Influência Cultural Brasileira no modo de ver e expressar o Tribal - Parte 1

por Janis Goldbard



Através dos tempos  percebe-se  como o país possui referências bem embasadas em se tratando da construção conceitual da estética da dança  tribal no Brasil. É certo que a modalidade  é relativamente nova  e que o processo  ainda está acontecendo, mas se observa uma identificação com antigos e atuais ícones da cultura brasileira que  inseriram às suas performances  elementos hoje utilizados no tribal,  ajudando, assim, a personificar certas peculiaridades brasileiras em seus figurinos,  na maneira de dançar e se expressar.

Desde os tempos em que se começa a estudar (observar) moda e cultura tipicamente brasileiros são perceptíveis as influências tanto desses artistas como nos movimentos estético-comportamentais  que  ajudaram a moldar um estilo único de se enfeitar e se movimentar na dança Tribal.

A arte indígena e negra são obviamente as primeiras a serem identificadas pois  possuem a essência e estão inseridas no DNA Brasileiro e naturalmente são  associados ao  material visual de nossa ancestralidade.

No entanto, o primeiro ícone realmente creditado dessa influência estética e de movimentação tribal a qual  podemos fazer uma analogia direta é dado a Carmem Mirandacantora e atriz Luso-Brasileira que fez carreira artística entre as décadas de 1930 e 1950 ,apesar de ter sido hostilizada pelos intelectuais da época, teve seu valor foi reconhecido.


Carmem, com sua graça,versatilidade e um personagem bem construído, conceitualmente representou o Brasil com veracidade e muito amor, sendo até hoje  influência para artistas brasileiros e estrangeiros.


Sua movimentação de mãos e quadris era singular  e de certa maneira hipnotizava o público. Seus turbantes e badulaques são acessórios até hoje lembrados como típicos do estilo Carmem, que  sempre usava muitas joias, pulseiras e colares de diferentes materiais,  ditando assim tendências:  a saia, o turbante e o colorido são vistos  também em vários figurinos de tribal.E está aí uma referência brasileira de nossa estética singular e de nosso  jeitinho de se expressar.

Durante algum tempo da história do Brasil tudo o que se entendia e se apreciava de arte e moda vinha de fora e assim ficou durante longo período até que a Semana de Arte Moderna, no ano de 1922*,  renovou em várias linguagens a maneira de se fazer e entender arte no Brasil, que já não era  apenas  importação. Logo após esse movimento,  o Manifesto Antropofágico(1928)* abriu caminho e a mente para uma procura da identidade brasileira e um resgate da cultura primitiva que deram suporte a uma  conscientização para que houvesse um cuidado maior ao absorver a cultura de outros lugares  e esta não se fizesse mais  de maneira desnecessária, de modo que  a cultura brasileira fosse melhor sentida e estudada.

*pontuando que Carmem Miranda,a Semana de Arte Moderna e  o Movimento Antropofágico aconteceram separadamente.



Desde então, vários grupos e movimentos  deram seguimento a esse pensamento e o povo,  os intelectuais  e os artistas foram firmando conceitos e linguagens de destaque na época e que hoje são referências do Brasil.



Paralelamente, o ícone de Carmem, a semana de Arte Moderna e o Movimento Antropofágico contribuíram para formarem  os pilares para essa conscientização e valorização da Arte Brasileira e toda a crítica era uma maneira bem vista para análise de quem eram e como eram as pessoas da época. Hoje percebemos o quão importante são as representações que temos de nós mesmos, pois são frutos do que estamos produzindo,  a história da arte brasileira e seus artistas ainda tem muito a nos revelar.




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