[Old is Cool] Localização do Old School no Estilo Tribal de Dança do Ventre

 por Mari Garavelo 

Sejam muito bem-vindas e muito bem-vindos à minha coluna aqui no blog! Estou muito feliz com essa oportunidade de trazer um pouco da minha pesquisa e das minhas reflexões sobre esse tema para vocês.

Esta coluna tem o objetivo de fazer pequenas análises e levantar reflexões sobre a velha escola do tribal a fim de aproveitar esse universo de possibilidades e idéias que ela traz para evoluir nosso estudo e prática da dança atualmente.

Vamos começar pelo próprio conceito de uma velha escola, ou old school: o que significa? 

A expressão provinda do inglês, old school, ao pé da letra em português é “velha escola”, podendo também ser interpretado como “à moda antiga”. Esse termo se refere a um conjunto de elementos do passado que foram bastante utilizados ou valorizados em determinada época, e que são considerados hoje um pouco obsoletos, com um quê de démodé (palavra que provém do francês e significa “antiquado”, podendo se referir a algo considerado fora de moda, ou que já teve seu momento).

O old school pode referir-se também a algo que se tornou clássico ou estabelecido como tradicional de alguma maneira, como tatuagem old school, hip hop old school, moda old school etc.

Exemplo old school na moda, tatuagem e artista do movimento hip hop, Tupac Shakur.

 

Vale muito ressaltar que old school não é necessariamente o mesmo que vintage ou retrô. Vintage se refere geralmente a elementos que são originalmente antigos, que foram produzidos no passado, enquanto o retrô tenta reproduzir a estética do vintage em elementos atuais.

Outra característica muito importante é a de que no conceito de old school nós podemos observar um conjunto de elementos de uma determinada época e que geralmente fizeram parte de uma vanguarda (guarde essa palavra!) de um nicho específico. Então, quando falo em hip hop old school não falo necessariamente da mesma época da tatuagem old school, são momentos diferentes na linha do tempo, mas que tem possuem essa característica da vanguarda e do pioneirismo em comum.

Compreendendo o conceito podemos começar a traçar uma pequena linha do tempo da história do Tribal, e aqui, eu falo exclusivamente do que conhecemos como Tribal Fusion ou Dança do Ventre Tribal para buscar seu momento de vanguarda e começar nossa análise. Minha pesquisa não engloba o ATS (FCBD Style ) porque além de não ser meu foco de estudo também exige uma análise dedicada.

Um último disclaimer antes da linha do tempo é que gostaria de afirmar que não concordo com a ideia de que o Tribal Fusion tem uma história linear. Ao meu ver, não há histórias lineares, existem pontos na história da linguagem que são muito importantes e eles estarão mencionados na linha do tempo para nossa análise, mas, no geral, o desenvolvimento do que nós chamamos de Tribal hoje esteve em alguns lugares ao mesmo tempo e foi se imbricando com as trocas, eventos, as demandas e a internet. Sendo assim, esta linha do tempo abaixo é bastante simplificada, não contempla todos os grandes profissionais envolvidos no Tribal, mas já nos dá um panorama.

 

Conforme podemos observar na imagem acima, a partir dos anos 2000, houve um boom de eventos e personalidades que foram cruciais para o desenvolvimento e o crescimento do Tribal Fusion. Dentre estes, estão a criação do Urban Tribal, a entrada de Rachel Brice no Bellydance Superstars, a amizade e parceria que ela criou com Mardi Love e o Serpent Rouge, o show memorável (e que eu sei que você ama!) que saiu em turnê com a última formação do The Indigo.

É possível observar, no período que vai de 2000 a aproximadamente 2008, que houve muito pioneirismo e trocas entre as criações que estavam sendo feitas. Eu acredito então que este seja o fragmento da linha do tempo em que se localiza o Tribal Fusion old school. Antes desse período, o tribal se desenvolvia de uma forma mais lenta, e, a partir desta época, observamos uma eclosão de eventos importantes para a história do estilo.

O que pode ter influenciado e ocasionado esta eclosão? De que forma esse período ditou como a linguagem se desenvolveria futuramente? Nas publicações seguintes desta coluna vamos buscar as respostas, mas, por ora, temos aqui bastante material para estudar e pensar.

Aqui abaixo está um link de uma playlist que eu criei com vídeos que eu costumo usar para estudar e ensinar sobre tribal old school, pega uma pipoca e faça um watch party com as amigas (tem cada pérola!)!

