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[Formação no Tribal] Conteúdo (Parte2): Um Trabalho Pedagógico

por Ana Clara Oliveira

Paulo Freire

Na última postagem da coluna, nós nos dedicamos sobre uma pergunta específica: qual é o conhecimento que importa na nossa dança? Em comemoração ao centenário do patrono da educação brasileira Paulo Freire – que se completará em setembro do presente ano -, vou discutir com vocês, nesta matéria, o entendimento dos conteúdos a partir do currículo Crítico-libertador declarado por ele.

Ao aproximarmos a prática educativa da dança às orientações de Paulo Freire (2019), poderíamos observar que a escolha do conteúdo programático é uma das preocupações que atravessam o cotidiano dos professores. Quando situamos o campo do estilo tribal, percebemos o alargamento das discussões sobre como ensinar e o que ensinar. Seja no formato de combos, seja numa investigação de improvisação, ou ainda, por teorização aprendemos que é preciso gerar conteúdos para as aulas.

Tal natureza não se organiza somente como uma preocupação pedagógica ou como um problema identificado: nós, docentes do estilo tribal, valorizamos um ensino com conteúdo, isto é, com o objeto do conhecimento para o desenvolvimento das capacidades dos alunes. Eis que surge a “inquietação em torno do conteúdo do diálogo e a inquietação em torno do conteúdo programático da educação (FREIRE, 2019, p. 115-116). 

Diante disso, o educador discorre a criação de um currículo crítico que responda à prática libertadora cuja “dialogicidade comece, não quando o educador-educando se encontra com os educandos-educadores em uma situação pedagógica, mas antes, quando aquele se pergunta em torno do que vai dialogar com estes” (FREIRE, 2019, p. 115-116). Essa postura pedagógica se difere do chamado “educador-bancário”, que na sua “antidialogicidade” faz uma verticalidade do saber ou até mesmo impõe o seu programa de aula, sem nunca perguntar aos alunes sobre suas inquietudes. 

Mas, como colocar esse trabalho pedagógico em ação? Ou melhor: como reduzir a educação bancária rumo ao projeto crítico e de liberdade?

Neste momento, alguns de vocês talvez estejam perguntando se a ideia é eliminar o nosso repertório de movimento e toda a nossa rica estética, a fim de propor algo quase impossível de fazer. Pois bem, a responda é: não. Para o querido pensador, a nossa tarefa é: ensinar conteúdos disciplinares, ou seja, tudo que julgarmos necessário para o aprendizado das técnicas e do universo poético do estilo tribal, mas também convocar as diferentes realidades dos alunes numa ação consciente. Esse princípio gera a estruturação dos conteúdos que importam e que precisam ser problematizados em um processo dialógico no qual as experiências diárias também formulam a criticidade. O conteúdo programático então, deixaria de ser exclusiva eleição dos profissionais do estilo tribal, para ser deles e dos alunes. Por esse motivo, “é na realidade mediatizadora, na consciência que dela tenhamos, educadores e povo, que iremos buscar o conteúdo programático da educação” (FREIRE, 2019, p. 121).

Uma das formas de aplicar essas orientações nas nossas salas de aula é a partir do “universo temático” ou o chamado conjunto de temas geradores (FREIRE, 2019, p. 121). De modo breve, os temas geradores são investigações que não se concentram nas pessoas isoladas da realidade, nem ao contrário. São buscas metodológicas conscientizadoras entre corpo docente e discente que, sendo constituídas nas relações corpos-mundo, podem ser capturadas e entendidas no domínio humano e não como se fossem coisas – assuntos soltos, fora do humano. “Investigar o tema gerador é investigar, repitamos, o pensar dos homens referido à realidade, é investigar seu atuar sobre a realidade, que é sua práxis” (FREIRE, 2019, p. 136). 


De maneira didática, podemos encontrar as seguintes etapas na abordagem de Paulo Freire (2019): investigação (busca por palavras e temas centrais); codificação dos temas (contexto concreto ou real em que os fatos ocorrem e o contexto teórico em que a codificação é analisada); decodificação (ato cognoscente realizado pelos corpos sociais e que gera a nova percepção) e por fim, a problematização (visão reflexiva). Obviamente, todo o arcabouço do currículo Crítico-libertador vai além desse texto, mas deixo aqui essas noções com o intuito de colorir e despertar ainda mais nossas aulas. Assim, vejamos o esquema abaixo:

Trama Conceitual Freireana: Ensino-aprendizagem
Ana Maria Saul e Patricia Lima Dubeux Abensur
Fonte: Revista Educação (UFSM)

Na próxima postagem, planejo publicar uma resenha do primeiro capítulo do livro Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa (FREIRE, 2020) – 66ª edição. Com estas informações, aspiro auxiliar a nossa comunidade de dança, especialmente docentes a refletir a própria atuação e a tomar decisões de maneira mais conscientes sobre: “que conteúdos ensinar, a quem, a favor de quê, de quem, contra quê, contra quem, como ensinar” (Freire, 2005, p. 45). 

