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[Retalhos de uma História] Nadia Gamal

por Ju Najlah


Há algumas versões diferentes sobre a origem de Nadia Gamal. Alguns dizem que ela é libanesa, mas morou no Egito. E outros dizem que ela é egípcia, mas logo mudou-se para o Líbano.

Segundo pesquisas de Lívia Jacob, do site Arabesc, Nádia Gamal nasceu no Egito, mais precisamente em Alexandria, na década de 1930. Filha de mãe italiana e pai grego, seu nome de batismo era Maria Carydias. Ela cresceu no meio artístico, pois sua mãe era bailarina e atriz, e apresentava um número no Casino Opera no Cairo, que pertencia à Badia Massabni. Quando pequena, Nadia já se apresentava com a mãe, como atriz, no Casino Chatby em Alexandria, quando era conhecida como Carry Days, e mais tarde como dançarina, fazendo números de danças europeias no Casino Opera. Além disso, como na época era proibido o trabalho de menores de 13 anos no Egito, suas participações em festas e casamentos eram consideradas informais.

Foi no Casino Opera, de Badia Massabni, que sua carreira como bailarina oriental realmente começou. Seu estilo era único, pois era treinada em balé, dança moderna, piano, jazz e sapateado. Diz uma lenda que sua primeira apresentação na dança oriental (seu pai a proibia de dançar em público por conta da sua idade) foi aos 14 anos, quando uma das bailarinas do casino da Badia ficou doente e não pôde se apresentar, sendo substituída por Nadia.

Mas Nadia também era muito estudiosa, falava 7 línguas diferentes e gostava de pesquisar a origem da dança do ventre. Sua grande missão era lutar contra a vulgarização dessa arte. Ela costumava enfatizar: "A Dança Oriental é uma arte, essa dança é a mais antiga da nossa civilização. Eu viajo pelo mundo para mostrar que é uma dança refinada, artística, tradicional e cheia de beleza."

Viveu no Líbano por muitos anos e adotou o país dos cedros como sua pátria, a pátria que ela escolheu e que a coroou como a "primeira dama da dança do ventre". Pode ser vista como grande expoente do estilo libanês de Dança Oriental.

Fez sucesso principalmente nas décadas de 50 e 60 e foi a responsável pelo surgimento da primeira escola de Dança do Ventre em Beirute, Líbano.


Como bailarina, ela se orgulhava de ser a única a ser convidada a se apresentar no famoso festival libanês Baalback, na década de 1960, onde, apesar do preconceito contra a dança do ventre, ela foi aclamada por 4 mil espectadores e sua apresentação é considerada memorável até hoje. Seu reconhecimento como bailarina excepcional também veio quando ela se tornou a bailarina do palácio do Shah do Irã e também do Rei da Jordânia.

Ela participou de inúmeros filmes e shows, tanto como bailarina quanto como atriz, mas não existe um catálogo oficial deles, apesar de ser possível achar muitos no Youtube. Uma das coisas interessantes desses vídeos é que eles englobam quase toda a carreira da Nadia, então é possível observarmos a sua evolução como bailarina, desde novinha até quase a sua morte em 1990.

Em 1965, Nadia já começou a fazer sucesso fora do mundo árabe (ela viajaria o mundo inteiro como uma espécie de embaixadora da dança oriental). Se apresentou em inúmeros países, incluindo diversos lugares da Europa, Estados Unidos e Canadá. Ainda nesse ano, Nadia participou de produções libanesas, como o filme "Al Seba wa Al Jamal", no qual sua dança aparece numa cena bastante familiar.

Era uma bailarina muito expressiva, de grande dramaticidade e incrível interpretação musical, chegando a ser chamada de "Isadora Duncan da dança oriental". Diferente de outras bailarinas de sua época, chegou a apresentar coreografias modernas, de outros estilos de dança, com leves toques orientais.


Também era comum a Nadia utilizar elementos em cena para a construção de sua dança, além de interagir e brincar com outros atores. Uma marca dessa bailarina era o seu poderoso trabalho de quadril, com movimentos amplos, além de um trabalho de mão diferente do que normalmente é visto. Teve uma longa parceria com o derbakista Setrak. Dançou e ministrou aulas nos Estados Unidos, Canadá e Europa.

Randall Grass escreveu sobre Nadia: “(...) uma grande bailarina é uma musicista cujo instrumento é o seu próprio corpo. Nadia Gamal realmente era um "great spirit" (grande espírito), tanto quanto um grande músico, uma artista que inspirava admiração naqueles que a assistiam. Contudo, ela é pouco conhecida fora do Oriente Médio e dos círculos de Dança Oriental, uma injustiça que eu senti que precisava ser corrigida."

