Butoh (bu=dança e toh=passo) é um estilo de dança (arte
dramática - teatro japonês em forma de dança com mistura de mímicas e expressão
corporal). Também denominado “Ankoku Butoh” - “Dança
das Trevas”, o Butoh é uma forma primal de dança que se origina
no agora e no muito antes, sem começo, meio ou fim, onde a vida
borbulha e instiga o autoconhecimento, extrapolando, assim, a força dos gestos,
movimentos ou plasticidade do palco.
Surgiu no Japão pós-guerra, em 1959, e ganhou o
mundo na década de 1970. Criada por Tatsumi
HijikataeKazuo
Ohno.
Dance of Darkness - Documentário sobre a dança
Butô:
A dança butoh nasceu
a partir de performance Kinjiki (Cores Proibidas) interpretada por Tatsumi Hijikata e Yoshito Ohno, e baseada nos escritos de Yukio Mishima. Na época , o butoh escandalizou o público, pela violência e
contestação à linguagem formal, e porque a peça apresentada fazia alusão à zoofilia.
Para muitos, o butoh não
é uma dança, mas uma encenação teatral.
“Butoh é uma das mais arrojadas formas de dança contemporânea, única do
Japão. Expressa ao mesmo tempo tantas idéias diferentes que é impossível
defini-la. Ela somente choca e surpreende”. Ohno
O butoh conecta
a consciência com o inconsciente. O movimento não é ditado pelo que está fora,
mas aparece na interação entre exterior e interior do mundo. A essência do butoh baseia-se no mecanismo em
que os dançarinos deixam de ser eles mesmos e tornam-se outra pessoa ou coisa.
Nessa arte, o importante não é a transformação em alguma coisa, mas a
transformação em si mesma, o fato de mudar-se. Somente assim pode-se trazer o
corpo de volta para seu estado original.
Corporalmente, a linguagem Butoh buscou sempre como elemento essencial
a força dos pés e do quadril, partes que mantêm contato direto com a terra como
que para sugar a energia vital através dela. A civilização distancia cada vez
mais a terra do corpo.
A idéia de corpo morto (bastante difundida dentro do butoh) sugere um
corpo e uma alma vazia, livre, leve, sem empecilhos que o impeça de
expressar-se.
A ideia do “olho de peixe” que lembra os olhos de um cadáver, sem vida
e estático, porém, assim como o peixe, extremamente vivo e pronto para reagir.
O Butoh expressa o que é universal, expressa o que é o ser humano e a
sua verdade. Assim, tanto para o butoka quanto para aqueles que o vêem dançar,
as máscaras sociais são arrancadas e a verdade de cada um é brutalmente
desvendada causando, consequentemente, uma espécie de alvoroço interior que nos
obriga a sair de nossas estaticidades e conformações em busca do nosso
verdadeiro eu.
Em butoh, o corpo pode “ver com a pele, respirar com o ventre”. Nesse
sentido, o interior do corpo permanece vedado ao órgão da visão, aberto por uma
faculdade do “sentir”, de um território incomum, de estados singulares de
percepção.
Os dançarinos de Butoh quase não usam
vestimentas, para eles a roupa veste o corpo e o corpo a alma. E é através da
alma, das emoções, da vivência de cada um é que são criadas as sequências gestualísticas que formam o Butoh.
A maquiagem melancólica, o branco sobre todo o corpo, faz com que os músculos
sejam realçados, e suas formas expressivas delineadas em movimentos essenciais,
se valorizem pela ausência de pêlos.
O Butoh recupera a vitalidade e a força do
corpo, de um corpo domesticado pelas atividades cotidianas e esmagado pelas
regras estabelecidas. O desenho de cada gesto é simbólico. Ele estimula idéias,
associações e emoções tramando uma visibilidade: As intensidades, os afetos que
atravessam os corpos, a música, os movimentos, são expressos através dos
gestos.