E, vocês já trabalharam através do currículo Crítico-libertador? O que vocês pensam dos temas geradores? Vamos conversar? 

Finalizo com a imagem inspiradora da professora/artista/coreógrafa/estudiosa/pesquisadora do estilo tribal: Annamaria Marques, tão dedicada ao ensino amoroso e consciente.

Abraços dançantes,

Até breve!

Annamaria Marques ( @annamaria_tribaldancer) |  Fotografia: Greis Ferreira.


Referências:

FREIRE, Paulo. A educação na cidade. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2005. 

_____________Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.


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Formação no Tribal


Ana Clara Oliveira (Maceió-AL) é dançarina e pesquisadora do estilo Tribal de Dança do Ventre. Professora de Dança na Escola Técnica de Artes (UFAL). Doutoranda em Artes (UFMG) onde pesquisa a formação no Tribal. Mestrado em Dança (UFBA). Diretora da Zambak Cia de Dança Tribal ... Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>


[Resenhando-AL] Cia Lunay (PB): Uma Inspiração para a Cena Tribal Alagoana

por Ana Clara Oliveira

Yolanda Cavalcante, Veronica Alves e Kilma Farias | Fonte: acervo Cia Lunay


O presente texto apresenta a Cia Lunay (PB) como uma das fontes inspiradoras para o estilo tribal de dança do ventre em Alagoas. Sem dúvida, esta matéria se fundamenta pelo grandioso trabalho artístico-educacional sistematizado e disseminado pela Cia Lunay ao longo da história do estilo no Brasil. Embora a coluna se dedique aos eventos em Alagoas, necessito expressar o quanto admiramos e respeitamos a Cia Lunay que tanto nos surpreende com brilhantes acontecimentos.

Em razão disso, este grupo profissional paraibano tornou-se um excelente entusiasmo e uma fragrância criativa que impulsionou muitos dos trabalhos artísticos da Zambak Cia de Dança Tribal (AL), a qual participo na condição de diretora. Por tantas vezes, a aproximação do tribal de Alagoas com a Cia Lunay aconteceu por contemplação e também pelos estudos teóricos/práticos promovidos pelo grupo da Paraíba nos eventos do nordeste brasileiro. Em outros momentos, a proximidade respeitosa brotou como desejo sincero da profissionalização do tribal em grupo no chão alagoano, uma vez que a Cia Lunay é referência nas investigações artísticas no campo das fusões. Por último, a conexão se deu como potência constituinte de promoção do tribal, principalmente, na fusão de matrizes afrobrasileiras e populares, que também são elementos de interesse da cena tribal alagoana. Por todos esses fatos, a Cia Lunay é uma grande inspiração para Alagoas e certamente, para todo o Brasil. 

Em face do exposto, transporto vocês para a obra da Cia Lunay intitulada Infinitudes (2020), que realizada com recursos da lei Emergencial Cultural Aldir Blanc se consolida como um gigantesco e inovador trabalho de dança em tempos tão sombrios. Infinitudes que recebeu apoio da Secretaria de Estado Cultura/Governo do Estado da Paraíba, Edital Fernanda Benvenutty, possui a seguinte ficha técnica:

Bailarinas

Kilma Farias

Veronica Alves

Yolanda Cavalcante

Imagens e Direção de Fotografia

Mano de Carvalho

Direção geral e Edição de imagens

Kilma Farias


Músicas

Amor Tropical – Cassicobra

Tinaja Dub – Cassicobra

Cobra 0.9 – Cassicobra


O Peso do Meu Coração

Autores: Castello Branco/Tomas Troia

Editora: Deck


Infinitudes Cia Lunay | Fonte: acervo Cia Lunay


Em diálogo com a bailarina da Cia Lunay, Kilma Farias, obtive acesso aos dados específicos da obra de dança Infinitudes que possui aproximadamente vinte e seis minutos:


Extravasar os limites do dentro e do fora, de si e do outro e transbordar nossos corpos em movimento: essa é a poética de Infinitudes. A Cia Lunay traz uma reflexão em vídeo do isolamento gerado pela pandemia. As imagens dançam o quanto isso nos fez olhar para dentro e perceber que para além das 4 paredes, somos seres infinitos, imensos. Essa infinitude se torna ainda maior quando a união é entre mulheres que possuem laços profundos de amizade através da Dança. (LUNAY, CIA, 2020, on-line)


A bailarina Kilma Farias, conta que o objetivo desse trabalho artístico é discutir e, paralelamente, transformar em imagens poéticas a condição que foi estabelecida pela pandemia e isolamento social, tendo como base a relação de afetividade entre as mulheres. De acordo com a bailarina, devido ao fato da Cia Lunay possuir 17 anos de existência ininterruptos, presenciais e de muita produção em dança nos teatros e na natureza, o grupo esbarrou no desafio de conviver sem a presença física. Tal obstáculo veio carregado de situações específicas nas quais uma bailarina passou a necessitar do amparo da outra para sobreviver aos tempos de dor, medo e insegurança coletiva. Então, as três artistas decidiram “quebrar” o isolamento social para o cuidado umas com as outras, inclusive partilhando fisicamente das noites mais difíceis. 


