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[Danças & Andanças] JamBallah NW 2017


por Mimi Coelho

Um festival de danças do Oriente Médio e Fusão Americana

Seguindo com minhas histórias na dança por terras estrangeiras, hoje contarei um pouquinho desse festival tão apaixonante que é o Jamballah NW! Mais especificamente, compartilharei minha experiência na edição de Agosto de 2017 neste festival que é palco para vários estilos e grande incentivador para a criatividade em fusões. Se você se interessa por festivais que oferecem workshops e performances criativos, da dança oriental tradicional à dança contemporânea, incluindo fusões, teoria e prática musical, dentre outros estilos maravilhosos, vem comigo porque o Jamballah pode lhe oferecer tudo isso e muito mais!


O JamBallah NW é organizado por Elise Morris, grande produtora de eventos em dança, embaixadora da dança pela Dance Wire PDX, presidente da Portland Bellydance Guild e linda performer de dança oriental e fusões, sendo também integrante da Allegro Dance Company.

Elise consegue reunir neste evento profissionais de diversas áreas, construindo um ambiente acolhedor, criativo e, sobretudo, incentivador da dança em geral. O trabalho dela ressalta pela atenção aos mínimos detalhes, pela organização primorosa desde ao primeiro abrir portas do festival ao último número de dança no Showcase. Dessa forma, as pessoas que comparecem ao evento, sejam estudantes de dança, professores ou admiradores da arte, vivenciam agradáveis momentos de muita leveza, festividade e principalmente inclusão.

A edição de 2017 contou com a presença de professores dos mais variados estilos, destacando-se Mardi Love, Rachel Brice, Ashley Lopez, DeAnna, Baksana, Serena Spears, Sarah Ebert, Nazaneen e Khadijah. Foram três dias de festival intensos que ocorreram no teatro Artists Repertory Theater, onde os participantes puderam desfrutar dos workshops, da feira e exposição de artesanatos, além das mostras de dança e dos showcases noturnos.

Um dos pontos mais altos do Jamballah NW 2017 foi a oportunidade de contatos diversos com profissionais nem sempre tão conhecidos no meio da dança, mas que possuem muita bagagem de qualidade para compartilhar.

Os Workshops

Em festivais de curta duração como este é muito difícil escolher e conciliar todas as suas preferências de aulas, conforme o foco de estudo que você desenvolve no momento. Dessa forma, priorizei o meu grande interesse nas bases e fundamentos do tribal, bem como no refinamento técnico e na teoria e prática musical na dança. Ou seja, desfrutei de aulas com Mardi Love, Rachel Brice e Baksana. Entretanto, confesso que fiquei extremamente curiosa com relação às aulas de Serena Spears (técnicas de fusão com danças latinas, técnicas de fusão com Hip Hop), Ashley Lopez (flexibilidade e prevenção de lesões) e Sarah Ebert (alma da dança contemporânea).

As oportunidades de estudo com Mardi Love são limitadas (não é sempre que ela ensina nos festivais), então sempre que aparece uma possibilidade acessível corro para me inscrever. Ela ofereceu três cursos no JamBallah: um mini-intensivo de seis horas, “Ode ao Twist e aos Giros” e Nova Coreografia.

“Vocês estão perguntando se eu me increvi nos três cursos? Sim, eu me inscrevi nos três cursos!” Isto porque, na minha opinião, a Mardi traz em seu repertório de dança movimentos clássicos do estilo que eu reconheço como Tribal Fusion (e novamente enfatizo que isto é uma visão minha, Mimi Coelho!). Ela incorpora em seu vocabulário a forma mais simples de fusão com a dança oriental em combinações brilhantes (muitas vezes inimagináveis) e ainda adiciona doses extras de elegância, força e até humor. Ao apresentar esse repertório de passos que seriam a base do Tribal Fusion para mim, Mardi consegue criar uma qualidade singular em sua execução, com doses extras de musicalidade e descontração. Além disso, outra característica que me atrai na dança dela é a fusão vintage”, o uso de movimentos originais do Charleston, Jazz e Swing, que já representa sua marca pessoal.

