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[Resenhando-RO] Tribal Fusion Porto Velho – Rondônia

por Esther Demoneah

Tribal Fusion Na Região Norte Resenhando Tribal Fusion no II EITA - Encontro Beradêro em Dança - 22.08.15

O "Encontro Beradêro em Dança" aconteceu entre os dias 21, 22 e 23 de setembro de 2015 no teatro do SESC em Porto Velho, a capital de Rondônia. Várias companhias de dança de estilos variados compareceram para mostrar seus trabalhos bem como para prestigiar seus colegas.



Este vídeo apresenta a minha participação mostrando um pouco dos resultados de estudos e práticas que foram iniciadas nesse mesmo ano a partir do workshop de Janis Goldbard.


Nesse evento, estive representando a "CIA de Dança Kaká Ferreira" a convite do meu professor e mestre da academia  Kaká Ferreira, local em que também faço aulas de zouk e bolero. Como foi meu primeiro solo neste estilo e a primeira coreografia criada inteiramente por mim, reconheço que minha atuação ainda é algo a ser muito polido e melhorado.



O processo de criação até que foi rápido para uma iniciante. Como fiz balé desde pequena e toquei piano a vida toda, tenho  um pouco de intimidade  com os ritmos e quando ouço uma música já me passam  várias sequências de passos na cabeça.  A parte difícil obviamente é colocar em prática para ver se aqueles movimentos imaginados se encaixam bem na música, além de, é claro, praticar bastante para "limpar" os movimentos.

Ainda não tenho muita bagagem e, por conta disso, ainda não sou boa em improvisar, portanto, o que me resta é continuar  estudando para aprender cada vez mais. Amei a experiência e tenho em mim uma certeza que só cresce de que não vivo mais sem a dança e principalmente sem o Tribal Fusion.

Texto – Esther Demoneah
Edição – Rebecca Amor 


















A Influência Cultural Brasileira no modo de ver e expressar o Tribal – Final

por Janis Goldbard

Essa pequena pesquisa vem na intenção de demonstrar possíveis influências estéticas e comportamentais no nosso modo de ver e expressar o Tribal, trazendo algumas analogias e observando pontos nos quais antigos artistas, movimentos artísticos e obras de arte que em algum momento de nossa história da arte brasileira podem ter contribuído para essa percepção e nosso modo de expressar o Tribal.

Relembrando, na InfluênciaCultural Brasileira no modo de ver e expressar o Tribal – Parte 2 chegamos até a década de 40 fazendo ligações entre o que estava acontecendo no cenário artístico cultural político brasileiro e a dança do ventre no mundo para observarmos como essa influência chegou até nós e como foram por nós absorvidas.Depois de um período de enrijecimento político que de certa forma reprimiu a cultura brasileira, o país até que enfim é agraciado com a primeira apresentação de dança do ventre.

No ano de 1954, Zuleika Pinho, bailarina de balé clássico formada pela escola de teatro municipal, foi convidada a fazer uma apresentação em um clube árabe chamado Homes. Zuleika praticava além do balé clássico vários outros estilos de dança e dançava desde os 13 anos de idade.  Ela conta em uma entrevista (http://horusfestival.blogspot.com/p/60-anos-de-danca-do-ventre-no-brasil.html) que não tinha ideia do como faria e de como seria essa apresentação, mas decidiu aceitar mesmo assim.

Foi durante o ensaio que conheceu a música e os instrumentos árabes e desde então se apaixonou.  Zuleika conta que  foi tudo muito intuitivo. O fato de ela já ser uma bailarina com certeza lhe deu crédito e visibilidade, o que se dizia de suas performances é que eram hipnotizantes e ela possuía charme, delicadeza e muito expressividade. “A técnica se adquire com estudo e prática, mas o sentimento nascemos com ele.” Zuleika sempre foi muito elogiada pela imprensa que sempre a apoiou e que inclusive lhe deu o título de  “Rainha da dança do ventre”.