Yolanda Cavalcante, Veronica Alves e Kilma Farias | Fonte: acervo Cia Lunay



Nesse momento, as artistas perceberam que olhando para dentro, ou seja, transportando para um mergulho interior e para as relações estabelecidas antes da pandemia, o isolamento se tornava ilusório, pois sentiam as suas fragilidades e suas potências, isto é, estavam acompanhadas de si e do outro. Dessa forma, descobriram que existe apenas o isolamento físico, pois somos parte da natureza, transbordamos, atravessamos, penetramos pelos afetos... somos infinitos... infinitudes. Kilma Farias conta que a materialidade ou o mundo imanente vem de algo maior que é a subjetividade e o mundo transcendente. Justamente por esses aspectos que a obra faz a sua narrativa.


Kilma Farias | Fonte: acervo Cia Lunay



As referências utilizadas para Infinitudes foram o método de estudo do movimento desenvolvido por Rudolf von Laban e o trabalho significativo da Pina Bausch. Igualmente, foi desenvolvida uma pesquisa autoral do estilo tribal Brasil que propõe uma tradução cultural de diversas danças do feminino desde as estéticas e poéticas da dança do ventre até as danças indianas, o flamenco, as danças que abordam arquétipos de deusas e simbologias sagradas. Assim, Infinitudes reverbera o trabalho do corpo cotidiano experienciado na pandemia através do repertório do estilo tribal brasil, utilizando as qualidades/dinâmicas e fatores de movimento Laban e, as inspirações estéticas de Dança-Teatro de Pina Bausch.


Yolanda Cavalcante | Fonte: acervo Cia Lunay

 

Sugiro fortemente a apreciação da obra completa disponível no canal YouTube Núcleo de Danças Kilma Farias. Para finalizar, destaco alguns aspectos que convocam a atenção: os véus vermelhos, os vestidos esvoaçantes, o vento, o mar, a falésia, o sol, o chão duro, os movimentos sinuosos, o gesto cotidiano autêntico, as cadeiras e bancos vermelhos, os pés descalços, a mala preta, as direções espaciais, o guarda-chuva preto, as pausas, os giros, as pontuações e os bloqueios com as partes corporais, as figuras com os braços, os tempos súbitos da corporalidade, a fluência livre e contida, o figurino preto e justo no corpo, a repetição específica como invenção no que se deseja evidenciar, os cabelos soltos, a iluminação no feminino como nos quadris, pernas, ventre, cabelo e face.


Outros elementos como: o dançar com os objetos cênicos, as ações corporais básicas, o silêncio e as cenas distintas que somam um todo semiótico criativo; um entendimento sobre o tempo, os elementos de matrizes afrobrasileiras e populares que reverenciam a fusão brasil e os aspectos de danças modernas/contemporâneas que se mesclam com os repertórios do estilo; o sentir, o tocar, o amparar, os cuidados, a solidão, o isolamento e o desejo do reencontro; a musicalidade múltipla, o entrelaçamento dos corpos femininos, a atmosfera de união e de bálsamo; os diversos ângulos e edições poéticas dos repertórios específicos do estilo de fusão que permitem ao espectador sulear novos rumos inspiradores para a pluralidade do corpo brasileiro que dança e do tribal no Brasil. 


Agradeço a Cia Lunay pela partilha da obra Infinitudes, por motivar sonhos tanto na cena tribal em Alagoas como também em todo o território brasileiro e, especialmente, por ser resistência da classe trabalhadora artística. Espero que Infinitudes possa aquecer o coração de vocês. Reflitam e desfrutem carinhosamente dessa obra maravilhosa.


Referência

LUNAY, CIA. Infinitudes. On-line, 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=elIWKu37i3c. Acesso em 22 de jun. 2021.


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Resenhando-AL


Ana Clara Oliveira (Maceió-AL) é dançarina e pesquisadora do estilo Tribal de Dança do Ventre. Professora de Dança na Escola Técnica de Artes (UFAL). Doutoranda em Artes (UFMG) onde pesquisa a formação no Tribal. Mestrado em Dança (UFBA). Diretora da Zambak Cia de Dança Tribal ... Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>

[Formação no Tribal] Conteúdo: Um trabalho pedagógico

por Ana Clara Oliveira

Paulo Freire | Ilustração de Alisson Afonso. Fonte: Brasil de fato, 2021

Nas matérias anteriores, contidas em janeiro e em abril, desenvolvemos uma introdução acerca da coluna FORMAÇÃO NO TRIBAL a partir dos temas respectivos, “Em que tempo estamos na formação” e “Quando sinto que já sei” (documentário). Em nossa matéria de hoje, partiremos de uma pergunta que me entusiasma enquanto professora do estilo tribal de dança do ventre: conteúdos - qual é o conhecimento que importa na nossa dança?