Nadia foi casada 3 vezes, mas nunca teve filhos. Veio a falecer em 1990 de câncer de mama com muito sofrimento.

Fontes: 




[Retalhos de uma História] Nagwa Fouad

por Ju Najlah


Nascida em 1942, foi a bailarina mais famosa na 2ª metade deste século. Seu começo artístico foi como secretária em uma empresa de organizações de festas e daí passou para o teatro e dança. Afastada de sua casa em Alexandria, sonhava em dançar no Cairo. Participou de muitos filmes com um êxito sem precedentes. Sua fama ultrapassou o mundo árabe e passou a representar o Egito em muitos festivais turísticos.

Sua primeira aparição no cinema foi uma pequena participação em “Shari Al-Hob” (Rua do Amor), estrelando Abdel-Halim Hafez. Um papel importante foi em “Malak wa Shaytan” (Anjo e Diabo). “Eu fiz treinos para melhorar a voz para esse filme e aprendi sobre como atuar melhor.” Desde então Fouad atuou em mais de 100 filmes e dançou em mais de 250. Nagwa montou um grupo com 12 dançarinos e 35 músicos e cantores, um coreógrafo e um estilista. “Isso foi uma espécie de teatro móvel em pequena escala. Nós visitamos todo o país levando nossas performances.” Seu grupo de dança reconheceu diversos elementos de origem folclórica tanto egípcios quanto de outros países árabes.

Fouad sempre testava os limites da sua arte, procurando produzir e apresentar grandes espetáculos. Foi a pioneira em incorporar elementos originais e sofisticados, dando a Dança Oriental um teor muito mais adaptável ao mundo Ocidental. Desta forma, viajou inúmeras vezes para a Europa, América do Norte e Ásia, onde participou dos grandes festivais. Nos Estados Unidos realizou várias apresentações dedicadas especialmente aos habitantes de origem árabe e fundou uma escola de dança oriental em Nova Iorque. Uma de suas mais bem lembradas performances se chamava "Thunder". As palavras que ela utilizava para descrever seus shows eram “renovação, desenvolvimento, glória e distinção”.

Nagwa Fouad lutou para que a Dança do Ventre fosse ressignificada como uma dança digna de respeito. No mundo, muitos enfatizaram a má reputação da profissão de dançarina, mas Nagwa insistiu na importância da dança. “Você pode sentir o perfume do Oriente e experienciar uma das 1001 noites.”

Em 1976, o compositor Mohammad Abdel Wahab escreveu uma música especialmente para ela, de nome "Arba'tashar". Nesta dança, Nagwa diz ter podido combinar a dramaticidade de Tahía Carioca e as acrobacias de Naima Akef. Este foi seu primeiro grande sucesso responsável por seu reconhecimento. Após ele, foi obrigada a criar novas coreografias a cada três meses. Nagwa com seus movimentos de braços e sinuosidades do quadril reserva sempre um momento do show especial para a Camanja (violino).

Foi também cantora e artista de cinema e teatro; e em 1922 quis interromper definitivamente sua carreira de dança, para consagrar-se no cinema, mas não conseguiu devido a inúmeros pedidos, alegando ser insubstituível. Cativou numerosos políticos, entre eles o estadista Richard Nixon, o egípcio Anwar el Sadat e também o presidente Carter e Henry Kissinger.

Hoje em dia ela não vê razões para se aposentar. “Arte não tem ligação com idade ou nacionalidade… ela tem ligação com criação e presença e se o artista pode dar e aproveitar o momento, ele deve continuar fazendo a sua arte.”
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Fouad é a única dançarina de sua geração que continua dançando e dando workhsops mesmo na Europa.





Fontes:
Nagwa Fouad, disponível em http://www.belly-dance.org/nagua-fouad.html




[Retalhos de uma História] Souheir Zaki

por Ju Najlah



"Ouça a música com o coração e traduza seus sentimentos com o corpo.”


Souheir Zaki nasceu em Mansoura, onde viveu com sua família até os nove anos de idade, depois mudaram-se para a cidade mediterrânea de Alexandria. Souheir apaixonou-se pela música e pela dança desde bem cedo. Com 11 anos já chamava a atenção dançando nas festas de aniversário e casamentos de amigos e familiares.

Uma das mais famosas dançarinas dos anos 60 e 70, Souheir Zaki começou a aparecer em gravações dançando algumas músicas de baixa qualidade. Contrária a qualidade das músicas gravadas, sua meticulosa forma de ouvi-las e expressa-las tornou-se famosa e ela ganhou o respeito de todos os membros da orquestra que a acompanhava.