“A técnica se adquire com estudo e prática, mas o sentimento nascemos com ele.”
Um pouco mais pra frente para nossa sorte, chega no Brasil, em 1957, Madeleine Iskandarian,  palestina de nacionalidade, foi cabeleireira  por alguns anos e, somente a partir da década de 70, começou a se dedicar à dança do ventre. Foi aí que  a bailarina, cantora e professora começou a aparecer no Brasil, adotando o nome artístico de Shahrazad Shahid Sharkey. Suas apresentações aconteciam no Bier maza em São Paulo, que foi um restaurante muito importante na história cultural árabe brasileira.

Shahrazad foi a pioneira no ensino por meio de VHS, livro, artigos e entrevistas na TV, o trabalho de expansão da Dança do Ventre no Brasil e no exterior foi de muito profissionalismo e, em 1998, escreveu o livro intitulado “Resgatando a feminilidade – Expressão e Consciência corporal pela dança  do ventre”; além de produzir vídeos didáticos para exercícios da dança que ao todo somam três mil exercícios criados por ela baseados em sua metodologia de ensino.



Shahrazad não está mais entre nós, mas seu legado está presente nas obras que criou, no modo como se expressou, no como transmitiu a arte da  dança do Leste como ela gostava de instruir a se referir a dança do ventre e nas grandes bailarinas que estudaram com ela e, hoje, são referências no Brasil e no exterior. Entre algumas que foram suas alunas: Lulu From Brazil, Hayat El Helwa, Suheil, Jhade Sharif entre outras.





Shahrazad dizia:

“Meu trabalho não tem a pretensão de criar novas coreografias, pois a dança do leste existe há séculos no mundo árabe, tudo já foi dançado. Meu trabalho, no qual cada gesto envolve um profundo respeito pela essência humana cada movimento é sagrado, e não estou falando no sentido religioso. Somos sagrados por sermos filhos do planeta Terra, do criador. Pertencemos ao universo”.




Durante este período o Brasil estava vivendo um momento de florescimento da cultura árabe e alguns artistas relevantes para essa estruturação no Brasil, como Atef Issaf e o grupo folclórico “Cedro do Líbano”, também faziam apresentações. Atef foi um dos divulgadores da dança folclórica árabe, bem como Samira Samia que também contribuiu para essa estabilização e divulgação da dança do ventre no Brasil.  


Samira foi autodidata,pois na época não haviam meios para estudos tão acessíveis como hoje, mas, desde que se interessou pelas danças orientais houve de sua parte muita pesquisa e estudo a fim de aperfeiçoar suas apresentações o que transparecia em suas propostas sempre inovadoras, onde acessórios eram introduzidas, sendo a primeira a dançar com espadas no Brasil.Inclusive, foi muito criticada por essa versatilidade. Algumas pessoas diziam que esses acessórios eram invenções, contudo, o tempo foi passando e hoje está provado o caráter de estudo no qual Samira se baseava.

Em 1977, já ministrando aulas e instigando a curiosidade do público brasileiro, conseguiu então  realizar o primeiro festival de alunas, começando pequeno e, no terceiro festival, já seria necessário alugar um clube bem maior. O tão conhecido Mercado Persa é fruto desses festivais e é conhecido desde 1995 quando foi idealizado. Essa marca se consolidou e hoje é forte referência no cenário da Dança do Ventre  junto ao jornal “Oriente, encanto e magia”.

Como percebemos, no Brasil tudo começou sobre uma base muito sólida, com pessoas competentes e realizadoras de grandes feitos. Isso está se refletindo hoje, pois, se vermos por essa ótica, está muito bem encaminhado e a estabilização da dança do ventre tende a se firmar e a ser respeitada cada vez  mais. Nossas influências iniciais nos mostraram determinação e estudo, sobre a técnica, a criatividade se apóia e nisso percebemos mesmo no estilo de Shahrazad que também nos orienta a sermos expressivas, termos o sentido de respeito e devoção com o nosso ser feminino.




