por Mimi
Coelho
Um
festival de danças do Oriente Médio e Fusão Americana
Seguindo com minhas histórias na dança por terras
estrangeiras, hoje contarei um pouquinho desse festival tão apaixonante que é o
Jamballah NW! Mais especificamente, compartilharei minha experiência na edição
de Agosto de 2017 neste festival que é palco para vários estilos e grande incentivador
para a criatividade em fusões. Se você se interessa por festivais que oferecem
workshops e performances criativos, da dança oriental tradicional à dança
contemporânea, incluindo fusões, teoria e prática musical, dentre outros
estilos maravilhosos, vem comigo porque o Jamballah pode lhe oferecer tudo isso
e muito mais!
O JamBallah NW é organizado por Elise Morris,
grande produtora de eventos em dança, embaixadora da dança pela Dance Wire PDX,
presidente da Portland Bellydance Guild e linda performer de dança oriental e
fusões, sendo também integrante da Allegro Dance Company.
Elise consegue reunir neste evento
profissionais de diversas áreas, construindo um ambiente acolhedor, criativo e,
sobretudo, incentivador da dança em geral. O trabalho dela ressalta pela
atenção aos mínimos detalhes, pela organização primorosa desde ao primeiro
abrir portas do festival ao último número de dança no Showcase. Dessa forma, as
pessoas que comparecem ao evento, sejam estudantes de dança, professores ou
admiradores da arte, vivenciam agradáveis momentos de muita leveza, festividade
e principalmente inclusão.
A edição de 2017 contou com a presença de
professores dos mais variados estilos, destacando-se Mardi Love, Rachel Brice,
Ashley Lopez, DeAnna, Baksana, Serena Spears, Sarah Ebert, Nazaneen e Khadijah.
Foram três dias de festival intensos que ocorreram no teatro Artists Repertory Theater, onde os participantes
puderam desfrutar dos workshops, da feira e exposição de artesanatos, além das
mostras de dança e dos showcases noturnos.
Um dos pontos mais altos do Jamballah NW 2017
foi a oportunidade de contatos diversos com profissionais nem sempre tão
conhecidos no meio da dança, mas que possuem muita bagagem de qualidade para
compartilhar.
Os Workshops
Em festivais de curta duração como este é muito
difícil escolher e conciliar todas as suas preferências de aulas, conforme o
foco de estudo que você desenvolve no momento. Dessa forma, priorizei o meu
grande interesse nas bases e fundamentos do tribal, bem como no refinamento
técnico e na teoria e prática musical na dança. Ou seja, desfrutei de aulas com
Mardi Love, Rachel Brice e Baksana. Entretanto, confesso que fiquei
extremamente curiosa com relação às aulas de Serena Spears (técnicas de fusão
com danças latinas, técnicas de fusão com Hip Hop), Ashley Lopez (flexibilidade
e prevenção de lesões) e Sarah Ebert (alma da dança contemporânea).
As oportunidades de estudo com Mardi Love são
limitadas (não é sempre que ela ensina nos festivais), então sempre que aparece
uma possibilidade acessível corro para me inscrever. Ela ofereceu três cursos
no JamBallah: um mini-intensivo de seis horas, “Ode ao Twist e aos Giros” e
Nova Coreografia.
“Vocês estão perguntando se eu me increvi nos três cursos? Sim, eu me inscrevi nos três cursos!” Isto porque,
na minha opinião, a Mardi traz em seu repertório de dança movimentos clássicos
do estilo que eu reconheço como Tribal Fusion (e novamente enfatizo que isto é
uma visão minha, Mimi Coelho!). Ela incorpora em seu vocabulário a forma mais
simples de fusão com a dança oriental em combinações brilhantes (muitas vezes
inimagináveis) e ainda adiciona doses extras de elegância, força e até humor. Ao
apresentar esse repertório de passos que seriam a base do Tribal Fusion para
mim, Mardi consegue criar uma qualidade singular em sua execução, com doses
extras de musicalidade e descontração. Além disso, outra característica que me
atrai na dança dela é a “fusão vintage”, o uso
de movimentos originais do Charleston, Jazz e Swing, que já representa sua
marca pessoal.
