[Resenhando-CE] Espetáculo Templo da Lua 2018

por Sarah Raquel
Foto de Jean Ribeiro

Templo da Lua é um festival organizado pelo Espaço Rayzel, uma escola de dança árabe, danças ciganas e tribal fusion em Fortaleza. Apesar de ser um festival anual, a cada edição é abordada uma temática, mas diferentemente das duas primeiras, esta foi transformada e pensada em forma de um espetáculo sensorial.

O espetáculo aconteceu no dia 26 de maio de 2018 e a ideia dele era que trouxesse para as cenas cores, cheiros e imagens que dançassem juntos com os corpos criando uma atmosfera mágica. Se constitui de sete contos que se passam em épocas e lugares diferentes mas que têm em comum a imagens de rituais, deusas e mulheres. Como a magia e os cultos ao feminino atravessam fronteiras e o próprio tempo e se reinventam em cada uma de nós.

Para isso foi necessário muita pesquisa sobre deusas em várias culturas, antiga suméria, Egito, índia, povos ciganos, África, povos celtas e fantasia. Os círculos de mulheres sempre existiram e sempre existirão. E com muito respeito e licença poéticas as histórias dançadas para o Templo da Lua. Em especial, esta edição reuniu coreografias de dançarinas profissionais e amadoras do Espaço Rayzel e de duas Cias: a Lunith e Etinique Tribe, mais dançarinas convidadas.

Cia Lunith e Etinique | Foto de Jean Ribeiro
Para finalizar, tendo participado de três edições, esta foi a favorita entre todas. Pela organização do espetáculo e todo o cuidado em respeitar a proposta do sensorial, um verdadeiro show visual com iluminação de palco calculadamente pensado, projeções que trouxeram algo palpável ao público e músicas que respeitavam a época e proposta de cada história contada.

Sendo uma das bailarinas convidadas, é incrível estar novamente rodeada com as mulheres do Espaço Rayzel. No mais, aguardo ansiosamente pelos vídeos do espetáculo, onde será possível ver pelo youtube oficial da escola.

Cena Afrodite | Foto de Jean Ribeiro

Cena Hecate | Foto de Jean Ribeiro

Cena Oxum | Foto de Jean Ribeiro

Cena Cigana | Foto de Jean Ribeiro





[Folclore em Dia] Ouled Nail

por Nadja El Balady



Este texto foi baseado nos artigos “The Ouled Nail” de Maggie Mcneil e “Dancing for Dowries part 2 – Earning Power, Ethnology and happily ever after” de Andrea Deagon.

No sul da Argélia, nas montanhas do Atlas, desde tempos imemoriais até hoje em dia (ainda) encontramos diversas tribos berberes vivendo e, de acordo com o possível, mantendo suas tradições. Estas tribos, islamizadas entre os séculos VII e VIII, têm seus nomes antecedidos pela palavra “ouled”, que funciona como um tipo de designação: Ouled Abdi; Ouled Daoud; Ouled Nail. Suas tradições se tornaram, a partir da década de 60, objeto de estudo das dançarinas de dança oriental no ocidente, sobre tudo das norte-americanas, que passaram a usar elementos desta etnia como inspiração para suas criações em dança.


Dentre as tribos citadas, Ouled Nail (leia-se: "wil-ed na-il") ganharam maior atenção por conta das características memoráveis das suas tradições femininas. Diversos pesquisadores ocidentais se interessaram pelo tema e em comum encontraram a informação de que as mulheres desta tribo, chamadas Nailiyat (singular Nailiya), costumavam se dedicar à dança e às artes eróticas durante um determinado período de sua vida. Segundo Maggie Macneil, as meninas nailiyat não eram forçadas a exercer esta atividade, possuíam poder de escolha e ainda assim muitas delas optavam por este caminho. 