Apesar de nos depararmos com alguns desacertos e falta de conceito em algumas propostas, percebemos que esse tipo de trabalho não se sustenta e o que aparece e tem destaque são trabalhos conceituais que possuem como base muito estudo, técnica e expressividade. O Brasil, desde o início quando começou a aparecer com a nossa maneira de expressar a dança do Ventre, se baseou em muito estudo e criatividade, e isso hoje está se refletindo nas grandes bailarinas de Dança do ventre e Tribal que aparecem nos representando no País e no exterior.

O cenário tende a crescer e a se sustentar. Dessa maneira, todo o processo para que hoje tenhamos uma base em nossa história com a Dança do Ventre mistura as influências cultural brasileira e árabe em um formato que não nos abdicamos de nosso modo de expressar, mas também não nos apropriamos de uma forma equivocada da cultura árabe. Espontaneidade e estudo foram as palavras que marcaram o início e foram a  base de como tudo começou no Brasil e que continuemos assim. Amém!

Estudar, estudar e estudar, nunca é demais!



Referência


  

[Resenhando-AC] Workshop Tribal Fusion com Janis Goldbard em Porto Velho, Rondônia

por Janis Goldbard

Dias 16 e 17 de maio aconteceu, a convite de Christina Pontes, professora, coreógrafa e proprietária da academia Arte Sagrada, o 2° Workshop de Tribal Fusion em Porto Velho, município do estado de Rondônia.

Desde o ano de 2011, Christina Pontes vem fazendo um trabalho que inclui diversos estilos de danças étnicas,  sendo a dança do ventre e a dança cigana os pontos fortes da academia.

Quando Joline Andrade esteve em Porto Velho neste mesmo ano (2011), ministrando então o 1º workshop de Tribal Fusion na cidade, despertou o interesse dos artistas quanto ao estilo e, naturalmente, agregou bailarinas e estudantes da dança do ventre a pesquisarem e a fazerem experimentos voltados para  o estilo.


Em 2015, no início do mês de maio, em conversas com Christina Pontes, decidimos nos conhecer e propor as alunas da academia e aqueles interessados a terem mais uma experiência com o Tribal Fusion na intenção de agregar mais adeptas e estabilizar o estilo na região norte.



Como a academia possui um conceito de fusão, porque a Christina trabalha outros estilos dentro de suas criações coreográficas, houve interesse e disposição, tendo em vista que entre os participantes estavam professores e praticantes de yoga, dança de salão, dança do ventre, dança cigana, jazz e balé.

Foram pontuados como importantes o estudo de teoria e prática, bem como os fundamentos estéticos e de movimentações características do Tribal Fusion. Ao todo, o workshop contou com cinco horas de curso prático e uma hora de teórico, sendo distribuídos para que se inserissem naturalmente entre as práticas para melhor absorção e entendimento.

Depois dessa maravilhosa troca, senti como é importante ressaltar as origens do Tribal Fusion para que sempre haja uma conversa a nível de entendimento e esclarecimento entre nós praticantes e para que aqueles que chegam consigam sentir espontaneamente tudo o que cerca o cenário Tribal.

Algumas linguagens conversam com a dança do ventre naturalmente, como por exemplo, o balé, mas e as outras fusões? Até que ponto podemos ressaltar o que é Tribal e o que é Fusion dentro de uma dança? Essa é uma pergunta que deixei no ar no workshop e que sempre me faço para que eu tenha um senso crítico do como nomenclaturar o trabalho proposto nas minhas criações.

O Norte é bebê em se tratando de algumas técnicas e linguagens, o cenário Tribal mais ainda, eu tive a grande oportunidade de estudar com uma das pessoas que ajudaram a acontecer o Tribal no Brasil, o que me dá segurança para continuar o meu trabalho como professora e como bailarina, mas a verdade é que é necessário se atualizar e aprender sobre outros estilos e linguagens de dança, pois isso  melhora o processo criativo e a didática das aulas, e pesquisar teoria é parte do processo de absorção do estilo a qual nos propomos estudar.

