais, o que dificilmente se encaixaria nos sinuosos movimentos de quadril. Recentemente o Tribal parece flertar com o Odissi, que é considerado o estilo mais sinuoso entre as oito formas clássicas de dança indiana, e vemos bailarinas como Coleena Shakti, Moria Chappell e Rachel Brice introduzirem os movimentos de torso (conhecidos como Chalas) e a postura de corpo inspirada nas esculturas das Deusas, a posição em Tribhanga (tripla curvatura - pernas, tronco e pescoço).

Na próxima matéria irei abordar as influências conceituais e filosóficas da dança indiana no estilo Tribal. E lembre-se sempre, ao fusionar um estilo tenha certeza de conhece-lo com o próprio corpo, partindo de estudos e  experimentações concretas.

Moria Chappell in Odissi costumes


Até a próxima,

Raphael Lopes


[Índia em Dia] Volta às Aulas!

por Raphael Lopes


Raphael Lopes e alunas em Quinzena Livre 2015 - Campo das Tribos/SP

Olá queridos leitores,

Pois é, temos um ano novinho em folha pela frente, como um livro em branco pronto para escrevermos novas histórias. E para todos nós - amantes inveterados da dança - pode ser uma boa oportunidade para nos organizarmos e transformarmos num ano de novidades, e não apenas mais um ano...

É muito comum virarmos o ano velho com resoluções e projetos que parecem se desvanecer antes mesmo de chegar o Carnaval, ou como todos dizem, o real ano novo brasileiro rs.

Como professor, mas acima de tudo como mais um bailarino tendo um mundo de coisas novas sempre à aprender, quero hoje propor algumas dicas para transformarmos 2015 num ano de mudanças efetivas em nossas performances e crescimento pessoal, ok?!

Então, como bom virginiano que sou, vou criar tópicos para enumerar as dicas:

1 - Faça um balanço de todas as suas contas fixas e variáveis (como um passeio, uma viagem com o namorado, alguma peça de roupa ou sapato novos), e some à elas a mensalidade do seu curso de dança. Nossa, pra que isso? Simples: além de se organizar e não ter sustos ao longo do seu mês, você consegue projetar no seu orçamento se há uma real possibilidade de estudar. É muito chato quando o aluno começa um curso, e no mês seguinte precisa parar por algum motivo ou problema pessoal. Isso afeta o professor, e muitas vezes uma turma pequena é desfeita por conta de uma única desistência.

2 - Crie um comprometimento com o seu condicionamento físico, e aqui estou falando de resistência, postura e aquecimento (e não de gordura, pelo amor de Deus!!!) Se você dedica uma hora semanal pra dança, dedique pelo menos 6 para exercícios que fortaleçam e estruturem sua dança. Matricular-se numa academia pode ser um gasto extra, e isso vai diretamente nos remeter à dica número 1, então pense no condicionamento físico como um compromisso que você possa manter sozinha. Alongar-se em casa, fazer 30 minutos de caminhada, substituir o uso de elevadores por escadas, fazer exercícios nos dias em que não for dançar, usar algum vídeo do youtube para praticar yoga ou pilates em casa. Enfim, são inúmeras possibilidades. 

Algumas pessoas pensam que esse cuidado maior com o corpo seja possível apenas para quem queira viver a dança de forma mais profissional ou integral, e infelizmente esse pensamento é uma das maiores armadilhas que criamos para nós mesmos.



3 - Como consequência do segundo ponto, chegamos no ponto que mais motiva um professor: ENSAIO fora de sala de aula. Seja um estudo da técnica ou uma repetição para fixação coreográfica, o ensaio fora de sala de aula é certamente o meio mais rápido para se obter bons resultados. Não pense em ensaiar apenas para as apresentações de sua escola ou grupo de dança, pense no ensaio como uma ferramenta de evolução pessoal. A dança, mesmo as mais coreografadas ou complicadas, se tornam naturais quando desenvolvemos intimidade com as mesmas por meio do ensaio. Eu gosto de sempre ter as músicas no meu celular, pois ouvir a música constantemente me permite manter a mente sempre exercitando a memória cênica.

