[Venenum Saltationes] Dança e Ocultismo, juntos!

por Hölle Carogne

Em agosto (20 e 21) acontece, na cidade de Curitiba, um evento voltado para o Dark Fusion e que aborda a temática ocultista.

O evento denominado Underworld Fusion Fest, agora na sua segunda edição, conta com profissionais nacionais e internacionais, todos possuindo vivências com as fusões mais exóticas da dança tribal e, alguns, com a própria magia.

Como todos sabem, a minha coluna é voltada para o assunto “Dança e Ocultismo” e fico imensamente feliz em poder falar sobre um evento especialmente criado para abordar esta temática.

Com certeza é a primeira vez que o sul do país investe na cena underground da dança e disponibiliza acesso à assuntos tão densos e místicos.

A bailarina Aerith Asgard (que organiza o evento em parceria com Gilmara Cruz) trará para o público da dança um pouco das fusões com metal, propondo um estudo sobre a percepção musical e a movimentação forte e intensa que este tipo de música exige, para que o trabalho não se torne caricato ou vulgar.

A gaúcha Bruna Gomes trabalhará a criação do personagem na dança, através de um workshop de Tribal Interpretativo.

Gabriela Miranda, em seu workshop “Encontro com a Sombra”, abordará a psicologia analítica de Jung, explorando o lado sombrio de cada pessoa como ponto de partida para a criação artística.

A bailarina Gilmara Cruz ministrará uma palestra sobre a influência da cultura gótica no Dark Fusion (palestra aberta para o público geral) e também um Workshop sobre a ritualística pagã das deusas obscuras, que pretende trabalhar a dança enraizada no ritual às deusas pagãs, fusionando a Dança Tribal Ritualística com elementos de introspecção, sentimento e obscuridade, característicos do Dark Fusion.  

O conceito alquímico de V.I.T.R.I.O.L ("Visita Interiorem Terrae, Rectificando, Invenies Occultum Lapidem") fica por minha conta, através de uma palestra aberta ao público geral. Todos que tiverem interesse (homens e mulheres, com ou sem experiência com dança) podem participar. A palestra inclui certificado e todos os participantes ganharão um brinde feito artesanalmente por mim: um frasco de poção semelhante ao da foto.



Aproveito para dizer que estou muito honrada em participar de um evento deste porte e, ainda por cima, abordando um assunto que me move como pessoa: o ocultismo.

V.I.T.R.I.O.L. é a sigla da expressão latina "Visita Interiorem Terrae, Rectificando, Invenies Occultum Lapidem", que quer dizer: Visita o Centro da Terra, Retificando-te, encontrarás a
A Pedra Oculta e uma referência à Pedra Filosofal, que os alquimistas acreditavam ser de uma matéria que teria o poder de transformar todos os metais em ouro ou prata, a panacéia universal (remédio para curar todas as doenças) e o elixir de longa vida que garantiria a longevidade do homem. Filosoficamente esta expressão simboliza uma viagem ao “eu interior” em busca do que está oculto.

A palestra busca resgatar um pouco da nossa essência mais oculta, muitas vezes desconhecida por nós mesmos...É um estudo sobre a constante busca humana para melhorar a si mesmo, a fim de que brilhe a sua Individualidade.



Agora, me atenho a falar sobre três workshops bastante ligados com linha ocultista que sigo. Tentarei introduzir os assuntos abordados pelos works, para que vocês possam ficar por dentro da temática de cada um.


Solve et Coagula

Solve Et Coagula será o tema abordado pela bailarina argentina Long Nu.

A expressão em latim “Solve Et Cogula” (“Dissolver e Coagular”, em português) é um princípio básico da Alquimia sobre as transformações dos metais e da química, mas também da própria transmutação da natureza do homem através do conhecimento, explicando como as energias passam de um plano para outro.