Gostei de ver o interesse se estendendo pelo Norte e o respeito e visibilidade que o Tribal Fusion vem conquistando, penso que é nessas parcerias que nos propomos é que vamos crescer e aparecer.


Espero um dia poder contar com um grupo grande de bailarinas tanto de Porto Velho quanto de Rio Branco que podem ser da dança do ventre ou não, pois penso que o importante é ter a vontade e o prazer de aprender, tendo consciência que não é de uma hora pra outra, e sim com trabalho contínuo que inclui prática e pesquisa, pois assim o alicerce do estilo se estabilizará de verdade no Norte do Brasil.

Referência:
Revista Shimmie Entrevista com Rachel Brice


A Influência Cultural Brasileira no Modo de Ver e Expressar o Tribal - parte 2

por Janis Goldbard

Esta pequena pesquisa tem a intenção de apontar artistas, movimentos artísticos e obras de artes brasileiras que podem ter influenciado estética e comportamentalmente o nosso modo de ver e expressar o Tribal Fusion. Já vimos em A Influência Cultural Brasileira no Modo de Ver e Expressar o Tribal – parte 1 que a Semana da Arte Moderna (1922) foi um marco na história do Brasil e que, a partir daí, já não se concebe a arte como antes. Com a Semana da Arte Moderna, tudo passa a ser criticado e analisado sob diferentes pontos de vistas, e isso torna-se um ponto positivo para a busca da identidade artística brasileira. Vimos ainda que O Manisfesto Antropofágico (Oswald de Andrade), publicado em 1928, que começa a romper com todos os antigos condicionamentos e dá abertura a uma nova concepção da arte brasileira.

Neste artigo, proponho uma conexão histórica entre o cenário político do Brasil e o que estava acontecendo com a Dança do Ventre na mesma época que tenha tido uma relevância histórica.

No Cairo, a bailarina sírio libanesa Badia Masabni inaugura, em 1926, o Cassino Badia, que foi uma casa de entretenimento muito frequentada pela sociedade da época. Badia foi uma mulher à frente do seu tempo e que reestruturou a forma como era vista a Dança do Ventre no Cairo e no mundo. No processo dessa reestruturação, contratou coreógrafos ocidentais para ajudá-la nas coreografias, o que, consequentemente, influenciou as posturas das bailarinas - principalmente em relação aos braços, que a partir daí foram para a altura do peito. Badia contratou músicos com formação clássica que passaram a dividir o palco com as bailarinas.



No Brasil, na década de 40, a dança moderna ganha uma grande visibilidade, tornando-se, inclusive, disciplina curricular ofertada nas universidades e que é concebida a partir das definições de Helenita Sá Earp, figura importante quando se fala de dança no Brasil e que influenciou vários profissionais, disseminando assim suas concepções artísticas.

Helenita Sá Earp foi uma mulher ousada que, dentro de uma mentalidade militarizada, na qual o Brasil estava inserido e com um padrão de movimentação rígida, conseguiu se expressar de tal forma que passou a ser reconhecida como uma figura muito importante da dança no séc. XX no Brasil. Ela formou uma companhia diferente de tudo o que se estava acostumado a ver. O caráter pioneiro e inovador é indiscutível e sua postura de vida era muito diferente do comum, não somente no que se refere à dança. Helenita tinha uma aproximação com a natureza muito orgânica e já falava da importância da boa alimentação e a relação com o corpo, antecipando questões que mais à frente seriam muito debatidas. O Tribal possui muito desses conceitos.
                                  