Sendo direta nesse assunto amplo, é do entendimento de conteúdo, apresentado de diversas formas pelo educador brasileiro Paulo Freire, que apoiaremos os argumentos que se iniciam na presente matéria. A escolha se justifica não somente pela admiração das obras educacionais e similitude na compreensão do trabalho pedagógico, como também, por estarmos no ano do Centenário de Paulo Freire. A ausência/presença do educador nos faz recordar a importância de pensar os conteúdos através do seu imenso legado.

No livro “Pedagogia da Tolerância”, 7ª edição no ano de 2020, que reúne uma coletânea de reflexões e diálogos, Freire discute com esperança a tolerância como qualidade de conviver com a diferença e a tolerância para com a incoerência das ações pedagógicas que em muitos casos, são atos desumanizantes. Por se tratar de uma obra com 934 páginas, podemos destacar um aspecto que serve de nutriente para ampliarmos a ideia de conteúdos para nossas aulas de dança.

1 “Mudar é difícil, mas é possível” (FREIRE, 2020, p. 181): um aspecto

Freire (2020, p. 183) expõe que “é impossível ser professor sem o sonho da mudança permanente das pessoas, das coisas e do mundo”. Admite que apesar da dificuldade que temos de mudar e até considerar o saber da transformação como um rigor de trabalho, esse elemento é um compromisso mútuo que fundamenta a prática educativa, inclusive a organização dos conteúdos. Sem ele, é impossível entender que ensinar conhecimentos não é transpor informações ao educando. Um ponto relevante para Freire é a curiosidade como fenômeno vital: 

“É a partir da descoberta de você como não eu meu que eu me volto sobre mim e me percebo como eu e, ao mesmo tempo, enquanto eu de mim, eu vivo o tu de você. É exatamente quando o meu eu vira um tu dele, que ele descobre o eu dele. É uma coisa formidável”. (FREIRE, 2020, p. 185)

Em outras palavras, a curiosidade é um motor da produção de conhecimento que inserida na prática transformadora de cada realidade se torna um caminho para o ensinar. Tal trajetória convoca a curiosidade do aluno e “quanto mais metodicamente rigorosa fica a curiosidade, tanto mais a curiosidade fica crítica” (p. 189), que o aluno se transmuta em sujeito da produção de saber que lhe é ensinado. Pensando no ensino do estilo tribal, por exemplo, o que interessa não é a memorização dos conteúdos/movimentos e sim, a curiosidade crítica e, portanto, fazedora de conhecimento onde o fato de decorar passos vem como consequência da aprendizagem repetitiva vívida, reflexiva e incessante. Para tanto, Freire apresenta que aprender só se faz quando se apreende, ou seja, aprendemos que ensinar conteúdos não é depositar conhecimentos, quando apreendemos verdadeiramente essa afirmação, no momento em que se faz a apreensão do significado profundo de tal discurso. Na transcrição de uma palestra contida nesse livro, ele diz:

Quando a gente entende que ensinar não é transferir conhecimento, a gente tem todo um campo pela frente para inventar maneiras de tratar, melhorar o objeto, o chamado conteúdo que a gente vai ensinar e certas abordagens dos conteúdos e certas maneiras de experimentar e possibilitar que o aluno se experimente na relação com o conteúdo, desde que entendamos os alunos e as alunas como sujeitos criadores e nós também – como é, por exemplo, que eu posso pensar em alunos e alunas criadores, se eu, como professor, estou amarrado a um pacote de orientações que me chegam[...]? (FREIRE, 2020, p. 190 -191)

Para irmos além desse pacote de instruções no caso do ensino do “antigo” chamado método ATS ou ainda, para ofertar saberes técnicos no campo do Tribal Fusion, será necessário correr risco no que se refere ao selecionar e organizar os conteúdos, e assim, obtermos criatividade, produção e mudança no aprenderensinar dança. Nas palavras de Freire: “não há curiosidade que não seja um permanente estado de risco, como não há criação humana que seja um permanente correr riscos, uma aventura” (p. 191). 

Aqui, não se pretende dizer os conteúdos que importam. Na realidade, os conteúdos na perspectiva freiriana possuem como base a tolerância de conviver com o diferente, não com o inferior, para desenhar a partir do diálogo os saberes necessários para cada realidade. No entanto, para não sairmos daqui com certa angústia por falta de respostas mais concretas, o nosso educador brasileiro responde: “eu penso que a educação de que nós precisamos é aquela que, ao mesmo tempo que se preocupa com a formação técnica e científica do educando, se preocupa também com o que chamo de desocultação das verdades” (p. 235). Isto é, aquela educação em dança que não distorce os fatos relacionados ao estilo e também aquela pedagogia comprometida com os oprimidos nas questões de classe, gênero e raça. Enfim, uma educação não-conteudista cuja prioridade é a centralidade docente e sim, uma pedagogia em dança a partir de conteúdos significativos que, desvelados respondem com criticidade os poderes dominantes dentro e fora da nossa comunidade de dança. Obviamente, isso não é uma tarefa fácil, por isso “mudar é difícil, mas é possível” (p.181). 

