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[Formação no Tribal] Metodologias de Ensino

por  Ana Clara Oliveira

 Fonte: @anaclaradanca


“Para cada uma das coisas feitas, por um sujeito, há uma metodologia. [...] Para cada uma das coisas feitas, por inúmeros sujeitos, existem inúmeros modos de fazer. [...]” (HISSA, 2013, p. 125). Assim, iniciamos a coluna “Formação no Tribal” no tempo presente. O objetivo dos textos de 2022 é trazer algumas metodologias de ensino em dança através de relatos do corpo docente, intensificando os debates sobre o processo formativo. 

Em primeiro lugar, vamos entender o conceito de metodologia que hoje será apresentado a partir do pensamento do professor Cassio Hissa (2013). Tendo como base a citação acima, compreendo as metodologias de ensino como criações de docentes enquanto estes estão no processo de suas artesanias de sala de aula. As metodologias de ensino em danças são as construções de fundamentos e proposições pedagógicas que vão além da coletânea de métodos. Além disso, estão diretamente relacionadas com a organização do ensinar/aprender. 

Outro aspecto importante é a diferença básica entre metodologia e método, embora os seus significados estejam entrelaçados. Para Marina Marconi e Eva Lakatos (2019) o método é o conjunto de atividades sistemáticas e lógicas para a realização de uma técnica ou de algo. Já a metodologia, originada da palavra “método”, do Latim “methodus”, são assinaturas próprias, que atravessadas pela relação com o mundo, simbolizam o entendimento de métodos, teorias, práticas e abordagens. Neste sentido, a professora Lucia Pimentel (2014) enfatiza: “os métodos estão à disposição de tod@s, mas a metodologia é criada por cada pesquisador@ a cada proposta de investigação” (PIMENTEL, 2014, p. 20). Exclusivamente aqui a palavra pesquisadora ou pesquisador pode ser lida como docente, uma vez que a professoralidade se faz com estudos contínuos. Pronto!

Agora que assimilamos o que é metodologia, bem como, a compreensão de método pergunto: como a sua metodologia de ensino é organizada? Como desdobramento da questão, quais métodos da fusão estão presentes nessa metodologia? Qual docente você indicaria para compartilhar a metodologia de ensino? Fique à vontade para sugerir!


Abraços dançantes,


Ana Clara Oliveira.


HISSA, Cássio E. Viana. Entrenotas: compreensões de pesquisa. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013. 197 p. (Humanitas).

MARCONI, Mariana de A.; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 8. Ed. São Paulo: Atlas, 2019.

PIMENTEL, Lúcia Gouvêa. Ensino/aprendizagem de arte e sua pesquisa. In: ROCHA, M. A.; MEDEIROS, Afonso (Org.). Belém: Programa de Pós-Graduação em Artes da UFPA, 2014. p. 15-24.




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Formação no Tribal

Ana Clara Oliveira (Maceió-AL) é dançarina e pesquisadora do estilo Tribal de Dança do Ventre. Professora de Dança na Escola Técnica de Artes (UFAL). Doutoranda em Artes (UFMG) onde pesquisa a formação no Tribal. Mestrado em Dança (UFBA). Diretora da Zambak Cia de Dança Tribal ...  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>



[Formação no Tribal] Carla Mimi Coelho e Samra Hanan falam sobre Paulo Freire

por  Ana Clara Oliveira

Convidadas especiais: Carla Mimi Coelho e Samra Hanan


Carla Mimi Coelho e Samra Hanan

(Fonte: @mm_mimicoelho @samra.hanan)

 

Durante o ano 2021 apreciamos na coluna “Formação” algumas contribuições do educador brasileiro Paulo Freire para o campo da Fusão “Tribal” e suas variadas vertentes. No referido ano, refletimos a partir de um documentário educacional, igualmente, tratamos os conteúdos relevantes e o currículo Crítico-Libertador. Em conformidade com o desenvolvimento desenhado, a presente matéria apresenta os pensamentos das professoras brasileiras, Carla Mimi Coelho e Samra Hanan, sobre o legado da pedagogia freireana na dança por meio da seguinte pergunta: de que modo você entende e/ou aplica os conhecimentos de Paulo Freire no campo do “Tribal”?

De modo didático, apresento as ponderações de Carla Mimi Coelho, em seguida, as reflexões de Samra Hanan. Agradeço, imensamente, a participação dessas convidadas que atuam com dedicação e responsabilidade no exercício artístico-educativo. Através das suas considerações, daremos início em 2022 a uma série de conversas com muitas professoras sobre suas metodologias. 

Carla Mimi Coelho:

O legado de Paulo Freire vai além das fronteiras, possui um profundo impacto no pensamento e na prática educacional pelo mundo todo. Ao meu entender, ele questiona as práticas do educar não expansivas, mais rígidas e reconhecidamente tradicionais de um passado não tão distante. Arrisco-me a afirmar que ele vai em oposição àquele mindset fixo, à ideia de que a capacidade de se absorver conhecimento ou aprendizado é fixa e não pode ser expandida além de um certo limite inato.

