Notícia Tribal: Entrevistas com Guigo Alves, Rebeca Piñeiro e Pashmina Tribal

O Festival Shimmie, o oficial de São Paulo, realizado pela produção da Revista Shimmie, entrevistou alguns bailarinos e grupos que passaram por lá =)

O festival disponibilizou em seu canal entrevistas com os bailarinos Guigo Alves (DF) , Rebeca Piñeiro e seu grupo de ATS®, o Pashmina Tribal. Os vídeos são curtos, mas bem interessantes! Vale a pena conferir ;)

Entrevista com Guigo Alves:




Entrevista com Rebeca Piñeiro e Pashmina Tribal:

Notícia Tribal: Swan Lake DSA Tour 2014-2015 Teaser


A cia DSA (Dancers South America) inicia mais uma turnê! Seu novo espetáculo é inspirado  na obra "O Lago dos Cisnes". A turnê de 2014 já passou pelas cidades de Uberlândia (MG), São José do Rio Preto (SP) e Três Rios (RJ), e continuará em 2015 Brasil à  fora!

Confira o teaser acima do espetáculo Swan Lake, com dança do ventre, tribal fusion, dança indiana e flamenco.

Direção: Adriana Bele Fusco, Simone Takusi e Gabriela Miranda


Mais informações:

Facebook:
https://www.facebook.com/ciadedancadsa

Site:
www.ciadsa.com.br

Samantha Monteiro (RJ) - Resenhando

Coordenação Região Sudeste - Núcleo RJ:


Samantha Monteiro é bailarina de Dança do Ventre, Estilo Tribal e suas fusões.

Iniciou na Dança do Ventre em 2001 e atualmente desenvolve seus estudos sob a orientação da bailarina Samara El Said.

Cursou workshops e aulas particulares com renomados profissionais do Brasil e exterior.

No Estilo Tribal, participou de workshops mensais com Shaide Halim, pioneira do Estilo no país, entre 2002 e 2003.

Estudou Tribal Fusion, no Asmahan Escola de Artes Orientais, em aulas regulares semanais com a professora Rhada Naschpitz, de 2010 a 2012.

Em 2013, inicia curso regular de American Tribal Style®, no Asmahan Escola de Artes Orientais, com a professora Aline Muhana.

Participou de todas as edições do Festival Tribes Brasil, participando dos workshops e atividades oferecidas. Apresentou-se no Pocket Show na edição 2011 do referido festival.
Participou da primeira edição do Festival Gothla.BR, no ano de 2012, participando dos workshops e atividades oferecidas e apresentou no Pocket.Show do festival.

Apresenta-se em eventos como festivais, mostras de dança, e atua profissionalmente em eventos particulares (chá de lingerie, casamentos e aniversários) e corporativos.


Ministra aulas particulares e em grupo de Dança do Ventre (aulas regulares, workshops e preparações coreográficas para ocasiões especiais)



Artigos

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A Dança do Sol

por Hölle Carogne

A postagem deste mês trata-se de um resumo do capítulo VI do livro "As Cartas do Caminho Sagrado", de Jamie Sams.

Jamie Sams é nativa americana (descendente dos povos Cherokee e Seneca) e membro da Wolf Clan Teaching Lodge. Através de seus livros, ela vem revelando alguns costumes e ensinamentos dos povos nativos, e disseminando, assim, as suas crenças. Aqui ela nos conta um pouco sobre este estranho e belo rito indígena que une sacrifício, dor e amor.



“Do centro do caramanchão sagrado,
Os guerreiros dançam o sol,
Atados à Árvore da Vida,
Até que a dança termine.



Eles sentem a dor da mulher,
Para que o povo possa viver,
Buscando Visões de Cura, 
Na dor que eles ofertam.”


“A tradicional Dança do Sol é a cerimônia sagrada ou o ritual que permite aos guerreiros o direito de ofertar sua dor, seu sangue, suas preces, e a si mesmos, sacrificando-se pelo bem de todo o povo. A Dança do Sol é realizada normalmente uma vez por ano em cada tribo. Esta cerimônia dura quatro dias e honra as quatro direções e a sagrada Árvore da Vida.