Certamente, continuaremos na próxima matéria com a exploração dos conteúdos que importam, de modo mais específico com os ensinamentos do Currículo Crítico-libertador de Paulo Freire para o estilo tribal. Finalizamos a presente matéria com a imagem da artista/professora/pesquisadora da dança, Camila Saraiva, que nos inspira aos novos olhares acerca da professoralidade em dança.

Camila Saraiva: ensaio fotográfico | Fotografia: Marcelo Delfino. Ano: 2016. Fonte: @camilasaraivadance


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² “Aprenderensinar” é um conceito desenvolvido pela artista/professora/pesquisadora da dança Neila Baldi. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/23643. Acesso em: 18 de maio de 2021.

³  “Professoralidade” é um termo desenvolvido pelo autor Marcos Vilella Pereira na obra Estética da Professoralidade: um estudo crítico sobre a formação do professor, ano 2013.

Referências

FREIRE, Paulo. PEDAGOGIA DA TOLER NCIA. Organização e notas Ana Maria Araújo Freire. 7ª edição. Rio de Janeiro/São Paulo: Editora Paz e Terra Editora, 2020.

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Formação no Tribal


Ana Clara Oliveira (Maceió-AL) é dançarina e pesquisadora do estilo Tribal de Dança do Ventre. Professora de Dança na Escola Técnica de Artes (UFAL). Doutoranda em Artes (UFMG) onde pesquisa a formação no Tribal. Mestrado em Dança (UFBA). Diretora da Zambak Cia de Dança Tribal ... Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>


[Resenhando-AL] 1, 2, 3... GRAVANDO! Um Solo na Caravana Tribal Nordeste!

por Ana Clara Oliveira

 

A vida é amiga da arte, é a parte que o sol me ensinou

O sol que atravessa essa estrada que nunca passou

(Gal Costa)

 

Fonte: arquivo pessoal

 

Nos dias 27 e 28 de março/2021, a Zambak Cia de Dança Tribal (AL) participou da Caravana Tribal Nordeste (CTNE) 2021 - Edição Especial com formato on-line, sob o financiamento da Lei Aldir Blanc – PE, SECULT - PE. A participação se deu através de duas ações: palestra/oficina e performance na mostra artística. Na figura de diretora da Zambak, desenvolvi as referidas atividades, intituladas, respectivamente, “O pensamento Decolonial e o Tribal no Brasil” e, o solo “Em que tempo sua dança está?”

A presente matéria aborda o solo coreográfico e o processo de gravação para o evento CTNE. Este trabalho artístico de 04 minutos, publicado no canal YouTube da Carvalho Studio de Dança, expõe um pouco das minhas experiências formadoras entrelaçadas pelo momento de resiliência nos tempos atuais. A coreografia possui como base algumas das técnicas que utilizo e as minhas desordens experienciadas na vida diária. Esses elementos ocasionaram uma dança que só é possível acontecer quando encarnada com os sentimentos e a própria realidade.

Assim, o solo apresenta uma dança de si contaminada pelas informações do meio e, certamente, se constitui como mais uma ferramenta artística para o acendimento do meu ser na conjuntura contemporânea. Diante da minha dor e do luto coletivo por causa da COVID-19, pergunto-me: em que tempo o meu mover se encontra? Tal mover não existe de modo individualizado, mas está exposto a experiência com o mundo. “Essa movimentação absorve fronteiras, cria um outro espaço de atuação e permite um fluxo de continuidade entre diferentes modos de perceber e dialogar no mundo” (SETENTA, 2008, p. 62). 

Nos últimos anos, tenho pensado demasiadamente na palavra “tempo”. Seja na pesquisa acadêmica ou artística, seja nas questões mais simples do dia a dia, o tempo penetra meus devaneios. Percebi com mais profundidade que o tempo embora seja um aspecto dos sujeitos, é elaborado por cada corpo de maneira singular devido aos acontecimentos que o afetam. Então, é impossível dizer que o tempo da minha dança é igual aos tempos de outras danças. Igualmente, não se trata de qualidades de tempo, mas sim de diferentes vulnerabilidades corpóreas diante de períodos tão incertos. Partindo dessa inquietação, provoco o público com a pergunta/nome do solo, com vistas a mostrar que a dança não está descolada do relacionamento com o tempo, nem afastada da existência.

Nesse contexto, prática não é apenas o meio pelo qual criamos obras a serem analisadas na pesquisa, ou processos de vida que passam a participar de procedimentos científicos. Mas esses procedimentos passam a ser definidos pela prática enquanto corpo vivo (soma) em pulsão espaço-temporal imprevisível. (FERNANDES, 2018, p. 187)

 

Fonte: arquivo pessoal


Para realizar esse solo que representou a Zambak na Caravana Tribal Nordeste, convidei a artista alagoana Juliana Barretto, doutora em antropologia pela Universidade Federal de Pernambuco, que capturou sensivelmente a proposta. A música “Força Estranha” do compositor Caetano Veloso, cantada por Gal Costa foi escolhida por retratar experiências e temporalidades do sujeito a partir de metáforas e certezas.