Para os alquimistas, qualquer substância só poderia sofrer alteração caso retornasse ao seu estado indiferenciado (prima matéria). Os textos e imagens alquímicas descrevem com toda a precisão os estágios e as operações pelas quais consegue-se obter o “ouro”, o “elixir”, a “pedra” à partir da “matéria-prima”.


The Azoth of the Philosopher, by Basil Valentine



Dissolver seria o processo de colocar algo (soluto) em um solvente; acontecendo uma dispersão desse algo. A sutilização leva o soluto a uma faixa mais difícil de ser percebida, mais longe do físico.

Coagular seria o processo de colocar algum agente coagulador em algo; acontecendo a aglutinação da estrutura desse algo. A densificação leva o coagulado a uma faixa mais fácil de ser percebida, mais próxima do físico.

Nos braços de Baphomet vemos escrito os termos “Solve” (o braço direito, que aponta para cima) e “Coagula” (no braço esquerdo, que aponta para baixo). Dissolver o Agente Mágico, e coagular esse “agente” no plano físico.

Eliphas Levi defendia a ideia de que se podiam materializar todos os pensamentos do Plano Mental (que seria o plano dos pensamentos e das ideias) no Plano Astral (que seria o plano das energias e das emoções). Seria basicamente dizer que é possível, em nosso mundo, conseguir o que se deseja apenas com a “força do pensamento”. Essa ideia é amplamente aceita nas diversas correntes místico-ocultistas.

Aí, eu penso... Se é possível trabalhar as coisas nos planos mental/astral, quanto mais poderoso deve ser trabalhar usando a energia da dança e o poder do corpo. Esta é a ideia deste workshop!

Long Nu trabalhará a “arte do cambio e da transformação” na dança; juntando opostos (sólido/líquido, material/espiritual) através do trabalho técnico, expressivo e coreográfico.


A Diosa Escarlata

Saba Khandroma, também da Argentina, trará um workshop voltado para a energia vermelha de Babalon.

Aí é que meu coração explode de tamanha alegria!!! Fico excitada com a ideia só de imaginar... <3

To Babalon by Lupe Vasconcelos


“Lady of lust on the back of the Beast,
The lion, the serpent, the star of the east
Rising and shining new light on Zion;
I raise up the cup and adore Babalon!”
In Nomine Babalon – XI


Babalon, também conhecida como Mulher Escarlate, Prostituta Sagrada e Mãe das Abominações, é uma das deusas centrais de Thelema. Representa o impulso sexual feminino e a liberdade da mulher. Contudo pode também ser identificada com a Mãe Terra, no sentido simbólico da fertilidade. Crowley acreditava que Babalon possui um aspecto terreno na forma de um trabalho espiritual que pode ser exercido por toda e qualquer mulher.

Babalon é a divindade menos compreendida no Sistema Thelêmico. Não existe um capítulo para ela no Livro da Lei. Mas o Livro fala da Sacerdotisa como sendo a Mulher Escarlate, a quem todo o poder é dado.

Na Bíblia encontramos uma referência à ela, a "grande prostituta, assentada sobre muitas águas", "assentada sobre uma besta de cor escarlate", "a mulher vestida de púrpura e escarlata, e adornada com ouro, e pedras preciosas e pérolas" que "tinha na sua mão um cálice cheio de abominações e da imundice da sua prostituição", e estava "embriagada do sangue dos santos". E o seu nome era "Mistério, a grande Babilônia".

Por ser considerada como a manifestação do próprio princípio feminino e, por conseguinte, de todas as mulheres, Babalon não costuma ser representada em imagens, o que a caracterizaria como uma mulher em particular. Normalmente, seu selo, apresentado por Crowley em seu "O Livro das Mentiras" é utilizado para representá-la visualmente:

Selo de Babalon




Quando, contudo, ela é representada pictograficamente, normalmente é como uma mulher com os atributos da fertilidade, maternidade e sexualidade em evidência, como seios fartos e quadris largos. Geralmente seus cabelos são ruivos, denotando pelo simbolismo da cor vermelha a força de sua vontade e individualidade. Nestes casos, seu rosto costuma estar virado de lado, como na carta "Lust" do Tarô de Thoth, coberto por seus cabelos ou envolto em sombras, de modo a não representar um indivíduo em si. Costuma ser descrita como portando uma espada à cintura e montando a Besta, a qual controla através de sua Vontade.

