por Ana Clara Oliveira
Para inaugurar na coluna
resolvi construir uma resenha descritiva acerca da Fusão Tribal ou estilo
Tribal de Dança do Ventre no estado de Alagoas, contando os fatos principais do
surgimento da nossa dança na Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Então, convido
você para conhecer Alagoas para além do paraíso das águas. Convoco para
perceber sensivelmente o modo de organização da cena Tribal Fusion a partir do
ano 2015 até 2018. Desde já, desejo uma boa aventura.
Em 2015, criei um projeto de
extensão universitária intitulado por “Poética da Dança Tribal”, na cidade de Maceió.
Tal projeto gratuito e de natureza experimental, surgiu após a oficina que ministrei de Dança do
Ventre no UniversiDança - Semana Acadêmica do Curso de Licenciatura em Dança,
da Universidade Federal de Alagoas. Como docente efetiva na referida
universidade, vislumbrei a possibilidade de construir um projeto inteiramente
destinado para o ensino-aprendizagem da Dança Tribal. Notei que existia um
enorme interesse por parte dos estudantes, seja pela necessidade de aprender
novas técnicas para o mercado profissional, seja pelo encantamento pelos
figurinos, maquiagens e acessórios. Alguns talvez nem soubessem o que era de
fato o Tribal, afinal não existia aulas do estilo em Alagoas. O único movimento
tribal de dança em todo o estado foi um workshop de ATS ministrado tempos atrás
pela querida Rebeca Piñero, sob organização da professora de Dança do Ventre, a
querida Dilma Tarub. Imaginem só o entusiasmo! Ouvia frequentemente frases
como: “chegou o Tribal em Alagoas”; “finalmente, vou dançar tribal”; “será que
vamos aprender aquele passo de dança do YouTube?”; “como serão as aulas, serão
para sempre não é?”...
De fato, foi um momento efervescente
para a cultura de Alagoas, inclusive para pessoas de outras danças que não
estavam acostumadas com toda a estética da nossa arte. Durante o ano de 2015,
recebi um pouco mais de 20 estudantes entre graduação e técnico de dança, ambos
os cursos da UFAL. Além desse número, acolhi a comunidade em geral uma vez que
é papel da extensão universitária o diálogo afetuoso e o compromisso com o
ambiente não acadêmico. Nesse primeiro ano, três módulos foram desenvolvidos:
bases BellyDance (senti uma necessidade de iniciar por onde fiz a primeira aproximação
com Tribal), Tribal Fusion (bastante focalizado nos meus estudos com a querida dançarina/professora/pesquisadora
Joline Andrade – BA) e por fim, tópicos especiais para os estudos no Tribal
Brasil (ênfase maior no que a turma trazia como repertórios da cultura popular,
pois entendi que Alagoas é um estado repleto de manifestações culturais, sendo
o Coco Alagoano dançado pelos estudantes da rede pública de ensino, por
exemplo). Ao final do ano, a turma apresentou na Sala Preta (Espaço Cultural
UFAL para convidados (docentes do curso e alguns familiares).
Em 2016, resolvi cadastrar o projeto através da minha lotação na Escola Técnica de Artes/Instituto de Ciências Humanas e Artes da UFAL. Com a procura, abrir mais uma turma. O projeto passou a ter duas turmas de 20 pessoas em cada uma delas. Com mais organização da minha docência e maturidade dos envolvidos, fui inserindo gradualmente textos acadêmicos do universo da Dança do Ventre e Tribal. Como o projeto era gratuito, decidi criar estratégias para a boa relação professora-aluno, principalmente, porque pretendia continuar a desenvolver um trabalho sólido e vivo dentro de Alagoas. Discussões de temas, frequência das aulas, diários de bordo, relatório individual, palestras ou oficinas com convidados locais a respeito de assuntos “complementares” como educação somática, maquiagem, representatividade do corpo negro nas artes e por aí vai, foram abordados no projeto. Ao final do ano, organizei o I Encontro de Dança Tribal ETA/UFAL que estreou com a Mostra Artística no Teatro Jofre Soares / SESC, Maceió. O evento de três dias consecutivos, contou com a presença da querida Mestra Kilma Farias, dançarina/professora/pesquisadora, que nos forneceu com a oficina de Tribal Fusion e Tribal Brasil e, do querido professor doutor da Universidade Federal da Paraíba, Guilherme Schulze, que ministrou a oficina de videodança para o Tribal. Além disso, tivemos uma mesa-redonda com tais profissionais e com a doutoranda em antropologia Juliana Barreto, também aluna do projeto. Em conformidade com o papel da extensão na UFAL, todo o evento também foi gratuito. Imaginem só!
