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[Resenhando – RJ] Estilo Tribal Live! – Ciclo de Entrevistas

 por Fran Lelis

O ano de 2020 foi desafiador, a gravidade da pandemia tornou o isolamento social a principal arma para combater a propagação do covid-19. Diante desse cenário, a internet e as redes sociais se tornaram o principal meio de encontros e trocas.

Buscando novas maneiras de aproximar nossa comunidade, Nadja El Balady, uma das pioneiras do estilo tribal no Brasil, aproveitou um espaço online já existente, o grupo do Facebook “Dança Tribal Carioca”, e promoveu um ciclo de entrevistas com profissionais que fazem parte da história do estilo no estado do Rio de Janeiro.


 Nadja El Balady, sobre esse projeto, denominado Estilo Tribal Live! :

“Estilo Tribal Live! O ciclo de entrevistas que produzi entre julho e agosto de 2020 visando movimentar a comunidade de estilo tribal do Rio de Janeiro no momento mais agudo da pandemia de covid-19. As entrevistas foram realizadas no grupo do facebook Dança Tribal Carioca, com exceção da primeira, que acabou acontecendo pelo Instagram do grupo Loko Kamel Tribal Dance, devido a problemas técnicos."


"As entrevistadas deste primeiro ciclo foram: Aline Muhana, Isabel de Lorenzo, Jessie Ra’idah e Dária Lorena. Elas foram escolhidas entre algumas das que, junto a mim, fizeram parte do nascimento do estilo no Rio de Janeiro e também no Brasil. Foram convidadas a contar um pouco de sua trajetória na dança e a escolha pelo estilo tribal como forma de expressão e o que isso significava numa época de pouco acesso a internet e quase nenhum recurso para estudar, nem nenhuma grande professora do estilo disponível no Brasil. Foram também convidadas a falar a respeito de assuntos polêmicos do momento, como apropriação cultural, a nomenclatura tribal que está em questionamento internacional e também pontos de vista pessoais sobre racismo e os desafios de artistas negras e de periferia em exercer esta atividade de maneira profissional."


 

"Cada uma das entrevistadas deu sua contribuição ímpar para debates importantes no nosso meio, de acordo com suas experiências: Aline Muhana,  que comigo fez parte do primeiro grupo de estudos em ATS no Brasil, a Tribo Mozuna; Isabel de Lorenzo foi a primeira professora a ensinar ATS no Rio de Janeiro através dos eventos que produzi naquele período; Jessie Ra’idah e Dária Lorena fazem parte de uma segunda geração de dançarinas de tribal que estudaram com as primeiras professoras do Rio de Janeiro e passaram a colaborar profissionalmente com o crescimento da cena dando aula e produzindo eventos.

Os vídeos das entrevistas se encontram disponíveis no meu canal, Nadja El Balady, no Youtube. Planejo um novo ciclo de entrevistas para 2021 convidando outras personagens da história do estilo tribal no Rio de Janeiro para apresentar suas trajetórias, pensamentos e reflexões acerca da nossa cena artística.”

 

As entrevistas foram muito ricas, promoveram importantes reflexões sobre o atual momento do estilo, como também abordaram alguns caminhos trilhados pelo estilo tribal de dança do ventre no Rio de Janeiro, num diálogo muito potente – e necessário – entre passado e presente, pois dentre todos os debates que estão sendo levantados atualmente, se torna claro a urgência de analisarmos os meandros do passado da nossa dança e de suas influências, para entendermos o que somos e queremos hoje enquanto dançarinas de estilo tribal.

Acredito que esse material é muito relevante para comunidade, podendo contribuir para estudos e pesquisas, um meio de partilhar da memória do estilo tribal, além de ser uma forma de conhecermos um pouco mais a carreira e a vida de quatro profissionais inspiradoras que continuam a contribuir muito para o nosso meio.