“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.” – Paulo Freire

Carla Mimi Coelho e estudantes

(Fonte: @mm_mimicoelho)


Nós enquanto criadores de uma LINGUAGEM, a dança, estamos em constante evolução e, ao ensinar nos transformamos e evoluímos enquanto professores/educadores, pois ensinar também é aprender. Quando estamos professores/educadores cabe a nós criar um espaço aberto, passível de diálogo, criando possibilidades e nutrindo a criatividade para que então o conhecimento seja construído. A imagem de um professor para mim atualmente é daquele guia que conduz o estudante de si e da linguagem por sua caminhada de crescimento e evolução.

Carla Mimi Coelho e estudantes

(Fonte: @mm_mimicoelho)

Veja bem, nem sempre essa ideia de educação e aprendizado era clara para mim, pois vim de um sistema rígido de aprendizado da dança, onde talento era inato, algo que você tinha desde o nascimento ou não. Dentro da sala de aula que cresci frases do tipo “você pode querer a dança, mas ela não te quer”, “você nasceu para dançar”, “é talento”, eram constantes. E por isso nesta época podíamos ver histórias tão promissoras de dançarinos acabarem de forma frustrante, além de inúmeros casos de distúrbios psicológicos e traumas gerados dentro da sala de dança. Se você pensou aí nos clássicos filmes de dançarinas que sofrem trauma e adoecem, como em “Cisne Negro”, sim é essa dinâmica a que estou me referindo. E que bom que o discurso do diálogo, do aprendizado que permite a construção do conhecimento crítico, criativo e a aceitação de que há diferentes formas de se aprender e construir conhecimento adentraram também as salas de aulas de dança.

Assim, atualmente, vejo cada estudante como único, capaz de todas as criações e construções que se propor desta LINGUAGEM. Cada corpo que entra na sala de dança fala por si só, tem sua história, seu contexto, sua expressão. E quando apresentamos as técnicas de dança, claro seguindo uma agenda didática, há a abertura para o diálogo, para a aceitação e transformação do mover mediante às possibilidades que cada corpo oferece. Além disso, há diversas formas de absorção do conhecimento e desenvolvimento das possibilidades e por isso o respeito à cada um é um fundamento praticado entre aqueles que compartilham dança neste espaço.

Carla Mimi Coelho e estudantes

(Fonte: @mm_mimicoelho)


Sei que a princípio, para muitos, isso pode parecer um tanto abstrato. Explanando de uma outra forma, quando em sala de aula, busco transmitir as técnicas de dança de várias formas tentando incorporar ferramentas que auxiliem o aprendizado pela escuta, tato, visão e movimento. Incentivo o nutrir de um autocuidado e a reflexão de si pontuando que uma mesma movimentação vai parecer diferente em cada corpo e que isso nos abre uma infinidade de possibilidades para se criar um mover próprio e único a cada um. A grande beleza da dança é que ela vai falar através de cada corpo de forma singular e cabe a nós nutrirmos a criatividade para expandir da técnica à expressão que cada um pode desenvolver.

Dentro deste nosso estilo, o Fusion Bellydance ou Tribal Fusion, a organicidade deste mover único é algo que se busca, fundamentado por uma base técnica que liberta cada um para a expressão própria. Cabe a cada um de nós professores/educadores e coreógrafos nutrirmos este espaço para a curiosidade, criatividade e exploração de novos caminhos para o mesmo movimento ou tantos outros novos. A beleza está não na reprodução de cópias mas na criação de uma LINGUAGEM que permite que cada um expresse o melhor de SI. E com isso crescemos e evoluímos todos juntos, descobrindo novos caminhos e novas movimentações, conduzidos sim pela técnica que permite, que liberta.

Samra Hanan:

Quando pensamos no nome de Paulo Freire logo nos remetemos à sua importante contribuição no Brasil e no mundo para a Educação Formal, em especial, a alfabetização e letramento de adultos. Porém, ao mergulhar na obra e fundamentos desenvolvidos por este grande educador brasileiro, podemos perceber que seu legado ultrapassa os muros da Escola e chega em qualquer ambiente onde se proponha uma construção de conhecimento, e por que não em nossas salas de aula de dança?


Samra Hanan e estudantes

(Fonte: @samra.hanan)


Vou aqui compartilhar pontos em que vejo que os conhecimentos elaborados por Paulo Freire permeiam minhas práticas enquanto professora de Tribal Fusion, por vezes de forma sutil e filosófica, outras de ordem prática e metodológica. Mas antes peço que considere duas premissas: 1- A compreensão da DANÇA enquanto forma de LINGUAGEM; 2- A EDUCAÇÃO INFORMAL e NÃO FORMAL é aquele conhecimento produzido fora da "escola" sistematizada e institucional, assim englobando também nossas aulas de dança em academias e estúdios.


Agora sim, vamos adiante com nossa conversa. 