"Dançar" focaliza a vida de Helenita Sá Earp, introdutora da dança nas universidades brasileiras em 1939. O roteiro resgata entrevistas com personalidades que foram alunas e que conviveram com Helenita, como Tônia Carrero, Lourdes Bastos e Angel Vianna. O filme entrelaça entrevistas com contemporâneos de Helenita que partiticiparam de momentos de sua vida, juntamente com recriações de coreografias consideradas inovadoras pela crítica especializada, tais como: “Manhã de Sol” de 1939 que contou com a regência de Heitor Villa-Lobos; “Formas Aleatórias” realizada no MAM em 1959; “Ritmo, Forma e Cor” apresentada no I Encontro das Escolas de Dança do Brasil em 1962 e as excursões realizadas na Europa e Estados Unidos. Essas coreografias são recriadas em locais que evocam a relação de Helenita com a cidade do Rio de Janeiro. O documentário também retrata a pesquisa de Helenita para o ensino e a criação em dança, cujos ensinamentos ajudaram a formar inúmeros profissionais da dança que disseminaram estes princípios em cursos superiores por todo o Brasil. Neste contexto, coreógrafos e intérpretes falam sobre a influência dos Fundamentos da Dança de Helenita Sá Earp sobre seus próprios trabalhos, demonstrando para a câmera alguns dos princípios do movimento por ela pesquisados. O filme reproduz, de forma poética, momentos de sua vida, enfatizando seu caráter pioneiro e inovador, não apenas no que se refere à dança, mas também na sua postura de vida pautada por uma relação direta do corpo com a natureza, introduzindo e antecipando hábitos de vida e alimentares que só viriam a se popularizar no final do século XX. O documentário "Dançar" é uma produção do Laboratório de Imagem e Criação em Dança (LICRID) com o patocrínio do Gabinete do Reitor da UFRJ e da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro - FAPERJ e contou com doações de admiradores da obra da professora Helenita. O filme é dedicado a memória de Aloísio Teixeira - Reitor da UFRJ, Inácio Freitas Rolim - Primeiro diretor da Escola de Educação Física e Desportos, Almeida Prado - Compositor e Huberto Rodhen - Filósofo e Educador.Ficha Técnicadireção e montagemLUIZ GUIMARÂES DE CASTROroteiroANDRÉ MEYERLUIZ GUIMARÃES DE CASTROdireção de fotografiaALEX ARARIPEdireção musicalSARA COHENtrilha sonoraFELIPE BARROSHELENITA SÁ EARP ÉJULIA LEMMERTZLISSIANA SCHLICKsom diretoBEN HUR MACHADOTONINHO MURICYdireção de produçãoMARCELO LAFFITERODRIGO COSTABERNARDO THEDIMprodução executivaANDRÉ MEYERpatrocínioGABINETE DO REITORUNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROFUNDAÇÃO DE AMPARO A PESQUISA CARLOS CHAGAS FILHOFAMÍLIA SÁ EARPrealizaçãoLABORATÓRIO DE IMAGEM E CRIAÇÃO EM DANÇA - UFRJ
Posted by Dança UFRJ on Segunda, 24 de março de 2014

Ainda na década de 40, a rádio estava em seu auge e passava a influenciar o imaginário das pessoas, aproximando-as cada vez mais da informação (lembrando que o mundo vivia sob pressão da segunda Guerra Mundial). Materiais gráficos também passavam a entrar em circulação na intenção de entreter e saciar a curiosidade em relação ao meio artístico, que ganhava cada vez mais notoriedade.

Vamos para o outro lado do mundo novamente? As bailarinas de Dança do Ventre da Era de Ouro (década de 40), como Samia Gamal, Taheya Carioca e Naima Kaif, estavam fazendo seus experimentos, agregando elementos até então não utilizadas na Dança do Ventre às suas performances.

Taheya Carioca, influenciada por seu derbakista, gostava tanto do ritmo do samba que apoderou-se do estilo de tal forma que até mesmo seu nome retrata essa fusão. Samia Gamal optou pelo véu e o tornou bastante popular. Mais tarde agregou movimentos dos ritmos latinos à sua dança. Naima Kaif levou a dramaticidade e elementos circenses ao palco.




