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[Resenhando-AL] Tempos de Pandemia: O Tribal Fusion em Alagoas

 por Ana Clara Oliveira


“Um, Dois, Três. Dissolver os efeitos dos antes, para nesta leitura desvestir os figurinos habituais. A dança é o Pensamento do corpo” (Helena Katz)

 


O ano de 2020 será lembrado como o ano das transformações do funcionamento das vidas contemporâneas. A pandemia causada pelo vírus SARS-CoV-2 ameaça a vida humana e muda os modos de relação do corpo com o ambiente em diversos campos de atuação. Eis que a Covid-19 afeta as Artes paralisando, desviando e transbordando a Dança para as redes sociais. Sem dúvida, a Dança e Tecnologia é uma linha de pesquisa e uma área difundida nos espaços acadêmicos e outros lugares importantes. Igualmente, é comum o uso das redes sociais para postagem de fragmentos de vídeos ou obras completas. No entanto, ao entrarmos na quarentena, surge um aumento fabricado do Tribal Fusion nas redes sociais e nos eventos online. Transportamos ainda mais os nossos trabalhos artísticos para o mundo virtual. Em relação a esse ponto, o teórico cultural e sociólogo britânico-jamaicano, Stuart Hall afirma: “o deslocamento tem características positivas; ele desarticula as identidades estáveis do passado, mas também abre a possibilidade de novas articulações: a criação de novas identidades, a produção de novos sujeitos” (HALL, 2006, p. 17-18).

Na Zambak Cia de Dança Tribal (AL), a qual faço parte, as mudanças também existiram. Fomos reinventando as práticas no nosso 4º ano de existência. Longe do desejo da comparação e muito menos da redução da dor ou até da glamourização do sofrimento, mas entre mortes mundiais e lutos particulares na Cia, o Tribal Fusion em Alagoas sofreu desvios e sobreviveu dançando outras histórias. Por essas novas histórias é que escolhi a foto acima com as belas Janna Scarllet e Leeh Lima, ambas integrantes da Zambak, que juntamente comigo fortaleceram a fusão alagoana diante das dificuldades.

Em 2020, experimentamos a potência de formar novas alianças e refletir a nossa “casa”. A socióloga feminista, professora e ativista argentina, María Lugones ressalta: “estamos nos movendo em um tempo de encruzilhadas, de vermos umas às outras na diferença colonial construindo uma nova sujeita de uma nova geopolítica feminista de saber e amar” (LUGONES, 2014, p. 950). Neste sentido, podemos compreender o tema “TEMPOS DE PANDEMIA: O TRIBAL FUSION EM ALAGOAS” através de dois momentos: o primeiro (2020.1), completamente marcado pelas adaptações da Zambak em paralelo com a suspensão temporária da Extensão Universitária de Tribal na UFAL e o segundo (2020.2), voltado para o desabrochar da Cia e ações individuais das integrantes, sem perder de vista o nosso local de abrigo poético: a Cia.

No primeiro semestre de 2020, decidimos nos acolher nos laboratórios criativos de formato online sem a expansão efetiva dos processos criativos nas redes. Na realidade, o nosso objetivo maior estava focalizado em permanecer estudando em tempos de caos. Com muita amorosidade e compreensão do que se passava na vida umas das outras, nos encontrávamos nas telas para conversar do cotidiano das nossas vidas e para dialogar acerca das cenas do Tribal no âmbito internacional e, sobretudo, nacional. Além disso, desenvolvemos dentro da Cia algumas oficinas práticas a partir de temas diversificados das fusões tribais. Destaco o retorno para os estudos da Dança do Ventre, do estilo ATS e o trabalho das lives com a participação das profissionais do Tribal: Camila Saraiva (PB / BA) e Mimi Coelho (BRA / EUA), ambos no meu perfil do instagram. Seguem os cartazes abaixo:

 