A cada encontro com a Mardi Love aprendo mais sobre a importância dos movimentos lentos e do refinamento na execução dos mesmos, o que traz uma elegância incomum para a dança. Os movimentos de braços e mãos evidenciam os isolamentos no corpo e compõem a beleza estética do todo. Por isso, sempre saio de suas aulas me sentindo mais alta e ampla. A sua forma de trabalhar a musicalidade também é muito particular, tenho a impressão de que Mardi canta a música com o corpo de forma sempre inesperada. Quando lento, ela prefere ressaltar o extremo dos movimentos, quando rápido, sua agilidade ao precisar cada isolamento deixa claro que o menor é sempre o mais aparente e belo. Não há exageros na movimentação, mas a autenticidade ao se criar o simples. E como sempre foi um deleite presenciar o quão suave e orgânico ela cria o movimento em dança. Mardi cultua a beleza continuamente em suas composições.


Além das aulas de Mardi Love, participei também do curso de "Giros Cintilantes e Específicos" para dançarinos experientes ministrado por minha professora Rachel Brice. Eu gosto sempre de aproveitar as chances que tenho para  aprimorar a minha técnica na execução do vocabulário do Datura Style e, claro, receber o direcionamento daquela que escolhi como minha mestra de dança.

Provavelmente, vocês estão me perguntando: “Por que não escolheu outras experiências de aprendizado e se inscreveu para uma aula que a Rachel ensinou algo do vocabulário do Datura Style, se você já é uma professora certificada do estilo?”

E a resposta para isso é: a maestria na execução da técnica exige tempo, prática e direcionamento. Acredito que todo estudante de dança, ainda que profissional, necessita de um guia, aquela pessoa em quem confia para lhe direcionar pelos caminhos do aprendizado/crescimento e da arte (devemos eleger nosso mestre principal, aquele a quem sempre recorremos em períodos de dúvidas ou crises). Dessa forma, cada aula, cada lição em classe é uma nova oportunidade de absorção de conhecimento e entendimento do movimento no seu corpo. Ou seja, ainda que eu tenha participado de muitos cursos e aulas com Rachel, tento estar presente no máximo de oportunidades para aprender com minha professora (lembrando que ela não ministra aulas regulares no Studio Datura).

Dito isso, no curso foi apresentado a sequência de giros que conhecemos como “Tsifti Spins” e o “Camel Walk Double Turn” do vocabulário Datura Style. O primeiro trabalha giros inspirados na dança clássica indiana Kathak e por isso são executados nos calcanhares dos pés. O segundo possui um “hook turn” seguido de “crossover turn” em tempo rápido. Ambos apresentam um grau elevado de dificuldade e Rachel nos guiou pelo passo a passo dos mesmos de maneira divertida, técnica e eficiente! A Elise postou um vídeo público do final do curso em que realizamos estes movimentos, o qual compartilho com vocês abaixo.

Giros e improviso no workshop de Rachel Brice


O último workshop do qual participei foi ministrado pelo grupo Baksana e me impressionou muito. Eles desenvolveram um método de notação musical para “finger cymbals” (snujs), possibilitando a leitura e a criação de partituras para as composições de dança. O método requer estudo aplicado para aqueles que planejam absorver e utilizar a técnica, uma vez que desenvolveram diversas formas de toques para os quais se produz diferentes sons. Além disso, eles também ensinam combinações destes toques que criam diferentes padrões para os diversos ritmos musicais. Segundo o que eles ensinaram e demonstraram, após o domínio das técnicas é possível criar dinâmicas de improviso entre os praticantes, quase como em uma dinâmica de roda de capoeira.


Improviso com Snujs, método Baksana, Baksana Bellydance

Essa experiência com certeza foi uma das mais desafiantes que já tive com relação ao tocar snujs. Para nos auxiliar em estudos posteriores, eles publicaram um livro sobre o método e toda a pesquisa que estão desenvolvendo sobre os nossos amados “finger cymbals”.