Não deixe de comentar o que achou dessa postagem e se ficou alguma dúvida, isso é muito importante para o desenvolvimento dos próximos textos.

Até mais!


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Old is Cool


Mari Garavelo (Osasco-SP) iniciou seus estudos em dança do ventre e Tribal Fusion em 2006 e desde então vem aprimorando seu trabalho através de aulas regulares e oficinas com diversos profissionais renomados nacionais e internacionais. Instrutora de Hatha Yoga e Yogaterapeuta formada pela Humaniversidade Holística de São Paulo com registro na Aliança do Yoga.  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

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Old is Cool por Mari Garavelo

 Old is Cool

Mari Garavelo, Osasco – SP, Brasil


Sobre a coluna:

A coluna pretende dedicar-se a análise, reflexão e conhecimento de tudo o que envolve o que é Old School (ou Velha Escola) dentro da linguagem de dança do ventre tribal. Vamos compreender e refletir sobre esse universo de possibilidades e história que o esse recorte pode trazer para nosso estudo atualmente.


Sobre Mari Garavelo:

Iniciou seus estudos em dança do ventre e Tribal Fusion em 2006 e desde então vem aprimorando seu trabalho através de aulas regulares e oficinas com diversos profissionais renomados nacionais e internacionais. Instrutora de Hatha Yoga e Yogaterapeuta formada pela Humaniversidade Holística de São Paulo com registro na Aliança do Yoga. Faz pesquisas e experimentação de diversas danças do mundo, desenvolve um trabalho de inclusão do pensamento e prática do Yoga em ambientes corporativos e nas aulas de dança.





Entrevista

https://coletivotribal.blogspot.com/2015/10/entrevista-38-mari-garavelo.html

Clique na imagem acima para acessar a entrevista.

Artigos

Clique no título do menu acima para ser redirecionado ao artigo desejado. Boa leitura! 

[Dançando Narrativas] Aquelas que Escolhem os Mortos: Trabalhando a Figura das Valquírias na Dança

 por Keila Fernandes

 

Em 2017, fui convidada pela Aerith Asgard a ministrar uma palestra para o nosso grupo sobre  as Valquírias. Nesse ano apresentaríamos uma coreografia sobre elas para o espetáculo Death, do Underworld Fusion Fest. 

Para isso, desenvolvi uma boa pesquisa sobre essas entidades, e montei uma apresentação para explicar para o grupo quais aspectos tínhamos escolhido trabalhar, e porquê. 

Hoje, quero compartilhar essa pesquisa com vocês, para mostrar um pouco do que venho falando nos primeiros textos da coluna: como desenvolver uma personagem mitológica na dança.

 

VALQUÍRIAS: REPRESENTAÇÕES FEMININAS NA MITOLOGIA NÓRDICA

 

Introdução

 

As valquírias são entidades femininas, filhas e servas de Odin. Sua imagem mais recorrente é a de belas mulheres que cavalgam pelo céu, recolhem os mortos nos campos de batalha e os levam para Valhalla.

A palavra valquíria deriva do nórdico antigo valkyrja (plural valkyrjur), que é composta por duas palavras; o substantivo valr (que se refere aos mortos em batalha) e o verbo kjósa (que significa "escolher"). Portanto o próprio nome já faz referência ao principal papel que essas entidades possuem.

No século XIX, a Era Viking passa a ter grande importância na construção de uma identidade escandinava. A representação dos guerreiros e das mulheres é construída com cuidado para esse fim. As valquírias estão inclusas nesse processo. Seguindo o padrão de beleza vigente, elas são representadas como mulheres que, apesar de portar armas, tem traços e figura delicada, usam vestidos finos e se destacam pela beleza.

 

Valquírias da ópera “O Anel dos Nibelungos”, de Richard Wagner.

Atualmente são muito recorrentes em jogos e HQs, nos quais são representadas, geralmente, como guerreiras com poderes de regeneração, e como aquelas que levam os mortos para Valhalla.

 

Lenneth, personagem do jogo de 1999 para PlayStation: Valkyrie Profile: Lenneth.

 

Parte 1: A Diversas Faces das Valquírias

 

Guerreiras que escolhem os mortos, profetisas, deusas do destinos, esposas e amantes. As valquírias possuem facetas diversas, e para escolher os aspectos que seriam desenvolvidos na coreografia, tivemos de buscar conhecê-los nas fontes históricas.

