Sejam muito
bem-vindas e muito bem-vindos à minha coluna aqui no blog! Estou muito feliz
com essa oportunidade de trazer um pouco da minha pesquisa e das minhas
reflexões sobre esse tema para vocês.
Esta coluna tem o objetivo de fazer pequenas análises e levantar reflexões
sobre a velha escola do tribal a fim
de aproveitar esse universo de possibilidades e idéias que ela traz para
evoluir nosso estudo e prática da dança atualmente.
Vamos começar pelo próprio conceito de uma velha escola, ou old school: o que significa?
A expressão
provinda do inglês, old school, ao pé
da letra em português é “velha escola”, podendo também ser interpretado como “à
moda antiga”. Esse termo se refere a um conjunto de elementos do passado que
foram bastante utilizados ou valorizados em determinada época, e que são
considerados hoje um pouco obsoletos, com um quê de démodé (palavra que provém do francês e significa “antiquado”,
podendo se referir a algo considerado fora de moda, ou que já teve seu
momento).
O old school pode referir-se também a
algo que se tornou clássico ou estabelecido como tradicional de alguma maneira,
como tatuagem old school, hip hop old school, moda old school etc.
Exemplo old school na moda, tatuagem e artista do movimento hip hop, Tupac Shakur.
Vale muito
ressaltar que old school não é
necessariamente o mesmo que vintage
ou retrô. Vintage se refere geralmente a elementos que são originalmente
antigos, que foram produzidos no passado, enquanto o retrô tenta reproduzir a estética do vintage em elementos atuais.
Outra característica muito importante é a de que no conceito de old school nós podemos observar um
conjunto de elementos de uma determinada época e que geralmente fizeram parte
de uma vanguarda (guarde essa
palavra!) de um nicho específico.
Então, quando falo em hip hop old school
não falo necessariamente da mesma época da tatuagem old school, são momentos diferentes na linha do tempo, mas que tem
possuem essa característica da vanguarda e do pioneirismo em comum.
Compreendendo o conceito podemos começar a traçar
uma pequena linha do tempo da história do Tribal, e aqui, eu falo
exclusivamente do que conhecemos como Tribal Fusion ou Dança do Ventre Tribal
para buscar seu momento de vanguarda e começar nossa análise. Minha pesquisa
não engloba o ATS Ⓡ (FCBD Style Ⓡ) porque além de não ser meu foco de estudo também
exige uma análise dedicada.
Um último disclaimer
antes
da linha do tempo é que gostaria de afirmar que não concordo com a ideia de que
o Tribal Fusion tem uma história linear. Ao meu ver, não há histórias lineares,
existem pontos na história da linguagem que são muito importantes e eles
estarão mencionados na linha do tempo para nossa análise, mas, no geral, o
desenvolvimento do que nós chamamos de Tribal hoje esteve em alguns lugares ao
mesmo tempo e foi se imbricando com as trocas, eventos, as demandas e a internet. Sendo assim, esta linha do
tempo abaixo é bastante simplificada, não contempla todos os grandes
profissionais envolvidos no Tribal, mas já nos dá um panorama.
Conforme podemos
observar na imagem acima, a partir dos anos 2000, houve um boom de eventos e personalidades que foram cruciais para o
desenvolvimento e o crescimento do Tribal Fusion. Dentre estes, estão a criação
do Urban Tribal, a entrada de Rachel
Brice no Bellydance Superstars, a
amizade e parceria que ela criou com Mardi Love e o Serpent Rouge, o show
memorável (e que eu sei que você ama!) que saiu em turnê com a última formação
do The Indigo.
É possível
observar, no período que vai de 2000 a aproximadamente 2008, que houve muito
pioneirismo e trocas entre as criações que estavam sendo feitas. Eu acredito
então que este seja o fragmento da linha do tempo em que se localiza o Tribal Fusionold school. Antes desse período, o tribal se desenvolvia de uma
forma mais lenta, e, a partir desta época, observamos uma eclosão de eventos importantes
para a história do estilo.