Isso não deixa a gente super animado para aprender mais? Vocês podem adquirir o livro deles online no site: https://baksanastore.ecwid.com/Baksanas-Finger-Cymbal-Notation-Vol-1-p89911740 e acompanhar o trabalho desse lindo grupo pelo site https://baksanabellydance.com/ . A fim de ilustrar melhor o quão desafiante e divertido é o método, compartilho com vocês um dos meus vídeos de minha participação do Desafio de Finger Cymbals que eles lançaram em fevereiro.


Challenge Finger Cymbals Awereness Month

A Exposição de Artesanatos – Feira

Como todo bom e tradicional festival da nossa comunidade, o JamBallah também organizou a tão amada feira. Os mais variados e enlouquecedores adereços, jóias, artigos pra dança, peças de roupas e figurinos foram expostos ao longo do hall e corredores do teatro. Muita cor, diversidade e opções para acariciar os olhos dos admiradores. Para nós brasileiros sem dúvida é dolorido ver tanta coisa linda, diferente e não poder comprar (bom pelo menos no meu caso), pois ainda que ofereçam preços atrativos, o valor do dólar dificulta muito a aquisição dessas belezas. Entretanto, é sempre divertido passear, conhecer pessoas e encontrar os amigos da dança pela feira! Afinal, os melhores papos acontecem pelos corredores das exposições!



Festival Show e JamBallah Showcase

O JamBallah realiza o Festival Show que simboliza e celebra a reunião de todos os dançarinos participantes procedentes dos mais diversos lugares do país e do mundo. Desde que o dançarino participe de pelo menos um workshop, ele pode se inscrever previamente e, então, apresentar-se no grande palco do festival. Para possibilitar a apresentação de todos, o JamBallah desenvolve uma prática interessante de limitar quantas vezes uma mesma pessoa dança em palco, a depender do interesse de participar com um solo, duo, trio ou grupo. Há a preocupação por parte do festival em se garantir a oportunidade para todos mostrarem seu trabalho, independente de técnica ou reconhecimento geral.

O Festival Show teve a duração de duas horas e foi realizado em todos os dias do evento durante as tardes. Foi maravilhoso acompanhar tantas performances diferentes e criativas, tantas formas de movimentação e composições ricas em expressão. Eu realmente aprecio as mostras de dança, pois são surpreendentes e inspiradoras. Sempre saio dessas experiências com vontade de criar!

Além disso, o JamBallah organiza seu próprio showcase, onde os instrutores do festival, os grupos e performers de Portland se reúnem em um produzido espetáculo, que ocorre nas primeiras duas noites. Não há restrição de estilo e sim uma composição interessante de experiências e linguagens.

Tive o imenso prazer de presenciar fusões diferentes e inesperadas, porém fundamentadas e compostas brilhantemente. Ressalto a composição apresentada pelo Allegro Dance Company, que está estabelecendo um novo rumo para a fusão local e quem sabe internacional também.

“La Follia a la Allegro” , Allegro Dance Company



O solo Indian Fusion de Sedona Soulfire me tocou profundamente e é realmente uma pena não ter um vídeo para mostrar pra vocês, foi um dos pontos altos de expressão dos showcases. O improviso de snujs realizado pelo Baksana sem outro acompanhamento musical impressionou pela técnica, agilidade e perfeição. As composições coreográficas de Bevin Victoria também foram ricas em expressividade. Sem contar é claro na performance de Mardi Love que como sempre preencheu o espaço com classe, expressão e contentamento.


Mardi Love




Serena Spears




DeAnna with Jesse and Sofia




Ashley Lopez



Scarlet Thistle





Gostaria de detalhar sobre cada um, mas infelizmente ficaria longo demais. Deixarei para uma troca posterior, seja escrita ou quem sabe pessoalmente?


Finalizando, o JamBallah me proporcionou vivências maravilhosas tanto como estudante quanto como apreciadora da arte, tudo em um ambiente inclusivo e acolhedor, característico de uma comunidade que incentiva a dança, seus praticantes e profissionais. Acredito que é um festival que crescerá em linhas não tradicionais com o histórico dos festivais de fusão, pois sua organizadora, Elise, tem o objetivo de incentivar a dança como um todo. Dessa forma, busca variar os estilos oferecidos e os profissionais instrutores convidados. Acho que isso é o que mais me atrai neste festival.