A iconografia (estelas, esculturas e pingentes), apresenta duas facetas das valquírias: a mulher guerreira e a atendente no Valhalla.

A imagem da guerreira armada com lança e escudo e portando cota e elmo só é encontrada nos pingentes da Era Viking, cujas amostras datam no século IX.

Pingentes representando valquírias com equipamento bélico. Dinamarca, século VII - VIII


Já as peças do final da Era Viking (século 11 d.C) e do início do período de cristianização, apresentam figuras mais domésticas usando vestidos e portando apenas uma lança ou um corno de hidromel, evidenciando seu papel de atendente no Valhalla.

 

Pingente representando uma Valquíria levando hidromel. Suécia, século X.

Para Hilda Davidson, a principal característica das valquírias é o fato de serem mulheres sobrenaturais capazes de escolher os rumos de uma batalha.

Para a mesma autora, existem quatro principais facetas das valquírias de acordo com as fontes. Estes são: atendentes (servindo no Valhalla), amantes/esposas dos guerreiros, guerreiras e profetisas.

Guerreiro portando escudo com espiral, ao lado valquíria, triskelion e valknut. Estela de Stenkyrka Lillbjärs III, Gotland, Suécia, séc. IX. Fonte: Allan, 2002: 65.


O simbolismo do Cisne

Na poesia édica[1], as valquírias aparecem como esposas espirituais dos heróis e como aquelas que escolhem os mortos. Em alguns poemas, as valquírias são associadas com as donzelas cisnes e profetisas, assumindo um papel parecido com as nornas[2], sendo entidades ligadas ao destino.

O cisne aparece nas pedras e estelas como o animal responsável por guiar os mortos até seu destino.

Estela de Alskog e pedra Rúnica de Sanda - Suécia - 1020/1050. Em destaque: imagem do cisne que guia o morto para seu destino.


Tecelãs do Destino

 

Segundo o mitólogo Rudolf Simek, a tecelagem e a fiação, como símbolo de determinação do futuro, estão ligadas apenas às valquírias, visto que não há nenhuma fonte escandinava que fale de algo parecido sobre as nornas, sendo até mesmo o número 3 inspirado pelas parcas gregas.

 

No poema Darradarljord, as valquírias são representadas como guerreiras que usam suas lanças para tecer uma tapeçaria com entranhas, cabeças e membros de pessoas mortas.

 

Deusas da Morte

Segundo Régis Boyer, o aspecto guerreiro das valquírias foi herdado das tradições germânicas arcaicas nas quais as mulheres tinham papel de sacerdotisas em ritos de morte e batalha.

As tradições celtas de deusas da morte e da guerra, como a deusa Morrigan, também influenciaram a figura guerreira das valquírias.

Segundo Charles Donahue, celtas e germanos estiveram em contato durante o período romano, e dividiam uma crença em ferozes espíritos ligados à guerra, o que pode ter tido influência na literatura viking a respeito de entidades como as valquírias.

Os poemas escáldicos[3] transformaram as valquírias em entidades guerreiras maravilhosas aos olhos dos humanos. Porém com um aspecto menos violento e mais feminino.

Também há, em antigos encantamentos nórdicos germânicos, a presença de ferozes espíritos femininos ligados à morte, ao destino e à magia, o que nos leva a crer que essas entidades femininas sempre estiveram presentes na espiritualidade desses povos.

Segundo Johnni Langer, os pingentes de valquírias encontrados em túmulos de mulheres indicam que as mulheres tinham uma forte presença nos cultos odínicos


Pingentes representando diferentes aspectos das valquírias.

Parte 2: Xamanismo e Corvos

 

O corvo está sempre presente nas narrativas nórdicas como um animal ligado ao deus Odin.

Em alguns poemas eles aparecem rondando o campo de batalha, e são designados com o adjetivo welceasig (em inglês arcaico) que significa escolhendo os aniquilados. No poema nórdico "Hrafnsmál"  há um diálogo entre um corvo e uma valquíria.

A ligação com as aves está presente desde as formas mais primitivas de religiosidade escandinava. Petroglifos da idade do Bronze (1000 - 400 a.C.) trazem imagem de aves e sacerdotes vestidos como aves, evidenciando elementos xamânicos na religiosidade nórdica.

Além do corvo, o cisne também é um animal que tem ligação com as valquírias, representando a função de guia e sendo o animal que entrega os mortos no Valhalla.