“Entre ruídos, gemidos, sons e gritos movem-se homens e mulheres - seus
rostos estão distorcidos em esgares alucinantes, os olhos revirados para
dentro, as línguas penduradas, a saliva escorrendo. A movimentação é lentíssima
como se cada mover não fosse apenas muscular, mas custasse cada órgão do corpo
dos bailarinos. O primeiro impacto é de terror. [...] Existe algo naqueles
quase-monstros que os toca de forma singular. Essa ‘deformidade’ explícita, que
não é externa, é interna, liga o "butoh" ao homem universal. O caos
representado é o caos do século XX, não importa oriente ou ocidente...” (Solange Caldeira)
Para Saba Khandroma:
“o Butoh
é hoje em dia a linguagem em que eu existo profundamente, eu não o escolhi, mas
ele sempre foi parte de mim e eu o encontrei novamente. É a transformação de um
corpo que não é corpo. Também é a liberdade e a extinção do “Eu”. É a poesia e
o sutil, o pequeno gesto latente... Onde se busca com o espírito, onde dançam
as forças cósmicas... É um fluir constante.”
Segundo João Butoh:
“Todo artista está ligado de
alguma maneira a uma crença ou mesmo alguma forma de espiritualidade. Buscamos
atingir o divino o tempo todo. Buscamos o sublime, o perfeito. O Butoh assim
como qualquer outra arte deve estar isenta de padrões religiosos. Cada artista
a meu ver deve buscar a sua maneira de se conectar com o ser supremo que o
ampara e o ilumina.”
“Se o butoh é uma dança, e
dança a fazemos com o corpo, o mínimo que se espera de um intérprete é que o
mesmo tenha um trabalho corporal significativo. Que tenha conhecimento do
próprio corpo.”
“O Sentir deriva de
sentimentos, e eu sou só sentimentos. Não acredito que a arte esteja isenta de
sentimentos. Eu me preparo para estar completo em cena. Tenho uma paixão por
histórias. Paixão por histórias emocionantes, aquelas que tocam fundo na alma.
Está é uma característica da minha arte. Conto histórias por meio do butoh. É o
que me seduz na arte, proporcionar uma viagem emocionante durante alguns
minutos, e no final desta jornada, deliciar que o meu público está totalmente
entregue a esta doação. A arte como instrumento para emocionar as pessoas. Daí,
é um passo para a transformação do indivíduo. Sim, só a arte transforma!”
Como leitura, sugiro o trabalho
da Solange Caldeira e do João Butoh, grandes referências desta pesquisa:
Em agosto (20 e 21) acontece, na
cidade de Curitiba, um evento voltado para o Dark Fusion e que aborda a
temática ocultista.
O evento denominado Underworld
Fusion Fest, agora na sua segunda edição, conta com profissionais nacionais e
internacionais, todos possuindo vivências com as fusões mais exóticas da dança
tribal e, alguns, com a própria magia.
Como todos sabem, a minha coluna é
voltada para o assunto “Dança e Ocultismo” e fico imensamente feliz em poder
falar sobre um evento especialmente criado para abordar esta temática.
Com certeza é a primeira vez que
o sul do país investe na cena underground da dança e disponibiliza acesso à
assuntos tão densos e místicos.
A bailarina Aerith Asgard (que
organiza o evento em parceria com Gilmara Cruz) trará para o público da dança
um pouco das fusões com metal, propondo um estudo sobre a percepção musical e a
movimentação forte e intensa que este tipo de música exige, para que o trabalho
não se torne caricato ou vulgar.
A gaúcha Bruna Gomes trabalhará a
criação do personagem na dança, através de um workshop de Tribal
Interpretativo.
Gabriela Miranda, em seu workshop
“Encontro com a Sombra”, abordará a psicologia analítica de Jung, explorando o
lado sombrio de cada pessoa como ponto de partida para a criação artística.
A bailarina Gilmara Cruz ministrará
uma palestra sobre a influência da cultura gótica no Dark Fusion (palestra
aberta para o público geral) e também um Workshop sobre a ritualística pagã das
deusas obscuras, que pretende trabalhar a dança enraizada no ritual às deusas
pagãs, fusionando a Dança Tribal Ritualística com elementos de introspecção,
sentimento e obscuridade, característicos do Dark Fusion.
O conceito alquímico de
V.I.T.R.I.O.L ("Visita Interiorem Terrae, Rectificando, Invenies Occultum
Lapidem") fica por minha conta, através de uma palestra aberta ao público
geral. Todos que tiverem interesse (homens e mulheres, com ou sem experiência
com dança) podem participar. A palestra inclui certificado e todos os participantes
ganharão um brinde feito artesanalmente por mim: um frasco de poção semelhante
ao da foto.