Lust – Thoth Tarot

Conforme Crowley escreveu em "O Livro de Thoth", na descrição da carta "Lust", na qual ela aparece:

“Ela monta a cavalo sobre a Besta; na sua mão esquerda ela mantém as rédeas, representando a paixão que os une. Na sua direita ela mantém no alto o cálice, o Santo Graal ardente de amor e morte. Nesta taça são misturados os elementos do sacramento da Eternidade (Aeon)".

Em “A Visão e a Voz”: 

“Este é o Mistério de Babylon, a Mãe das Abominações, e é este o mistério de seus adultérios, pois ela rendeu-se a tudo o que vive e a tudo fez participante de seu mistério. E por ter-se feito serva de todos, de tudo tornou-se senhora. Tu ainda não podes compreender sua glória.”

Dançar o arquétipo da sexualidade sagrada é uma ideia excitante!

Estou muito ansiosa por este workshop e estou com muitas expectativas, pois além de a Saba ser, com toda a certeza, uma das mais incríveis representações da Deusa Escarlate dentro do universo da dança, sinto que temos (ela e eu) energias muito próximas a serem compartilhadas!  

Babalon by Yuri Seima


"Quando o teu pó estiver na terra que Ela pisa, 

então talvez tu possas levar a impressão de Seu pé. 

E tu pensas em contemplar a Sua face!"

(A Visão e a Voz, Aleister Crowley).



Chaos Magick

Juntas, Long Nu e Saba Khandroma, abordam dois assuntos muitos interessantes: a Magia do Caos e o Butoh.

Para quem ainda não está familiarizado, o Butoh é um estilo de dança que surgiu no Japão pós-guerra e ganhou o mundo na década de 1970. Criada por Tatsumi Hijikata e Kazuo Ohno.



Também denominado “Dança das Trevas”, o Butoh é uma forma primal de dança que se origina no agora e no muito antes, sem começo, meio ou fim, onde a vida borbulha e instiga o autoconhecimento, extrapolando, assim, a força dos gestos, movimentos ou plasticidade do palco.

“Entre ruídos, gemidos, sons e gritos movem-se homens e mulheres - seus rostos estão distorcidos em esgares alucinantes, os olhos revirados para dentro, as línguas penduradas, a saliva escorrendo. A movimentação é lentíssima como se cada mover não fosse apenas muscular, mas custasse cada órgão do corpo dos bailarinos. O primeiro impacto é de terror. [...] Existe algo naqueles quase-monstros que os toca de forma singular. Essa ‘deformidade’ explícita, que não é externa, é interna, liga o "butoh" ao homem universal. O caos representado é o caos do século XX, não importa oriente ou ocidente...” 
(Solange Caldeira)

Magia do Caos ou Caoísmo é uma forma de ritual e magia que se utiliza de quebras de paradigmas e alterações do estado de consciência (de formas excitativas ou inibitórias). O termo “Magia do Caos” apareceu pela primeira vez no "Liber Null" de Peter Carroll, publicado em 1978.
Caosfera


Porém, o primeiro Magista do Caos reconhecido pela maioria dos ocultistas é Austin Osman Spare, criador do uso de sigilos, e técnicas envolvendo estados de êxtase para dar poder a estes sigilos. Spare também foi pioneiro no desenvolvimento de um "alfabeto sagrado pessoal", e, sendo um artista plástico talentoso, usou imagens como parte de sua técnica de magia.