 

 Parte3: De Poderosas Entidades a Figuras Domesticadas

Assim, o que é possível concluir é que as valquírias possuem facetas diversas que foram se fortalecendo ou se enfraquecendo com o tempo. É possível que sua origem esteja nas tradições primitivas pré-viking, onde encontramos figuras femininas ligadas à morte e à guerra, presentes em ritos sacrificiais e proféticos, tendo o poder sobre o conhecimento do futuro e da morte, além das práticas xamânicas.

Tais representações começam a se modificar com as trocas culturais ocorridas com os romanos e, posteriormente, com os cristãos, tornando as valquírias figuras mais coerentes com as tradições patriarcais, nas quais são representadas como belas donzelas, atendentes e esposas.

 

Baixo relevo representando uma valquíria com cornos de hidromel. Gotlândia, séculos VIII - IX

Hoje, o aspecto mais conhecido da valquíria seja, talvez, a sua principal faceta: aquelas que escolhem os mortos. O interesse da cultura pop na história germânica e escandinava resgatou a imagem das valquírias guerreiras e que estão sempre presentes nos campos de batalha para colher seus escolhidos. 

Por isso o arquétipo que decidimos evocar foi o de uma valquíria com as características bélicas presente nos poemas escandinavos como aquelas que escolhem os mortos. E também tentamos trazer o aspecto primitivo xamânico da profecia e dos ritos de morte e guerra. 

Grupo Asgard Tribal Co.

Com a participação do Clã Skjaldborg, grupo de combate viking, desenvolvemos uma narrativa em três atos, na qual as valquírias, dotadas do dom da profecia, dançam o destino dos guerreiros, e aparecem, assim como os corvos, rondando o campo de batalha, em um ritual de guerra e morte, que culmina com a escolha daqueles que serão levado para o Valhalla.

 

Release da coreografia:

As valquírias são poderosas entidades femininas presentes na mitologia nórdica. Filhas de Odin, estão ligadas à guerra, ao destino e à morte, pois são elas que tem na ponta de suas lanças a sina dos guerreiros, sendo as responsáveis por escolher os mortos que entrarão em Valhalla. Sua origem pode ser encontrada nos primitivos cultos escandinavos, como figuras femininas presentes em ritos sacrificiais e proféticos, que possuem o poder sobre o conhecimento do futuro e da morte, sobrevoando o campo de batalha, prontas para tomar a vida de seus escolhidos.

 

Você pode conferir a apresentação aqui: 

| Asgard Tribal |


Referências bibliográficas:

 BOYER, Régis. Mulheres viris. In: BRUNEL, Pierre (org). Dicionário de mitos literários. RJ: José Olympio, 1997b, pp. 744-746.

 DAVIDSON, Hilda Ellis. The lost beliefs of Northern Europe. London: Routledge, 2001.

 ________. Roles of the northern goddess. London: Routledge, 1998.

 ________. Myths and symbols in pagan Europe: early Scandinavian and celtic religions. Syracuse: Syracuse University Press, 1988.

 ________. Escandinávia. Lisboa: Editorial Verbo, 1987.

LANGER, Johnni. Símbolos religiosos dos vikings: guia iconográfico. História, imagem e narrativas 11, 2010b, pp. 1-28. Disponível em: Acesso em 05/01/2012.

LANGER, Johnni, NEIVA, Weber. Valquírias versus gigantas: modelos marciais femininos na mitologia escandinava. Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano V, n. 13, Maio 2012.

OLIVEIRA, Ricardo Wagner Menezes de. Entre nornas e valquírias: o simbolismo do cisne na religiosidade nórdica pré-cristã. II Simpósio internacional da ABHR. História, gênero e religião: violências e direitos humanos. SC, 2016.

SIMEK, Rudolf. Dictionary of Northern Mythology. London: D.S. Brewer, 2007.

 


[1] Coletâneas do século XIII, encontradas na Islândia, que compilam histórias e mitos dos deuses e heróis nórdicos.

[2] Deusas da mitologia nórdica, responsáveis por controlar o destino de homens e deuses. São representadas por três mulheres: Urd, a guardiã do passado, Verdani, a guardiã do presente, e Skuld, a guardiã do futuro.

[3] Tradição oral presente na Noruega e Islândia entre o século 10 e 12 d.C.