Um dos pontos que para mim são primordiais é reconhecer que cada aluno, aluna ou alune que entra em minha sala de aula tem uma história percorrida até chegar à minha frente, uma história que passa-se no corpo, uma história que tem ritmo e que precisa ser contada e ouvida para que a dança seja construída. Assim, a subjetividade de cada um deve ser não apenas respeitada, mas servir de ponto de partida e alicerce para a construção de uma Dança significativa, transformadora e por vezes libertadora. Com um olhar mais prático posso citar a importância de um levantamento histórico corporal autobiográfico. Já pensou como nossas lesões, brincadeiras escolares, práticas esportivas, vivência em outras danças e até em outras artes, nossa profissão e vida cotidiana influenciam na construção da sua dança?

Samra Hanan e estudantes

(Fonte: @samra.hanan)


Outro elemento visceral na minha vida de professora é a compreensão que o conhecimento [a dança] é uma construção coletiva, que se dá por meio do diálogo. Os alunos, alunas e alunes devem ter o espaço de fala garantido, assim como atuarem de forma ativa nas escolhas e no desenvolvimento da sua dança. Compartilhando com vocês uma prática que tenho no Simbiose: Todo início de ciclo fazemos um momento de conversa para a troca de expectativas [das alunas e minhas], autoavaliação do grupo e levantamento de sugestões de temas de aprendizado, e a partir desta conversa nós escolhemos o tema que irá nortear nosso próximo ciclo de estudos.


Poderíamos continuar por um longo tempo esta conversa, mas agradeço o espaço e finalizo por aqui minha contribuição com esta linda e forte citação, não esquecendo que deixo a porta aberta para quem quiser bater um papo sobre ensino e construção da dança, em especial Dança do Ventre e o Tribal Fusion. Até mais.


"A educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem. Não pode temer o debate. A análise da realidade. Não pode fugir à discussão criadora, sob pena de ser uma farsa." Paulo Freire 


Samra Hanan e estudantes

(Fonte: @samra.hanan)


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Formação no Tribal


Mimi Coelho (Portland-OR, EUA | Belo Horizonte-MG, Brasil) , formou-se em Artes Cênicas pela UFMG e foi a primeira brasileira a se formar como professora do Datura Style™, sendo única no país com esta formação. Atualmente, faz parte de 3 companhias de dança: Variat Dance Collective (companhia de fusão experimental de dança do ventre), Baksana Ensemble (companhia de dança e música ao vivo, inspirada nas danças egípcias, turcas e balcânicas) e  a PDX Contemporary Ballet (companhia de Ballet contemporâneo) .


Samra Hanan (São Paulo-SP)  é dançarina/professora/produtora em Dança do Ventre, Tribal Fusion, FCBD Style e Fusões com Danças Brasileiras. Formada em Educação Física pela USP-SP e pós graduada em Dança pela UFBA-BA, dedica-se ao universo das Danças Orientais desde 1998. 


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Ana Clara Oliveira (Maceió-AL) é dançarina e pesquisadora do estilo Tribal de Dança do Ventre. Professora de Dança na Escola Técnica de Artes (UFAL). Doutoranda em Artes (UFMG) onde pesquisa a formação no Tribal. Mestrado em Dança (UFBA). Diretora da Zambak Cia de Dança Tribal ...  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>

[Formação no Tribal] Viva, Paulo Freire!

por  Ana Clara Oliveira


Fonte: UFMG

Quando iniciei a coluna “Formação”, veio-me à memória a obra e vida do nosso querido Paulo Freire que se presentifica nas práticas pedagógicas zelosas pela ética e educação sensível no interior de e para as lutas sociais. Neste sentido, temos nos dedicado a refletir o seu legado para sulear nossas atuações no campo da Fusão Tribal. Na matéria de hoje, abordaremos um tanto do primeiro capítulo do livro Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa (FREIRE, 2020) – 66ª edição. Afinal, em setembro do presente ano comemoramos o seu centenário. Viva, Paulo Freire!

A primeira edição do livro foi publicada em 1996. Nesta obra lançada em vida, o educador deixa o último legado na Terra. Muitas de nós, da comunidade da Dança do Ventre e fusões, éramos crianças, adolescentes e suponho que algumas ainda não eram passageiras deste mundo. No entanto, o livro é tão importante que foi reimpresso diversas vezes. O exemplar que tenho em mãos pertence ao ano de 2020. Nesse grande intervalo podemos perceber que a linguagem poética e política de Paulo Freire é essencial para o sistema-mundo que vivemos. Observemos as seguintes palavras da orelha do livro: “Paulo faz um chamamento aos(às) educadores(as) para, com ética crítica, competência cientifica e amorosidade autêntica, sob a égide de engajamento político libertador, ensinarem a seus(suas) educandos(as) seres Seres Mais”. 