A cada encontro com a
Mardi Love aprendo mais sobre a importância dos movimentos lentos e do
refinamento na execução dos mesmos, o que traz uma elegância incomum para a dança.
Os movimentos de braços e mãos evidenciam os isolamentos no corpo e compõem a
beleza estética do todo. Por isso, sempre saio de suas aulas me sentindo mais
alta e ampla. A sua forma de trabalhar a musicalidade também é muito
particular, tenho a impressão de que Mardi canta a música com o corpo de forma
sempre inesperada. Quando lento, ela prefere ressaltar o extremo dos
movimentos, quando rápido, sua agilidade ao precisar cada isolamento deixa
claro que o menor é sempre o mais aparente e belo. Não há exageros na movimentação,
mas a autenticidade ao se criar o simples. E como sempre foi um deleite
presenciar o quão suave e orgânico ela cria o movimento em dança. Mardi cultua
a beleza continuamente em suas composições.
Além das aulas de Mardi
Love, participei também do curso de "Giros Cintilantes e Específicos" para
dançarinos experientes ministrado por minha professora Rachel Brice. Eu gosto
sempre de aproveitar as chances que tenho para
aprimorar a minha técnica na execução do vocabulário do Datura Style e,
claro, receber o direcionamento daquela que escolhi como minha mestra de dança.
Provavelmente, vocês
estão me perguntando: “Por
que não
escolheu outras experiências de aprendizado e se inscreveu para uma aula que a
Rachel ensinou algo do vocabulário do Datura Style, se você já é uma professora
certificada do estilo?”
E a resposta para isso é: a maestria na execução da técnica exige tempo,
prática e direcionamento. Acredito que todo estudante de dança, ainda que
profissional, necessita de um guia, aquela pessoa em quem confia para lhe
direcionar pelos caminhos do aprendizado/crescimento e da arte (devemos eleger nosso mestre
principal, aquele a quem sempre recorremos em períodos de dúvidas ou crises).
Dessa forma, cada aula, cada lição em classe é uma nova oportunidade de
absorção de conhecimento e entendimento do movimento no seu corpo. Ou seja,
ainda que eu tenha participado de muitos cursos e aulas com Rachel, tento estar
presente no máximo de oportunidades para aprender com minha professora
(lembrando que ela não ministra aulas regulares no Studio Datura).
Dito isso, no curso foi
apresentado a sequência de giros que conhecemos como “Tsifti Spins” e o “Camel Walk Double Turn” do
vocabulário Datura Style. O primeiro trabalha giros inspirados na dança
clássica indiana Kathak e por isso são executados nos calcanhares dos pés. O
segundo possui um “hook turn” seguido de “crossover turn” em tempo rápido.
Ambos apresentam um grau elevado de dificuldade e Rachel nos guiou pelo passo a
passo dos mesmos de maneira divertida, técnica e eficiente! A Elise postou um
vídeo público do final do curso em que realizamos estes movimentos, o qual
compartilho com vocês abaixo.
Giros e improviso no
workshop de Rachel Brice
O último workshop do qual participei foi
ministrado pelo grupo Baksana e me impressionou muito. Eles desenvolveram um
método de notação musical para “finger cymbals” (snujs), possibilitando a
leitura e a criação de partituras para as composições de dança. O método requer
estudo aplicado para aqueles que planejam absorver e utilizar a técnica, uma
vez que desenvolveram diversas formas de toques para os quais se produz
diferentes sons. Além disso, eles também ensinam combinações destes toques que
criam diferentes padrões para os diversos ritmos musicais. Segundo o que eles
ensinaram e demonstraram, após o domínio das técnicas é possível criar
dinâmicas de improviso entre os praticantes, quase como em uma dinâmica de roda
de capoeira.
Improviso com Snujs, método Baksana, Baksana
Bellydance
Essa experiência com
certeza foi uma das mais desafiantes que já tive com relação ao tocar snujs.