4 - Essa dica é a mais interessante: tenha a meta de poder comprar um livro que traga mais informações sobre sua arte!!! Não digo nem para pesquisar na Internet, pois em tempos de procrastinação inevitavelmente o seu pdf ficará apenas ocupando espaço no seu notebook rs. Vá à uma livraria, veja o que se produz academicamente sobre a dança, leia, recicle suas idéias, e proponha debates com suas amigas em sala de aula, ou mesmo fora dela. 

5 - Vá assistir eventos de dança de outras escolas, ou de grupos que você não conhece. Além de ser uma boa distração para o seu final de semana, isso irá somar para o seu espírito artístico e crítico, além de expandir contatos sociais. O melhor nisso tudo é que acabamos estimulando mais produções artísticas independente, pois geralmente os eventos de dança acabam tendo como platéia apenas os familiares e amigos mais próximos dos bailarinos. 

Sujata Mohapatra oferecendo um Workshop - USA

6 - Faça pelo menos um workshop ao longo do ano, mas, acima de tudo, procure uma professora que tenha muita experiência de palco, pois os melhores ensinamentos que trazemos desses workshops são os macetes que essas professoras nos legam. Claro que a técnica é importante, e muito se corrige num workshop, mas APRENDER mesmo, isso leva tempo, então deixe esse encargo para o seu professor.

Acredito que com essas dicas, qualquer bailarina independente de seu nível, irá progredir muito!!! E não se esqueça: não chegue atrasada, e capriche na produção para suas aulas. A dança de verdade começa e acontece ali, e não apenas nos palcos. Acima de tudo, divirta-se!!!

Um bom ano e retorno às aulas à todos,

Namaskar.


[Índia em Dia] Nrtyagram - Uma paixão pela dança

por Raphael Lopes


Olá, queridos leitores.

Hoje trago uma publicação da revista India Perspectives (vol. 24 2010), traduzida por mim, contando a mágica história da bailarina Protima Bed e sua ecovila dedicado às danças clássicas indianas.



Rodeada pelos bosques verdejantes de Hessargeta, Nrityagram, uma aldeia de dança, trinta milhas longe da cidade de Bangalore, tem um recinto de dez acres e é um paraíso onde dançarinos, músicos, escritores e atores amiúde se reúnem para criar uma sinergia de suas energias criativas, inspirados pela natureza ao seu redor.

Esse projeto foi concebido pela já falecida bailarina Protima Bedi e foi um sonho pouco comum para uma pessoa que foi criada na mais alta sociedade e sob os holofotes do mundo do cinema de Bollywood em Bombaim.

A sua vida foi transformada um dia quando ela foi a um auditório para buscar uma amiga e ficou encantada com a magia do também falecido Guru Kelucharan Mohapatra, dançando Odissi. Não se via a imagem de um bailarino calvo com dentes castanhos, tudo o que ela via era êxtase, a paixão e a graça da dança. Nesse momento ela decidiu que tinha que aprender essa arte, seja como for. Nos bastidores depois do espetáculo, ela abordou o mestre: "Guruji, por favor ensina-me essa dança!"

Olhando para a moça vestida com calças e com o cabelo atado num rabo-de-cavalo o mestre casualmente estabeleceu uma condição: "Se amanhã você estiver vestida tradicionalmente à minha espera na porta de minha casa, então eu vou considerar o seu pedido..."


Acreditando que tinha se livrado daquela "ocidentalizada", Kelucharan se surpreendeu quando na manhã seguinte encontrou Protima sentada nas escadas de sua casa "com a paciência de um monumento", usando um saree e um bindi.

Foi impossível negar tamanha insistência e ele então convidou Protima que se junta-se aos demais alunos, ainda acreditando que seu interesse fosse desaparecer. Mas Protima persistiu e mais tarde ela recebeu a necessária atenção individual para aperfeiçoar sua dança, até ela se transformar numa bailarina conceituada e muito conhecida.