A Dança do Sol é assim chamada porque nela o Avô Sol é reconhecido e honrado como fonte do calor e amor da Mãe Terra. O aspecto masculino do Avô Sol é um exemplo de como os guerreiros podem constituir uma força protetora e amorosa, permitindo a todos os membros da tribo, crescerem e florescerem sob sua proteção. O Avô Sol dá luz a tudo aquilo que é verde e a todas as coisas que crescem sobre a Mãe Terra, e também nos protege da escuridão do pensamento, do coração, ou da noite total. Da mesma forma os Guerreiros do Povo devem proteger as suas nações dos inimigos, da perda da coragem, e da noite escura da alma, que se manifesta sempre que o medo começa a imperar.

A preparação do local usado para a Dança do Sol segue todo um ritual. Cabe às mulheres da tribo preparar um terreno circular, contendo uma clareira ao redor do centro, onde a Árvore da Dança do Sol será colocada. A Pessoa-em-Pé (árvore) escolhida deve ser carregada sem tocar o solo, a partir do local onde foi cortada até o centro do círculo, para ser replantada na terra. Esta Árvore da Dança do Sol representa a Árvore da Vida.

Depois de fixar a árvore em seu lugar, uma Sacola da Dança do Sol* é colocada no alto do mastro. De acordo com o ritual, esta passa a ser a nova identidade mágica da Pessoa-em-Pé. Dentro das tradições Sioux, Kiowa e Crow a honra de subir na árvore e colocar a sacola era concedida a um Ma-ho, pessoa de quem se dizia que possuía duas almas em um só corpo.

*A Sacola da Dança do Sol é uma bolsa de couro que contém a Magia Sagrada dos Totens. Estes pedaços de pêlos, dentes, penas, ossos e garras representam a magia e a capacidade de cura destas criaturas.



Tradicionalmente, cada Dançarino do Sol deveria ser apadrinhado por outro dançarino que já tivesse participado da dança antes dele. O padrinho se tornava responsável pela coragem do dançarino e pela sua força de caráter. Os guerreiros que escolhem este caminho devem preparar-se durante três dias antes da dança, através de jejuns, cerimônias de purificação, busca da visão e preces pessoais, seguindo instruções dos anciãos.

No terceiro dia os dançarinos são trespassados através do tecido conjuntivo dos músculos peitorais, primeiro com um furador e depois com um bastão afiado de cerejeira. Depois, prendem-se tiras de couro às pequenas estacas que lhes atravessavam o peito, atando-os à Árvore da Vida e criando um efeito especial de guarda-chuva ou de carrossel.

O objetivo da Dança do Sol é permitir que jovens guerreiros partilhem o sangue de seus corpos com a Mãe Terra, assim como as mulheres o fazem em sua Lua (ciclo menstrual).

Apesar de, tradicionalmente, as mulheres não participarem deste ritual, durante os últimos dois dias, quando ocorre a cerimônia do trespasse e da dança final, muitas mulheres fazem pequenos cortes nos antebraços ou perfuram os bíceps ou os pulsos, deixando o sangue escorrer e tocar o corpo da Mãe Terra em sinal de respeito pelos dançarinos.

Acredita-se que qualquer líquido de nossos corpos (sangue, urina, lágrimas, saliva) são elementos femininos, os quais quando são devolvidos para a Mãe Terra podem ser reciclados, servindo para a fertilização e o crescimento de futuros seres. A Dança do Sol reconhece o aspecto feminino, e os dançarinos honram ambos os lados de sua natureza através desse rito sagrado.



A coragem necessária para ficar dançando sem ingerir comida ou água durante quatro dias torna-se um verdadeiro teste de estrutura e de caráter. Uma queda durante a dança trás desonra ao padrinho do guerreiro que caiu e pode ser o presságio de um período de infortúnio para a tribo ou nação.

Em muitas tribos das planícies os homens não eram considerados prontos para o casamento enquanto não tivessem participado da Dança do Sol. Apenas após a dança o guerreiro aprendia a ter maior respeito pela mulher que seria mãe de seus filhos.