Aproveito para dizer que estou
muito honrada em participar de um evento deste porte e, ainda por cima,
abordando um assunto que me move como pessoa: o ocultismo.
V.I.T.R.I.O.L. é a sigla da
expressão latina "Visita Interiorem Terrae, Rectificando, Invenies
Occultum Lapidem", que quer dizer: Visita o Centro da Terra,
Retificando-te, encontrarás a
A Pedra Oculta e uma referência à
Pedra Filosofal, que os alquimistas acreditavam ser de uma matéria que teria o
poder de transformar todos os metais em ouro ou prata, a panacéia universal
(remédio para curar todas as doenças) e o elixir de longa vida que
garantiria a longevidade do homem. Filosoficamente esta expressão
simboliza uma viagem ao “eu interior” em busca do que está oculto.
A palestra busca resgatar um
pouco da nossa essência mais oculta, muitas vezes desconhecida por nós
mesmos...É um estudo sobre a constante
busca humana para melhorar a si mesmo, a fim de que brilhe a sua
Individualidade.
Agora, me atenho a falar sobre
três workshops bastante ligados com linha ocultista que sigo. Tentarei introduzir os assuntos
abordados pelos works, para que vocês possam ficar por dentro da temática de
cada um.
Solve et Coagula
Solve Et Coagula será o tema
abordado pela bailarina argentina Long Nu.
A expressão em latim “Solve Et
Cogula” (“Dissolver e Coagular”, em português) é um princípio básico da Alquimia
sobre as transformações dos metais e da química, mas também da própria
transmutação da natureza do homem através do conhecimento, explicando como as
energias passam de um plano para outro.
Para os alquimistas, qualquer
substância só poderia sofrer alteração caso retornasse ao seu estado
indiferenciado (prima matéria). Os textos e imagens alquímicas descrevem com
toda a precisão os estágios e as operações pelas quais consegue-se obter o
“ouro”, o “elixir”, a “pedra” à partir da “matéria-prima”.
The Azoth of the Philosopher, by Basil Valentine
Dissolver seria o processo de colocar algo (soluto) em um
solvente; acontecendo uma dispersão desse algo. A sutilização leva o soluto a
uma faixa mais difícil de ser percebida, mais longe do físico.
Coagular seria o processo de colocar algum agente
coagulador em algo; acontecendo a aglutinação da estrutura desse algo. A
densificação leva o coagulado a uma faixa mais fácil de ser percebida, mais
próxima do físico.
Nos braços de Baphomet vemos
escrito os termos “Solve” (o braço direito, que aponta para cima) e “Coagula”
(no braço esquerdo, que aponta para baixo). Dissolver o Agente Mágico, e coagular
esse “agente” no plano físico.
Eliphas Levi defendia a ideia de
que se podiam materializar todos os pensamentos do Plano Mental (que
seria o plano dos pensamentos e das ideias) no Plano Astral (que
seria o plano das energias e das emoções). Seria basicamente dizer que é
possível, em nosso mundo, conseguir o que se deseja apenas com a “força do
pensamento”. Essa ideia é amplamente aceita nas diversas correntes
místico-ocultistas.
Aí, eu penso... Se é possível
trabalhar as coisas nos planos mental/astral, quanto mais poderoso deve ser
trabalhar usando a energia da dança e o poder do corpo. Esta é a ideia deste workshop!
Long Nu trabalhará a “arte do
cambio e da transformação” na dança; juntando opostos (sólido/líquido,
material/espiritual) através do trabalho técnico, expressivo e coreográfico.
A Diosa Escarlata
Saba Khandroma, também da
Argentina, trará um workshop voltado para a energia vermelha de Babalon.
Aí é que meu coração explode de
tamanha alegria!!! Fico excitada com a ideia só de imaginar... <3
To Babalon by Lupe Vasconcelos
“Lady of lust on the back of the Beast,
The lion, the serpent, the star of the east
Rising and shining new light on Zion;
I raise up the cup and adore Babalon!”