A idéia de criar uma aldeia de dança à maneira da Kalakshetra de Rukmini Devi (que coincidentemente começou a aprender o Bharata Natyam também com 30 anos) longe dos sons e das distrações da cidade tornou-se uma obsessão de Protima alguns anos mais tarde. Persistiu teimosamente até o então chefe do Governo provincial, Ramakrishna Hedge, ceder um terreno que seria usado para produção cinematográfica. "Acho que o ministro ficou tão farto de me ver em todo lado que ia que percebeu que a melhor maneira de se livrar de minha presença era dar-me o terreno rs!", disse Protima.

Se ele não fosse um ministro liberal e inteligente, Nrityagram talvez não teria surgido. Em seguida foram necessários meses de trabalho com o arquiteto Gerard de Cunha para encontrar o financiamento, desenhar e criar pequenas casas para alojamento e um espaço para aulas. Durante muito tempo Protima morou numa modesta tenda que vivia rodeada de serpentes e escorpiões. Á noite, tinha que usar uma lamparina para ir à casa de banho longínqua. Mas ela não desistiu.

Finalmente, foi um momento de grande orgulho em 1990 quando o Nrityagram foi inaugurado no dia 11 de Maio pelo então primeiro ministro V.P. Singh.

Surupa Sen, a principal aluna de Protima, partilhou os seus sonhos e as suas aspirações. Quando Protima veio a falecer inesperadamente num trágico desmoronamento nas montanhas em 1998, Surupa assumiu o seu lugar à cabeça de Nrityagram. Surupa trabalhou com uma outra aluna, Bijayni Satpathy, que era inicialmente aluna de Gangadhar Pradhan. A mente criativa de Surupa e os seus conceitos coreográficos combinados com o talento de Bijayni e de todo o grupo, asseguraram Nrityagram como uma potência no mundo do Odissi.

A escola de Odissi é cada vez mais aclamada e o grupo dos alunos formados pelo Nrityagram já ganhou os melhores louvores. É espantoso ver o número de horas durante as quais esse grupo treina. Com Yoga, Meditação, Artes Marciais, sânscrito, mitologia e literatura, os alunos obtem uma aprendizagem integrada. Artistas de várias disciplinas e coreógrafos diversos visitam o vilarejo, tornando-o um raro ambiente artístico, realçando a interação entre as diferentes artes. Todos os espetáculos refletem cuidadosamente essa excelência.

Os bailarinos também trabalham na horta e cultivo, e isso confere uma qualidade muito especial ao seu treinamento. Kelucharan dizia que o cultivo e a plantação despertam e refinam a sensibilidade artística.

Durante o festival anual VasantaHabba, o espaço chega a receber 40.000 expectadores no auditório ao ar livre para verem os números de música e dança clássicas.

Em 1996 o grupo estreeou sua carreira internacional em Nova Yorque, levando seu espetáculo a diversos palcos. Infelizmente Protima não pode se ausentar de Nrityagram
e faleceu antes de ver a carreira sempre ascendente de seu grupo. Hoje em dia o grupo de Nrityagram já se apresentou nos EUA, no oriente médio e em toda a Europa.

Graças ao financiamento que recebeu do Projeto Nacional de Dança da Fundação das Artes da Nova Inglaterra, e mais recentemente do Teatro Joyce o grupo pode aliar ao renomado estilo tradicional do Guru Kelucharan um maior liberalismo, incluindo elementos contemporâneos em alguns trabalhos. A formação rigorosa que os bailarinos recebem permite uma dança tecnicamente perfeita ao mesmo tempo que graciosa na sua dimensão dramática.

A primeira produção foi o espetáculo "Sri - à procura da Deusa" estreado em 2001. Em seguida o espetáculo "Ansh" inovou a maneira de conceber o formato tradicional do repertório, e em seguida o espetáculo "Espaço Sagrado" homenageou a arquitetura dos templos hindus, sendo premiado em 2005.