Durante a Dança do Sol os guerreiros poderiam receber visões, o que era considerado um sinal de magia positiva. Caso recebesse uma visão de um guia ou ajudante de cura, poderia estar certo de que a sua vida dali por diante seria longa e frutífera. Porém, quando o dançarino não recebia visão nenhuma, se sentia frustrado, como se de alguma maneira não tivesse completado o ritual sagrado. Alguns guerreiros não conseguiam abrir-se às mensagens dos guias por medo de cair, e trazer desgraça ao seu próprio clã. Quando isso acontecia, ele continuava a dançar, ano após ano, para uma vez mais tentar obter uma visão.
Cada dançarino usa na cabeça uma coroa de sálvia e recebe um apito de osso de águia, que é soprado a intervalos regulares para acompanhar o ritmo do tambor e criar e conservar a energia da cerimônia.

As estacas de cerejeira devem ser arrancadas da pele quando cada guerreiro se apóia na Árvore da Vida a que está preso. Ao fazê-lo cada homem está oferecendo sua própria dor para que o povo possa continuar a florescer.

Estes bravos guerreiros conheceram uma pequena fração da dor que as mulheres sentem no parto e passaram a respeitar o papel desempenhado pelas mulheres no plano do grande mistério.


A Dança do Sol já foi vista como uma tortura auto-infligida por que não se conhecia o propósito da cerimônia. Em 1941 ela foi proibida pelo departamento do interior. Quando os direitos sagrados de criatividade de qualquer povo começam a ser desrespeitados, o espírito da vida pode desaparecer. Somente nos últimos anos a dança voltou a ser realizada, restaurando o espírito do nosso povo. A Dança do Sol não pode ser dançada por qualquer pessoa, mas as lições que ela transmite constituem uma bela maneira de se compreender o equilíbrio entre homens e mulheres, coragem e dor, fantasia e obstinação, lealdade e amor. Este antigo ritual pode ser considerado um profundo ato de amor. Ele nos ensina a caminhar em equilíbrio e a deixar de lado certas facetas que só estão girando em torno do nosso pequeno eu pessoal.”



Dicas Nomadic

por Amanda Preisig | Nomadic Tribal

FCBD: olhos nos olhos, divertimento e um sorriso verdadeiro como consequência, além, é claro, de um grande exercício de democracia e coletividade













Queridas leitoras, boa noite! Desta vez, o Nomadic Tribal decidiu escrever sobre dicas de dinâmica e performance para tornar as apresentações de ATS® cada vez mais interessantes.

Ao longo desse tempo juntas, acabamos por descobrir bastante coisa – tanto na prática quanto através de dicas das FatChances das quais tivemos contato. Muitas delas ainda estamos aperfeiçoando a cada dia. Achamos bom, portanto, introduzir nossas próprias dicas através de algo que ouvimos da própria Kristine Adams (FCBD®) em 2013: pense sempre em seu público. Como a própria nos disse: “Vocês estão dançando para o público. Se o público não gostar, você não vai receber sua gorjeta”. Por mais hipotética que a situação da gorjeta possa parecer, sua essência é real e fatídica. Não nos apresentamos para nós mesmas, e sim, para um público que está lá para ver o que viemos fazer de melhor: dançar.

Portanto, é preciso pensar em várias questões:

 

Atenção às formações

Pense na melhor formação para o tipo de público e espaço em que vai apresentar. Se for, por exemplo, apresentar em um palco amplo com uma platéia frontal, todas as formações podem acontecer e um coro deixa o palco bastante preenchido. Se for em um café onde só há corredores, os trios em diagonal funcionam muito bem. Em grandes multidões com público por todos os lados, investir em rodas ajuda com que seu espaço esteja delimitado e, ao mesmo tempo, faz com que todo o público tenha uma boa visão do que está acontecendo. Não que seja necessário estar em roda o tempo todo, mas, perigando perder o espaço, ajuda bastante!


Mantenha o círculo rodando

Especialmente do workshop da Kae, na Argentina. Sempre que fizer roda, mantenha-a em movimento! Pense como se visse a formação de cima: se a roda não se movimenta, não toma o aspecto de um círculo – vivo - e sim de um monte de pontos parados aleatoriamente.