A partir dos 12 anos, as meninas eram ensinadas por mulheres mais velhas da família (que poderia ser a mãe, uma avó, uma irmã mais velha, uma prima ou uma tia) e eram levadas para as cidades abaixo das montanhas para viver durante uma parte do ano e a trabalhar como dançarinas e prostitutas. Estas mulheres mais velhas eram responsáveis pelo bem estar da menina, cuidavam da casa e ajudavam a administrar os negócios. Esta era uma tradição que objetivava acumular dinheiro e joias de modo que, ao retornar definitivamente para suas vilas de origem, esta menina, já tornada mulher, pudesse ter independência financeira, pudesse comprar uma casa própria, investir em um negócio e, se quisesse, procurar casamento. Ao se casarem, tomavam uma vida comum, em um casamento fiel, como se espera de toda mulher casada.


Ninguém sabe dizer ao certo o período de origem desta tradição, mas é provável que seja muita antiga, anterior ao Islã, pois foram encontrados registros da presença das nailiyat na ocasião da chegada dos árabes na cidade de Bou Saâda no século VII. Bou Saâda (que significa “Lugar da Alegria”) era um dos principais destinos das nailiyat para sua morada temporária e comunidades inteiras compostas apenas por mulheres eram encontradas por lá. 

Nestas comunidades, segundo Andrea Deagon, os homens eram admitidos temporariamente como amigos, aliados, admiradores, parceiros de negócios ou parceiros sexuais, mas nunca em caráter definitivo. Algumas mulheres não chegavam a voltar para sua vila natal, preferindo a vida na cidade, abriam negócios, ou se casavam com estrangeiros.


Segundo Marnia Lazreg (1994), as mulheres das tribos Ouled Abdi e Ouled Daoud, conhecidas como Azriyat, também tomavam as profissões de dançarinas e prostitutas, mas somente quando eram órfãs, se tornavam viúvas, divorciadas, repudiadas, incapazes de se casar por algum motivo. Exerciam estas atividades até que conseguissem casar ou permaneciam sós.

É possível que a tribo Ouled Nail, tanto mulheres quanto homens, cultivassem conceitos diferenciados a respeito de sexo, casamento e amor. Encontramos no texto de Maggie Macneil uma passagem retirada do livro “Flute of Sand” (1956) de Lawrece Morgan que nos dá uma pista a respeito. Trata-se de depoimento de um homem da tribo sobre o casamento com uma mulher que tivesse seguido a tradição: 

 “Nossas esposas, sabendo o que é o amor, e sendo proprietárias de sua própria riqueza, vão casar apenas com o homem a quem amarem.  E, diferentes das esposas de outros homens, vão permanecer fiéis até a morte, graças a Allah.” 


Alguns pesquisadores adotam a linha de pensamento que as nailiyat dançavam para acumular dote, que o dinheiro arrecadado servia para atrair bons partidos. Esta ideia se tornou popular entre algumas dançarinas norte-americanas, ignorando sua prostituição e menosprezando sua independência financeira. É possível que esta interpretação seja fruto direto do machismo vigente no pensamento ocidental e tem origem na interpretação de observadores franceses que desde a ocupação francesa na Argélia, em 1830, que consideravam a tradição das nailiyat como uma espécie de rito de passagem antes do casamento. Andrea Deagon aponta para a importância de não diminuir, ou omitir, a atividade de prostituição destas mulheres, pois era um aspecto de uma cultura complexa onde as mulheres eram sexualmente livres e independente financeiramente.

Segundo Maggie Macneil, o contato com a cultura europeia, a partir da ocupação francesa, ao mesmo tempo em que as fizeram famosas, se tornando objeto de pinturas de artistas do período orientalista, trouxe a estas mulheres grandes transformações. Ainda na virada do século XIX para o século XX, mercenários franceses matavam as mulheres para roubar seu dinheiro e suas joias. Oficiais franceses passaram a sobretaxar as viagens e a residência em outras cidades que não suas vilas de origem. Durante a primeira guerra mundial, foram coagidas a trabalhar em cafés e casas específicas onde eram exploradas por homens. Algumas aderiram aos bordéis móveis de campanha, usados pelo exército francês até 1954 e pela legião estrangeira até a década de 90. 


No final da segunda guerra mundial, a vida de todo o povo berbere argelino mudou muito, pois o governo autoritário da época os obrigou a trabalhar nos campos da agricultura estatal.