Em determinada ocasião Anwar Sadat, presidente do Egito, a nomeou “a Om Kolthoum da dança”, e disse a ela “assim como ela canta com a própria voz, você canta com seu corpo.” Nos anos 60 Souheir recebeu o reconhecimento com honrarias e medalhas do xá do Irã, do presidente da Tunísia e de Gamal Abdel Nasser. Assim como Tahia Carioca e Samia Gamal – suas maiores fontes de inspiração – ela se tornou uma bailarina legendária em seu próprio meio. Quando criança, diz Souheir, “eu costumava ir direto da escola para o cinema, para assistir Tahia Carioca e Sâmia Gamal na grande tela. Eu até mesmo cortei meu cabelo e arrumei para ficar parecida com Fairuz", ela diz, referindo-se a uma estrela mirim do cinema egípcio. 



O desejo de Souheir Zaki para dançar em público superou a desaprovação do seu pai. No entanto parece que era parte do seu destino; seu pai morreu quando ela ainda era muito jovem e sua mãe se casou novamente. Foi seu padrasto quem realmente lançou e gerenciou sua carreira, arranjando sua orquestra e tornando-se, mais tarde, seu empresário.

Souheir começou dançando nos nightclubs gregos de Alexandria. Depois mudou-se para o Cairo, onde se manteve, circulando entre casamentos e apresentações em nightclubs, que começavam a noite e se estendiam pela madrugada.

"Minha maior rival era a Nagwa Fouad. Nós tivemos uma competição feroz. Se as duas estivessem contratadas para uma mesma festa numa noite, nós corríamos para mandar nossas orquestras e roupas na frente, vendo quem chegava antes ao local". Enquanto Nagwa Fouad, adorava flashes e grandes montagens para sua performance, num estilo bem ocidental, Souheir era exatamente o oposto. Raqia Hassan, reconhecida mundialmente como uma grande coreógrafa e mestra da dança, se manifesta a respeito de Souheir: "Souheir Zaki resume a dança natural. Seu apelo está em sua simplicidade: ela traduziu a música de forma precisa e natural, sem excessos ou exibicionismo. Seus passos têm resistido aos anos, e são ensinados até hoje. Ela sempre foi autêntica apresentando-se e fingir nunca fez parte do seu estilo. Do mesmo jeito que a vê hoje, ao vivo, calma, tranquila para conversar e educada, ela sempre foi assim em cena".

A imagem clichê da dançarina oriental, quente e sedutora, muda um pouco de figura com ela. Isso talvez porque ela emergiu deste mundo controverso da dança com sua reputação mais ou menos intacta. Ela se orgulha em dizer que dançou nos casamentos de cada uma das filhas de ambos Anwar el Sadat e Gamal Abdel Nasser: que ela era constantemente escolhida para entreter as autoridades em visita ao país, desde o ministro de defesa da Rússia até o presidente Nixon e Henry Kissinger, e que, quando ela se tornou a primeira bailarina que ousou interpretar as reverenciadas canções de Oum Khalthoum num placo de nightclub, ela teve uma benção para o fato.



No final dos anos 80 o cenário da dança começou a mudar, e Zaki, vendo as coisas como iam se desenrolando, começou a pensar em se retirar elegantemente. Naquele tempo profundas mudanças tomavam forma dentro da visão que a sociedade tinha sobre a dança.

Em 2001, Raqia Hassan, quando a convidou para dançar e dar aulas depois de anos no Festival de Dança Oriental no Cairo, pessoalmente ficou impressionada pelo impacto que a presença de Souheir Zaki causou nas reservas das aulas. "Até que os formulários chegassem em grande número, eu não tinha idéia do quanto Souhair Zaki era amada por pessoas de diversos lugares do mundo. Quase todas as alunas inscritas para o festival se inscreveram para a aula a ser dada por ela".

Nada retira sua aura de glamour. Souheir Zaki traduz o verdadeiro espírito da dança oriental egípcia, sintetiza a natural dança baladi. É uma bailarina doce e elegante. Apresenta perfeito equilíbrio entre técnica e expressão. Sua musicalidade e precisão impressionam, traduzindo a música com perfeição.

"Aqueles dias nunca mais voltarão atrás. A atmosfera, os clientes, os convidados. Onde estão eles agora? A dança Oriental foi minha vida. Eu tenho meu filho e meu marido. Mas as melhores memórias de minha vida são todas da dança". Souheir Zaki.