A música quem manda


E é preciso obedecer. Ela te dá frases e intenções, e quanto mais nos atermos a cumprir cada frase com os movimentos que mais “conversam” com ela, mais potente a dança fica. Não conte indiscriminadamente, escute a música! Isso vindo de Kae Montgomery. Mesmo que se acelere alguns movimentos, emende uns nos outros ou mude um pouco a energia deles. Se a música pedir, é permitido. Só não faça por fazer.


Energia!


Ponto pacífico que cada música e cada performance tem, por assim dizer, seu próprio “clima”. Até aí, ok. Mas, haja o que houver, tenha energia! A música dá o clima e nós, dançarinas, temos que preenchê-la. Para que o público receba aquilo que a música diz, temos que emanar essa energia a eles. Pense que existe várias qualidades de energia: a energia densa, a energia alegre, entre milhares de outras que podemos experimentar. Podemos – e até devemos- viajar em todas elas. Mas nunca, jamais, dance sem energia! Transmite ao público uma vontade de estar em qualquer outro lugar, fazendo qualquer outra coisa, menos onde se está. Aí não faz sentido, né?


Divirta-se verdadeiramente


Sabe aquela regra de sorrir sempre? Bom, furada. Digo o porquê: se nos sentirmos obrigadas a sorrir, nosso nível de tensão aumenta. Não é um sorriso  verdadeiro – e isso fica na cara, porque o que o sorriso esconde, o olhar vaza – e pode, inclusive, nos induzir a vários erros por nervosismo na hora da dança. Por isso, sorria sim, mas por outro canal. Divirta-se de verdade! Estamos fazendo o que mais gostamos para pessoas que compartilham nosso amor e admiração pela dança. O que poderia dar errado?

Inclusive, imagino que nessa última perguntar pensaram: “E se eu errar alguma coisa? Isso é dar errado!”. E já digo de antemão: nada de pânico! O Nomadic descobriu nos erros uma chave de cumplicidade essencial para quem dança o ATS®. Funciona assim: estamos pensando no público, emanando nossa energia ao máximo e nos divertindo pra xuxu. Até aí, ok. Então, alguma de nós – e isso já aconteceu com todas várias vezes – erra alguma coisa. O fato de estamos nos deliciando com o momento faz com que aquele erro – que poderia ser o fim do mundo – nos pareça algo mais risível ainda. Quem errou ri de si, quem viu ri JUNTO com o divertimento pra outra e vamo que vamo. Errou, beleza. Fazer o quê? Bola pra frente, tem muita coisa boa nessa dança pra vir! Garanto que é mais simpático ao público e a nós mesmas quando reconhecemos os erros com leveza do que tensão. O que me faz lembrar:


Snuj x Música = Pânico

Mais uma vinda da Kae – e essa é ótima.Se a música for MUITO rápida a ponto de você não conseguir dançar e acompanhar os snujs corretamente na música: NÃO TOQUE OS SNUJS! É melhor uma dança limpa sem snujs do que uma que vira uma bagunça de snujs enlouquecidos. Aliás, se tiver coro, o próprio coro pode assumir a responsabilidade de não dançar e só tocar os snujs. Enquanto isso, quem estiver no centro da performance, se preocupe em fazer movimentos pequenos mas que marquem bem o ritmo: shimmie, shimmie shoulder, etc. Nessas horas, movimentos muito grandes e elaborados só atrapalham. Faça menos, mas faça melhor.


Generosidade

                Quando estávamos na Argentina fazendo aulas com a Kae, uma das meninas que fazia o workshop conosco perguntou algo sobre alguém que se mantém muito tempo na liderança. Depois de algumas divagações, ela disse: “O que diferencia uma dançariana profissional de uma amadora é o quanto ela deixa de pensar em pequenas bobagens como ‘Oh, ela ficou tempo demais’ ou ‘Oh, não gostei disso que ela fez’ e o quanto ela passa a pensar no funcionamento real da dança”. Acho que essa foi uma das coisas mais importantes que já ouvi no ATS®, quiçá a mais importante de todas. É preciso, quando assumir a liderança, ter bom senso. Já quando estiver seguindo a líder, ter a generosidade de escutar aquilo que a líder está lhe dizendo com o corpo. Sem julgamentos, MESMO. Todas estão no grupo dançando juntas em prol do mesmo objetivo.