 

📌 Pra você assistir as entrevistas:

Entrevista com Aline Muhana:


Entrevista com Isabel De Lorenzo:


Entrevista com Jessie Ra'idah:


Entrevista com Dária Lorena:

 

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Resenhando-RJ


Fran Lelis (Volta Redonda-RJ) é professora SEEDUC RJ, especialista em História do Brasil pela UFF, mestra em História pela UFRRJ. Dançarina de Tribal Fusion com registro profissional pelo SPDRJ (DRT:56/032). Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 


Entrevista #21: Isabel De Lorenzo


Nossa entrevista do mês de novembro é a brasileira Isabel De Lorenzo que hoje vive e trabalha com o estilo Tribal em Roma, Itália. Isabel nos conta sua trajetório com o ATS® na Itália,seu evento de repercussão internacional na Europa, o Roma Tribal Meeting, seus projetos futuros com a dança e muito mais! Confira!

BLOG: Conte-nos sobre sua trajetória na dança do ventre/tribal. Como tudo começou para você?
Desde pequena eu estudei balé, jazz, dança contemporânea. Sempre com muito amor, com ótimos professores e com muitas amigas ao redor, fazendo pequenas viagens de estudo e apresentações na região de Araraquara, minha cidade natal. Isso foi entre 1976 e 1986, quando então me mudei para São Paulo, para fazer a universidade. Não sei bem explicar por que, mas com essa mudança eu acabei deixando um pouquinho de lado a dança. Mas por pouco tempo. Em São Paulo encontrei casualmente a dança do ventre, com a professora Marcia Nogueira. Ela era encantadora, mas a dedicação aos estudos universitários não me permitiu seguir as aulas com continuidade. E de novo me afastei. Mas esse encontro com a dança do ventre de alguma maneira me marcou profundamente, tanto é verdade que,  assim que pude voltar a dançar (aos 19 ou 20 anos), escolhi a dança do ventre e nunca mais parei.


BLOG: Quais foram as professoras que mais marcaram no seu aprendizado e por quê?  
Tango o della casta voluttà (2005)
Photo Pasquale Modica
Minha querida amiga Yasmin Nammu foi minha primeira mestra (e eu, se não me engano, sua primeira aluna). Passei anos freqüentando seu estúdio em São Paulo. Quando me mudei para a Itália,  foi o coreografo egípcio Saad Ismail quem completou minha formação na dança oriental. Desde que comecei a me interessar pelo estilo tribal, em torno ao ano 2000, minha referência foi sempre Carolena Nericcio, que tive oportunidade de encontrar quatro vezes pessoalmente, das quais a mais importante foi a formação intensiva em São Francisco (2010). Estudei com dezenas de outros professores, alguns bons, alguns maravilhosos e alguns simplesmente “ok”. Para mim um professor tem que transmitir muito mais do que uma técnica, mas uma cultura, um modo de ser, um approach ao movimento e à vida. Nesse sentido, quem mais me marcou na dança tribal foi minha também querida amiga Geneva Bybee.
 
BLOG: Além da dança tribal você já fez ou faz mais algum tipo de dança? Há quanto tempo?
Eu sempre tive curiosidade de conhecer outras danças, e quando posso faço alguma aula ou workshop de flamenco, de butoh, de dança contemporânea ou de balé, de tribal fusion e de danças ciganas. É mais para nutrir a alma, para inspirar no corpo novas posturas. Eu também pratico constantemente pilates e ando de bicicleta.

BLOG: Quais foram suas primeiras inspirações? Quais suas atuais inspirações?
Minha inspiração é sempre a Arte: música, poesia, artes visuais, teatro. É dali que vem todas as minhas idéias, inspirações e projetos.

BLOG: O quê a dança acrescentou em sua vida?
Festival BellyFusions (2011)
Photo Severine Jambot
Em um certo período em que estava refletindo muito sobre o papel da dança na minha vida, eu tive um sonho: estava bordando uma roupa no corpo (como às vezes realmente faço!) e junto com o tecido eu costurava a pele. Não era uma imagem de dor. Era uma representação da dança costurada no corpo, naturalmente. Então, para mim é isso: a dança acrescentou um sentido a tudo, ao corpo e à existência no espaço e no tempo.

BLOG: O quê você mais aprecia nesta arte?

Eu amo muito a imediatez da dança, no sentido que não necessita nenhum instrumento além do corpo. A música, claro, é a parceira número um da dança. Mas nem a música é fundamental, no fundo. Só o corpo mesmo.