O livro então, demostra lucidez e maturidade a fim de levantar questões para a formação do corpo docente e discente, aprofundando a teoria de uma vida voltada para a humanização, revolução e contra a lógica do capital. Outro fator importante é dito nas palavras da pedagoga Nita Freire: “Pedagogia da autonomia sintetiza a sua Pedagogia do oprimido e o engradece como gente. É um livro-testamento de sua presença no mundo. Ofereceu-se por inteiro, na sua grandeza e inteireza”. Assim, são esses aspectos que nos aproximam da Pedagogia da autonomia de Paulo Freire com o objetivo de realizar o exercício de nos perguntar constantemente sobre nossa professoralidade e aprendizado nas aulas de Fusão Tribal, bem como, questionar as estruturas do Norte Global e não ingeri-las sem rigor crítico. 

Isto posto, temos no primeiro capítulo intitulado Prática docente: primeira reflexão, 23 páginas nas seguintes divisões/caminhos teórico-práticos:  

1.1 Ensinar exige rigorosidade metódica

1.2 Ensinar exige pesquisa

1.3 Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos

1.4 Ensinar exige criticidade

1.5 Ensinar exige ética e estética

1.6 Ensinar exige a corporificação das palavras pelo exemplo

1.7Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação

1.8 Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática

1.9 Ensinar exige o reconhecimento e a assunção da identidade cultural

Em cada seção, Paulo Freire argumenta de diferentes maneiras a recusa ao ensino bancário e apresenta caminhos para uma prática de ensinar-aprender vívida, dialógica, política, gnosiológica, estética e ética, em que a “boniteza deve achar-se de mãos dadas com a decência e com a seriedade” (FREIRE, 2020, p.26). Na verdade, cada subtítulo desse capítulo mostra a compreensão de que ensinar inexiste sem aprender; aprender não existe sem ensinar, “e foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobriram que era possível ensinar” (FREIRE, 2020, p. 25-26). 

O autor acrescenta: “foi assim, socialmente aprendendo, que ao longo dos tempos mulheres e homens perceberam que era possível – depois, preciso – trabalhar maneiras, caminhos, métodos de ensinar” (FREIRE, 2020, p. 26). Ele considera que aprender antecede a ensinar ou, melhor dizendo, o ensino se dissolve na experiência autêntica fundante de aprender, sendo o pensar certo a base da formação docente e do aprendizado discente. O pensar certo “implica a existência de sujeitos que pensam mediados por objeto ou objetos sobre que incide o próprio pensar dos sujeitos. Pensar certo não é que-fazer de quem se isola, de quem se “aconchega” a si mesmo na solidão, mas um ato comunicante” (FREIRE, 2020, p. 38). “O pensar certo, por isso, é dialógico e não polêmico” (FREIRE, 2020, p. 39).

Diante dessa breve descrição, de que modo o capítulo conversa com você? Faz sentido? Me conta do teu pensamento. 

Que a obra de Paulo Freire continue a nos inspirar e transformar nossas práticas! 

Viva Paulo Freire!

Fonte: Wilkipédia


Abraços dançantes,

Até breve!


Referências

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 66ª ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2020. 

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Formação no Tribal


Ana Clara Oliveira (Maceió-AL) é dançarina e pesquisadora do estilo Tribal de Dança do Ventre. Professora de Dança na Escola Técnica de Artes (UFAL). Doutoranda em Artes (UFMG) onde pesquisa a formação no Tribal. Mestrado em Dança (UFBA). Diretora da Zambak Cia de Dança Tribal ... Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>


[Formação no Tribal] Conteúdo (Parte2): Um Trabalho Pedagógico

por Ana Clara Oliveira

Paulo Freire

Na última postagem da coluna, nós nos dedicamos sobre uma pergunta específica: qual é o conhecimento que importa na nossa dança? Em comemoração ao centenário do patrono da educação brasileira Paulo Freire – que se completará em setembro do presente ano -, vou discutir com vocês, nesta matéria, o entendimento dos conteúdos a partir do currículo Crítico-libertador declarado por ele.

Ao aproximarmos a prática educativa da dança às orientações de Paulo Freire (2019), poderíamos observar que a escolha do conteúdo programático é uma das preocupações que atravessam o cotidiano dos professores. Quando situamos o campo do estilo tribal, percebemos o alargamento das discussões sobre como ensinar e o que ensinar. Seja no formato de combos, seja numa investigação de improvisação, ou ainda, por teorização aprendemos que é preciso gerar conteúdos para as aulas.

Tal natureza não se organiza somente como uma preocupação pedagógica ou como um problema identificado: nós, docentes do estilo tribal, valorizamos um ensino com conteúdo, isto é, com o objeto do conhecimento para o desenvolvimento das capacidades dos alunes. Eis que surge a “inquietação em torno do conteúdo do diálogo e a inquietação em torno do conteúdo programático da educação (FREIRE, 2019, p. 115-116). 

Diante disso, o educador discorre a criação de um currículo crítico que responda à prática libertadora cuja “dialogicidade comece, não quando o educador-educando se encontra com os educandos-educadores em uma situação pedagógica, mas antes, quando aquele se pergunta em torno do que vai dialogar com estes” (FREIRE, 2019, p. 115-116). Essa postura pedagógica se difere do chamado “educador-bancário”, que na sua “antidialogicidade” faz uma verticalidade do saber ou até mesmo impõe o seu programa de aula, sem nunca perguntar aos alunes sobre suas inquietudes. 