In Nomine Babalon – XI
Babalon, também conhecida como Mulher Escarlate, Prostituta Sagrada e Mãe
das Abominações, é uma das deusas centrais de Thelema. Representa o impulso
sexual feminino e a liberdade da mulher. Contudo pode também ser identificada
com a Mãe Terra, no sentido simbólico da fertilidade. Crowley acreditava que
Babalon possui um aspecto terreno na forma de um trabalho espiritual que pode
ser exercido por toda e qualquer mulher.
Babalon é a divindade menos compreendida no Sistema Thelêmico. Não existe
um capítulo para ela no Livro da Lei. Mas o Livro fala da Sacerdotisa como
sendo a Mulher Escarlate, a quem todo o poder é dado.
Na Bíblia encontramos uma referência à ela, a "grande prostituta,
assentada sobre muitas águas", "assentada sobre uma besta de cor
escarlate", "a mulher vestida de púrpura e escarlata, e adornada com
ouro, e pedras preciosas e pérolas" que "tinha na sua mão um cálice
cheio de abominações e da imundice da sua prostituição", e estava
"embriagada do sangue dos santos". E o seu nome era "Mistério, a
grande Babilônia".
Por ser considerada como a manifestação do próprio princípio feminino e,
por conseguinte, de todas as mulheres, Babalon não costuma ser representada em
imagens, o que a caracterizaria como uma mulher em particular. Normalmente, seu
selo, apresentado por Crowley em seu "O Livro das Mentiras"
é utilizado para representá-la visualmente:
Selo de Babalon
Quando, contudo, ela é representada pictograficamente, normalmente é como
uma mulher com os atributos da fertilidade, maternidade e sexualidade em evidência,
como seios fartos e quadris largos. Geralmente seus cabelos são ruivos,
denotando pelo simbolismo da cor vermelha a força de sua vontade e
individualidade. Nestes casos, seu rosto costuma estar virado de lado, como na
carta "Lust" do Tarô de Thoth, coberto por seus cabelos ou
envolto em sombras, de modo a não representar um indivíduo em si. Costuma
ser descrita como portando uma espada à cintura e montando a Besta, a qual
controla através de sua Vontade.
Lust – Thoth Tarot
Conforme Crowley escreveu em "O Livro de Thoth", na descrição
da carta "Lust", na qual ela
aparece:
“Ela monta a cavalo sobre a Besta; na sua mão
esquerda ela mantém as rédeas, representando a paixão que os une. Na sua
direita ela mantém no alto o cálice, o Santo Graal ardente de amor e
morte. Nesta taça são misturados os elementos do sacramento da Eternidade
(Aeon)".
Em “A Visão e a Voz”:
“Este é o Mistério de Babylon, a Mãe das
Abominações, e é este o mistério de seus adultérios, pois ela rendeu-se a tudo
o que vive e a tudo fez participante de seu mistério. E por ter-se feito serva
de todos, de tudo tornou-se senhora. Tu ainda não podes compreender sua
glória.”
Dançar o arquétipo da sexualidade sagrada é uma ideia excitante!
Estou muito ansiosa por este workshop e estou com muitas expectativas,
pois além de a Saba ser, com toda a certeza, uma das mais incríveis
representações da Deusa Escarlate dentro do universo da dança, sinto que temos
(ela e eu) energias muito próximas a serem compartilhadas!
Babalon by Yuri Seima
"Quando o teu pó estiver na terra que
Ela pisa,
então talvez tu possas levar a impressão de Seu pé.
E tu pensas em contemplar a Sua face!"
(A Visão e a Voz, Aleister Crowley).
Chaos Magick
Juntas, Long Nu e Saba Khandroma,
abordam dois assuntos muitos interessantes: a Magia do Caos e o Butoh.
Para quem ainda não está
familiarizado, o Butoh é um estilo de dança que surgiu
no Japão pós-guerra e ganhou o mundo na década de 1970. Criada
por Tatsumi Hijikata e Kazuo Ohno.
Também denominado “Dança das
Trevas”, o Butoh é uma forma primal de dança que se origina no agora e no muito antes, sem começo, meio ou fim,
onde a vida borbulha e instiga o autoconhecimento, extrapolando, assim, a força
dos gestos, movimentos ou plasticidade do palco.