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Dançando Narrativas


Keila Fernandes (Curitiba-PR) é escritora, professora de história e  historiadora, especialista na área de Religiões e Religiosidades e História Antiga e Medieval. É aluna da bailarina e professora Aerith Asgard e co-diretora do Asgard Tribal Co. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Formação no Tribal] Em que Tempo estamos na Formação?

por Ana Clara Oliveira


"Gente é como nuvem, sempre se transforma"

Angel Vianna

                                              

 

Nos últimos tempos, tenho observado uma maior preocupação da nossa comunidade de dança quando o assunto é “formação”. Quantas vezes nos deparamos estudando com diversos profissionais e pensamos “Socorro, tenho que estudar mais isso” ou “Nossa! É muita coisa. Preciso saber esse assunto também?" Outras questões são recorrentes: “a minha formação é válida”? Ou “como posso me tornar professora”? Quem nunca entrou quase que em desespero ao saber dos diferentes conteúdos que a área da Dança pode abarcar no contexto da formação? Especialmente, nos momentos desafiantes do agora e com o elevado fluxo de informação, tenho notado que crescem as propostas para diversificados aprendizados e assim, entramos num estado enlouquecedor para acompanhar o funcionamento da formação em dança.

Assim, a coluna FORMAÇÃO pretende se dedicar aos assuntos que envolvem o contexto de ensino-aprendizagem no tribal, ou seja, a educação em dança. Temas como conteúdos, capacitações internacionais e nacionais, tendências pedagógicas, metodologias, métodos, avaliações, relação entre docente-discente, cursos acadêmicos e outras modalidades do ensinar/do aprender serão pontos fundamentais que serão tocados de modo acadêmico no alongamento da coluna. No presente texto, resolvi estrear com menos rigor acadêmico ou como diria Manuel Bandeira “quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples”.

No entanto, há que se considerar, inicialmente, que formação é um vocábulo complexo, que inspira diversos conceitos e significados. Para muitos, a formação refere-se ao âmbito educacional, ou seja, ao trabalho desenvolvido no campo de atuação institucional e organizações similares. Para outros, o termo formação relaciona-se ao modo como uma pessoa foi criada, nesse caso, aos aspectos da subjetividade. Na verdade, a multiplicidade do termo formação direciona para a tensa relação educação-segregação social, uma vez que a própria história de nosso sistema escolar mostra que o direito à educação atravessa “a histórica marginalização e segregação social e racial dos direitos sociais, econômicos, políticos, segregação tão persistente na cultura e na estrutura elitistas, conservadoras” (ARROYO, 2015, p. 18).

Visivelmente, estamos nos tempos de reconhecer que o direito à formação no contexto educacional está vinculado a negação e afirmação dos direitos humanos básicos. Em outras palavras, a segregação social e também racial impacta na demorada garantia dos direitos humanos e do direito à escola, à universidade e, no nosso contexto, aos espaços de formação em dança. Se olharmos para a comunidade brasileira de fusão tribal perceberemos se negros e outros “oprimidos” (FREIRE, 1987) chegam igualmente (quando alcançam) à tão sonhada formação em dança tribal ou estilo tribal de dança do ventre.

Paulo Freire, ao compreender os oprimidos como sujeitos de processos, agentes sociais e de formação humana, ressalta: “quem melhor que os oprimidos se encontrará preparado para entender o significado terrível de uma sociedade opressora? Quem sentirá melhor que eles os efeitos da opressão?” (FREIRE, 1987, p. 31). Para mim, é evidente que ao falar de formação/educação/pedagogia em dança é preciso reconhecer que os oprimidos compreendem a sociedade opressora e os efeitos da desumanização no cotidiano de suas vidas. Neste sentido, não seria uma função das capacitações e escolas de formação em tribal abarcar as resistências dos oprimidos e compreender suas experiências de opressão, sobretudo, do Estado? Ou deveríamos focalizar apenas no universo de técnicas estabelecidas e práticas cada vez mais eficientes e inovadoras do mercado? Por isso, intitulei o texto como: em que tempo estamos na formação?

No meu ponto de vista, acolher as reflexões e vivências do Outro, não é o mesmo que abandonar o aprendizado de técnicas. Cabe aqui, esse saber “todo o Ser Humano nasce com um Sol interno. É responsabilidade da comunidade Acender esse Sol para o nosso livre caminhar na Vida” (Filosofia Kindezi citada por Aza Njeri).

Se nos reconhecemos como profissionais ou alunos de tribal, precisamos problematizar os significados da formação. “Não nos desarmemos em tempos insatisfatórios. A injustiça social ainda precisa ser combatida. O direito à educação não vai melhorar sozinho” (ARROYO, 2015, p. 46)

E agora, o que nossa comunidade de dança entende sobre a palavra “formação”? Depois da leitura, qual imagem de “formação” você desenharia?