Mas, como colocar esse trabalho pedagógico em ação? Ou melhor: como reduzir a educação bancária rumo ao projeto crítico e de liberdade?

Neste momento, alguns de vocês talvez estejam perguntando se a ideia é eliminar o nosso repertório de movimento e toda a nossa rica estética, a fim de propor algo quase impossível de fazer. Pois bem, a responda é: não. Para o querido pensador, a nossa tarefa é: ensinar conteúdos disciplinares, ou seja, tudo que julgarmos necessário para o aprendizado das técnicas e do universo poético do estilo tribal, mas também convocar as diferentes realidades dos alunes numa ação consciente. Esse princípio gera a estruturação dos conteúdos que importam e que precisam ser problematizados em um processo dialógico no qual as experiências diárias também formulam a criticidade. O conteúdo programático então, deixaria de ser exclusiva eleição dos profissionais do estilo tribal, para ser deles e dos alunes. Por esse motivo, “é na realidade mediatizadora, na consciência que dela tenhamos, educadores e povo, que iremos buscar o conteúdo programático da educação” (FREIRE, 2019, p. 121).

Uma das formas de aplicar essas orientações nas nossas salas de aula é a partir do “universo temático” ou o chamado conjunto de temas geradores (FREIRE, 2019, p. 121). De modo breve, os temas geradores são investigações que não se concentram nas pessoas isoladas da realidade, nem ao contrário. São buscas metodológicas conscientizadoras entre corpo docente e discente que, sendo constituídas nas relações corpos-mundo, podem ser capturadas e entendidas no domínio humano e não como se fossem coisas – assuntos soltos, fora do humano. “Investigar o tema gerador é investigar, repitamos, o pensar dos homens referido à realidade, é investigar seu atuar sobre a realidade, que é sua práxis” (FREIRE, 2019, p. 136). 


De maneira didática, podemos encontrar as seguintes etapas na abordagem de Paulo Freire (2019): investigação (busca por palavras e temas centrais); codificação dos temas (contexto concreto ou real em que os fatos ocorrem e o contexto teórico em que a codificação é analisada); decodificação (ato cognoscente realizado pelos corpos sociais e que gera a nova percepção) e por fim, a problematização (visão reflexiva). Obviamente, todo o arcabouço do currículo Crítico-libertador vai além desse texto, mas deixo aqui essas noções com o intuito de colorir e despertar ainda mais nossas aulas. Assim, vejamos o esquema abaixo:

Trama Conceitual Freireana: Ensino-aprendizagem
Ana Maria Saul e Patricia Lima Dubeux Abensur
Fonte: Revista Educação (UFSM)

Na próxima postagem, planejo publicar uma resenha do primeiro capítulo do livro Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa (FREIRE, 2020) – 66ª edição. Com estas informações, aspiro auxiliar a nossa comunidade de dança, especialmente docentes a refletir a própria atuação e a tomar decisões de maneira mais conscientes sobre: “que conteúdos ensinar, a quem, a favor de quê, de quem, contra quê, contra quem, como ensinar” (Freire, 2005, p. 45). 

E, vocês já trabalharam através do currículo Crítico-libertador? O que vocês pensam dos temas geradores? Vamos conversar? 

Finalizo com a imagem inspiradora da professora/artista/coreógrafa/estudiosa/pesquisadora do estilo tribal: Annamaria Marques, tão dedicada ao ensino amoroso e consciente.

Abraços dançantes,

Até breve!

Annamaria Marques ( @annamaria_tribaldancer) |  Fotografia: Greis Ferreira.


Referências:

FREIRE, Paulo. A educação na cidade. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2005. 

_____________Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.


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Formação no Tribal


Ana Clara Oliveira (Maceió-AL) é dançarina e pesquisadora do estilo Tribal de Dança do Ventre. Professora de Dança na Escola Técnica de Artes (UFAL). Doutoranda em Artes (UFMG) onde pesquisa a formação no Tribal. Mestrado em Dança (UFBA). Diretora da Zambak Cia de Dança Tribal ... Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>


[Formação no Tribal] Conteúdo: Um trabalho pedagógico

por Ana Clara Oliveira

Paulo Freire | Ilustração de Alisson Afonso. Fonte: Brasil de fato, 2021

Nas matérias anteriores, contidas em janeiro e em abril, desenvolvemos uma introdução acerca da coluna FORMAÇÃO NO TRIBAL a partir dos temas respectivos, “Em que tempo estamos na formação” e “Quando sinto que já sei” (documentário). Em nossa matéria de hoje, partiremos de uma pergunta que me entusiasma enquanto professora do estilo tribal de dança do ventre: conteúdos - qual é o conhecimento que importa na nossa dança?

Sendo direta nesse assunto amplo, é do entendimento de conteúdo, apresentado de diversas formas pelo educador brasileiro Paulo Freire, que apoiaremos os argumentos que se iniciam na presente matéria. A escolha se justifica não somente pela admiração das obras educacionais e similitude na compreensão do trabalho pedagógico, como também, por estarmos no ano do Centenário de Paulo Freire. A ausência/presença do educador nos faz recordar a importância de pensar os conteúdos através do seu imenso legado.