Força estranha expõe os motores de sua potência: lembrar e esquecer – os arranjos narrativos daquilo que o sujeito viu e viveu. A memória do sujeito narrador de Força estranha, sem a ordem restritiva do cronológico, consagra eventos múltiplos e diversos. A “organização” dessa unidade está mais próxima dos afetos [...] do que da sucessão dos fatos. Está mais perto da invenção poética – e, por isso, real. (REVISTA CAJU, 2016)[1]

Motivada pela canção e por todo o conjunto vivido na contemporaneidade, debrucei no processo de criação do solo. A seguir, destaco os aspectos importantes:


1. Proposta de improvisação

Nesse procedimento, adotei o ato de improvisar na tentativa de diluir e aterrar a sensibilidade. O fato de escutar a música e trabalhar constantemente a improvisação permitiu uma aproximação mais imediata com a proposta que elaborei para performar.


2. Estudo do pulso, do compasso e da pausa

O pulso é a marcação relevante da estrutura, repetido constantemente. Uma vez que a pulsação é o elemento do ritmo, passei a compreender o compasso que é o definidor da marcação rítmica. Em seguida, direcionei o foco para a pausa, ou seja, para qualquer silêncio que pudesse identificar. E assim, fazer escolhas criativas.


3.Coreografia

Com o repertório de movimentos da improvisação e o breve entendimento da música, selecionei momentos que mais me agradaram e, consequentemente, exerci a repetição como captura do mover. Cabe dizer que a ideia de repetição que se aproximou da proposta foi a descrita por Deleuze.

A repetição nem é a permanência do Uno nem a semelhança do múltiplo. O sujeito do eterno retorno não é o mesmo, mas o diferente, nem é o semelhante, mas o dissimilar, nem é o Uno, mas o múltiplo, nem é a necessidade, mas o acaso. (DELEUZE, 2000, p. 126)

 

4.Figurino, acessórios e maquiagem

A cor predominante no solo foi o vermelho - saia longa e rodada, choli e flores. Cada elemento escolhido foi um reforço a algum impulso interno ou alguma sensação e emoção, sempre em consonância com o estilo tribal de dança do ventre. Como a minha palestra/oficina foi sobre formas de decolonizar a dança, de modo mais sutil, retornei a imagem da Frida Kahlo, não no sentido representacional, mas como potência feminista. Não posso deixar de mencionar que a própria imagem da cantora Gal Costa no disco “Gal Tropical” (1979), mesma imagem usada no Spotify, também provocou um certo desejo não literal, mas de impulso organizacional. A maquiagem e o coque seguiram a proposta superando as minhas expectativas. Ambas, foram concepções da profissional alagoana Priscilla Lucena.

Fonte:arquivo pessoal


5. Cenário - Mirante São Gonçalo, Maceió (AL)

O mirante São Gonçalo está localizado na cidade de Maceió e desenha um belo ponto turístico. O mirante possibilita noções de profundidade do urbano e diversas perspectivas criativas, por esse motivo foi escolhido.

 

6. Captura de imagens e edição


A coreografia foi gravada numa tarde ensolarada e quente de uma segunda-feira. Seguindo os protocolos de segurança, optamos por usar um dia de feriado na cidade, pois o ambiente estaria vazio. Gravamos 05 vezes a mesma coreografia com ângulos distintos, sendo a primeira gravação um teste simples. O segundo ângulo, mais amplo e aberto, capturou toda a dimensão coreografada. O terceiro ângulo, com enquadramento específico, conquistou a ideia de imagem de baixo para cima, tendo o sol como plano de fundo. No quarto ângulo, me posicionei de frente para o sol e de costas para a câmera a fim de salientar o trabalho natural dos raios de sol no corpo. Por fim, o quinto ângulo que enfatizou os detalhes faciais e de alguns gestos, escolhidos propositalmente. Na edição, obtive duas propostas da profissional Juliana Barretto. A primeira, mais focalizada como vídeo-dança com colagens criativas que transformaram a obra coreográfica em quase que numa outra dança. A segunda versão, mais fiel à dança coreografada com utilização de colagens respeitando à musicalidade. Optei pela segunda edição como produto final para a CNTE 2021. Mas, confesso que também fiquei encantada pela primeira versão.

Fonte: arquivo pessoal


A seguir, algumas imagens do vídeo (solo):

 

Fonte: arquivo Caravana Tribal Nordeste

Fonte: arquivo Caravana Tribal Nordeste


 

Para finalizar, deixo o link do solo:

Espero que tenham gostado dessa matéria. Agradeço as profissionais Juliana Barretto e Priscilla Lucena pelos trabalhos e afetos.

Na próxima matéria do RESENHANDO-AL almejo trazer a minha experiência como espectadora do belíssimo show – Mostra Artística CTNE 2021.

Até lá!