Fontes:

Soheir Zaki, disponível em http://www.belly-dance.org/sohair-zaki.html


Soheir Zaki, one of the egypts' dance icons of the 1980's, disponível em http://www.belly-dance.org/soheir-zaki.html

MAHAILA, Brysa. Souhar Zaki. Revista Shimmie, ano 2, nº 10, página 18.


[Retalhos de uma História] Mona El Said

por Ju Najlah


Mona El Said é um estrela da era de ouro para o presente.

Mona Ibrahim Wafa nasceu em 1954. Começou a dançar profissionalmente aos 13 anos. Sua paixão pela dança fez com que fugisse do Egito para o Líbano, em 1970, para escapar da raiva de seu conservador pai beduíno. Ela tornou-se uma famosa dançarina do ventre e a bailarina principal de algumas das mais elegantes casas noturnas em Beirute, incluindo o night club de Farid el Atresh. Ao retornar ao Cairo, em 1975, ela já era uma grande estrela, tendo dançado em muitos dos melhores hotéis e casas noturnas, como o Cairo Meridian e Sheraton El Jazierra

Mona não foi influenciada por ninguém, não se apropriou do estilo de outras dançarinas. Seu estilo é único! Mona El Said pensa que é mais importante dançar com sentimento do que contando os passos. Ela se concentra no sentimento e emoção, com movimentos inovadores, cria magia no palco com sua energia. Tahiya Carioca a apelidou de a "Princesa do Raks Sharki", as revistas e os jornais egípcios a apelidaram de "Sa'mraa El Nile", que significa "O Bronze do Nilo".  As performances de Mona El Said são sempre acompanhadas por uma grande orquestra, como acontece com todas as grandes dançarinas egípcias. Mona El Said contratou os mais sofisticados músicos de seu tempo: Reda Darwish - que também tocou para o grupo de Nelly Fouad – na percussão, Samir Srour no saxofone, Dr. Saad Mohammed Hassan tocava violino, Omara Farahat por vezes era maestro e por vezes tocava violino, e o tecladista era Mohsen Adley. Ela acredita que deve haver uma compreensão mútua entre bailarina e músicos.

Mona El Said não costuma acelerar seus passos a não ser que a música peça isso. Suas coreografias são
precisas, cheias de emoção. Ela dança em perfeita harmonia com a música. Usa movimentos limpos, encarnando um sentido de ordem e método, em contraste direto com o tumulto que a rodeava. Mona é um bom exemplo de uma dançarina egípcia que está confortável com ela mesma como bailarina e que irradia alegria e paixão durante uma performance.

Mona dança principalmente entre Londres e Cairo. Seu estilo distinto fez dela uma das grandes estrelas da dança do ventre do século XX. Seu estilo único, graça e elegância inspira bailarinos em todo o mundo e impactam o mundo da dança do ventre de uma maneira enorme. Mona El Said estrelou um certo número de filmes egípcios, sendo sete deles como  estrela principal. Ela ganhou a admiração de seu público no Egito e no exterior. Muitos egípcios a consideram uma das lendas da dança oriental. Quando as pessoas pensam em glamour, elegância e moda das famosas dançarinas do ventre, Mona El Said é um dos primeiros nomes a vir à mente. Mona percorreu o mundo ministrando workshops. Ela deu muitas aulas nos EUA e Reino Unido, bem como em outros países e treinou muitas outras estrelas de dança.






Pesquisa feita nos seguintes sites:
http://www.belly-dance.org/mona-said.html, acessado em 22 de junho de 2013
http://www.bellydancefestival.net/teachers/eng/50/, acessado em 22 de junho de 2013



[Retalhos de uma História] Lucy

por Ju Najlah


“Da mesma época de Fifi Abdo e até considerada sua rival, foi uma dançarina extraordinária e reconhecida por seus movimentos rigorosos, bonitos e controlados e uma simpatia sem igual. 

Quando pequena, praticava ballet clássico, mas diz que se recorda pouco dessa fase. Inspirada em Tahia Carioca e Sämia Gamal, começou a atuar como atriz, mas em suas atuações Lucy misturava passos de dança e muitos perguntavam se era uma atriz ou uma dançarina. Ela respondia que esta era uma pergunta errada, e dizia que havia algo dentro dela, que não podia ser separado. "A arte é uma totalidade, e não pode ser dividida. O artista, o ator principalmente, deve ser competente em cantar, não o tarab, que é completamente diferente, mas em cantar em ritmo, em movimento... e em dançar, se isto requerer dele", dizia Lucy. "Dançar é minha prioridade. É o que eu nasci fazendo, e logo a dança mais refinada, que é o ballet. Dançar tem que vir primeiramente, depois atuar e então cantar. Eu amo todos os três, me amo em todos os três e, graças a Deus, me realizo em todos o três".