Estreou em 2008 o espetáculo "Protima", feito sob encomenda onde a história da fundadora e sua relação com a dança foi abordada, e os críticos o elegeram como um dos melhores espetáculos de dança já produzidos.

Atualmente o Nrityagram conta também com uma sala de exposições e um centro de fisioterapia, e além de receber e hospedar bailarinos residentes o Nrityagram também envia professores para ensinar em aldeias e nas cidades, uma vez que a escola se encontre realmente distante dos centros urbanos
.
Para qualquer bailarino, estudar em Nrityagram é viver e realizar um sonho, é ter a dança e a natureza como amigos íntimos. Esse sonho é possível graças ao esforço de indivíduos que dedicam sua vida à arte e que merecem não apenas o aplauso nos palcos mas todo o apoio possível.



| Baseado no texto de Leela Venkataraman
  ÍNDIA PERSPECTIVAS vol 24 2010

A todos que acompanharam minhas postagens ao longo desse ano para esse blog, e mesmo para aqueles que chegaram agora por aqui, deixo o meu muito obrigado e votos de boas festas e um próspero ano novo.

Namaskar



[Índia em Dia] Consciência Musical

por Raphael Lopes
Orquesta de música odissi: Packawaj (percussão), Violino, Manjiras (snujs),  sítar, vocal e harmonium
Olá queridos leitores da minha coluna!!!

É sempre um desafio escolher a dedo um assunto que seja novo e útil ao público, propondo acima de tudo uma reflexão maior por parte de cada profissional da dança ao invés de apontar regras fixas.

Escrever para um blog é como falar para uma audiência de atentos amigos, e essa oportunidade não pode ser desperdiçada com assuntos pueris ou repetitivos. É preciso ser enfático já que essa é uma ferramenta de contato direto com a galera que está produzindo arte.

O tema que decidi abordar com vocês esse mês é sobre o uso e edição de músicas, e sobre a visibilidade que é dado ao processo de escolha e finalização da mesma.

Dançar é uma arte por si só, mas não é uma arte isolada. Por vir de uma base shástrica (Shastra = Tratados Hindus), gosto de usar as referências encontradas nas artes cênicas indianas para organizar o meu próprio entendimento da dança. Para os indianos uma apresentação artística está enraizada em quatro pilares centrais:


Raphael Lopes em performance enlevado pela música


1 - Corpo 

Técnica de expressão corporal, por meio da inteligência motora em expressar o ritmo com suavidade e vigor, isolando as diversas unidades de movimento, ao mesmo tempo em que as une em sua orquestra de possibilidades de movimento conjuntos;

2 - Ornamentação

Maquiagem, figurinos, e elementos cênicos que enfatizem os movimentos, revista o bailarino com as personagens ou até mesmo permita uma total desidentificação do bailarino com o seu eu ordinário, fundindo-o com as narrativas dançadas em cena;

3 - Música 

A música indiana é a tradução exata do movimento em forma de som, de modo que estruturalmente a dança seja em si uma manifestação clara do ritmo elaborado pela música. As músicas indianas - as Ragas - são reproduções melódicas dos padrões vibratórios do universo, de modo que cada composição seja uma tentativa de reproduzir no espaço cênico a energia que inspirou a música e o artista, provocando assim um impacto energético sobre a platéia.

4 - Emoção

Que é a capacidade artística do bailarino interpretar e, acima de tudo, compartilhar o que "sente" no palco com a sua platéia. A performance artística não pode ser reduzida numa exposição supérflua de movimentos, muitas vezes sem a ornamentação e música apropriadas, pois a finalidade dessa experiência deve ser a elevação da consciência de ambos - bailarino e expectador.



Vamos nos ater a música.