Olhos nos olhos, quero ver o que você faz

                Para fãs de Chico Buarque: "Deleitem-se". Nessa frase o moço tem toda a razão. O olhar é uma chave de ouro no ATS®. Tanto para o público quanto para as companheiras de dança. E é algo incrível! Muitas vezes, conforme você vai conhecendo as pessoas com quem dança e vai criando aquela boa e tão necessária companhia, só de olhar nos olhos você já sabe o que ela vai fazer. A pessoa te dá todos os sinais só com o olhar, como se dissesse: “Vem comigo que tenho uma boa idéia pra agora!”. E aí, o outro olhar responde “Vai que sigo! Tamo junto!”. E vejam só, que coisa linda: sem precisar de uma palavrinha sequer. Só com uma troca de olhar.

Por enquanto, é isso que podemos dizer. Esperamos, acima de tudo, que esta matéria não seja vista como uma aula ou como um manual de instruções e sim  como um compartilhamento de experiências aprendidas ao longo do caminho. Se tiverem questões, estamos por aqui!

Lililililiiiiii!!!!






[Índia em Dia]Navaratri e a produção cultural indiana

por Raphael Lopes

 Pandal de Durga, decorado na cidade de Calcutá

Olá queridos amigos,


A dança é certamente um dos maiores barômetros de uma cultura. A produção artística é reflexo do pensamento de uma sociedade, e do quanto a mesma disponibiliza recursos culturais e liberdade pessoal para que cada artista em isolado promova em arte um panorama maior de sua civilização.


É bem sabido que todas as culturas em seu princípio rudimentar tinha por base a celebração do mistério das forças que as circundavam, de modo que o movimento dos astros, os fenômenos sazonais, a guerra e sua sucessiva vitória, e por que não até mesmo a morte, eram festejadas com dança.

Dançar é uma das formas mais antigas de Orar que o homem descobriu. Uma experiência mística que sai da clausura de um monastério, trazendo para o palco da vida todas as suas emoções em forma de movimento.

A cultura indiana é uma das culturas arcaicas que ainda resistem ao tempo e todos esses milênios de cultura viva se refletem em sua produção cultural. Mas o inverso também pode ser equalizado: não seria a produção artística hindu um dos alicerces que preservaram sua cultura até a atualidade?

Arati nos pés do sagrado Rio Ganges após celebradas as Pujas

Eu arrisco afirmar que sim. E é justamente sobre um elemento central da produção cultural hindu que gostaria de me ater nessa publicação desse mês. É o Durga Puja (ou o Kali Puja), que estão envolvidos nas festividades conhecidas como Navaratri. Nava, significa "nove"; e Ratri, significa "noite". Nove noites de celebração à Deusa, que ocorrem sempre nos Equinócios (entrada do Outono e da Primavera), em que há diversas passagens onde Devi é a protagonista da salvação dos Deuses e dos três Mundos que compõem o Universo. A palavra Puja, que num primeiro instante pode ecoar como a saudação feita pelas bailarinas de American Tribal Style®, é na verdade um termo específico da liturgia hindu. Se trata de uma adoração elaborada às deidades, uma forma de prestar reverência e devoção, estabelecendo uma relação tátil com o sagrado por meio dos elementos que são ofertados às Imagens Devocionais: o Fogo da Lamparina, o Aroma dos Incensos, o Sabor das Frutas, o Frescor das Águas, a Vibração dos Mantras. Enfim, os elementos são purificados ao mesmo tempo em que purificam o celebrante num fluxo retroativo. 

Adorar as formas da Deusa por meio de presentes, festas e banquetes é uma consequência natural ao rito da Puja, e essa celebração é a forma social de se vivenciar o sagrado. Foi dai que surgiu a especializada casta de bailarinas totalmente dedicadas à produção artística nos Templos, ainda que diversas danças mais "simples" compunham as celebrações sociais. O Navaratri e a concorrida festa de Navaratri se assemelha muito com o nosso clima carnavalesco, ainda que nada possa se assemelhar ao espírito religioso que pervade essa festa. Nossa cultura no ocidente cingiu o sagrado do profano, de modo que todas as festas populares se tornaram demasiadamente comerciais e perderam todo o seu sentido religioso original. Na Índia, a festa e o rito caminham lado a lado. 