No segundo semestre de 2020, o Tribal Fusion em Alagoas foi direcionado para as participações nos eventos por parte de algumas dançarinas da Zambak. Participei como palestrante e professora em eventos nacionais como o Prakis – Simpósio Brasileiro de Fusões Tribais e Festival Tribal Core Trupe Andurá, bem como, estive nas organizações de determinadas ações relevantes para a cena Tribal no Brasil como o Fórum Tribal e Cheias de Assunto (circuito de lives UFBA I UFAL). Do mesmo modo, as integrantes, em especial, Janna Scarllet e Leeh Lima fortificaram como docentes de Tribal no espaço Mandala Danças Ciganas, localizado na cidade de Maceió.

Realço aqui o evento online intitulado como “IV Sarau de Danças, Música, Contos e Poesias Ciganas do Stúdio Mandala Danças Ciganas, no período compreendido entre 07 a 11 de dezembro/2020. As apresentações do evento aconteceram no instagram do @mandaladancasciganas com a presença dos professores do espaço, alunos e convidados. O estilo Tribal foi apresentado em forma de live por Janna Scarllet e Leeh Lima, sendo a minha apresentação gravada. Convido a todos para apreciar os vídeos do IV Sarau e assim, conhecer as artistas que movimentaram o Tribal Fusion em Alagoas. Abaixo, o cartaz do evento:

Findo o Resenhando-AL do mês agradecendo aos apoios criativos de 2020 e a todos os profissionais que auxiliaram o desenvolvimento do tribal em Alagoas, singularmente a Zambak Cia de Dança Tribal que de maneira sensível soube sobreviver. Vida longa ao Tribal!

 

Referências

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11ª edição. Rio de Janeiro: DP&A editora, 2006.

LUGONES, María. Rumo a um feminismo descolonial. v. 22, n. 3, Revista Estudos Feministas, 2014. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/36755.

KATZ, Helena. Um, dois, três: a dança é o pensamento do corpo. Belo Horizonte: Helena Katz, 2005.


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Resenhando-AL


Ana Clara Oliveira (Maceió-AL) é dançarina e pesquisadora do estilo Tribal de Dança do Ventre. Professora de Dança na Escola Técnica de Artes (UFAL). Doutoranda em Artes (UFMG) onde pesquisa a formação no Tribal. Mestrado em Dança (UFBA). Diretora da Zambak Cia de Dança Tribal ... Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>

[Resenhando-AL] Tribal na Universidade

 por Ana Clara Oliveira

 

Para inaugurar na coluna resolvi construir uma resenha descritiva acerca da Fusão Tribal ou estilo Tribal de Dança do Ventre no estado de Alagoas, contando os fatos principais do surgimento da nossa dança na Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Então, convido você para conhecer Alagoas para além do paraíso das águas. Convoco para perceber sensivelmente o modo de organização da cena Tribal Fusion a partir do ano 2015 até 2018. Desde já, desejo uma boa aventura.

Em 2015, criei um projeto de extensão universitária intitulado por “Poética da Dança Tribal”, na cidade de Maceió. Tal projeto gratuito e de natureza experimental, surgiu  após a oficina que ministrei de Dança do Ventre no UniversiDança - Semana Acadêmica do Curso de Licenciatura em Dança, da Universidade Federal de Alagoas. Como docente efetiva na referida universidade, vislumbrei a possibilidade de construir um projeto inteiramente destinado para o ensino-aprendizagem da Dança Tribal. Notei que existia um enorme interesse por parte dos estudantes, seja pela necessidade de aprender novas técnicas para o mercado profissional, seja pelo encantamento pelos figurinos, maquiagens e acessórios. Alguns talvez nem soubessem o que era de fato o Tribal, afinal não existia aulas do estilo em Alagoas. O único movimento tribal de dança em todo o estado foi um workshop de ATS ministrado tempos atrás pela querida Rebeca Piñero, sob organização da professora de Dança do Ventre, a querida Dilma Tarub. Imaginem só o entusiasmo! Ouvia frequentemente frases como: “chegou o Tribal em Alagoas”; “finalmente, vou dançar tribal”; “será que vamos aprender aquele passo de dança do YouTube?”; “como serão as aulas, serão para sempre não é?”...