Referências

DAVINO, Leonardo. Caetano Veloso, Força Estranha. In: CAJU, Revista. Disponível em: <http://revistacaju.com.br/2016/08/04/narrar-forca-estranha/>. Acesso em: 12 de abr.2021.

DELEUZE, Gilles. Diferença e Repetição. Lisboa: Relógio d’Água, 2000.

FERNANDEZ, Ciane. Dança Cristal: da Arte do Movimento à Abordagem Somático-Performativa. Contribuições de Melina Scialom e Dalton Carneiro. Salvador: EDUFBA, 2018.

SETENTA, Jussara. O fazer-dizer do corpo: dança e performatividade. Salvador: EDUFBA, 2008.

 


[1] Disponível em: http://revistacaju.com.br/2016/08/04/narrar-forca-estranha/. Acesso em: 12 de abr.2021.

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Resenhando-AL


Ana Clara Oliveira (Maceió-AL) é dançarina e pesquisadora do estilo Tribal de Dança do Ventre. Professora de Dança na Escola Técnica de Artes (UFAL). Doutoranda em Artes (UFMG) onde pesquisa a formação no Tribal. Mestrado em Dança (UFBA). Diretora da Zambak Cia de Dança Tribal ... Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>

[Formação no Tribal] "Quando sinto que já sei." (Documentário)

por Ana Clara Oliveira

Na matéria do mês de janeiro introduzi a coluna com o título “Em que tempo estamos na formação?” Convoquei a nossa comunidade para refletir acerca da palavra “formação” e trouxe para o debate as seguintes questões: é função das capacitações e escolas de formação em tribal abarcar as resistências dos oprimidos e compreender suas experiências de opressão, sobretudo, do Estado? Ou deveríamos focalizar apenas no universo de técnicas estabelecidas e práticas cada vez mais eficientes e inovadoras do mercado? Ao final, sugeri a ideia de que o acolhimento das reflexões, das teorias e das vivências do cotidiano na sala de aula, não é sinônimo de abandonar o aprendizado de técnicas. Ambos os caminhos, podem coexistir como potência no corpo que dança. Então, que este agenciamento possa habitar na nossa dança!

No presente texto, trago como contribuição o documentário intitulado “Quando sinto que já sei”  (2014) publicado no canal YouTube da Vekante Educação e Cultura. A obra cinematográfica de 78 minutos expõe as práticas educacionais inovadoras ocorridas no Brasil. Através do documentário, esta matéria propõe inspirar as pedagogias do estilo Tribal de dança e quem sabe sulear entendimentos distintos da lógica dominante, puramente reprodutora do saber. O longa-metragem brasileiro “Quando sinto que já sei”  dos cineastas Antonio Sagrado Lovato, Raul Perez e Anderson Lima é um projeto independente apresentado por Despertar Filmes, realizado com a colaboração de 487 coprodutores e financiado coletivamente via Catarse. 

O filme reúne discussões acerca do ensino convencional brasileiro por meio dos depoimentos de pais, alunos, professores e alguns profissionais que também questionam o modelo tradicional de escola. Paralelamente, ilumina a importância dos valores sociais para a formação humana. No tempo de dois anos, os diretores cineastas visitaram oito cidades brasileiras e dez espaços educacionais com projetos que possuem novos caminhos para uma pedagogia mais autônoma e afetiva. 

Tendo em vista a duração do vídeo, não farei um relato descritivo, tampouco uma análise profunda dos seus aspectos. No entanto, deixo aqui o convite para a apreciação do filme. Isto posto, destaco falas estimulantes que podem tecer um paralelo com o campo pedagógico do Tribal.

Tião Rocha – Educador e Idealizador do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento CPCD), inicia com a primeira narrativa de impacto ao contar que ouviu de uma diretora a seguinte frase: “as crianças são uma página em branco onde devemos escrever um belo livro”. Ele complementa: “se uma diretora de escola considera uma criança como uma página em branco, ela não entende nada de menino”. Traçando um paralelo com a pedagogia do Tribal, pergunto: de que maneira tratamos os conhecimentos que o discente já possui? Ou não incorporamos os saberes produzidos pelos educandos nas suas experiências cotidianas? A ideia da página em branco até este momento existe na educação em dança?

José Pacheco – Educador e Idealizador da Escola da Ponte e colaborador no Projeto Âncora, ressalta que o formato de escola que conhecemos é uma invenção do ocidente, principalmente, dos séculos 18 e 19 com as intenções Iluministas e no caso do Brasil, com a segmentação cartesiana, o positivismo e também com a influência dos jesuítas. Ao dizer que a escola do passado está viva no presente, ele expõe alguns trechos que podem alimentar as reflexões acerca das práticas de ensino do Tribal, tanto no âmbito formal e quanto no espaço informal: 

“Quando se diz que a escola não mudou é porque ela deixou de fazer sentido enquanto construção social que sobrevive e provoca milhões de analfabetos, que provoca muita infelicidade e muito desperdício de gente. Essa escola não mudou por uma razão. Ela hoje não tem qualquer suporte nem do bom senso, quanto mais da ciência”.