É quase indissociável a música da dança, de modo que praticamente 95% dos bailarinos pensem sua arte já delimitado pela música, ou então, busque adaptar seu trabalho "pronto" numa música que permita certo encaixe de movimentos e ritmos, ao mesmo tempo em que agrade o gosto peculiar do artista. Até ai não há nenhum problema...

Existe um costume interessante nas apresentações de dança indiana: geralmente os primeiros instantes da performance (podendo tomar até uns dois minutos) são destinadas unicamente à uma "apresentação" de cada instrumento que compõe a orquestra. Assim teremos os instrumentos de corda, de sopro e de percussão apresentados em isolado, com variações de velocidade e ritmo, e depois em uníssono com a voz do cantor. Essa é uma forma de cada artista participar do "centro da performance", lembrando que por mais que a dança seja o foco principal da atividade exercida em cena, cada músico e instrumento também está em cena e merece o primeiro plano, e não apenas ser um pano de fundo para a dança.

Essa desatenção com os músicos e instrumentos é tamanha que atualmente é praticamente impossível encontrarmos um evento que comporte essa introdução para cada número. As explicações são diversas (falta de tempo, excesso de bailarinos na grade do evento, evitar a dispersão da platéia), mas elas todas refletem uma única coisa: a falta de comprometimento real com a Arte!!!

A bailarina Revital Carol simbolizando o instrumento de cordas (Veena)

Um número de dança deveria ser assistido como uma grande celebração da alegria, ou como um grande ritual. E em ambas as perspectivas parece que vivenciamos um hiato de tempo. Uma imersão tão profunda no que vemos e ouvimos que ficamos como sob encanto hipnótico. Introduzir a música de forma adequada e respeitosa irá preparar a mente do expectador para o movimentos a seguir, assim como as alternâncias de padrões rítmicos que culminam num clímax reverberam sobre os centros emocionais (vale lembrar que a audição é um dos veículos mais rápidos para arrebatar a consciência, perdendo provavelmente apenas para o olfato - sistema límbico).

Uma dica para os produtores de eventos é justamente pesarem o número de informação sonora e a forma como esse cardápio será administrado à plateia. A principio em quantidade. Não adianta reduzir o número de cada participante para poucos minutos no intuito de ter muitos bailarinos em cena, pois o cansaço é o mesmo para quem assiste, e de quebra nenhum número terá o tempo hábil para desenvolver uma comunicação empática com quem o assiste.

O revezamento de estilos, ou de velocidades rítmicas podem ser calculadas de modo a prenderem a atenção do público, alternando com momentos onde é possível relaxar e digerir os números já apresentados.

Outro ponto importante é a questão dos direitos autorais. Nem todas as músicas estão livremente disponíveis para reprodução. Da mesma forma que não podemos plagiar uma coreografia, não deveríamos copiar as músicas de nossos amigos. Ou ainda mais: não deveríamos utiliza-las sem a devida autorização do músico que a gravou! 



 A partir dos 3 minutos é possível ver o Guru Gangadhar Pradhan (in memorian) saudando os instrumentistas, e por consequência, a Música que irá dar forma à sua performance

Ao que parece, essa preocupação é nula em nosso país, justamente pela grande maioria das músicas utilizadas serem músicas mais populares e destinadas realmente  ao entretenimento. Mas por favor: citem os nomes das músicas e bandas!!! Além de você mostrar respeito à uma parte essencial de sua performance, vocês estará permitindo que seu público depois possa ir procurar mais material do artista. Eu particularmente aprecio muito os festivais de dança pela possibilidade mágica de ser introduzido a novos mundos musicais (e quantas bandas marcantes entraram na minha vida unicamente por ter escutado um pedaço de uma música num show de final de ano!!!).

Se seu estilo for mais contemporâneo e arrojado, e uma edição de música for necessária, lembre-se sempre das harmonizações necessárias para que a edição não se torne uma quimera. Saiba respeitar o público, levando qualidade e informação, e acima de tudo um bom entretenimento.