Às vezes essas associações podem não parecer muito enfatizadas durante essas décadas, mas como não fazer uma analogia, por exemplo, da reestruturação da cultura brasileira quando, depois d’O Manifesto Antropofágico, nos aparece Helenita Sá Earp com todo o frescor de idéias novas e incorporações de conceitos, como hábitos de vida saudáveis e conexão com a natureza?  E quando percebemos que, na mesma época, na Dança do Ventre, de onde parte toda essa nossa influência, bailarinas tão inovadoras, que com certo sentido antropofágico, absorveram culturas de outros países para reestruturarem e mostrarem uma nova expressão artística dentro da Dança do Ventre?

Bom, o Tribal Fusion tem essa proposta de mesclagem. Fazendo essas conexões, conseguiremos chegar ao ponto em que o Tribal Fusion começa a aparecer nas pesquisas sobre a história da Dança do Ventre no Brasil, mas isso é para outro momento. Continuem acompanhando!


Texto -  Janis Goldbard
Edição de Texto – Samara Zegarra


Referências:



[Resenhando-AC] Comemoração ao Dia Internacional da Dança

por Janis Goldbard

A cidade de Rio Branco, capital acriana, não poderia ficar de fora e deixar de comemorar o Dia Internacional da Dança no dia 29 de abril que, aqui em Rio Branco, foi organizada para acontecer no dia 25 de Abril. O MODAMovimento de Dança do Acre - organizou uma bateria de mostras dos diversos estilos e grupos de danças do estado. O evento iniciou com a mesa redonda Produção e Qualidade, que ocorreu no SESC Centro às 08:00h e que contou com a participação de diversos bailarinos locais e de cidades vizinhas, além da presença da Fundação de Cultura Elias Mansour, na pessoa da presidente Karla Martins.





























Na mesa redonda, foram debatidos vários assuntos sobre o cenário artístico local da dança e tudo o que o permeia - como qualificação, mapeamento e esclarecimentos sobre editais abertos na cidade.

O Tribal Fusion vem participando dessas reuniões junto ao MODA e se apresentando desde 2012, o que já evidencia resultados como conhecimento e reconhecimento da existência da  modalidade na cidade e no estado.

Um dos pontos comentados na mesa redonda envolve o mapeamento das modalidades existentes no estado, a possível expansão e troca de experiências entre os profissionais da dança de cidades vizinhas, e se o  MODA estaria caminhando para essa facilitação e valorização dos artistas locais propondo e realizando intercâmbios.

Penso ser muito pertinente tudo o que foi exposto e acredito que o próximo passo, no caso do Tribal Fusion, é estender o conhecimento adquirido e impulsionar pessoas a conhecer, apreciar e começar a diferenciar as muitas faces que o compõem.

A continuação e ampliação da participação do norte do Brasil no Blog, o incentivo do estudo teórico acompanhado do estudo prático com professores qualificados e as experimentações em outros estilos, além do da Dança do Ventre, são alicerces e, por isso, indispensáveis para a compreensão e estabilização do Tribal Fusion de forma coerente à linguagem da modalidade.

O que sinto é uma força no coletivo artístico da dança que me dá confiança e estímulo. São pessoas ótimas para com as quais trabalhar, e isso é perceptível em cada encontro quando, mesmo que tenhamos visões diferentes e não concordemos com alguns métodos ou pensamentos, validamos e respeitamos a opinião do outro – e isso é lindo!

Para o formato de “Fragmentos da dança”, que foi o proposto pela organização do evento, o ideal seria uma coreografia de curto tempo e que surpreendesse a todos. Assim, quis mostrar nossa relação com o tempo.

Optei por usar alguns elementos:
  • Músicas contrastantes
  • Improvisação
  • Disposição não tradicional das bailarinas


Participantes:
  • Samara Zegarra
  • Luana Nery
  • Kelly Costa
  • Maíra Mansoa
  • Karen Camargo 





























Processo Criativo:

Houve uma passagem da coreografia uma hora antes da apresentação. O fato é que não houve tempo para montarmos/treinarmos uma coreografia, e para que o Tribal Fusion não ficasse de fora do evento e, também, para que as meninas (que estão iniciando o estudo da modalidade) tivessem mais uma experiência de palco, levei a proposta a elas e as mesmas aceitaram fazer uma espécie de “improviso”.