“Entre ruídos, gemidos, sons e
gritos movem-se homens e mulheres - seus rostos estão distorcidos em esgares
alucinantes, os olhos revirados para dentro, as línguas penduradas, a saliva
escorrendo. A movimentação é lentíssima como se cada mover não fosse apenas
muscular, mas custasse cada órgão do corpo dos bailarinos. O primeiro impacto é
de terror. [...] Existe algo naqueles quase-monstros que os toca de forma
singular. Essa ‘deformidade’ explícita, que não é externa, é interna, liga o
"butoh" ao homem universal. O caos representado é o caos do século
XX, não importa oriente ou ocidente...”
(Solange Caldeira)
Magia do Caos ou Caoísmo é
uma forma de ritual e magia que se utiliza de quebras de paradigmas e
alterações do estado de consciência (de formas excitativas ou inibitórias). O termo “Magia do Caos” apareceu
pela primeira vez no "Liber Null" de Peter Carroll,
publicado em 1978.
Caosfera
Porém, o primeiro Magista do Caos
reconhecido pela maioria dos ocultistas é Austin Osman Spare, criador do uso
de sigilos, e técnicas envolvendo estados de êxtase para dar poder a estes
sigilos. Spare também foi pioneiro no desenvolvimento de um "alfabeto
sagrado pessoal", e, sendo um artista plástico talentoso, usou imagens como
parte de sua técnica de magia.
O caoísmo nasceu pouco após a
Geração Beat, que foi marcada por um grupo de autores influenciados pela
desilusão gerada pelo período pós Segunda Guerra Mundial. Foi uma época em que
o mundo estava fortemente caótico e os artistas desejavam expressar essa
aparente ausência de sentido na arte. Um dos nomes mais notáveis foi William S.
Burroughs (ele mesmo um membro da IOT) com seu livro “The Third Mind” e com sua
técnica de cut-ups, cortes de textos aleatórios, também utilizada por poetas
como Tristan Tzara e Arthur Rimbaud.
Na minha humilde opinião, a Magia
do Caos é uma forma de conhecimento que permite a criação da sua própria
linguagem mágica.
Como afirmou Hawkins:
“Tem havido um enorme crescimento no número de pessoas que tentam
imitar os métodos de Spare, e ainda assim eles perdem o ponto de sua mensagem
principal de que devemos cada um de nós desenvolver nossos próprios métodos de
magia, ou seremos meramente imitadores.”
“Tocar os limites mais profundos
da imaginação e trazer as forças criativas do caos primordial não formado para
seu trabalho mágico é a mais sincera de todas as magias.”
Quem conhece bem a colunista
aqui, sabe o quanto eu estou ansiosa por estes aprendizados!
Nunca imaginei ver o Chaos Magick
sendo difundido dentro da dança...
Estudar conceitos como
manipulação de energia, alteração de consciência, sigilos e a energia sexual da
Deusa Escarlate no corpo que dança é algo que me deixa profundamente excitada!
Estou ansiosa por agosto... Pelas
palestras e workshops, pelo Espetáculo Occvltum (que acontece no sábado à
noite) e, principalmente, pela confraternização!
Será um encontro de grandes
amigos da dança que dividem os mesmos gostos, as mesmas crenças e que trilham o
mesmo caminho dentro do ocultismo!
Quero conhecer todos vocês,
leitores, pessoalmente!
Será uma grande celebração!!! Vídeos:
Aerith (PR)
Bruna Gomes (RS)
Gabriela Miranda (RS)
Gilmara Cruz (PR)
Hölle Carogne (RS)
Long Nu (Argentina)
Saba Khandroma (Argentina)
Hölle Carogne estará no Espetáculo Occvltum no dia 20 de agosto e ministrará a palestra aberta ao público geral "V.I.T.R.I.O.L. " (INCLUI CERTIFICADO) no dia 21 de agosto.
O Butoh é a dança japonesa do pós-guerra que vem conquistando
cada vez mais espaço e reconhecimento em território nacional. Ela vem sendo
retratada pelo bailarino brasileiro que leva em seu próprio nome a marca desta
arte, João Butoh. Confira na entrevista abaixo um pouco sobre o artista e este
magnífico universo, cheio de intensidade e sentimento.