Nas danças clássicas indianas nos utilizamos das Talas, que são os padrões rítmicos coreografados por gurus legendários. É um costume do bailarino informar à platéia não apenas o nome da música, mas também sua Tala, e o Guru que a compôs para a peça de dança. Essas músicas se tornaram como um repertório mundial para qualquer estudioso, mas sua disseminação é feita seguindo um critério muito específico: é preciso que o bailarino se dedique ao aprendizado da coreografia, e a domine com perfeição para poder "ganhar" a música. As músicas mais populares das danças indianas são partilhadas internamente entre a própria comunidade global de dança. As exceções ficam quanto à certos números específicos, normalmente composições restritas de certas companhias, ou que tiveram uma grande demanda por parte da orquestra e do estúdio que a gravou. Nesses casos um valor é cobrado pela música, e ainda assim a mesma é transmitida no momento em que poderá ser fielmente executada pelo bailarino. No ocidente criou-se uma pequena rota paralela de vendas de músicas de dança indiana, onde bailarinas que viajam há mais tempo se aproveitam da dificuldade que é conseguir esse material, e vendem à preços impraticáveis. Vejo como abominação esse comércio clandestino feito sobre obras que não tem preço, ainda que concorde que é preciso sim reconhecer algum valor sobre tudo o que consumimos.



A bailarina Magda Sa'id dançando Daff, a dança do pandeiro - numa clara demonstração do quanto a dança é em sua essência uma leitura do ritmo musical

No mais gostaria de fazer um último alerta: se você gosta de extrair áudio de vídeos da internet, gosta de fazer colagens sobre composições já existentes, ou ainda faz edições sobre músicas para que elas percam sua identidade original para servir ao seu próprio trabalho, repense em como pode introduzir Ética na sua arte. Opte por música ao vivo quando for possível, contate músicos, visite orquestras e, se possível, experimente durante um ano se dedicar ao estudo de um instrumento. Aprenda a respeitar a música como o esteio de sua dança, como uma das partes mais importantes de seu trabalho.

Cite os nomes dos músicos, ou ao menos o nome da música. Saiba ouvir cada instrumento "dançando" em cena, e expanda sua forma de consumir arte. Aplauda não apenas o bailarino, mas a toda equipe que torna possível a magia do palco!!!

Até a próxima,

Namaskar



[Índia em Dia]Navaratri e a produção cultural indiana

por Raphael Lopes

 Pandal de Durga, decorado na cidade de Calcutá

Olá queridos amigos,


A dança é certamente um dos maiores barômetros de uma cultura. A produção artística é reflexo do pensamento de uma sociedade, e do quanto a mesma disponibiliza recursos culturais e liberdade pessoal para que cada artista em isolado promova em arte um panorama maior de sua civilização.


É bem sabido que todas as culturas em seu princípio rudimentar tinha por base a celebração do mistério das forças que as circundavam, de modo que o movimento dos astros, os fenômenos sazonais, a guerra e sua sucessiva vitória, e por que não até mesmo a morte, eram festejadas com dança.

Dançar é uma das formas mais antigas de Orar que o homem descobriu. Uma experiência mística que sai da clausura de um monastério, trazendo para o palco da vida todas as suas emoções em forma de movimento.

A cultura indiana é uma das culturas arcaicas que ainda resistem ao tempo e todos esses milênios de cultura viva se refletem em sua produção cultural. Mas o inverso também pode ser equalizado: não seria a produção artística hindu um dos alicerces que preservaram sua cultura até a atualidade?