Na década de 70, a dançarina norte-americana Aisha Ali encontrou um pequeno grupo de mulheres ainda vivendo e dançando em Bou Saâda. Sua pesquisa nos deixou registro muito importante do modo como se vestiam e movimentavam. A estética de movimento e figuro influenciou diretamente Jamila Salimpour e seu trabalho no grupo Bal Anat e como consequência, todo o Estilo Tribal de Dança do Ventre.

Seu modo de dançar, apesar de cobertas dos pés à cabeça, era considerado lascivo e escandaloso pelos estrangeiros. Muitos movimentos de encaixe pélvico e redondos, shimmies de ombro, lateralização de cabeça, movimentos de mão, cambrés, giros e o uso ocasional de lenços em ambas as mãos.

Vídeos de referência:








[Resenhando Internacional] The Massive Spectacular 2018

por Joline Andrade


Quando tudo começou...
Esta foi a minha quarta participação no Tribal Massive e Massive Spectacular (já pude desfrutar desse evento nas edições de 2013, 2015 e 2016). A oportunidade surgiu quando recebi um e-mail de Tori Halfon, diretora do evento, em meados de 2012 me convidando para fazer parte das aulas e do show principal. Neste e-mail ela relata que me contatou após acompanhar meu desempenho nos vídeos postados na internet e que gostaria de ter o meu trabalho entre os outros do lineup. Fiquei surpresa e muito lisonjeada com o convite e, desde então, participo sempre que posso.

A primeira edição em que estive presente, em 2013, foi a mais emocionante de todas. Por ter sido minha estreia no intensivo de aulas e no show, muitas sensações tomaram conta de mim: um mix de nervosismo e alegria me acompanharam do início ao fim, afinal era a primeira vez que eu dividia o palco e a sala de aula com profissionais tão renomados e talentosos. Fui muito bem recebida e acolhida por todos (diretora, professores e colegas) o que me fez querer fazer parte daquilo mais vezes. Nas edições de 2015, 2016 e 2018 me senti completamente ambientada e pertencente àquela comunidade de dança e o nervosismo deu lugar ao entusiasmo e a segurança.


Tori Halfon e Joline Andrade

Preparação
Em todas as edições que estive presente concorri a projetos de financiamento de intercâmbio de artistas da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia e do Ministério da Cultura. Fui contemplada em 2 deles, o que me permitiu participar de 2 edições com as despesas totalmente custeadas. Nos outros 2 em que não tive projeto contemplado em editais precisei reunir fundos particularmente.

Sempre animada com o conteúdo programático das aulas e ciente do necessidade de preparo para poder fazer 8 horas de práticas diárias no período de uma ou duas semanas consecutivas, frequentei aulas de Vinyasa Flow Yoga meses antes do evento para harmonizar o corpo em todas as suas esferas físico-psicológicas agregando resistência muscular e equilíbrio emocional em uma só prática.

Desafios e expectativas antes do evento
Eu já imaginava que minhas expectativas seriam superadas a cada edição do Tribal Massive e, na medida que eu conhecia mais profundamente o trabalho de cada profissional, me permiti confiar e entregar de corpo e alma às propostas técnicas e laboratoriais. Tinha receio de encontrar professores dogmáticos e fundamentalistas, com verdades absolutas, mas o que acessei ali foi o trabalho de artistas que buscam renovar e inovar cada vez mais as próprias produções e estimular os seus seguidores criativamente para tornar a comunidade de dança mais democrática e diversificada em suas fusões, o que me fez cair de amores por cada uma delas.






Novidades da edição de 2018 
Uma mudança que tenho observado no decorrer de cada edição é a opção da diretora/curadora Tori Halfon de oferecer um elenco mais enxuto de professores com carga horária de trabalho mais extensa. Em 2013, por exemplo, eu fiz aulas com Zoe Jakes, Kami Liddle, Sharon Kihara, Mira Betz, Lady Fred, Sera Solstice, Jill Parker e Heather Stants. Já em 2018 as aulas foram ministradas apenas por Zoe Jakes, Kami Liddle, Mira Betz e April Rose. Por um lado, com o elenco mais concentrado os participantes podem desfrutar mais profundamente das pesquisas de cada professor, permitindo um aproveitamento maior dos conhecimentos compartilhados em sala (qualidade). Por outro lado, um elenco maior dava a oportunidade de estudar uma pluralidade de conteúdos com mais profissionais, mesmo que de maneira mais breve (quantidade).