Cada uma se apresentou com um figurino diferente, sendo assim mais um elemento para esse contraste, com o objetivo de demonstrarmos as várias linguagens que compõem o Tribal Fusion e também foram convidadas duas colegas de dança, a Karen Camargo, que é do Flamenco, e a Maíra Mansoa, da dança contemporânea, para participarem conosco dessa proposta.

Por fim, a satisfação de trabalhar algo diferente sempre é prazerosa. A felicidade estava em nossos rostos e o compartilhar/demonstrar junto a outros profissionais da dança que admiro e  ao público um pouco mais da modalidade, acrescenta muito para nós. Espero que gostem!



Edição de texto:  Samara Zegarra

Referências:



Influência Cultural Brasileira no modo de ver e expressar o Tribal - Parte 1

por Janis Goldbard



Através dos tempos  percebe-se  como o país possui referências bem embasadas em se tratando da construção conceitual da estética da dança  tribal no Brasil. É certo que a modalidade  é relativamente nova  e que o processo  ainda está acontecendo, mas se observa uma identificação com antigos e atuais ícones da cultura brasileira que  inseriram às suas performances  elementos hoje utilizados no tribal,  ajudando, assim, a personificar certas peculiaridades brasileiras em seus figurinos,  na maneira de dançar e se expressar.

Desde os tempos em que se começa a estudar (observar) moda e cultura tipicamente brasileiros são perceptíveis as influências tanto desses artistas como nos movimentos estético-comportamentais  que  ajudaram a moldar um estilo único de se enfeitar e se movimentar na dança Tribal.

A arte indígena e negra são obviamente as primeiras a serem identificadas pois  possuem a essência e estão inseridas no DNA Brasileiro e naturalmente são  associados ao  material visual de nossa ancestralidade.

No entanto, o primeiro ícone realmente creditado dessa influência estética e de movimentação tribal a qual  podemos fazer uma analogia direta é dado a Carmem Mirandacantora e atriz Luso-Brasileira que fez carreira artística entre as décadas de 1930 e 1950 ,apesar de ter sido hostilizada pelos intelectuais da época, teve seu valor foi reconhecido.


Carmem, com sua graça,versatilidade e um personagem bem construído, conceitualmente representou o Brasil com veracidade e muito amor, sendo até hoje  influência para artistas brasileiros e estrangeiros.


Sua movimentação de mãos e quadris era singular  e de certa maneira hipnotizava o público. Seus turbantes e badulaques são acessórios até hoje lembrados como típicos do estilo Carmem, que  sempre usava muitas joias, pulseiras e colares de diferentes materiais,  ditando assim tendências:  a saia, o turbante e o colorido são vistos  também em vários figurinos de tribal.E está aí uma referência brasileira de nossa estética singular e de nosso  jeitinho de se expressar.

Durante algum tempo da história do Brasil tudo o que se entendia e se apreciava de arte e moda vinha de fora e assim ficou durante longo período até que a Semana de Arte Moderna, no ano de 1922*,  renovou em várias linguagens a maneira de se fazer e entender arte no Brasil, que já não era  apenas  importação. Logo após esse movimento,  o Manifesto Antropofágico(1928)* abriu caminho e a mente para uma procura da identidade brasileira e um resgate da cultura primitiva que deram suporte a uma  conscientização para que houvesse um cuidado maior ao absorver a cultura de outros lugares  e esta não se fizesse mais  de maneira desnecessária, de modo que  a cultura brasileira fosse melhor sentida e estudada.

*pontuando que Carmem Miranda,a Semana de Arte Moderna e  o Movimento Antropofágico aconteceram separadamente.