BLOG: O quê prejudica a dança do ventre e como melhorar essa situação?Você acha que o tribal está livre disso?
A dança oriental nasceu com um aspecto popular, autêntico e espontâneo, porém possui também outro mais refinado, cortesão e culto. Este segundo aspecto quase se perdeu, e todas as variantes da dança do ventre que hoje são praticadas (inclusive o tribal) provém do baladi, do folclore, do cabaret, da festa. Eu quero dizer que a dança espontânea é legal, mas nem sempre é artística. Fazendo uma analogia, seria o mesmo que a arte em relação ao artesanato. É enfim no teatro – na minha opinião - que a dança pode atingir o máximo da sua expressão, pois no teatro, juntamente com a pura expressividade corporal, entram em jogo outros conceitos como composição, iluminação, direção etc. Eu acredito que a melhor ambição para a dança, seja oriental ou tribal, é o palco.
Tribal Tour Isabel De Lorenzo Geneva Bybee, Salvador (2010)
BLOG: Você já sofreu preconceitos , indignação ou frustração durante seu percurso na dança?E conquistas?Fale um pouco sobre elas.
Ser uma dançarina profissional não é a coisa mais fácil deste mundo, mas é uma grande riqueza, pois a visão de mundo que a dançarina adquire, mesmo enfrentando pequenas frustrações ou preconceitos, é ampla e doce,tornando-se incomparável. Eu não sofri grandes preconceitos ou frustrações, muito menos indignações, e sempre enfrentei os obstáculos com coragem. Claro que não foi assim fácil, pois para sentir-me livre na dança como profissão eu tive simplesmente que mudar de país. Esta foi ao mesmo tempo minha maior dificuldade e minha maior conquista.
 
BLOG:
Você foi uma das primeiras bailarinas brasileiras a se envolver com o ATS®, por quê você começou a querer ou ver necessidade em se aprofundar no ATS®? Como eram as informações sobre o estilo na época em que você começou a pesquisar?
Sabe-se bem que atualmente é muito fácil sentir-se atualizado com os acontecimentos do mundo tribal, por causa da internet acessível a todos. Isso é ótimo por um lado, mas por outro torna o aprendizado superficial. Em 2000 eu descobri a comunidade tribal americana, também pela internet e, imediatamente, comecei a encomendar livros, cds e dvs para estudar, junto com um grupo de amigas na Itália. Constituímos a primeira formação da troupe Carovana Tribale e, apesar de sermos autodidatas, tínhamos já uma longa experiência na dança oriental. Desde então, eu não parei mais de estudar, e nem pretendo parar! O American Tribal Style® me cativou  pelo trabalho de grupo, pela estética, pela filosofia proposta e pela constante evolução.
Tango o della casta voluttà (2005)
 Photo Pasquale Modica
BLOG: Como é o cenário da dança tribal na Itália e Europa na época em que você começou com a dança por lá e como ela é agora? Pontos positivos, negativos, apoio de Roma, repercussão por parte do público bem como pela comunidade de dança do ventre/tribal?
Até 2006, pelo menos, havia apenas dois grupos de tribal na Itália: a Carovana Tribale, em Roma, praticando ATS®, segundo o Fat Chance Belly Dance, e Les Soeurs Tribales,  em Milão, praticando ITS estilo Gypsy Caravan. Somos muito amigas e sempre compartilhamos com alegria o fato de sermos pioneiras. Só bem mais recentemente, com a explosão da Tribal Fusion (após Bellydance Superstars), é que este estilo passou a ter mais visibilidade na Europa. Tem sido um caminho lento,  mas decisivo, vejo que o ATS® atrai cada vez mais dançarinas de outros estilos (seja oriental, seja fusion) que sentem vontade de compartilhar momentos de dança. E assim a comunidade cresce.

BLOG: Conte-nos como surgiu a Carovana Tribale, a etimologia da palavra, seus
integrantes, qual estilo marcante do mesmo e se ele sofreu alguma mudança estrutural ou de estilo desde quando foi criado até agora.
Carovana Tribale (2010)
Photo Raniero Gelli

 A palavra “caravana”, como se sabe, vem da língua persa e significa um grupo que viaja no deserto. Quando denominamos  “Carovana Tribale” (que em italiano significa obviamente “caravana tribal”),com  a primeira formação da nossa troupe (éramos três), tivemos a idéia de simplesmente unir inspirações em torno do conceito de viagem: onde houvesse “tribal”, lá estaríamos em comboio. E assim foi. A troupe se modificou, incluiu alunas por um certo tempo e depois voltou a ser mais profissional. Hoje em dia somos eu e Silvia Grassi, minha aluna de muitos anos e atualmente soberba dançarina, que conduzimos “la Carovana”, por vezes convidando hóspedes, colegas, alunas, ou dançando com a nossa companheira desde muitos anos, Lucilla Giorgetti.



