Na nossa última postagem falávamos sobre as influências hindus na dança Tribal contemporânea, com a promessa de apontar esses elementos em dançarinas mais específicas (como a Zoe Jakes). Mas com a vinda de Caroleena Nericcio Bohlman ao Brasil para a certificação de dezenas de bailarinas e uma apresentação pocket ao lado de Megha Gavin no sétimo Festival Campo das Tribos (encabeçados pela Rebeca Piñeiro) me obrigam a pedir licença e permissão para uma pausa, e falar um pouco sobre tudo o que vi e ouvi desse evento tão marcante para a história da dança aqui no Brasil.
O Festival anunciado com grande pompa no final da sexta edição no ano passado causou um grande alvoroço no meio tribal. Muitas bailarinas iniciaram suas economias para participar dos cursos oferecidos e algumas professoras já certificadas com o título de Sister Studio ofereceram cursos preparatórios para as futuras Sisters; e registro aqui também o surgimento do projeto Pilares do Tribal (encabeçado pela Maria Badulaques) organizado como um diário (blog) onde entrevistas, videos e muitas matérias bem interessantes eram postadas diariamente numa contagem regressiva à vinda de Mamma C.
General Skills pela primeira vez no Brasil, foto oficial da fanpage do FatChanceBellyDance |
Essa expectativa era tão tátil entre as bailarinas que posso afirmar que o Festival começou assim que o sexto terminou. Não se falou em outra coisa ao longo de todo o ano!!! Acho importante frisar esse frison, porque ele ajudará a compor minha crítica como um todo ao projeto.
O Festival começou com os cursos General Skills iniciados ao longo da semana, e as redes sociais foram bombardeadas por declarações emocionadas das meninas que estavam tendo contato com a visionária bailarina que arrematou o ATS® e o tornou tão impactante e fundamental para o Tribal. No final de semana chegou o tão aguardado Show, que foi dividido entre os horários de Mostra e o Show de Gala. Esse ano em específico essa divisão criou uma celeuma mais clara entre as bailarinas.
Shows de mostra costumam ter um público reduzido e, independente do nível apresentado, existe um preconceito de que o show de mostra seja menor em qualidade. O que é muito complicado de afirmar, uma vez que cada número provoque um efeito diferente na opinião de quem o assiste. Não existe unanimidade quanto à qualidade de um Show, de modo que a mostra acaba sendo uma forma de um número maior de participantes mostrarem seus trabalhos. É como uma vitrine, de onde surgem muitas pérolas. Vide o próprio Guigo Alves e sua Cia Exotique, que participaram dos shows de mostra do Festival Campo das Tribos e, em pouco tempo, chegaram a apresentar o mesmo e dançar no Show de Gala.
A Sister Studio Natália Espinosa, Maria Badulaques, Emi Victoria, em o Coletivo Amora no Show de Mostras |
Algumas críticas foram mais ácidas, principalmente apontando números do Show de Gala como tendo sido inferiores a números das mostras. Galera, o Festival Campo das Tribos não é um festival competitivo, e esse tipo de crítica pode dissolver muito mais do que agregar o espírito de tribo. Lembrem-se sempre que no final das contas é a opinião da organizadora do evento que vai pesar nessa seletiva. Geralmente por afinidade, proximidade profissional, para algum tipo de promoção, ou até mesmo para agregar valor ao evento: não importa os motivos que a organização utilize para essa divisão, mas é preciso respeitar toda forma de arte que for levada ao palco.
Acredito que de repente uma organização mais inclusiva gerasse uma reação muito mais positiva num geral, mas essa é a minha opinião, assim como a de outras pessoas com quem pude conversar. Mas verdade seja dita, quem quiser algo diferente assim o faça!!! Esse é o formato do Festival, sempre foi assim.
Mariana Quadros, primeira Sister Studio brasileira |
O Show teve um pequeno contratempo com a equipe de iluminação e palco, mas nada que tenha prejudicado diretamente o show. A iluminação do próprio teatro (embora menos diversificada) esteve a nossa disposição, mas foi uma perda não termos o recurso da máquina de fumaça e do telão como era esperado. Sem maiores atrasos, e sob a euforia de uma platéia ansiosa, o show foi belamente introduzido com um número rico. Música ao vivo e um seleto número de bailarinas escolhidas por Rebeca Piñeiro dançando números "improvisados", ambientando em pleno Teatro Madre Cabrini todo o clima de festa das feiras tribais à la Bal Anat. Vale registrar que o primeiro solo ter sido o de Mariana Quadros foi uma bela homenagem à nossa primeira Sister Studio tupiniquim rs.
Daí em diante os Shows seguiram sem apresentação, o que sempre vejo como uma grande deficiência. Um festival desse calibre, assim como qualquer atividade cultural apresentada ao grande público necessita de um mestre de cerimônias que saiba não apenas introduzir os bailarinos e números apresentados de forma fluída, mas, acima de tudo, interagir com o público para que exista uma conexão entre palco e platéia. A impressão que tive em alguns momentos era estar assistindo um filme num grande telão, fora a curiosidade em saber o nome dessa ou daquela bailarina desconhecida que estava em cena. Acho que nesse ponto é importante lembrar que qualquer Festival precisa de uma direção artística, que consiga costurar tantos números tão únicos e especiais a favor de um tema, e prender de forma estética a elegância do evento para quem o assiste.
Raphael Lopes - Show de Gala |
Os bastidores do evento era um misto de camaradagem sempre presentes em eventos de tribal, pois geralmente são nesses momento que reencontramos amigos tão queridos, mas que moram em outras regiões. Existia uma tensão no ar, principalmente quanto a cruzarmos com Carolena pelos corredores, mas infelizmente não tivemos acesso à ela. A equipe de produção do evento as mantiveram isoladas (e isso é entendível), e eu me pergunto se elas puderam prestigiar o Show que estava acontecendo...