De fato, foi um momento efervescente para a cultura de Alagoas, inclusive para pessoas de outras danças que não estavam acostumadas com toda a estética da nossa arte. Durante o ano de 2015, recebi um pouco mais de 20 estudantes entre graduação e técnico de dança, ambos os cursos da UFAL. Além desse número, acolhi a comunidade em geral uma vez que é papel da extensão universitária o diálogo afetuoso e o compromisso com o ambiente não acadêmico. Nesse primeiro ano, três módulos foram desenvolvidos: bases BellyDance (senti uma necessidade de iniciar por onde fiz a primeira aproximação com Tribal), Tribal Fusion (bastante focalizado nos meus estudos com a querida dançarina/professora/pesquisadora Joline Andrade – BA) e por fim, tópicos especiais para os estudos no Tribal Brasil (ênfase maior no que a turma trazia como repertórios da cultura popular, pois entendi que Alagoas é um estado repleto de manifestações culturais, sendo o Coco Alagoano dançado pelos estudantes da rede pública de ensino, por exemplo). Ao final do ano, a turma apresentou na Sala Preta (Espaço Cultural UFAL para convidados (docentes do curso e alguns familiares).

Em 2016, resolvi cadastrar o projeto através da minha lotação na Escola Técnica de Artes/Instituto de Ciências Humanas e Artes da UFAL. Com a procura, abrir mais uma turma. O projeto passou a ter duas turmas de 20 pessoas em cada uma delas. Com mais organização da minha docência e maturidade dos envolvidos, fui inserindo gradualmente textos acadêmicos do universo da Dança do Ventre e Tribal. Como o projeto era gratuito, decidi criar estratégias para a boa relação professora-aluno, principalmente, porque pretendia continuar a desenvolver um trabalho sólido e vivo dentro de Alagoas. Discussões de temas, frequência das aulas, diários de bordo, relatório individual, palestras ou oficinas com convidados locais a respeito de assuntos “complementares” como educação somática, maquiagem, representatividade do corpo negro nas artes e por aí vai, foram abordados no projeto. Ao final do ano, organizei o I Encontro de Dança Tribal ETA/UFAL que estreou com a Mostra Artística no Teatro Jofre Soares / SESC, Maceió. O evento de três dias consecutivos, contou com a presença da querida Mestra Kilma Farias, dançarina/professora/pesquisadora, que nos forneceu com a oficina de Tribal Fusion e Tribal Brasil e, do querido professor doutor da Universidade Federal da Paraíba, Guilherme Schulze, que ministrou a oficina de videodança para o Tribal. Além disso, tivemos uma mesa-redonda com tais profissionais e com a doutoranda em antropologia Juliana Barreto, também aluna do projeto. Em conformidade com o papel da extensão na UFAL, todo o evento também foi gratuito. Imaginem só!