Arati nos pés do sagrado Rio Ganges após celebradas as Pujas

Eu arrisco afirmar que sim. E é justamente sobre um elemento central da produção cultural hindu que gostaria de me ater nessa publicação desse mês. É o Durga Puja (ou o Kali Puja), que estão envolvidos nas festividades conhecidas como Navaratri. Nava, significa "nove"; e Ratri, significa "noite". Nove noites de celebração à Deusa, que ocorrem sempre nos Equinócios (entrada do Outono e da Primavera), em que há diversas passagens onde Devi é a protagonista da salvação dos Deuses e dos três Mundos que compõem o Universo. A palavra Puja, que num primeiro instante pode ecoar como a saudação feita pelas bailarinas de American Tribal Style®, é na verdade um termo específico da liturgia hindu. Se trata de uma adoração elaborada às deidades, uma forma de prestar reverência e devoção, estabelecendo uma relação tátil com o sagrado por meio dos elementos que são ofertados às Imagens Devocionais: o Fogo da Lamparina, o Aroma dos Incensos, o Sabor das Frutas, o Frescor das Águas, a Vibração dos Mantras. Enfim, os elementos são purificados ao mesmo tempo em que purificam o celebrante num fluxo retroativo. 

Adorar as formas da Deusa por meio de presentes, festas e banquetes é uma consequência natural ao rito da Puja, e essa celebração é a forma social de se vivenciar o sagrado. Foi dai que surgiu a especializada casta de bailarinas totalmente dedicadas à produção artística nos Templos, ainda que diversas danças mais "simples" compunham as celebrações sociais. O Navaratri e a concorrida festa de Navaratri se assemelha muito com o nosso clima carnavalesco, ainda que nada possa se assemelhar ao espírito religioso que pervade essa festa. Nossa cultura no ocidente cingiu o sagrado do profano, de modo que todas as festas populares se tornaram demasiadamente comerciais e perderam todo o seu sentido religioso original. Na Índia, a festa e o rito caminham lado a lado. 

 Mulheres em festa na procissão de Durga, realizando a dança Dhunuchi com os incensos

A vasta mitologia indiana influenciou fortemente os cinemas, e Bollywood automaticamente, de modo que os filmes (em sua grande maioria, musicais) retratem as festas populares, ora com as danças clássicas (como executadas nos Templos), mas também as versões mais folclóricas e populares.

Os grandes dramas e paixões estrelados nessas peças ocorrem em paralelo aos festivais religiosos, de modo que os filmes indianos sempre nos trazem algum "sabor" dessas comemorações. O Durga Puja, por exemplo, é o cenário onde ocorre uma das mais célebres cenas de dança do cinema indiano, no filme Devdas (filme de Sanjay Leela Bansali). 


Além dos variados números de dança, esses filmes retratam também a moda e o vestuário, em partes influenciados pela estética, que recobre as próprias imagens das divindades. Em várias cidades da Índia, sendo Calcutá uma das mais aclamadas, existe até mesmo uma competição elegendo o bairro mais festivo e os altares mais bem produzidos. As danças que seguem a procissão das deidades até os rios sagrados que banham as cidades apinhadas são das mais variadas: danças envolvendo o malabarismo dos turíbulos e incensários; mulheres carregando bastões e dançando com suas amiga; saias, cheiros, e cores, muitas cores.

A dança é como a "respiração" que permeia a cultura; e é impossível dançar uma dança étnica sem a perspectiva de seu próprio Ethos. Dançar dança indiana não exige uma conversão ao hinduismo, mas exige uma profunda conexão com a cultura de modo que a dança possa assim respirar e exalar sua existência sobre os palcos tão distantes de seu berço natal.

 Bailarina de Kuchipudi, caracterizada como Devi

A dança Tribal tem um forte viés globalizante, mas ao mesmo tempo está se caracterizando como uma cultura nova. É um reflexo da aldeia global onde todos vivemos: onde podemos baixar um aúdio de derbak em poucos minutos no celular e importar acessórios dos quatro cantos do mundo pela internet. Mas, mais do que isso: dançar não é se fantasiar. Todos os mais lindos ornamentos serão apenas um acúmulo de exuberância sem sentido se eles não contarem uma história.

Hoje a Índia conta as glórias de sua Mãe Divina e toda a produção artística carrega uma parte dessa glória. Qual história sua dança quer contar?

Até a próxima,

Jaya Maa!!!


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