Vamos dialogar!

 

Referências

ARROYO, Miguel. O direito à educação e a nova segregação social e racial – Tempos insatisfatórios? Educação em Revista|Belo Horizonte|v.31|n.03|p. 15- 47 |Julho-Setembro, 2015. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-46982015000300015&lng=pt&tlng=pt. Acesso em: 07 de jan. 2021.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

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Formação no Tribal


Ana Clara Oliveira (Maceió-AL) é dançarina e pesquisadora do estilo Tribal de Dança do Ventre. Professora de Dança na Escola Técnica de Artes (UFAL). Doutoranda em Artes (UFMG) onde pesquisa a formação no Tribal. Mestrado em Dança (UFBA). Diretora da Zambak Cia de Dança Tribal ... Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>
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Formação no Tribal por Ana Clara Oliveira

Formação no Tribal
Ana Clara Oliveira, Maceió – AL, Brasil


Sobre a coluna:

Convido você para refletirmos sobre os processos formativos na comunidade da dança Tribal. A coluna pretende se dedicar aos assuntos que envolvem o contexto de ensino-aprendizagem na dança. No decorrer das postagens, vamos discutir os temas como conteúdos, capacitações internacionais e nacionais, tendências pedagógicas, metodologias, métodos, avaliações, relação entre docente-discente, cursos acadêmicos e outras modalidades do ensinar/do aprender. Trago a você uma convocatória para pensarmos a educação da Fusão Tribal no Brasil. 


Sobre Ana Clara:

Ana Clara é dançarina e pesquisadora do estilo Tribal de Dança do Ventre. Professora de Dança na Escola Técnica de Artes (UFAL). Doutoranda em Artes (UFMG) onde pesquisa a formação no Tribal. Mestrado em Dança (UFBA). Possui Licenciatura em Educação Física (UESC) e formação em Dança através de especializações. Coordena a extensão universitária em Tribal na UFAL. Diretora da Zambak Cia de Dança Tribal (AL). É estudante de Bharatanatyam.  Contato: anaclaradanca@gmail.com e seu instagram é @anaclaradanca.


Artigos


[Resenhando-SC] Jornada Tribal 2019

 por Cintia Vilanova e Raqs Produções




Olá, leitores do Coletivo Tribal!


Venho aqui no Resenhando-SC trazer para vocês outro evento que aconteceu durante o tempo que o blog estava for a do ar, a Jornada Tribal 2019. Organizado por Cintia Vilanova e  Raqs Produções, o evento ofereceu 10h de workshops com Rebeca Piñeiro com os temas: Refinamento Técnico, Dialetos de Espada, Dialetos de Saia, Duelling Duets e Floowork. Com temas variados e uma carga horária bem distribuída, deixou todos os entusiastas de FCBD® Style de Florianópolis muito satisfeitos, eu inclusive. Com as palavras da organizadora:


A Jornada Tribal é uma expressão que gosto de usar para definir o caminho que cada dançarina vive ao decidir pelo tribal como sua dança de empoderamento! Dessa vez, a Jornada ganhou um presente que será um final de semana inteiro de estudo e troca com Rebeca Piñeiro, uma das pioneiras do ATS®* no Brasil.”.


*OBS: No mês de agosto de 2019 ainda era denominado ATS®.






A programação do evento foi a seguinte:


Sábado - 24/08/2019
9h30: Refinamento Técnico
10h30 às 12h30: Dialetos de Espada para FCBD® Style
14h às 16h: Dialetos de Saia para FCBD® Style
19h às 21h: Hafla Sangha Tribal

Domingo - 25/08/2019
9h30: Refinamento Técnico
10h30 às 12h30: Duelling Duets
14h às 16h: Floorwork





A Jornada Tribal contou com o Hafla Território Improviso, com arena livre para dança e inscrições para os participantes receberem avaliações por Rebeca Piñeiro no FCBD® Style e Vanessa Iara na Dança do Ventre. Confira o vídeo abaixo com a apresentação de Rebeca Piñeiro e Cintia Vilanova:



Muito obrigada por acompanharem! Até a próxima!


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Resenhando-SC


Aline Pires (Florianópolis-SC) é bailarina e professora de dança oriental árabe e fusion bellydance/tribal fusion natural de Florianópolis, Santa Catarina e proprietária do La Lune Noire Estúdio de Dança. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

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