Desde então, vários grupos e movimentos  deram seguimento a esse pensamento e o povo,  os intelectuais  e os artistas foram firmando conceitos e linguagens de destaque na época e que hoje são referências do Brasil.



Paralelamente, o ícone de Carmem, a semana de Arte Moderna e o Movimento Antropofágico contribuíram para formarem  os pilares para essa conscientização e valorização da Arte Brasileira e toda a crítica era uma maneira bem vista para análise de quem eram e como eram as pessoas da época. Hoje percebemos o quão importante são as representações que temos de nós mesmos, pois são frutos do que estamos produzindo,  a história da arte brasileira e seus artistas ainda tem muito a nos revelar.




Notícia Tribal: Matéria sobre Tribal Fusion no Acre pelo Zappeando

Conheçam mais o trabalho realizado em Rio Branco, no Acre, pela professora e bailarina Janis Goldbard . A matéria saiu no programa Zappeando da Rede Amazônica, filiada da Rede Globo.

Clique na imagem acima para assistir ao vídeo

[Resenhando-AC] 1ª Oficina de Tribal Fusion no Acre

por Janis Goldbard



Em agosto de 2014 aconteceu a 1ª oficina de Tribal Fusion na cidade de Rio Branco, capital do Acre, projeto aprovado e financiado pela Fundação Elias Mansour.

O projeto, em epígrafe, surgiu a partir de uma conversa com um companheiro de dança.  Certo dia, depois de um ensaio, ele perguntou como estava sendo a receptividade do Tribal na cidade o qual respondi que estava muito desanimada, pois  acreditava que  meu público alvo eram as  praticantes de dança do ventre, entretanto, não  eram.

Surgindo assim a ideia de redigirmos um projeto para a  inicialização à Dança Tribal Fusion, que inclusive foi novidade na cidade, quase ninguém conhecia, ainda apesar de eu já ter participado de espetáculos e de continuar dando aulas regulares.


Ainda em conversa quis saber se havia algum público alvo além das bellydancers  que  almejava  agregar,   o qual informei  que os estudantes das artes cênicas são bem receptivos de se trabalhar e que algumas pessoas conhecidas poderiam ter o perfil.

Passado algum tempo, projeto aprovado, começaram a chegar as candidatas e, para meu deleite,  várias das pessoas que intuíra que gostariam de tribal foram se apresentando, e como já pressentia poucas  da dança do ventre compareceram.

Essa oficina  impulsionou-me a dar continuidade as aulas de Tribal Fusion e a ensinar algumas pessoas para  abertura de uma possível companhia de dança  e firmar o tribal a partir do meu trabalho pioneiro. Ao final da oficina, houve uma apresentação com uso das técnicas ensinadas, cujo resultado foi  fantástico, pois as participantes que continuaram até o final foram determinadas e realmente possuem “aquela” essência tribal de ser.



Foi divertido e acredito que elas se divertiram também! O público adorou e a 1ª oficina de Tribal Fusion da cidade de Rio Branco aconteceu. Conheci algumas pessoas muito solícitas das fundações de cultura da cidade, estreitei  amizades e pude mostrar um pouco do meu trabalho que sempre é moldado a muitas pesquisas e trabalho de corpo, tendo a diversidade de estilos como aliada.

Vi  e senti porém,  que  há público. Mas, que este ainda não está formado, sinto que há interesse, no entanto, o medo do desconhecido afasta e assusta algumas simpatizantes. Sinto que no Brasil as pessoas não sabem dar valor e crédito às pessoas que estão na linha de frente em um trabalho de pioneirismo e não sabem respeitar quem tem vontade de se doar em prol de uma arte de qualidade, fazendo com que dessa forma a cultura local não desenvolva.

Espero que essa oficina tenha conseguido alcançar uma mentalidade mais embasada em dança e em estudos voltados para o Tribal Fusion. Deixando claro que Tribal Fusion não é dança do ventre de preto.



Vídeo realizado com fotos e registros durante a oficina:



Texto: Janis Goldbard
Edição: Melissa Abrantes




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