[Danças & Andanças] DaturaCon: O acampamento de verão para professores do Datura Style™

por Mimi Coelho



Em julho do ano passado (2017), durante minhas aventuras pelo mundão da dança, ingressei nesta experiência fantástica e tão comum para os americanos: o “Summer Camp” (acampamento de verão). Para ser mais específica, neste caso foi um “Dance Summer Camp”, organizado por Rachel Brice e direcionado aos seus professores certificados do Datura Style . E eu pergunto: Qual a melhor maneira de refinar a técnica da dança e de praticar o improviso do Datura Style™ senão em uma grande reunião da comunidade, em meio à natureza, enriquecida por bons momentos com “Bonfires e S’mores” (fogueiras e biscoitos recheados com marshmallows assados no fogo e chocolate)? Se você se interessou em saber mais sobre o que pode seguir depois das quatro fases dos 8 Elements de Rachel Brice, vem comigo que eu vou contar os detalhes desta vivência super especial!



O evento aconteceu no aconchegante e encantador Sou’Western, que fica em Seaview, há duas horas e meia de Portland, bem na costa de Washington. O lugar é impressionante! Nele há a oferta de várias opções de alojamento para todos os gostos e disposições. É uma mistura fascinante de diversos tipos de estadia: quartos tradicionais, cabines privadas do tipo bangalôs, mini suítes, espaços abertos para acampamento em barracas e trailers de viagens antigos. O local ainda ostenta uma combinação de paisagens naturais belíssima e a poucos metros de distância. A depender da direção em que caminha, você pode encontrar a praia linda e praticamente deserta ou maravilhosas trilhas de matas naturais. 


Logo no primeiro momento, ficamos deslumbradas com a exuberância do local e claro, entusiasmadas com os nossos trailers “vintages”, que são realmente uma graça! Tive o imenso prazer de dividir uma dessas preciosidades com a minha grande amiga Chandala Snow-Chiva. Desfrutamos de momentos divertidíssimos em nosso trailer que tinha sala, cozinha, quarto e um pequeno banheiro com chuveiro e tudo! Além disso, em nosso “Blue Flamingos” havia um área externa com lugar para se fazer fogueira e ali realizamos nosso primeiro encontro para contos de terror (sim, a família dos 8 Elements e a nossa mestra Rachel Brice dividimos histórias horripilantes ao redor do fogo! – assunto que guardarei para uma próxima oportunidade, pois daria outro artigo). 


No primeiro dia, depois de nos alojarmos propriamente, pudemos desfrutar de uma visita em grupo às lojas de antiguidades locais e procurar pelos ditos tesouros para ornamentação própria, de figurinos, de studios de dança e de casa. Apesar de não ser uma experiência comum, é como um laboratório de estudo sobre criatividade. Aprendi muito ao observar como cada uma percebia o valor do significado de objetos/adornos de forma diferente, visualizando possibilidades múltiplas para a utilização dos mesmos. 

Após uma tarde entre belezas antigas e processo criativo, reunimos à noite para a tão esperada sessão de perguntas e respostas com a nossa mestra Rachel Brice. Fomos orientadas a formular perguntas que abordassem o Datura Style (método e vocabulário), bem como o ensino de dança, a administração de estúdios, carreiras profissionais em dança e outros assuntos relacionados. Este foi um momento de introdução oficial ao “Dance Summer Camp”, onde trocamos experiências, resolvemos questões e nos preparamos para todo o treinamento prático dos dias seguintes. A proximidade e abertura por parte da Rachel Brice neste encontro foram tocantes. Ela se colocou a nossa disposição não somente para resolver as dúvidas, mas também se abriu para sugestões e ideias apresentadas pelo seu grupo de professores. Houve também a apresentação oficial do primeiro livro brochura dos 8 Elements, o qual aborda todas as quatro fases. A emoção foi forte ao segurar este volume recheado de informações e conhecimentos que fazem do programa uma experiência transformadora.