O que pode ter
influenciado e ocasionado esta eclosão? De que forma esse período ditou como a
linguagem se desenvolveria futuramente? Nas publicações seguintes desta coluna
vamos buscar as respostas, mas, por ora, temos aqui bastante material para
estudar e pensar.
Aqui abaixo está
um link de uma playlist que eu criei com vídeos que eu costumo usar para
estudar e ensinar sobre tribal old school, pega uma pipoca e faça um watch
party com as amigas (tem cada pérola!)!
Não deixe de
comentar o que achou dessa postagem e se ficou alguma dúvida, isso é muito
importante para o desenvolvimento dos próximos textos.
Mari Garavelo (Osasco-SP) iniciou seus estudos em dança do ventre e Tribal Fusion em 2006 e desde então vem aprimorando seu trabalho através de aulas regulares e oficinas com diversos profissionais renomados nacionais e internacionais. Instrutora de Hatha Yoga e Yogaterapeuta formada pela Humaniversidade Holística de São Paulo com registro na Aliança do Yoga.Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>
A coluna pretende dedicar-se a análise, reflexão e conhecimento de tudo o que envolve o que é Old School (ou Velha Escola) dentro da linguagem de dança do ventre tribal. Vamos compreender e refletir sobre esse universo de possibilidades e história que o esse recorte pode trazer para nosso estudo atualmente.
Sobre Mari Garavelo:
Iniciou seus estudos em dança do ventre e Tribal Fusion em 2006 e desde então vem aprimorando seu trabalho através de aulas regulares e oficinas com diversos profissionais renomados nacionais e internacionais. Instrutora de Hatha Yoga e Yogaterapeuta formada pela Humaniversidade Holística de São Paulo com registro na Aliança do Yoga. Faz pesquisas e experimentação de diversas danças do mundo, desenvolve um trabalho de inclusão do pensamento e prática do Yoga em ambientes corporativos e nas aulas de dança.
Em 2017, fui
convidada pela Aerith Asgard a ministrar uma palestra para o nosso grupo
sobreas Valquírias. Nesse ano
apresentaríamos uma coreografia sobre elas para o espetáculo Death, do
Underworld Fusion Fest.
Para isso,
desenvolvi uma boa pesquisa sobre essas entidades, e montei uma apresentação
para explicar para o grupo quais aspectos tínhamos escolhido trabalhar, e
porquê.
Hoje, quero
compartilhar essa pesquisa com vocês, para mostrar um pouco do que venho
falando nos primeiros textos da coluna: como desenvolver uma personagem
mitológica na dança.
VALQUÍRIAS: REPRESENTAÇÕES FEMININAS NA MITOLOGIA
NÓRDICA
Introdução
As valquírias
são entidades femininas, filhas e servas de Odin. Sua imagem mais recorrente é
a de belas mulheres que cavalgam pelo céu, recolhem os mortos nos campos de
batalha e os levam para Valhalla.
A palavra valquíria deriva do nórdico antigo valkyrja (plural valkyrjur),
que é composta por duas palavras; o substantivo valr (que se refere aos mortos em batalha) e o verbo kjósa (que significa
"escolher"). Portanto o próprio nome já faz referência ao principal
papel que essas entidades possuem.
No século XIX, a Era Viking passa a ter grande importância
na construção de uma identidade escandinava. A representação dos guerreiros e
das mulheres é construída com cuidado para esse fim. As valquírias estão
inclusas nesse processo. Seguindo o padrão de beleza vigente, elas são
representadas como mulheres que, apesar de portar armas, tem traços e figura
delicada, usam vestidos finos e se destacam pela beleza.
Valquírias da ópera “O Anel dos Nibelungos”, de Richard Wagner.
Atualmente são muito recorrentes em jogos e HQs, nos quais
são representadas, geralmente, como guerreiras com poderes de regeneração, e
como aquelas que levam os mortos para Valhalla.
Lenneth, personagem do jogo de 1999 para PlayStation: Valkyrie Profile: Lenneth.
Parte 1: A
Diversas Faces das Valquírias
Guerreiras que escolhem os mortos,
profetisas, deusas do destinos, esposas e amantes. As valquírias possuem
facetas diversas, e para escolher os aspectos que seriam desenvolvidos na
coreografia, tivemos de buscar conhecê-los nas fontes históricas.