“A educação não se faz para a cidadania, faz na cidadania, no exercício da liberdade responsável. Perceber o que somos, onde estamos, para onde vamos com o outro [...] Nós não queremos aula, nós queremos que a todo momento todos se manifestem na sua incompletude [...] E na sua incompletude comparando com problemas e conflitos, um com o outro, aprenda mediado por um educador a ser e a conviver”.

“A aprendizagem acontece a qualquer momento e raramente acontece durante a aula. Eu penso que muito mais acontece no recreio do que numa aula”.

“Só se aprende quando perante algo [...] alguém se interroga, alguém se aproxima e os dois com relação a fonte de conhecimento [...] fazem um combinado, ou seja, um projeto e quando isso acontece a aprendizagem deixa de ser centrada no tradicional aprendente que é o aluno, deixa de estar centrada no tradicional ensinante que é o professor de currículo, para estar centrada na relação. Está tudo centrado na relação e é na qualidade da relação [..]. que a informação é transformada em conhecimento [...] eu vou entendê-lo e vou procurar o consenso [...] há espaço direto, eu e tu, tu e eu, e no meio, na relação está resposta”.

Márcia Roberto da Silva – Diretora da Escola Municipal André Urani, relata a função do professor ao dizer que “ele deixa de ser professor e passa a ser o professor-mentor, quer dizer, como a palavra mesmo diz ele é o cara que vai mediar essa aprendizagem do aluno, então é uma quebra total de paradigmas”. Pensando na dança, temos deixado o professor-mentor florescer nas aulas, sejam elas teóricas ou práticas?

No decorrer do filme, surge a ideia do professor como estimulador de um novo estudante e de um novo sujeito que recebe o conhecimento como um desafio. Sobre os desafios, a estruturação das aulas e os conteúdos, a estudante Clélia Moreira de Macedo (IINN-ELS) salienta: “primeiro, dar direito a voz ao aluno [...] nas salas alunos de novo ano, sexto, sétimo, de idades diferentes, todo mundo junto, isso é bom, há uma socialização de idades e ideias diferentes [...] um jornal, um assunto nós trazemos para aula”. Abro um espaço para questionar: como são organizadas as aulas de Tribal? Separamos os nossos alunos por habilidades? Reconhecemos a voz do Outro? Como trabalhamos?

Ivana Jauregui Gini – Educadora Escola Livre Inkiri declara: “nossa escola é uma escola livre, é uma escola não-diretiva [...] não direciona a expressão do ser, aqui a gente acredita que cada um tem dentro de si a sua evolução [...] o que a gente faz é criar um espaço protegido onde a criança pode expressar quem ela é [...]. Na escola livre tem muitas regras, tem disciplina e tem ordem [...] aqui não xingamos, aqui não batemos, aqui não desrespeitamos alguém [...] são limites na verdade que não limitam, por exemplo, não corremos dentro da sala, mas corremos fora. Você sempre pode fazer o que você quer, mas com respeito e no lugar correto, no mesmo tempo, que a criança ganha sua força de expressão, ela também aprende a como conviver em harmonia e respeito com todo mundo”. 

Outra fala encantadora surge: “a desculpa em si às vezes não é o bastante [...] se eu peço desculpa e isso é o bastante, pronto eu já esqueci tudo que poderia aprender com essa situação, já ignorei então, tem que tomar cuidado porque a desculpa muitas vezes faz a gente pular a parte importante que é a rever, resgatar”. Ambos os trechos me fizeram refletir sobre ética, afetos e convivência na dança. Como a nossa comunidade discute tais aspectos? Qual a importância de compreender a ética na educação em dança?  

A respeito da relação professor-aluno destaco esta fala envolvente: “não é para, é com, o professor com o aluno, não é o aluno para o professor ou o professor para aluno [...] aprender para a vida, aprender para construir, aprender para equilibrar, aprender para ousar”. Assim, “há uma relação entre a alegria necessária à atividade educativa e a esperança. A esperança de que professor e alunos juntos podem aprender ensinar, inquietar-nos, produzir e juntos igualmente resistir aos obstáculos a nossa alegria” (FREIRE, 2015, p. 70).

Com esta matéria, findo a introdução da coluna FORMAÇÃO. Na próxima publicação, abordarei o primeiro tema: “conteúdos - qual é o conhecimento que importa na nossa dança?” 

Então, convido vocês para acompanhar a coluna!

Vamos conversar?

Referências

FREIRE, Paulo. PEDAGOGIA DA AUTONOMIA. Saberes Necessários à Prática Educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra Editora, 2015.

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Formação no Tribal


Ana Clara Oliveira (Maceió-AL) é dançarina e pesquisadora do estilo Tribal de Dança do Ventre. Professora de Dança na Escola Técnica de Artes (UFAL). Doutoranda em Artes (UFMG) onde pesquisa a formação no Tribal. Mestrado em Dança (UFBA). Diretora da Zambak Cia de Dança Tribal ... Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>

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