Os dias seguintes foram preenchidos por um intenso trabalho de refinamento da técnica e prática de improviso utilizando-se o vocabulário de movimentos e passos do Datura Style™. Durante o treinamento técnico, tivemos tempo para corrigir e entender como repassar em aula as particularidades da movimentação em geral. Foi um trabalho de colaboração e esclarecimentos fundamental à uma reciclagem de conhecimentos dos professores do estilo.



Daí vocês me questionam: "Okay Mimi, entendemos que vocês se encontraram para refinar todas as informações e conhecimentos técnicos sobre o Datura Style™, mas como é o método utilizado para o desenvolvimento do estilo em aula?"

Rachel Brice desenvolveu um método, ao longo da concepção do programa 8 Elements, com o objetivo de garantir e melhorar a técnica de dança, os famosos “Studies”.  Eles são exercícios que combinam o treinamento usando intervalos de tempo, a musicalidade (incluindo o uso de zills – snujs), os isolamentos específicos, os padrões de braços e os deslocamentos. Eu sempre faço uma correspondência destes com a “barra” da aula de ballet clássico. Seriam todas as partes isoladas de movimentos corporais que necessitam de coordenação, força, limpeza e precisão. Por serem diretos, práticos e eficientes, tenho uma adoração especial pelos “Studies”. Em seguida, passamos para a prática dos movimentos e dos passos que formam o vocabulário (na minha associação, o centro da aula de ballet clássico). Após o trabalho físico focado exclusivamente no aprimoramento da técnica, eles entram para compor a parte dançante e criativa do estilo. Assim como no ATS®, estas combinações (“combos”) possuem senha para facilitar o improviso dançado em grupo. 

Neste primeiro Datura Con, toda essa prática intensa da técnica e das combinações teve a duração de 3 a 4 horas por dia. Logo após isso, fazíamos uma pausa de uma hora para o almoço, momento em que nos sentávamos à longa mesa de madeira no centro do acampamento e confraternizávamos. O mais tocante dessa experiência foi a proximidade e o espírito de colaboração do grupo, a troca era constante e sobre todos os tipos de assuntos. O crescimento não para em oportunidades como essa.





Outro grande foco do “Dance Summer Camp” era a oportunidade de se praticar o improviso em grupo do estilo com seus colegas-professores. Assim, mais 3 horas de cada dia eram desfrutadas em sala de aula, exercitando nossas habilidades em improviso de grupo dentro da técnica Datura Style™


Ao fim de quatro dias, encerramos essa vivência tão enriquecedora com uma grande fogueira na praia. Dançamos ao redor do fogo, apreciamos os tão aclamados “S’mores” (sanduíches feitos de biscoito recheados com chocolate e marshmallows assados no fogo), assistimos o pôr do sol e nos despedimos desses momentos de troca, inspiração e nutrição de conhecimentos.







[Danças & Andanças] Dancecraft: O Formato Zoe Jakes de Dança

por Mimi Coelho

Em maio de 2017 tive a grande oportunidade de vivenciar dias intensos de estudo e prática de dança com uma de nossas grandes referências do Tribal Fusion Bellydance, Zoe Jakes. Essa foi mais uma de minhas aventuras como bailarina estudante, a qual me rendeu momentos incríveis ao lado de pessoas maravilhosas com inúmeros desafios físicos e mentais para fortalecer a postura resiliente que a vida de dança nos exige, como bem sabemos. Tive a grande oportunidade de fazer os dois níveis do Dancecraft seguidos, devido ao meu esforço concentrado para passar nos testes do primeiro nível (que não foram nada fáceis), e o direito a uma bolsa de estudos oferecida por minha amiga da dança Lesley Inman (que, infelizmente, devido a uma lesão não pôde comparecer ao curso). Muitas bênçãos podem ocorrer pelos caminhos de quem dança se nos abrirmos para as lindas amizades que se apresentam por eles, mas isso é uma conversa para outro artigo!

Se você admira a Zoe como uma grande performer e a tem como inspiração técnica e artística o Dancecraft é certamente o investimento ideal dentre os programas atualmente oferecidos. O objetivo deste artigo é lhes oferecer um panorama deste formato, esclarecendo sobre a abordagem de dança e o estilo de ensino que ele envolve. Vem comigo?