BLOG: Você é produtora do evento Roma Tribal Meeting que se destaca na Itália e vem se destacando no cenário de eventos europeus. Conte-nos como surgiu a idéia do evento, sua proposta e objetivos, organização e elaboração deste,bem como a repercussão do mesmo para a comunidade tribal quanto para seu público na Itália e também abrangendo a Europa.
  
Tribal Tour Isabel De Lorenzo Geneva Bybee,
 Salvador (2010)
O Roma Tribal Meeting surgiu de uma idéia da dançarina americana Geneva Bybee, que esteve várias vezes na Itália, entre 2006 e 2011. Ela teve um papel fundamental na formação da primeira geração de Tribal Fusion na Europa, porque sempre transmitiu técnica de alta qualidade e sobretudo uma filosofia de vida inspiradora para a nascente comunidade Tribal, principalmente na Itália. Com o apoio da minha sócia no centro de dança San Lo’, criamos a primeira edição do Roma Tribal Meeting (em 2010) de maneira muito intuitiva, sem grandes pretensões, e o projeto funcionou. A beleza deste evento (cuja quarta edição será em maio de 2014) é que professoras e companhias de vários países europeus apresentam suas propostas de participação (em resposta uma “Call for Artists”, uma espécie de edital), e assim a equipe organizadora cria um mosaico de workshops e performances que abrangem todos os estilos da dança tribal, do ATS® ao dark/gótico. Alunas de inúmeros países (da Espanha à Rússia, do Reino Unido à Republica Tcheca, etc.) tomam parte aos workshops e se apresentam no Open Stage/Hafla. A cada edição, temos também um hospede especial para a musica ao vivo: já participaram o duo californiano Helm, o beatboxer Pete List, o ensemble de percussão italiano Takadum Orchestra. A cada edição propomos um tema que é discutido por todos numa interessantíssima mesa redonda. É um evento no-profit que obtém resultados excepcionais do ponto de vista do fortalecimento da comunidade, que é, enfim, o nosso objetivo. Neste momento está aberta a “Call for Artists” para a edição 2014. Seria muito bom começar a receber bailarinas de além-mar também!

Isabel De Lorenzo e Carolena Nericcio
BLOG: Em 2010 você obteve sua certificação em ATS® com a criadora do estilo, Carolena Nericcio. Gostaria que nos explicasse melhor sobre o processo de certificação(General Skills/ Teacher Training1 e 2) e como se alcança o tão estimado selo de Sister Studio. E qual importância de conseguir tal certificação, em sua opinião?
A especialização em São Francisco com Carolena Nericcio (em 2010) foi um dos melhores momentos da minha carreira, por várias razões. A experiência de passar quinze dias freqüentando cotidianamente o estúdio-mãe, ou seja, o FCBD®, é em si enriquecedora tecnicamente e humanamente. O General Skills ou resumo do formato ATS®, é uma passagem importante, através da qual a dançarina pode incrementar a própria qualidade técnica e a própria visão do ATS®; é um curso aberto a todos os níveis. O Teacher Training é um precioso método para a transformação do conhecimento acumulado em informação a ser transmitida corretamente. Eu sempre acreditei que uma boa professora necessita muito mais do que um training intensivo, ou seja, uma inteira vida dedicada ao estudo constante e ao ensino consciente. Mas, tenho que admitir, o Teacher Training, mesmo que breve, me acrescentou bastante. O selo Sister Studio é obtido por meio de um pedido endereçado diretamente a Carolena, e de uma sua resposta positiva obviamente. É uma espécie de conversa, breve, concisa e ao mesmo tempo muito profunda. Difícil explicar para quem não está nos meandros do processo: para ser um Sister Studio a dançarina tem que se sentir à vontade dentro do formato. É isso. É um processo que, aliás, e por sorte, não tem fim.