 Mulheres em festa na procissão de Durga, realizando a dança Dhunuchi com os incensos

A vasta mitologia indiana influenciou fortemente os cinemas, e Bollywood automaticamente, de modo que os filmes (em sua grande maioria, musicais) retratem as festas populares, ora com as danças clássicas (como executadas nos Templos), mas também as versões mais folclóricas e populares.

Os grandes dramas e paixões estrelados nessas peças ocorrem em paralelo aos festivais religiosos, de modo que os filmes indianos sempre nos trazem algum "sabor" dessas comemorações. O Durga Puja, por exemplo, é o cenário onde ocorre uma das mais célebres cenas de dança do cinema indiano, no filme Devdas (filme de Sanjay Leela Bansali). 


Além dos variados números de dança, esses filmes retratam também a moda e o vestuário, em partes influenciados pela estética, que recobre as próprias imagens das divindades. Em várias cidades da Índia, sendo Calcutá uma das mais aclamadas, existe até mesmo uma competição elegendo o bairro mais festivo e os altares mais bem produzidos. As danças que seguem a procissão das deidades até os rios sagrados que banham as cidades apinhadas são das mais variadas: danças envolvendo o malabarismo dos turíbulos e incensários; mulheres carregando bastões e dançando com suas amiga; saias, cheiros, e cores, muitas cores.

A dança é como a "respiração" que permeia a cultura; e é impossível dançar uma dança étnica sem a perspectiva de seu próprio Ethos. Dançar dança indiana não exige uma conversão ao hinduismo, mas exige uma profunda conexão com a cultura de modo que a dança possa assim respirar e exalar sua existência sobre os palcos tão distantes de seu berço natal.

 Bailarina de Kuchipudi, caracterizada como Devi

A dança Tribal tem um forte viés globalizante, mas ao mesmo tempo está se caracterizando como uma cultura nova. É um reflexo da aldeia global onde todos vivemos: onde podemos baixar um aúdio de derbak em poucos minutos no celular e importar acessórios dos quatro cantos do mundo pela internet. Mas, mais do que isso: dançar não é se fantasiar. Todos os mais lindos ornamentos serão apenas um acúmulo de exuberância sem sentido se eles não contarem uma história.

Hoje a Índia conta as glórias de sua Mãe Divina e toda a produção artística carrega uma parte dessa glória. Qual história sua dança quer contar?

Até a próxima,

Jaya Maa!!!


Identidade européia no Tribal Brasil

por Kilma Farias

Ballet Fusion Brasil com as alunas do Studio Lunay
          Se uma dança étnica pode ser entendida como tradução de uma tradição, sendo essa tradição fruto dos acontecimentos históricos de um povo e da particularidade de cada cidadão que dialoga com a sociedade em que está inserido, articulando em si uma identidade em constante trânsito, então podemos sim pensar toda e qualquer dança como uma dança étnica. Entendendo essa etnicidade como algo contemporâneo que se atualiza constantemente através dos seus “dançantes”.

            Pensando assim, as danças de origem europeia também podem ser entendidas como danças étnicas e, consequentemente, serem objeto de hibridação no Tribal Brasil.

Se trouxermos à lembrança a presença de uma matriz ibero-arábica no processo de colonização do Brasil, perceberemos o quanto que o mosaico luso pode representar o Tribal. Começado pelos moçarabes, cristãos de cultura árabe que aqui se estabeleceram propagando a cultura moura sob princípios judaicos-mulçumanos. Sem contar com o sem número de caixeiros viajantes que aqui comercializavam seus produtos, entre eles, belíssimos e enormes anéis, essências, especiarias e tecidos. Anéis esses que caberiam muito bem nas mãos de uma bailarina de Tribal.

            A invasão árabe na península Ibérica durou de 711 a 1492, gerando uma mestiçagem cultural, inclusive essa mestiçagem se reflete na maneira de se relacionar com outras culturas, favorecendo uma abertura ao novo. As justaposições sócio-culturais que se interpelam bem sugerem a figura de um mosaico português, com tantos e quantos arabescos possa ter herdado dos Árabes. Arabescos esses que, através da nossa memória afetiva, aparecem muitas vezes nos bordados dos cinturões e tops de Tribal Brasil.