Além disso, observo uma forte tendência das professoras em trabalhar FUSÕES com outras técnicas de dança como também uma retomada no estudo da dança do ventre tradicional (um profundo mergulho nas tradições das danças do Oriente Médio), dando-nos subsídio para descobrir formas de expressão heterogêneas e consistentes e para buscar uma voz interior, um estilo pessoal. Eu estou contente de ver que esta comunidade está evoluindo e cada vez mais aberta ao estudo de novas linguagens de dança sejam elas contemporâneas, modernas ou tradicionais. Essas mudanças estão nos permitindo expandir, como alquimistas, as possibilidades de experimentação nos garantindo uma ascensão como intérprete-criadores.


Percusso para o evento
Esta foi a primeira edição que estive numa casa alugada através do AirBnb, junto com outras colegas. Nas edições anteriores me hospedei no Boulder Station Hotel & Casino. Foi a melhor estadia de todas por dois grandes motivos: o primeiro por poder compartilhar a rotina com outras dançarinas e o segundo por estar num ambiente mais saudável, longe da atmosfera “down” e pesada de um casino. Diferente das experiências que tive no Boulder Station (barulho, cigarro e bebidas 24 horas por dia no térreo), o cotidiano da casa era maravilhoso. Me senti como se estivesse na universidade novamente, numa residência artística. Éramos 6 pessoas numa casa de 4 quartos: eu, Sundari (Croácia), Kerima (Suíça), Stacey (EUA), Austine (EUA) e Rachel (EUA). A casa tinha uma super estrutura e nos acolheu muito bem. Cozinhamos, brindamos, conversamos, trabalhamos e dançamos muuuuito juntas (havia uma sala enorme e empurramos os móveis para ensaiarmos os nossos solos). A casa ficava a 5min do estúdio de dança e juntas pegávamos o Uber diariamente para ir e voltar.

Infra-estrutura do evento
A infraestrutura do estúdio onde as aulas do Tribal Massive ocorrem e do teatro que recebe as performances do Massive Spectacular é exemplar. O Backstage Dance Studio tem salas amplas, com espelhos, piso, iluminação e controle de temperatura ideais para um prática intensa e prolongada de dança. Em 2018, o Massive Spectacular ocorreu em um teatro diferente das edições anteriores. Desta vez dançamos no Sam’s Town Live, um espaço ainda melhor com equipamentos de luz e som mais profissionais, palco mais amplo e camarins mais confortáveis. Neste ano, inclusive, podíamos assistir todo o show através da transmissão em tempo real em TVs nos camarins. Esta super produção, dirigida por Tori Halfon, me faz ter certeza que participar deste evento é um grande investimento, pois de fato a estrutura oferecida gera um verdadeiro aproveitamento de todas as experiências que podem ser vividas alí.


Workshops
  

Tori e professoras oferecem a opção de turma Profissional com apenas 18 dançarinxs selecionadxs. Mesmo tendo o aval delas para estar nesta turma, em 2018 optei mais uma vez por participar da turma Avançada/Profissional, com 40 dançarinxs, pois fazer parte do grupo reduzido aumentaria a minha inscrição em $500USD (cerca de R$1800,00 a mais). As turmas PRO e ADV/PRO têm o mesmo conteúdo programático, com os mesmos professores. Há uma pequena diferença na carga horária com um e outro professor: na ADV/PRO temos 4 horas a mais de aula com Zoe enquanto na PRO há 4 horas a mais com Mira. No cronograma de aulas da ADV/PRO começamos as aulas com Zoe e Kami, no início da semana, e finalizamos com April e Mira, sendo o turno matutino com uma professora e o vespertino com a outra.


Curso com Zoe Jakes

As primeiras aulas são ao mesmo tempo estimuladoras e muito exaustivas. Como eu não tenho o hábito de praticar 8 horas de dança diariamente o meu corpo passou a responder melhor aos exercícios somente no segundo dia quando pude ultrapassar o ponto de fadiga muscular e atingir uma resistência e melhor propriocepção. Após superar esta condição física, as informações puderam ser melhor processadas e aproveitadas.