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[1] Para maiores esclarecimentos acesse http://zoejakes.com/dancecraft/ .



Dancecraft: Um programa de desafios

Desde o princípio Zoe esclarece que o que ela ensina em seu programa constitui sua visão e versão de Tribal Fusion Bellydance, o que implica que outras diversas formas abordadas por diferentes profissionais desse estilo não são cobertas em seu curso. Ela nos oferece uma vivência que constitui o resultado de todas as suas experiências e descobertas ao longo de sua carreira em forma de dança.

O formato Dancecraft, sem dúvidas, desafia os dançarinos em suas habilidades físicas e mentais e traz como foco principal o estilo de dança apresentado em palco pela Zoe. Os alunos devem estar preparados para intensas práticas físicas por horas seguidas (normalmente são 3 horas antes do almoço e 3 horas após o mesmo), com pequenas pausas entre exercícios para água, “belisquetes” e banheiro. São trabalhados força muscular, flexibilidade, estamina, técnica, musicalidade, coreografia, pensamento crítico, análise criativa, trabalho em grupo, história da dança do ventre e criatividade.

Neste momento você deve estar se questionando: “Ah, okay Mimi, mas como assim 3 horas seguidas de prática? É como uma aula normal de dança do ventre onde se explicam os exercícios e depois os executa?”.

E aqui eu pauso um pouco a explicação para alertar àqueles que têm o objetivo de investir no formato Dancecraft. Por ser um programa intenso e muito técnico, Zoe recomenda enfaticamente que os dançarinos tenham um mínimo de 3 anos de prática da dança do ventre ou que antes de se inscreverem para o primeiro nível realizem o curso preparatório para o Dancecraft oferecido por ela. Eu pessoalmente concordo com essa recomendação. Por ser uma pessoa que já possuía 3 anos de dança do ventre antes de me inscrever para o Key of Diamonds e que também realizou o curso preparatório, posso afirmar que as aulas são extremamente desafiadoras em relação tanto à resistência física e preparação, quanto à execução de movimentos extremamente complicados, como: “layers incomuns” (em que os comandos do cérebro não são usuais para determinadas partes do seu corpo), pop, locks muito rápidos, ooey gooyes (tradução livre desta expressão: "gelatinoso e super ligado, como se não tivesse osso") lentíssimos, “shapes” inesperados. Além disso, as aulas da Zoe são extremamente rápidas. Claro, que isso é uma opinião pessoal! E por isso deixo a critério de cada um a sua análise e opção.

Retorno, assim, à explicação geral do programa repetindo que as aulas são muito dinâmicas e mais práticas do que teóricas (embora os laboratórios durante a noite sejam mais sobre teoria). Todos os dias há inicialmente um aquecimento - uma mistura de preparação física, em que se trabalha força, estamina e flexibilidade - o qual evolui para as práticas de isolamentos (os famosos “drills”) em que são trabalhadas as técnicas em “shapes” com variação de qualidade e intensidade dos movimentos. Gradualmente somos direcionados, então, dos drills para os layers e a cada dia o nível de dificuldade aumenta. Após tudo isso, Zoe nos conduz pelos repertórios de passos que chama de “old school” e pelas frases curtas de autoria própria, os quais devem ser completamente memorizados e executados com bom nível técnico (principalmente se o aluno pretende realizar o teste final). Ela ainda trabalha a execução dos movimentos com o acompanhamento de Zils (Finger Cymbals ou Snujs, nomenclatura mais popular no Brasil) com diversos padrões de toque e, por fim, uma coreografia desenvolvida para cada nível do programa (que também deve ser memorizada e executada com boa técnica). Essa descrição toda corresponde a um dia inteiro de aula que normalmente se repete por 5 a 6 dias (a depender do nível) e termina com o teste e o hafla em comemoração ao seu grande esforço e desempenho!