O dueto de Megha Gavin e Carolena Nericcio levantou a platéia, e reduziu a distância entre os admiradores da arte e sua idealizadora. Particularmente eu esperava um número mais explosivo, mas a emoção era tamanha que certamente todos aqueles que assistiram aquele show irão se lembrar sempre com um sorriso estampado no rosto. Com a presença de Kelsey Suedmeyer e Rebeca Piñeiro, as quatro dançaram um número onde era visível toda a emoção da organizadora do evento. Sinto apenas que o show poderia ter uma carga mais Tribal se mais bailarinas tivessem o privilégio de dividirem o palco com a Mãe do Tribal.
Com o encerramento o público parecia esperar que Carolena retornasse ao palco, e trocasse algumas palavras... mas assim que todos os convidados do Show de Gala voltaram ao palco seguidas por Rebeca, as cortinas se fecharam sem muitas delongas. Espero que minha visão aqui partilhada não soe como uma crítica pesada, mas apenas um relato de quem participou de um Show gestado por um ano, e que esperava, assim como as demais bailarinas e públicos, um "algo" a mais. Rebeca terá sempre seu espaço no cenário da dança, conquistados por sua visão arrojada de mercado, mas é uma opinião geral de que é preciso uma direção mais clara em seus Festivais.
Kelsey Suedmeyer |
Um grande viva ao Campo das Tribos que uniu a tantas pessoas nessa conquista, mas acima de tudo: que ele possa ter plantado a sementinha de vida nova e próspera na dança tribal no Brasil.
Rebeca Piñeiro e Pashmina Tribal com Carolena Nericcio |
Um grande beijo, e até a próxima!!!
Quero os direitos autorais desse texto porque vc deve ter entrado na minha mente.
ResponderExcluirAcho q o q mais me pegou foi não ter visto as meninas do fcbd no final... Deve ter sido algum pedido da Carolena, sei lá... Senti bastante nisso.
E ato às pessoas dançando na gala, queria saber quem achou ruim. Eu achei lindas as apresentações, cada uma sendo parte da origem do ats ou o q ele se tornou depois. A única coisa é que ficou cansativo msm, muito ats seguido.
Como andam surgindo muitos temas sobre Gala x Mostras, vou deixar aqui registrado minha opinião, que dialoga com outros textos, como da Natália Espinosa e Maria Badulaques. Estou com preguiça de postar em cada comentário de seus respectivos blogs xD Então, centralizo aqui minha opinião com relação aos três textos.
ResponderExcluirConcordo com a Maria quando ela menciona o real significado da palavra "gala" e qual a real expectativa que isso gera por parte do público. Atrelado a isso, o que o próprio Raphael Lopes menciona em seu texto acima, que o evento da vinda de Carolena no Brasil é um marco em nossa história e começou há um ano atrás no momento em que foi anunciado. Isso tudo gera muita expectativa por parte de toda a comunidade, mesmo eu, que não fui, fiquei sonhando como seria o gala. E sempre que alguém ou algum tema que envolva os eventos surge, criamos uma idealização. Às vezes os organizadores conseguem "captar" essa energia de seu público, às vezes não.
Concordo com a Natália e o Raphael quando comentam que o gala, aqui no Brasil, é " o show de artistas convidados pelo organizador do dito evento.(...) que não é apenas a qualidade técnica que conta nessa hora." (trechos retirados do blog Tribalices).
Contudo, acho que os eventos estão se tornando obsoletos e não acompanhando os anseios de seus públicos. Talvez isso gere os "comentários ácidos". E não é de hoje que os eventos de tribal vem deixando seus participantes assim. Muitos eventos no exterior usam as "mostras" como um "caça-talentos", possibilitando as pessoas de se apresentarem e, futuramente, serem convidados pelas organizações do evento. Isso é super saudável, pois as pessoas se sentem motivadas em dançar nas mostras, e muitos acompanham as mostras por causa disso.Segundo, novos talentos surgem reciclando, renovando, oxigenando o gala. Aqui no país sinto o gala sempre na mesmice, não tendo novas atrações. Vc já espera o que vai acontecer. Eu não estou desmerecendo ninguém, pois muitos são profissionais há algum tempo e muitos talentosos também. Contudo, acaba se tornando muito "consanguíneo". Uma linhagem muito fechada.
Atualmente, o quadro que vejo nos eventos tribais é a extinção das mostras, pois já ouvi de muitos não quererem dançar por não terem visibilidade, tanto da organização quanto do público. Além de gastar dinheiro para dançar e não ter retorno(seja ele qual for...isso depende de cada um). Ou as pessoas, inconformadas, criam seus meios de se apresentarem, seja em eventos menores, haflas e a geração de novos eventos.
Deixo aqui os textos mencionados:
- Tribalices:
http://tribalices.blogspot.com.br/2015/04/show-de-gala-x-show-de-mostras.html
- Pilares do Tribal:
http://pilaresdotribal.blogspot.com.br/2015/04/carolena-no-brasil-o-que-e-que-nao-e.html
- Texto meu - antigo, mas comenta um pouco sobre isso:
http://aerithtribalfusion.blogspot.com.br/2014/06/reciclando-o-repertorio-na-danca-tribal.html
OBS: Gostaria de frisar que não estou me dirigindo a nenhum evento em específico, e sim a todos. O meu comentário é sobre o formato dos galas e mostras no Brasil. Apenas uma reflexão. Eu não fui ao Festival. Só para reforçar que não é uma crítica ao evento.