No livro “Pedagogia da Tolerância”, 7ª edição no ano de 2020, que reúne uma coletânea de reflexões e diálogos, Freire discute com esperança a tolerância como qualidade de conviver com a diferença e a tolerância para com a incoerência das ações pedagógicas que em muitos casos, são atos desumanizantes. Por se tratar de uma obra com 934 páginas, podemos destacar um aspecto que serve de nutriente para ampliarmos a ideia de conteúdos para nossas aulas de dança.

1 “Mudar é difícil, mas é possível” (FREIRE, 2020, p. 181): um aspecto

Freire (2020, p. 183) expõe que “é impossível ser professor sem o sonho da mudança permanente das pessoas, das coisas e do mundo”. Admite que apesar da dificuldade que temos de mudar e até considerar o saber da transformação como um rigor de trabalho, esse elemento é um compromisso mútuo que fundamenta a prática educativa, inclusive a organização dos conteúdos. Sem ele, é impossível entender que ensinar conhecimentos não é transpor informações ao educando. Um ponto relevante para Freire é a curiosidade como fenômeno vital: 

“É a partir da descoberta de você como não eu meu que eu me volto sobre mim e me percebo como eu e, ao mesmo tempo, enquanto eu de mim, eu vivo o tu de você. É exatamente quando o meu eu vira um tu dele, que ele descobre o eu dele. É uma coisa formidável”. (FREIRE, 2020, p. 185)

Em outras palavras, a curiosidade é um motor da produção de conhecimento que inserida na prática transformadora de cada realidade se torna um caminho para o ensinar. Tal trajetória convoca a curiosidade do aluno e “quanto mais metodicamente rigorosa fica a curiosidade, tanto mais a curiosidade fica crítica” (p. 189), que o aluno se transmuta em sujeito da produção de saber que lhe é ensinado. Pensando no ensino do estilo tribal, por exemplo, o que interessa não é a memorização dos conteúdos/movimentos e sim, a curiosidade crítica e, portanto, fazedora de conhecimento onde o fato de decorar passos vem como consequência da aprendizagem repetitiva vívida, reflexiva e incessante. Para tanto, Freire apresenta que aprender só se faz quando se apreende, ou seja, aprendemos que ensinar conteúdos não é depositar conhecimentos, quando apreendemos verdadeiramente essa afirmação, no momento em que se faz a apreensão do significado profundo de tal discurso. Na transcrição de uma palestra contida nesse livro, ele diz:

Quando a gente entende que ensinar não é transferir conhecimento, a gente tem todo um campo pela frente para inventar maneiras de tratar, melhorar o objeto, o chamado conteúdo que a gente vai ensinar e certas abordagens dos conteúdos e certas maneiras de experimentar e possibilitar que o aluno se experimente na relação com o conteúdo, desde que entendamos os alunos e as alunas como sujeitos criadores e nós também – como é, por exemplo, que eu posso pensar em alunos e alunas criadores, se eu, como professor, estou amarrado a um pacote de orientações que me chegam[...]? (FREIRE, 2020, p. 190 -191)

Para irmos além desse pacote de instruções no caso do ensino do “antigo” chamado método ATS ou ainda, para ofertar saberes técnicos no campo do Tribal Fusion, será necessário correr risco no que se refere ao selecionar e organizar os conteúdos, e assim, obtermos criatividade, produção e mudança no aprenderensinar dança. Nas palavras de Freire: “não há curiosidade que não seja um permanente estado de risco, como não há criação humana que seja um permanente correr riscos, uma aventura” (p. 191). 

Aqui, não se pretende dizer os conteúdos que importam. Na realidade, os conteúdos na perspectiva freiriana possuem como base a tolerância de conviver com o diferente, não com o inferior, para desenhar a partir do diálogo os saberes necessários para cada realidade. No entanto, para não sairmos daqui com certa angústia por falta de respostas mais concretas, o nosso educador brasileiro responde: “eu penso que a educação de que nós precisamos é aquela que, ao mesmo tempo que se preocupa com a formação técnica e científica do educando, se preocupa também com o que chamo de desocultação das verdades” (p. 235). Isto é, aquela educação em dança que não distorce os fatos relacionados ao estilo e também aquela pedagogia comprometida com os oprimidos nas questões de classe, gênero e raça. Enfim, uma educação não-conteudista cuja prioridade é a centralidade docente e sim, uma pedagogia em dança a partir de conteúdos significativos que, desvelados respondem com criticidade os poderes dominantes dentro e fora da nossa comunidade de dança. Obviamente, isso não é uma tarefa fácil, por isso “mudar é difícil, mas é possível” (p.181). 

Certamente, continuaremos na próxima matéria com a exploração dos conteúdos que importam, de modo mais específico com os ensinamentos do Currículo Crítico-libertador de Paulo Freire para o estilo tribal. Finalizamos a presente matéria com a imagem da artista/professora/pesquisadora da dança, Camila Saraiva, que nos inspira aos novos olhares acerca da professoralidade em dança.