Lucy foi considerada uma alma nova em Alexandria. "A Dançarina de Dança do Ventre e Atriz de Cinema". Foi reconhecida por vários papeis importantes no cinema e deu aulas de dança nos Estados Unidos. Lucy, hoje, dona do Cabaret Parisiana, continua com a mesma simpatia e sorriso encantando seu público eternamente.


Fontes:
* Shokry Mohamed - La Danza Mágica Del Vientre
* Merit Aton - Dança do Ventre, Dança do Coração

Extraído do site de Aysha Almeé”
http://khandara.multiply.com/journal/item/8/8?&show_interstitial=1&u=%2Fjournal%2Fitem, acessado em 28 de agosto de 2012



[Retalhos de uma História] Fifi Abdou

por Juh Najlah



Fifi Abdou talvez tenha sido a bailarina de Dança Oriental mais polêmica. É admirada por milhões e, igualmente, odiada e considerada vulgar por outros milhões de pessoas. Tornou-se um ícone da Dança Oriental.


Nascida em 1953 com o nome de Atiyat Abdul Fattah Ibrahim, em uma família pobre, quando menina ficava em casa assistindo filmes das bailarinas Tahia Carioca e Naima Akef, entre outras, imitando seus passos.

Determinada a se tornar bailarina, fugiu de casa aos 12 anos, com uma amiga que era artista de uma companhia de dança. Mais tarde tornou-se empregada doméstica de um músico que acabou descobrindo o seu talento e a iniciou na carreira profissional.



Sua personalidade forte, tanto no palco como nos bastidores, fizeram dela uma celebridade no Egito, a ponto de ser chamada por muitos como a quarta pirâmide do Egito. A ousadia é sua marca registrada. 

Seu nome esteve envolvido em muitos escândalos. Seus controversos shows em locais cinco estrelas a fizeram  famosa, Além disso foi envolvida em muitas polêmicas, a fim de aumentar a atenção e comoção, o que deu certo. Fifi Abdou marca presença tanto nos tribunais como nos salões de baile. Como resultado, ela nunca sai sem seus guarda-costas para protegê-la contra os excessos de admiradores ou adversários. Apesar de a rede de televisão egípcia ter proibido a exibição de todos os dramas estrelados por Fifi, sua popularidade permanece inalterada.


Além de bailarina e atriz, tornou-se também uma mulher de negócios. Seu faturamento é alto, tendo sido considerada uma das mulheres mais ricas do Cairo, tendo, entre seus bens, mais de cinco mil roupas de dança do ventre. Apesar disso, nunca se esqueceu de sua origem humilde. Fifi faz doações para aproximadamente 30 famílias carentes, mas os islâmicos dizem que seu dinheiro é sujo e ilegal, que não deve servir de alimento para ninguém. Ela contesta, dizendo que seu dinheiro é bonito, porque ela o ganha graças a seu árduo trabalho. Que no meio do inverno, ela dança descalça, sobre um chão frio, enquanto mulheres de alta sociedade, vestidas em pele, assistem-na na platéia. Sua personalidade é rebelde.

Muitas mulheres a veem como uma heroína pela sua audácia em uma país onde ser mulher acarreta a vivência de muitas dificuldades, principalmente se essa mulher for também artista.

Mesmo em suas últimas produções, ela ainda encontra inspiração para acrescentar algo mais à sua performance de dança, sempre com muita criatividade.



Entre suas características marcantes está seu estilo solto e improvisado, além de causar inveja a qualquer dançarina com seu estonteante shimmy (tremor dos quadris). Em sua orquestra, o alaúde toma frente, para atuar em combinação com seus shimmies.  Ela afirma que não teve professora que a ensinasse os passos, todos surgiram de dentro dela. O seu forte é a interpretação da música, muito mais do que a utilização de sequências elaboradas. Tem controle admirável sobre seu corpo e uma presença de palco e sorriso cativantes.



Bibligrafia:



[Retalhos de uma História] Farida Fahmy

por Ju Najlah


Nasceu em 1940 no Cairo. Seu pai, Hassan Fahmy, professor de engenharia industrial na Universidade do Cairo, era um homem excepcionalmente tolerante, que juntamente com sua esposa, estimulava as tendências artísticas e atividades esportivas de suas filhas. Resistiu às críticas dos anciãos da família e dos círculos acadêmicos quando permitiu que Farida se tonasse bailarina profissional. Assim, ele desempenhou um papel importante na legitimação da situação de dança profissional em um momento em que era considerada uma profissão de má reputação. O incentivo moral da dança de sua filha legitimou sua carreira de bailarina aos olhos dos egípcios e continua sendo, até hoje, um feito extraordinário. Sem dúvida, a sua personalidade carismática, sua posição social, bem como seus pontos de vista tolerantes exerceram uma profunda influência sobre a percepção do público deste esforço.