Luana Aires: linhas de braços e pernas como herança do ballet

            Uma cultura acaba sendo incorporada à outra e nos chega como nos reizados das danças populares brasileiras, por exemplo, nas figuras dos reis e rainhas do congo, ou simbolizada pela coroa usada por alguns mestres do Cavalo Marinho de Pernambuco, e do Boi de Reis da Paraíba. Aludindo à coroa portuguesa.

            A via da história é de mão dupla, onde as influências circulam em direções diversas. Exemplo vivo são as dança Fofa e Lundu.

Pelo que se depreende das descrições da dança da fofa, desde 1730 - quando em Portugal aparece o Folheto de Ambas Lisboas a mais antiga referência a tal dança – e do lundu desde 1780 – quando o Conde de Pavolide recorda-o dançando em Pernambuco em 1768-1769 - , esses dois gêneros de dança pouco se diferenciavam um do outro, pois ambos tiravam do batuque duas das condições negro-africanas que mais os distinguiam: os meneios de corpo julgados indecentes do Congo, na fofa, e a alegre irreverência das umbigadas de Angola, no lundu. E, além do mais, o único elemento coreográfico representativo da contribuição branco-européia (o castanholar de dedos dos bailarinos com os braços levantados para o alto, arqueados sobre a cabeça) aparecia tanto numa quanto noutra. (TINHORÃO, 1988, p. 61).

            O fato é que tanto a Fofa quanto o Lundu transitaram entre Brasil e Portugal, mas ambas possuíam mestiçagem com matrizes africanas. Como separar, ou peneirar, influências? Penso que esse mosaico é construído ao longo de toda história da humanidade, transformando-nos em seres híbridos por natureza e essência. E esse hibridismo reflete na arte, na nossa dança e, consequentemente, no Tribal Brasil e na nossa forma de pensar esse corpo que traduz influências também europeias. Poderíamos perguntar o quanto tem de Afro na Fofa? O quanto tem de Afro no Lundu? Ou até mesmo por que a Fofa acabou se tornando um dos símbolos da cultura Portuguesa e no Brasil já não mais se encontra?


Larissa Martins dançando ballet fusion
            Pensemos agora o ballet clássico com toda sua verticalidade corporal, atentando à autonomia dos membros superiores e inferiores em relação ao centro do corpo em plena ativação. Sim, o ballet europeu também contribui com o corpo do Tribal Brasil. Linhas de braços e de pernas, giros e eixo de equilíbrio podem ser atribuídos a essa herança, assim como a estética temática a que “colonizamos” nosso olhar para julgar o “belo” na dança através do viés do ballet clássico.

Na antropologia, entende-se por étnico um grupo que se liga geneticamente, linguisticamente e culturalmente. Pode-se concluir desse raciocínio que toda dança, em sua natureza, é étnica, pois não existe a dança de um povo, sem o povo. Desse modo, o ballet clássico fala da cultura europeia e se perpetua como um produto do mundo ocidental. O que separa o patrimônio imaterial de um povo do outro é enxergado sob diferentes prismas, sempre em relação a quem observa e a quem é observado. Podemos concluir dessa reflexão que não se trata de enquadrar ou não o ballet clássico, ou seja, que dança for, sob o guarda-chuva da “etnicidade”, mas sim de olhar para essa dança, e para qualquer outra, a partir das tradições culturais nas/pelas quais se desenvolveu e continua a se desenvolver.

Sendo assim, o Tribal Brasil também pode ser vivido como uma dança étnica que abarca inúmeras outras, sejam de matriz indígena, africana ou europeia, sob um processo de constante atualização de linguagem corporal e conceitual que não se impõem, mas dialogam no movimento do corpo e na construção da cena dançada.

Ballet Fusion Brasil com as alunas do Studio Lunay


Referências bibliográficas:

HEALIINOHOMOKU, Joann. Uma antropóloga olha o Ballet Clássico como uma forma de dança étnica. IN: CAMARGO, Giselle Guilhon Antunes (org). Antropologia da dança I. Florianópolis: Insular, 2013.


TINHORÃO, José Ramos. Os sons dos negros no Brasil. Cantos, danças, folguedos: origens. São Paulo: Art Editora, 1988.




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