Tribes Brasil Fest, Rio de Janeiro (2010)
BLOG: Você participou do processo de introdução do ATS® no Brasil, quando em 2009 e 2010, você ministrou alguns workshops no país (RJ, SP, RS e BA). Como você enxergava a dança nesta época inicial, quais eram as principais dúvidas e dificuldades das brasileiras perante isso?
Você acha que, apesar de ter passado apenas alguns anos, a dança amadureceu no país ou ainda seu avanço é tímido?
Naturalmente o ATS® no Brasil amadureceu muito. Acontece desde sempre com a dança, assim como com outras correntes artísticas no nosso país, um curioso fenômeno. O contato com as fontes é limitado e difícil, ao passo que a criatividade é grande e ilimitada. Isso pode dar pérolas ou monstros. No principio eu via a dança tribal no Brasil enjaulada nesta dificuldade de acesso, com boas tentativas de superação criativa mas também com muita reprodução infeliz. Hoje parece que tudo mudou, e isso graças à internet, graças à disponibilidade da comunidade ATS® de viajar e de trazer ao país bons professores, e enfim – eu arriscaria dizer - graças à abertura política, econômica e social brasileira. Quando eu comecei a dançar, nos primeiros anos 90, era quase impossível importar um livro, um cd ou um vídeo.


BLOG:  Quando você ainda morava no Brasil, você teve contato com o ATS®? Como eram as informações sobre este estilo que chegavam no país? Como era a Dança Tribal naquela época?
Com Yasmin Nammu, nos anos 90 em São Paulo, eu tive acesso aos primeiros vídeos de Suhaila Salimpour, por exemplo, assim como ao primeiro livro de Wendy Buonaventura. Eu não tive nenhuma informação explicita sobre o nascente ATS® daqueles anos, mas indiretamente sim, porque Jamila Salimpour era mencionada naquelas fontes. Mas denominação “estilo tribal” eu só vim a conhecer quando já morava na Europa.

BLOG: Como você descreveria seu estilo;como você se expressa na dança?
Meu estilo reflete a variedade de influências que busco. Em um certo aspecto é avant la lettre, revolucionário. Ao mesmo tempo, é sóbrio e delicado - creio eu. Minha melhor expressão é no teatro. Contando uma história, mesmo que abstrata, através da dança. O teatro-dança é meu grande amor e os melhores momentos do meu percurso artístico se deram nessa forma. Posso citar dois trabalhos que fiz como atriz-dançarina sob a direção de grandes mestres, o primeiro com a companhia de Oretta Bizzarri (“Tango o della casta voluttà”, 2005) e o segundo com a companhia de Fabio Ciccalè (“Free Lux Dei”, 2009), além dos dois espetáculo que dirigi, “Al-muallaqat/Le sospese” (2008) e “Frida Suite” (2012).

  BLOG: Quais seus projetos para 2014? E mais futuramente?
No ano que vem eu estarei viajando bastante com meus workshops pela Itália. Também viajarei com um novo e entusiasmante projeto que se chama ATS® Sisters Collective, composto por cinco FCBD® Sister Studios de diversos países: eu e Silvia Grassi- Italia, Ilhaam-Espanha, Gudrun Herold- Alemanha, e Philippa Moirai- Grã-Bretanha.

ATS Sisters Collective (2013)
Photo Federico Ugolini

Em maio haverá a quarta edição do Roma Tribal Meeting. Quero também retomar meu último espetáculo teatral, “Frida Suite”. Gostaria de mostrá-lo um pouco mais, inclusive no Brasil. E, no dia-a-dia, tenho minhas alunas e minha escola para cuidar. Mais futuramente... eu não sei. Gostaria de poder passar mais tempo no Brasil, isso sim.

BLOG: Improvisar ou coreografar?E por quê?
Na improvisação está a genialidade do ATS®. Eu adoro improvisar, adoro ver colegas e alunas improvisando, porque o caráter efêmero da improvisação torna cada performance única. Se dança pelo prazer de dançar. Mas quando se trata de teatro-dança a improvisação não pode existir, a meu ver. Cada mínimo gesto teatral é estudado, cada movimento é coreografado. Para que se possa atingir uma expressividade mais complexa, a dançarina não pode estar à mercê das surpresas da improvisação.

