por Ju Najlah
"Ouça a música com o coração e traduza seus sentimentos com o corpo.”
Souheir Zaki nasceu em Mansoura, onde viveu com sua família até os nove anos de idade, depois mudaram-se para a cidade mediterrânea de Alexandria. Souheir apaixonou-se pela música e pela dança desde bem cedo. Com 11 anos já chamava a atenção dançando nas festas de aniversário e casamentos de amigos e familiares.
Uma das mais famosas dançarinas dos anos 60 e 70, Souheir Zaki começou a aparecer em gravações dançando algumas músicas de baixa qualidade. Contrária a qualidade das músicas gravadas, sua meticulosa forma de ouvi-las e expressa-las tornou-se famosa e ela ganhou o respeito de todos os membros da orquestra que a acompanhava.
Em determinada ocasião Anwar Sadat, presidente do Egito, a nomeou “a Om Kolthoum da dança”, e disse a ela “assim como ela canta com a própria voz, você canta com seu corpo.” Nos anos 60 Souheir recebeu o reconhecimento com honrarias e medalhas do xá do Irã, do presidente da Tunísia e de Gamal Abdel Nasser. Assim como Tahia Carioca e Samia Gamal – suas maiores fontes de inspiração – ela se tornou uma bailarina legendária em seu próprio meio. Quando criança, diz Souheir, “eu costumava ir direto da escola para o cinema, para assistir Tahia Carioca e Sâmia Gamal na grande tela. Eu até mesmo cortei meu cabelo e arrumei para ficar parecida com Fairuz", ela diz, referindo-se a uma estrela mirim do cinema egípcio.
O desejo de Souheir Zaki para dançar em público superou a desaprovação do seu pai. No entanto parece que era parte do seu destino; seu pai morreu quando ela ainda era muito jovem e sua mãe se casou novamente. Foi seu padrasto quem realmente lançou e gerenciou sua carreira, arranjando sua orquestra e tornando-se, mais tarde, seu empresário.
Souheir começou dançando nos nightclubs gregos de Alexandria. Depois mudou-se para o Cairo, onde se manteve, circulando entre casamentos e apresentações em nightclubs, que começavam a noite e se estendiam pela madrugada.
"Minha maior rival era a Nagwa Fouad. Nós tivemos uma competição feroz. Se as duas estivessem contratadas para uma mesma festa numa noite, nós corríamos para mandar nossas orquestras e roupas na frente, vendo quem chegava antes ao local". Enquanto Nagwa Fouad, adorava flashes e grandes montagens para sua performance, num estilo bem ocidental, Souheir era exatamente o oposto. Raqia Hassan, reconhecida mundialmente como uma grande coreógrafa e mestra da dança, se manifesta a respeito de Souheir: "Souheir Zaki resume a dança natural. Seu apelo está em sua simplicidade: ela traduziu a música de forma precisa e natural, sem excessos ou exibicionismo. Seus passos têm resistido aos anos, e são ensinados até hoje. Ela sempre foi autêntica apresentando-se e fingir nunca fez parte do seu estilo. Do mesmo jeito que a vê hoje, ao vivo, calma, tranquila para conversar e educada, ela sempre foi assim em cena".
A imagem clichê da dançarina oriental, quente e sedutora, muda um pouco de figura com ela. Isso talvez porque ela emergiu deste mundo controverso da dança com sua reputação mais ou menos intacta. Ela se orgulha em dizer que dançou nos casamentos de cada uma das filhas de ambos Anwar el Sadat e Gamal Abdel Nasser: que ela era constantemente escolhida para entreter as autoridades em visita ao país, desde o ministro de defesa da Rússia até o presidente Nixon e Henry Kissinger, e que, quando ela se tornou a primeira bailarina que ousou interpretar as reverenciadas canções de Oum Khalthoum num placo de nightclub, ela teve uma benção para o fato.
No final dos anos 80 o cenário da dança começou a mudar, e Zaki, vendo as coisas como iam se desenrolando, começou a pensar em se retirar elegantemente. Naquele tempo profundas mudanças tomavam forma dentro da visão que a sociedade tinha sobre a dança.
Em 2001, Raqia Hassan, quando a convidou para dançar e dar aulas depois de anos no Festival de Dança Oriental no Cairo, pessoalmente ficou impressionada pelo impacto que a presença de Souheir Zaki causou nas reservas das aulas. "Até que os formulários chegassem em grande número, eu não tinha idéia do quanto Souhair Zaki era amada por pessoas de diversos lugares do mundo. Quase todas as alunas inscritas para o festival se inscreveram para a aula a ser dada por ela".
Nada retira sua aura de glamour. Souheir Zaki traduz o verdadeiro espírito da dança oriental egípcia, sintetiza a natural dança baladi. É uma bailarina doce e elegante. Apresenta perfeito equilíbrio entre técnica e expressão. Sua musicalidade e precisão impressionam, traduzindo a música com perfeição.
"Aqueles dias nunca mais voltarão atrás. A atmosfera, os clientes, os convidados. Onde estão eles agora? A dança Oriental foi minha vida. Eu tenho meu filho e meu marido. Mas as melhores memórias de minha vida são todas da dança". Souheir Zaki.
Fontes:
Soheir Zaki, disponível em http://www.belly-dance.org/sohair-zaki.html
ALMEÉ, Aysha. Souhair Zaki. Disponível em http://khandara.multiply.com/journal/item/8/8?&show_interstitial=1&u=%2Fjournal%2Fitem
Soheir Zaki, one of the egypts' dance icons of the 1980's, disponível em http://www.belly-dance.org/soheir-zaki.html
MAHAILA, Brysa. Souhar Zaki. Revista Shimmie, ano 2, nº 10, página 18.