Para nos auxiliar em estudos posteriores, eles publicaram um livro sobre o
método e toda a pesquisa que estão desenvolvendo sobre os nossos amados “finger
cymbals”.
Challenge Finger
Cymbals Awereness Month
A Exposição de Artesanatos – Feira
Como todo bom e
tradicional festival da nossa comunidade, o JamBallah também organizou a tão
amada feira. Os mais variados e enlouquecedores adereços, jóias, artigos pra
dança, peças de roupas e figurinos foram expostos ao longo do hall e corredores
do teatro. Muita cor, diversidade e opções para acariciar os olhos dos admiradores.
Para nós brasileiros sem dúvida é dolorido ver tanta coisa linda, diferente e
não poder comprar (bom pelo menos no meu caso), pois ainda que ofereçam preços atrativos,
o valor do dólar dificulta muito a aquisição dessas belezas. Entretanto, é
sempre divertido passear, conhecer pessoas e encontrar os amigos da dança pela
feira! Afinal, os melhores papos acontecem pelos corredores das exposições!
Festival Show e JamBallah Showcase
O JamBallah realiza o
Festival Show que simboliza e celebra a reunião de todos os dançarinos
participantes procedentes dos mais diversos lugares do país e do mundo. Desde
que o dançarino participe de pelo menos um workshop, ele pode se inscrever
previamente e, então, apresentar-se no grande palco do festival. Para
possibilitar a apresentação de todos, o JamBallah desenvolve uma prática
interessante de limitar quantas vezes uma mesma pessoa dança em palco, a
depender do interesse de participar com um solo, duo, trio ou grupo. Há a
preocupação por parte do festival em se garantir a oportunidade para todos mostrarem
seu trabalho, independente de técnica ou reconhecimento geral.
O Festival Show teve a
duração de duas horas e foi realizado em todos os dias do evento durante as
tardes. Foi maravilhoso acompanhar tantas performances diferentes e criativas,
tantas formas de movimentação e composições ricas em expressão. Eu realmente
aprecio as mostras de dança, pois são surpreendentes e inspiradoras. Sempre
saio dessas experiências com vontade de criar!
Além disso, o JamBallah
organiza seu próprio showcase, onde os instrutores do festival, os grupos e
performers de Portland se reúnem em um produzido espetáculo, que ocorre nas primeiras
duas noites. Não há restrição de estilo e sim uma composição interessante de
experiências e linguagens.
Tive o imenso prazer de
presenciar fusões diferentes e inesperadas, porém fundamentadas e compostas
brilhantemente. Ressalto a composição apresentada pelo Allegro Dance Company,
que está estabelecendo um novo rumo para a fusão local e quem sabe internacional
também.
“La Follia a la
Allegro” , Allegro Dance Company
O solo Indian Fusion de
Sedona Soulfire me tocou profundamente e é realmente uma pena não ter um vídeo
para mostrar pra vocês, foi um dos pontos altos de expressão dos showcases. O
improviso de snujs realizado pelo Baksana sem outro acompanhamento musical
impressionou pela técnica, agilidade e perfeição. As composições coreográficas
de Bevin Victoria também foram ricas em expressividade. Sem contar é claro na
performance de Mardi Love que como sempre preencheu o espaço com classe,
expressão e contentamento.
Mardi Love
Serena Spears
DeAnna with Jesse and Sofia
Ashley Lopez
Gostaria de detalhar sobre cada um, mas infelizmente ficaria longo demais. Deixarei para uma troca posterior, seja escrita ou quem sabe pessoalmente?
Finalizando, o JamBallah me proporcionou
vivências maravilhosas tanto como estudante quanto como apreciadora da arte,
tudo em um ambiente inclusivo e acolhedor, característico de uma comunidade que
incentiva a dança, seus praticantes e profissionais. Acredito que é um festival
que crescerá em linhas não tradicionais com o histórico dos festivais de fusão,
pois sua organizadora, Elise, tem o objetivo de incentivar a dança como um
todo. Dessa forma, busca variar os estilos oferecidos e os profissionais
instrutores convidados. Acho que isso é o que mais me atrai neste festival.