Camila Saraiva: ensaio fotográfico | Fotografia: Marcelo Delfino. Ano: 2016. Fonte: @camilasaraivadance


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² “Aprenderensinar” é um conceito desenvolvido pela artista/professora/pesquisadora da dança Neila Baldi. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/23643. Acesso em: 18 de maio de 2021.

³  “Professoralidade” é um termo desenvolvido pelo autor Marcos Vilella Pereira na obra Estética da Professoralidade: um estudo crítico sobre a formação do professor, ano 2013.

Referências

FREIRE, Paulo. PEDAGOGIA DA TOLER NCIA. Organização e notas Ana Maria Araújo Freire. 7ª edição. Rio de Janeiro/São Paulo: Editora Paz e Terra Editora, 2020.

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Formação no Tribal


Ana Clara Oliveira (Maceió-AL) é dançarina e pesquisadora do estilo Tribal de Dança do Ventre. Professora de Dança na Escola Técnica de Artes (UFAL). Doutoranda em Artes (UFMG) onde pesquisa a formação no Tribal. Mestrado em Dança (UFBA). Diretora da Zambak Cia de Dança Tribal ... Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>


[Formação no Tribal] "Quando sinto que já sei." (Documentário)

por Ana Clara Oliveira

Na matéria do mês de janeiro introduzi a coluna com o título “Em que tempo estamos na formação?” Convoquei a nossa comunidade para refletir acerca da palavra “formação” e trouxe para o debate as seguintes questões: é função das capacitações e escolas de formação em tribal abarcar as resistências dos oprimidos e compreender suas experiências de opressão, sobretudo, do Estado? Ou deveríamos focalizar apenas no universo de técnicas estabelecidas e práticas cada vez mais eficientes e inovadoras do mercado? Ao final, sugeri a ideia de que o acolhimento das reflexões, das teorias e das vivências do cotidiano na sala de aula, não é sinônimo de abandonar o aprendizado de técnicas. Ambos os caminhos, podem coexistir como potência no corpo que dança. Então, que este agenciamento possa habitar na nossa dança!

No presente texto, trago como contribuição o documentário intitulado “Quando sinto que já sei”  (2014) publicado no canal YouTube da Vekante Educação e Cultura. A obra cinematográfica de 78 minutos expõe as práticas educacionais inovadoras ocorridas no Brasil. Através do documentário, esta matéria propõe inspirar as pedagogias do estilo Tribal de dança e quem sabe sulear entendimentos distintos da lógica dominante, puramente reprodutora do saber. O longa-metragem brasileiro “Quando sinto que já sei”  dos cineastas Antonio Sagrado Lovato, Raul Perez e Anderson Lima é um projeto independente apresentado por Despertar Filmes, realizado com a colaboração de 487 coprodutores e financiado coletivamente via Catarse. 

O filme reúne discussões acerca do ensino convencional brasileiro por meio dos depoimentos de pais, alunos, professores e alguns profissionais que também questionam o modelo tradicional de escola. Paralelamente, ilumina a importância dos valores sociais para a formação humana. No tempo de dois anos, os diretores cineastas visitaram oito cidades brasileiras e dez espaços educacionais com projetos que possuem novos caminhos para uma pedagogia mais autônoma e afetiva. 

Tendo em vista a duração do vídeo, não farei um relato descritivo, tampouco uma análise profunda dos seus aspectos. No entanto, deixo aqui o convite para a apreciação do filme. Isto posto, destaco falas estimulantes que podem tecer um paralelo com o campo pedagógico do Tribal.

Tião Rocha – Educador e Idealizador do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento CPCD), inicia com a primeira narrativa de impacto ao contar que ouviu de uma diretora a seguinte frase: “as crianças são uma página em branco onde devemos escrever um belo livro”. Ele complementa: “se uma diretora de escola considera uma criança como uma página em branco, ela não entende nada de menino”. Traçando um paralelo com a pedagogia do Tribal, pergunto: de que maneira tratamos os conhecimentos que o discente já possui? Ou não incorporamos os saberes produzidos pelos educandos nas suas experiências cotidianas? A ideia da página em branco até este momento existe na educação em dança?

José Pacheco – Educador e Idealizador da Escola da Ponte e colaborador no Projeto Âncora, ressalta que o formato de escola que conhecemos é uma invenção do ocidente, principalmente, dos séculos 18 e 19 com as intenções Iluministas e no caso do Brasil, com a segmentação cartesiana, o positivismo e também com a influência dos jesuítas. Ao dizer que a escola do passado está viva no presente, ele expõe alguns trechos que podem alimentar as reflexões acerca das práticas de ensino do Tribal, tanto no âmbito formal e quanto no espaço informal: 

“Quando se diz que a escola não mudou é porque ela deixou de fazer sentido enquanto construção social que sobrevive e provoca milhões de analfabetos, que provoca muita infelicidade e muito desperdício de gente. Essa escola não mudou por uma razão. Ela hoje não tem qualquer suporte nem do bom senso, quanto mais da ciência”.