BLOG:  Você trabalha somente com dança?
Sim.

BLOG: Deixe um recado para os leitores do blog?
A dança necessita de inspiração: na vida e na arte devemos buscar autenticidade, amor, emoções, beleza, para que retornem, na nossa dança.

 
Contatos






Para conhecer mais o trabalho desta bailarina, acesse seu canal no Youtube!

[Resenhando-BA] Festival Tribal Spin: Tecendo uma Teia em Arabesco

 por Camila Saraiva

Imagem de divulgação do evento, cedida pela produção


Quando uma mulher abre a roda, o círculo se fortalece, e tod@s giram. O Tribal Spin é um festival que acontece em Salvador – Bahia desde 2016 e foi idealizado pela professora, dançarina e coreógrafa Bela Saffe. Em parceria com a também dançarina, professora e coreógrafa Priscila Sodré na produção e realização - especialmente nas duas primeiras edições - o festival é um dos eventos mais importantes da Bahia, ao todo foram quatro edições (que ocorreram antes da pandemia do Covid-19). O Tribal Spin é um evento múltiplo, sua configuração mista composta por Mostra, Show, Workshops e até mesmo Palestras, confere ao festival uma potência de diversidade, acolhendo e apresentando diferentes propostas, espaços, discussões e artistas.

Para Bela Saffe o festival é uma continuação das ações que ela vem desenvolvendo ao longo de sua carreira, desde a sua participação na Caravana Tribal Nordeste, no Tribal Remix e em outros eventos que ela realizou anteriormente na Bahia. Em suas próprias palavras: “A ideia principal do Tribal Spin é fazer circular, é fazer os grupos se movimentarem, produzirem, criarem coreografias, fazerem aulas, se reciclarem, as professoras darem aula, terem mais visibilidade...deixar a dança viva! ” 

De fato, o festival é um acontecimento que faz as danças dos ventres, tribal, fusion (como queiramos chamar), girarem em Salvador nos últimos anos, proporcionando uma oportunidade de reunir amantes dessas danças para estudar, discutir, trocar e se apresentarem em um ambiente de acolhimento e respeito. É um evento bastante significativo, que vem promovendo maior visibilidade no campo para a Bahia, e para o Nordeste. Nos últimos anos foi o único evento específico de Tribal em Salvador de grande porte que tinha como uma das propostas uma Mostra, onde qualquer artista podia se inscrever e apresentar seu trabalho, sem necessitar de um convite para participar. As Mostras de Dança são de fundamental importância para oportunizar que estudantes, artistas marginais e até mesmo profissionais conhecidos apresentem suas criações numa atmosfera de experimentação e compartilhamento de ideias e processos em maturação. 

A riqueza de participantes tanto nas Mostras quanto nos Shows é realmente algo a se destacar! Artistas, estudantes e profissionais apresentaram danças diversas ao longo dessas quatro edições, escancarando como podemos ser tão bel@s, impactantes, potentes, criativos e diferentes ao mesmo tempo, no mesmo espaço, convivendo, coexistindo.


Show do Festival Tribal Spin 2018 no Teatro Sesc Pelourinho. Artista convidada: Piny Orchidaceae. Foto: Adeloyá Magnoni.


Em 2016 o festival começou com o foco numa escala local, as professoras convidadas foram profissionais residentes em Salvador:  Bela Saffe, Priscila Sodré, Adriana Munford e Karina Leiro. A roda foi crescendo e em 2017 as professoras convidadas foram Tamyris Farias (Recife - PE), Bia Vasconcelos (Feira de Santana – BA), Bela Saffe, Priscila Sodré e Karina Leiro, além da palestrante Carla Roanita (Salvador –BA) que apresentou a sua pesquisa de mestrado em dança, mais especificamente dança tribal fusion, no evento. Em 2018 o festival contou com a presença da convidada Piny Orchidaceae (Portugal). Em 2019 quatro profissionais internacionais participaram do festival como convidadas: Amy Sigil (Estados Unidos), Isabel de Lorenzo (Brasil/Itália), Kimberly Larkspur (Estados Unidos) e Catherine Taylor (Inglaterra). Em termos de participantes e inscrições o evento foi crescendo aos poucos, mobilizando cada vez mais artistas locais, mas não apenas. Nas últimas edições participantes de diferentes estados do Nordeste compareceram ao evento, até mesmo alguns participantes da região Sudeste do Brasil. 