A iconografia (estelas, esculturas e pingentes), apresenta
duas facetas das valquírias: a mulher guerreira e a atendente no Valhalla.
A imagem da guerreira armada com lança e escudo e portando
cota e elmo só é encontrada nos pingentes da Era Viking, cujas amostras datam
no século IX.
Pingentes representando valquírias com equipamento bélico. Dinamarca, século VII - VIII
Já as peças do final da Era Viking (século 11 d.C) e do
início do período de cristianização, apresentam figuras mais domésticas usando
vestidos e portando apenas uma lança ou um corno de hidromel, evidenciando seu
papel de atendente no Valhalla.
Pingente representando uma Valquíria levando hidromel. Suécia, século X.
Para Hilda Davidson,
a principal característica das valquírias é o fato de serem mulheres
sobrenaturais capazes de escolher os rumos de uma batalha.
Para a mesma autora, existem quatro principais facetas das valquírias de acordo com as fontes.
Estes são: atendentes (servindo no Valhalla), amantes/esposas dos guerreiros,
guerreiras e profetisas.
Guerreiro portando escudo com espiral, ao lado valquíria, triskelion e valknut. Estela de Stenkyrka Lillbjärs III, Gotland, Suécia, séc. IX. Fonte: Allan, 2002: 65.
O simbolismo do
Cisne
Na poesia édica[1], as
valquírias aparecem como esposas espirituais dos heróis e como aquelas que
escolhem os mortos. Em alguns poemas, as valquírias são associadas com as
donzelas cisnes e profetisas, assumindo um papel parecido com as nornas[2],
sendo entidades ligadas ao destino.
O cisne aparece nas pedras e estelas como o animal
responsável por guiar os mortos até seu destino.
Estela de Alskog e pedra Rúnica de Sanda - Suécia - 1020/1050. Em destaque: imagem do cisne que guia o morto para seu destino.
Tecelãs do
Destino
Segundo o mitólogo Rudolf
Simek, a tecelagem e a fiação, como símbolo de determinação do futuro,
estão ligadas apenas às valquírias, visto que não há nenhuma fonte escandinava
que fale de algo parecido sobre as nornas, sendo até mesmo o número 3 inspirado
pelas parcas gregas.
No poema Darradarljord, as valquírias são representadas
como guerreiras que usam suas lanças para tecer uma tapeçaria com entranhas,
cabeças e membros de pessoas mortas.
Deusas da Morte
Segundo Régis Boyer,
o aspecto guerreiro das valquírias foi herdado das tradições germânicas
arcaicas nas quais as mulheres tinham papel de sacerdotisas em ritos de morte e
batalha.
As tradições celtas de deusas da morte e da guerra, como a
deusa Morrigan, também influenciaram a figura guerreira das valquírias.
Segundo Charles
Donahue, celtas e germanos estiveram em contato durante o período romano, e
dividiam uma crença em ferozes espíritos ligados à guerra, o que pode ter tido
influência na literatura viking a respeito de entidades como as valquírias.
Os poemas escáldicos[3]
transformaram as valquírias em entidades guerreiras maravilhosas aos olhos dos
humanos. Porém com um aspecto menos violento e mais feminino.
Também há, em antigos encantamentos nórdicos germânicos, a
presença de ferozes espíritos femininos ligados à morte, ao destino e à magia,
o que nos leva a crer que essas entidades femininas sempre estiveram presentes
na espiritualidade desses povos.
Segundo Johnni Langer, os pingentes de valquírias
encontrados em túmulos de mulheres indicam que as mulheres tinham uma forte
presença nos cultos odínicos
Pingentes representando diferentes aspectos das valquírias.
Parte 2:
Xamanismo e Corvos
O corvo está sempre presente nas narrativas nórdicas como
um animal ligado ao deus Odin.
Em alguns poemas eles aparecem rondando o campo de
batalha, e são designados com o adjetivo welceasig (em inglês arcaico) que significa escolhendo os aniquilados.