O caoísmo nasceu pouco após a Geração Beat, que foi marcada por um grupo de autores influenciados pela desilusão gerada pelo período pós Segunda Guerra Mundial. Foi uma época em que o mundo estava fortemente caótico e os artistas desejavam expressar essa aparente ausência de sentido na arte. Um dos nomes mais notáveis foi William S. Burroughs (ele mesmo um membro da IOT) com seu livro “The Third Mind” e com sua técnica de cut-ups, cortes de textos aleatórios, também utilizada por poetas como Tristan Tzara e Arthur Rimbaud.

Na minha humilde opinião, a Magia do Caos é uma forma de conhecimento que permite a criação da sua própria linguagem mágica.

Como afirmou Hawkins:

“Tem havido um enorme crescimento no número de pessoas que tentam imitar os métodos de Spare, e ainda assim eles perdem o ponto de sua mensagem principal de que devemos cada um de nós desenvolver nossos próprios métodos de magia, ou seremos meramente imitadores.”

“Tocar os limites mais profundos da imaginação e trazer as forças criativas do caos primordial não formado para seu trabalho mágico é a mais sincera de todas as magias.”

Quem conhece bem a colunista aqui, sabe o quanto eu estou ansiosa por estes aprendizados!

Nunca imaginei ver o Chaos Magick sendo difundido dentro da dança...

Estudar conceitos como manipulação de energia, alteração de consciência, sigilos e a energia sexual da Deusa Escarlate no corpo que dança é algo que me deixa profundamente excitada!

Estou ansiosa por agosto... Pelas palestras e workshops, pelo Espetáculo Occvltum (que acontece no sábado à noite) e, principalmente, pela confraternização!

Será um encontro de grandes amigos da dança que dividem os mesmos gostos, as mesmas crenças e que trilham o mesmo caminho dentro do ocultismo!

Quero conhecer todos vocês, leitores, pessoalmente!

Será uma grande celebração!!!


Vídeos:


Aerith (PR)




Bruna Gomes (RS)





Gabriela Miranda (RS)



Gilmara Cruz (PR)





Hölle Carogne (RS)





Long Nu (Argentina)




Saba Khandroma (Argentina)






















Hölle Carogne estará no Espetáculo Occvltum no dia 20 de agosto e ministrará a palestra aberta ao público geral "V.I.T.R.I.O.L. " (INCLUI CERTIFICADO) no dia 21 de agosto.

INSCRIÇÕES PRORROGADAS ATÉ 30/07 
- VAGAS LIMITADAS -

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[Resenhando-RS] Curso de American Tribal Style® em Porto Alegre

por Karine Neves



No domingo, 19 de junho, aconteceram em Porto Alegre a última aula e também a entrega dos certificados de conclusão do primeiro módulo do Curso de American Tribal Style® (ATS®), promovido pelo Tribal Skin Studio e ministrado por Gabriela Miranda, Sister Studio FCBD®. As aulas mensais deste módulo, que teve duração total de 32 horas, ocorreram no Aldeia, espaço alternativo multicultural, localizado no bairro Cidade Baixa.



A professora, que atualmente reside em Tramandaí/RS, não ensina somente o repertório de passos do ATS, como também aborda muito a respeito de musicalidade, da história do estilo e da cena tribal no Brasil e no mundo. Gabriela costuma dar muitas dicas preciosas sobre o dress code do ATS, sobre músicas e, é claro, sobre a própria dança. As aulas deste curso, sempre inspiradoras, acabam sendo um convite a reflexões acerca de assuntos como sororidade e feminismo, por exemplo, e principalmente sobre o verdadeiro sentido de se dançar ATS.

Neste dia receberam os certificados as alunas Ana Bueno, Daniela Oliveira, Karine Neves, Marina Segalla, Roberta Pereira e Sibele Faller.

O grupo pretende continuar unido e está ansioso para ingressar no segundo módulo, que inicia em agosto.