Os temas de aula possuem uma diversidade muito grande e cada um contribuiu significativamente em minha formação com suas especificidades. 


Joline e Zoe Jakes

Zoe está cada vez mais dedicada as técnicas circenses e aos exercícios de layerings. Suas aulas apresentam os conteúdos mais intensos tecnicamente e eu adoro isso. Além disso, Zoe trouxe muitos dos movimentos do tribal old school, todos baseados no formato de Jamila Salimpour, numa proposta laboratorial de composição, estrutura de aula que também costumo aplicar em meus cursos.



Joline e Kami Liddle

Kami Liddle apresentou este ano suas novas pesquisas com dança contemporânea e foi ótimo revisitar alguns métodos que já estudei na universidade com o olhar e mecanismos de fusão de Kami. Os aquecimentos feitos através de técnicas do Buti Yoga e a aula de imersão em shimmies também foram muito estimulantes. 


Joline e April Rose

April nos fez mergulhar novamente no estudo rítmico e de movimentos da dança do ventre clássica erudita, dando-nos um aporte teórico profundo e cheio de complexidade, como de praxe (como acadêmica, April também faz um excelente trabalho). 

Joline e Mira Betz

Por fim, Mira Betz ministrou aulas teórico-práticas de sua nova pesquisa em otimização do sistema neuromuscular, além dos laboratórios de experimentação e jogos teatrais que fazem parte do seu repertório.

Para mim o maior desafio deste ano foi dedicar total energia nos 9 dias de aula, com carga horária extensa e intensa, sem deixar de manter o foco no show Massive Spectacular que ocorreu, diferentemente dos outros anos, no último dia da programação do evento. A exaustão física, psíquica e emocional tiveram que ser severamente combatidas para que o meu desempenho na apresentação do solo, no nono dia da programação, pudesse ser do nível que eu almejei. Mesmo diante deste desafio, estou satisfeita com o resultado.

Na minha opinião, não houveram cobranças nem tampouco postura autoritária por parte dos professores. Havia um desejo de presença (prontidão física e mental) e correspondência aos exercícios propostos, principalmente os laboratoriais.


Curso com April Rose



Fission X The Massive Spectacular

Fission é o espaço que as participantes têm para apresentar seus trabalhos. Neste show a formação do elenco é por livre demanda, isto é, a oportunidade de apresentar é dada para cada dançarina envolvida no evento. As incríveis coreografias criadas nos Intensivos com Amy Sigil e Jill Parker também foram apresentadas no Fission.

O Massive Spectacular é um show que tem a curadoria de Tori Halfon (ela seleciona os artistas que irão compor o elenco). Geralmente as professoras levam seus trabalhos de grupo e solos, como também outros grupos e solistas renomados são convocados para participar. Nesta edição, o show foi divido em 2 atos. Meu solo foi apresentado ao final do segundo ato, junto com Zoe e seu grupo Coven, Kami Liddle, April Rose, Amy Sigil, Jill Parker, Michelle Sorensen, Claudia Carbone, Sera e seu grupo Solstice Tribe, Kelli Li e Kimberly Larkspur.

Apresentações favoritas


Zoe Jakes & Coven (EUA):




Mira Betz (EUA):




Jill Parker (EUA): 





Claudia Carbone (Itália):



Michelle Sorensen (EUA):






Performance & Experiências

Joline com Aco Yamazaki, Hannah Lily, Antonella Sciahinna,
 Kerima Edmond, Sundari Sunchi, Michelle Sorensen e Kami Liddle


Joline, Sundari, Antonella Sciahina e Hannah Lily 

Joline e Sera Solstice 
Joline e Serena Spears



Joline e Christina Hidalgo 

Joline e Claudia Carbone

Joline e Jill Parker

Partilhar do palco, bastidores e da sala de aula com toda essa gente talentosa e inspiradora é um sentimento indescritível. Estar ali é o resultado de um trabalho cotidiano, duro e envolto de amor. Carrego desde jovem uma energia que me move adiante, que não me faz estagnar, mas acredito muito que parte das minhas conquistas veio do estímulo que tenho das minhas alunas, colegas e familiares. Quero então aproveitar o ensejo para agradecer cada uma das pessoas que me acompanham, colaboram e alimentam o meu trabalho e dizer que participar do Tribal Massive e Massive Spectacular, às vezes como única brasileira, às vezes como a única Latina, é também uma conquista motivada por vocês! Muito obrigada por fazerem parte disso!!!