É um ícone da dança e cinema egípcios. Foi cofundadora e bailarina principal do Grupo Reda por 25 anos. Uma das responsáveis por elevar a dança teatral egípcia a altos padrões de arte. Com  seu estilo único, graça e elegância inspirou gerações de bailarinos e ganhou a admiração de seu público, no Egito e no exterior. Sua dedicação, trabalho duro, disciplina e compromisso com o grupo criou um modelo que foi imitado por gerações de dançarinos.



Juntamente com seu cunhado Mahmoud Reda e o Grupo Reda, ela realizou muitas viagens, atuando em mais de 60 países e participou de festivais internacionais de dança, nos quais a trupe ganhou vários prêmios. Ela dançou para os chefes de estados em diversos espetáculos culturais no Egito e no exterior. O Grupo Reda representou a arte, cultura e a dança teatral egípcios - o primeiro de seu gênero a expressar a dança teatral egípcia a nível mundial e para muitas audiências internacionais.

Em 1967, Farida foi condecorada pelo presidente Gamal Abdel Nasser com a Ordem das Artes e Ciências pelos serviços prestados ao estado, em 1956, pelo rei Hussein, da Jordânia com a Estrela da Jordânia, e em 1973 pelo presidente Bourguiba da Tunísia. Ela estrelou uma série de filmes egípcios, assim como em dois grandes musicais, dirigidos por seu falecido marido Ali Reda, estrelado por Mahmoud Reda e o Grupo Reda.



Farida continuou a perseguir a sua educação enquanto trabalhava no Grupo Reda. Ela recebeu seu Bacharel em Artes em Inglês e Literatura na Universidade do Cairo, em 1967, e seu título de Mestre em Artes em Etnologia de Dança pela Universidade da Califórnia, em Los Angeles. Seu status social e sua carreira artística, juntamente com suas realizações acadêmicas, reforçou ainda mais a visão positiva em relação à dança feminina na época.



Farida Fahmy começou a dar aulas e workshops a partir de 2000, viajando extensivamente pela Europa, Estados Unidos e América do Sul. Seu objetivo principal é ensinar os estudantes a essência desse gênero de dança, e ter um conhecimento mais profundo das diferentes qualidades de movimento. Ela enfatiza a necessidade de aumentar a consciência cinestésica para que o bailarino possa desenvolver a própria dança a partir de suas experiências físicas e emocionais.

Para estudar, observe a fluidez de sua dança, com deslocamentos que proporcionam emendas perfeitas dos passos. Possui técnica impecável e muita graciosidade, o que faz de seu estilo único.





[Retalhos de uma História] Naima Akef

por Ju Najlah

Algumas informações disponíveis a respeito da vida de Naima Akef são muito controversas. Em função disso não farei considerações a respeito das datas de nascimento e falecimento e possíveis idades. Abordarei aqui somente temas comuns e de valia para o estudo da dança.

Nasceu em Tanta, no Egito. Sua família era circense e possuía o Circo Akef. Eles viajavam muito fazendo turnês especialmente na Rússia. Por conta disso Naima começou sua carreira muito cedo. Se envolvia em todos os tipos de profissões, jogos acrobáticos e arte circense e se tornou a estrela mais talentosa do circo. Seu pai percebeu seus dons, incentivou e reconheceu seus talentos.

Chegou a cantar e dançar, por algum tempo, no famoso Cabaret de Badia Masabni. Seu talento como cantora e dançarina logo fizeram dela uma das maiores e principais estrelas de lá, mas não permaneceu por muito tempo.

Em 1957, foi nomeada melhor dançarina de folclore do Youth Festival, realizado em Moscou. No Teatro Bolshoi, havia uma foto em sua homenagem.



Naima foi descoberta primeiro pelo diretor Abbas Fawzy que lhe apresentou seu irmão Hessein Fawzy. Ele percebeu o talento dela e lhe deu papel principal pela primeira vez em que Naima aparecia em um filme. Fawzy dirigiu mais de 15 filmes para Naima Akef. O diretor não pôde resistir a seus charmes e a relação de trabalho tornou-se uma relação amorosa. Os dois casaram-se. Naima continuou a florescer e logo se tornou a mais famosa atriz do cinema egípcio. Na’ema Fawzi ingressou em um dos primeiros grupos folclóricos profissionais no país, Lail Ya ayn Group, e contribui muito para o seu sucesso.