Em 2017, o projeto cresceu
ainda mais no que tange ao aspecto ensino-aprendizagem. Focalizei nos conteúdos
dos módulos Tribal Fusion e Tribal Brasileiro, com a inclusão das tarefas
improvisacionais como estratégia de refinamento dos repertórios de movimento e
como lugar do devir pessoal e coletivo. As duas turmas estavam completamente
disponíveis para as investigações, independente dos níveis individuais. Busquei
organizar uma divisão mínima de níveis entre os dois horários apresentados, mas
imediatamente notei que funcionava melhor deixar que cada estudante escolhesse
o horário que lhe cabia confortavelmente. Por exemplo: eu tinha aluno que
entrou em 2017, mas fazia aula na turma que estava desde 2015 e isso não era um
problema, era um desafio. No entanto, a maioria conseguia acessar e permanecer
na turma mais compatível ao seu tempo na Dança Tribal. Percebi que ter um aluno
apreensivo com um horário, não valeria a pena. Portanto, era mais harmonioso
que este estivesse onde o seu aprendizado pudesse fluir, mesmo que mais devagar
em relação aos demais. Foi um ano surpreendente, pois produzimos (não cabia
mais o verbo “produzi”) o II Encontro de Dança Tribal da ETA/UFAL com a
participação das queridas convidadas: Joline Andrade (BA) – Tribal Fusion,
Kilma Farias (PB) – Tribal Brasil e as professoras da UFAL – Kamilla Mesquita –
Ghawazee e Joana Wildhagen – Dança Clássica Indiana. Foram três dias de evento
com palestras, oficinas e mostra artística, sendo esta última, apresentada na
Bienal Internacional do Livro, no Teatro Gustavo Leite, Maceió. Tivemos 65
inscritos no evento de vários estados brasileiros.
Em 2018, buscamos aprimorar
os conteúdos programáticos do ano anterior e refinamos o projeto a fim de
desenvolver o III Encontro de Dança Tribal ETA/UFAL. Consideramos que no
referido ano, deveria existir uma delimitação das ações do projeto, uma
“identidade”. Percebi que o foco principal era garantir uma boa troca de conhecimentos
no âmbito do Tribal, reconfigurando a mostra artística com o peso que ela
deveria ter naquele momento. Abro um parêntese para dizer que considero relevante
a culminância dos processos artísticos na universidade, no entanto o desejo de
contribuir no ensino-aprendizagem (oficinas e palestras) era grande, posto que
temos um número alto de excelentes festivais de dança espalhados no Brasil.
Para tanto, foram convidadas três mulheres pesquisadoras e queridas com
interesses similares aos meus: Professora Doutora Márcia Mignac da Universidade
Federal da Bahia – Processos Criativos e de Improvisação na Dança do Ventre,
Professora Mestra Carla Roanita (BA) – Tribal Fusion e Professora Mestra Camila
Saraiva (BA) – Processos Criativos e de Improvisação na Dança do Ventre. A mesa
de abertura foi composta pelas convidadas palestrantes e pela Pro-Reitora de
Extensão da UFAL, Professora Doutora Joelma Albuquerque, pela Vice-Diretora da
Escola Técnica de Artes Professora Pollyanna Isbelo e Professora Mestra Noemi
Loureiro. Foram três dias de muito diálogo, reflexão
durante as oficinas e engajamento na mostra artística que somou em equilíbrio
no evento.
Termino esta matéria
agradecendo aos alunos do projeto de extensão “Poética da Dança Tribal” e a todos
os profissionais que auxiliaram na construção da trajetória inicial do Tribal
em Alagoas. Hoje, temos uma história a contar. Que venham novas e muitas
outras! Vida longa ao Tribal!
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Resenhando-AL