No poema nórdico "Hrafnsmál"
há um diálogo entre um corvo e uma valquíria.
A ligação com
as aves está presente desde as formas mais primitivas de religiosidade
escandinava. Petroglifos da idade do Bronze (1000 - 400 a.C.) trazem imagem de
aves e sacerdotes vestidos como aves, evidenciando elementos xamânicos na
religiosidade nórdica.
Além do corvo,
o cisne também é um animal que tem ligação com as valquírias, representando a
função de guia e sendo o animal que entrega os mortos no Valhalla.
Parte3: De
Poderosas Entidades a Figuras Domesticadas
Assim, o que é possível concluir é que as valquírias
possuem facetas diversas que foram se fortalecendo ou se enfraquecendo com o
tempo. É possível que sua origem esteja nas tradições primitivas pré-viking,
onde encontramos figuras femininas ligadas à morte e à guerra, presentes em
ritos sacrificiais e proféticos, tendo o poder sobre o conhecimento do futuro e
da morte, além das práticas xamânicas.
Tais representações começam a se modificar com as trocas
culturais ocorridas com os romanos e, posteriormente, com os cristãos, tornando
as valquírias figuras mais coerentes com as tradições patriarcais, nas quais
são representadas como belas donzelas, atendentes e esposas.
Baixo relevo representando uma valquíria com cornos de hidromel. Gotlândia, séculos VIII - IX
Hoje, o aspecto mais conhecido da valquíria seja, talvez,
a sua principal faceta: aquelas que escolhem os mortos. O interesse da cultura
pop na história germânica e escandinava resgatou a imagem das valquírias
guerreiras e que estão sempre presentes nos campos de batalha para colher seus
escolhidos.
Por isso o arquétipo que decidimos evocar foi o de uma
valquíria com as características bélicas presente nos poemas escandinavos como
aquelas que escolhem os mortos. E também tentamos trazer o aspecto primitivo
xamânico da profecia e dos ritos de morte e guerra.
Grupo Asgard Tribal Co.
Com a participação do Clã Skjaldborg, grupo de combate
viking, desenvolvemos uma narrativa em três atos, na qual as valquírias,
dotadas do dom da profecia, dançam o destino dos guerreiros, e aparecem, assim
como os corvos, rondando o campo de batalha, em um ritual de guerra e morte,
que culmina com a escolha daqueles que serão levado para o Valhalla.
Release da
coreografia:
As valquírias são poderosas entidades femininas presentes na mitologia nórdica. Filhas de Odin, estão ligadas à guerra, ao destino e à morte, pois são elas que tem na ponta de suas lanças a sina dos guerreiros, sendo as responsáveis por escolher os mortos que entrarão em Valhalla. Sua origem pode ser encontrada nos primitivos cultos escandinavos, como figuras femininas presentes em ritos sacrificiais e proféticos, que possuem o poder sobre o conhecimento do futuro e da morte, sobrevoando o campo de batalha, prontas para tomar a vida de seus escolhidos.
LANGER, Johnni. Símbolos
religiosos dos vikings: guia iconográfico. História, imagem e narrativas
11, 2010b, pp. 1-28. Disponível em: Acesso em 05/01/2012.
LANGER, Johnni, NEIVA, Weber. Valquírias versus gigantas: modelos marciais femininos na mitologia
escandinava. Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano V, n.
13, Maio 2012.
OLIVEIRA, Ricardo Wagner Menezes de. Entre nornas e valquírias: o simbolismo do cisne na religiosidade
nórdica pré-cristã. II Simpósio internacional da ABHR. História, gênero e
religião: violências e direitos humanos. SC, 2016.
SIMEK, Rudolf. Dictionary
of Northern Mythology. London: D.S. Brewer, 2007.
[1] Coletâneas do século XIII, encontradas na Islândia,
que compilam histórias e mitos dos deuses e heróis nórdicos.
[2] Deusas da mitologia nórdica, responsáveis por
controlar o destino de homens e deuses. São representadas por três mulheres:
Urd, a guardiã do passado, Verdani, a guardiã do presente, e Skuld, a guardiã
do futuro.