[Retalhos de uma História] Tahia Carioca


por Ju Najlah


"Todas morremos e vivemos pela dança" 


Nascida com o nome Abla (bint) Muhammad Karim, Tahia Carioca (Ismaïlia, 1915 - Caïro, 1999) deixou sua família em Ismália após uma discussão com seu pai, Mohamed Karim, quando contava de apenas 12 anos de idade e pegou o trem para o Cairo.  Aos 31 anos já era considerada uma lenda da Dança Oriental. Herdou de seu pai o amor pela arte e os muitos casamentos. Seu pai casou-se 7 vezes e mais tarde Tahia dobrou esse número! 

Ela dançou na maioria dos estados árabes e fez várias participações em filmes egípcios, com famosas estrelas do cinema árabe, tais como o cantor e compositor Mohamed Ahdelwahab e Farid Al Atrache. Lançou sua carreira cinematográfica em 1935, tendo sido "La Femme et le Pantin" o seu primeiro filme. Fez mais de 120 filmes no decorrer de sua vida. Participou também de peças de teatro e de novelas. O cinema e televisão fizeram de Taheya uma pessoa bem conhecida pelos árabes.

Estudou na Escola de Dança Ivanova e, posteriormente, estudou na Mohammed Ali Street, no Cairo, lugar equivalente a Broadway. Foi nomeada Carioca por sua conexão com a dança brasileira, o samba.  Depois de ficar fascinada por ritmos brasileiros, ela perguntou ao derbaquista se ele poderia executar semelhante batida em sua tabla. Assim como Mohamed Abdelwahad fez em suas composições, Tahia introduziu ritmos latino-americanos em seu show. O samba era utilizado por Tahia para executar seus passos no início de sua carreira, durante a década de 1930, quando ela dançava no Badia's Massabni Casino. A partir daí ela se tornou conhecida como Tahia Carioca e o percussionista como Zaki Carioca. 

A concorrência no Badia's Cabaret era dura, especialmente contra Samia Gamal que também dançou lá no início de sua carreira.

A  performance de Tahia era,  normalmente, de 20 a 25 minutos, no máximo. Mas sua  fama cresceu rapidamente entre 1930 e 1940, de tal forma que o Rei do Egito, Farouk, convidou-a para dançar em seu aniversário. Seu estilo era totalmente diferente do de Samia.

Tahia era uma mulher muito forte e determinada mas com uma dança delicada. Possui uma técnica bastante sofisticada. Essas características fizeram o seu sucesso no difícil mundo da dança do ventre, àquela época no Cairo. Ela era, sem dúvida, uma das melhores bailarinas do Egito. Sua dança era fluida, com emendas perfeitas que dificultam saber onde começa e termina determinada sequência. Possuía uma postura de braços delicada e expressiva. Utilizava pouco espaço para executar seus movimentos, mas sem perder a dinâmica da dança. Sua expressão era meiga, sempre com um sorriso nos lábios. Ninguém conseguiu alcançar sua virtuosidade, seu jogo de palavras, gestos e seu jeito irônico de flertar. Extremamente audaz, recusou-se a dançar para o ditador turco Kamal Ataturk,   o qual proibiu de entrar na Turquia, também recusou-se a dançar para Nazli, rei do Egito.

Longe dos palcos, a bailarina estava a frente de seu tempo, era ativista política e se envolveu  em diversas causas, o que custou, inclusive, a sua liberdade, tendo sido presa durante a guerra, quando exerceu um importante papel - foi  responsável por grandes ajudas e donativos.




Tahia Carioca foi casada 14 vezes. A lista dos seus homens estão incluídos o renomado ator Rushdi Abaza, o cantor Muharram Fuad e, assim como Samia Gamal, ela também foi casada com um americano convertido ao Islã. O casamento não durou por muito tempo. 

Em 1963, abandonou a dança e montou um grupo de teatro. Sua primeira peça foi sobre a lendária bailarina Shafiqa La Copta, que é reconhecida como primeira bailarina de dança do ventre a se apresentar em público, em Paris, em 1917. Mais tarde, nos anos 70, ela retornou ao islamismo ortodoxo.