Em 2017, o projeto cresceu ainda mais no que tange ao aspecto ensino-aprendizagem. Focalizei nos conteúdos dos módulos Tribal Fusion e Tribal Brasileiro, com a inclusão das tarefas improvisacionais como estratégia de refinamento dos repertórios de movimento e como lugar do devir pessoal e coletivo. As duas turmas estavam completamente disponíveis para as investigações, independente dos níveis individuais. Busquei organizar uma divisão mínima de níveis entre os dois horários apresentados, mas imediatamente notei que funcionava melhor deixar que cada estudante escolhesse o horário que lhe cabia confortavelmente. Por exemplo: eu tinha aluno que entrou em 2017, mas fazia aula na turma que estava desde 2015 e isso não era um problema, era um desafio. No entanto, a maioria conseguia acessar e permanecer na turma mais compatível ao seu tempo na Dança Tribal. Percebi que ter um aluno apreensivo com um horário, não valeria a pena. Portanto, era mais harmonioso que este estivesse onde o seu aprendizado pudesse fluir, mesmo que mais devagar em relação aos demais. Foi um ano surpreendente, pois produzimos (não cabia mais o verbo “produzi”) o II Encontro de Dança Tribal da ETA/UFAL com a participação das queridas convidadas: Joline Andrade (BA) – Tribal Fusion, Kilma Farias (PB) – Tribal Brasil e as professoras da UFAL – Kamilla Mesquita – Ghawazee e Joana Wildhagen – Dança Clássica Indiana. Foram três dias de evento com palestras, oficinas e mostra artística, sendo esta última, apresentada na Bienal Internacional do Livro, no Teatro Gustavo Leite, Maceió. Tivemos 65 inscritos no evento de vários estados brasileiros.


Em 2018, buscamos aprimorar os conteúdos programáticos do ano anterior e refinamos o projeto a fim de desenvolver o III Encontro de Dança Tribal ETA/UFAL. Consideramos que no referido ano, deveria existir uma delimitação das ações do projeto, uma “identidade”. Percebi que o foco principal era garantir uma boa troca de conhecimentos no âmbito do Tribal, reconfigurando a mostra artística com o peso que ela deveria ter naquele momento. Abro um parêntese para dizer que considero relevante a culminância dos processos artísticos na universidade, no entanto o desejo de contribuir no ensino-aprendizagem (oficinas e palestras) era grande, posto que temos um número alto de excelentes festivais de dança espalhados no Brasil. Para tanto, foram convidadas três mulheres pesquisadoras e queridas com interesses similares aos meus: Professora Doutora Márcia Mignac da Universidade Federal da Bahia – Processos Criativos e de Improvisação na Dança do Ventre, Professora Mestra Carla Roanita (BA) – Tribal Fusion e Professora Mestra Camila Saraiva (BA) – Processos Criativos e de Improvisação na Dança do Ventre. A mesa de abertura foi composta pelas convidadas palestrantes e pela Pro-Reitora de Extensão da UFAL, Professora Doutora Joelma Albuquerque, pela Vice-Diretora da Escola Técnica de Artes Professora Pollyanna Isbelo e Professora Mestra Noemi Loureiro. Foram três dias de muito diálogo, reflexão durante as oficinas e engajamento na mostra artística que somou em equilíbrio no evento.

Termino esta matéria agradecendo aos alunos do projeto de extensão “Poética da Dança Tribal” e a todos os profissionais que auxiliaram na construção da trajetória inicial do Tribal em Alagoas. Hoje, temos uma história a contar. Que venham novas e muitas outras! Vida longa ao Tribal!





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Resenhando-AL


Ana Clara Oliveira (Maceió-AL) é dançarina e pesquisadora do estilo Tribal de Dança do Ventre. Professora de Dança na Escola Técnica de Artes (UFAL). Doutoranda em Artes (UFMG) onde pesquisa a formação no Tribal. Mestrado em Dança (UFBA). Diretora da Zambak Cia de Dança Tribal ... Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>
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Resenhando-AL por Ana Clara Oliveira

 Coordenação Região Nordeste - Núcleo AL:

Ana Clara é dançarina e pesquisadora do estilo Tribal de Dança do Ventre. Professora de Dança na Escola Técnica de Artes (UFAL). Doutoranda em Artes (UFMG) onde pesquisa a formação no Tribal. Mestrado em Dança (UFBA). Possui Licenciatura em Educação Física (UESC) e formação em Dança através de especializações. Coordena a extensão universitária em Tribal na UFAL. Diretora da Zambak Cia de Dança Tribal (AL). É estudante de Bharatanatyam.  Contato: anaclaradanca@gmail.com e seu instagram é @anaclaradanca.







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