O novo solo chamado "Soprano Dance" é uma fusão do meu repertório de tribal fusion com dança clássica e moderna. Foi a quinta vez que apresentei este trabalho num palco (já havia dançado em Maceió, Fortaleza, Buenos Aires e Camaçari). Soprano Dance é dividido em duas partes: a primeira com a música lenta e dramática The Host of Seraphim (conduzida pela voz da fantástica soprano australiana Lisa Gerard e a banda Dead Can Dance) e a segunda mais explosiva e estimulante com uma versão eletrônica da música Syla Doli (da soprano ucraniana Solomiya Krushelnytska) tendo mais velocidade e drama, causando intimidação para o público. É um solo que traz uma atmosfera etérea, fluida e delicada e, ao mesmo tempo, densa, escura e intrigante. O figurino tem uma estética clássica/vintage e esvoaçante: tutu preto romântico e top de renda confeccionados pela estilista Jacqueline Teixeira (minha mãe), e uma coroa prateada do atelier venezuelano MaMa Desings.

Tive excelentes feedbacks das professoras e colegas de classe. Após assistirem ao solo passaram a me chamar de "Black Swan" no backstage. Rs! Creio que pude tocá-las de alguma forma e espero que o público em geral tenha uma boa receptividade quando o vídeo for lançado.

Sem dúvidas pretendo participar novamente das próximas edições! Tive os melhores e maiores aprendizados de uma comunidade que se apoia, respeita, inspira e estimula!






Mitos e verdades sobre o festival

É um festival feito para muitos! O nível ADV/PRO e os intensivos que ocorrem paralelamente ao programa principal apesar de possuírem pré-requisitos, têm uma flexibilidade em relação a prática dx dançarinx, podendo ser elx experiente em dança do ventre e/ou tribal. Em minha visão, dançarinxs com experiência a partir de 3 anos poderão aproveitar bastante e ter um bom rendimento nas aulas. É ideal para quem gosta de ser desafiado, seja técnica ou criativamente.

Pontos positivos

O Tribal Massive e Massive Spectacular oferecem os conteúdos e produções artísticas mais atuais do universo da dança tribal e sua fusões. É um ambiente provocativo e germinador de fusões autorais e bem embasadas.

Pontos negativos
O único ponto negativo é a localização do evento. Eu, particularmente, não gosto da cidade de Las Vegas, do ambiente dos casinos e atmosfera de festas e entretenimento artificial 24 horas por dia. Porém como estamos imersos nas atividades do festival, essas questões não afetam potencialmente o seu desenrolar.



Inspirações para a comunidade brasileira
Gostaria de ver mais eventos brasileiros dedicados a fusões do tribal com outras linguagens de dança. Que xs dançarinxs locais expandissem seus estudos buscando outras técnicas, métodos, fontes de inspiração, assim como artistas competentes de outras linguagens pudessem colaborar com as misturas interculturais que esse tipo de fusão demanda. Criaríamos uma rede de profissionais ainda mais competentes e multifacetados!

Dicas e conselhos
Junte suas economias e faça esse favor a si mesmo! Este é o tipo de festival libertador que propicia um real intercâmbio com artistas de todo o mundo que compartilham da mesma frequência: aprender, criar e evoluir!



[Venenum Saltationes] A Dança & O Tarot - O Louco

por Hölle Carogne

Sveta Dorosheva

93!


Bem-vindos à Venenum Saltationes!


Iniciaremos nosso estudo sobre "A Dança & O Tarot" com a carta "O Louco".

Por quê? Porque ela é tanto a carta 0, quanto a carta 22. É o início e o fim.