Tahia tornou-se um ídolo para russos, americanos, alemães, ucranianos, italianos, armênios, holandeses e franceses. Todos ficaram atraídos pela sua inigualável mestria. Tahia Carioca provou ser uma fonte de inspiração para uma geração inteira de novas bailarinas.

Faleceu em 20 de setembro de 1999 com a idade de 79 de um ataque cardíaco. Diziam que ela tinha metade de sua inteligência nos pés e a outra metade na cintura.

Vídeos:







Fontes:
MAHAILA, Brysa. Por que amar Taheyya Karioca, in Shimmie, a sua revista de Dança do Ventre, ano 2, nº8





[Índia em Dia] A Índia e o Tribal - Parte 2

por Raphael Lopes

Olá leitores, namaskar!!!


Aliás, o que é Namaskar?


Namaskar seria o equivalente ao Namastê usado no norte da Índia, um termo de saudação muito comum entre hindus, e que é super mal interpretado fora de sua terra natal. Aliás, me parece que essa é uma característica muito comum quando se importa algo da cultura indiana para o Ocidente: uma excessiva superstição sobre quase tudo!!!



Acho pertinente anexar aqui algumas colocações do célebre Yogue Pedro Kupfer:

"Namaste vem de namah, que significa “entrega”, “reverência”. O Yoga explica que toda a criação é namarupa, uma infindável miríade de formas e nomes, que são todos nomes e formas do único Ser, Brahman. Namaste aponta então para o Ser, manifestado e presente sob todos os nomes e todas as formas, animadas e inanimadas. Sendo estes nomes e formas diferentes aspectos da manifestação de Brahman, o Ser, todas as formas de vida, bem como todas as formas inanimadas, são sagradas e dignas de respeito.

Namaste ou namaskar são usadas como saudação, tanto no encontro como na despedida entre as pessoas. Literalmente, significa “a você, meu namaḥ”, minha reverência, meu reconhecimento da presença do Ser em você.

A saudação namaste é tradicionalmente acompanhada de um gesto chamado añjali mudra, com as palmas das mãos unidas frente ao coração, e uma ligeira inclinação da cabeça, em sinal de respeito. Nos templos hindus, as deidades são reverenciadas fazendo-se o gesto de namaskar, que é, para os homens, uma prostração completa de bruços e, para as mulheres, uma inclinação da cabeça até o chão, sentando sobre os calcanhares.

Desses dois gestos físicos de prostração, o masculino e o feminino nasceram, naturalmente, o surya e o chandra namaskar, a saudação ao Sol e à Lua, que são muito familiares para os praticantes de Hatha Yoga. À beira do rio Ganges, na Índia, é muito freqüente vermos pessoas fazendo namaste para as águas sagradas, com um gesto também familiar para os praticantes de Yoga, que consiste em elevar os braços até o céu e fazer uma flexão à frente.

Assim, na próxima vez que formos usar esta linda saudação, façamos isso conscientemente, lembrando que aquele que está na nossa frente não é, essencialmente, diferente de nós mesmos. Todos os nomes, todas as formas, todos os humanos, todas as criaturas vivas, são dignas do mesmo respeito, da mesma reverência."



Durante muito tempo as bailarinas tribais aqui no ocidente passaram a adotar o termo Puja para designar a saudação inicial de suas aulas/práticas de ATS. Para quem está familiarizado com os termos e a cultura hindu, a adoção do nome Puja causa muito estranhamento de fato. Puja se refere a uma ritualística específica do hinduísmo, uma forma de oferenda aos cinco sentidos da divindade (flores, aromas, bebidas, alimentos, tecidos, etc) e não uma saudação. A saudação - além do Namastê - é o Pranam, também chamado de Pranama, que se traduz literalmente como Saudação. E essa sim é a forma mais usual que os bailarinos das danças indianas utilizam para iniciar a aula. Nos vídeos abaixo veja o Pranam do Kathak, e tire suas próprias conclusões:






Essa confusão de termos parece ter chegado aos ouvidos das gringas que decidiram adotar um nome mais apropriado à saudação introdutória - Moving Meditation. A presença das danças indianas, seja nas suas modalidades clássicas ou folclóricas, parece bem diluída no tribal em geral. Nos seus primórdios com o Bal-Anat a carga indiana era mais visível no Tribal, mas com o tempo a influência parece que se restringiu mais ao dress code do que às técnicas em si.