“A educação não se faz para a cidadania, faz na cidadania, no exercício da liberdade responsável. Perceber o que somos, onde estamos, para onde vamos com o outro [...] Nós não queremos aula, nós queremos que a todo momento todos se manifestem na sua incompletude [...] E na sua incompletude comparando com problemas e conflitos, um com o outro, aprenda mediado por um educador a ser e a conviver”.

“A aprendizagem acontece a qualquer momento e raramente acontece durante a aula. Eu penso que muito mais acontece no recreio do que numa aula”.

“Só se aprende quando perante algo [...] alguém se interroga, alguém se aproxima e os dois com relação a fonte de conhecimento [...] fazem um combinado, ou seja, um projeto e quando isso acontece a aprendizagem deixa de ser centrada no tradicional aprendente que é o aluno, deixa de estar centrada no tradicional ensinante que é o professor de currículo, para estar centrada na relação. Está tudo centrado na relação e é na qualidade da relação [..]. que a informação é transformada em conhecimento [...] eu vou entendê-lo e vou procurar o consenso [...] há espaço direto, eu e tu, tu e eu, e no meio, na relação está resposta”.

Márcia Roberto da Silva – Diretora da Escola Municipal André Urani, relata a função do professor ao dizer que “ele deixa de ser professor e passa a ser o professor-mentor, quer dizer, como a palavra mesmo diz ele é o cara que vai mediar essa aprendizagem do aluno, então é uma quebra total de paradigmas”. Pensando na dança, temos deixado o professor-mentor florescer nas aulas, sejam elas teóricas ou práticas?

No decorrer do filme, surge a ideia do professor como estimulador de um novo estudante e de um novo sujeito que recebe o conhecimento como um desafio. Sobre os desafios, a estruturação das aulas e os conteúdos, a estudante Clélia Moreira de Macedo (IINN-ELS) salienta: “primeiro, dar direito a voz ao aluno [...] nas salas alunos de novo ano, sexto, sétimo, de idades diferentes, todo mundo junto, isso é bom, há uma socialização de idades e ideias diferentes [...] um jornal, um assunto nós trazemos para aula”. Abro um espaço para questionar: como são organizadas as aulas de Tribal? Separamos os nossos alunos por habilidades? Reconhecemos a voz do Outro? Como trabalhamos?

Ivana Jauregui Gini – Educadora Escola Livre Inkiri declara: “nossa escola é uma escola livre, é uma escola não-diretiva [...] não direciona a expressão do ser, aqui a gente acredita que cada um tem dentro de si a sua evolução [...] o que a gente faz é criar um espaço protegido onde a criança pode expressar quem ela é [...]. Na escola livre tem muitas regras, tem disciplina e tem ordem [...] aqui não xingamos, aqui não batemos, aqui não desrespeitamos alguém [...] são limites na verdade que não limitam, por exemplo, não corremos dentro da sala, mas corremos fora. Você sempre pode fazer o que você quer, mas com respeito e no lugar correto, no mesmo tempo, que a criança ganha sua força de expressão, ela também aprende a como conviver em harmonia e respeito com todo mundo”. 

Outra fala encantadora surge: “a desculpa em si às vezes não é o bastante [...] se eu peço desculpa e isso é o bastante, pronto eu já esqueci tudo que poderia aprender com essa situação, já ignorei então, tem que tomar cuidado porque a desculpa muitas vezes faz a gente pular a parte importante que é a rever, resgatar”. Ambos os trechos me fizeram refletir sobre ética, afetos e convivência na dança. Como a nossa comunidade discute tais aspectos? Qual a importância de compreender a ética na educação em dança?  

A respeito da relação professor-aluno destaco esta fala envolvente: “não é para, é com, o professor com o aluno, não é o aluno para o professor ou o professor para aluno [...] aprender para a vida, aprender para construir, aprender para equilibrar, aprender para ousar”. Assim, “há uma relação entre a alegria necessária à atividade educativa e a esperança. A esperança de que professor e alunos juntos podem aprender ensinar, inquietar-nos, produzir e juntos igualmente resistir aos obstáculos a nossa alegria” (FREIRE, 2015, p. 70).

Com esta matéria, findo a introdução da coluna FORMAÇÃO. Na próxima publicação, abordarei o primeiro tema: “conteúdos - qual é o conhecimento que importa na nossa dança?” 

Então, convido vocês para acompanhar a coluna!

Vamos conversar?

Referências

FREIRE, Paulo. PEDAGOGIA DA AUTONOMIA. Saberes Necessários à Prática Educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra Editora, 2015.

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Formação no Tribal


Ana Clara Oliveira (Maceió-AL) é dançarina e pesquisadora do estilo Tribal de Dança do Ventre. Professora de Dança na Escola Técnica de Artes (UFAL). Doutoranda em Artes (UFMG) onde pesquisa a formação no Tribal. Mestrado em Dança (UFBA). Diretora da Zambak Cia de Dança Tribal ... Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>

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