Representa o sopro de Deus, a origem, o verbo, o ínicio.

Para Crowley “esta carta é atribuída à letra Aleph, que significa boi. É a primeira das letras-mãe, Aleph, Mem e Shin que correspondem, de várias maneiras entrelaçadas, a todas as tríades que ocorrem nestas cartas, notadamente fogo, água e ar; Pai, Mãe e Filho; enxofre, sal e mercúrio; Rajas, Sattvas e Tamas. 

Em inglês: "Fool" deriva de follis, saco de vento, de sorte que até a etimologia concede a atribuição ao ar. Além disso, inflar as bochechas é um gesto que sugere estar pronto para criar, na linguagem de sinais de Nápoles. No baralho medieval, o título da carta é Le Mat, adaptação do italiano Matto, que significa louco ou tolo. 

O traço realmente importante dessa carta é que seu número deve ser 0. Representa, portanto, o negativo acima da Árvore da Vida, a fonte de todas as coisas. É o zero qabalístico. É a equação do universo, o equilíbrio inicial e final dos opostos; o ar, nessa carta, por conseguinte, significa quintessencialmente o vácuo.” (O Livro de Thoth)



Representação:

● Um andarilho, um buscador;

● Carrega uma vara em cuja extremidade há uma pequena trouxa;

● Vestido no estilo dos antigos bobos da corte, com roupas coloridas.

Arte: The Tarot Deck of Austin Osman Spare 

Estrutura Mística:

● Elemento: Ar
● Posição normal: Excentricidade, ações incompreensíveis, despreocupação, criatividade.
● Posição invertida: Fuga da realidade, loucura, tolice, estupidez, escravo dos sentidos.
● Sentido geral: Um novo começo.
● Sentido espiritual: A sabedoria do Louco.
● Símbolo: A bolsa com o ovo do mundo.
● Arquétipo: A criança.
● Objetivo: Busca. A experiência de ultrapassar os limites.

Le Mat – Tarot de Marselha


Interpretações usuais na cartomancia:

Passividade, completo abandono, repouso, deixar de resistir. Irresponsabilidade. Inocência. Escolha intuitiva acertada. Domínio dos instintos; capacidade mediúnica. Abstenção. O não-fazer.

● Mental: Indeterminação devida às múltiplas preocupações que se apresentam e das quais se tem apenas uma vaga consciência. Ideias em processo de transformação. Conselhos incertos.

Emocional: Revezes sentimentais, incerteza com os compromissos, sentimentos vulgares e sem duração. Infidelidade.

● Físico: Inconsciência, desordem, falta à palavra dada, insegurança, desprazer. Abandono voluntário dos bens materiais. Assunto ou negócio enfraquecido. Do ponto de vista da saúde: transtornos nervosos, inflamações, abscessos.

● Desafios e sombra: Enquanto andarilho, o Louco significa queda ou marcha que se detém. Abandono forçado dos bens materiais; decadência sem muita possibilidade de recuperação. Complicações, atoleiro, incoerência. Nulidade. Incapacidade para raciocinar e autodirigir-se, entrega aos impulsos cegos. Automatismo. Confusões inconscientes. Extravagância. Castigo causado pela insensatez das ações. Remorsos vãos.

Balada do louco
“Dizem que sou louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz

Se eles são bonitos, sou Alain Delon
Se eles são famosos, sou Napoleão

Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu

Se eles têm três carros, eu posso voar
Se eles rezam muito, eu já estou no céu

Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu

Sim sou muito louco, não vou me curar
Já não sou o único que encontrou a paz

Mas louco é quem me diz
E não é feliz, eu sou feliz.”

(Os Mutantes)



DaturaTarot de Rachel Brice:



Fonte: https://www.instagram.com/p/BVgOmlbBUQF/?tagged=daturatarot

"O Louco" de Rachel Brice, no Datura Tarot, é representado por um homem barbudo, que parecer estar saindo de um estado de encapsulamento. O busto está dentro de várias camadas de algo semelhante a um ovo. Não sei exatamente o que são, mas me lembram planetas. Estas camadas estão se abrindo e plantas florescem do seu interior. Ao meu ver, uma belíssima alusão ao sair da caverna para desbravar o mundo. Um dos trabalhos que mais gostei referente a este arcano!