Atualmente existe por meio do Fusion uma possibilidade maior de busca criativa na Índia, de modo que podemos ver algumas bailarinas estudando de forma mais concisa a dança indiana em sua multiplicidade e iniciando a desafiadora tarefa de desconstrui-la e recria-la no Tribal... mas isso fica pra próxima.

Namaskar!!!






























[Feminino Tribal] Espelho, espelho meu...

por Alana Reis



Ainda hoje muita gente enxerga a dança e o palco como uma atividade exclusiva para corpos magros. O ballet clássico nos ensinou assim, a sociedade mostrou dessa maneira e nós, que nascemos com essas imposições já criadas, acabamos acatando sem reparar ou questionar. Apenas aceitamos e procuramos todos os regimes para nos adequar a estes padrões.

Já ouvi tanto “isso não é pra mim, olha minha barriga”, ou “eu sou feia e não levo jeito para isso”. Tantos julgamentos aos nossos corpos, a nossa genética ou “falta de sorte”, como muitas ainda teimam em argumentar.  

E aí, como quem não quer nada além de dominar o mundo (hehe), vem o Tribal e traz uma das coisas mais lindas para todas nós: a possibilidade de sermos unidas, sem competição e de nos olharmos nos nossos olhos através do espelho e vermos beleza no que somos, no que nos tornamos e no que buscamos com a nossa dança. Aprendemos a nos expressar e nos fortalecer; a nos encarar e nos amar.

Quem dá aulas sabe o quão engrandecedor é poder ver uma mulher se olhar no espelho, se encarar e descobrir o amor que sente por si, sem se envergonhar disso. É um processo similar ao desabrochar de uma flor, elas chegam fechadas, sem muita confiança na beleza que já têm, sem saber o quão poderosas irão se tornar e aos poucos – o mais bonito é acompanhar isso – vão se abrindo, se mostrando e florescendo. É mágico!

A melhor palavra é conexão. O tribal é capaz de gerar esse contato direto com a nossa autoestima. A postura elegante e firme, as vinculações com tantas outras culturas, os movimentos sinuosos e as possibilidades de fusão nos abrem os olhos para enxergar o que temos de mais bonito - E aí não se enquadra só beleza física não; é verdade que com o Tribal nos sentimos mais belas, mas isso vem de um trabalho minucioso de observação, de aceitação e de amor próprio.

Depois de um mês de aula, as aspas modificam para “como eu me encontrei!”; “amiga, como a gente arrasa!”; “como eu sou/estou linda!”. E aí o ciclo continua, outras alunas chegam, e as mais antigas já fazem questão de dizer “mulher, no começo é difícil mesmo, mas você consegue” (essa união entre mulheres, essa sororidade é maravilhosa, e eu particularmente derreto de amor quando vejo isso!). Ver esse desabrochar de cada uma, vê-las se apoiando, isso muda nosso dia, muda nossa autoestima, muda a forma que encaramos a vida e a nós mesmas. Muda tudo (meu sorriso nem cabe no rosto quando me lembro de cada aluna enquanto escrevo isso!)!


Pois é, eu falo/escrevo demais, mas tudo isso é pra enaltecer o poder do Tribal, o quanto essa dança, essa união de forças femininas (e lê-se aqui quem se sente assim) faz bem para os nossos corpos e nossa mente. O quanto ajuda na autoestima que é tomada de nós. No tribal somos quem queremos ser, sem amarras, sem maquiagem, sem pentear o cabelo, sem roupas da moda, a nossa preocupação é outra: ser feliz, nos encontrarmos e nos amarmos da maneira que somos.


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