Ao final de tudo, a sensação é maravilhosa! Terminar uma semana intensa de curso e perceber que você se transformou pelo trabalho que desenvolveu ali com sua professora uma grande inspiração e também uma das referências da dança é realmente uma emoção indescritível. Sim, haverá dores por todo seu corpo (o que eu particularmente sou viciada, acho simplesmente energizante), e sim, o seu cérebro se sentirá cansado, mas também revigorado por tantas informações e conexões novas adquiridas. São transformações positivas que você desenvolve e que, com consistência de trabalho, perpetuam-se em sua carteira de habilidades.




Primeiro Nível do Dancecraft – Key of Diamonds

O diamante do nome deste primeiro nível representa o que vem da terra, a base, os fundamentos.

Neste nível Zoe ressalta a importância de se constituir uma base sólida de habilidades e conhecimentos para, então, agregar movimentos mais desafiadores, coordenados, rápidos e em composições mais difíceis. Trata-se de uma introdução de todos os princípios pelos quais ela constrói o seu estilo, revelando a raiz da sua estilização e da estética da sua dança.



Segundo Nível do Dancecraft – Key of Spades

As espadas mencionadas no nome deste nível fazem referência ao Tarot e simbolizam determinação, trabalho duro e disciplina. Zoe assume que os alunos retiveram o profundo e sólido entendimento da linguagem desenvolvida no Diamonds e os conduz por um trabalho mais desafiador, o qual resulta em um maior acúmulo de habilidades e técnica apurada.

Neste nível, há um  grande salto de dificuldade técnica. Todos os isolamentos e layers exigem dos alunos maiores precisão, força, flexibilidade e estamina. Além disso, eles devem ser capazes de executar passos de extrema dificuldade, enquanto tocam diversos padrões de Zils (snujs). Há também uma coreografia complexa em que se utiliza os mesmos. E finalmente, neste nível também se trabalha composição de dança e colaboração coreográfica para espetáculos.



Zoe Jakes e aulas regulares

A experiência com Zoe Jakes  no programa Dancecraft é única e corresponde diretamente com o que ela realiza em palco, sejam coreografias ou improvisações. Após estudar o formato, o dançarino consegue identificar cada forma, qualidade, movimento que ela executa e isso é muito interessante!

Zoe é uma professora intensa e dinâmica o que corresponde com a sua personalidade no dia a dia. Talvez ela seja uma das profissionais referências mais acessível, por interagir sempre diretamente com o aluno sem muitas restrições e com muita humildade. Ela divide todos os seus conhecimentos abertamente e aplica em suas aulas novas experiências corporais que agregam diariamente em suas práticas pessoais de acro yoga e circo. Sua forma de ensinar, então, sempre recai sobre os desafios que a motiva e sobre a sua vontade de sempre desenvolver os alunos para superar essas dificuldades. Estes, por sua vez, sempre se sentem encorajados a arriscar algo novo, algo desafiador e, por isso, há um progresso visível e constante de sua turma.

Como uma dançarina que sempre estuda, vivenciei diversas oportunidades de aprendizado com essa grande profissional. Por isso, afirmo com propriedade que os workshops que ela ministra em diferentes ocasiões, as aulas regulares em Oakland e o programa Dancecraft são experiências distintas com algumas poucas semelhanças entre eles. Zoe é extremamente artista e criativa, com um conteúdo amplo de movimento na sua bagagem e sabiamente consegue reparti-lo em experiências múltiplas para os alunos que a acompanham.

Zoe inspira a todos em suas ações diárias de busca. Não há crença de idade, pré condições ou tantas outras limitações usuais que se espalham pelas mentes dos dançarinos. Para ela há o desejo, a motivação, o trabalho, a superação dos limites e um desenvolvimento claro de novas habilidades. Ela é um movimento constante, simplesmente não para e por isso está sempre se superando. Sou muito grata por ter presenciado o movimento dela ao longo do ano de 2017 e posso dizer que só vi resultados extremamente positivos. É inspirador!

Esperança, determinação e coragem são muito importantes... e acreditar em si mesmo e no seu caminho verdadeiramente lhe traz a lua e as estrelas”– Fonte: @thedaturaonline





Uma publicação compartilhada por Carla Michelle / Mimi Coelho (@mme_mimicoelho) em





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