[3] Tradição oral presente na Noruega e Islândia entre o
século 10 e 12 d.C.
Keila Fernandes (Curitiba-PR) é escritora, professora de história e historiadora, especialista na área de Religiões e Religiosidades e História Antiga e Medieval. É aluna da bailarina e professora Aerith Asgard e co-diretora do Asgard Tribal Co.Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>
Nos últimos tempos, tenho
observado uma maior preocupação da nossa comunidade de dança quando o assunto é
“formação”. Quantas vezes nos deparamos estudando com diversos profissionais e
pensamos “Socorro, tenho que estudar mais isso” ou “Nossa! É muita coisa.
Preciso saber esse assunto também?" Outras questões são recorrentes: “a minha
formação é válida”? Ou “como posso me tornar professora”? Quem nunca entrou
quase que em desespero ao saber dos diferentes conteúdos que a área da Dança
pode abarcar no contexto da formação? Especialmente, nos momentos desafiantes
do agora e com o elevado fluxo de informação, tenho notado que crescem as
propostas para diversificados aprendizados e assim, entramos num estado
enlouquecedor para acompanhar o funcionamento da formação em dança.
Assim, a coluna FORMAÇÃO pretende
se dedicar aos assuntos que envolvem o contexto de ensino-aprendizagem no
tribal, ou seja, a educação em dança. Temas como conteúdos, capacitações
internacionais e nacionais, tendências pedagógicas, metodologias, métodos,
avaliações, relação entre docente-discente, cursos acadêmicos e outras
modalidades do ensinar/do aprender serão pontos fundamentais que serão tocados
de modo acadêmico no alongamento da coluna. No presente texto, resolvi estrear
com menos rigor acadêmico ou como diria Manuel Bandeira “quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples”.
No entanto, há que se
considerar, inicialmente, que formação é um vocábulo complexo, que inspira
diversos conceitos e significados. Para muitos, a formação refere-se ao âmbito
educacional, ou seja, ao trabalho desenvolvido no campo de atuação
institucional e organizações similares. Para outros, o termo formação relaciona-se
ao modo como uma pessoa foi criada, nesse caso, aos aspectos da subjetividade.Na
verdade, a multiplicidade do termo formação direciona para a tensa relação educação-segregação
social, uma vez que a própria história de nosso sistema escolar mostra que o direito
à educação atravessa “a histórica marginalização e segregação social e racial dos
direitossociais, econômicos, políticos, segregação tão
persistente na culturae na estrutura elitistas, conservadoras”
(ARROYO, 2015, p. 18).
Visivelmente, estamos nos tempos
de reconhecer que o direito à formação no contexto educacional está vinculado a
negação e afirmação dos direitos humanos básicos. Em outras palavras, a
segregação social e também racial impacta na demorada garantia dos direitos
humanos e do direito à escola, à universidade e, no nosso contexto, aos espaços
de formação em dança. Se olharmos para a comunidade brasileira de fusão tribal
perceberemos se negros e outros “oprimidos” (FREIRE, 1987) chegam igualmente (quando
alcançam) à tão sonhada formação em dança tribal ou estilo tribal de dança do
ventre.
Paulo Freire, ao compreender
os oprimidos como sujeitos de processos, agentes sociais e de formação humana, ressalta:
“quem melhor que os oprimidos se encontrará preparado para entender o significado
terrível de uma sociedade opressora? Quem sentirá melhor que eles os efeitos da
opressão?” (FREIRE, 1987, p. 31). Para mim, é evidente que ao falar de formação/educação/pedagogia
em dança é preciso reconhecer que os oprimidos compreendem a sociedade opressora
e os efeitos da desumanização no cotidiano de suas vidas. Neste sentido, não
seria uma função das capacitações e escolas de formação em tribal abarcar as
resistências dos oprimidos e compreender suas experiências de opressão,
sobretudo, do Estado? Ou deveríamos focalizar apenas no universo de técnicas
estabelecidas e práticas cada vez mais eficientes e inovadoras do mercado? Por
isso, intitulei o texto como: em que tempo estamos na formação?