Hölle Carogne:
Conte-nos um pouco sobre a sua historia de vida, falando sobre a pessoa, o homem
e o bailarino João Butoh.
João Butoh:
Fui alfabetizado em casa pelos meus pais. Ingressei em escola pública aos 6
anos de idade - modelo dos Parques Infantis desenvolvidos por Mário de Andrade
que tinha por finalidade: assistir, educar e recrear as crianças, em São Simão
interior de São Paulo, onde tive contato com as artes em geral e comecei a dançar e fazer teatro. Aprendi
marcenaria com meu pai e a costurar com a minha mãe. Aos 18 anos freqüentei a
escola Dança Clarisse Abujamra, onde recebi bolsa de estudos e a oportunidade
de aprender várias técnicas de dança com profissionais do mais alto gabarito. Participei
de uma infinidade de festivais de dança nacionais e internacionais, os quais me
possibilitaram exercitar o meu lado de criação e execução de meus trabalhos.
Foi daí que perdi o meu sobrenome e passei a ser conhecido como o garoto que
dançava butoh – Joao Butoh. Sou formado em jornalismo, história e educação
física. Fundei a Ogawa Butoh Center em 1983 e desde então venho me dedicando a
pesquisa estética e corporal do butoh.
Hölle
Carogne: Provavelmente, muitos dos nossos leitores não conhecem o Butoh. Pode
nos dar uma breve explicação sobre este estilo de dança?
João Butoh:
O Butoh surgiu no Japão nos anos 60, criado por TATSUMI HIJIKATA e
posteriormente KAZUO OHNO, como um movimento cultural para impedir a invasão da
cultura ocidental no pós-guerra. Os interpretes buscam no inconsciente comum a
todo homem, oriental ou não, a beleza e a decrepitude a simplicidade e a
complexidade, o cômico e o trágico. Essas dualidades como o masculino e o
feminino, a vida e a morte, são características desta arte, que retomou antes
de tudo a idéia quase esquecida de que o intérprete não “joga” para consigo
mesmo, mas para reviver algo muito maior.
Hölle
Carogne: Como foi seu primeiro contato com a dança e quando decidiu dedicar-se
a essa arte?
João Butoh:
Foi quando recebemos no Brasil uma exposição do acervo de peças do Museu da Paz
de Hiroshima, realizei uma criação para a abertura e encerramento e uma das
técnicas do museu ao final da apresentação me procurou perguntando onde eu
aprendera o butoh. Desde então teci uma teia para conseguir informações que
pudessem ajudar a entender ao que me haviam sido instigado. E foi por meio de
informações enviadas de parentes no Japão e posteriormente pela minha própria
mãe que passou a residir naquele país, que pouco a pouco desenvolvi pesquisa e
estruturei minha linguagem corporal baseada nesta dança.
Hölle
Carogne: Quais são suas inspirações neste meio?
João Butoh:
Kazuo Ohno.
Hölle
Carogne: Você vê no Butoh uma filosofia de vida? Comente.
João Butoh:
O conceito de filosofia para mim está relacionado com a busca incessante pela
sabedoria. Assim, uma filosofia de vida também inclui a busca pelo
autoconhecimento e por normas que atribuam estabilidade para um determinado
indivíduo. Eu incessantemente busco aprender e conhecer não só aspectos que
possam contribuir com o meu crescimento artístico como também pessoal. Todas as
funções que exercito vêm de encontro a uma necessidade pessoal de um discurso
cada vez mais completo e transparente por meio da minha arte. Esse diálogo que
tecemos com a sociedade por meio de nossa arte é o que me direciona e canaliza
a minha energia para este equilíbrio pessoal.
Hölle
Carogne: Como é o cenário do Butoh no Brasil?
João Butoh:
Frutífero! Com uma abertura de infinitas possibilidades para se experimentar.
Em cada parte e região de nosso país, poderão surgir novas releituras desta
dança, oriundas de verdades díspares e muita criatividade que é a marca de
nosso povo.
Hölle
Carogne: Existem algumas expressões que, de acordo com a internet, estão
associadas ao Butoh, como por exemplo, “corpo morto” e “olho de peixe”. É correto
associar estas expressões à dança? E o que elas significam?