Ela foi muito bem sucedida como atriz, era consciente do seu peso, sua forma física, não poupava esforços nos ensaio. Dotada de grande técnica e estilo, suas coreografias encantaram o cinema egípcio com sua arte de canto, atuação e dança. Atuou em aproximadamente 30 filmes. Sua expressiva dança, teve origem nas atuações acrobáticas sobre cavalos. Frequentemente criava suas coreografias mas ficou muito famosa por ser disciplinada e obediente aos seus treinadores.

Seu maior filme talvez tenha sido YaTamr Henna (também o nome de uma música popular), dirigido por seu marido, no qual desempenhou o papel de uma jovem dançarina ghawazee. Dançou também um sapateado em Ya Halawaat Al Hob (1952). Seu primeiro filme em cores foi Amir El Dahaa (1964).



Após ter se separado de Hessein, ela se casou com seu contador e com ele teve um filho que começou mais tarde a trabalhar com música.

Sua graciosa performance nunca era vulgar. Naima cantou, dançou e atuou em diversos filmes, principalmente filmes em preto e branco. A grande Nagwa Fouad denominou Naima Akef sua grande fonte de inspiração. Nagwa usualmente dizia:  “Naima se movimenta como mágica”.



A dança de Naima Akef explora oitos seguidos de giros ou redondos grandes, chutinhos, arabesques, pernas altas, cambres trabalho de braços, expressão e grande utilização de espaços com marcações simples porém bonitas de quadril. Sua musicalidade e interpretação dramática são imortais.

Naima faleceu acometida por um câncer. Alguns datam de 23 de abril de 1966, outros de 1996.



Fontes:

[Retalhos de uma História] Shafiqah La Copta

por Ju Najlah

Shafiqah La Copta foi aluna da primeira bailarina  de Dança Oriental egípcia, Shooq. Ela nasceu em 1851 em "Shobra", subúrbio do Cairo, em uma família conservadora e modesta.  Há relatos de que tenha fugido de casa à idade de 12 anos. Outras pessoas relatam que sua família ficou escandalizada quando ela começou a pensar em dançar e que aos 19 anos de idade saía de casa escondida dos pais para ter aulas com Shooq, dizendo que ia a Igreja. Seus pais morreram quando ela ainda era jovem. Depois casou-se, e viveu por um tempo sob circunstâncias pobres, tentando melhorar dançando nos clubes. Sua primeira apresentação foi em festivais folclóricos. Depois começou a dançar em casas noturnas. Era muito bonita e talentosa e alcançou a fama dançando na boate "El Dorado".

Em 1871, ela dirigia um grupo de músicos e bailarinas. Em 1917, participou da primeira Feira Internacional, em Paris, onde se classificou como primeira colocada.

Shafiqah La Copta já era uma lenda em seu tempo, na década de 1920, e tornou-se a dançarina mais famosa e rica do Egito após o falecimento de sua mestre, Shooq. Seus fãs lançavam moedas de ouro egípcias a seus pés. Foi dito que ela chegou a usar pares de sapato de ouro e brilhantes.

Shafiqah La Copta inseriu na dança acessórios de equilíbrio, como o candelabro e bandejas. E não só isso, ela abria espacates durante a dança! Entre seus muitos admiradores havia ministros e outras pessoas de influência.


Trecho do filme sobre Shafiqa La Copta

Este período marcou o início da era de dançarinos famosos no Egito. Bailarinos bem sucedidos começaram a abrir seus próprios clubes. Shaafiqa abriu a casa "Alf Leyla", também conhecida como  "1001 noites".

Sua influência não se limitou ao mundo da dança. Durante a revolução de 1919, colaborou com revolucionários opositores ao domínio inglês.

Shafiqah La Copta tornou-se extremamente rica, mas seu sucesso não trouxe  só dinheiro. Ela também gastava muito e tornou-se viciada em cocaína. Morreu desamparada, em 1926.

O filme "Chafika el Kebteya" ou "Shafika o copta" de 1963, dirigido por "El Hassan IMAM" relata a história desta lendária bailarina oriental. O filme conta com a participação de Rostom Hind, Hassan Youssef, Zizi El Badrawi.

Trecho do filme sobre Shafiqa La Copta

O nome dela você poderá ver  escrito de diversas formas: Shafiqah Alqebtieah, Shafiqa Al-Qibtiyya,  Shafie'a Qebtiyya, Chafika el Kebteya, Shafiqah al-Qutubiah, el Koptiyva ou Shafika o copta.