Ciclo de Workshops do Festival Tribal Spin 2019 na Escola Contemporânea de Dança. Artistas convidadas: Amy Sigil, Isabel de Lorenzo, Kimberly Larkspur e Catherine Taylor. Foto: acervo da produção.


Mostra do Festival Tribal Spin 2019 no Teatro Sesc Pelourinho. Foto: Adeloyá Magnoni. 


O Tribal Spin foi tema da pesquisa de monografia de Priscila Sodré na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia onde descreve mais especificamente as etapas de produção da segunda edição do festival. Ela destaca em seu texto que as expectativas de produção foram superadas com relação a adesão da comunidade ao evento, isso lá em 2017: “Para a Mostra de danças foram registradas 21 inscrições, superando as expectativas e fazendo com que a produção ampliasse o número de vagas, incluindo todos os inscritos. Já as inscrições para as aulas de dança corresponderam a 84 vagas ocupadas.” (P.16). O número total de pessoas pagantes que compareceram aos shows foi de 197.

Show do Festival Tribal Spin 2017 no Teatro Molière. Foto: acervo da produção.

Produzir eventos, festivais de dança no Brasil, no Nordeste, na Bahia, de maneira autônoma, não é tarefa fácil, pelo contrário, é um grande desafio. Ressalto aqui a importância de valorizar e reconhecer as pessoas que corajosamente se colocam nesse árduo lugar da produção sem nenhum tipo de apoio financeiro, fomentando a cena, a formação e a produção artística na dança. Expresso aqui a minha gratidão enquanto artista baiana à Bela Saffe, essa mulher retada, pioneira na dança do ventre e no tribal fusion na Bahia que vem abrindo a roda, e tecendo essa teia em arabesco ao longo dos seus mais de vinte e cinco anos de carreira.

Fiquemos atent@s para como os eventos são realizados. A maneira como realizamos um evento acarreta em impactos em toda a comunidade da dança. Não precisa existir um modo único, padronizado, de realizar festivais e eventos, como não existe um modo único de dançar dança do ventre, tribal, fusion. A maneira como fazemos algo pode fazer toda a diferença na vida de outras pessoas, podemos vivificar outras existências quando escolhemos realizar algo de determinada maneira, ou não. E foi isso que pude perceber no Festival Tribal Spin, existências diversas convivendo e sendo vivificadas. "Enquanto que a maneira, de manus, pensa a existência a partir do gesto, da forma tomada pelos seres quando aparecem. Um modo limita uma potência do existir enquanto que a maneira revela a forma do existir, a linha, a curvatura singular, e assim mostra uma arte." (LAPOUJADE, 2017).

Portanto, devemos considerar cada um desses modos como uma arte de existir, esse é o interesse de um pensamento do modo como tal. O modo não é uma existência, mas a maneira de fazer existir um ser em um determinado plano. É um gesto, cada existência provém de um gesto que o instaura, de um arabesco que determina que será tal coisa. Esse gesto não emana de um criador qualquer, é imanente à própria existência. (LAPOUJADE, 2017, p. 14 e 15).


REFERÊNCIAS:

LAPOUJADE, David. As existências mínimas. N-1 Edições. São Paulo, 2017. SODRÉ, Priscila. Tribal Spin Festival. Trabalho de conclusão de curso apresentado à Faculdade de Comunicação como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação com Habilitação em Produção em Comunicação e Cultura, na Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2018.

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Resenhando-BA


Camila Saraiva (Salvador-BA) é artista da dança, baiana, LGBTQ+. Dançarina, professora e pesquisadora das danças dos ventres e suas fusões na contemporaneidade, com graduação e pós-graduação em Dança na UFBA. Atualmente é doutoranda em Dança pelo PPGDANÇA/UFBA e pesquisa a relação entre danças dos ventres, orientalismo, feminismos e estudos de gênero e sexualidade, numa perspectiva contemporânea.

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