João Butoh:
Podemos dizer que estejam associadas a algum momento histórico desta dança, mas
não mais dela como um todo. Ela pode ter sido verdade para o desenvolvimento de
algum padrão corporal, criativo ou mesmo didático, mas não pode ser encarada
como uma verdade coletiva, pois a mesma não reverbera em inúmeros intérpretes
espalhados por várias partes do mundo, seja no caráter didático ou mesmo
performático. Cada qual de nós recebe estímulos de maneiras diferentes, e o que
pode ser verdade no interior de um intérprete dificilmente será encontrado
dentro de outro, e o que se diz sobre o entendimento desta dança, a mesma coisa.
Corpo morto sugere um corpo vazio, mas o intérprete tem dentro de si histórias
que são impossíveis de serem arrancadas. Sugere também que não seguimos
coreografias predeterminadas, mas mesmo os fundadores do butoh dotavam deste
recurso. Olho de peixe nos sugere um olhar fixo, vidrado. Alheio ao que
acontece a sua volta. Em algum momento pode ser útil, mas em outro
completamente indispensável. Todas as ferramentas que nos são sugeridas devem
ser experimentadas e igualmente aprendidas. O intérprete deve saber qual o
momento certo para usá-las. Sabedoria e conhecimento. Ferramentas são
ferramentas. Expressões ilustrativas. O esclarecimento ao que se referem estas
e tantas outras expressões e ferramentas, são necessárias para que se consiga o
resultado almejado, seja ele no processo de aprendizado ou mesmo de performance.
Hölle
Carogne: Além da técnica visível, há uma característica semelhante entre os
bailarinos de Butoh: a expressividade. Como espectadora, tenho a impressão de
que todos os músculos do corpo querem dizer alguma coisa. Estou correta?
Comente sobre a importância da expressão nesta dança.
João Butoh:
É um pouco o que falamos na pergunta anterior, mas também está ligado ao
entendimento do que se espera de um intérprete de butoh. Não podemos
desassociar que o butoh é uma arte performática e a mesma também caminha em
terrenos conhecidos do universo da encenação. Não existe arte sem público e
pensando nisso, nos imbuímos da maior quantidade de informação para que o que
estamos criando se transforme em uma obra de arte. Todos os elementos que
trazemos ao tema proposto, deve estar totalmente inserido no tema e na
performance. Se o butoh é uma dança, e dança a fazemos com o corpo, o mínimo
que se espera de um intérprete é que o mesmo tenha um trabalho corporal
significativo. Que tenha conhecimento do próprio corpo. Conhecimento corporal
advêm de estudo, de práticas de aulas de técnica de dança freqüentes e de
ensaios. Quanto mais os realizar, mais seu discurso corporal se enriquecerá.
Hölle
Carogne: É comum que as pessoas, ou amem ou odeiem o Butoh, muito provavelmente
pelo “peso” característico que há por trás dele. Essa sensação de “agonia” que
as pessoas sentem ao ver um trabalho de Butoh é intencional?
João Butoh:
Posso te dizer que um trabalho bem feito dentro desta proposta dificilmente vai
entediar alguém. Acho um desrespeito sem tamanho levar “work in progress” ao
palco. Trabalho ainda não concluído no máximo se recebe profissionais para contribuir
ao processo em espaço fechado, e os mesmos sabendo que estão sendo chamados
para isso. Não existe desculpa mais amadora para um trabalho ruim, quando o
interprete se escora na justificativa de estar fazendo uma “performance de
butoh”. Isso diferencia quem realmente é um artista. Outro erro evidente é se
ancorar em metáforas. O Corpo nunca mente. E o público sabe disso!
Hölle
Carogne: O Butoh está associado a algum tipo de crença ou forma de
espiritualidade? Por que é comum que os espectadores associem a dança a algo
obscuro? Existe alguma explicação para este fenômeno?