Fontes:


[Retalhos de uma História] Tahia Carioca


por Ju Najlah


"Todas morremos e vivemos pela dança" 


Nascida com o nome Abla (bint) Muhammad Karim, Tahia Carioca (Ismaïlia, 1915 - Caïro, 1999) deixou sua família em Ismália após uma discussão com seu pai, Mohamed Karim, quando contava de apenas 12 anos de idade e pegou o trem para o Cairo.  Aos 31 anos já era considerada uma lenda da Dança Oriental. Herdou de seu pai o amor pela arte e os muitos casamentos. Seu pai casou-se 7 vezes e mais tarde Tahia dobrou esse número! 

Ela dançou na maioria dos estados árabes e fez várias participações em filmes egípcios, com famosas estrelas do cinema árabe, tais como o cantor e compositor Mohamed Ahdelwahab e Farid Al Atrache. Lançou sua carreira cinematográfica em 1935, tendo sido "La Femme et le Pantin" o seu primeiro filme. Fez mais de 120 filmes no decorrer de sua vida. Participou também de peças de teatro e de novelas. O cinema e televisão fizeram de Taheya uma pessoa bem conhecida pelos árabes.

Estudou na Escola de Dança Ivanova e, posteriormente, estudou na Mohammed Ali Street, no Cairo, lugar equivalente a Broadway. Foi nomeada Carioca por sua conexão com a dança brasileira, o samba.  Depois de ficar fascinada por ritmos brasileiros, ela perguntou ao derbaquista se ele poderia executar semelhante batida em sua tabla. Assim como Mohamed Abdelwahad fez em suas composições, Tahia introduziu ritmos latino-americanos em seu show. O samba era utilizado por Tahia para executar seus passos no início de sua carreira, durante a década de 1930, quando ela dançava no Badia's Massabni Casino. A partir daí ela se tornou conhecida como Tahia Carioca e o percussionista como Zaki Carioca. 

A concorrência no Badia's Cabaret era dura, especialmente contra Samia Gamal que também dançou lá no início de sua carreira.

A  performance de Tahia era,  normalmente, de 20 a 25 minutos, no máximo. Mas sua  fama cresceu rapidamente entre 1930 e 1940, de tal forma que o Rei do Egito, Farouk, convidou-a para dançar em seu aniversário. Seu estilo era totalmente diferente do de Samia.

Tahia era uma mulher muito forte e determinada mas com uma dança delicada. Possui uma técnica bastante sofisticada. Essas características fizeram o seu sucesso no difícil mundo da dança do ventre, àquela época no Cairo. Ela era, sem dúvida, uma das melhores bailarinas do Egito. Sua dança era fluida, com emendas perfeitas que dificultam saber onde começa e termina determinada sequência. Possuía uma postura de braços delicada e expressiva. Utilizava pouco espaço para executar seus movimentos, mas sem perder a dinâmica da dança. Sua expressão era meiga, sempre com um sorriso nos lábios. Ninguém conseguiu alcançar sua virtuosidade, seu jogo de palavras, gestos e seu jeito irônico de flertar. Extremamente audaz, recusou-se a dançar para o ditador turco Kamal Ataturk,   o qual proibiu de entrar na Turquia, também recusou-se a dançar para Nazli, rei do Egito.

Longe dos palcos, a bailarina estava a frente de seu tempo, era ativista política e se envolveu  em diversas causas, o que custou, inclusive, a sua liberdade, tendo sido presa durante a guerra, quando exerceu um importante papel - foi  responsável por grandes ajudas e donativos.




Tahia Carioca foi casada 14 vezes. A lista dos seus homens estão incluídos o renomado ator Rushdi Abaza, o cantor Muharram Fuad e, assim como Samia Gamal, ela também foi casada com um americano convertido ao Islã. O casamento não durou por muito tempo. 

Em 1963, abandonou a dança e montou um grupo de teatro. Sua primeira peça foi sobre a lendária bailarina Shafiqa La Copta, que é reconhecida como primeira bailarina de dança do ventre a se apresentar em público, em Paris, em 1917. Mais tarde, nos anos 70, ela retornou ao islamismo ortodoxo.

Tahia tornou-se um ídolo para russos, americanos, alemães, ucranianos, italianos, armênios, holandeses e franceses. Todos ficaram atraídos pela sua inigualável mestria. Tahia Carioca provou ser uma fonte de inspiração para uma geração inteira de novas bailarinas.

Faleceu em 20 de setembro de 1999 com a idade de 79 de um ataque cardíaco. Diziam que ela tinha metade de sua inteligência nos pés e a outra metade na cintura.

Vídeos:







Fontes:
MAHAILA, Brysa. Por que amar Taheyya Karioca, in Shimmie, a sua revista de Dança do Ventre, ano 2, nº8





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