No meu ponto de vista,
acolher as reflexões e vivências do Outro, não é o mesmo que abandonar o
aprendizado de técnicas. Cabe aqui, esse saber “todo o Ser Humano nasce com um
Sol interno. É responsabilidade da comunidade Acender esse Sol para o nosso
livre caminhar na Vida” (Filosofia Kindezi citada por Aza Njeri).
Se nos reconhecemos como
profissionais ou alunos de tribal, precisamos problematizar os significados da
formação. “Não nos desarmemos em tempos insatisfatórios. A injustiça social
ainda precisa ser combatida. O direito à educação não vai melhorar sozinho”
(ARROYO, 2015, p. 46)
E agora, o que nossa
comunidade de dança entende sobre a palavra “formação”? Depois da leitura, qual
imagem de “formação” você desenharia?
Ana Clara Oliveira (Maceió-AL) é dançarina e pesquisadora do estilo Tribal de Dança do Ventre. Professora de Dança na Escola Técnica de Artes (UFAL). Doutoranda em Artes (UFMG) onde pesquisa a formação no Tribal. Mestrado em Dança (UFBA). Diretora da Zambak Cia de Dança Tribal ...Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>
Formação no Tribal Ana Clara Oliveira, Maceió – AL, Brasil
Sobre a coluna:
Convido você para refletirmos sobre os processos formativos na comunidade da dança Tribal. A coluna pretende se dedicar aos assuntos que envolvem o contexto de ensino-aprendizagem na dança. No decorrer das postagens, vamos discutir os temas como conteúdos, capacitações internacionais e nacionais, tendências pedagógicas, metodologias, métodos, avaliações, relação entre docente-discente, cursos acadêmicos e outras modalidades do ensinar/do aprender. Trago a você uma convocatória para pensarmos a educação da Fusão Tribal no Brasil.
Sobre Ana Clara:
Ana Clara é dançarina e pesquisadora do estilo Tribal de Dança do Ventre. Professora de Dança na Escola Técnica de Artes (UFAL). Doutoranda em Artes (UFMG) onde pesquisa a formação no Tribal. Mestrado em Dança (UFBA). Possui Licenciatura em Educação Física (UESC) e formação em Dança através de especializações. Coordena a extensão universitária em Tribal na UFAL. Diretora da Zambak Cia de Dança Tribal (AL). É estudante de Bharatanatyam. Contato: anaclaradanca@gmail.com e seu instagram é @anaclaradanca.
Venho aqui no Resenhando-SC trazer para vocês outro evento que aconteceu durante o tempo que o blog estava for a do ar, a Jornada Tribal 2019. Organizado por Cintia Vilanova e Raqs Produções, o evento ofereceu 10h de workshops com Rebeca Piñeiro com os temas: Refinamento Técnico, Dialetos de Espada, Dialetos de Saia, Duelling Duets e Floowork. Com temas variados e uma carga horária bem distribuída, deixou todos os entusiastas de FCBD® Style de Florianópolis muito satisfeitos, eu inclusive. Com as palavras da organizadora:
“A Jornada Tribal é uma expressão que gosto de usar para definir o caminho que cada dançarina vive ao decidir pelo tribal como sua dança de empoderamento! Dessa vez, a Jornada ganhou um presente que será um final de semana inteiro de estudo e troca com Rebeca Piñeiro, uma das pioneiras do ATS®* no Brasil.”.
*OBS: No mês de agosto de 2019 ainda era denominado ATS®.
A programação do evento foi a seguinte:
Sábado - 24/08/2019
9h30: Refinamento Técnico
10h30 às 12h30: Dialetos de Espada para FCBD® Style
A Jornada Tribal contou com o Hafla Território Improviso, com arena livre para dança e inscrições para os participantes receberem avaliações por Rebeca Piñeiro no FCBD® Style e Vanessa Iara na Dança do Ventre. Confira o vídeo abaixo com a apresentação de Rebeca Piñeiro e Cintia Vilanova:
Aline Pires (Florianópolis-SC)é bailarina e professora de dança oriental árabe e fusion bellydance/tribal fusion natural de Florianópolis, Santa Catarina e proprietária do La Lune Noire Estúdio de Dança.Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>