João Butoh:
Todo artista está ligado de alguma maneira a uma crença ou mesmo alguma forma
de espiritualidade. Buscamos atingir o divino o tempo todo. Buscamos o sublime,
o perfeito. O Butoh assim como qualquer outra arte deve estar isenta de padrões
religiosos. Cada artista a meu ver deve buscar a sua maneira de se conectar com
o ser supremo que o ampara e o ilumina. O Butoh inicialmente era chamado de
Angoku Butoh – Dança das Trevas, e é por isso que alguns intérpretes ainda
trafegam por esta estética de horror. Pois assim ele foi introduzido para a
sociedade japonesa em 1959 com a primeira performance a qual se estabeleceu
como data do surgimento do butoh “Revolt of the Body”.
Hölle
Carogne: De que maneira sua arte expressa seus sentimentos mais profundos?
João Butoh:
Trabalho com verdade o tempo todo. Nenhum tema que trago proposto em minhas
obras saiu de pelo menos muitos anos de estudo. Um artista não acontece pela
metade, deve estar sempre completo em cena. Você é o que você construiu. Embora
estamos nos construindo e reconstruindo o tempo todo, isso não pode ser
desculpa para desmazelo ou mesmo preguiça. Todo artista precisa de conteúdo.
Toda obra e criação necessita igual. O superficial me entedia!
Hölle
Carogne: Suas ideologias e crenças influenciam em suas criações artísticas? De
que forma?
João Butoh:
Citando Marx e o ilustrando por meio da música de Cazuza, não! Não tento
mascarar a realidade por meio de minhas criações. Eu sigo o papel que todo
artista deveria imprimir na sociedade atual. Não como forma de alienação, mas
como opção de sugestionar um mundo melhor, uma sociedade mais justa. Temos a
oportunidade de vivenciar muitos personagens, viver muitas vidas, sugerir
infinitos universos. Qual significado teria um artista que perdeu o trem da
história? Não dou as costas à realidade. A enfrento de frente e de peito
aberto!
Hölle
Carogne: Como você se sente quando está dançando? O que passa em sua cabeça e
em seu corpo no momento da dança?
João Butoh:
Muito subjetiva esta pergunta. O Sentir deriva de sentimentos, e eu sou só
sentimentos. Não acredito que a arte esteja isenta de sentimentos. Eu me
preparo para estar completo em cena. Tenho uma paixão por histórias. Paixão por
histórias emocionantes, aquelas que tocam fundo na alma. Está é uma
característica da minha arte. Conto histórias por meio do butoh. É o que me
seduz na arte, proporcionar uma viagem emocionante durante alguns minutos, e no
final desta jornada, deliciar que o meu público está totalmente entregue a esta
doação. A arte como instrumento para emocionar as pessoas. Daí, é um passo para
a transformação do indivíduo. Sim, só a arte transforma!
Hölle
Carogne: Sou bailarina de Dança Tribal, que é uma dança de fusões. Acharia
interessante uma fusão com Butoh? Por quê?
João Butoh:
Isso só quem pode responder é você! Se algo te ressalta aos olhos e anseios e
te instiga a buscar algo mais para a sua vida e a sua arte, você deve optar por
seguir ou não este instinto. Desde que você sugeriu-me esta pergunta é porque
você viu alguma luz adentrando por esta janela da divina possibilidade.
Hölle
Carogne:Gostaria de agradecer pelo seu tempo e pela excelente
entrevista. Foi uma honra para nós da Equipe Vero conhecer um pouco mais sobre
você e sobre essa arte tão encantadora que é o Butoh. O espaço a seguir é seu,
para que deixe suas considerações finais e seus contatos para que as pessoas
que queiram conhecer um pouco mais sobre você e seu trabalho com Butoh, possam
encontrá-lo.
João Butoh:
É imprescindível para todo e qualquer artista responder no seu íntimo o fator e
a necessidade que o fez mergulhar neste universo da arte. A vida é extremamente
efêmera e quanto mais se dedicar a sua arte, mas seu estado criativo amadurece.
Perguntas como: O que você quer com a sua arte? Qual contribuição você quer
deixar para o universo? Já são pontos de partida para nortear a
responsabilidade de se ser artista, e o investimento que fazemos sobre nós
mesmos, tem que valer a pena! Não existe dor mais profunda do que a negação de
um ser humano em buscar acesso a informação. E hoje em dia ela está bem diante
de nossos olhos e ao alcance de nossas mãos.
Deixo aqui
então os nossos contatos para quem se interessar em saber mais sobre o trabalho
que realizamos.