[Formação no Tribal] Viva, Paulo Freire!

por  Ana Clara Oliveira


Fonte: UFMG

Quando iniciei a coluna “Formação”, veio-me à memória a obra e vida do nosso querido Paulo Freire que se presentifica nas práticas pedagógicas zelosas pela ética e educação sensível no interior de e para as lutas sociais. Neste sentido, temos nos dedicado a refletir o seu legado para sulear nossas atuações no campo da Fusão Tribal. Na matéria de hoje, abordaremos um tanto do primeiro capítulo do livro Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa (FREIRE, 2020) – 66ª edição. Afinal, em setembro do presente ano comemoramos o seu centenário. Viva, Paulo Freire!

A primeira edição do livro foi publicada em 1996. Nesta obra lançada em vida, o educador deixa o último legado na Terra. Muitas de nós, da comunidade da Dança do Ventre e fusões, éramos crianças, adolescentes e suponho que algumas ainda não eram passageiras deste mundo. No entanto, o livro é tão importante que foi reimpresso diversas vezes. O exemplar que tenho em mãos pertence ao ano de 2020. Nesse grande intervalo podemos perceber que a linguagem poética e política de Paulo Freire é essencial para o sistema-mundo que vivemos. Observemos as seguintes palavras da orelha do livro: “Paulo faz um chamamento aos(às) educadores(as) para, com ética crítica, competência cientifica e amorosidade autêntica, sob a égide de engajamento político libertador, ensinarem a seus(suas) educandos(as) seres Seres Mais”. 

O livro então, demostra lucidez e maturidade a fim de levantar questões para a formação do corpo docente e discente, aprofundando a teoria de uma vida voltada para a humanização, revolução e contra a lógica do capital. Outro fator importante é dito nas palavras da pedagoga Nita Freire: “Pedagogia da autonomia sintetiza a sua Pedagogia do oprimido e o engradece como gente. É um livro-testamento de sua presença no mundo. Ofereceu-se por inteiro, na sua grandeza e inteireza”. Assim, são esses aspectos que nos aproximam da Pedagogia da autonomia de Paulo Freire com o objetivo de realizar o exercício de nos perguntar constantemente sobre nossa professoralidade e aprendizado nas aulas de Fusão Tribal, bem como, questionar as estruturas do Norte Global e não ingeri-las sem rigor crítico. 

Isto posto, temos no primeiro capítulo intitulado Prática docente: primeira reflexão, 23 páginas nas seguintes divisões/caminhos teórico-práticos:  

1.1 Ensinar exige rigorosidade metódica

1.2 Ensinar exige pesquisa

1.3 Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos

1.4 Ensinar exige criticidade

1.5 Ensinar exige ética e estética

1.6 Ensinar exige a corporificação das palavras pelo exemplo

1.7Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação

1.8 Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática

1.9 Ensinar exige o reconhecimento e a assunção da identidade cultural

Em cada seção, Paulo Freire argumenta de diferentes maneiras a recusa ao ensino bancário e apresenta caminhos para uma prática de ensinar-aprender vívida, dialógica, política, gnosiológica, estética e ética, em que a “boniteza deve achar-se de mãos dadas com a decência e com a seriedade” (FREIRE, 2020, p.26). Na verdade, cada subtítulo desse capítulo mostra a compreensão de que ensinar inexiste sem aprender; aprender não existe sem ensinar, “e foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobriram que era possível ensinar” (FREIRE, 2020, p. 25-26). 

O autor acrescenta: “foi assim, socialmente aprendendo, que ao longo dos tempos mulheres e homens perceberam que era possível – depois, preciso – trabalhar maneiras, caminhos, métodos de ensinar” (FREIRE, 2020, p. 26). Ele considera que aprender antecede a ensinar ou, melhor dizendo, o ensino se dissolve na experiência autêntica fundante de aprender, sendo o pensar certo a base da formação docente e do aprendizado discente. O pensar certo “implica a existência de sujeitos que pensam mediados por objeto ou objetos sobre que incide o próprio pensar dos sujeitos. Pensar certo não é que-fazer de quem se isola, de quem se “aconchega” a si mesmo na solidão, mas um ato comunicante” (FREIRE, 2020, p. 38). “O pensar certo, por isso, é dialógico e não polêmico” (FREIRE, 2020, p. 39).

Diante dessa breve descrição, de que modo o capítulo conversa com você? Faz sentido? Me conta do teu pensamento. 

Que a obra de Paulo Freire continue a nos inspirar e transformar nossas práticas! 

Viva Paulo Freire!

Fonte: Wilkipédia


Abraços dançantes,

Até breve!


Referências

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 66ª ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2020. 

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Formação no Tribal


Ana Clara Oliveira (Maceió-AL) é dançarina e pesquisadora do estilo Tribal de Dança do Ventre. Professora de Dança na Escola Técnica de Artes (UFAL). Doutoranda em Artes (UFMG) onde pesquisa a formação no Tribal. Mestrado em Dança (UFBA). Diretora da Zambak Cia de Dança Tribal ... Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>


Comentários
1 Comentários

Um comentário:

  1. Faz muito sentido. A mim, remete ao que vivo em minha prática docente. Nunca estou pronta para ensinar, mas estou sempre em processo de ensinar e de aprender. Há um tempo, não me sentir pronta, me angustiava. Mas estudar pensadores e pedagogos como Paulo Freire, me fez ver que isso não é um problema. É justamente a boniteza só ensinar e do aprender. Difícil? Diria mais desafiador do que difícil, porque nos coloca em constante movimento, como os caminhos teórico-práticos destacados no texto. Enfim... Viva Paulo Freire!

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