Trabalhos coreográficos e performances:

The Fool - The Universal Waite Tarot

1) Blanca (EUA)

Trabalho de bellydance sobre a carta “O Louco”. Infelizmente, sem muitas informações sobre a bailarina. 


Considerações: Não vejo nenhuma simbologia da carta, mas acho que a forma “saltitante” e “descompromissada” de dançar representa muito bem o andarilho. Acho que a música também combina muito com a proposta do Louco.

2) Katya Blau (Rússia)

Trabalho de “tribal fusion” (de acordo com o vídeo) de Katya Blau para o Arden Tarot Suite.

Considerações: Também não vejo referências quanto à simbologia, mas a música alegre e a fusão burlesca/fanfarra/balkan combina com a idéia do arquétipo. Se algum dos Arcanos Maiores tem a cara da fanfarra, ele é o Louco, com certeza.


3) "Reflections on Dancing the Fool" (EUA)

Experiências de Laura Chatham  sobre a Dança e o Louco. Sem informações, mas achei interessante compartilhar.




4) Bruna Costa (Vassouras-RJ, Brasil)

Solo de Bruna Costa, sobre O Louco para o evento “A Dança Através do Tarot”, de 2015.

Considerações: A máscara usada no início e fim da coreografia remete à idéia de bobo da corte. A música alegre também combina com a proposta.


5) Hölle Carogne (Porto Alegre-RS, Brasil)

Minha interpretação para a carta “O Louco”.

Improvisação ritual. Nada foi coreografado, ou ensaiado (nota-se, rsrsrs), mas a simbologia foi trabalhada com antecedência e alguns trejeitos previamente planejados.

Na idéia original este trabalho seria uma videodança gravada nos cânions de Cambará do Sul/RS. Mas, por força do destino, ele ganhou vida na primeira edição do evento Dark Cabaret, de Porto Alegre/RS.

Música: "The Chaos Path do Arcturus"

A música foi o ponto de partida deste conceito, que nasceu há alguns anos, antes mesmo de eu criar meu primeiro solo. 

Para mim, a música "The Chaos Path" remete ao “Louco”, tanto na estrutura musical (meio circense) quanto em relação à letra, que na minha visão se parece com a idéia de Caos Primordial, onde o Louco se atira.

Considerações sobre a simbologia:

O figurino foi inspirado na idéia original de bobo da corte. 

Como eu não tinha uma caverna e nem um penhasco, eu tentei usar outros elementos que representassem à passagem da ignorância para a sabedoria.

Então, os braços que marcam o piano representam a “prisão”. A ideia era interpretar uma marionete que está sendo controlada e, em determinado momento, se liberta, para ir em busca de seu próprio caminho.

Fotografia: Diovana Gheller

A trouxa do Louco foi bem possível de fazer e simboliza exatamente a idéia de início de jornada.

Fotografia: Diovana Gheller

Em alguns momentos tentei interpretar a idéia de “surpresa” do Louco com o novo mundo, utilizando a expressão facial de curiosidade e estranhamento.

Fotografia: Diovana Gheller

Fotografia: Diovana Gheller

A rosa branca simboliza a pureza do Louco. O ato de comer a rosa está impregnado de ritualismo... É preciso guardar bem dentro: nas entranhas.

Fotografia: Diovana Gheller

Fotografia: Diovana Gheller

O sopro representa o elemento desta carta: o Ar. O ato de soprar, também carregado de ritualismo, porque é preciso ter muito dentro de si aquilo que se quer oferecer para o Mundo! O Mundo está aos pés do Louco. Ele sabe muito bem onde ir. Mas você não compreende, não é?

“Aquele que quiser ter algo que nunca teve, terá de fazer algo que nunca fez.”
Nossrat Peseschkian

93,93/93


Bibliografia: 

  • Antigo Tarô de Marselha – Nicolas Conver; 
  • O Livro de Thoth – Aleister Crowley; 
  • Teoria da Conspiração;
  •  Clube do Tarô;
  • Wikipedia.  

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